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Escatologia e o Apocalipse: Estudo Teológico

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STBRS-PETE “5.000 Æ 5.000” Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin 
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 1 de 58 
 
Escatologia: 
Estudo Teológico das Coisas Finais (Vida além-túmulo, Parousia, 
Ressurreição, Julgamento, Fim do Mundo e o Apocalipse) 
 
Um estudo preliminar das doutrinas centrais referentes às temáticas da escatologia e o 
Apocalipse, procurando uma aproximação maior com a base bíblica na elaboração de conceitos 
em resposta ao contexto evangélico riograndense e os tratamentos sistemáticos norteamericanos 
existentes no mercado evangélico brasileiro. Por questão da influência de interpretações 
populares do Apocalipse de João na definição de conceitos escatológicos, um breve comentário 
ao livro está incluido neste estudo. Material preparado para uso em aula de teologia sistemática 
com alunos do Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul. 
 
 
 
Apostila preparada por: 
Christopher B. Harbin 
 
 
 
Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul 
Edição impressa sem gráfica: janeiro 2006 
STBRS-PETE “5.000 Æ 5.000” Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin 
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 2 de 58 
 
 
 
©Copyright 2002 por Christopher Byron Harbin. 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta apostila pode ser reproduzida sem a autorização do autor. 
Citações breves para fins acadêmicos com referência bibliográfica são permitidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O autor pode ser contatado conforme abaixo: 
harbin@teamgaucho.org 
http://www.teamgaucho.org/harbin 
http://www.rocksbc.org 
RR1 Box 80A 
Pamplin, VA 23958 
 
Seminário Teológico Batista do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS 
55-51-3222-1254; 55-51-3222-2323 
STBRS-PETE “5.000 Æ 5.000” Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin 
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 3 de 58 
Escatologia: 
Estudo das Últimas Coisas 
“Quer concordemos que estas questões [de escatologia] são importantes, quer não, 
devemos examiná-las, pois aqueles que as discutem as consideram importantes” 1. 
Anotações Gerais: 
A escatologia compreende dois aspectos principais: a escatologia cósmica e a escatologia individual2. 
Pretende-se em primeira instância tratar algumas das questões de referência comunal e cósmica. Por 
outro lado, pretende-se dar mais ênfase aos aspectos individuais da temática. Neste estudo são os 
aspectos individuais que serão enfocados, pois são nestes elementos da temática que o indivíduo se vê 
em necessidade pessoal de estar relacionado devidamente com Deus. A escatologia reúne um 
apanhado de conceitos que sofreu muita transformação ao longo do trajeto revelacional do povo de 
Israel. As expectativas escatológicas foram em muito modificadas através do tempo, incluindo o caso 
de muitas correntes que nem mantinham conceitos propriamente escatológicos3. 
Não existe um só conceito unificado e sistemático na Bíblia referente a questões de escatologia, mas 
vários conceitos com enfoques diferenciados. Estas diferenças se devem ao caráter progressivo da 
revelação em termos da escatologia. Ao mesmo tempo, pode-se delinear que há em várias passagens 
do Antigo Testamento, da literatura judaica até o primeiro século e do Novo Testamento uma 
consciência “de que Deus agirá de forma decisiva no futuro,” fazendo surgir um contexto diferente e 
novo4. Em muitos casos essas conceitualizações são expressas em termos de uma volta a um tempo 
primordial ou ideal, como no Éden5. 
Deve-se lembrar que algumas passagens tratam assuntos tais como a ressurreição e julgamento desde 
perspectivas completamente distintas. Uma perspectiva trata o assunto de forma aorista, ou resumida 
como se tudo acontecesse num só instante—uma grande ressurreição e julgamento6. Outra 
perspectiva trata o conceito de forma a destacar a diferenciação temporal do indivíduo—ressurreição 
e julgamento para cada indivíduo no momento de sua morte física7. A diferença nessas perspectivas 
tem induzido alguns a tratarem um conceito de “estado intermediário” entre a morte e o “grande 
julgamento”. Tudo pode não passar de perspectivas diferentes de uma mesma coisa, sem qualquer 
“estado intermediário”. De qualquer forma, Paulo diz em Filipenses 1.23 que partindo desta vida ele 
está com Cristo. Mesmo que haja algum estado “intermediário”, portanto, tal não vem a ser 
diferente do que o estado “final”. 
No estudo da escatologia, muito tem-se dito e publicado sobre o livro de Apocalipse. Grande parte 
dos posicionamentos referidos são simplesmente feitas em ignorância. Pode ser um tanto mais difícil 
determinar com precisão o que se pode dizer com certeza, mas deve ser um alerta para todo 
 
1 ERICKSON, OCnE, 10. 
2 D. E. Aune em FREEDMAN, “Eschatology: Early Christian Eschatology”. 
3 David L. Petersen em FREEDMAN, “Eschatology: Old Testament”. 
4 George W. E. Nickelsburg em FREEDMAN, “Eschatology: Early Jewish Literature”. 
5 D. E. Aune em FREEDMAN, “Eschatology: Early Christian Eschatology”. Veja Isaías 11.6 como exemplo desta forma de expressão. 
6 Uma grande ressurreição e um grande julgamento se vê retratado em passagens como Apocalipse 20.5-13. 
7 Como se vê na parábola de Lázaro e o homem rico em Lucas 16. Os irmãos do rico estão vivos ainda na terra, enquanto Lázaro e o rico já 
receberam “juízo e sentença”. 
STBRS-PETE “5.000 Æ 5.000” Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin 
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 4 de 58 
intérprete a vasta literatura que tem sido escrita e descartada, especialmente entre aqueles que querem 
definir com base nesta carta a predição da época e as condições do fim do mundo. Vários 
“intérpretes” já pronunciaram erroneamente a data certa do fim do mundo. As palavras de Jesus 
deveriam ser o suficiente para o cristão: “Vigiai, pois ninguém sabe quando será aquele dia, a não 
ser o Pai”. Certos assuntos não cabem ao ser humano definir. Afinal, foi para um relacionamente 
de fé que fomos convocados. Fé em Deus, não nas minhas definições e ilusões dogmáticas. 
Problemas em tratar Escatologia: 
Distância Pessoal: Um dos primeiros problemas a serem evitados no estudo de Escatologia, é de 
manter o assunto muito distante do indivíduo. Pode-se muito facilmente falar da segunda vinda de 
Cristo usando expressões no sentido de que Jesus pode voltar amanhã, porém não se ouve a 
necessidade de estar preparado. Em geral pensa-se: “Pode ser que Jesus venha amanhã, mas não é 
muito provável. Não é preciso dar muita importância ao assunto.” Neste contexto, o estudo da 
escatologia vem a ser um estudo bem confortável, pois trata-se de algo polêmico, intrigante, ambíguo 
e muito distante. Por outro lado, a Bíblia parece sempre abrir o assunto assinalando a necessidade de 
cada um estar preparado. É necessário lembrar que estas “últimas coisas” incluem aspectos que são 
refletidos no cotidiano. 
Princípios de Interpretação: Outro problema a ser considerado ao estudar assuntos de escatologia 
(como também qualquer outro tema bíblico) concerne à necessidade de respeitar os princípios de 
interpretação bíblica. Além de sempre ler os versículos e as passagens dentro de seus respectivos 
contextos, é necessáriolembrar que as passagens de ensino claro sempre tomam precedência no 
tratamento de um tema. Por exemplo, 1ª João é muito mais claro ao tratar do anticristo do que o 
livro de Apocalipse. Outro ponto a observar é o tipo de literatura que se está estudando ao tratar um 
texto. O estilo literário do Apocalipse não é igual a 1ª João e o tratamento dos livros deve respeitar 
essa diferença. 
Leitura Contextual: Mais um problema a negociar é a necessidade de ler as passagens bíblicas em 
relação aos seus propósitos, não em sentido de responder curiosidades pessoais. A Bíblia foi escrita 
para tratar da necessidade do homem perante Deus, não para ensinar ciência, história, nem 
futurismo. No final de um estudo, nem todas as perguntas, dúvidas e questionamentos serão 
respondidos, pois a Bíblia não segue o propósito de responder às curiosidades humanas. Jesus 
mesmo disse, “Não vos compete saber os sinais e os tempos” (Atos 1.7). Deus exige do homem uma 
dependência e confiança sem se propor necessariamente a aplacar todas as dúvidas e preocupações 
humanas. 
História: Outro problema a ser evitado está relacionado à história. Berstén e outros fazem distinção 
entre profecias que se cumpriram e outras que ainda não se cumpriram. O problema que deve ser 
tratado nesse contexto é o de compreender o que já sucedeu na história para então poder fazer uma 
melhor declaração entre aquilo que tem e não tem acontecido. Salienta-se aqui a passagem de Mateus 
24.1-28 e o contexto da destruição de Jerusalém no ano 70 depois de Cristo8. 
Cosmologia: É necessário compreender como o povo, especialmente os autores bíblicos entendiam o 
mundo em que viviam. Sua cosmologia implicava na sua terminologia aplicada a conceitos espaciais 
e geográficos, como também a certas referências escatológicas. Não é lícito forçar o texto bíblico a 
 
8 LOWRY, 35, Jerusalém foi incendiado na manhã de 26 de setembro de 70. 
STBRS-PETE “5.000 Æ 5.000” Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin 
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 5 de 58 
refletir um conceito cosmológico do século vinte, quando os autores não compartilhavam esse 
conceito. 
Vocabulário Especializado: Por outro lado, é indispensável que se trate o vocabulário bíblico 
conforme o uso dos próprios autores. Certas palavras ou frases eram usadas diferenciadamente da 
forma atual. O judeu dividia o tempo em duas partes: antes do Messías e depois do Messías. Por 
“últimos tempos” ou “tempos postreros”, a Bíblia designa a segunda etapa do tempo. Os últimos 
tempos, então, começaram com Jesus e referenciam o tempo desde aquela época até o final do tempo. 
Supremacia Bíblica: É sumamente necessário que respeitemos que a palavra final referente a 
qualquer assunto teológico é a palavra bíblica. Não é lícito dar mais confiança a sonhos, palavras de 
profecia e visões do que ao próprio texto bíblico. Toda outra fonte deve ser submetida às indicações 
e às limitações apresentados no tratamento bíblico dos assuntos correspondentes. A Bíblia é a 
Palavra de Deus e Deus não se contradiz, ainda que a Bíblia exibe um desenvolvimento teológico no 
processo revelacional. Quando houver conflito entre a mensagem bíblica e a palavra ou evento 
profético, a dúvida recairá sobre a fonte extra-bíblica. 
Respeitar Limitações: Também é necessário lembrar que existem limitações ao que pode ser 
conhecido em certas áreas. Atos 1.7 indica que não compete ao ser humano saber e entender a 
maioria das questões referentes a eventos futuros. Precisa-se aceitar que Deus simplesmente não 
revela detalhes a respeito de toda curiosidade humana. É necessário ler o texto bíblico reconhecendo 
o propósito do proprio texto, não jogando por cima do texto um propósito pessoal especulativo sobre 
o fim do mundo. O que realmente importa saber está exposto de forma clara: “Vigiai, pois não 
sabeis em que dia vem o vosso Senhor!”9. 
Em consideração às limitações do intérprete bíblico referente a formas divergentes de compreender o 
mundo (ou seja, divergências entre as formas da antigüidade e as atuais), apresenta-se certas 
reflexões sobre a forma na qual os autores bíblicos refletiram sobre o mundo. Os textos bíblicos 
apresentam muito ensino com o uso de expressões que referenciam ou retratam os conceitos 
cosmológicos do povo e de seus vizinhos. Espera-se que este tratamento possa ajudar a compreender 
melhor as implicações dos termos usados na Bíblia. 
Cosmologias Antigas10: 
Em vários casos, será de ajuda na compreensão de um texto saber algo sobre o conceito cosmológico 
do povo hebreu na época bíblica. Este conceito, embora diferenciado, está relacionado aos conceitos 
cosmológicos dos povos ao seu redor. É importante conhecê-los especialmente ao lidar com 
narrativas concernentes à criação, ao dilúvio e tópicos escatológicos que retratam realidades celestias 
em terminologias da realidade física conhecida. Evidências deste conceito cosmológico serão 
encontradas em outras narrativas e textos ao descrever algo do mundo além-túmulo ou aspectos do 
universo criado por Deus. 
O conceito hebraico do formato do universo deve ser considerado ao tratar de assuntos tais como a 
criação. Os hebreus tinham a mesma percepção “científica” do mundo dos outros povos de sua 
época, porém faziam suas distinções. Em matéria do formato físico-estrutural do universo, tinham 
 
9 Mateus 24.42. 
10 Observação: Esta seguinte porção do texto sobre as cosmologias antigas procede da apostila, Homilética da Teologia das Narrativas, na versão 
de julho de 2002. 
STBRS-PETE “5.000 Æ 5.000” Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin 
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 6 de 58 
muito em comum com os outros povos. O texto bíblico usa termos como “abismo”11, “expansão” 
(em algumas traduções “firmamento”)12, “janelas dos céus”13 e outros termos que de certo soam um 
tanto estranhos no século presente. Estes termos demonstram a forma antiga de se refletir sobre o 
mundoa sua perspectiva do universo criado por Deus. Pode-se ver que certos assuntos atuais, 
como a preocupação de encontrar vida em outros planetas, não tem cabimento no texto bíblico pelo 
simples fato de que estas perguntas baseiam-se em outra cosmologia, muito distinta daquela dos 
hebreus14. 
O gráfico apresentado a seguir ajuda na compreensão da perspectiva “científica” dos hebreus 
referente ao formato do universo, refletido especialmente em passagens como Gênesis 1-11 e de Jó 
38-41, na qual Deus faz perguntas a respeito da criação do universo que Jó não consegue responder. 
Os elementos comuns entre os hebreus e os outros povos são diferenciados em seus termos 
representativos e especialmente na sua explicação religiosa. É importante lembrar que mesmo 
quando o conceito hebraico reflete certas noções tidas em comum com os outros povos, a ênfase das 
narrativas hebraicas é a de oferecer uma crítica nos pontos em que divergem deles pela revelação de 
Deus. 
Este gráfico do conceito 
hebraico da estrutura do 
universo limita-se a uma 
fração mínima da cosmologia 
científica atual. Pode-se ver 
como a Bíblia utiliza certa 
terminologia que se refere ao 
conceito cosmológico de 
seus autores15. Pode-se ver 
no gráfico o título de 
“firmamento” (ou 
“expansão”) para o círculo 
dos céus que separa as águas 
acima do firmamento da 
zona que se denomina hoje 
por atmosfera. Estes termos 
ajudavam o povo a falar do 
mundo ao seu redor, mesmo 
que o seu conceito específico 
tenha sérios problemas em 
faceda ciência atual. 
Entender a cosmologia 
hebraica é de ajuda para compreender as implicações das narrativas que utilizam a terminologia do 
mesmo conceito. Quando o autor bíblico refere-se às janelas do céu, é bom saber que faz referência 
ao seu conceito de como a água acima do firmamento chega até a terra em forma de chuva. 
 
11 Refletido em passagens como Gênesis 1.2; 7.11; 8.2; 49.25; Deut. 33.13; Jó 28.14; 38.16; 38.30; 41.31-32; Salmo 36.6; 42.7. 
12 Refletido em passagens como Gênesis 1.6-8, 14-15, 17, 20; Salmo 19.1; 150.1; Ezequiel 1.22-26; 10.1; Daniel 12.3. 
13 Refletido em passagens como Gênesis 7.11; 8.2; 2a Reis 7.2, 19; Malaquias 3.10. 
14 Segue-se o quadro: “Cosmologia Hebraica”, conforme BANDSTRA, 56, KASCHEL, 159 e WEST, 81. 
15 Gênesis 1.2,6-8,16-17, 7.11; Êxodo 20.4. 
STBRS-PETE “5.000 Æ 5.000” Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin 
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 7 de 58 
 
A cosmologia é uma área da 
ciência que influi muito em vários 
aspectos da comunicação humana, 
pois muitos dos seus conceitos 
alteram a forma de conceber o que 
acontece em volta do indivíduo e a 
sua sociedade. A cosmologia 
hebraica aparece até no livro de 
Apocalipse, onde o “‘abismo sem 
fundo’ está vinculado a idéias 
concernentes à forma do mundo. 
A terra era concebida como um 
disco plano que flutuava em cima 
da água. O abismo refere-se às 
profundezas imensuráveis debaixo 
da terra, para os quais pensava-se existir uma fenda capaz de ser selada”16. Até o Novo Testamento, 
portanto, sente a influência desta cosmologia. 
O conceito egípcio era estruturalmente bem parecido com o hebreu, mas representado nas pessoas de 
seus deuses17. Estes representavam para os egípcios as várias partes do cosmos. Enquanto trata-se 
na atualidade do mundo fenomenológico como objeto impessoal, “os antigos reagiam a ele como a 
uma ‘pessoa’”18. Assim, entre os egípcios, a mitologia e apresentação cosmológica defendiam que o 
panteão de deuses era parte do cosmos em termos físicos e representativos. Assim, o universo é 
tanto criação de seus deuses, como também os seus deuses compõem as partes do universo. 
Não parece que houve muita diferenciação entre a obra resultante e o originador da mesma. No 
antigo conceito cosmológico egípcio, o deus-céu é o céu, o deus-terra é a terra, o deus-Nilo é o Nilo 
e o deus-ar é o ar. (Portanto, no relato das pragas do Egito19, Deus se revela como maior que os 
deuses do Egito, não apenas por dominar suas esferas de influência, mas, segundo a forma egípcia de 
ver as coisas, por dominar os seus próprios deuses!) Essa forma segue alguns aspectos da mitologia 
babilônica retratadas no seu épico, Enuma Elish20, porém é diferenciada em suas próprias expressões. 
Os relatos mitológicos dos egípcios referentes a este conceito cosmológico divergiam em muito das 
narrativas que se encontram no livro de Gênesis. Os primeiros relatam lutas e intrigas entre deuses 
que atuam tais como ou até piores do que os seres humanos. Esses deuses têm muito em comum 
com os deuses dos gregos, romanos, e babilônicos, porém pouco ou nada com YHWH (hwhy), Senhor 
de Israel. 
O conceito babilônico (ou seja, mesopotâmico) do universo é parecido com os conceitos hebraico e 
egípcio em seus termos estruturais, mesmo que apresentando outro formato que centraliza a 
montanha da terra. Esta montanha era muito importante para os babilônicos, refletindo a idéia de 
que no seu ápice era a morada de seus deuses. O épico Enuma Elish21 amplia a perspectiva narrativa 
e histórica do conceito babilônico em termos de como o mundo chegou a ser formado. Este épico 
enfatiza mais o relacionamento com a perspectiva do panteão de deuses egípcios, pois ele relata o 
 
16 ROBBINS, 221-222. 
17 Aqui a deusa é retratada como suspensa pelo deus do ar, firmado no deus da terra. Veja WEST, 82. 
18 LASOR, 24 e 32. 
19 Êxodo 7-12, incluindo a morte do herdeiro de Faraó, que também se considerava um deus ou representante divino. 
20 Enuma Elish é um poema babilônico, retratando a criação do mundo a partir da perspectiva babilônica de um panteão (veja HEIDEL, 1-60). 
21 HEIDEL, 78-79. 
STBRS-PETE “5.000 Æ 5.000” Escatologia e o Apocalipse Pr. Chrístopher B. Harbin 
Edição: 12-09-2002 ©Copyright 2002 por Chrístopher Byron Harbin Todos os direitos reservados. Página 8 de 58 
assassinato de alguns deuses e a construção das 
partes do cosmo com a utilização de seus 
corpos. O mesmo relato diverge do egípcio em 
que os deuses usados para essa “construção” já 
não existem, pois usou-se seus cadáveres na 
estrutura física do mundo. 
A estrutura física resultante desta cosmologia, 
porém, apresenta-se bem semelhantemente à 
hebraica. Tem-se também uma reflexão da 
perspectiva cosmológica do Apóstolo Paulo, ao 
mencionar um homem que foi levado até “o 
terceiro céu”22. Esta citação reflete sua visão 
estrutural do universo. O quadro acima ilustra 
a cosmologia babilônica23. Nota-se que a 
perspectiva é a da terra ser uma espécie de ilha, 
com água na volta por todos os lados. Tal era 
o conceito geral dos hebreus e seus povos 
vizinhos24. Um detalhe faltando no quadro é o 
túnel por debaixo da superfície da terra pelo qual o sol passava cada noite para chegar de novo a seu 
lugar de nascer25. 
Nota-se nos relatos babilônicos uma série de conflitos, lutas e intrigas. Estas sucedem tanto entre os 
seus próprios deuses, como também entre os deuses e o caos do universo quando da criação do 
mundo habitado pelos homens. Desde a perspectiva babilônica, “a criação é realmente nada mais 
que a vitória sobre os poderes caóticos que ameaçam a vida dos deuses e das pessoas”26. Os deuses 
até conseguem vitória sobre o caos do universo, mas não há uma certeza de vitória entre si, já que 
existe entre eles uma disposição a intrigas. Também as suas narrativas referentes ao dilúvio revelam 
este mesmo caráter de incerteza, desconfiança, capricho e intriga. 
Na cosmologia babilônica pensava-se que a criação do mundo era o resultado da junção dos oceanos 
de água salgada e de água fresca na pessoa dos deuses, Tiamat e Apsu. Estes nomes servem de igual 
modo para designar os oceanos referentes27. Foi na junção ou união destes deuses que a terra seca se 
formou28. O formato do mundo, portanto, era concebido de modo essencialmente igual, trocando o 
estilo e especificidade da atuação e identificação dos personagens divinos associados à criação. 
Assim, as mitologias narradas por estes outros povos divergem muito das narrativas hebraicas do 
Gênesis. No texto bíblico encontra-se conflito, mas este conflito é procedente do homem, não dos 
céus entre um panteão de deuses. Em Gênesis, Deus cria a partir de uma decisão de sua livre e 
soberana vontade e até domina o “caos” ao começar sua obra criativa. A descrição do restante deste 
primeiro relato da criação mostra como Deus operou para impor ordem ao caos que já lhe obedecia e 
lhe serviu de base para o restante de sua criação. O narrador continua mostrando ainda a soberania 
divina sobre o caos na descrição do dilúvio, apresentando o conceito de YHWH ser muito acima do 
conceito dos outros povos referente a seus deuses. 
 
22 2ª Coríntios 12.2. 
23 Segue-se o quadro: “Conceito Babilônico do Universo” – WEST, 83. 
24 BANDSTRA, 55. 
25 SASSON, 40-41. 
26 BRONGERS em WOUDE, 116. 
27 BANDSTRA, 51. 
28 COOGAN, 9. 
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O conceito estrutural da forma do universo, então, era mantido basicamente em comum com os 
outros povos ao seu redor, porém as considerações teológicas que os hebreus mantiveram referente a 
essas estruturas físicas é algo completamente diferente. Como participavam dos conceitos 
cosmológicos dos seus vizinhos, a sua ciência geofísica e geográfica era muito diferente daquela 
aceita no século vinte. Estas diferenças devem ser levadas em consideração para uma melhor 
compreensão de textos tão antigos. 
Mesmo com as diferenças enormes entre conceitos da estrutura do universo de hoje e dos povos do 
mundo antigo, as considerações teológicas destes que apresentam conceitos divergentes são aplicáveis 
aos dias de hoje, sem qualquer necessidade de alteração. O texto bem pode falar com um linguajar 
geográfico ao considerar a vida além do túmulo, sem alterar o significado do ensino teológico da 
expressão. 
Hoje ainda se fala com o mesmo tipo de linguagem sobre o viver com Deus “nos céus”, mesmo que 
se saiba que Deus não mora num lugar fixo acima das núvens. Ainda se faz referência a um inferno 
que se localizaria abaixo da crosta da terra, mesmo que não mais se pense no inferno como uma 
habitação debaixo da superfície da terra. Estas formas de expressão remontam a cosmologias bem 
diferentes da atual. O problema maior para o intérprete é descobrir a intenção teológica do texto, 
não considerar a validade científica do pensamento do povo e do autor. 
Não se deve cometer o mesmo tipo de erro que a igreja enfrentou na época de Galileu Galilei, 
opondo-se a novos posicionamentos científicos para “proteger” os vínculos que se haviam construído 
entre questões de fé e conceitos científicos. Aceitando o propósito bíblico básico como sendo 
teológico, recorre-se à Bíblia para embasamento de questões de fé e prática, não de conceituações 
intelectuais referentes ao mundo criado por Deus. A Bíblia interessa-se mesmo em explicar “Quem” 
criou, não o método, nem o formato da criação. 
As narrativas bíblicas pretendem demonstrar a identidade de YHWH em relação e contraste com o 
homem, não pretendem ensinar ciência. O importante das narrativas, então, não é uma veracidade 
detalhada de suas considerações científicas e descritivas do universo, mas o seu ensino referente a 
YHWH e Seus desígnios para a humanidade. É interessante lembrar que as narrativas não contam 
toda a história da interação de YHWH com o Seu povo. Como o autor do Evangelho de João coloca, 
há muitas coisas que poderiam ter sido escritas referente aos acontecimentos históricos entre Deus e o 
seu povo, mas estas foram escritas com propósito específico. Assim como o Evangelho de João foi 
escrito para suscitar a fé real, também é este o propósito das narrativas bíblicas em geral—“para que, 
crendo, tenhais vida em seu nome”29. 
Bultmann, estudioso do Novo Testamento, referiu-se à cosmovisão expressa no Novo Testamento em 
termos parecidos com a descrição anterior. 
Examinando a cosmovisão do NT, [Bultmann] achou que boa parte dela era mítica em sua natureza. Por mito quis 
dizer a descrição de realidades do outro mundo em linguagem figurada tirada deste mundo. Os escritores do 
Novo Testamento concebiam da totalidade da realidade como sendo um universo em três andares. O andar 
superior é o céu, habitado por Deus e os anjos; o do meio é a terra, habitado por seres humanos; e o inferior é 
o inferno, a base de operações do diabo e dos seus assistentes demoníacos. Mesmo na terra nem tudo é o 
resultado de forças puramente naturais. Poderes sobrenaturais intervêm no fluxo “natural” dos eventos. Os 
milagres ocorrem com considerável freqüência. Os maus espíritos podem tomar posse do homem, causando 
 
29 João 20.30-31. 
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doenças. Deus ou Satanás podem inspirar os pensamentos do homem e guiar suas ações, eles podem receber 
visões de origem divina30. 
A forma estrutural do universo, então, é mantida basicamente em comum com os outros povos ao 
redor dos hebreus, porém as considerações teológicas que os hebreus mantiveram referente a tais 
estruturas físicas é algo completamente diferente. A interpretação da estrutura e suas implicações 
divergem em muito, porém a armação física é compreendida de forma quase idêntica. 
Geografia/Mundo Físico: 
Mapa de Hecataeus, c. 520 a.C. 
Não se dispõe hoje de mapas do mundo provindo do povo 
hebreu, porém existem alguns provenientes de outros povos 
ao seu redor. Em tese, estes refletem algo da perspectiva dos 
povos mediterrâneos, incluíndo os hebreus, referente à 
organização e ao tamanho da superfície da terra. Sua 
perspectiva cosmológica era diferente da atual, como também 
era diferente a sua perspectiva cartográfica. Distâncias e 
medidas na Bíblia não refletem as precisões da pesquisa 
científica atual. 
O Pentateuco teria chegado à sua forma atual na época do 
exílio do povo hebreu, entre os séculos sexto e quarto a.C.31. 
O mapa de Hecataeus, grego que viveu por volta de 520 
a.C.32, ajuda a posicionar uma referência mundial relativamente parecida com a que o povo hebreu 
poderia ter conhecido por volta desta época. Esta perspectiva é provavelmente mais desenvolvida do 
que aquela que os hebreus teriam ao seu dispor. Os hebreus dificilmente teriam conhecimento de um 
mundo maior do que o aqui representado. Como o povo hebreu não era um povo marítimo, é bem 
provável que sua perspectiva do tamanho do mundo fosse razoavelmente menor do que a perspectiva 
refletida por Hecataeus. 
Mapa de Strabo, c. 18 d.C. 
Estudando o mapa de 
Hecataeus, é necessário 
lembrar que o centro do 
mundo para os hebreus 
seria o crescente fértil e 
mais precisamente a 
Palestina, não as 
montanhas do norte da 
Grécia (o Monte Olympo 
sendo central nas 
mitologias gregas e 
 
30 ERICKSON, OCnE, 30. 
31 BARR, James em MAYS, 68. 
32 BAIN. 
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também neste mapa). Assim, poderia-se tomar uma perspectiva de tamanho deste mapa e vinculá-lo 
com o mundo conhecido por Strabo, grego do primeiro século depois de Cristo. Strabo reflete 
descobertas das conquistas de Alexandre após a época de Hecataeus. 
O povo hebreu na época do Antigo Testamento provavelmente conhecia algo da metade a dois terços 
do mundo representado por Strabo. Provavelmente desconhecia a maior parte da Europa e a parte da 
África denominada como Líbia ao oeste do Egito, também como o extremo leste do mapa que 
representa a Índia. Sabia-se a respeito da Índia, porém é provável que o conhecimento fosse pouco. 
Já no Novo Testamento, o conhecimento do mundo refletido por Strabo estaria acessível para os mais 
estudados, como Paulo e Lucas. 
Estes dois mapas em conjunto mostram um grande aumento no conhecimento grego do mundo como 
resultado das conquistas de Alexandre. Com o crescimento do conhecimento grego, viria também 
um crescimento entre os judeus, especialmente com o evento da Diáspora, no qual os judeus 
entraram em contato com os ensinos gregos de uma forma muito mais abrangente. O povo hebreu 
provavelmente não teve muito contato com as terras ao oeste da Palestina até esse período após o 
exílio babilônico e o Antigo Testamento chegarà sua forma atual. 
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Escatologia, Conceitos Essenciais: 
“Reinar de Deus”: 
No estudo da eclesiologia foi revisto algo da importância do conceito do Reino de Deus. Como o 
conceito é também de muita importância na escatologia, será tratado aqui de forma mais dirigida às 
temáticas escatológicas. 
Para a escatolgia, a categoria principal na Bíblia é o Reino de Deus, seu “governo em ação”33. Em 
razão disto, usaremos a frase o “reinar de Deus”34 em lugar do costumeiro “Reino de Deus”. Jesus 
declarou que esse reinar já se fazia real dentro dos parâmetros da historia35, mesmo que muitos 
tratem do reinar de Deus em sentido futuro. O Reinar “não é somente algo que se acerca no 
ministério de Jesus, mas que realmente chega numa data futura”36. Esta data pode ser entendida 
como o evento de pentecostes, entre outras opções. Nos evangelhos sinópticos, Jesus é apresentado 
anunciando não somente a iminência, mas a própria chegada do reinar de Deus37. Logo, não deve 
ser concebido apenas em termos da vida após a morte, pois reflete o reinar de Deus na vida do 
cristão no “aqui e agora”. 
O Reinar de Deus é uma temática especial dos evangelhos sinópticos, porém, principalmente do livro 
de Mateus, onde se encontra a terceira parte das referências neotestamentárias ao Reinar de Deus/dos 
céus38. “Havia urgência, porque o reino estava vindo, e o único aspecto especialmente ressaltado foi 
o arrependimento”39. Muitas vezes a palavra de Jesus refere-se à crise centralizada no ingresso ao 
reinar de Deus40, como nos capítulos 13 a 16 de Lucas. No ensino de Jesus, nada tem valor ao ser 
comparado com o reinar de Deus41. Jesus convocava à renúncia de todo laço que impediria o 
indivíduo de seguir o seu exemplo de submissão total a Deus, o que o levou à cruz42. 
É comum certa confusão referente ao Reinar de Deus, especialmente em termos de seu tempo. 
Como já tem sido visto, Jesus trata o reinar de Deus em tempo presente. Simultaneamente, Jesus 
trata o reinar em tempo futuro. A ênfase é na realidade presente, mesmo que seja mais comum tratar 
a temática em expectativa futura: 
[Mateus 12.28 e Lucas 11.20] aparentemente indicam que o reino não apenas está perto, mas que realmente já 
chegou. Não há contradição, no entanto. Ambas as coisas são verdade. O reino está perto no sentido de que 
não está consumado; está presente no sentido de que o poder de Deus que o caracteriza começou a manifestar-se 
nas palavras e ações de Jesus e continua a fazer o mesmo na igreja43. 
O tratamento bíblico do reinar de Deus da perspectiva após o ministério de Jesus visa menos 
futuricidade do que recebe durante o seu ministério sobre a terra. Ao mesmo tempo, permanece a 
 
33 MILNE, 259. 
34 D. E. Aune em FREEDMAN, “Eschatology: Early Christian Eschatology” e MOODY, 516. 
35 MILNE, 260. 
36 Brooks em HEMPHILL, 26. 
37 D. E. Aune em FREEDMAN, “Eschatology: Early Christian Eschatology”. 
38 Brooks em HEMPHILL, 23. 
39 ERICKSON, OCnE, 22. 
40 D. E. Aune em FREEDMAN, “Eschatology: Early Christian Eschatology”. 
41 ERICKSON, OCnE, 22. 
42 NOLLAND, 762. 
43 Brooks em HEMPHILL, 28-29 
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expectativa de um complemento à realidade do reino já inaugurada nas vidas dos crentes. Tal 
expectativa, porém, encontra a sua expressão na base do que Jesus já tem realizado. 
“A confissão cristã não é apenas de que Cristo virá ao final da história, mas que Cristo já veio; não apenas que 
a salvação espera o crente no futuro escatológico, mas que a salvação já é experimentada, numa forma 
antecipatória, porém real, no aqui e no presente, no meio de problemas e não apenas ao seu fim…. O presente é 
moldado não apenas pelo passado, mas também pelo futuro de Deus”44. 
“No Novo Testamento, o reino de Deus é principalmente o seu reinar nas vidas daqueles que se 
submetem à sua autoridade”45. O ingresso ao reino é agora, não no porvir. No momento em que se 
abre a vida para depender de Deus completamente, há ingresso no seu reinar. Em termos políticos, 
esse reinar “não é deste mundo”46, porém não há necessidade de pensar que seja apenas um conceito 
futurístico. 
Ao tratarmos a questão do reinar de Deus, deve-se salientar alguns aspectos da temática do céu, por 
questão de ser complemento do ensino referente ao reinar de Deus—o reinar de Deus após a morte 
física. 
Os termos bíblicos para céu, “mymc e ouranovs são usados basicamente de três maneiras na Bíblia”: 
referindo-se à estrutura do universo, como sinônimo de Deus e como o local da morada de Deus47. 
Olhando para Lucas 15.18, pode-se ver claramente que esta referência é feira especificamente a 
Deus48, não àquela espansão estrutural acima das núvens, pois o filho havia pecado contra Deus, não 
contra uma localidade. Pode-se ver que o reino do qual Jesus ensina em Mateus 5.3 e em Lucas 6.20 
é o mesmo. Logo, o chamado “reino de Deus” e o “reino dos céus”, são expressamente a mesma 
coisa. 
Entre o uso do termo como morada de Deus e sinônimo de Deus, existe um relacionamento que nos 
interessa em referência à temática do reinar de Deus. Há um vínculo entre o estar sob o reinar de 
Deus e o estar presente com Deus. Essa presença com Deus é elemento essencial da temática de 
“céu”, como também do reinar de Deus. 
Usa-se também o termo descanso para tratar considerações referentes à vida no céu, mesmo que 
tenha conotações presentes49. “Descanso, como o termo é usado em Hebreus, não é apenas uma 
cessação de atividade, mas a experiência de alcançar um alvo de importância crucial”50. Quando 
falamos em descanso em termos celestiais é necessário lembrar deste aspecto da utilização do termo. 
“Schweitzer não gostava [das referências ‘segunda vinda de Jesus’ e sua ‘volta’],… [pois] não era 
termo de Jesus… Schweitzer considerava que Jesus colocava sua morte numa conexão temporal-
causal com a vinda escatológica do reino”51. O termo bíblico para a chamada segunda vinda é 
“parousia”—aparecimento. É designação de Jesus ser revelado em glória52. 
 
44 BORING, 33. 
45 Brooks em HEMPHILL, 21. 
46 João 18.36. 
47 ERICKSON, CT, 1226. 
48 NOLLAND, 784 trata este uso do termos especificamente na categoria de perífrase. 
49 HAGNER, NIBCH, 69-73. 
50 ERICKSON, CT, 1229. 
51 ERICKSON, OCnE, 21. 
52 Veja comentários sobre a1a e 2a Tessalonicenses na página 24. 
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Fim do Mundo/Últimos Dias: 
É valioso lembrar que o uso de frases como “o fim do mundo” e “os últimos dias” nem sempre 
referem-se à destruição do mundo físico. Os judeus dividiam o tempo em duas partes—antes e depois 
do messías53. Logo, com o dia de Pentecostes em Atos 2, já se pode falar destes últimos tempos, 
conforme Paulo, em 1a Coríntios 10.11. Em conjunto com estas frases, encontra-se em certas 
passagens a frase “última hora”. Esta refere-se de forma parecida, se não igual, ao conceito últimos 
dias. Pode ao mesmo tempo espelhar uma compreensão de ser um tempo imediatamente antes da 
vinda de Jesus em glória, porém tal compreensão deve ser vista no contexto dos quase dois milanos 
após estes textos terem sido escritos, sem que Jesus tenha vindo em sua glória. Autores bíblicos de 
textos como Apocalipse e 1a João esperavam que Jesus voltasse a qualquer minuto, porém estavam 
errados nos seus cálculos. Tal fato deve servir de alerta àquele que busca definir o quando da 
parousia54 e o fim do mundo—ninguém sabe. 
Ressurreição e Juizo: 
Os conceitos de ressurreição e juizo estão ligados de pelo menos duas formas: a ligação de seqüência 
temporal dos conceitos e o seu tratamento bíblico por via de duas perspectivas distintas. A ligação 
temporal é produto de uma das perspectivas que trata a ressurreição como o evento que introduz o 
julgamento. As duas perspectivas bíblicas divergentes sobre os conceitos visam a duas ênfases 
primárias das temáticas, o individual e o universal. 
Na perspectiva individual, os autores bíblicos tratam de enfatizar que cada indivíduo passa pela 
ressurreição e o julgamento na hora de sua morte. Essa perspectiva realça tanto a experiência 
individual como a instantaneidade da experiência. A perspectiva universal normalmente trata o 
evento de ressurreição ou julgamento como um evento compartilhado de forma simultânea entre 
todos da raça humana de todos os tempos. Poderia-se designar as perspectivas como pontilhar 
seqüêncial (olhando a história como uma série de pontos individuais) e aorista sumária (olhando 
desde o futuro para trás sem diferenciar questões temporais), descrevendo os mesmos acontecimentos 
de perspectivas diferentes. Por outro lado, pode-se interpretar o aspecto pontilhar seqüêncial como 
sendo a experiência normativa, passando para o aorista sumário num final cósmico cataclismático. 
Assim, Hebreus 9.27 trata da perspectiva pontilhar seqüêncial: cada um morre e segue para o seu 
julgamento. Mateus 25 trata de forma aorista sumária: virá o dia de prestar contas, e todos os servos 
aparecerão perante o Senhor para serem julgados. Paulo parece vincular as duas perspectivas em 
Tessalonicenses: não chegaremos antes dos que dormiram primeiro, mas os encontraremos na região 
celestial. Não há necessidade de cogitar um estado intermediário como alguns têm feito. Lucas 16 
parece ensinar que o juizo é imediato na hora da morte, enquanto João 5 denota o juizo como tendo 
ocorrido mesmo antes da morte do indivíduo. 
 
53 ROBBINS, 222. 
54 Vinda ou chegada em glória do Messías, já que os termos segunda vinda e volta de Cristo não são bem assentados no texto bíblico. 
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Inferno: 
Como o conceito “céu” tem vínculo estreito com o estar presente com Deus, o conceito inferno 
vincula-se diretamente ao oposto. Várias figuras são usadas para descrever essa realidade, mas o 
essencial é de estar completamente desvinculado de Deus para sempre. Há passagens que tratam o 
inferno como ardendo em fogo, enquanto outras passagens descrevem com o ranger de dentes, 
refletindo um frio interminável. Lembra-se que são figuras para descrever uma realidade que não se 
reduz à linguagem humana. Outras formas descritivas também são usadas, como de ser deixado do 
lado de fora da festa nupcial ou banquete. Qualquer que seja o detalhe, é um estado consciente de 
separação de Deus. 
Escatologia, Textos Bíblicos Essenciais: 
Passemos agora a tratar alguns textos chaves para a compreensão das temáticas da escatologia. As 
passagens a seguir não são todas as passagens relevantes, mas são as mais centrais para tratar essas 
temáticas. 
1ª Coríntios 3.10-4.5: 
“Aquele que constrói banalmente a igreja de Deus sofrerá a perda de recompensas especiais que Deus tem 
preparado para serviço bem prestado. Sua salvação não está envolvida. Ela é um presente da graça de Deus, 
recebido pela fé. No entanto, tal salvação teria sido de muito mais agrado se houvesse resultado em boas obras, 
em materiais dignos, contribundo para a construção da igreja de Deus”55. 
Por contrastar ouro, prata e mármore com madeira, palha e joio, Paulo fala de “um palácio por um 
lado, e uma barraca de lodo por outro”56, segundo os materiais em uso comum na época. Os 
materiais dignos para a construção sobrevivem ao fogo mencionado. Se Cristo for o alicerce, a 
estrutura erguida por cima deveria ser digna da qualidade do seu fundamento. Não se deve construir 
de qualquer maneira, mas com qualidade57. Em algum ponto o material utilizado na construção será 
visto e provado58. 
Não há como escapar desta prestação de contas a Deus59, pois nesta menção do fogo é feita em 
conjunto a menção do “Dia”—uma referência escatológica—essa junção refletindo o dia de juízo 
escatológico. Nestes termos, a igreja primitiva ouvia uma mensagem de boas novas pelo interesse e a 
autoridade de Deus exercida sobre o que se passava entre o seu povo ou sua igreja60. O interesse de 
Deus está presente na sua igreja e no labor desse seu campo. Esse interesse virá a ser revelado de 
forma mais efetiva no juízo ao qual Paulo aqui se refere. No entanto, muitos trabalham no campo, 
mas haverá um prestar de contas. Esta prestação aqui referida não está necessariamente vinculada 
com a salvação, mas com a recompensa do justo fiel. 
 
55 BERQUIST, 26. 
56 Lighfoot em ROBERTSON, WPNT IV, 97. 
57 BERQUIST, 25-26. 
58 FEE, 141. 
59 ROBERTSON, WPNT IV, 97. 
60 SOARDS, 73. 
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A figura do juízo aqui não é a questão da separação entre os fiéis e os infiéis, “é a tragédia de uma 
vida infrutífera, de um ministro que trabalhou tão pobremente no alicerce verdadeiro que o seu 
trabalho subiu em fumaça… É a figura de uma vida desperdiçada…. Não há almas no céu como 
resultado de seu labor por Cristo, enriquecimento de caráter, nem crescimento em graça”61. A 
questão básica aqui é de que importa para Deus a qualidade do investimento que cada qual faz no 
desenvolvimento do reinar de Deus62. 
Quando Paulo trata a questão do corpo do cristão como templo, ele emprega o termo nao;" (naós), 
que designa mais precisamente o santuário em si, do que o templo como um todo. O uso aqui pode 
designar a parte interna do templo, o santuário63, onde se visualizava a mera presença de Deus. Um 
santuário, ou templo, era para o povo da época uma manifestação visível da presença do deus ali 
cultuado64, neste caso, YHWH (hwhy). É neste contexto que Paulo retrata a vivência interna do “Sopro 
de Deus” no cristão, como parte desse templo. Vale ressaltar que o termo pneu`ma (pneuma) é usado 
nos parâmetros do termo hebraico jwr (ruach), o qual designa não apenas o conceito de espírito, mas 
o próprio fôlego65. A intimidade da vivência interna do pneu`ma tou` qeou `(sopro de Deus) é igual ao 
respirar do homem no seu viver diário, ressaltando assim a importância e a proximidade do corpo 
como sendo a “nave”66 do templo de YHWH. 
O conceito de “o dia” é especificamente uma referência judicial67. Nesse dia, o juiz seria Deus, não 
algum ser humano que usaria de parcialidade no seu juízo. Este juiz julgaria conforme os reais 
méritos, não por alguma perspectiva falha ou parcial68. Este julgamento, portanto, é motivo de 
alegria para Paulo, pois o seu julgamento e o seu futuro está nas mãos de Deus, não dos homens. 
Deve-se lembrar que Paulo termina num ponto positivo, mostrando que o prestar contas ao Senhor 
deveria ser um motivo de alegria para o cristão69. 
Esta passagemde 1a Coríntios, revela que o julgamento vindouro é mais do que uma símples 
separação entre os fiéis e os infiéis. Remonta também a alguma diferenciação entre a qualidade do 
investimento de cada cristão na construção da igreja, ou seja, no reino de Deus. Nesta diferenciação, 
não existe motivo de se gloriar por haver em qualquer caso “merecido” a salvação, mas parece ser 
um ensino coerente com a passagem de Mateus 25.14-30, onde aos servos fiéis são dados novas 
responsabilidades, ou seja, oportunidades de continuar o seu serviço a Deus. O reinar de Deus 
continua, e o cristão ainda permanece como servo ou mordomo do Senhor do reino. 
Lucas 14.1-16.31: 
A parábola de Lázaro e o homem rico é uma das passagens mais marcantes referente ao estado do ser 
humano após a morte. Aqui se evoca imagens bem ilustrativas de recompensa e juízo. É 
interessante notar que Jesus referiu esta parábola aos fariseus e não aos saduceus. Os saduceus não 
pensavam existir uma vida além-túmulo no sentido de céu e inferno, apoiando-se aos conceitos mais 
tradicionais do judaismo do Seol como o lugar de todos os mortos, sem diferenciação. Esta parábola, 
como todo o texto maior desde o capítulo quatorze, parece estar bem dirigida aos fariseus, os quais 
 
61 ROBERTSON, WPNT IV, 98 
62 SOARDS, 74. 
63 BAUER, 533-534 e SOARDS, 74. 
64 BERQUIST, 27. 
65 Veja “O Sopro de Deus” em Homilética da Teologia das Narrativas, p. 18. 
66 O termo é provavelmente proveniente do grego nao;" (naós) desta passagem. 
67 SOARDS, 87. 
68 BERQUIST, 32. 
69 SOARDS, 89. 
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tinham expectativas messiânicas e escatológicas bem desenvolvidas. Este ensino, portanto, tem uma 
audiência específica. Parece que o tratamento do reino dado por Jesus para os saduceus teria uma 
ótica e ênfase diferente. 
Tem sido comentado que Jesus parece colocar mais ênfase no ensino referente ao inferno do que 
propriamente no ensino referente ao céu. Deve-se lembrar, porém, que o inferno não é o 
contraponto ou oposto do céu, mas do reino. Nestes termos, o ensino de Jesus é bem dirigido à 
inclusão dos saduceus. O reino já chegou e começa no aqui e agora. Esta vida no reino é a “vida 
das eternidades”, o qual começa aqui e continua para sempre. Como a vida do reino é deixar que 
Deus reine no indivíduo e no corpo, o céu é a continuação do reinar de Deus, mesmo após a morte. 
A morte não interfere no reino, apenas modifica a esfera de sua atuação. O ser humano continua 
após a morte no seu relacionamento com Deus, seja como for o mesmo—na intimidade do reinar de 
Deus ou na eterna separação de Deus, o inferno. 
Para tratar bem a parábola de Lázaro e o homem rico, é necessário ver alguns assuntos do contexto 
maior desde o início de Lucas 14. Em geral, uma parábola é dirigida a alguem para evocar uma 
resposta70. Assim, é necessário compreender do contexto a quem a parábola estava sendo dirigida e 
com que motivo foi empregada por Jesus. Também algumas questões clarificativas devem ser 
colocadas de antemão. 
O contexto maior começa fazendo uma diferenciação entre a ótica ou prática dos fariseus e a forma 
de vida do reino que Jesus pregava. Desde pelo menos o capítulo 14, Jesus vem lançando uma série 
de críticas aos religiosos do seu dia. Com esta crítica, Jesus vem enfatizando o tipo de vida do reinar 
de Deus—a “vida das eternidades”—pelo seu caráter ou sua qualidade. No gráfico a seguir, pode-se 
ver algo da crítica colocada por Jesus em oposição aos líderes religiosos dos judeus do seu tempo. 
Como tem sido comentado em outra parte, a crítica de Jesus “questiona a confiança daqueles que 
tomam por certo que estarão presentes no grande banquete escatológico. …São os pobres, os coxos e 
os cegos que estão se encaminhando ao banquete, enquanto muitas das pessoas mais óbvias da lista de 
convidados estão mais preocupadas com outros assuntos”71. 
Ref: Designação Crítica de Jesus 
14.1-6Æ Negligenciando os pobres e necessitados 
14.7-14Æ Buscavam o melhor para si; faziam bem para que o bem fosse feito em retorno 
14.15-24Æ Os grandes não querem ir ao banquete, criam desculpas, pois não querem a 
renúncia. 
14.25-35Æ Necessidade de renúncia/contar o custo 
15.1-2Æ Murmuravam por Jesus aceitar pecadores 
15.3-7Æ Festa pela ovelha: 1/100 
15.8-10Æ Festa pela moeda: 1/10 
15.11-32Æ Festa pelo filho: ½ 
16.1-9Æ Infiel sabe utilizar infidelidade em ganância própria, não o fiel 
16.10-13Æ Fiel em pouco, também em muito 
 
70 FEE e STUART, 124. 
71 NOLLAND, 758. 
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16.14-18Æ Fariseus gananciosos e infiéis à lei 
16.19-31Æ Reversão completa no juízo 
 
O termo “Hades” (adh") é a expressão grega utilizada na Septuaginta para traduzir o termo hebraico, 
lwav (Seol), este designando o lugar de continuidade nebulosa dos mortos72. No Antigo Testamento, 
o termo mais significativo para referir-se ao mundo dos mortos é esse termo, “Seol, uma palavra de 
origem incerta, porém usada 65 vezes no Antigo Testamento”73. 
O conceito do Seol veio sofrendo modificações ao longo do processo revelatório de Deus com o povo 
de Israel. Eclesiástes nem compreende qualquer vida além do túmulo, enquanto por outro lado 
vários textos começam a sugerir imagens dessa existência ou continuidade. Quando inicialmente 
surge o conceito de uma vida além-túmulo, concebe-se em geral um lugar de silêncio74. O termo 
essencial é Seol, porém outros termos são empregados para expressar esse conceito. Abadon (@wdba) 
por si significa destruição, mas é usado no Antigo Testamento também em referência ao Seol75, o 
reino dos mortos76. Mesmo assim, o significado é impreciso por causa de termos que são muitas 
vezes vínculados ao seu contexto, gerando a idéia de lugar daqueles que dormem, conforme as 
sombras dos mortos que se acordam um pouco para receber o rei da Babilônia77. Em Jó 26.6 e 
28.22, o Abadon é a personificação do lugar de destruição, ou seja, dos mortos78. O tehom (µwht—
profundezas, ou abismo) e o deserto são também símbolos, para os hebreus, referentes ao lugar dos 
mortos79. 
Moody coloca a passagem de Isaías 14.9-15 como sendo a descrição mais vívida do conceito do 
Seol80. Ao ler a seguinte passagem, deve-se lembrar o gráfico do conceito hebraico do universo81: 
“O Seol desde o profundo se turbou por ti, para sair ao teu encontro na tua vinda; ele despertou por ti os mortos, 
todos os que eram príncipes da terra, e fez levantar dos seus tronos todos os que eram reis das nações. Estes 
todos responderão, e te dirão: Tu também estás fraco como nós, e te tornaste semelhante a nós. Está derrubada 
até o Seol a tua pompa, o som dos teus alaúdes; os bichinhos debaixo de ti se estendem e os bichos te cobrem. 
Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste lançado por terra tu que prostravas as nações! 
E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da 
congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante 
ao Altíssimo. Contudo levado serás ao Seol, ao mais profundo abismo.”82 
“O contraste entre o temor e desespero que se agarrava às almas dos homens no Seol, e a esperança 
jubilosa que surgia pela expectativa da ressurreição, é vividamente expressa no Apocalipse deIsaías 
(24-27). Isaías 26.14 diz com respeito aos ímpios: ‘Os falecidos não tornarão a viver; os mortos não 
ressucitarão; por isso os visitaste e destruíste, e fizeste perecer toda a sua memória’. No mesmo 
capítulo aparece a primeira referência clara à ressurreição da vida. Dos justos declara-se (v. 19): 
‘Os teus mortos viverão, os seus corpos ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó; 
 
72 MOODY, 493 e NOLLAND, 557. 
73 MOODY, 492. 
74 WATTS, 209. 
75 MOODY, 493. Jó 26.5-6 “As sombras abaixo tremem, as águas e seus habitantes. O Seol é nu perante Deus, e o Abadon não tem coberta” 
(citação bíblica da versão Imprensa Bíblica Brasileira, de acordo com os melhores textos). AUNE (B., 534), portanto, coloca o Abadon como 
sinônimo de Seol, o reino dos mortos. 
76TATE, 403. 
77 WATTS, 209. 
78 AUNE, B., 534. 
79 MOODY, 493. 
80 ibid., 495. 
81 Veja a página 6 desta apostila. 
82 Versão da IBB, de acordo com os melhores textos. 
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porque o teu orvalho é orvalho de luz, e sobre a terra das sombras fá-lo-ás cair’. A ressurreição dos 
mortos depende do poder e da realidade de Deus e o relacionamento correto do homem para com 
Deus”83. Em Apocalipse 20.14-15, a morte e o Hades são jogados em conjunto no lago de fogo. 
Seu poder sobre o ser humano é aniquilado84, mostrando em concordância com outras passagens que 
até “o Seol fica sob o domínio de Deus”85. 
Ao retratar o nosso conceito de inferno com o emprego de termos como Seol e Hades, deve-se 
lembrar as limitações do conceito expresso com esses termos por suas conotações geofísicas. 
Lembrando o conceito hebraico do formato físico do mundo, o Seol era o mundo subterrâneo ou 
parte dele. Com o complemento do ensino de Jesus e o emprego de outras metáforas para o 
inferno86, vale lembrar que a verdade do ensino não está ligada ao espaço físico, mas à sua realidade 
relacional. “O inferno não é tanto um lugar de tormento físico, como é a horrível solidão de uma 
separação total e completa do Senhor”87. 
A ótica normativa do povo apegava-se a um conceito de retribuição. O justo recebia recompensa 
material enquanto o injusto sofria a falta de bens materiais e saúde. Conseqüentemente, era comum 
pensar nos ricos serem aqueles que eram abençoados por Deus e dignos para participação no reino 
messiânico por vir. Ao nomear o mendigo na parábola, porém, Jesus contradiz grandemente esta 
questão, especialmente em contraste à falta de nome para o rico. 
O nome dado ao mendigo, Lázaro, tem como significado o mesmo de Eliezar (rz[la)—“Deus ajuda” 
ou “Deus, Ajude!”. O nome é uma transliteração grega de uma forma variante do mesmo nome 
hebraico88. A própria questão de que ao mendigo é dado um nome, denota a distinção real entre o 
valor de sua vida em comparação com a do rico, a quem é dado importância pela sociedade. O rico 
atua em desprezo ao mendigo, porém Deus vem à sua ajuda. 
Em toda a passagem, Lucas retrata Jesus oferecendo uma série de críticas referentes às práticas 
farisaicas do seu tempo, as quais serão tratadas como um todo na parábola de 16.19-31. Aqui vemos 
as críticas da negligência para com os pobres, da reivindicação de direitos, do fazer bem aos que 
podem dar retorno, da falta de aceitabilidade de renúncia própria e a infidelidade às demandas da lei 
em relação ao próximo. Todo o ensino de Jesus nos últimos três capítulos de Lucas encontra um 
resumo aqui nesta parábola. 
Nesta parábola, mesmo que seja uma figura lingüística ao todo, Jesus coloca algumas informações 
sobre a vida futura em sentido de ensino veraz. Não se deve dar ênfase demais aos elementos 
referentes ao mundo além-túmulo aqui descrito. Se o teor básico coerente com a crítica lançada 
contra os fariseus desde o capítulo 14 fosse inverídico, não haveria por que oferecer a parábola. É, 
portanto, uma passagem que contém informação sobre a vida além-tumulo, mesmo que esse enfoque 
seja parcialmente restrito em função de ser uma parábola. Alguns dos ensinos referentes à vida além-
túmulo nesta passagem incluem os seguintes: 
• Há consciência do estado além-túmulo; 
• Há memória desta vida na vida futura; 
• Há um juízo imediato (mesmo que intermediário) envolvendo algum conceito retribuitivo; 
 
83 MOODY, 504, citações bíblicas da versão Imprensa Bíblica Brasileira, de acordo com os melhores textos. 
84 ROBBINS, 230. 
85 MOODY, 493. Veja também a referência que Moody faz a 1a Samuel 2.6 e Amós 9.2. 
86 Veja Mateus 25.30, onde o servo inútil é colocado para fora no frio, onde existe “o ranger de dentes”. 
87 ERICKSON, CT, 1241. Ênfase minha. 
88 NOLLAND, 828. 
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• Mesmo que o retrato seja de um estado intermediário, vê-se um juízo já pronunciado; 
• Há conforto além-túmulo para os fiéis oprimidos neste mundo; 
• Não há reversões do juízo de Deus após a morte; 
• A informação necessária para receber o “descanso” na vida além-túmulo está clara o suficiente na 
“lei e nos profetas”89; 
• Deus se preocupa com aqueles descartados pela sociedade; 
• Não há retorno para esta vida terrestre após a morte; 
• Confiança em Deus é o único mérito de Lázaro (expresso no seu nome); 
• A situação de vida neste mundo é de muito menos valia quando se passa ao mundo além-túmulo. 
Uma pergunta que provém do estudo da parábola pode bem ajudar a redefinir as prioridades do 
quotidiano. Que diferença faz a minha presente circumstância ou forma de atuar em termos da minha 
vida daqui a dez mil anos? Em certo sentido, é esta a pergunta de Jesus aos fariseus através desta e 
outras palavras de ensino. Em outra passagem se registra as palavras de Jesus em reação à 
preocupação de ter um corpo inteiro na ressurreição (para tal queriam guardar qualquer parte do 
corpo que fosse amputado para ser incluído com o resto do corpo no sepultamento). Nesse contexto, 
Jesus diz que é melhor arrancar e jogar o olho fora90 se fizer a diferença no ingressar no reinar de 
Deus. Muito melhor viver no reino coxo, cego, ou aleijado do que perder o reino por completo. 
João 3.16-21; 5.5-25: 
João lança que o homem “já está julgado”, mas Jesus veio para o livrar da condenação. “E o 
julgamento é este, que os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois a suas obras eram más”. 
O julgamento e a condenação já estavam realizados e atuantes na humanidade, como também são até 
hoje. Não havia de se esperar a chegada de um dia de juízo, mas apenas a efetivação da sentença. 
No período antes da morte do indivíduo, porém, existe a possibilidade de ser inocentado por Cristo. 
Em outras passagens trata-se de um juízo vindouro, mas aqui de outra perspectiva, a qual trata o 
julgamento como fato já no passado. Esta temática será repetida em 5.24-25. 
Em João 5.5-14, Jesus vincula a cura do paralítico com questões de fé e pecado. Jesus não curou a 
todos, mas curou a este. Logo, a cura deste paralítico vincula-se com o ensino de Jesus referente ao 
morto ambulante91. Já há condenação e juízo, o homem apenas está aguardando cumprir a sentença, 
mas existe a possibilidade de ser inocentado, mesmo que já tenha sido julgado culpado. 
Essa não é a única perspectiva bíblica sobre o julgamento, mas deve ser vista como corretiva a um 
conceito dogmático demais referente ao procedimento específico além-túmulo da realidade.89 Jesus expressa aqui continuidade do plano redentor de Deus. Em concordância com Gênesis 15.6, Romanos 4.3, Gálatas 3.6 e Hebreus 11.1-
14, a salvação é e sempre foi pelo relacionamento de fé—uma confiança e dependência completa de Deus. 
90 Mateus 5.29. 
91 João 5.24-25. 
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Mateus 23.29-24.44: 
O capítulo 23 de Mateus fornece a base segundo a qual se pode compreender as palavras de Jesus no 
capítulo 24. Pela pergunta dos discípulos em Mateus 24.3, é óbvio que eles pensavam que as três 
coisas (destruição de Jerusalém, parousia92 de Jesus e fim do mundo) aconteceriam juntas93. Guerras, 
fomes e terremotos citados por Jesus em Mateus 24 eram sinais comunmente associados com a 
aproximação do “fim” na literatura apocalíptica judaica da época94. Jesus diz que estas coisas não 
são sinais de nada! Diz que acontecerão, mas os discípulos não devem preocupar-se até verem a 
abominação desoladora predita por Joel. Muitos tratam esta passagem como uma coletânea de 
ensinos dados por Jesus, não sendo necessariamente tão homogênea95. Há, no entanto, uma lógica de 
argumentação que indicaria um discurso direto e coerente, mantendo em vista as expectativas 
apocalípticas do dia e as três perguntas a serem respondidas por Jesus. 
Mateus 24.29-31 reflete a linguagem apocalíptica de Isaías 13.10, 34.4; e Ageu 2.696, como também 
de Joel 2.10, e da expressão de um commentário livre sobre Daniel 7.8-27, 8.9-26, 9.24-27, e 11.21-
12.1397. “O termo eleitos em Mateus 24 deve ser compreendido de acordo com o seu uso em outras 
partes das Escrituras, em que significa ‘crentes’”98. 
Mounce coloca em questão a referência do capítulo 24.3-31 à destruição de Jerusalém, considerando 
que a linguagem de vários versículos trata da vinda de Cristo99. Todos os sinais a serem vistos são 
enganosos, pois não remontam ao fim, a não ser o fim de Jerusalém100. Os versículos 29-31 tratam 
da parousia de Jesus. Ao mesmo tempo, esse tratamento é dado a fim de esclarecer a questão de que 
os falsos cristos são exatamente isso—falsos. O enfoque da passagem não chega a tratar a parousia 
diretamente, mas o faz em termos de um excursus101. Assim Mateus 24.23-28 trata a questão dos 
falsos cristos, mesmo que o versículo 27 entregue o ensino específico sobre a vinda de Jesus. O tema 
que está sendo tratado não é a parousia, mas os falsos cristos que estavam para surgir. Em Mateus 
24.27, o essencial no que corresponde à vinda de Jesus, “é de que a volta do filho do homem será 
claramente visível a todas as pessoas, em todos os lugares”102. 
Propõe-se a seguinte divisão temática para a passagem: 
23.1-39 “Censura aos escribas e fariseus” 
23.37-24.2 “Jesus fala sobre a destruição de Jerusalém e do templo” 
24.3 “Perguntas dos discípulos” 
24.4-28 “Resposta: Destruição de Jerusalém e do templo” 
24.29-25.46 “Resposta: Vinda do Filho do Homem/Fim”. 
Nas palavras de Jesus, não existe sinal nenhum referente ao fim do mundo nem da parousia. Jesus 
mesmo diz aqui o que Paulo repete em 1ª Tessalonicenses, e João em Apocalipse 16.15, que ele virá 
como o ladrão inesperado durante a noite. Jesus diz propriamente que nem ele sabe quando será essa 
vinda. Como, então, poderia ele dar um sinal da vinda cujo tempo desconhecia? 
 
92 Termo do grego para a vinda de Jesus em glória. 
93 MORRIS, 596. 
94 MOUNCE, 234. 
95 ALBRIGHT, 286 e 288. 
96 MOUNCE, 237-238. 
97 ALBRIGHT, 289. 
98 ERICKSON, ITS, 522. 
99 MOUNCE, 237. 
100 RIENECKER, 390-391. 
101 Um excursos é um texto parentético que visa a tratar uma temática levantada antes de voltar à linha de argumentação geral do texto. 
102 MOUNCE, 238. 
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“…Durante os séculos que precederam ao advento de Jesus, houve um número cada vez maior de 
judeus que viviam fora da Palestina”103, o que se chama de Diáspora ou Dispersão104. “…Já no 
século primeiro as colônias judaicas em Roma e em Alexandria eram numerosíssimas. Em quase 
todas as cidades do Mediterrâneo oriental havia pelo menos uma sinagoga”105. Logo, em Atos 2, é 
apresentado que o evangelho foi pregado a todas as nações (etnias—e[qnh) no dia de Pentecostes, 
entendendo que estes judeus espalhados levaram o evangelho de volta para as suas cidades, dispersos 
por todo o mundo conhecido. 
Os judeus haviam parado de oferecer sacrifícios a YHWH (hwhy) em favor do Imperador, assim 
rompendo o trato que tinham com Roma. Esse trato foi a forma encontrada para apaziguar as 
relações deles com Roma: os judeus sacrificavam em prol do império, o que os preservava da 
necessidade de sacrificar aos deuses romanos e à imagem do imperador106. Buscando a resolução do 
impasse dos judeus nos anos finais da década de 60, no ano 70 Tito entrou em Jerusalém para fazer o 
sacrifício mandatório107, em resposta ao rompimento do acerto com Roma. O templo foi queimado 
por completo em reação por parte dos judeus ao procedimento Romano em oferecer sacrifício a 
César sobre o altar do Templo108. Em conseqüência da revolta, toda Jerusalém foi destruída. A 
destruição deu-se tão completamente que entre os anos 302 e 312, o governador Romano da Palestina 
nem havia ouvido falar de Jerusalém109. 
Conforme Josefo descreve o caso, não era intenção de Roma destruir Jerusalém, mas tornou-se 
realidade em conseqüência da reação judaica em oposição ao sacrifício feito sobre o altar. “[Os 
romanos] tiveram durante todo o tempo da guerra grande misericórdia do pobre povo, ao qual era 
proibido fazer o que quissesse por aqueles [judeus] tumultuadores e sediciosos… por não [querer] 
destruir a cidade [de Jerusalém], somente para que os que eram autores de tal grande guerra tivessem 
tempo para se arrependerem”110. 
O império enfrentava guerras e dificuldades de todos os lados por volta da época da destruição de 
Jerusalém. A introdução descritiva histórica de Tácito é bem ilustrativa: “Começo a obra de escrever 
sobre uma época que é rica em tragédias, sangrenta por causa de batalhas, dilacerada por revoltas”111. 
Houve terremotos na Ásia nos anos 60. A morte de Nero em 68 foi seguida por um período de muita 
instabilidade, mais guerras e até três imperadores num período de dois anos. Em 62, os partos 
estavam em revolta, em 68 havia revolta na Galícia, na Germânia em 69, na Judéia de 66 a 70. 
Vesúvio erruptou em 79, cobrindo Pompeii e cidades vizinhas e enviando uma núvem sobre grande 
parte do império. Houve fomes nos anos 90112. “…E maior que quantas [guerras] jamais temos 
ouvido de cidades contra cidades e povos contra povos…”113. Também se sabe pelas cartas de Paulo 
e de Atos que houve fomes na Judéia durante o período de seu ministério, como a fome nos dias de 
Cláudio no ano 46114. 
“Molestavam aos romanos os galos que são vizinhos [dos judeus]; não descansavam os germânicos; o 
universo estava cheio de discórdias depois da morte de Nero; havia muitos que, por ocasião dos 
 
103 GONZÁLEZ, 20. 
104 cf. 1ª Pedro 1.1. 
105 GONZÁLEZ, 20. 
106 AUNE, A., 170. 
107 GONZÁLEZ, 58. 
108 JOSEFO, 17. 
109 FREND, 2, citando Eusébio. 
110 JOSEFO, 13. 
111 Tácito em RIENEKER, 391. 
112 BORING, 10. 
113 JOSEFO, 11. 
114 RIENECKER, 390. 
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tempos e de tão grandes revoltas, pretendiam agarrar para si o império; e os exércitos todos, pela 
esperança de maior lucro desejavam tumultuar tudo”115. 
Mateus 25.14-46: 
A apresentação aqui do juízo não deve ser vista como uma figura completa de todo aspecto da 
salvação, pois tem como objetivo ressaltar a evidência de que o ser humano será julgado116. Não se 
deve pensar aqui em dinheiro, mas em potencial a ser aplicado sob o reinar de Deus117. 
Alguns interpretam a passagem para dizer que a salvação é merecida pelas obras, mas deve-se 
lembrar a implicação aqui de que todos somos servos de Deus. Nesse contexto, Jesus descreve a 
realidade da diferença de atitudes entre fiéis e infiéis. Graça é tão importante em Mateus, como em 
qualquer outro texto neotestamentário118. Mesmo assim, deve-se lembrar que todos são vistos aqui 
como servos de Deus—uns são fiéis, outros são infiéis. Tal como na parábola dos lavradores maus, 
todos eram servos, mesmo aqueles que foram depostos dos seus cargos. Não vem ao caso tratar a 
forma de alcançar a salvação, muito menos salvação mediante obras, mas, como Jesus já designara 
no final de capítulo 24, o infiel mostra-se infiel por suas ações, enquanto o fiel pratica fidelidade. As 
ações revelam o caráter da pessoa e a qualidade do seu relacionamento com Deus. 
A segunda parábola aqui reflete outra vez conceitos de Mateus 16.27, onde cada qual recebe juízo ou 
recompensa de acordo com a sua atuação no reino119. O ministério das ovelhas obviamente não é 
uma ação com fins de alcançar mérito, pois não se percebe o mérito de suas ações. É simplesmente 
uma forma natural de viver o evangelho de Cristo120. 
Interessante no tratamento da parábola dos talentos, é que o talento era uma medida de peso, 
equivalente a uns vinte quilos. Provavelmente refere-se a prata ou ouro, mas a designação não é 
específica nesse sentido. Se fosse um talento de ouro, o preço de mercado atual colocaria o talento 
no valor de mais ou menos 3.100 salários mínimos mensais. Ao que fora fiel com os cinco talentos, 
no entanto, é designado como tendo sido fiel em pouco (15.500 salários, o que seria em 2002 uns 
R$3,1 milhões, dobrado em R$6,2 milhões)—agora este será colocado sobre muito! Aqueles dez 
talentos não são de muito valor, mas o Senhor colocará este servo fiel sobre muito mais—o suficiente 
para que ele veja a insignificância do primeiro encargo. Uma implicação desta parábola é de que o 
céu não é uma “aposentadoria legal”, como no conceito de muitos. É a oportunidade de continuar a 
servir ao Senhor de forma ainda mais significativa. Em nenhuma instância essa vivência é para 
aqueles que não querem servir—é para aqueles que querem ser úteis no reino de Deus e que tem 
mostrado tal por meio de serviço prestado. 
1ª João 2.18-4.6: 
“É a última hora”. Para João, não existe nenhum intervalo antes dessa última hora chegar. Ela já 
estava presente para ele no primeiro século. O judeu dividia o tempo em duas etapas—antes e depois 
 
115 JOSEFO, 12. 
116 MORRIS, 634. 
117 HAGNER, WBCM, 737. 
118 MORRIS, 637. 
119 HAGNER, WBCM, 741. 
120 MORRIS, 639. 
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do Messias. Logo, após a ressurreição de Jesus os cristãos já presenciavam os últimos tempos ou a 
última hora—essa segunda etapa do tempo. Jesus modificou a expectativa judaica, pois não 
estabeleceu um reino político, mas já começara o seu reinar nos cristãos do primeiro século. Agora o 
cristão anela uma terceira etapa de tempo, marcado pela vinda em glória (parousia) de Jesus. 
O Anti-Cristo já está presente—na época de João! Realmente, o texto trata de “anti-cristos”, ou seja, 
muitos que atuam em luta contra Cristo. Não se trata aqui de um anti-cristo singular, mas de muitos 
anti-cristos, já na época do próprio João. Conseqüentemente, a sua descrição do tempo em termos de 
ser a última hora já entrou em vigor há quase dois mil anos atrás. Já é a última hora, como vem 
sendo desde o primeiro século. Quer dizer, já vivemos na época após a vinda do Cristo, esperando a 
sua vinda em glória. 
João afirma que não há mistério escondido para os fieis, pois o evangelho já fora pregado a eles. 
Essa declaração contradiz diretamente os ensinos gnósticos prevalentes já no primeiro século. Tal 
grupo ensinava a necessidade de aceitar uma doutrina escondida e especial, e que a salvação era 
através de um correto conhecimento da doutrina escondida. João responde que não há novidade, mas 
apenas a mensagem gloriosa do evangelho eterno de Jesus Cristo. Não há segredos a serem 
descobertos, mas uma mensagem aberta para todos que quiserem assumir o compromisso com Cristo. 
Logo, em termos escatológicos, também não há ensinos secretos a serem decifrados. A mensagem 
do evangelho é clara—ninguém sabe quando Jesus virá em glória, mas é verdade que virá. Ninguém 
pode discernir os tempos, predizendo os eventos futuros escatológicos, mas pode-se saber do próprio 
evangelho as verdades referentes àqueles eventos. Não compete ao cristão conhecer os detalhes, mas 
compete a ele conhecer o Salvador e obedecê-lo em fidelidade. 
1ª Tessalonicenses 4.13-5.11; 2ª Tessalonicenses 2.1-3.5: 
O termo “dormir” é comumente usado como um eufemismo para morte, sendo este o uso aqui121. 
Deve-se tomar cuidado para respeitar esse uso do termo. 1ª Reis 2.10 diz que Davi dormiu com os 
seus pais e foi sepultado, 1ª Reis 11.43 diz que Salomão dormiu com os seus pais e foi sepultado. 
De 1ª Reis a 2ª Crônicas, existem 36 ocorrências deste uso do termo dormir. Atos 7.60 diz que 
Estevão adormeceu, mas 8.1 diz que Saulo consentia na sua morte! É também neste emprego do 
termo que Jesus o usa em João 11.11-14, mesmo que os próprios discípulos não tivessem 
compreendido de início. 
Paulo aqui em 1a Tessalonicenses 4.13-14 contrapõe a esperança do cristão em contraste à falta de 
esperança no mundo pagão. Para o cristão e o judeu havia esperança de ressurrreição, mas então não 
havia entre os pagãos122. Aqueles que estavam "em Cristo" antes de suas mortes, continuam "em 
Cristo" após a mesma. 
 
121 BRUCE, 95 e WATTS, 209, em discussão do Seol e Abadon como lugar dos mortos, vinculado ao conceito do lugar dos que dormem. 
122 BRUCE, 96. 
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Apocalipse, Introdução Geral e Histórica: 
Qualquer interpretação textual é uma hipótese que precisa ser analisada, criticada e comprovada ou 
descartada. “As provas de uma hipótese interpretativa estão primeiramente no seu poder para trazer 
vida ao texto, fazer compreensível por que o autor fez o esforço para escrever o texto e (em grau um 
pouco menor) por que os primeiros leitores apreciaram o texto pelo menos o suficiente para não o 
jogar fora”123. O leitor deve, portanto, analisar as colocações destes comentários interpretativos 
como hipóteses a serem consideradas e avaliadas. Espera-se definir algumas linhas interpretativas 
que fazem jus ao texto, para que o mesmo possa ter aplicação para a vida do leitor. 
Há várias perspectivas gerais no mercado referente à ótica interpretativa geral que se deve trazer ao 
livro de Apocalipse. Em grande parte, essas opções interpretativas dependem das presuposições com 
as quais os intérpretes

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