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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO BRUNA GONÇALVES ISABELA PAVAN KARINA MENDES MARIA EDUARDA PERES MYLLENA COUTO DA FONSECA NATALIA MARCARINI SIMIONATO REVITALIZAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS ESTRUTURAÇÃO SANITÁRIA DAS CIDADES CURITIBA - PR JUNHO 2019 BRUNA GONÇALVES ISABELA PAVAN KARINA MENDES MARIA EDUARDA PERES MYLLENA COUTO DA FONSECA NATALIA MARCARINI SIMIONATO REVITALIZAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS Atividade elaborada para a disciplina de Estruturação Sanitária das Cidades, do Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal do Paraná, como requisito de nota parcial para avaliação do semestre. Prof°. Bruno Victor Veiga CURITIBA – PR JUNHO 2019 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Esquema de funcionamento de um lixão. ......................................... 7 Figura 2 - Esquema de funcionamento de um aterro sanitário. ......................... 8 Figura 3 - Esquema de funcionamento de um aterro sanitário controlado. ....... 8 Figura 4 - Aterro Sanitário de Caximba. .......................................................... 14 Figura 5 - Esquema Wetland. .......................................................................... 15 Figura 6 - Ponto de saída Wetland. ................................................................. 16 Figura 7 - Área do aterro com camada superficial de vegetação para recuperação. .................................................................................................... 18 Figura 8 - Aterro Sanitário de Tel Aviv. ............................................................ 19 Figura 9 - Centro de Reciclagem. .................................................................... 20 Figura 10 - Corpo de água do aterro de Tel Aviv. ............................................ 21 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 5 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 6 2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ........................................................ 6 2.2 LIXÕES ................................................................................................. 7 2.3 ATERROS SANITÁRIOS ...................................................................... 7 3. JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 9 4. REVITALIZAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS ........................................ 12 5. ESTUDO DE CASO: ATERRO SANITÁRIO DE CAXIMBA ....................... 14 6. ESTUDO DE CASO: ATERRO SANITÁRIO DE TEL AVIV ....................... 19 7. CONCLUSÕES .......................................................................................... 22 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 23 1. INTRODUÇÃO As cidades, indiscutivelmente, têm passado por uma série de mudanças nas últimas décadas, principalmente ao intenso e contínuo processo de urbanização e globalização. Ou seja, como muitos dos municípios não foram projetados prevendo tal desenvolvimento, é grande a porcentagem destes que, hodiernamente enfrentam problemas ligados à gestão pública e infraestrutura. Assim, conectado intimamente a este importante crescimento está o volume de lixo produzido pela população que se demonstra em quantidades cada vez maiores. A destinação final adequada desses resíduos sólidos urbanos, atualmente, é considerada como um dos principais problemas de qualidade ambiental das áreas urbanas no Brasil e no mundo. É evidente a necessidade de se promover uma gestão adequada das áreas de disposição de resíduos, no intuito de prevenir ou reduzir os possíveis efeitos negativos ao meio ambiente ou à saúde pública. A busca de soluções tem envolvido, sobretudo, a recuperação técnica, social e ambiental de áreas de depósitos de resíduos inadequadas. Desse modo, metodologias de recuperação de lixões e aterros são desenvolvidas devido à necessidade de implantação de mecanismos de inertização da massa de lixo objetivando o fechamento do lixão e/ou aterro ou o prolongamento da vida útil dos mesmos. A aplicação dessas metodologias possibilita o tratamento mais eficiente da massa de lixo e dos efluentes líquidos e gasosos, além de promover um melhor aproveitamento das áreas disponíveis para destinação final dos resíduos sólidos. Assim como revitalizar essas áreas, promovendo espaços de integração social para a população na qual estão inseridas. O presente trabalho aborda essas metodologias de recuperação, exemplificando com o estudo de caso do Aterro Sanitário de Caximba, localizado na capital paranaense, Curitiba. Aborda também os processos utilizados no Aterro Sanitário de Tel Aviv, em Israel, demonstrando que esses métodos são aplicados no mundo todo. Assim, se faz de suma importância elaborar normas e estudos a respeito das técnicas utilizadas na recuperação das áreas degradadas por resíduos sólidos urbanos para que os empecilhos que desafiam os administradores públicos no desenvolvimento de uma gestão eficiente, sejam reduzidos. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS Os chamados Resíduos Sólidos Urbanos (RSUs, de acordo com a norma NBR.10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT), vulgarmente denominados como lixo urbano, são resultantes da atividade doméstica e comercial dos centros urbanos. A composição varia de população para população, dependendo da situação socioeconômica e das condições e hábitos de vida de cada indivíduo, podendo ser classificados em: matéria orgânica, papel e papelão, plásticos, vidros, metais e outros como roupas e óleo de motor. Alguns tipos de resíduos sólidos são altamente perigosos para o meio ambiente, podendo causar a contaminação do solo no local do despejo ou até mesmo de grandes áreas caso entrem em contato com algum riacho ou até mesmo algum lençol freático. Esse tipo de material perigoso requer um sistema de coleta, classificação, tratamento e descarte adequado e rigoroso. Pode-se citar como exemplos as pilhas e baterias de telefones e equipamentos eletrônicos que são formados por compostos químicos com alta capacidade de poluição e toxicidade para o solo e a água, os quais são também extremamente tóxicos aos seres humanos e animais. Os resíduos sólidos urbanos podem ser coletados de forma indiferenciada ou seletiva. Indiferenciada quando não ocorre nenhum tipo de seleção durante a coleta; ou a seletiva, quando os resíduos são recolhidos e já separados de acordo com seu tipo e destinação. Após a seleção, os mesmos são enviados ao aterro sanitário, onde o material é coletado de forma indiferenciada e despejado para que se decomponha e seja absorvido pelo solo. 2.2 LIXÕES Os lixões são caracterizados por locais sem nenhum tipo de preparo para receber os resíduos. Neles, o chorume (líquido poluente, de cor escura e odor nauseante, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos) pode penetrar o solo e comprometer a água dos lençóis freáticos, conforme esquema demonstrado na Figura 1. Além disso, devido a exposição dos resíduos e a falta de fiscalização, o local acaba atraindo ratos, urubus e moscas, colocando em risco a saúde dos catadores informais que vão em busca dos materiais recicláveis, assim como da população de entorno. 2.3 ATERROS SANITÁRIOS Diferentemente do lixão, o aterro sanitário é uma área previamente preparada para receber os resíduos que não passaram pelo processo de reciclagem ou de compostagem. Nele, é feita a impermeabilização do solo com materiais inertes (como mantas de polietileno e/ou argila), impedindo a contaminação dos lençóis freáticos pelo chorume (que muitas vezes tem sistema que possibilita sua drenagem), como mostra a Figura 2 abaixo. Figura 1 - Esquema de funcionamento de um lixão. Fonte: InfoEnem, 2015. Além da preocupação com o chorume, também é feita a captação do metano, gás liberado no processo de decomposição do lixo e que pode ser utilizado para produzir energia. Muitos aterros têm até acompanhamento constante de diversos profissionais, como geólogos, que monitoram as possíveis falhas que possam trazer algum dano ao meio ambiente, e biólogos que monitoram as espécies da fauna e flora presentes na região. Podemos ter ainda, uma situação intermediária que é o aterro sanitário controlado. Nele, o chorume não é tratado, mas levado até a superfície, minimizando a contaminação do solo e das águas, conforme a Figura 3 explica. Geralmente, uma cobertura de argila ou saibro é feita diariamente, evitando que os resíduos fiquem expostos ao ar livre. Na verdade, os aterros controlados geralmente foram lixões que receberam algumas adaptações para que os danos ao meio ambiente sejam minimizados. Figura 2 - Esquema de funcionamento de um aterro sanitário. Fonte: InfoEnem, 2015. Figura 3 - Esquema de funcionamento de um aterro sanitário controlado. Fonte: InfoEnem, 2015. 3. JUSTIFICATIVA O reconhecimento público da problemática dos lixões, data dos anos de 1970, quando, nos Estados Unidos e na Europa, foram evidenciados problemas de saúde em pessoas expostas a substâncias químicas presentes em áreas contaminadas. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2008, somente 27.7% das cidades brasileiras possuíam aterros sanitários, 22.5% possuíam aterros controlados e 50,8% das cidades despejavam o lixo produzido em lixões. O Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, de 2012, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), indica que a geração de resíduos no país cresceu 1,3% de 2011 para 2012, maior que o crescimento populacional que foi de 0,9%, sendo que do total de resíduos coletados 58% foram para os aterros sanitários, 24,2% foram para aterros controlados e 17,8% foram para os lixões. Assim, o Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares introduziu, de forma inovadora, uma metodologia de classificação de áreas de disposição final. Tal classificação baseia-se no Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos (IQR), que permite o enquadramento dos sistemas analisados em três condições: 0,0 < IQR < 6,0 = Condições inadequadas; 6,0 < IQR < 8,0 = Condições controladas; 8,0 < IQR < 10,0 = Condições adequadas. Portanto, a problemática ambiental dos resíduos sólidos se torna uma realidade desafiadora. Com a promulgação do PNRS se espera corrigir tal condição já que essa lei estabelece, “Princípios, objetivos e instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), bem como dispõe acerca de diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis” (art. 1º). Abrelpe, 2012. Neste âmbito, pode-se citar os diversos motivos para que a revitalização de aterros seja desenvolvida, além claro de atender os requisitos da PNRS. Dentre estes, elencou-se os seguintes tópicos, que englobam tanto a esfera social e econômica, como principalmente a ambiental. Utilização do espaço para uso público (construção de parques, jardins e praças) para lazer da comunidade; Valorização e requalificação social e imobiliária da área; Reintegração da paisagem; Turismo; Envolvimento de vários profissionais (Arquitetos, urbanistas, engenheiros ambientais, agrônomos, biólogos, etc.) Produção de energia elétrica, biocombustível e compostagem para geração de adubo; Área verde; Filtro para a poluição das cidades; Ilhas de calor; Preservação ambiental; Sombras, maior umidade, Corredores verdes; Promove a educação ambiental; Drenagem de gases; Renovação dos solos e reuso de águas pluviais; Variedades na fauna e flora. Um aterro de resíduos sólidos pode ser considerado como um reator biológico onde as principais entradas são os resíduos e a água e as principais saídas são os gases e o chorume. A decomposição da matéria orgânica ocorre por dois processos, o primeiro processo é de decomposição aeróbia e ocorre normalmente no período de deposição do resíduo. Após este período, a redução do O2 presente nos resíduos dá origem ao processo de decomposição anaeróbia. O metano e o dióxido de carbono são os principais gases provenientes da decomposição anaeróbia dos compostos biodegradáveis dos resíduos orgânicos. A distribuição exata do percentual de gases variará conforme a antiguidade do aterro. Já os fatores que podem influenciar na produção de biogás são: composição dos resíduos dispostos, umidade, tamanho das partículas, temperatura, pH, Idade dos resíduos, projeto do aterro e sua operação. Independente do uso final do biogás produzido no aterro, deve-se projetar um sistema padrão de coleta tratamento e queima do biogás: poços de coleta, sistema de condução, tratamento (inclusive para desumidificar o gás), compressor e flare com queima controlada para a garantia de maior eficiência de queima do metano. Existem diversos projetos de aproveitamento energético no Brasil, como nos aterros Bandeirantes e São João, no município de São Paulo, que já produzem energia elétrica. Caso o Brasil aproveitasse todo o metano dos aterros sanitários, o país teria potencial de produção elétrica de 280 megawatts de energia, o suficiente para abastecer uma população de 1,5 milhão de pessoas. De acordo com pesquisa realizada em 2012 pela faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), “O uso de antigos aterros para criar parques visa oferecer à população mais áreas verdes e de lazer, especialmente na periferia”, mas torna-se imprescindível o controle da área e “a implantação também pode servir de laboratório para identificar espécies vegetais mais adequadas para a cobertura do solo. ” FAUUSP, 2012. O art. 54 do PNRS estabelece que “a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, observado o disposto no § 1o do art. 9o, deverá ser implantada em até 4 (quatro) anos após a data de publicação desta Lei”. Isso significa a decretação do fim dos lixões no Brasil até o ano de 2014 e sua substituição por aterros sanitários em todos os municípios brasileiros. A propósito, devemos entender como disposição final ambientalmente adequada a “distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos” (art. 3º, VIII). Ou seja, a Lei impõe a obrigatoriedade de implantação de aterros sanitários em substituição aos lixões e aterros controlados, considerando todas as problemáticas envolvidas neste tópico. 4. REVITALIZAÇÃO DE ATERROS SANITÁRIOS Segundo a norma NBR 8149 da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT (1987), “Aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos consiste na técnica de disposição de resíduos sólidos no solo, sem causar danos ou riscos à saúde pública e a segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, combinando-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho e em intervalos menores se necessários”. ABNT, 1987. Hodiernamente os aterros sanitários vêm melhorando suas características de disposição dos resíduos, tomando lugar dos lixões. Ainda assim, os possíveis impactos ambientais são bastante críticos, tais como: liberação de gases, geração de ruído, produção de vetores de doenças, degradação do solo e da paisagem do local, degradação da fauna e flora e ainda a possível contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas pelo chorume percolado. Esses ocupam grandes áreas territoriais e não param de crescer, tornando-se um grande problema para quase todas as cidades. Estima-se que só no Brasil sejam depositados 30 milhões de toneladas de lixo anualmente em aterros sanitários, só em São Paulo são 14 mil toneladas de resíduos sólidos direcionados a estas áreas todos os dias. O que pode ser feito quando os aterros já foram utilizados até a sua capacidade máxima e serão fechados? É viável olhar para esse amontoado de lixo e dar uma nova vida a ele? Projetos têm modificado ambientes como antigos aterros em parques e praças. De acordo com pesquisa realizada em 2012 pela faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), “o projeto de implantação de parques públicos em áreas que abrigavam lixões ou aterros controlados deve ser feito somente após uma investigação detalhada dos riscos de contaminação”. Assim, são vários os procedimentos para recuperação da área de um aterro sanitário, com tudo, o primeiro passo é contatar os diferentes profissionais responsáveis pela análise in loco e desenvolvimento de um plano de ações e projeto. Feito isso, é precisamente analisando as etapas ambientais subsequentes. O certo no primeiro momento é o isolamento do perímetro integral do terreno em questão, que passará por sondagem do solo, mapeando toda a extensão e definindo a espessura da camada de lixo na área degradada. Esse processo pode levar meses para execução de todo o mapeamento, de acordo com a extensão. Finalizada esta etapa, é realizada a remoção de todo o lixo com espessura menor que um metro de altura, empilhando-o sobre a zona mais densa. Inicia- se a conformação de taludes laterais e platôs com as devidas inclinações e especificações técnicas. Prosseguindo, é realizada uma cobertura em argila por toda a área e nas laterais, uma escavação recuperando-a com nova terra juntamente a valetas retangulares na base do talude. No que diz respeito ao chorume, é importante a realização de poços para acúmulo desse, que serão coletados pelas valetas. Também deve ser levado em consideração os gases emitidos pelo lixo, carecendo de um projeto especial a construção de poços verticais para drenagem. Por fim, é criada uma nova camada vegetal sobre a argila que receberá espécies vegetais de raízes curtas que ajudarão tratar a área e promover uma nova paisagem para uso público. Os projetos aqui citados sintetizam uma pequena parcela dos espaços degradados que atualmente dão lugar a espaços de caráter social e cultural e que atendem grande número de usuários, requalificando não apenas o espaço, mas também, a vida de seu público. 5. ESTUDO DE CASO: ATERRO SANITÁRIO DE CAXIMBA O aterro sanitário da Caximba, demonstrado na Figura 4 abaixo, operou durante 21 anos, entre 1989 e 2010, com a finalidade de receber resíduos sólidos domiciliares e industriais, gerados pelo município de Curitiba e por mais quatorze municípios de sua região metropolitana: Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Contenda, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Pinhais, Piraquara, São José dos Pinhais, Mandirituba e Quatro Barras. Com uma área total de 410.000m², na época, o projeto previa uma produção per capita média de lixo de 0,55 kg/hab/dia, e uma abrangência variável do sistema de coleta de 75% a 90% nos anos de 1988 a 2010. Considerando-se a capacidade aproximada do projeto do aterro de 3.239.500 toneladas, e a projeção populacional para o município de Curitiba e RMC, estimou-se uma vida útil aproximada de 11 anos e cinco meses, indicando que o Aterro da Caximba teve uma sobrevida de aproximadamente 10 anos. Desde seu projeto, o Aterro de Curitiba, foi concebido, implantado e operado como um aterro sanitário, ou seja, um local utilizado para disposição final do lixo, onde são aplicados critérios de engenharia e normas operacionais específicas para confinar os resíduos com segurança, do ponto de vista do controle da poluição ambiental e proteção à saúde pública. Desta forma, conta Figura 4 - Aterro Sanitário de Caximba. Fonte: Prefeitura de Curitiba, s.d. com impermeabilização da base, drenagem e sistema de tratamento de chorume, drenagem e queima do biogás e drenagem de águas pluviais. Mesmo quando um aterro deixa de receber resíduos, a geração do chorume não se extingue e pode se estender por muitos anos. De coloração escura e forte odor, o chorume possui alta carga poluente que necessita ser reduzida antes do seu lançamento no corpo receptor. O tratamento do chorume representa um grande desafio, uma vez que suas propriedades se alteram em função das características dos resíduos, do clima, do regime de chuvas e também pela idade do aterro. Para se manter uma boa eficiência de tratamento é necessário promover alterações no sistema de tratamento na medida em que suas características se alteram com o envelhecimento. Desde o início de sua operação, o Aterro de Curitiba contou com sistema para tratamento do chorume, que com o passar dos anos sofreu alterações para garantir a eficiência desejada. Atualmente o tratamento se inicia em um sistema de remoção de terra e areia, seguido por calha Parshall para medição da vazão. Passa então por uma lagoa de equalização dotada de aeradores que promovem a homogeneização do efluente. Posteriormente, o chorume é conduzido para duas lagoas aeradas que funcionam em paralelo, e uma lagoa facultativa dividida em 4 chicanas. Nas lagoas o chorume sofre redução da sua carga poluidora pela ação de bactérias. Em seguida é encaminhado para tratamento de oxidação química e posteriormente tratamento por lodos ativados. Estas etapas compõem o chamado tratamento convencional. Um pós tratamento composto por três Wetlands foi implantado no final de 2010. No sistema de wetlands o chorume é submetido a tratamento por fito remediação, que consiste no uso de plantas aquáticas e microrganismos associados ao seu sistema radicular para redução da carga poluidora do efluente, esquema esse representado na Figura 5 a seguir. Ao ser lançado no Rio Iguaçu o chorume atende aos padrões definidos na legislação. Figura 5 - Esquema Wetland. Fonte: Prefeitura de Curitiba, s.d. O sistema de plantas foi a alternativa escolhida pela prefeitura de Curitiba para reduzir os altos níveis de toxicidade do aterro, que em 2009 superaram em 60 vezes os parâmetros permitidos pela legislação, segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Durante os 21 anos de operação, o local recebeu cerca de 12 milhões de toneladas de resíduos de Curitiba e municípios da região metropolitana. Com toda essa carga, a previsão é que o chorume continue a ser liberado por mais 30 anos, período em que o aterro terá de ser permanentemente monitorado. O projeto foi desenvolvido pela bióloga Leila Teresinha Maranho, coordenadora do curso de mestrado em Biotecnologia Industrial da Universidade Positivo, com o apoio das Universidades Federal do Paraná e Positivo. O tratamento complementar consiste de três cavas, chamadas de banhados naturais (wetlands), por onde passa o chorume que sai do tanque de equalização. A concentração de poluentes vai diminuindo à medida que o sistema faz a absorção, até chegar a um nível satisfatório para ser descartado no Rio Iguaçu, através dos pontos de saída (Figura 6). Figura 6 - Ponto de saída Wetland. Fonte: Prefeitura de Curitiba, s.d. O desafio da Caximba, por outro lado, diz respeito às condições climáticas de Curitiba. A eficiência do sistema é prejudicada no inverno, enquanto há picos de eficiência na primavera. Outro estudo está sendo desenvolvido para fazer o manejo adequado para minimizar essas variações, além do estudo sobre a geração de biomassa com as plantas das wetlands. Segundo Leila, que desenvolve estudos na região, muitas cidades e estados brasileiros têm se interessado e mandado representantes para conhecer de perto o modelo de recuperação empregado no aterro curitibano. Ela informa que, na maioria dos parâmetros monitorados, houve redução de até 60% na carga poluidora do chorume. “No quesito matéria orgânica, por exemplo, já chegamos a obter 98% de redução”, diz. No fósforo e no nitrogênio este índice teria chegado a 80%, variando de acordo com as condições climáticas. O resultado mais notório deste tratamento é a biodiversidade que está se restabelecendo na região e já é possível ver animais como pacas, bugios, veados e diversas espécies de pássaros e peixes retornando ao antigo habitat. O monitoramento, entretanto, continuará a ser feito no local por mais 30 anos. Além do acompanhamento acadêmico, o aterro conta com o trabalho diário de 20 servidores, que ali atuam. Eles garantem a manutenção dos equipamentos instalados, entre eles os sistemas de drenagem de água pluviais, da estabilidade do aterro, da drenagem de gases e de tratamento do efluente que se origina da degradação dos resíduos ali depositados, além de toda a infraestrutura de acesso e circulação na área. Apenas o sistema de drenagem vertical inclui mais de 200 saídas, que são espécies de chaminés que permitem a liberação dos gases subterrâneos. O entorno da área que era ocupada pelo aterro na propriedade é rico, formado por floresta preservada e antigas cavas de areia e argila. As cavas, atualmente, acolhem o sistema de wetlands, ou seja, uma reprodução de um ecossistema de organismos aquáticos no qual a matéria orgânica restante no efluente do aterro é removida antes do lançamento no Rio Iguaçu. Isso ocorre por meio de plantas que já existiam na região e que, por tolerarem bem o chorume, são utilizados no projeto. Entre elas, Capim Tocha, Aguapé e Alternantera, que ajudam a reduzir a carga poluidora, conforme mostra a Figura 7. No total, o aterro sanitário conta com cerca de 1 milhão de metros quadrados de área. Figura 7 - Área do aterro com camada superficial de vegetação para recuperação. Fonte: Prefeitura de Curitiba, s.d. 6. ESTUDO DE CASO: ATERRO SANITÁRIO DE TEL AVIV O maior aterro sanitário de Israel (Figura 8), localizado na cidade de Tel Aviv, passou por uma forte remodelação que fez a montanha de lixo se transformar em um parque ecológico de 809 hectares, três vezes mais que o Central Park, em Nova York (EUA). O parque, que inclui uma estação de reciclagem de 60 hectares, tem trilhas de caminhada e ciclovias, lagos e equipamentos para atividades esportivas. Em breve o local também abrigará um anfiteatro com 50.000 lugares, sendo assim um dos maiores espaços de shows do país. A revitalização, iniciada em 2001, provou beneficiar tanto o ambiente em torno quanto visitantes. A empreitada não foi nada simples devido à grande quantidade de lixo que tinha de ser tratada. O aterro funcionou de 1952 a 1999, acumulando um total de 450.000 metros quadrados de lixo. De acordo com Shay Levi, chefe do departamento de planejamento ambiental do Parque Ariel Sharon (antes conhecido como Hiriya), em seu pico, em 1998, o parque recebia 3.000 toneladas de lixo por dia. “Havia lixo suficiente Figura 8 - Aterro Sanitário de Tel Aviv. Fonte: ArcoWeb, 2015. nesta montanha para encher 25 vezes as torres do Azrieli Center”, disse Levi ao site NoCamels, referindo-se aos três famosos arranha-céus de Tel Aviv. Além de sua beleza natural e da magnífica vista de Tel Aviv, o Monte Hiriya funciona como área de recreação para as famílias. O parque, aberto ao público em julho do ano passado, tornou-se popular nos últimos meses. Ele oferece visitas guiadas, além de atividades de reciclagem educativas para as crianças. Nos fins de semana e feriados, o parque recebe em média 1.000 visitantes por dia. Próximo ao parque, ficam um centro de reciclagem, demonstrado na Figura 9 abaixo, e uma estação de transferência. Todo dia, cerca de 800 caminhões depositam 3.000 toneladas de lixo doméstico e restos de poda de jardins na estação de reciclagem. E outros 400 caminhões trazem cerca de 1.500 toneladas de lixo de construção de 18 municípios da região. O uso excessivo do aterro Hiriya, devido à rápida urbanização de Tel Aviv e da região metropolitana, criou problemas de drenagem e contaminação das correntes de água, além de aumentar o biogás tóxico. Figura 9 - Centro de Reciclagem. Fonte: ArcoWeb, 2015. Agora, o biogás não apenas está sendo tratado, mas também está sendo enviado a uma cidade próxima para uso como energia verde. Esse gás estava aprisionado entre camadas de lixo. Para reduzir a formação de gás decorrente de anos de acúmulo, 80 poços foram perfurados na montanha para bombear o gás e enviá-lo à cidade de Azor, onde é transformado em energia verde. Outra inovação é a utilização da água da chuva para hidratar o solo por meio de um aquífero artificial construído pela equipe do parque dentro da montanha, permitindo o ressurgimento da vegetação natural. Através de várias camadas protetoras, a equipe criou um corpo de água limpo (Figura 10) e sem poluentes que é usado para irrigar o parque, em um processo que Levi chama de “restauração ecológica”. O parque continuará se expandindo até 2020, com a previsão de mais atrações recreativas e turísticas. Esse novo “pulmão verde” do centro de Israel oferecerá muitos observatórios, com vista panorâmica da linha do horizonte em Tel Aviv, além de lojas e atividades a serem abrigadas pelo parque no futuro. Figura 10 - Corpo de água do aterro de Tel Aviv. Fonte: ArcoWeb, 2015. 7. CONCLUSÕES O impacto ambiental do solo e das águas subterrâneas oriundos do descarte irregular de resíduos, produto da sociedade contemporânea; do processo de industrialização e urbanização representam risco à saúde pública e aos ecossistemas. Esse problema, que não se restringe aos aspectos ambientais e de saúde, pois possui um viés urbanístico tem desafiado o poder público e a própria sociedade na busca de soluções que garantam a revitalização de áreas degradadas, possibilitando seu reuso seguro. A Lei nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), constitui-se em instrumento essencial na busca de soluções para um dos mais graves problemas ambientais do Brasil, o mal destino dado aos resíduos sólidos, impondo a necessidade premente de substituir os lixões a céu aberto por aterros sanitários como medida de proteção ambiental. Neste sentido, as intervenções e as prioridades de recuperação/reabilitação de um aterro dependem das características geo-física- químicas específicas do aterro, do histórico de disposição dos resíduos, e dos aspectos sócio-político das comunidades lindeiras do aterro. A gestão integrada e participativa dos órgãos responsáveis pelo aterro e a comunidade diretamente afetada pela sua presença é fator fundamental para a obtenção e manutenção de bons resultados. Programas de educação ambiental contribuem de forma relevante e devem abranger todos os indivíduos da região que utilizam o aterro. Sabendo das dificuldades financeiras que se encontram a maioria dos municípios brasileiros, é necessária também a adoção de alguns instrumentos econômicos para viabilizar a recuperação desses lixões e aterros previstos em lei. Os instrumentos podem incluir: ICMS ecológico, créditos para reciclagem, taxas de lixo e imposto sobre produtos não recicláveis. Existe uma grande carência de estudos e trabalhos sobre recuperação/requalificação de áreas degradadas por disposição de resíduos sólidos urbanos, voltados, sobretudo, à capacitação técnica e conscientização da sociedade. Nesse contexto, o presente trabalho busca contribuir para a consolidação do tema, com o intuito de colaborar para conscientização sobre elementos voltados a melhoria da qualidade urbana das cidades e, consequentemente, da qualidade de vida dos cidadãos. REFERÊNCIAS AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DA PREFEITURA DE CURITIBA. Aterro da Caximba recupera biodiversidade. Disponível em: <http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/aterro-da-caximba-recupera- biodiversidade-e-vira-referencia-ambiental/31341>. Acesso em: 31 mai. 2019. ALBERTE, ELAINE PINTO V. CARNEIRO, ALEX PIRES. KAN, LIN. Recuperação de áreas degradadas por disposição de resíduos sólidos urbanos. Diálogos & Ciência –- Revista Eletrônica da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Feira de Santana. Ano III, n. 5, jun. 2005. ARCH DAILY. Transformação de aterros sanitários em parques. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/904840/a-transformacao-de-aterros- sanitarios-em-parques>. Acesso em: 30 mai. 2019. ÁREAS VERDES DAS CIDADES. Parques que recuperaram áreas contaminadas. Disponível em: <https://www.areasverdesdascidades.com.br/2016/10/visite-7-parques-que- recuperaram-areas.html>. Acesso em: 01 jun. 2019. CATRACA LIVRE. Tel Aviv transforma aterro sanitário em Ecoparque. Disponível em: <https://catracalivre.com.br/parceiros-catraca/quem-inova/tel- aviv-transforma-aterro-sanitario-em-ecoparque/>. Acesso em: 30 mai. 2019. CURITIBA. Projeto do bairro novo da Caximba. Disponível em: <http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/projeto-do-bairro-novo-da-caximba-e- apresentado-ao-ministerio-publico/50027>. Acesso em: 31 mai. 2019. ECODEBATE. Implantação de parques públicos em áreas que abrigavam lixões ou aterros exige análise de contaminação. 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