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DESAFIO PROFISSIONAL_ESTADO LAICO

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INÊS PAULA PEREIRA DA SILVA 
R.A: 5280410580 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO ESTADO LAICO 
NO BRASIL E NOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS 
 
Mogi das Cruzes - SP 
2019 
 
 
 
 
CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
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Mogi das Cruzes - SP 
2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PROCESSO HISTÓRICO DE CONSTRUÇÃO DO ESTADO LAICO 
NO BRASIL E NOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS 
 
Desafio profissional apresentado à Anhanguera como requisito 
parcial para o aproveitamento das disciplinas do Curso de 
Licenciatura em História. Tutor a Distância: Prof. Ailton 
Salgado Rosendo 
 
INÊS PAULA PEREIRA DA SILVA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
 
1. Introdução ............................................................................................................................... 3 
2. Conceito de Laicidade ............................................................................................................ 4 
3. A aliança política entre Império e Papado na Alta Idade Média ............................................ 5 
4. Observações sobre a imagem da coroação de Carlos Magno como imperador do Novo 
Império romano do Ocidente ...................................................................................................... 7 
5. As relações entre Igreja e Estado no Brasil e a construção do Estado Laico ......................... 8 
6. A influência política do catolicismo nos países latino-americanos ...................................... 10 
7. Conclusão ............................................................................................................................. 12 
8. Referências Bibliográficas .................................................................................................... 13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1) Introdução 
 
O objetivo deste desafio profissional é elucidar acerca de como se desenvolveu o 
processo histórico de construção do estado laico no Brasil e nos países latino-americanos. 
Apresenta-se o conceito e a origem da palavra laicidade e também noções de como se 
desencadearam as questões relativas à aliança política entre Império Romano no ocidente e o 
Papado na Alta Idade Média. 
Conforme proposto também pelo desafio, houve a realização de uma análise crítica 
sobre a imagem da coroação de Carlos Magno como imperador do Novo Império romano do 
Ocidente e quais foram os pontos históricos mais importantes para a história da civilização 
ocidental neste evento. 
Por fim, apresenta-se quais foram as relações históricas entre a Igreja Católica e 
Estado no Brasil, apontando os fatores que incentivaram a construção do Estado Laico, com 
uma análise do momento presente no cenário brasileiro, apontando também a influência 
política do catolicismo nos países latino-americanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2) Conceito de Laicidade 
 
A expressão deriva do termo grego laico, originada do termo laós, que significa povo 
ou gente do povo. Desta, por conseguinte, deriva a palavra laikós, que dá origem a palavra 
latina laicus, significando oposição ao religioso, àquilo que é clerical, conforme explica 
Catroga (2006). O Dicionário Houaiss define Laicidade como “a separação da instituição 
religiosa da governamental em uma sociedade”. Ranquetat Jr (2008) afirma que a laicidade 
procura extirpar a religião da vida social, sendo então um fenômeno que deriva do Estado 
com o objetivo de excluir a religião da esfera pública ou fomentar a ausência desta nas 
decisões públicas; a imparcialidade do Estado frente às religiões, tratando-as todas iguais, sem 
tomar o ponto de vista de nenhuma como norte na direção da sociedade civil. Deve ser 
entendida conforme o contexto histórico e cultural de cada nação na qual se manifesta. 
 Sua origem é diversa na história, manifestando-se junto ao fenômeno de declínio da 
religião que perde sua soberania centralizadora na sociedade moderna, neste caso nas relações 
políticas, passando a estabelecer uma ordem social baseada na razão e na ciência, não é 
legitimada por um poder religioso (Ranquetat Jr 2008). 
 São diversas as formas que a laicidade se desenrolou, observando-se peculiaridades 
em cada país, pois o fenômeno depende de um conjunto de características e circunstâncias 
sociais e culturais, de acordo com Barbier (2005). Na França, por exemplo, tal processo 
iniciou-se com a Revolução Francesa em 1789, concedendo a liberdade de consciência e de 
cultos em 1791. Em 1905, ocorre finalmente a separação total dos vínculos entre o Estado e as 
religiões (Bracho 2005). 
 O Brasil passa por um processo de laicização crescente. Não consta na redação da 
Constituição Federal de 1988 o termo “Estado Laico”, no entanto a legislação confere a 
proteção aos cultos religiosos e não tem uma crença como oficial do Estado. Infelizmente, 
observa-se no meio político a ascensão das chamadas “bancadas evangélicas”, que tentam 
legalizar ideais religiosos através do legislativo e assim impor de alguma forma sua ideologia 
particular sobre o restante da sociedade. 
 A Laicidade garante a imparcialidade do Estado frente as crenças religiosas e não 
toma nenhuma delas como oficial e parâmetro do Governo. A liberdade religiosa, todavia, 
trata-se da garantia de que cada indivíduo ponha em prática sua fé, garantido o direito de 
exercê-la e ter suas expressões e cultos protegidos. 
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3) A Aliança política entre Império e Papado na Alta Idade Média 
 
 Segundo Barros (2009) marcaram o curso da Idade Média desde os seus primórdios a 
ascensão de dois projetos universais, concorrentes e interdependentes diante de um conjunto 
de circunstâncias e necessidades políticas para a cristandade ocidental: Papado e Império. Um 
complexo jogo político, às vezes reduzido ao nível imaginário da época, feito de confrontos e 
alianças. 
A palavra império quase sempre esteve associada a um poder a ser exercido, 
particularmente de um poder sobre vários povos e territórios (...) associado a 
“expansão”, “domínio absoluto” sobre determinado conjunto de territórios, ou “um 
poder” que é reconhecido por outros poderes, daí a relação possível entre império e 
Reino (Barros, 2009). 
 A ideia de um império universal remonta ao Império Romano Ocidental, inexistente 
desde a deposição de Rômulo Augusto em 476 d.C., e à constituição do Império Carolíngio 
por Carlos Magno, que caminhava na contramão do pensamento predominante na época; se 
apresentava alicerçado na diversidade e na exploração às vezes brutal. Tal ideal movimentava 
o imaginário político dos diversos reinos do ocidente que o império romano se originou, 
aspirava estender sobre seu senhorio e seus eleitos uma proteção universal. 
 Situamos o Papado, todavia, já inserido em meio a divisões das numerosas 
instituições eclesiásticas espalhadas no ambiente cristão ocidental, que limitou suas bases 
forçadamente quanto às iniciais ambições universalistas que a motivavam a princípio. É 
marcante o momento histórico em que o Império Romano adotou o Cristianismo como 
religião oficial no governo de Constantino, reforçando o projeto político totalizador com uma 
religião que se considerava a única capaz de conduzir à salvação, fomentando as nuances da 
universalidade, no contextono qual Roma já tinha perdido a influência política para 
Constantinopla, nova capital do Império. 
 A Igreja Romana era detentora de vários territórios na parte central da Itália, mas se 
sentia ameaçada pelos povos lombardos e pelo Império Bizantino, dominador da Igreja Cristã 
Oriental. Por isso, a Igreja se sentia ameaçada, tanto territorial como doutrinalmente, e assim 
iniciou-se a aproximação com o reino franco em ascensão, para constituírem o plano de 
expansão e fortalecimento conjunto das instituições. 
 Fatos curiosos ocorreram na aliança entre o reino franco e o papado, como a Carta de 
Doação de Constantino, que segundo Barros (2009) foi um documento forjado pelo Papa 
Adriano I, supostamente uma antiga carta do Imperador doando terras da Itália Central ao 
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Papa Silvestre. Houve também a Carta de Pepino de 754, marcando a primeira aliança franca 
com a Igreja Romana, que fundamentou a assinatura de um terceiro documento estabelecendo 
a aliança de Carlos Magno com Adriano I, fomentando a expansão do Reino Franco e do 
universalismo espiritual da Igreja Romana sobre as populações cristãs do Ocidente. Concluiu-
se na coroação de Carlos Magno no ano 800, que passa a ser visto como depositário de um 
poder universal e o responsável pelo destino terreno da Igreja, expresso na capitular de Aix-la-
Chapelle, conforme Favier (2004). 
 A partir da morte de Carlos Magno, surgem outros documentos que passam a delinear 
os rumos do império, como a sucessão por um único herdeiro, o recebimento da unção 
pontifícia e o uso da Lei para demarcar os símbolos que já havia na prática com o 
consentimento dos religiosos. Em 1030, surge o Livro de cerimônias da corte imperial, dando 
forma ao imaginário imperial com ritualística baseada na pompa imperial bizantina. 
 Surgem conflitos entre o poder espiritual e temporal. A Igreja passa em 1059 por uma 
reforma determinando a instituição dos papas pelos cardeais, e tenta resolver a situação do 
Clero nos reinos, pois os reis e o imperador tentavam interferir na escolha das autoridades 
eclesiásticas inseridos nos territórios dos reinos. 
Surge a simonia, o tráfico de coisas santas, a compra de funções eclesiásticas por parte 
daqueles que controlavam a sociedade, que passaram também a comercializar cargos 
menores, a venda de sacramentos, indulgências, relíquias. O nicolaísmo também marca com o 
caso dos padres que viviam amancebados e geravam filhos e recebiam assim a possibilidade 
de requerer direitos e privilégios. 
Fliche (1964) define os confrontos da época entre papado e império como Querela das 
Investiduras, sendo solucionadas em 1122 com a Concordata de Worms, assinada por 
Henrique V e Calixto II, dando novo significado aos papéis de cada poder. Ao papa a 
investidura espiritual, simbolizada pelo anel e cruz, e ao imperador a investidura temporal, o 
báculo. 
Os mecanismos de escolha do Imperador, por fim, provinham da decisão dos príncipes 
dos vários territórios do império Teutônico, para que a escolha não tivesse interferência do 
poder religioso, ao mesmo tempo que a Igreja se empenhava numa reforma para garantir e 
conservar sua própria autonomia. 
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4) Observações sobre a imagem da Coroação de Carlos Magno como imperador do 
Novo Império Romano do Ocidente 
 
Este acontecimento histórico inserido no contexto medieval marcou a relação entre a 
Igreja Católica Romana e o Estado, representado pelo Reino Franco, que a partir desse 
momento passa a ser nomeado, no ano 800, como “Imperador dos Romanos” pelo papa Leão 
III, legitimando o domínio franco, que se estendia através de muitas campanhas militares e 
favorecia também a expansão das fronteiras da Cristandade. Passou a ser reconhecido como 
sucessor do Império Romano do Ocidente, até então extinto desde a queda do mesmo e da 
ascensão do Império Romano do Oriente (Bizantino), com sede em Constantinopla. 
Tal coroação ocorreu no dia 25 de dezembro de 800 pelas mãos do Papa Leão III, 
como podemos observar na imagem, sendo a figura que sustenta a coroa em suas mãos para 
colocá-la sob a cabeça de Carlos Magno, o homem representado de joelhos em sua frente. 
Nesta cena também se observa a presença de religiosos, como um bispo, dois cardeais e 
outros três religiosos ao fundo assistindo a cerimônia. 
Jacques Le Goff, no livro A civilização do Ocidente Medieval relata: 
"O restabelecimento do Império [o Romano] no Ocidente parece ter sido ideia do 
Pontífice [Papa Leão III] e não do carolíngio [Carlos Magno]. (...) Mas em 799 o 
Papa Leão III viu uma tripla vantagem em dar a Carlos Magno a coroa imperial. 
Preso e perseguido pelos seus inimigos de Roma, necessitava de ver a sua autonomia 
restaurada, de facto e de direito, por alguém cuja autoridade a todas se impusesse 
sem contestação: por um imperador. Chefe de um Estado temporal, o património de 
S. Pedro, queria que o reconhecimento dessa soberania temporal fosse confirmado 
por um rei superior a todos os outros - tanto no título como nos factos. Finalmente, 
tanto ele como uma parte do clero romano pensavam fazer de Carlos Magno 
imperador de todo o mundo cristão, incluindo Bizâncio, a fim de lutar contra a 
heresia iconoclasta e de estabelecer a supremacia do Pontífice romano sobre toda a 
Igreja." 
 Em dezembro de 800, Carlos Magno recebe então uma recompensa da Igreja, e através 
deste acontecimento é revestido de grande importância política com a suposta condição de 
legítimo herdeiro dos imperadores romanos. Restabelece-se o Império Romano do Ocidente, 
dando-se a dignidade imperial para o rei dos francos, unificando também o ocidente com o 
mesmo poder político e religioso papal. 
 
 
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5) As relações entre Igreja e Estado no Brasil e a construção do Estado Laico 
 
A construção da laicidade no Brasil, segundo Mainwaring (1989) foi uma das menos 
conflituosas, quando comparada à realidade de outros países. Percebe-se os primeiros esforços 
nesta empreitada a partir da Constituição Imperial de 1824, na qual se abriu espaço aos cultos 
não-católicos, especialmente protestantes, mas restritos ao ambiente doméstico. Somente com 
o início da República, quando houve a separação entre Igreja e Estado, garantiu-se a liberdade 
religiosa a todos os cultos. A promulgação republicana teve contribuição importante por parte 
dos republicanos junto aos positivistas e protestantes, além dos maçons influentes nestes 
grupos todos. Todavia não houve a retirada total de privilégios da igreja Católica, segundo 
Oro (2011). A pressão católica, por exemplo, conseguiu impedir na Assembleia Constituinte 
de 1890 a aprovação da lei da mão-morta, a qual privaria os bens materiais da Igreja. As 
instituições religiosas continuaram com seus trabalhos sendo subsidiados pelo Estado, e 
através dos religiosos ainda eram emitidos em certas partes do país documentos. Apesar da 
separação republicana “a Igreja ainda ocupava espaços consideráveis nas áreas da saúde, 
educação, lazer e cultura (Mariano 2001). 
Mais a frente, em 1930, o catolicismo dizia estar ao lado da nação, como garante 
Giumbelli (2006) e tal papel discursivo culminou na introdução do “princípio da colaboração 
recíproca” entre Estado e Religião na redação da Constituição de 1934, pressupondo-se a 
Igreja Católica. Esta espécie de reconciliação e boa relação entre Igreja e Estado se deve ao 
presidente Getúlio Vargas, ocupante do poder entre 1930 a 1945 durante o conhecido Estado 
Novo. Segundo Mariano (2001) foi em tal período histórico que a Igreja garantiu sua 
retomada como privilegiada junto ao Estado e que atingiu o status de religião “quase oficial”. 
O Estado Novo foi um período conturbado para outras religiões, como o Espiritismo e 
principalmente às religiõesafro-brasileiras, ocorrendo repressão policial e também invasões 
aos terreiros, pois afirmava-se que estes templos escondiam comunistas, dando assim 
justificativa para a invasão (Correa, 1998). 
Tal discriminação e perseguição marcou a época devido a políticas que se baseavam 
na ideologia do embranquecimento e da modernização, além também do discurso médico na 
época, fortalecido por movimentos como o sanitarismo. O Código Penal da época corroborava 
para justificar a perseguição religiosa, pois o artigo 156 previa o exercício ilegal da medicina, 
e o 157 condenava a prática do espiritismo e do charlatanismo, e por fim o 158 a prática do 
curandeirismo. Assim “intensificaram-se os processos criminais contra feiticeiros e aqueles 
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que fazem mal à saúde pública e à nacionalidade” (Maggie, 1992). 
Assim seguiu-se o curso da história do Brasil, “o Estado brasileiro continuou 
privilegiando a Igreja Católica em detrimento dos demais grupos religiosos, 
demograficamente ínfimos, formados por minorias protestantes, espíritas, indígenas e por 
praticantes dos rituais afro-brasileiros”. (Mariano e oro, 2011). Foi mais privilegiada que 
outras religiões ao receber auxílios e cooperações diversas, inclusive financeiras e de isenção 
de impostos (Oro, 2011). 
Atualmente temos um exemplo de tal favoritismo diante do acordo bilateral firmado 
entre Brasil e Vaticano em 2009, durante uma audiência na Santa Sé entre o Papa Bento XVI 
e o presidente Lula, que fora aprovado pela Câmara dos Deputados em 26 de agosto de 2009, 
e no Senado Federal em 8 de outubro de 2009. Houve diversas críticas da sociedade em geral 
acerca disso: 
... 1) seu estabelecimento viola o artigo 19 da Constituição brasileira, que veda ao 
Estado manter relações de dependência ou aliança com cultos religiosos e igrejas e 
subvencioná-los; 2) confessionaliza a disciplina de ensino religioso facultativo, 
ministrada em escolas públicas de nível fundamental, contrariando a Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação; 3) implica a concessão de subvenção estatal à Igreja 
Católica e a privilegia em detrimento das demais agremiações religiosas (Mariano e 
Oro, 2011, no prelo). 
 
O acordo católico foi estendido pela “bancada evangélica” no Congresso Nacional 
através da conhecida “Lei Geral das Religiões”, ampliando a todos os grupos religiosos, 
tornando mais evidente ainda a relação juridicamente privilegiada do catolicismo no Brasil e 
também violando o dispositivo legal que veda as relações de dependência ou aliança do 
Estado com as Igrejas (Ranquetat Junior, 2010). 
Por fim, o cenário brasileiro aponta ao longo de toda a história republicana uma visão 
suspeita e preconceituosa das religiões afro-brasileiras, que corroboraram na construção de 
representações depreciativas sobre as etnias e as culturas africanas, consideradas primitivas e 
arcaicas. Tanto intelectuais, como a Igreja e o Estado cooperaram para moldar o imaginário 
social negativo do negro e das religiões, conforme aponta Ari Pedro Oro (2011). 
 
 
 
 
 
 
 
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6) A influência política do catolicismo nos países latino-americanos 
 
Neste contexto muitos países adotaram legalmente o catolicismo como religião oficial, 
tendo como resultado a ausência ou limitação da liberdade religiosa (Oro e Ureta, 2007). 
Trata-se de uma região intensamente cristã, em que 13 dos 20 países fazem referência a Deus 
no preâmbulo de suas constituições. Percebe-se a importância da Catolicismo na maioria dos 
países, numérica, política e socialmente. A forte presença cristã explica o porquê da reduzida 
diversidade religiosa. 
Oro e Ureta (2007) apontam algumas observações após análise de dados estatísticos de 
um duplo fenômeno religioso: o declínio variável de pessoas que se declaram católicos, junto 
ao crescimento das filiações religiosas à corrente evangélica, principalmente pentecostal, 
oscilando de país para país. Tais religiosos estão bastante envolvidos na política como 
Venezuela, Brasil, Peru, Guatemala, Argentina e Chile (Cleary; Steward-Gambino, 1997). Há 
o aumento de indivíduos que se consideram sem religião, não necessariamente descrentes de 
doutrinas e princípios religiosos. 
Há três distinções observáveis nos diversos países, sendo os regimes de Igreja de 
Estado, regimes de separação Igreja-Estado com dispositivos particulares em relação à 
Igreja Católica e, por fim, regimes de separação Igreja-Estado. 
O regime de Igrejas de Estado vigora na Argentina, Bolívia e Costa Rica. Segundo 
Mallimaci (1997) o monopólio católico argentino foi criado, consolidado e desenvolvido 
desde 1930 até 1980, não sendo mais a única privilegiada na relação. O mundo católico 
prossegue como majoritário, aferindo-se muitos conflitos, cada vez mais graves, entre os 
líderes católicos e os membros do governo que caminhavam para a reformulação dos 
dispositivos constitucionais. 
Na Bolívia, é evidente a opção nacional pelo catolicismo, mas sem interferir no livre 
exercício dos outros cultos religiosos, formado por uma minoria evangélica. Na Costa Rica há 
um dispositivo constitucional que declara a vinculação do Estado com a Igreja Católica, mas 
que faculta também a possibilidade de expressões de outras religiões, frente a algumas 
condições, como a propaganda política de clérigos. 
Os regimes de separação Igreja-Estado com dispositivos particulares encontram-se na 
Guatemala, El Salvador, Panamá, República Dominicana, Peru e Paraguai. Na Guatemala as 
concessões ao clero católico derivam principalmente do apoio dado aos militares nos golpes 
de Estado (Brett, 1993, Kauffer, 1999), reconhecem a personalidade jurídica da Igreja, 
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dessemelhante a outras que precisam solicitar e obter este reconhecimento. Há doação por 
parte do Estado de títulos de propriedade, sem custo algum, dos bens imóveis da Igreja 
Católica. 
O Panamá assegura a liberdade religiosa, mas reconhece a maioria católica entre seus 
cidadãos. Na República Dominicana o catolicismo se beneficia de privilégios exclusivos 
devidos a acordos estabelecidos com o governo, como reformas de instalações para culto e a 
exoneração de total de taxas alfandegárias para a importação de bens. O Peru reconhece a 
importância da Igreja Católica em sua formação histórica, cultural e moral, e por isso colabora 
com ela. O Paraguai assegura a liberdade religiosa a todos os cultos, mas com tratamento 
especial à Igreja Católica. 
Nos países de regime de separação Igreja-Estado, formados pela maioria dos países 
latino-americanos, sustenta legalmente a separação e assegura a liberdade e igualdade de culto 
aos cidadãos, além da educação laica. México e Honduras, por exemplo, proíbem o exercício 
de cargos públicos por parte de ministros religiosos. Nicarágua e Cuba defendem inexistência 
de uma religião de Estado, assegurando a liberdade de consciência, de pensamento e de 
religião. O Uruguai se destaca como o país que passou pelo processo mais radical de 
secularização/laicização da América Latina e do mundo ocidental devido a concepção de uma 
religião civil por parte do Estado e privatização de outras manifestações religiosas, conforme 
afirma Guigou (2006). 
Por fim, assim sintetiza Oro e Ureta (2007): 
reiteramos que a maioria dos países latino-americanos tende a se apresentar 
legalmente como Estados laicos, modernos e liberais, caracterizados pela separação 
entre Igreja e Estado, este último se mantendo neutro em relação às religiões e 
aquelas não interferindo nos assuntos públicos. Segundo esse paradigma, o Estado 
atribui um mesmo status jurídico a todos os grupos religiosos, dando um tratamento 
isonômico às organizações religiosas e assegurando a liberdade religiosa aos 
cidadãos.Mariano (2006) destaca que “nas mais diferentes experiências históricas, tal 
neutralidade inexiste”, pois o Estado tende a desempenhar um tratamento discriminativo, 
positiva ou negativamente, com as religiões, ou seja, um tratamento desigual. Além do mais, 
os dispositivos jurídicos de liberdade religiosa não asseguram o fim da discriminação 
religiosa, como também não ocorre em outras formas de liberdade reservadas aos cidadãos 
(Oro e Ureta, 2007). 
 
 
 
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7) Conclusão 
 
Infere-se que há ainda um grande desafio no Brasil com relação ao estabelecimento do 
Estado Laico, principalmente no tocante ao respeito às minorias religiosas, apesar da 
Constituição Federal garantir a liberdade religiosa e de culto a todos os cidadãos. 
O Brasil, como também muitas nações latino-americanas, em meio a tais dificuldades 
devido a questões culturais de países de exploração e que sofre da carência de qualidade nas 
questões básicas, especialmente Educação, Saúde e saneamento básico, apresentam de forma 
positiva um grande esforço para garantir os direitos de todos e estabelecer a laicidade do 
Estado, nos diferentes níveis apresentados neste desafio profissional. 
O país é ainda uma democracia jovem, fruto da luta popular na garantia de direitos e 
deveres básicos. Em meio a tanta diversidade religiosa, percebe-se paulatina mudança e êxito 
no combate da violência, todavia percebe-se o quanto políticas públicas são ainda necessárias 
para que possa garantir mais efetivamente a aplicação dos princípios básicos constitucionais. 
Há também uma linha tênue entre a laicidade do Estado, expressa na ausência de 
influência direta da religião católica nas decisões públicas, e os acordos firmados pelo 
governo com o Vaticano. Há de se revisitar tais pontos, levando em consideração que a 
liberdade de culto está diretamente ligada também à liberdade individual de consciência, na 
qual pontos de vista específicos de uma crença ou ideologia não podem ser impostas ao 
restante da sociedade, independentemente desta ser ainda majoritariamente católica/cristã, 
pois o Brasil é um Estado Democrático de Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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