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FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM DE GUARAPARI CURSO DE DIREITO ANDRÉ LUIZ TEIXEIRA VICTOR PRESCRIÇÃO PENAL GUARAPARI 2015 ANDRÉ LUIZ TEIXEIRA VICTOR PRESCRIÇÃO PENAL Trabalho acadêmico apresentado no Curso de Direito, como requisito parcial para obtenção de aprovação na Disciplina de Direito Penal II. Professor Fabrício da Mata Corrêa GUARAPARI 2015 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4 2. CONCEITO ........................................................................................................................ 5 3. NATUREZA JURÍDICA ........................................................................................................ 5 4. ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO ................................................................................................. 5 4.1 Prescrição da pretensão punitiva ........................................................................................ 6 4.1.1 Subespécies de prescrição punitiva ............................................................................. 7 4.1.1.1 Prescrição da pretensão punitiva abstrata ............................................................... 7 4.1.1.2 Prescrição da pretensão punitiva retroativa ............................................................. 8 4.1.1.3 Prescrição da pretensão punitiva intercorrente ou subsequente ............................ 8 4.2 Prescrição da pretensão executória .................................................................................... 8 5. CAUSAS SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO ............................................................................ 9 6. CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO ....................................................................... 10 7. PRESCRIÇÃO E DETRAÇÃO .............................................................................................. 11 8. IMPRESCRITIBILIDADE .................................................................................................... 11 9. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 12 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 13 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho trás como principal objetivo o estudo acerca da prescrição penal. Veremos que o Estado é titular da pretensão punitiva antes da sentença transitar em julgado, podendo recorrer ao Poder Judiciário para aplicar a pena ao agente que cometeu a infração penal. Após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória o Estado torna-se o titular da pretensão executória, habilitando-se, desta forma, a executar a sansão imposta pelo juízo criminal. Contudo, com o decurso de tempo, sobrevêm sobre estes direitos a prescrição punitiva ou executória. Sendo a prescrição da pretensão punitiva aquela em que devido a inércia do Estado e do decurso do prazo legal este deixa de punir o agente. Já prescrição da pretensão executória é aquela que faz com que o Estado perca o direito de executar a sansão fixada na sentença penal condenatória devido o decurso de tempo sem o seu exercício, deixando de ser executado, além da pena imposta, a medida de segurança. Abordaremos além destes aspectos, as causas suspensivas e interruptas da prescrição, consagrados respectivamente nos artigos 116 e 117 do código penal, entre outros, os quais veremos a seguir. 5 2. CONCEITO A prescrição penal é a ‘’perda do direito-poder-dever de punir pelo Estado em face do não exercício da pretensão punitiva (interesse em aplicar a pena) ou da pretensão executória (interesse de executá-la) durante certo tempo’’ (CAPEZ, 2011, 615). Ou seja, o Estado perde seu interesse punitivo em razão da readaptação do infrator à vida social, da não reincidência ou até mesmo do decurso de tempo. Faz-se necessário destacar o que nos ensina ilustre professor Damásio de Jesus acerca do decurso de tempo: O decurso do tempo possui efeitos relevantes no ordenamento jurídico, operando nascimento, alteração, transmissão ou perda de direitos. No campo penal o transcurso do tempo incide sobre a conveniência política de ser mantida a persecução criminal contra o autor de uma infração ou de ser executada a sanção em face de lapso temporal minuciosamente determinado pela norma (2011, pag.762). 3. NATUREZA JURÍDICA Sabe-se que a prescrição faz com que o Estado deixe de exercer o jus punitionis. O Código Penal traz em seu artigo 107, IV a prescrição como uma das causas de extinção de punibilidade, levando à extinção do processo. Desta forma, conforme nos ensina o professor Damásio de Jesus (2002, pág. 721- 722), se ocorrer a prescrição penal depois do trânsito em julgado da sentença ela continua com os efeitos secundários, já se ocorrer antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória o agente cometer outro fato delituoso ele não estará sendo reincidente devido a não existência de sentença penal anterior transitada em julgado. 4. ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO As pretensões do Estado são de punir e consequentemente executar a punição do agente, assim, existem duas espécies de prescrição: a prescrição da pretensão punitiva e a prescrição executória. 6 4.1 Prescrição da pretensão punitiva A prescrição da pretensão punitiva é a ‘’perda do poder-dever de punir, em face da inércia do Estado durante determinado lapso de tempo’’ (CAPEZ, 2011, pág.616). O Estado não perde o direito de ação, pois o jus puniendi é imediatamente atingido e esta prescrição ocorre antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, eliminando os efeitos do crime, podendo ser declarada em qualquer fase do processo, de ofício ou a requerimento de uma das partes (art. 61, caput, CPP). ‘’O lapso prescricional começa a correr a partir da data da consumação do crime ou do dia em que cessou a atividade criminosa (art. 111), apresentando, contudo, causas que o suspendem (art. 116) ou o interrompem (art. 117)’’(BITENCOURT, 2008, pág. 727). O ilustre professor Damásio de Jesus nos ensina que ‘’o prazo prescricional varia de acordo com o máximo da sanção abstrata privativa da liberdade, com desprezo da pena de multa, quando cominada cumulativa ou alternativamente’’ (2002, pág. 724). A prescrição da pretensão punitiva é regulada pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime. Desta forma, para saber qual o prazo da prescrição desta pretensão punitiva faz-se necessário uma breve análise do rol trazido no artigo 109, CP, enquadrando a pena em um dos incisos do artigo supramencionado, verificando o limite máximo da pena imposta em abstrato. Assim, o prazo prescricional será: I – em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II – em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III – em doze anos, se o máximo de pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV – em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V – em quatro anos, se o máximo de pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; 7 VI – em dois anos, se o máximo da pena é inferior a um ano. De forma clara o professorDamásio de Jesus (2002, pág. 725) exemplifica o prazo da prescrição punitiva da seguinte maneira: 1.º) Homicídio culposo (art. 121,§.º). Máximo da pena privativa de liberdade: três anos. Prazo da prescrição da pretensão punitiva: oito anos (art. 109, IV). 2.º) Calúnia (art. 138, caput). Máximo da pena privativa de liberdade: dois anos. Prazo da pretensão punitiva: oito anos (art. 109, V). 3.º) Furto simples (art. 155, caput). Máximo da pena abstrata: quatro anos. Prazo da pretensão punitiva: oito anos (art. 109, IV). Ressalta-se também que a prescrição da pretensão punitiva possui três efeitos: interrupção da prescrição penal em juízo; impedimento de registro da condenação na folha de antecedentes criminais do agente, exceto se o juiz criminal determinar o contrário e, por fim, o afastamento dos efeitos da condenação, seja penais ou extrapenais, principais ou secundários. 4.1.1 Subespécies de prescrição punitiva A prescrição da pretensão punitiva se subdivide em outras espécies, pois varia de acordo com o momento em que o Estado perde o direito de aplicar a pena e com o critério de cálculo do prazo prescricional. São elas: 4.1.1.1 Prescrição da pretensão punitiva abstrata A prescrição abstrata é denominada desta forma, pois ‘’ainda não existe na sentença para ser adotada como parâmetro aferidor do lapso prescricional’’(BITTENCOURT, 2008, pág. 727). O prazo é contado pelo máximo da pena privativa de liberdade prevista para o crime e deverão ser respeitados as seguintes regras para que ele possa ser encontrado: a) observar o limite máximo cominado à infração; b) verificar o prazo prescricional contido no artigo 109, CP; c) observar se existem causas que podem modificar este prazo, tais como: causas de aumento ou diminuição de pena e a menoridade ou velhice, uma vez que o prazo prescricional será reduzido pena metade, se na pratica do crime o agente era menor de 21 anos ou na data da sentença maior de 70. 8 4.1.1.2 Prescrição da pretensão punitiva retroativa ‘’A prescrição retroativa leva em consideração a pena aplicada, in concreto, na sentença condenatória, contrariamente à prescrição in abstrato, que tem como referência o máximo de pena cominada ao delito’’ (BITTENCOURT, 2008, pág.729). Ou seja, faz-se o cálculo da prescrição baseado na pena imposta na sentença penal condenatória, sendo aplicada desta para trás. Para que haja a ocorrência de prescrição retroativa deverá ser observado a inocorrência da prescrição abstrata e a sentença penal condenatória e para encontrar prazo prescricional retroativo será necessário: a) tomar a pena concretizada na sentença condenatória; verificar o prazo prescricional contido no artigo 109, CP e verificar se existe causas modificadoras do lapso prescricional (BITTENCOURT, 2008, pág. 730). 4.1.1.3 Prescrição da pretensão punitiva intercorrente ou subsequente A prescrição da pretensão punitiva intercorrente ou subsequente é assemelhada à prescrição retroativa, pois são aplicadas levando em consideração a pena aplicada in concreto na sentença penal condenatória, contudo, se diferem, pois a prescrição intercorrente ou superveniente é calculada com base na pena imposta na sentença penal condenatória, sendo aplicada após a condenação no primeiro grau de jurisdição. As regras para encontrar o prazo prescricional intercorrente ou subsequente são as mesmas da prescrição retroativa. 4.2 Prescrição da pretensão executória Nos termos do artigo 110, CP: ‘’A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente’’. Ou seja, a prescrição da pretensão executória faz com que cesse o direito de executar a sansão imposta pela prática do crime ao agente. 9 A prescrição da pretensão punitiva executória varia de acordo com os lapsos do artigo 109, CP e diferente da prescrição punitiva, a prescrição da pretensão executória é fixado pela quantidade da pena imposta na sentença penal condenatória. Exemplo: na hipótese de praticado delito epigrafado no artigo 272 do Código Penal (falsificação, corrupção, adulteração, ou alteração de substância ou produtos alimentícios), que comina pena de reclusão, de quatro a oito anos, e multa, tem-se que o prazo da prescrição da pretensão punitiva é de doze anos (art. 109, III, CP). Condenado o agente a quatro anos de reclusão da prescrição da pretensão executória será de oito anos (art.109, IV, CP), com início a partir do trânsito em julgado na sentença condenatória (PRADO, 2005, pág. 795). Luis Regis Prado (2005, pág. 795) ainda nos ensina que uma vez declarada a extinção da punibilidade através da prescrição da pretensão executória, ‘’não se executa a pena imposta e tampouco a medida de segurança (art. 96, parágrafo único, CP), embora subsistam os efeitos penais secundários da condenação e os efeitos civis (art. 67, II, CPP). Em caso de reincidência, é aumentado de um terço o prazo da pretensão executória e suspende-se a prescrição, com fulcro no artigo 116, parágrafo único, CP, durante o decurso de tempo em que o condenado estiver preso pela prática de outro crime. De acordo como artigo 112, CP, durante o período de prova da sursis e do livramento condicional não corre a prescrição da pretensão executória, uma vez que ela começa a correr: I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional; II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. 5. CAUSAS SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO Ao lecionar sobre as causas suspensivas da prescrição, Damásio de Jesus (2008, pág. 742) nos ensina que: Na suspensão da prescrição o tempo decorrido antes da causa é computado no prazo; na interrupção, o tempo decorrido antes da causa não é computado no prazo, que recomeça a correr por inteiro. 10 Em outros termos: cessado o efeito da causa suspensiva, a prescrição recomeça a correr, computando-se o tempo decorrido antes dela; interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr por inteiro. Antes de transitado em julgado a sentença penal, existem três causas suspensivas que podem fazer com que não ocorra a prescrição. Nos termos do artigo 116 do Código penal são elas: I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime; II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro. Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo. Portanto, a prescrição não ocorre enquanto em outro processo não for solucionada questões que dependam do reconhecimento do crime; enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro, antes do transito em julgado da sentença e por fim, com fulcro no parágrafo único, enquanto o agente estiver cumprindo em ralação à outra condenação. 6. CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO As causas interruptivas da prescrição estão previstas no artigo 117, do código penal. Nos termos do artigo supramencionado, o curso da prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa II - pela pronúncia; III - pela decisão confirmatória da pronúncia; IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; VI - pela reincidência. § 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescriçãoproduz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles. 11 § 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo começa a correr, novamente, do dia da interrupção. 7. PRESCRIÇÃO E DETRAÇÃO Há casos em que por algum tempo o agente pode ter sido preso cautelarmente. No entanto, de acordo com o artigo 42 do CP, este período poderá ser extraído quando do cumprimento da pena. Vale ressaltar o seguinte questionamento feito por Rogério Greco (2014, pág. 765) acerca do tema: ‘’Seria possível levar a efeito a detração, ou seja, a diminuição do tempo de pena a ser cumprido pelo agente, em virtude de sua anterior prisão cautelar, para efeito de reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva do Estado?’’ ainda, segundo o ilustre professor, o STF reconhece a detração, sempre que o cálculo prescricional for referente à prescrição executória. Conforme entendimento do STF: Prescrição da pretensão punitiva versus prescrição da pretensão executória – Detração. A detração apenas é considerada para efeito da prescrição da pretensão executória, não se estendendo aos cálculos relativos à prescrição da pretensão punitiva (STF, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª T., 11/5/2010, Dje 110, pub. 18/6/2010 apud GRECO, 2014, pág. 765). 8. IMPRESCRITIBILIDADE A prescrição penal, seja punitiva ou executória, em regra alcança todas as infrações penais, mas não é absoluta. A Constituição Federal consagra a imprescritibilidade nas hipóteses de crimes de racismo (art. 5º, XLII) e nas ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV). 12 9. CONCLUSÃO Conforme abordado durante o estudo deste tema vimos que a prescrição penal tem como principal fundamento a não aplicação da pena após a prática da infração, devido ao decurso de tempo, pois este é o fator que leva ao esquecimento do fato e enfraquece o suporte probatório do Estado. Além das prescrições existentes dentro do direito penal, seja ela punitiva ou executória, uma outra forma de beneficiar o agente que na época do crime era menor de 21 anos e na data da sentença, maior de 70, é a redução do prazo prescricional em face da idade do sujeito, previsto no artigo 115 do código penal. Por fim, há de se ressaltar também que apesar da prescritibilidade ser um direito individual do agente consagrado pela nossa carta magna, como fora visto, nas hipóteses de crime de racismo, nas ações de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático não correrá a prescrição. 13 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BITTENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de direito penal. Vol. I, 12ª ed. Atual. São Paulo: Saraiva, 2008. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. Vol. I, 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. Vol. I, 16ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2014. JESUS, Damásio E. de. Direito penal parte geral. 25ª ed. Rev . e atual. São Paulo: Saraiva: 2002. JESUS, Damásio E. de. Direito penal, vol I: parte geral. 32ª ed. São Paulo: Saraiva: 2011. PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro. Vol. I, 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. PLANALTO. Leis. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm> Acesso em 10. Jun. 2015.
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