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Empresarial - Falência -Aula IV

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FALÊNCIA
				
							 por Fabiana Malta.
PAGAMENTO DOS CREDORES
A grande finalidade da realização do ativo do devedor falido é a arrecadação de recursos para o posterior pagamento dos credores. Nesse sentido é a regra constante do art. 147 da LRE:
Art. 147. As quantias recebidas a qualquer título serão imediatamente depositadas em conta remunerada de instituição financeira, atendidos os requisitos da lei ou das normas de organização judiciária.
Os valores arrecadados ficarão depositados até o momento de serem iniciados os pagamentos dos credores, o que deve ser feito segundo a ordem de preferência de cada crédito, prevista no art. 83 da LRE.
Segundo o disposto no art. 149 da LRE, os recursos obtidos com a realização do ativo do devedor falido só serão usados para pagamento dos credores depois de feitas as devidas restituições e de pagos os créditos extraconcursais, descritos no art. 84 da LRE.
Os créditos extraconcursais é mais uma novidade trazida pela LRE, estes portanto, devem ser pagos antes de qualquer outro crédito concursal, por maior que seja a sua preferência na ordem de classificação, também obedecem a uma ordem de preferência de acordo com seus incisos, ou seja, primeiro serão pagos os credores extraconcursais mencionados no inciso I do art. 84, depois os do inciso II, e assim por diante. Segundo o art. 84 da LRE, serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:
I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência;
II – quantias fornecidas à massa pelos credores;
III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência;
IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida;
V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.
Os créditos extraconcursais não existiam antes da falência ser decretada, estes, são resultados desse processo. Portanto, todos os créditos mencionados nos incisos do art. 84 são decorrentes de fatos posteriores à decretação da falência.
ATENÇÃO! Os créditos extraconcursais são dívidas da massa, que surgiram depois da decretação da falência, por isso devem ser pagos antes dos créditos concursais, que são dívidas do falido, que surgiram antes da decretação da falência. 
Alguns pagamentos devem ser feitos pelo administrador judicial imediatamente, assim que houver disponibilidade de caixa. São os casos dos arts. 150 e 151 da LRE. Vejamos o que tais artigos preconizam:
Art. 150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência, inclusive na hipótese de continuação provisória das atividades previstas no inciso XI do caput do art. 99 desta Lei, serão pagas pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa.
Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade em caixa.
ATENÇÃO! Os pagamentos previstos nos arts. 150 e 151 da LRE não obedecem a nenhuma ordem de classificação de créditos. Eles devem ser realizados assim que houver disponibilidade de caixa.
Realizados, enfim, os pagamentos que a lei determina sejam feitos com a disponibilidade de caixa existente, as restituições em dinheiro e os pagamentos dos créditos extraconcursais, resta então fazer o pagamento dos credores submetidos a concurso, o que será feito seguindo-se a ordem de classificação estabelecida no art. 83 da LRE. Observem:
Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:
I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho;
Aqui a lei trouxe uma importante e polêmica inovação, posto a limitação da preferência dos créditos trabalhistas a 150 (cento e cinqüenta) salários-mínimos por trabalhador foi objeto, segundo o Prof. André Luiz Santa Cruz Ramos, de intensos debates no Congresso Nacional e provocou, depois de promulgada a lei, diversas reações negativas advindas das entidades sindicais dos trabalhadores.
Os créditos decorrentes de acidente de trabalho concorrem como créditos preferenciais pela totalidade do seu valor. A limitação de 150 salários-mínimos não os atinge, estando restrita aos créditos trabalhistas stricto sensu. 
Estes créditos trabalhistas stricto sensu são, basicamente, os créditos de indenizações determinadas pela Justiça do Trabalho (pagamentos de horas extras, décimo - terceiro, férias, etc.), bem como outros créditos a eles equiparados: 
Os devidos aos representantes comerciais autônomos a título de comissões (art. 44 da Lei nº 4.886/65) e
Os devidos à Caixa Econômica Federal a título de contribuição para o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
O art. 83,§4º foi outra norma inovadora da LRE que também provocou debates e causou polêmica, segundo este artigo “os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários”. Tal regra buscou evitar uma prática recorrente quando da vigência da Lei anterior, que era a venda de créditos trabalhistas.
II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
Podem ser citados como exemplos de créditos com garantia real os créditos hipotecários, os créditos pignoratícios, os créditos caucionados, os créditos de debêntures com garantia real e os créditos de instituições financeiras decorrentes de cédulas de crédito rural.
Trata-se de créditos não sujeitos a rateio, ou seja, nesses casos, o produto da venda do bem dado em garantia real à dívida será usado para o pagamento do credor garantido. Caso esse produto da venda seja superior à dívida, o saldo restante será usado para o pagamento dos demais credores, na ordem de classificação. Caso, em contrapartida, o produto da venda não seja suficiente para o pagamento da dívida, o restante dela será classificado como crédito quirografário.
III – créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias;
A LRE solucionou uma controvérsia existente na vigência da lei anterior, relativa às multas tributárias, as quais, segundo entendimento jurisprudencial, não podiam ser cobradas no processo falimentar. A nova legislação falimentar permitiu a cobrança dos créditos decorrentes de multas tributárias no processo falimentar, mas não os classificou como créditos fiscais, deixando-os, na verdade, em sétimo lugar na ordem de classificação, abaixo dos créditos quirografários. 
IV – créditos com privilégio especial, a saber:
a) Os previstos no art. 964 do CC;
b) Os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
c) Aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia;
V – créditos com privilégio geral, a saber:
a) Os previstos no art. 965 do CC; 
b) Os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) Os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei;
VI – créditos quirografários, a saber:
a) Aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) Os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento;
c) Os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
Em qualquer processo falimentar, a lista dos credores quirografáriosprovavelmente será sempre a maior, porque envolve todos os créditos que não possuem nenhuma espécie de privilégio ou garantia. Trata-se, pois, dos credores cujos créditos decorrem de uma obrigação cambial inadimplida (duplicata, nota promissória, cheque etc,) de uma indenização por ato ilícito ou de uma obrigação contratual não honrada. Ademais, a LRE ainda inclui nessa classe o saldo de crédito trabalhista ou equiparado que ultrapassar 150 salários-mínimos e o saldo de crédito com garantia real ou privilégio especial cujo montante arrecadado com a venda dos bens vinculados aos seu pagamento não seja suficiente.
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;
No regime da lei anterior, os créditos quirografários eram os últimos créditos previstos na ordem de classificação. A LRE inovou mais uma vez, prevendo abaixo dos quirografários os créditos decorrentes de multas tributárias, as quais, na lei anterior, não podiam ser cobradas no processo falimentar.
VIII – créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.
A inclusão dos créditos subordinados na ordem de classificação dos créditos também foi uma inovação da LRE, já que, como dito, na lei anterior a última classe era a dos quirografários. São credores que se enquadram nessa categoria, por exemplo, os titulares de debêntures subordinadas e os sócios e administradores da sociedade sem vínculo empregatício. Eles só terão seus créditos satisfeitos depois de pagos todos os demais credores acima estudados.
Ordem de Classificação dos Créditos na Falência:
1º Créditos Trabalhistas e Acidentários: os créditos acidentários são preferenciais independentemente do valor, mas a preferência dos créditos trabalhistas está limitada a 150 salários mínimos (o que exceder esse valor será considerado crédito quirografário);
2º Créditos com Garantia Real: a preferência deles está limitada ao valor do bem gravado (o que exceder esse valor será considerado crédito quirografário);
3º Créditos Tributários: não se incluem nessa categoria as multas tributárias;
4º Créditos com privilégio especial;
5º Créditos com privilégio geral;
6º Créditos Quirografários: são créditos normais, sem nenhuma preferência;
7º Multas e Penas Pecuniárias: aqui se incluem desde multas contratuais até multas por infrações da legislação administrativa, por exemplo;
8º Créditos Subordinados: basicamente, são créditos de sócios contra própria sociedade empresária falida.
ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA
Realizados os pagamentos dos credores de acordo com a ordem de classificação dos créditos e a disponibilidade de recursos da massa, caberá ao administrador judicial apresentar suas contas ao juiz no prazo máximo de 30 (trinta) dias. É o que prevê o art. 154 da LRE.
Apresentadas as contas, juntamente com toda a documentação pertinente, formar-se-ão autos apartados que serão apensados ao volumoso processo falimentar. Ato contínuo, o juiz colocará as contas à disposição dos interessados para que eles possam oferecer impugnações, se assim entenderem, no prazo de 10 (dez) dias, e depois enviará os autos ao Ministério Público, que oferecerá parecer em 05 (cinco) dias. Havendo impugnação ou parecer desfavorável, o administrador judicial será novamente ouvido, voltando posteriormente os autos ao juiz para julgamento das contas por sentença.
Sendo as contas rejeitadas, o juiz, além de fixar as responsabilidades do administrador judicial, poderá determinar a indisponibilidade ou o sequestro dos seus bens, servindo a sentença como título executivo para indenização da massa, contra a qual caberá o recurso de apelação.
Após julgadas as contas, ainda resta ao administrador judicial uma diligência a ser cumprida, consistente na apresentação de relatório final, no prazo de 10 (dez) dias, no qual ele indicará o valor alcançado com a realização do ativo, o valor do passivo, os pagamentos que realizou e as responsabilidades com as quais continuará o devedor falido. Após a apresentação desse relatório, o juiz então dará por encerrado o processo falimentar, por meio de sentença que será publicada em edital e contra a qual caberá recurso de apelação.
Para finalizar, deve-se registras que, segundo o art. 157 da LRE “o prazo prescricional relativo às obrigações do falido recomeça a correr a partir do dia em que transitar em julgado a sentença do encerramento da falência”. Isso porque essa sentença apenas encerra o processo falimentar, ou seja, encerra a execução concursal do devedor, o que não significa, todavia, que esse devedor está livre de suas dívidas, sobretudo porque provavelmente o seu ativo não foi suficiente para pagar todo o seu passivo. Encerrada a falência, volta tudo a ser como era antes da decretação: a prescrição, que estava suspensa, volta a correr; as execuções individuais contra o devedor, que estavam suspensas, voltam a correr etc.
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FALIDO 
O encerramento da falência não significa, por si só, a extinção das obrigações do devedor falido, o que só ocorrerá nos casos especificamente previstos no art. 158 da LRE e após a respectiva sentença.
Vejamos o que diz o art. 158 da LRE:
I – O pagamento de todos os créditos. 
Este inciso prevê a extinção das obrigações do falido quando há o pagamento de todos os credores, trata de situação ideal, mas que infelizmente não ocorre na grande maioria dos processos falimentares.
II – O pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% (cinqüenta por cento) dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo.
 Este inciso confere uma prerrogativa importante ao devedor empresário, não conferida, por exemplo, ao devedor civil insolvente que se submete ao concurso de credores regulado pelo CPC. No direito falimentar, se o produto da realização do ativo do devedor for suficiente para o pagamento de mais de 50% dos seus credores quirografários – os quais, é óbvio, só serão pagos depois de satisfeitos todos os demais créditos acima deles na ordem de classificação estudada no tópico antecedente -, as obrigações do falido podem ser declaradas extintas. Nesse caso, pois, o devedor será exonerado de suas obrigações mesmo sem ter satisfeito todas elas, já que ainda restaram sem quitação o saldo remanescente dos créditos quirografários, as multas e penas pecuniárias e os créditos subordinados.
 III – O decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei.
IV – O decurso do prazo de 10 (dez) anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto nesta Lei.
Os incisos III e IV, por fim, prevêem a extinção das obrigações do falido se transcorrer determinado lapso temporal após o trânsito em julgado da sentença de encerramento do processo falimentar. Se houve a condenação pela prática de algum crime falimentar, esse prazo é de 10 (dez) anos. Se não houve, o prazo é de apenas 5 (cinco) anos.
Assim, verificada uma das hipóteses descritas no art. 158, o devedor falido poderá então requerer ao juízo, por meio de petição que será autuada em apartado, a prolação de sentença que declare extintas as suas obrigações (art. 159 da LRE). O requerimento deve ser publicado por edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação (§1º), abrindo-se prazo de 30 (trinta) dias para que qualquer credor possa opor-se ao pedido (§2º), findo o qual o juiz, em 5 (cinco) dias, proferirá sentença (§3º), contra a qual caberá recurso de apelação (§5º). Transitada em julgado a sentença, os autos do requerimento serão apensados aos do processo falimentar (§6º).
EM RESUMO
Eis um quadro trazido pelo Prof. André Luiz para melhor visualização de todo o processo falimentar:
	FALÊNCIAPedido (arts. 1º, 2º, 3º e 94)
	
	 Contestação (art. 98,p.ún.)
	
	 Sentença (art.100 e 101)
	
	Decretação da Falência (arts. 6º, 21 e 99)
	
	 Arrecadação dos Bens (arts. 81, 82, 85, 86, 129 e 130)
	
	 Habilitação dos Créditos (arts. 7º e seguintes)
	
	 Venda dos bens (arts. 141 e 142)
	
	 Pagamentos (arts. 150, 151, 86, 84 e 83)
	
	 Prestação de Contas
	
	Sentença (Julgamento das Contas)
	
	 Relatório Final 
	
	 Sentença (encerramento da falência)
	
	 Art. 158
	
	 Sentença (extinção das obrigações)
	
	Caso a assembléia rejeite o plano, o juíz decreta a falência do devedor, salvono caso do art. 58, §1º
*Quadro retirado do livro de André Luiz Santa Cruz Ramos, Direito Empresarial para OAB.
FONTES DE PESQUISA:
Exclusivamente o livro de Direito Empresarial (OAB) do Professor e Procurador Federal, Doutor André Luiz Santa Cruz Ramos, coordenado por Leonardo de Medeiros Garcia e Roberval Rocha.

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