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Guarulhos 2018 LETÍCIA MUNIZ MAGALHÃES DA CUNHA SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO ESPECIALIZAÇÃO EM LIBRAS E EDUCAÇÃO PARA SURDOS LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS NO CONTEXTO DA ESCOLA BILÍNGUE: O Ensino de Libras na Escola Bilíngue Guarulhos 2018 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS NO CONTEXTO DA ESCOLA BILÍNGUE: O Ensino de Libras na Escola Bilíngue Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de especialista em Libras e Educação para Surdos. LETÍCIA MUNIZ MAGALHÃES DA CUNHA CUNHA, Letícia Muniz Magalhães da. Língua Brasileira de Sinais no Contexto da Escola Bilíngue: o ensino de libras na escola bilíngue. 2018. 16 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Libras e Educação para Surdos) – Centro de Ciências Empresariais e Sociais Aplicadas, Universidade Norte do Paraná, Guarulhos, 2018. RESUMO Em razão de a comunidade surda haver conquistado o direito de frequentar escolas bilíngues, por terem reconhecida sua especificidade linguística mediante leis e decretos em vigor atualmente que vem movimentando os ambientes escolares, há alguns anos, a fim de se adequarem à nova realidade educacional, o presente artigo tem por finalidade discutir sobre as práticas de ensino de escolas bilíngues de educação para surdos, no que se refere ao ensino da Língua Brasileira de Sinais aos envolvidos nessa dinâmica diferenciada, que visa nada mais que o desenvolvimento integral do aluno surdo para exercício da cidadania com autonomia, trazendo uma análise sobre as dificuldades, ainda encontradas no uso e difusão da Língua de Sinais nesse contexto. Para tanto foi realizada uma pesquisa bibliográfica que envolve leis e decretos, bem como títulos de autores que tratam da educação de surdos e ensino da Libras como primeira língua para surdos e segunda língua para ouvintes. As fontes citadas evidenciam que as famílias, na maioria das vezes, apresentam dificuldades em aceitar a condição de seu familiar surdo, por haver uma certa disparidade de concepções entre educação e saúde e, ainda, há falta de conhecimento a respeito da especificidade cultural desse grupo, até mesmo por profissionais da educação. Palavras-chave: Escola Bilíngue para Surdos. Ensino de Língua de Sinais. Comunidade Escolar. Uso e Difusão da Libras. Educação de Surdos. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13 2 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ 7 2.1 SURDO OU DEFICIENTE AUDITVO, QUEM SÃO?Erro! Indicador não definido. 2.2 LIBRAS: QUE LÍNGUA É ESSA............................................................................17 2.3 ESCOLA DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS .......................................18 2.4 O ENSINO DA LÍNGUA DE SINAIS NA ESCOLA BILÍNGUE...............................19 3 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 22 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 23 5 1 INTRODUÇÃO O ensino da Língua Brasileira de Sinais passou a ganhar visibilidade e status de disciplina a partir da regulamentação da Lei de Libras pelo Decreto nº 5626, de 22 de dezembro de 2005. É no capítulo IV desse documento que se prevê o uso e difusão da Libras para o acesso das pessoas surdas à educação. E, o capítulo II, trata da inclusão da Libras como disciplina curricular em alguns cursos de graduação. Já no capítulo VI aparece a garantia do direito à escolas e classes de educação bilíngue. Assim, é esse documento que servirá de base para as questões apresentadas aqui. A Língua Brasileira de Sinais (Libras) na escola bilíngue para Surdos é o veículo condutor do conhecimento pois é por meio da Língua de Sinais, exclusivamente visual, que o aluno surdo passa a acessar todos os tipos de informações, das mais simples às mais complexas e abstratas; das de teor familiar às de conteúdo específicos de disciplinas acadêmicas. Por isso o ensino da língua não pode ser restrito apenas aos alunos surdos, mas aos que com eles convivem: familiares, colegas ouvintes e profissionais da escola. Num âmbito maior, em termos de sociedade seria de todo desejável que Libras fosse ensinada em todas as escolas como disciplina obrigatória, pois os surdos estão presentes em todos os segmentos da sociedade e tem direito a se comunicarem livremente e serem autônomos. Com o advento das leis e decretos esse sonho deixa de ser uma ideia e passa a ganhar espaço na prática de algumas instituições. Hoje mais pessoas veem a Língua de Sinais de forma diferente, com maior conhecimento, mas ainda é pouco em relação a necessidade. Apesar da legislação, ainda se encontra muita resistência e desconforto quanto ao uso da Libras. É possível perceber claramente, por meio de estatísticas simples, que a maioria dos familiares de surdos não tem o domínio da língua de sinais e muitos deles ainda reproduzem falas ou comportamentos que priorizam o uso da língua oral. Surdos de todas as idades e níveis severos de perda auditiva, ainda passam por escolas regulares antes de chegarem a escola bilíngue ou lá permanecem por vários anos antes de terem sua especificidade percebida. No que se refere a educação de surdos e ensino da Libras há que se levar em consideração algumas questões de bastante relevância: O que vem a ser uma escola ou polo bilíngue de educação para surdos? O que a caracteriza como tal? Quem são as pessoas envolvidas nessas comunidades escolares? Que línguas são utilizadas e 6 de que maneira são ensinadas nesses espaços? Qual a necessidade e importância dessas línguas? Quem é responsável pelo ensino e quem deve aprende-las? Surdos precisam aprender Libras? Libras pode ser uma disciplina para ouvintes? O presente tema ganha real significado ao buscar respostas a essas questões que permeiam a realidade de surdos, familiares e docentes de alunos ouvintes do ensino regular que compõem escolas bilíngues. E não apenas destes, mas dos diversos profissionais da escola, que no geral atendem ao público surdo sem conhecer, geralmente, as peculiaridades linguísticas em que estão inseridos. Além de contribuir para o conhecimento e as práticas no ambiente da escola, a presente pesquisa, realizada por meio de referenciais teóricos que tratam dessas questões, tem por objetivo também esclarecer possíveis dúvidas da comunidade escolar a respeito da necessidade do ensino da Libras na escola de ensino bilíngue para surdos, pois apesar de serem participantes e atuantes na vida dos alunos, muitos desses personagens ainda não se apropriaram, até hoje de conceitos relativos à cultura e Língua da comunidade surda. Com isso pretende-se analisar qual a prioridade deve ser dada à língua de sinais e à língua oral na escola bilíngue, quem são as pessoas envolvidas nesse processo de ensino e aprendizagem, os papeis que desenvolvem e como isso tudo implica na vida e formação do aluno surdo como cidadão e ser autônomo. Procurando contribuir para o enriquecimento de informações a respeito do uso e difusão da Libras. 7 2 DESENVOLVIMENTO Desde que o conjunto dos sinais utilizados pela comunidade surda do Brasil ganhou statusde Língua por meio da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 regulamentada pelo Decreto nº 5626 de 22 de dezembro, muita coisa passou a acontecer no sentido de efetivar e qualificar o oferecimento dos serviços de educação e saúde para os surdos em geral. Nela se define: diferença entre surdos e deficientes auditivos, do que se trata a Libras e os direitos relativos aos atendimentos médicos e educacionais. Nesse sentido tornou-se necessário estabelecer critérios para o ensino dessa língua: quem é o usuário principal e quais as concepções se tem sobre ele? Quem deve ser responsável pelo ensino e qual a formação necessária para isso? Quem deve aprender para garantir o pleno desenvolvimento do aluno surdo? Apesar da legislação ainda há alguns problemas que ocorrem no processo de ensino da Libras. Nem todos os que deveriam estar interessados, teoricamente, encontram facilidade para desenvolver o aprendizado da língua. Por que isso ocorre? O que causa essa disparidade entre o ideal e o real? SURDO OU DEFICIENTE AUDITVO, QUEM SÃO? Surdez e deficiência auditiva são dois termos que definem duas condições físicas diferentes. Surdo é aquele que não é capaz de receber informação auditiva de nenhum tipo. Deficiente auditivo seria aquele que, dependendo do caso, com o uso de um aparelho amplificador sonoro, específico para o grau da perda e terapia fonológica, pode vir a desenvolver a língua oral, até com bastante qualidade de pronúncia. Vale ressaltar que, há surdos de graus severo e profundo, que chegam a desenvolver a fala com intervenções terapêuticas específicas, pois isso depende do grau de interesse e esforço empregado pelo surdo. Há surdos que preferem utilizar a língua oral, deficientes auditivos que abandonam aparelhos e escolhem a língua de sinais para comunicação e representantes dos dois grupos que se utilizam das duas formas de comunicação. Vai de cada um e cada ser é livre para escolher a forma com que se comunica e devem ser respeitados em sua individualidade, sem generalizações. Surdos e deficientes auditivos não devem ser considerados mudos e nem receber esse tipo de classificação, de forma genérica como muitos os nomeiam. A mudez é uma condição que deve ser examinada de forma diferente e específica. 8 A definição mais comum e conhecida de pessoa surda, no geral, nos diversos dicionários de língua portuguesa é: “indivíduo que não houve” ou “privado do sentido da audição”. Porém, para o efeito do decreto citado, ...considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras. (Decreto 5.626 de 2005,) E ainda, sobre os que recebem a informação auditiva de modo parcial ou com algum tipo de desvio, em diferentes níveis de perda, e podem ser classificados como deficientes auditivos, o documento diz que ...considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. (Decreto 5.626 de 2005,) Para muitos deles, ser surdo vai além de uma condição física e sensorial, está vinculada a uma condição social de pertencimento à uma cultura visual, com características típicas e diferenciadas dos de cultura ouvinte. Mas apesar de existir diferença entre uma condição e outra, Dentro do povo surdo, os sujeitos surdos não diferenciam um de outro de acordo com o grau de surdez, e sim o importante para eles é o pertencimento ao grupo usando a língua de sinais e cultura surda que ajudam a definir as suas identidades surdas. (Strobel 2008) A cultura visual é o que distingue o surdo de um ouvinte. Seus modos de agir e entender o mundo. A maioria dos sujeitos estão habituados a apelidar de “artefatos” os objetos ou materiais produzidos pelos grupos culturais, de fato, não são só forma individuais de cultura materiais, ou produtos definidos da mão-de-obra humana, também podem incluir “tudo o que se vê e sente” quando se está em contato com a cultura de uma comunidade, tais como materiais, vestuários, maneira pela qual um sujeito se dirige a outro, tradições, valores e normas, etc. (Strobel 2008) A partir dessa visão da cultura, é possível compreender o ser surdo para além das definições técnicas especificadas pela ciência decorridas de perspectivas patológicas. De acordo com Pereira, existem duas concepções de surdez que apresentam pontos de vista diferentes em relação ao indivíduo surdo conhecidas como: clínico- patológica e socioantropológica A primeira vê a surdez como sendo uma patologia que deve ser tratada e o surdo como deficiente. Nessa concepção de surdez, a linguagem oral é vista imprescindível para o 9 desenvolvimento cognitivo, social, afetivo-emocional e linguístico do surdo. A educação converte-se em terapêutica (reparadora e corretiva), e o objetivo do currículo escolar passa a ser dar ao sujeito o que lhe falta – a audição – e sua consequência mais visível – a fala. (Pereira 2011) A segunda tem a surdez apenas como sendo uma diferença no que se refere ao acesso às informações em geral, não como uma deficiência restritiva. Nessa concepção, o surdo é considerado membro de uma comunidade minoritária, com direito à língua e cultura próprias. (Pereira 2011) É aqui que se estabelece o ponto de desacordo. É a partir desse ponto que se pode confirmar as dificuldades que se encontram para o desenvolvimento da língua de sinais por surdos e ouvintes, pois o interesse para tal aprendizado se origina da concepção que se tem a respeito do surdo e sua necessidade. 2.1 LIBRAS: QUE LÍNGUA É ESSA? A língua de sinais utilizada no Brasil tem origem na língua de sinais francesa, pois, pelo que se sabe No Brasil, a educação dos surdos teve início durante o Segundo Império, com a chegada do educador francês Hernest Huet, ex-aluno surdo do Instituto de Paris, que trouxe o alfabeto manual francês e a Língua Francesa de Sinais. Deu-se origem à Língua Brasileira de Sinais, com grande influência da Língua Francesa. (Honora 2009) E, de acordo com registros históricos, tudo começou com intenção educacional: ...Hernest Huet, surdo francês chegou ao Brasil em 1856, a convite de D, Pedro II, para fundar a primeira escola para meninos surdos, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que foi inaugurado no dia 26 de setembro de 1857, o qual recebeu o nome de Imperial Instituto de Surdos- Mudos, com o propósito de desenvolver a educação dos surdos brasileiros. (Rodrigues 2011) Apesar disso, a Libras foi reconhecida como língua oficial apenas em abril de 2002, porém, para o surdo a Libras não é apenas a Língua Brasileira de Sinais, reconhecida por lei, como meio de comunicação utilizado pelas pessoas que compõe as comunidades surdas do país, mas sim como um elemento da identidade cultural. Ela não só possibilita a comunicação simples entre eles, mas também o acesso a conhecimentos mais profundos inclusive sobre outras culturas e o mundo ouvinte. Apesar de não ser uma língua universal, os surdos em geral fortalecem sua identidade e cultura visual por utilizar-se de alguma delas. Seja a língua de sinais convencional de qualquer país ou simplesmente elementos não verbais de 10 comunicação gestual (pantomima). A Libras não é a língua portuguesa transformada em sinais. São línguas distintas, de modalidade diferente uma da outra: As línguas de sinais distinguem-se das línguas orais porque utilizam o canal visual-espacial em vez do oral-auditivo. Por esse motivo são denominadas línguasde modalidade gestual-visual (ou visual-espacial), uma vez que a informação linguística é recebida pelos olhos e produzida no espaço, pelas mãos, pelo movimento do corpo e pela expressão facial. (Pereira 2011) As línguas orais e de sinais são diferentes mas seguem o mesmo princípio de possuir e seguir um conjunto convencional de símbolos e regras de combinação desses, o léxico da língua. Trata-se de uma língua que deve ser estudada, inclusive pelos usuários dela que pretendem se tornar profissionais tanto do ensino quanto da tradução e interpretação. 2.2 ESCOLA DE EDUCAÇÃO BILÍNGUE PARA SURDOS Entende-se por comunidade escolar o “conjunto das pessoas envolvidas diretamente no processo educativo da escola e responsáveis pelo seu êxito; é o corpo social da escola composta por docentes, discentes, outros profissionais da escola e pais ou responsáveis pelos alunos”, de acordo com a Fundação Bunge, 2018. Escola de educação bilíngue é aquela que utiliza duas línguas em seu contexto de educação, conforme versa o decreto nº5626, capítulo VI, §1º: São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. (Decreto 5.626 de 2005,) Assim sendo, compreende-se que a comunidade escolar de uma escola de educação bilíngue para surdos, deve estar totalmente empenhada no que se refere ao sucesso do educando surdo e, em consequência disso, envolvida, até certo ponto com a língua de sinais. E, de acordo com Quadros (2006), existem diferentes formas de proporcionar educação bilíngue para surdos e isso depende de decisões político-pedagógicas. Mas independente do contexto educacional, todas elas dependem da presença de professores bilíngues, pois ensinar uma segunda língua, necessariamente, pressupõe a existência de uma primeira e, ao optar pelo oferecimento de educação 11 bilíngue, assume-se uma política linguística em que duas línguas deverão coexistir no mesmo espaço educacional. Também, para isso deve ser definida a primeira e segunda língua e qual função cada uma irá representar no ambiente escolar. Das formas conhecidas e denominadas de educação bilíngues para surdos, ainda segundo Quadros (2006), no Brasil, há escolas em que a língua de instrução é a Libras e a língua portuguesa é ensinada como segunda língua. Outras adotam essa prática apenas nas turmas das séries iniciais do ensino fundamental, sendo que nas demais, a língua de instrução passa a ser a língua portuguesa, mas com a presença de intérpretes de Libras e o ensino da segunda língua ocorre na sala de recursos. Há ainda outras em que há intérpretes de Língua de sinais desde o início da vida escolar, dessa forma o profissional intérprete passa a assumir papel de professor utilizando a Libras como língua de instrução nas séries iniciais. Há ainda escolas de polo bilíngue, onde existe uma ou mais classes de ensino bilíngue para surdos inserida em uma escola de ensino regular, conforme prevê o decreto 5626, no capítulo 6, e que funcionam em algumas redes municipais. Onde, os alunos surdos tem contato direto com colegas e funcionários ouvintes da escola em vários momentos. Nesse caso, nas classes dos surdos a língua de sinais é utilizada como primeira língua, de instrução. Nas classes dos ouvintes, a primeira língua será a língua oral. Assim sendo, escola bilíngue, é uma escola com duas línguas, onde, teoricamente, todos devem procurar desenvolver aquela que está sendo ensinada como segunda língua, com a finalidade de interagir também com ela. Para isso a comunidade escolar deve ter claro essa condição; deve incorporar e desenvolver conhecimento e comportamento de respeito à cultura e modo de viver do outro, além de simplesmente aprender a língua. 2.3 O ENSINO DA LÍNGUA DE SINAIS NA ESCOLA BILÍNGUE Diante das definições apresentadas sobre a língua de sinais de um modo geral, quem são os sujeitos interessados diretos e usuários dessa língua e escola de educação bilíngue para surdos, segue-se no sentido de discutir sobre as motivações, os papeis das pessoas envolvidas e as dificuldades encontradas no processo de ensino e aprendizagem da Libras no ambiente escolar. O ensino da Língua de sinais, assim como o ensino de qualquer outra língua 12 deve levar em consideração os fatores culturais da comunidade usuária dela. Portanto, cabe ao professor propiciar aos aprendizes uma visão sobre os aspectos educacionais, linguísticos da Libras, bem como sobre a cultura Surda. (Pereira 2011) No ensino da Libras, segue-se metodologias próprias para cada fase da aprendizagem. Geralmente se vê o oferecimento dos níveis básico, intermediário e avançado, no caminho de se chegar à fluência mínima necessária para a comunicação com um surdo usuário dessa língua. Também, ao longo dos anos foram observadas mudanças de métodos, tanto no ensino da Libras quanto no das línguas estrangeiras, que de acordo com Pereira (2011), antes davam mais ênfase ao código da língua, isto é, vocabulário e regras gramaticais. Era considerado um processo mecânico de formação de hábitos. Mas, nos últimos anos, o foco passa a ser o uso da língua conhecido como método comunicativo. Assim, o papel do professor não é o de corrigir visando o acerto, mas o de inserir o aluno em atividades em que seja exposto à língua e sua utilização. Nesse sentido o professor passa a ser um facilitador do processo de aprendizagem. Um fator que deve ser levado em consideração no ensino da Libras para ouvintes é que, em um curso básico, de acordo como Wilcox e Wilcox, os alunos devem ser livres para questionar em sua própria língua nativa. Mediante o exposto fica estabelecido o papel do professor de Libras que, de acordo com o Decreto nº 5626, anteriormente citado, seja preferencialmente surdo, pois tendo eles preferência nos cursos de formação, consequentemente, levarão consigo, a responsabilidade maior de difundir a língua e cultura entre alunos surdos e ouvintes, aprendizes da língua, visto que são os usuários nativos. Em se tratando, especificamente, de escola de polo bilíngue, o ensino da Libras deve ser direcionado à toda comunidade escolar. Alunos surdos e ouvintes, professores das classes regulares, pais de alunos, pessoal da gestão e demais funcionários. Cada grupo com objetivos e intenções diferentes e direcionados ás suas áreas de atuação. Aos pais, por exemplo, a principal finalidade seria a interação com o filho para auxiliar nas tarefas escolares e orientações gerais, bem como possibilitar o estreitamento das relações afetivas, buscando aproxima-los. Já aos alunos surdos, é recomendável que, depois de haver se apropriado dos vocabulários e maneiras de uso da Libras, passem a estudar sua estrutura e gramática em geral, pois assim passam a entender a importância de valorizar e defender sua língua e, até mesmo, vir a ensina-la com propriedade. Para os alunos ouvintes o intuito é o de propiciar mais 13 momentos de interação com os alunos surdos, ampliando o uso da língua dentro do ambiente escolar, tornando favorável ao desenvolvimento social, sem segregação e estranhamento, pois, ao conhecer e participar da cultura do outro, deixam de olhar com diferenças. Aos demais profissionais da escola, os adultos em geral, além da socialização está o cuidado e orientações inerentes de cada setor: limpeza, cozinha, professores especialistas e gestão. Com isso, aos alunos surdos seria garantido um desenvolvimento mais amplo de suas potencialidades e com menos experiencias frustrantes por conta da diferença sensorial. Mas nesse caminho,ainda, são encontrados muitos empecilhos que travam essa dinâmica ideal, fazendo permanecer o fracasso escolar e social dos indivíduos surdos. A dificuldade encontrada pela família em desenvolver a aprendizagem da língua de sinais está estreitamente relacionada àquela concepção clinico-patológica, pois Quando o médico apresenta o diagnóstico da surdez, os pais ficam chocados, deprimem-se e culpam-se por terem gerado um filho dito ‘não normal’ e ficam frustrados porque veem nele um sonho desfeito. Assim contribuindo para a continuidade da atual realidade de defasagem, pois são levados a acreditar na cura e possível desenvolvimento da fala, investem muito tempo e esperanças nesse sentido, fazendo com que o aluno surdo crie expectativas e perca muito tempo antes de iniciar o estudo em classe bilíngue e mesmo quando chegam, geralmente apresentam ainda muita resistência à educação com a utilização da língua de sinais. Outro aspecto a ser levado em consideração, no que se refere ao desenvolvimento da aprendizagem da língua de sinais é a maneira como a escola, de um modo geral, é organizada. Segue currículos e métodos normativos que visam o alcance de determinados graus de instrução e evolução de acordo com os padrões estabelecidos. A escola está preparada para uniformizar para uniformizar os sujeitos que devem ser ‘livres’, educados e servis. Essa dificuldade em trabalhar com as diferenças não se observa só na escola, mas em todas as instituições modernas que se deparam com o crescimento material gerado pela ciência e tecnologia. (Skliar, 2005) Ela é reflexo da sociedade em que está inserida, das intenções governamentais 14 e segue, geralmente, os padrões sociais. Por muito tempo o padrão para a educação de surdos foi a oralização, uma imposição de uma maioria que acreditava ser essa a melhor opção sem dar atenção aos principais interessados no processo. Com o advento das leis e decretos sobre a inclusão, de um modo geral, essa normalização tem sido balada, repensada, desconstruída e reconstruída a partir da perspectiva socioantropológica, citada anteriormente. A partir dessa perspectiva, as alternativas teórico-pedagógicas vem se alicerçando em um modelo sócio-antropológico de educação, na qual a comunidade surda e a Língua de Sinais exercem um papel fundamental na tentativa de uma reconstrução educativa, pensada através de uma reestruturação curricular. (Skiliar 2005) Assim, não tem como a educação de surdos seguir o mesmo sistema dos conteúdos e métodos utilizados na educação para ouvintes. CONCLUSÃO Procurando contribuir para o enriquecimento de informações a respeito do uso e difusão da Libras, com o presente estudo foi possível perceber que importantes esforços estão sendo empregados no sentido de garantir que providências sejam tomadas no sentido de fazer com que as leis sejam cumpridas e ao mesmo tempo contempladas as ansiedades e necessidades de alunos surdos. Contudo, é notório que esse movimento leva tempo até que seja instituído um sistema completo, de modo satisfatório. Diante disso, hoje, toda a comunidade escolar enfrenta situações adversas: professores que sofrem a fim de adequar conteúdos pensados para alunos ouvintes; intérpretes de Libras com formação acadêmica mas sem a fluência prática, necessária; pais que esperam resultados equivalentes aos deles e que não conhecem seus filhos; gestão com dificuldades de orientar e acompanhar conteúdos, métodos e didática tão específicos e ainda em construção. Além do que, todos carregam consigo uma herança de tradição ouvinte. Com esse estudo fica evidente que o ensino de língua de sinais na escola bilíngue é uma necessidade atual e urgente no sentido de ajudar a formar cidadãos surdos autônomos, sendo contemplados nos aspectos mais básicos de sua vida como afetividade, educação e conhecimento de mundo. 15 REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. 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