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1 GUIA PRÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA ASSESSORES E ESTAGIÁRIOS DE MAGISTRADOS Autor: Julio Cesar Michelucci Tanga 1ª ed. 2014 2 SUMÁRIO Apresentação............................................................................................................6 A, há............................ ............................ ............................ ................................. .8 Acentuação gráfica – principais alterações promovidas pela última reforma ortográfica............................ ............................ .......................................................8 Acerca de, há cerca de............................ ............................ ....................................9 À custa............................ .......................... ............................ ...............................9 Adolescente............................ ............................ ..................................................10 Afim, a fim............................ ............................ ............................ ......................10 A gente............................ ............................ ............................ .............................10 À medida que (e na medida em que) ............................ ........................................11 Anexo............................ ............................ ............................ ...............................11 Aonde, onde............................ ............................ ............................ .....................11 A o, de o (contração de preposição e artigo) ............................ ............................12 A princípio, em princípio............................ ............................ ..............................13 Através de............................ ............................ ............................ ...................13/14 Bastante, bastantes............................ ........................ ............................ ...............14 Certeza de que............................ ............................ ............................ .................14 Colocação pronominal............................ ............................ ..................................15 Concordância – principais casos............................ ............................ ...................20 Conosco, com nós mesmos............................ ............................ ......................36/37 Crase............................ ............................ ............................ ................................37 Cujo............................ ............................ ............................ .................................46 Dar à luz............................ ............................ ............................ ...........................47 De encontro a / ao encontro de............................ ............................ .....................47 De o............................ ............................ ............................ ..................................48 De mais, demais............................ ............................ ............................................48 Despercebido, desapercebido............................ ............................ .......................48 Detrás............................ ............................ ............................ ...............................49 Devido, devida............................ ............................ ............................ ................49 Digladiar............................ ............................ ............................ ..........................49 Dignitário............................ ............................ ......................................................49 Discrição, descrição............................ ............................ ......................................50 3 Do que, que........................... ............................ ............................ .......................50 Eis que............................ ............................ ............................ .............................50 Em detrimento............................ ............................ ............................ .................50 Em domicílio............................ ............................ ................................................51 Em vez de, ao invés de.......................... ............................ ...................................51 E nem............................ ............................ ............................ ...............................51 É que............................ ............................ ............................ ................................51 Éramos em............................ ............................ ............................ .......................52 Estada, estadia............................ ............................ ..............................................52 Estado, estado............................ ............................ ............................ ..................52 Este, esse (pronomes demonstrativos) ............................ ......................................53 Etc. ............................ ............................ ............................ ..................................55 Face a / em face de............................ ....................................................................56 Faz, fazem, há (plural de “haver” e “fazer”) .........................................................56 Fazer com que........................................................ ...............................................57 Fl. e fls. (abreviaturas – “folha” e “folhas”) ..........................................................57 Grama............................ ............................ ...........................................................57 Grosso modo............................ ............................ .................................................57 Há anos atrás............................ ............................ .................................................58 Há, havia............................ ............................ .......................................................58 Haja vista............................ ............................ .................................................58/59 Haver............................ ............................ ............................ ...............................59 Hífen............................ ............................ ............................ ................................59 Horas............................ ............................ .............................................................61 Infinitivo (concordância com o infinitivo) ............................ ............................ ..62 Interveio (verbos derivados) ............................ .....................................................64 Ir a, ir para............................ ............................ ...............................................64/65 Junto a.....................................................................................................................65 Letras maiúsculas............................ ............................ .........................................66 Letras minúsculas............................ ............................ .........................................67 Lhe............................ ........................................................ ...................................68 Mais bem, melhor............................ ............................ .........................................69 Mau, mal............................ ............................ .......................................................70 Mas, mais............................ ............................ ......................................................70 4 Meio, meia............................ ............................ ....................................................70 Meio-dia e meia............................ ............................ ............................................71 Meritíssimo............................ ............................ ...................................................71 Mesmo, mesma, próprio, própria............................ ...............................................71 Modo que, modo com que, modo como (pronomes relativos) ..............................72 Morar em, residente em, morador em.....................................................................73 Nascido a, Nascido em 22 de março.......................................................................73 Necropsia............................ ............................ ......................................................73 Nenhum, nem um............................ ............................ .........................................73 O mesmo............................ ............................ .......................................................74 Obrigado, obrigada............................ ............................ ......................................75 Oficiala de justiça............................ ............................ .........................................75 Onde (uso correto de “onde”) ............................ ...................................................75 Passado ou presente?..............................................................................................77 Para mim e para eu................... .............................................................................78 Particípio (tenho entregado, foi entregue) ............................ ................................80 Perito, perita............................ ............................ ..................................................82 Pessoas gramaticais (mistura indevida) ............................ ....................................82 Possuir............................ ............................ ............................ .............................83 Ponto e vírgula............................ ............................ ..............................................83 Por si só............................ ............................ ........................................................85 Porque, por que, porquê e porquê............................ ..............................................85 Posto que............................ ............................ .......................................................87 Presente a............................ ............................ ......................................................88 Proceder............................ ............................ ........................................................88 Propuseram (verbos derivados) ............................ ................................................88 Pugnar............................ ............................ ...........................................................89 Que (expressão “o que”) ............................ ............................ ..............................89 Reaver............................ ............................ ............................ ..............................89 Regência verbal............................ ............................ ............................................90 Requerer............................ ............................ ......................................................101 Restabelecer............................ ............................ ................................................101 Rubrica............................ ............................ ...................................................... ..101 Salário-mínimo............................ ............................ ...........................................102 5 Saudar............................ ............................ ............................ ............................102 Se (concordância com a palavra “se”) ............................ ....................................102 Segmento, seguimento............................ ............................ ................................105 Seja, esteja............................ ............................ ..................................................106 Se não, senão............................ ............................ ..............................................106 Sicrano............................ ............................ ........................................................106 Siglas............................ ............................ ..........................................................107 Sob, sobre............................ ............................ ...................................................107 Subjugar............................ ............................ ......................................................107 Sub judice............................ ............................ ...................................................107 Ter, haver............................ ............................ ....................................................108 Têm e vêm (acento em “ter” e “vir”) ............................ ......................................108 Todo............................ ............................ ............................ ...............................108 Todos quatro............................ ............................ ...............................................109 Traslado, translado............................ ............................ ......................................109 Tratar-se de............................ ............................ ............................ ...................109 Trema............................ ............................ ............................ ............................110 Um certo mistério............................ ............................ ............................ .........110 Usucapião............................ ............................ ...................................................111 Ver (e vir) ............................ ............................ ..................................................112 Vimos, viemos............................ ............................ ............................................112 Vírgula............................ ............................ ........................................................113 6 APRESENTAÇÃO Este material destina-se a auxiliar assessores jurídicos e estagiários nas principais questões referentes ao bom uso da língua pátria. É importante deixar claro que o objetivo do presente manual é abordar, da forma mais objetiva e simples possível, as principais dificuldades gramaticais enfrentadas no dia a dia forense, inexistindo qualquer pretensão de aprofundamento. Por tal razão, evitei comentários minuciosos sobre algumas regras de menor relevância prática, inclusive exceções de pouquíssima incidência. Com este trabalho, não se almejaa perfeição gramatical, impossível de ser alcançada em virtude do grande volume de serviço a que estão sujeitos todos os operadores do direito. Busca-se apenas amenizar as principais falhas linguísticas e, com isso, otimizar a produtividade dos Magistrados, os quais poderão despender menos tempo com correções gramaticais se houver a correta utilização do manual por parte dos assessores e estagiários, sem prejuízo da necessária consulta a outras obras do gênero. Meu objetivo é manter a constante atualização e revisão da obra, motivo pelo qual solicito aos usuários a gentileza de me informarem, por e-mail (jtan@tjpr.jus.br) ou Mensageiro (jtan), todas as falhas encontradas, para que se aprimore o trabalho. Adianto que, pela escassez de tempo, vários erros poderão ser encontrados, inclusive de formatação, pelos quais antecipadamente me desculpo. Por meio do mesmo canal, poderão ser enviadas sugestões de tópicos a serem abordados na próxima edição e quaisquer críticas, todas muito bem-vindas. A seleção dos principais problemas da língua culta foi realizada com base em minha experiência de treze anos como professor de Língua Portuguesa no ensino médio, em cursos pré-vestibulares e na Universidade Estadual de Londrina, onde tive a honra de atuar como professor do Departamento de Letras. Recomendo, por praticidade, que os senhores Magistrados incentivem os assessores e estagiários a estudarem principalmente os tópicos mais problemáticos do idioma, a saber: concordância verbal, colocação 7 pronominal, regência verbal, uso da palavra “se”, ponto e vírgula, uso dos “porquês”, crase e vírgula. Caso haja um incremento no domínio de tais tópicos, todos abordados neste manual, certamente o número total de falhas gramaticais cairá muito. Mas é claro que o ideal seria a leitura de todo o conteúdo. Finalizando, agradeço imensamente a colaboração de todos os colegas Magistrados, particularmente aqueles que contribuíram com sugestões enviadas por meio do grupo privado de e-mails da magistratura paranaense, muito bem administrado pela colega Rosicler Mandorlo. Coloco-me à disposição para qualquer esclarecimento e desejo que este humilde trabalho seja útil a todos! De Congonhinhas, em 31 de outubro de 2014. Julio Cesar Michelucci Tanga Juiz de Direito 8 AAAAAAAAAAAAAAAAAA A, há Se há equivale a faz – ambos indicam, no caso, tempo decorrido –, deve ser escrito com h, pois é conjugação do verbo haver. Exemplos: Estou em Londrina há (faz) vários anos; Há (faz) quanto tempo você está aqui? Usa-se o a (preposição) quando a referência se faz para o futuro ou quando a indicação for de distância. Exemplos: Estou a 15 dias de minha formatura; Daqui a pouco irei embora; Ela está a dois metros daqui. Acentuação gráfica – principais alterações promovidas pela última reforma ortográfica 1) ditongos (vogal e semivogal na mesma sílaba) Acentuam-se os ditongos abertos e tônicos “éu”, “éi” e “oi” somente em última ou única sílaba. Exemplos: réus, he-rói e mói. Fora das situações acima expostas, não serão acentuados. Exemplos: i-dei-a (não é a última sílaba), he-roi-co (não é a última sílaba), eu-ro-pei-a (não é a última sílaba). 2) hiatos (encontro de duas vogais na palavra, cada uma em sílaba separada) Os hiatos “oo” e “ee” não têm mais acento. Exemplos: roo, creem, leem, deem, voo. 3) “qu” e “gu” Não há mais quaisquer acentos (nem trema, nem agudo) nos grupos “qu” e ‘gu”. 9 Exemplos: consequentemente, tranquilo, frequente, sagui, argui e averigue (pronuncia-se o “u” de forma tônica nas duas últimas palavras). Observação: só haverá trema se se tratar de palavra derivada de estrangeira com o referido sinal. Exemplo: “mülleriano” (do alemão “Müller”). 4) acentos diferenciais Com a reforma ortográfica, restaram somente os seguintes acentos diferenciais: Pode (verbo no presente) e pôde (verbo no passado); Por (preposição) e pôr (verbo); Tem (singular) e têm (plural); Vem (singular) e vêm (plural); Observação: em “fôrma”, o acento diferencial é de uso opcional. Acerca de, há cerca de HÁ CERCA DE (com o verbo haver – há) indica tempo passado, sem que se saiba a quantia exata de dias, meses, anos ou semanas. É um cálculo aproximado. Exemplo: O réu alegou residir nesta cidade há cerca de dez anos (não se tem a certeza de que tenham sido exatamente dez anos). Já ACERCA DE significa sobre algo, a respeito de algo: Trata-se de manifestação acerca da dosimetria da pena (a respeito da dosimetria da pena). À custa Prefira a forma À CUSTA DE (no singular). Exemplo: O adolescente vive À CUSTA do pai. 10 Adolescente Qualifique como adolescentes as pessoas entre 12 e 18 anos. Até doze anos incompletos, qualificar como criança. Evitar a expressão “menor” e, principalmente, “de menor”. Afim, a fim Estar A FIM de algo é interessar-se por esse algo. A expressão “a fim de”, que também indica finalidade, é sempre grafada de forma separada. Exemplo: Requereu a concessão do alvará a fim de obter valores suficientes para a compra do aludido imóvel. A palavra afim indica afinidade e é bem menos utilizada que a expressão “a fim”. Exemplo: Esse estabelecimento atende a roqueiros, punks e afins. A gente A expressão a gente, tomada como nós na linguagem coloquial, exige verbo e qualificação no singular. Como regra geral de concordância, o verbo concorda com a palavra que funciona como núcleo do sujeito, e não necessariamente com a ideia que ela representa. Apesar de a expressão a gente referir-se a mais de uma pessoa, o verbo e o nome que com ela concordam devem estar no singular (a gente - singular; as gentes - plural). Logo, A gente é feliz, por exemplo, seria exemplo de uso correto da construção, que é comum na linguagem oral, mas não cai bem em textos técnicos e objetivos, como costumam ser os jurídicos. Obs.: a concordância em gênero (masculino ou feminino) do nome com a expressão a gente faz-se, quase sempre, com a ideia, fato a que chamamos concordância ideológica ou silepse. Exemplo: Um membro de um grupo de homens diz: "A gente está muito nervoso hoje". Segundo a concordância tradicional (com o núcleo do sujeito), nervoso deveria estar no feminino (A gente 11 está nervosa), uma vez que gente é palavra feminina (gente nervosa). Mas a silepse, nesse caso, é preferível. À medida que (e na medida em que) À MEDIDA QUE tem o mesmo sentido de à proporção que, ao passo que. A ideia é de proporção. Possui uma forma parecida, mas com significado diferente: NA MEDIDA EM QUE (equivalente a “porque”, “já que”, com ideia de causa). Exemplos: À medida que cresce, fica mais revoltada (à proporção que, quanto mais); Não procede a preliminar, na medida em que a necessidade da tutela jurisdicional está plenamente demonstrada (já que). Anexo Assim como a palavra incluso, anexo é adjetivo e concorda em gênero (masculino ou feminino) e número (singular ou plural) com o termo a que se refere: Os documentos estão ANEXOS ao processo; As receitas estão inclusas?; A folha anexa está suja; A nota fiscal segue anexa aos autos. A expressão EM ANEXO fica sempre no masculino e no singular: A folha está em anexo; As folhas estão em anexo. Aonde, onde É bastante simples distinguir as duas formas. Aonde (a + onde) deve ser usada com verbos que indicam movimento (andar, chegar, sair, correr,ir, voar, voltar, comparecer, etc.). Perceba que esses verbos admitem a preposição a em seus complementos circunstanciais (Andei Ao centro da sala, Cheguei A São Paulo, 12 Corri Ao armário, etc.), e é justamente por isso que se usa o aonde. Exemplos: Aonde você vai; Cheguei Aonde eu queria. Se o verbo usado não indica movimento, usa-se onde, pois não ausente a preposição a: ONDE você mora (morar não indica movimento. Quem mora mora EM algum lugar, e não a algum lugar)?; ONDE estou?; ONDE será a reunião? ATENÇÃO Só use “onde” ou “aonde” para retomar a ideia de LUGAR. Exemplo: Isso ocorreu na CIDADE onde ele nasceu / na PRAÇA onde o acidente ocorrera. EVITE tais formas em construções nas quais não se tem a ideia de lugar, como: Isso ficou claro na contestação, “onde” o réu afirmou (preferir “em que” ou “na qual”, porque “contestação” não é propriamente um lugar) Não há que se falar em nulidade da duplicata de fl. 87, “onde” se vê, claramente, que as partes estipularam... (preferir “em que” ou “na qual”, porque “duplicata” não é propriamente um lugar) A o, de o (contração de preposição e artigo) Relembrar alguns conceitos gramaticais é inevitável neste momento: 1) sujeito: é o ser sobre o qual ou sobre quem se diz alguma coisa. Para encontrar o sujeito de um verbo, basta perguntar QUEM ou QUÊ a ele. Exemplo: Meu primo doou várias cestas básicas a uma instituição. Basta perguntar QUEM ao verbo: QUEM doou cestas básicas? A resposta é Meu primo, que é o sujeito; 2) preposição: vocábulo invariável que serve para conectar termos da oração. Exemplos: Doce DE leite; Vou A Londrina; Ele insiste EM comer. Principais preposições: a, ante, em, até, após, para, por, com, sem e de; 13 3) artigo: vocábulo que determina o substantivo em gênero e número. São eles: o, a, os, as, um, uma, uns, umas. Exemplos: Conheci O rapaz; Você leu A matéria? (O rapaz, A matéria, O frio, O calor, etc.) Certo. Agora é possível recordar outra regrinha: não se deve juntar a preposição ao artigo que encabeça o sujeito de uma oração. Exemplo: Está na hora DE A onça beber água DE é a preposição, e A é o artigo que encabeça o sujeito do verbo beber, que é onça. Como saber que onça é o sujeito do verbo beber? Pergunte QUEM ao verbo: QUEM beber água? A onça. Estaria, portanto, inadequada a construção Está na hora “da” onça beber água. Outros exemplos: Apesar DE O autor ter alegado a nulidade, não se desincumbiu... (sujeito de “ter alegado”: O AUTOR) Não há necessidade DE A parte requerida juntar aos autos tais documentos (sujeito de “juntar”: A PARTE REQUERIDA). A princípio, em princípio EM princípio – em tese; A princípio - no começo, no início. Exemplos: A princípio, eram só trevas (no início); Em princípio, a parte requerida foi lesada (em tese). Através de 14 Use a expressão através de seja somente no sentido de passar de um lado para o outro ou no decurso de. Emprega-se essa palavra, portanto, somente nos sentidos físico e temporal. Exemplos: Jogou-se através do vidro (sentido físico: de um lado para outro); Através dos anos, a ciência... (sentido temporal: no decurso de). Fora desses casos, opte pelas expressões POR MEIO DE ou POR INTERMÉDIO DE, além de outras preposições cabíveis. Exemplos: O Ministério Público, POR MEIO Do agente que subscreve a exordial, afirma... POR INTERMÉDIO Dos documentos de fls. X, ficou bem demonstrado que... BBBBBBBBBBBBBBBBBBB Bastante, bastantes Sempre que você usar a palavra bastante, substitua-a mentalmente por muito. Se o muito vai para o plural, o bastante se comporá da mesma forma. Exemplos: Há bastantes (muitas) pessoas aqui; Nós comemos bastante (muito). Se, mais raro, o bastante vier depois do nome a que se refere, substitua-o por suficiente. Se este for ao plural, bastante também irá. Tenho amigos bastantes (suficientes). CCCCCCCCCCCCCCCCCCC Certeza de que Primeiramente, lembre-se do conceito de oração: enunciado que gira em torno de um verbo. Então, há tantas orações quantos forem os verbos de uma frase, certo? 15 Um verbo, uma oração; dois verbos, duas orações; e assim por diante. Na frase “Tenho certeza que não errarei mais”, por exemplo, temos duas orações, já que há dois verbos (tenho e errarei). Separando-as, teríamos: Tenho certeza / que não errarei mais. Mas há algo estranho na segunda oração, que depende da primeira. Quem tem certeza, não tem certeza DE algo? Sim. E onde está o de? Deveria estar antes da segunda oração: Tenho CERTEZA DE que não errarei mais. Essa seria a forma adequada. Outros exemplos: Tenho vontade DE que você venha (vontade DE algo); Tínhamos medo DE que você se zangasse (medo DE algo). Cuidado: só use a preposição de se algum nome ou verbo a exigir. Veja um exemplo ERRADO: Afirmou a todos “de” que não sairia de lá. Não há qualquer palavra que exija essa preposição “de”. Aliás, a oração “que não sairia de lá” complementa o verbo “afirmar”, que não rege preposição alguma (quem afirma afirma algo, e não “de algo”). Colocação pronominal A dúvida agora é em relação à colocação dos pronomes oblíquos átonos (me, te, se, nos, vos, o, a, lhe) na frase. Será que, na frase Não me toque, por exemplo, o pronome deveria ficar antes do verbo (Não me toque) ou depois dele (Não toque- me)? Primeiramente, é importante saber que existem três possibilidades de colocação dos pronomes átonos em relação ao verbo: próclise (antes dele), mesóclise (no meio dele) e ênclise (depois dele). 16 Observem-se abaixo os casos em que, de acordo com a norma-padrão, a PRÓCLISE é obrigatória: a) Diante de palavras de negação: Não se faz necessário abordar o tema. Citada pessoalmente (seq. 10.1), a parte requerida não se manifestou nos autos (seq. 11.1). b) Diante da palavra “que”, em regra: O declarante disse que o chamaram de covarde. A ré ainda declarou que a chamaram de covarde. Sempre que se observar essa situação, deverá haver o seguinte procedimento... Requisite-se o réu que se encontra recolhido na Delegacia de Polícia de Loanda. c) Diante de advérbios (palavras invariáveis que indicam circunstâncias, como tempo, lugar, modo, afirmação, negação e dúvida): Hoje o prenderam; (tempo) Já lhe encaminharam o ofício. (tempo) Observação: se houver vírgula após o advérbio, a atração será bloqueada. Exemplos: Ontem, enviaram-no o ofício; Ontem o enviaram o ofício. 17 d) Diante de pronomes interrogativos: Quem os advertiu de tais consequências? e) Diante de pronomes relativos (o qual, cujo, onde, que, etc.): Os documentos aos quais me reportei foram desentranhados dos autos. * Para relembrar o conceito de pronome relativo, veja o tópico Vírgula. f) Diante de pronomes indefinidos (algo, alguém, tudo, todos, nenhum, vários, etc.): Alguém a ameaçou. g) Diante dos pronomes isso, isto e aquilo: Isso se traduz em benesses à população local. h) Diante de conjunções subordinativas (conjunções que introduzem orações que dependam sintaticamente de outra): Quando se encontraram, as partes iniciaram uma discussão. Exemplos de conjunções e locuções conjuntivas ou prepositivas subordinativas (perceba que grande parte delas termina com o vocábulo QUE): a) causa: porque, já que, haja vista que, uma vez que,porquanto, como... b) concessão (ideias contrastantes): embora, conquanto, se bem que, não obstante, apesar de... c) tempo: quando, sempre que, assim que, logo que, depois que, antes que... d) finalidade: a fim de que, para que, para... e) proporção: à medida que, à proporção que... f) comparação: como, tal qual... g) condição: se, caso, desde que... h) consequência: que, de modo que, de forma que... i) conformidade: conforme, segundo, de acordo com... i) Em orações com a preposição “em”, pronome “se” e verbo no gerúndio: Em se tratando de réu preso, será necessária a nomeação de curador especial. 18 j) Em frases optativas (exprimem desejo): Deus o ouça! Observação: não havendo palavra atrativa nem impedimento, é preferível a ênclise nos textos jurídicos formais. Exemplo: A testemunha Joana recusou-se a dizer a verdade. ÊNCLISE OBRIGATÓRIA a) Em início de oração: Encaminharam-se os autos à instância superior. Cuidado: uma das regras mais famosas da norma culta é a de que não se deve iniciar oração com pronome átono. Exemplos de ERROS: “Se” encaminharam os autos; (forma correta: Encaminharam-se os autos) “Lhe” encaminhe as informações; (forma correta: Encaminhe-lhe as informações) “Se” faça justiça. (forma correta: Faça-se justiça) b) Com verbo no gerúndio: Os cônjuges viviam agredindo-se. c) Com verbo no imperativo afirmativo: Intime-o desta decisão. d) Com preposição “a” e verbo no infinitivo: A mulher estava a observá-lo. MESÓCLISE OBRIGATÓRIA Em início de oração, com verbo no futuro (do presente ou do pretérito). Exemplos: Se a parte não contestar, ser-lhe-á aplicada a pena de confesso. (SERÁ + lhe) 19 Far-se-ia necessário instruir melhor a inicial. (FARIA + se) COLOCAÇÃO PRONOMINAL EM LOCUÇÕES VERBAIS a) verbo auxiliar seguido de infinitivo ou gerúndio Havendo palavra atrativa, o pronome pode ficar antes do auxiliar ou depois do principal. Exemplos: Não o posso condenar. (antes do auxiliar) Não posso condená-lo. (depois do principal) Se não houver palavra atrativa, poderá o pronome ficar entre os dois verbos: Eu lhe posso encaminhar o ofício. Eu posso lhe encaminhar o ofício. (pronome entre os verbos) Eu posso encaminhar-lhe o ofício. Observação: na linguagem formal, como a jurídica, é preferível a última forma. b) verbo auxiliar seguido de particípio Havendo palavra atrativa, use o pronome antes do verbo auxiliar. Exemplo: O réu já a tinha visto. Se não houver palavra atrativa, qualquer colocação será correta, menos a do pronome após o particípio. Exemplos: O declarante se tinha ferido. 20 O declarante tinha se ferido. Observação: JAMAIS use o pronome depois do particípio (“ferido-se”, “intimado-a” ou “comunicado-lhe”, por exemplo)! Concordância – principais casos Nas gramáticas convencionais, estudam-se, separadamente, as concordâncias verbal e nominal. Neste manual, abordaremos em conjunto os principais casos das duas partes, observando o comportamento de verbos e nomes diante das palavras a que se referem, a partir de exemplos práticos. 1) Foi interposto pelo executado embargos do devedor (regra geral de concordância com sujeito simples) Quando estiver escrevendo, tome muito cuidado com sua mente. Ela às vezes pode tentar “enganá-lo”, pois está acostumada com o sujeito geralmente antes do verbo (lembre-se de que, para encontrar o sujeito de um verbo, pergunta-se Quem? ou Quê? a este). Por exemplo, se a frase-título fosse “Embargos do devedor foi interposto pelo executado”, muitos se sentiriam incomodados, pois a falha de concordância seria manifesta. A locução “foi interposto” deveria concordar com o sujeito (“embargos do devedor”), que está no plural. Assim, obviamente, a frase correta seria “Embargos do devedor FORAM INTERPOSTOS pelo executado”. Dessa forma seria observada a regra geral de concordância verbal, abaixo expressa: “O VERBO OU LOCUÇÃO VERBAL DEVE CONCORDAR EM NÚMERO E PESSOA COM O NÚCLEO DO SUJEITO”. 21 Porém, se a frase em comento fosse “Foi interposto pelo executado embargos do devedor”, nem todos conseguiriam enxergar, de plano, a inadequação. Se a observarmos com atenção, veremos que o verbo (a locução verbal) não concordou com o seu sujeito. Basta perguntar “Quê?” para a locução “foi interposto”: “Que que foi interposto?”. A resposta – o sujeito, portanto – é EMBARGOS DO DEVEDOR. E o núcleo desse sujeito é EMBARGOS, que está no plural. Assim, para ficar correta a frase, deveria o verbo concordar em número com o núcleo do sujeito: FORAM INTERPOSTOS pelo executado EMBARGOS do devedor. Em síntese, não importa a ordem da oração (SUJEITO – VERBO ou VERBO – SUJEITO): o verbo sempre concordará com o núcleo do sujeito. Tome cuidado redobrado quando posicionar o verbo antes do sujeito, pois é nesse caso que os erros são mais frequentes. Observe mais um exemplo de erro que muitas pessoas não detectariam facilmente: Ante a possibilidade de ser atribuído efeitos infringentes aos embargos de declaração opostos pelo excipiente, intime-se o excepto para, no prazo de 5 (cinco) dias, manifestar-se. Para achar o sujeito da locução grifada, façamos a pergunta clássica: “Que que é atribuído?”. A resposta (sujeito) é EFEITOS INFRINGENTES. Como está no plural, a locução verbal deveria respeitar a regra de concordância. Logo, a forma correta seria: Ante a possibilidade de serem atribuídos efeitos infringentes aos embargos de declaração opostos pelo excipiente, intime-se o excepto para, no prazo de 5 (cinco) dias, manifestar-se. Veja outros exemplos, desta vez com a concordância perfeita: 22 Vários recursos foram manejados pela parte. (SUJEITO – VERBO) Foram manejados pela parte vários recursos. (VERBO – SUJEITO) As condutas do réu causaram surpresa à vítima. (SUJEITO – VERBO) Causaram surpresa à vítima as condutas do réu. (VERBO – SUJEITO) Os documentos mencionados pelo autor têm pouca relevância à causa. (SUJEITO – VERBO) Têm pouca relevância à causa os documentos mencionados pelo autor. (VERBO – SUJEITO) As preliminares de inépcia da inicial e litispendência foram suscitadas pelo réu. (SUJEITO – VERBO) Foram suscitadas pelo réu as preliminares de inépcia da inicial e litispendência. (VERBO – SUJEITO) Pleiteia que a expedição da segunda via do documento perante o Detran seja determinada. (SUJEITO – VERBO) Pleiteia que seja determinada a expedição da segunda via do documento perante o Detran. (VERBO – SUJEITO) Da narração da inicial extrai-se a verossimilhança das alegações, tendo em vista que comprovantes de pagamento do veículo foram juntados aos autos. (SUJEITO – VERBO) Da narração da inicial extrai-se a verossimilhança das alegações, tendo em vista que foram juntados aos autos comprovantes de pagamento do veículo. (VERBO – SUJEITO) ATENÇÃO REDOBRADA!!! Não custa reforçar que, na ordem indireta (VERBO – SUJEITO), a incidência de erros é muito maior. Por isso, lembre-se: quando perceber que o verbo está em 23 posição inicial na oração, antes do sujeito, redobre a atenção e confira a concordância. Além disso, como você deve ter percebido nos exemplos acima, é muito comum a construção de locuções verbais passivas (verbo + particípio) antes de seus respectivos sujeitos. E, nesses casos, além da concordância em número (singulare plural), você deverá checar a concordância em gênero (masculino e feminino), porque o particípio – geralmente terminado em “ado” ou “ido”, como “amado” e “partido” – é uma das formas nominais do verbo. Conforme será abordado em tópico à frente, se houver mais de um núcleo e pelo menos um deles for masculino, a locução verbal deverá estar no plural e no masculino. Exemplos de particípios antecipados ao sujeito, com a concordância ERRADA: “Considerado” essa questão, o pleito merece procedência. “Foi informado” pela parte a extinção do processo. Não “será admitido” manifestações injuriosas. “Trazido” aos autos os documentos, abra-se vista à autora. “Encaminhado” os autos à superior instância, aguarde-se o julgamento do recurso. Vejamos agora os mesmos exemplos, desta vez com a concordância CORRETA (os núcleos do sujeito estão destacados com letras maiúsculas): Considerada essa QUESTÃO, o pleito merece procedência. (Que que foi considerado? A questão) Foi informada pela parte a EXTINÇÃO do processo. (Que que foi informado? A extinção) 24 Não serão admitidas MANIFESTAÇÕES injuriosas. (Que que não será admitido? As manifestações) Trazidos aos autos os DOCUMENTOS, abra-se vista à autora. (Que que será trazido? Os documentos) Encaminhados os AUTOS à superior instância, aguarde-se o julgamento do recurso. (Que que vai ser encaminhado? Os autos) Dica para encontrar o núcleo do sujeito Quando o sujeito for uma expressão com várias palavras e uma delas for preposição (de, para, com, por, em, etc.), o NÚCLEO DO SUJEITO, com o qual o verbo sempre concordará, normalmente será o substantivo ou pronome ANTES DA PREPOSIÇÃO. Exemplos (com o sujeito entre colchetes e o núcleo em negrito, logo antes da preposição): [As consequências do crime] foram normais à espécie. [Esse tipo de conduta] não é observado na região. [A maioria das pessoas que cometem crimes desse jaez] despreza as consequências danosas que estes trazem à sociedade. 2) Foram devidamente intimados o Ministério Público e o réu (regra geral de concordância com sujeito composto) Sujeito composto é aquele que tem dois ou mais núcleos, geralmente ligados por um vocábulo invariável denominado conjunção. 25 De acordo com a regra geral, o verbo deve concordar com a SOMA dos núcleos do sujeito, a não ser que o conectivo que os una não indique tal ideia, como às vezes ocorre com a conjunção “ou”. Exemplos (com o sujeito entre colchetes e os núcleos em negrito): [A conduta e a tipicidade] integram o conceito de crime a que você se referiu. (SUJEITO – VERBO) Tiveram pouca repercussão social [esse crime e a correlata contravenção]. (VERBO – SUJEITO) As conjunções mais utilizadas para ligar núcleos do sujeito são “e”, “ou” e “nem”. Quando o sujeito composto estiver depois do verbo (ordem VERBO – SUJEITO), poderá o verbo concordar com o primeiro núcleo ou com a soma. Exemplos: a) Morreu o autor e a esposa (concordando só com o núcleo mais próximo); b) Morreram o autor e a esposa (concordando com a soma dos núcleos). Recomenda-se, no entanto, que a concordância sempre se dê com a soma, no plural, independentemente da ordem da oração. EM RESUMO: a) sujeito simples (um núcleo): o verbo sempre concorda com o núcleo, independentemente da ordem (SUJEITO – VERBO ou VERBO – SUJEITO). Exemplos: [Os ofícios] serão enviados amanhã. (SUJEITO – VERBO) Serão enviados amanhã [os ofícios]. (VERBO – SUJEITO) 26 b) sujeito composto (dois ou mais núcleos): o verbo sempre concorda com o plural, a não ser que o conectivo que una os núcleos não indique soma. Na ordem indireta (VERBO – SUJEITO), os gramáticos admitem a concordância apenas com o núcleo mais próximo ao verbo, mas recomenda-se que sempre se opte pela concordância com a soma. Exemplos: [O comprovante de residência e a procuração] não foram juntados aos autos. (SUJEITO – VERBO) Não foram juntados aos autos [o comprovante de residência e a procuração]. (VERBO – SUJEITO) Não foi juntado aos autos [o comprovante de residência e a procuração]. VERBO – SUJEITO – concordância só com o primeiro núcleo – correta, mas evitável) 3) Roubar e furtar ERA comum a ele Aqui, apesar de haver a conjunção e, o verbo ficou no singular porque o sujeito é composto de verbos no infinitivo. Só há plural nesse caso se os infinitivos expressarem ideias contrárias, como no famoso exemplo Rir e chorar se alternam. É bom lembrar que, quando o sujeito de um verbo for uma oração, o verbo que concorda com esse sujeito ficará sempre no singular. Exemplo: Basta que eles se habilitem nos autos. O sujeito do verbo bastar é a oração que eles se habilitem nos autos (Que que basta? Que eles se habilitem nos autos). Como o sujeito de bastar é uma oração, o verbo fica no singular (basta). Quando os núcleos do sujeito forem sinônimos ou de sentido muito próximo, também se admitirá que o verbo fique no singular. Exemplo: O ódio e o rancor dominou-o. 3) O autor ou o réu se beneficiarão com eventual acordo 27 Aqui também temos um sujeito composto, mas os núcleos estão ligados pela conjunção ou (autor OU réu). Esse vocábulo pode exprimir exclusão (somente um ou outro) ou adição (um + outro). O verbo da frase-título está no plural porque o fato de o autor ser beneficiado não exclui a possibilidade de o réu também o ser. Os dois podem ser beneficiados. Agora pensemos nesta frase: O juiz titular ou o substituto sentenciará nesse processo amanhã. Nesse caso, logicamente o ou tem valor excludente. Somente um dos juízes poderá sentenciar o processo. Em suma, a concordância do verbo com núcleos ligados pela conjunção “ou” dependerá do contexto discursivo e da intenção do falante. 4) João, assim como todos os irmãos, PASSA fome Quem passa fome? João. Esse é o sujeito. A palavra “irmãos” não integra o sujeito. O termo entre vírgulas (assim como todos os irmãos) está deslocado, fora de sua ordem natural (ver Vírgula). É, na verdade, uma oração (com verbo subentendido) que estabelece uma comparação entre seres. Na ordem direta ficaria assim: João passa fome, assim como (passam) todos os irmãos. É por isso que, quando se usa a locução “assim como”, NÃO há, como parece à primeira vista, soma de núcleos. O verdadeiro núcleo do sujeito é somente o que aparece antes de “assim como”. 5) Houve homens e mulheres CULPADOS A questão agora é como as qualificações (geralmente expressas por adjetivos) concordam com os nomes a que se referem. A qualidade culpado fica no singular ou no plural? No masculino ou no feminino? Se se referir aos dois núcleos (homens e mulheres), ficará culpados. Plural porque se refere a dois seres; masculino porque, digamos em tom jocoso, a Gramática é machista. Se uma 28 qualificação se refere a dois ou mais seres, e se pelo menos um deles é masculino, a qualidade também será masculina. Ora, basta um homem numa multidão de mulheres para que um orador se dirija a tais pessoas como senhores (e não senhoras). É o predomínio do masculino na Gramática. Porém, se só as mulheres forem culpadas, o adjetivo obviamente concordará com essa palavra, que deverá ser o núcleo mais próximo: Houve homens e mulheres culpadas. Tal construção, porém, é raríssima e pouco esclarecedora, devendo ser evitada. Se a qualificação vier antes dos núcleos do sujeito, a concordância, em regra, só poderáser feita com o núcleo mais próximo, e não com a soma: Segundo remansosa jurisprudência e doutrina, a citação ficta pode.... A qualidade pode aparecer ligada ao sujeito (ou ao complemento verbal) por meio de um verbo: Homens e mulheres são simpáticos; O prefeito nomeou o funcionário e a irmã (como sendo) secretários. Nesse caso, a regra é a mesma da do anterior, porém um pouco mais flexível. Se a qualidade vier antes dos núcleos do sujeito, poderá concordar com os dois ou só com o mais próximo: São simpáticos homens e mulheres; São simpáticas mulheres e homens. Recomenda- se, contudo, que sempre se opte pela concordância com a soma nesse caso. 6) É proibido / é bom / é necessário Casos clássicos dos capítulos de concordância nominal, as expressões é proibido, é necessário, é bom, é preciso e outras similares (com verbo de ligação + predicativo) ainda causam muita confusão. Quando se escreve e se diz É proibido ou É proibida? Quando é feminino e quando é masculino? Como já foi explicado, é sempre bom ter em mente que, quando usamos um verbo, ele geralmente diz algo a respeito de alguma coisa ou alguém (o sujeito do verbo). Quando se usa um verbo que liga uma qualificação ao núcleo do sujeito, deverá, em regra, haver a concordância em gênero e número entre a qualificação e o núcleo. 29 A frase É “proibido” a entrada de pessoas estranhas, por exemplo, está errada, porque a palavra proibido (um adjetivo, pois indica qualidade) não concorda com o sujeito do verbo ser, que é A entrada de pessoas estranhas (que que é proibido? A entrada de pessoas estranhas). Podemos perceber que o núcleo do sujeito aparece acompanhado de artigo feminino (A entrada), o que determina a sua “feminilidade”. Assim, todas as palavras que a ele se referem também devem ser femininas: É PROIBIDA a entrada de pessoas estranhas (A entrada é proibida). Porém, essa flexão só valerá quando o sujeito vier acompanhado de artigo ou qualquer determinante feminino (minha, essa, aquela, nossa, muita, pouca, etc.). Se não houver nenhum desses determinantes (caso em que o núcleo geralmente estará no início do sujeito, sem nenhum vocábulo feminino à sua esquerda), expressões como é proibido, é necessário, é bom, é preciso ficarão sempre no masculino. Exemplo: É PROIBIDO entrada de pessoas estranhas. Repare que agora o núcleo do sujeito (ENTRADA de pessoas estranhas) não vem acompanhado de artigo nem de qualquer vocábulo que o determine como feminino. Mais alguns exemplos: É necessário PACIÊNCIA; É necessária A PACIÊNCIA; MAÇÃ é bom para a saúde; A MAÇÃ é boa para a saúde. Faz-se necessária A APRESENTAÇÃO de memoriais; Faz-se necessário APRESENTAÇÃO de memoriais. 7) A maioria dos argumentos PROCEDE 30 Quando o sujeito contiver expressões no singular que indiquem ideia de plural, como a maioria, grande parte de e grande número de, seguidas de nome no plural, a concordância se fará com a expressão no singular ou com o nome no plural, livremente. Porém, recomenda-se a concordância no singular, com o núcleo. Exemplos: A maioria dos brasileiros vota (preferível) OU A maioria dos brasileiros votam; Grande parte dos torcedores ficou ferida (preferível) OU Grande parte dos torcedores ficaram feridos. Caso esse tipo de núcleo não seja acompanhado de expressões no plural, a concordância com o singular será obrigatória. Exemplos: A maioria vota; Grande parte ficou ferida; O grupo reuniu-se na praça. 8) Já DERAM três horas Os verbos dar, bater e soar concordam com o número de horas: Já DERAM três horas; Já deu uma hora; Já soou meia-noite; Soaram duas horas; Bateram oito horas; Soou uma hora. Se você quiser usar na frase a palavra relógio (ou qualquer outro mecanismo que forneça a noção de horas, como sino), o verbo concordará com ela: O relógio bateu duas horas; O sino soou quatro horas; Parece que o relógio já deu dez horas. 9) É meio-dia 31 Na indicação de horário, o verbo ser concorda com o número de horas: São duas horas, São 11h30min, É meio-dia (meio é singular, porque é metade de um). Muitos, erroneamente, falam “São” meio-dia e “São uma hora” por força do hábito, já que a grande maioria doa indicações de horário está no plural (duas, três, quatro...). 10) Com os dias acontece o mesmo? É mais fácil. Você pode concordar com o número ou com a palavra dia, que estará subentendida: É (dia) 3 de junho (ou SÃO 3 de junho, concordando com o numeral); É 15 de maio (ou SÃO 15 de maio, concordando com o número). É lógico que o verbo estará sempre no singular na indicação do primeiro dia do mês. Hoje É primeiro de maio (concordando com a palavra dia ou com o número, o singular é inevitável). E evite dizer “um” de maio, “um” de abril... prefira primeiro de maio, primeiro de abril e assim por diante. 11) Mais de uma pessoa VEIO à festa Saibamos que os verbos têm uma grande queda pelos numerais. Em outras palavras, os verbos normalmente concordam com os números. Isso acontece nas expressões que contenham numerais, como mais de um, mais de dois, menos de um, menos de dez. Então, diga: Mais de uma pessoa veio à festa; Mais de três pessoas vieram à festa, sempre deixando o verbo concordar com o numeral. Se, porém, a expressão mais de um vier repetida ou se o verbo indicar troca de ações (reciprocidade), ele ficará no plural: Parecia que mais de um rapaz se estapeavam (troca de ações - um dava tapas no outro); Mais de uma pessoa se olharam, após aquele comentário (troca de ações - uma olhava a outra); 32 Mais de um homem, mais de uma mulher perderam dinheiro (repetiu-se a expressão mais de um). 12) Os Estados Unidos INVADIRAM o Iraque Não é só com o numeral que o verbo sempre concorda. Nos casos de plurais aparentes – em que, apesar da palavra no plural, há uma ideia singular, como em “Estados Unidos”, nome de um único país –, o verbo também estabelece fortes relações com o artigo, geralmente concordando com ele. Artigo no plural, verbo no plural; artigo no singular, verbo no singular. Posso dizer, por exemplo, As Alagoas são um ótimo lugar ou Alagoas é um ótimo lugar. Se o artigo aparecer, o verbo ficará no plural; se não, o verbo permanecerá no singular: Minas Gerais enfrenta onda de calor; As Minas Gerais enfrentam onda de calor. 13) Eles parecem chegar ou parece chegarem? Quando o verbo parecer estiver ao lado um verbo no infinitivo (estado natural do verbo, como cantar, vender, parecer, subir, etc.), um ou outro vai flexionar-se. Só não pode os dois irem para o plural ao mesmo tempo: Eles pareciam estar bem ou Eles parecia estarem bem; Eles parecem chegar ou Eles parece chegarem. A construção preferível é a do parecer flexionado: Eles pareciam estar bem; Eles parecem chegar. 14) 25% da população é analfabeta ou são analfabetos As duas formas são corretas. Se você se vir diante de um sujeito com porcentagem + nome (25% + população, no caso), poderá concordar o verbo e o adjetivo (qualificação) com um ou com outro. Veja: 33 25% da população são analfabetos ou 25% da população é analfabeta. Se o número, porém, vier especificado por artigo (o, os, uns) ou pronome (esse, esses, meu, meus, nosso, etc.), a concordância com a porcentagem será obrigatória: Os 25% da população são analfabetos; Esses 25% da população são analfabetos. Se a porcentagem não vier acompanhadade substantivo, o verbo e a qualificação só poderão concordar com o número: 25% são analfabetos. 15) Tudo SÃO argumentos Na maioria das construções com o verbo SER, ele liga o sujeito a um atributo (característica), chamado pela Gramática tradicional de predicativo do sujeito. Quando houver divergência de número entre sujeito e predicativo (um no singular e outro no plural), opte, em regra, pela concordância com o termo plural, a não ser que um deles seja nome de pessoa ou qualquer nome próprio (casos em que a concordância será obrigatória, mesmo se estiver no singular). Exemplos: A vida são alegrias para quem... (opta-se, com o verbo ser, pela concordância com o termo plural, que no caso é o sujeito - A vida); Pedro é várias pessoas quando trabalha (a concordância com o nome de pessoa - Pedro - é obrigatória, inclusive se estiver no singular). 16) Um e outro COMPARECEM à firma 34 Se o sujeito da oração for a expressão um e outro, o verbo ficará no plural. Se a expressão um e outro acompanhar um nome, este ficará no singular, apesar de o verbo ser pluralizado. Exemplo: Um e outro funcionário comparecem à firma. 17) Um ou outro COMPARECE à firma Se o sujeito da oração for a expressão um ou outro, o verbo ficará, em regra, no singular. Se a expressão um ou outro acompanhar um nome, este ficará no singular. Exemplo: Um ou outro funcionário comparece à firma. 18) Nem um nem outro COMPARECE à firma Se o sujeito da oração for a expressão nem um nem outro, o verbo ficará, preferencialmente, no singular, apesar de haver divergências entre gramáticos. Se a expressão nem um nem outro acompanhar um nome, este ficará no singular. Exemplo: Nem um nem outro funcionário comparece à firma. 19) Vossa Excelência QUER conversar com os repórteres? Todo pronome de tratamento (Vossa Excelência, Vossa Magnificência, Vossa Alteza, Vossa Senhoria, Vossa Reverendíssima, Vossa Majestade e outros.) funciona exatamente como a palavra VOCÊ (que, por sinal, vem do pronome de tratamento Vossa Mercê) e exige verbos e pronomes na terceira pessoa do singular: Vossa Excelência vai gostar do seu assessor (Você vai gostar do seu assessor); Vossa Alteza poderia repetir (Você poderia repetir?)? 20) Fui eu quem FEZ isso / Fui eu que FIZ isso Com o pronome relativo quem, a concordância é mais fácil do que se imagina. O verbo deve ficar sempre na terceira pessoa do singular (ele). Alguns exemplos: Fui eu quem FEZ isso; 35 Fomos nós quem FEZ isso; Seremos nós quem CHEGARÁ primeiro. Quer uma prova? Basta inverter a ordem da frase: Quem fez isso fui eu; Quem fez isso fomos nós; Quem chegará primeiro seremos nós. Se usar o pronome que, a concordância se fará com o nome que vier antes dele: Fui eu que FIZ isso; Fomos nós que FIZEMOS isso; Seremos nós que CHEGAREMOS primeiro. 21) Sou o único político que se IMPORTA com a situação... A oração que se importa relaciona-se à palavra político (antecedente do pronome que), que está na terceira pessoa do singular (ele): ele se importa. Assim, o verbo deve concordar com tal palavra, evitando-se a concordância com a primeira pessoa (eu ou nós), apesar de admitida por alguns gramáticos. Outros exemplos relacionados: Somos a única família que se reúne (a família se reúne, ela se reúne) aos domingos; Sou o único professor que pula (o professor pula, ele pula) de paraquedas. 22) Um milhão de pessoas SAIU Se o numeral é um (singular), o verbo também permanece invariável (singular): 36 Um milhão de pessoas saiu de casa (Isso mesmo!); Ouvi falar que um bilhão de telespectadores assistirá ao evento. O núcleo do sujeito, com o qual o verbo deve concordar, é a palavra “milhão” (ou “bilhão”). Alguns gramáticos admitem também a concordância com o termo plural que o acompanha. Caso esses numerais coletivos estejam sozinhos, desacompanhados de expressões plurais, a concordância no singular será obrigatória: Um milhão saiu de casa; Ouvi falar que um bilhão assistirá ao evento 23) Nenhum dos dois COMETEU o crime Muito cuidado quando o sujeito do verbo contiver o pronome nenhum. Mesmo se ele acompanhar palavra no plural ou numeral maior que um (como nenhum dos guardas e nenhum dos dois), o verbo sempre ficará no singular, concordando com nenhum. Ocorre o mesmo com o pronome algum, se estiver no singular. Exemplo: Algum dos funcionários FACILITOU a fuga. Se algum, entretanto, estiver no plural, poder-se-á fazer a concordância com ALGUNS ou com o pronome “nós” que o acompanhar. Exemplo: Alguns de nós FACILITARAM (ou FACILITAMOS) a fuga. Conosco, com nós mesmos 37 Está certo que aprendemos no primário a usar conosco e convosco no lugar de com nós e com vós. O problema é que nem sempre essa regra funciona. Dizer Deixe “conosco” mesmo agride o ouvido de qualquer um. Quando houver qualquer palavra (ou grupo de palavras) que reforce ou especifique o sentido do pronome nós (ou vós, bem menos comum), não se poderá contraí-lo com a preposição com. Exemplos: Deixe COM NÓS mesmos (a palavra mesmos reforça nós); Ele vai COM NÓS dois (dois especifica nós); Eles estão COM NÓS professores (professores especifica nós); Deixe conosco (não há palavra reforçando nós; logo, pode juntá-lo ao com); Ele vai conosco (idem); Eles estão conosco (idem). Crase Primeiramente, crase não é o nome daquele sinal gráfico (`). O nome do acento, que é contrário ao agudo (´), é grave. Crase é o nome do fenômeno da junção de dois as. Só se usa o acento grave, em regra, antes de palavras FEMININAS. A crase é a junção de, geralmente, um a preposição com um a artigo (que só acompanha palavras femininas, é claro). Esse fenômeno ocorre, basicamente, nas expressões adverbiais femininas que indicam tempo, modo e lugar e nos complementos femininos de verbos e nomes com a preposição a. Assim, a primeira coisa que você precisa assimilar sobre o fenômeno da crase é que ele, em regra, NÃO OCORRE DIANTE DE PALAVRAS MASCULINAS. 38 Alguns exemplos de CRASE EQUIVOCADA (por anteceder palavras masculinas): À título de ilustração, poder-se-ia argumentar... (“título” é masculina) À teor do disposto no artigo 5º da Constituição Federal... (“teor” é masculina) Não há que se falar, à rigor, em inépcia da inicial. (“rigor” é masculina) A petição não foi protocolada à tempo. (“tempo” é masculina) Nas frases acima, o “a” jamais poderia ser craseado, por posicionar-se diante de palavra masculina. Vejamos agora exemplos em que a crase foi corretamente sinalizada, por tratar- se de circunstâncias femininas de tempo, modo e lugar ou de complementos femininos introduzidos pela preposição “a”: Ele encontrou a esposa à uma da tarde (circunstância feminina de tempo); Ela correu à toa (circunstância feminina de modo); Permaneça à esquerda (circunstância feminina de lugar); Vamos assistir à novela (o verbo exige a preposição a; o complemento, feminino, exige o artigo a). Porém, identificar essas circunstâncias femininas de tempo, modo e lugar nem sempre é tão fácil. Para facilitar a sua vida, existe uma regra prática muito fácil. Quando houver dúvidas em relação à crase antes de determinada palavra feminina, basta substituí-la, mentalmente, por qualquer palavra masculina, mantendo-se a estrutura da frase.Se antes da masculina aparecer AO, diante da feminina ocorrerá crase (A + A). 39 Exemplo: Vou a feira. Substitua feira por qualquer palavra masculina, como mercado. Você diz Vou “a” mercado ou Vou AO mercado? Certamente você escolheria a segunda opção (Vou AO mercado). E nela aparece AO. Então, há crase em Vou à feira. Outro exemplo: Cheguei as pressas. Pensemos em um termo masculino: Cheguei AOs prantos, ou AOs gritos. Apareceu o AO, então ocorre crase em às pressas. Note que, na escolha da palavra masculina, a circunstância indicada pela expressão (modo como cheguei) permanece a mesma. Em resumo: na maioria das vezes em que houver dúvida sobre a ocorrência de crase em expressões femininas, bastará substituí-las, mentalmente, por masculinas com a mesma estrutura e sentido similar. Se aparecer AO ou AOS no masculino, ocorrerá a crase no feminino (À ou ÀS). Esse teste, que chamaremos de “teste do AO”, dará certo na maioria esmagadora dos casos do cotidiano. 1) Exemplos de aplicação do teste do AO Você já entregou a carta à garota? (AO garoto) A vítima foi assassinada a faca. (a tiro) 40 Pegarei o ônibus à noite. (AO meio-dia) Escrevi a carta a mão. (a lápis) Forno a lenha. (a gás) Essa caneta é igual à outra. (Esse lápis é igual AO outro) Fique à vontade. (AO léu) Diga a ela que não vou. (a ele) Vire à direita. (AO lado) Marcha à ré. (AO lado) Sairei às 15h. (AO meio-dia) Saio de segunda a sexta. (de segunda a sábado) Está marcado para as 11h. (para o meio-dia) Tornem os autos à conclusão. (AO gabinete) A parte autora apresentou impugnação à contestação. (AO cálculo) Audiência às 15h45min. (AO meio-dia) O réu foi condenado à pena de prestação de serviços à comunidade. (AO ostracismo / AO povo) Recebo a emenda à inicial. (AO texto) Intime-se o autor a emendar a inicial no prazo de dez dias. (O texto) 41 A controvérsia da lide diz respeito à execução da multa diária fixada para que a embargante procedesse à implantação do benefício previdenciário devido à embargada. (AO estabelecimento / AO cancelamento / AO embargante). Intime-se a embargante (o embargado) Observações: a) No teste do AO, busca-se qualquer palavra masculina que, hipoteticamente, caberia no lugar da feminina, ainda que o sentido da masculina seja completamente diferente do da feminina. O importante é sabermos se, caso houvesse alguma palavra masculina no lugar da feminina naquela específica estrutura frasal, apareceria a junção AO; b) O estudo da crase depende de um bom conhecimento de REGÊNCIA, uma vez que, nos casos em que o verbo ou o nome regerem a preposição “a” e o complemento for feminino, poderá ocorrer a crase no complemento. Por isso, estude este tópico em conjunto com o de regência. 2) ANTE a certidão ou à certidão? A preposição “ante” não vem acompanhada da preposição “a”. Assim, nunca ocorre a crase nem AO no masculino. O correto seria: “Ante a certidão de fl. 4, abra-se vista...” OU “Ante o petitório de fl. 4, abra-se vista...”. 3) Casa, terra, a distância, pronomes de tratamento Como vimos, é bastante fácil empregar corretamente o acento grave, mas em alguns casos não é possível realizar o teste do AO. Antes das palavras casa e 42 distância, por exemplo, só colocamos o acento grave quando vierem especificadas. Essa especificação pode ser feminina ou masculina. Exemplos: A declarante disse que chegou a casa (não está especificado de quem é a casa, portanto não há a crase); Vou à casa de Fernando (aqui está especificado... é de Fernando); Permanecemos a distância (não está especificada a distância); Permanecemos à distância de 15 metros (aqui está especificada a distância). Já com a palavra terra a questão é outra. Se o significado for o de planeta (Terra), poderá ocorrer a crase. Se significar chão firme, não. Exemplos: Os astronautas chegaram à Terra (sentido de planeta; logo, há a crase); Depois do naufrágio, os sobreviventes chegaram a terra (chão firme; não ocorre a crase, portanto). Outro caso digno de destaque são os pronomes de tratamento: nunca haverá crase diante deles. Exemplos: Direi isso a Vossa Excelência; Direi isso a Vossa Senhoria. 4) Antes de masculinas nunca ocorrerá a crase? Em regra, NÃO. Mas existe um caso em que aparentemente ocorrerá a crase diante de palavras masculinas: quando estiver subentendida uma expressão feminina que exigiria o acento grave, como as locuções à moda de e à maneira de. Nesses casos, você deverá usar o acento grave, independentemente de a 43 palavra ser masculina ou feminina (lembre-se de que, como regra geral, a crase só ocorre antes de palavras femininas). Exemplos: Aquele garoto cortou o cabelo à Elvis Presley (à moda de Elvis Presley); O jogador fez um gol à Ronaldinho (à moda de Ronaldinho). 5) Crase e pronomes demonstrativos Também existe a crase nos pronomes demonstrativos aquele(a)(s) e aquilo, mesmo que se trate de pronomes masculinos. Nesses casos, tudo vai depender do verbo ou do nome que vier antes desses pronomes. Se o verbo (ou nome) exigir a preposição a, haverá a crase, não importando se o pronome demonstrativo for feminino ou masculino. Exemplos: Cheguei àquela festa (quem chega chega A algum lugar – ...cheguei A Aquela festa; juntando-se a com aquela, tem-se àquela); Não fiz referência àquilo (referência A algo – fiz referência AAquilo); juntando- se a com aquilo, tem-se àquilo). Dica: para ter certeza quanto à crase diante de AQUELE, AQUELA ou AQUILO, basta substituir mentalmente esses pronomes por ESSE, ESSA ou ISSO, respectivamente. Se o resultado da troca for A ESSE, A ESSA ou A ISSO, haverá crase (ÀQUELE, ÀQUELA, ÀQUILO). Exemplos: Àquela hora, nada mais seria possível. (A ESSA HORA, nada mais seria possível) Não foi possível ouvir aquela testemunha. (Não foi possível ouvir ESSA testemunha) Houve poucas referências àquele fator. (Houve poucas referências A ESSE fator). 44 6) Bem-vindo a Londrina, bem-vindo à Grécia Mais um detalhe em relação ao uso do acento grave: antes de nomes de países, cidades, estados e continentes, a regra do AO não surte efeito. Nesses casos, há outra regrinha, tão fácil quanto a outra. Vamos pensar em um exemplo: Vou a São Paulo. Será que ocorre a crase? O verbo “ir” exige a preposição “a”. Precisamos saber, todavia, se “São Paulo” exige o artigo “a”. Como se trata de um nome de cidade ou estado, devo pensar da seguinte maneira: venho DE ou venho DA São Paulo? Obviamente, venho DE São Paulo. Sendo assim, não pode haver crase antes de São Paulo. Se pensarmos Venho DE, não ocorrerá a crase; se pensarmos Venho DA (de + a), ocorrerá a crase, porque haverá o artigo a contraído com a preposição de (lembre-se de que a crase é a junção de dois as, sendo um deles artigo). Existe até uma riminha conhecida que nos ajuda nessa regra: Venho DA, crase no A; venho DE, crase pra QUÊ? Quanto à frase-título, basta pensarmos: Venho DE ou Venho DA Londrina? A resposta é Venho DE Londrina. Logo, não há crase diante desse nome. Se fosse, por exemplo, Eles foram à França, ocorreria a crase (venho DA França). 7) Qual é o erro mais comum de crase? Além da insistente crase diante de palavras masculinas, a principal falha talvezseja a utilização do acento grave quando o a singular (preposição) está diante de palavra no plural. Guarde isto: quando o a estiver no singular e, diante dele, houver uma palavra no plural, NUNCA ocorrerá a crase. Exemplos: Não costumo ir a festas (sem crase); Referi-me a outras mulheres (sem crase). 45 A explicação é simples: para ocorrer a crase, deve haver preposição + artigo. A palavra no plural obviamente exige um artigo no plural (as festas), que não é observado quando o a, uma simples preposição, está no singular (a festas). Contudo, se o a estiver no plural, basta fazer o teste do masculino: Vou às festas (AOs encontros). 8) À fl., a fl., às fls. ou a fls.? A expressão abreviada “à fl.” é uma circunstância feminina que indica, metaforicamente, lugar. Por isso, é sempre craseada. Usa-se no singular quando a referência for a uma única folha. Exemplos: À fl. 08, juntou-se comprovante de residência. Às fls. 03/15, juntaram-se documentos. Na prática jurídica, é comum usar a expressão “a fls.”, com o “a” singular diante de fls. (plural). Nesse caso, jamais ocorrerá a crase, tendo em vista o já explicado no item anterior. Exemplo: O réu contestou a fls. 45/53. Observações: a) apesar de muito comum, não use o plural “fls.” quando a referência for a somente uma folha. Seja simples e coerente: use à fl. 01 ou às fls. 01/02. Não há por que usar “fls.”, no plural, para referir-se a somente uma; b) também se admite o uso da preposição “de” na referência às folhas: petição de fl. 08 ou de fls. 08/14. 46 c) no processo eletrônico, a referência não é feita a folhas, mas sim a “eventos” (ev.), “movimentos” (mov.) ou “sequenciais” (seq.), casos em que podem ser usadas as abreviaturas entre parênteses ou preposições, principalmente “em” e “de”. Exemplos: Na contestação (mov. 8.2), o réu arguiu... Na petição de mov. 42.3, o embargado alegou... A inicial veio acompanhada de documentos (eventos 1.2/1.9). No seq. 24.3, foi proferida decisão saneadora. O Ministério Público ofertou parecer favorável (seq. 89.4). 9) Palavras neutras Cuidado com palavras neutras (nem masculinas, nem femininas), que jamais serão antecedidas por “a” craseado. Exemplos: mim, isso, isto, aquilo. Cujo O artigo é obrigatório na palavra ambos, mas errado no pronome relativo cujo. Nunca use artigo após cujo. Exemplo: Você viu a mulher cujos cabelos são azuis (e não cujos "os" cabelos...). Aliás, para usar corretamente o pronome relativo cujo, tenha em mente que ele estabelece uma relação de posse entre dois elementos: o que vem antes dele e o que vem depois. Por isso, o cujo sempre estará entre dois nomes: antes dele virá o possuidor; depois dele, a coisa possuída. Lembre-se deste exemplo: Manifestou-se o réu cujos bens foram penhorados. 47 O cujos, que sempre concorda com a coisa possuída, está entre dois nomes. Réu é o possuidor (ele possui os bens); bens é a coisa possuída. Nunca use cujo como o pronome relativo que (ex.: "Foram vistos os rapazes cujo mataram a vítima"). Em termos mais singelos, “onde cabe ‘que’ não cabe ‘cujo’”. Outro detalhe importante a ser observado na construção de frases com o relativo cujo é o emprego das preposições (a, de, com, para, em, etc.). O cujo, como todo pronome relativo, introduz um verbo, além de retomar um nome. Se esse verbo exigir uma preposição (a, de, com, sem, em, para, contra, etc.), esta deverá, obrigatoriamente, ser colocada antes do relativo. Exemplos: Eis a garota CONTRA CUJOS pais Henrique lutou (cujo introduz o verbo lutou, que exige a preposição contra - quem luta luta contra alguém; a preposição posiciona-se antes do relativo - contra cujos); O autor DE CUJOS livros tanto se fala está no Brasil (quem fala fala de algo; de vai antes de cujos). DDDDDDDDDDDDDDDDDDD Dar à luz A forma original é DAR UM BEBÊ À LUZ ou DAR À LUZ UM BEBÊ, no sentido de dar, trazer a criança à vida, à claridade. Exemplo: A autora deu à luz em janeiro. De encontro a / ao encontro de A expressão de encontro a tem o sentido de IR CONTRA, CHOCAR-SE COM. Ao encontro de significa estar de acordo com, a favor de. Exemplos: 48 O depoimento judicial vai de encontro à versão em solo policial (choca-se); O depoimento judicial vai ao encontro da versão em solo policial (está de acordo). De o Na linguagem cotidiana, são muito comuns construções como Gosto "do" Estado de S. Paulo, que é um ótimo jornal, apesar de inadequadas. Porém, não se devem juntar preposições (de, em, a, etc.) com artigos (o, a, um, uma) que iniciem nomes de obras literárias, jornais, revistas, etc. Logo, diz-se A matéria foi publicada EM O Estado de S. Paulo, sem juntar o em com o artigo o (no). Outros exemplos: Li uma ótima notícia em O Globo (e não “no” Globo); Gostou de Os Lusíadas? (e não “dos Lusíadas"). De mais, demais A palavra demais equivale a muitíssimo, excessivamente. Reforça a ação expressa pelo verbo, atribuindo-lhe a noção de intensidade. Exemplo: Você gosta DEMAIS de maçã. Essas palavras que modificam um verbo recebem o nome de advérbio e podem indicar intensidade, tempo, dúvida, negação, afirmação e outras circunstâncias. Demais pode também ter o mesmo significado indefinido de outros: As demais pessoas saíram (As outras pessoas...). Já a expressão DE MAIS (separado) significa, geralmente, estranho. Não há nada DE MAIS (de estranho) na Câmara; Que tem DE MAIS (de estranho) a Gramática? Despercebido, desapercebido Desapercebido significa imprudente, descuidado, enquanto despercebido qualifica aquilo que não se percebeu. 49 Detrás É assim que se escreve: DETRÁS. Exemplo: Ela estava DETRÁS da mesa. Só use o “de trás” se for possível trocar essa expressão por “de cima”. Exemplo: Ela estava do lado de trás (de cima). Devido, devida A expressão devido a, equivalente a “por causa de”, serve para conectar palavras, da mesma maneira que apesar de, no tocante a, em se tratando de e outras locuções prepositivas. E, como todas as expressões desse tipo, fica invariável. Não tem feminino: Ele permaneceu em casa, devido à chuva. Só tome cuidado para não confundir a locução devido a, que serve para ligar palavras, com o particípio do verbo dever (devido, devida), caso em que haverá a concordância em gênero e número. Exemplos: A impulsividade é devida a meu forte temperamento (deve-se); Todo esse transtorno é devido ao senhor (deve-se). Nesses casos, a locução verbal é devido(a) pode ser substituída por deve-se: A impulsividade deve-se a meu forte temperamento; Todo esse transtorno deve-se ao senhor. Digladiar O verbo é DIGLADIAR (combate com espada ou corpo a corpo), e não "degladiar". Dignitário Não existe a forma "dignatário". Somente DIGNITÁRIO. 50 Discrição, descrição DISCRIÇÃO é a qualidade de discreto, recatado, sensato. Descrição é o ato de descrever algo, contar em detalhes. Do que, que Em comparações, use que ou do que, sem restrições. A população de São Paulo é maior QUE a do Paraná ou A população de São Paulo é maior DO QUE a do Paraná. EEEEEEEEEEEEEEEEEEE Eis que Evite a locução “eis que” com sentido causal, como se fosse “porque” ou “já que”. A Gramática tradicional defende apenas o uso temporal de tal expressão. Em detrimento
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