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Introdução ao Direito UNIDADE 1 1 UNIDADE 1 - NOÇÕES DO DIREITO DICIPLINA: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO Para início de conversa Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a primeira Unidade desta disciplina. Espero que esse e os demais conteúdos colabore com o seu crescimento acadêmico e que você possa acumular uma boa bagagem para que num future bem pr´ximo seja utilizado. Preparado? Então vamos lá! Antes de começarmos nosso estudo, é importante ressaltar o fato de que o Direito sempre esteve ao nos- so redor. Contudo, o que se pretende mudar é a sua compreensão do que é o Direito e a importância do mesmo para nosso convívio social, pessoal e principalmente profissional. Nesta primeira unidade nossos objetivos serão bastante simples, já que a nossa primeira meta é simplesmente entender o que é, de onde vem e como funciona o Direito. Orientações da Disciplina A princípio, analisaremos o conceito, origens, simbologia e a ciência do Direito. Em seguida, estudaremos o Direito em relação à moral e à justiça, completando esta etapa inicial dos nossos estudos. Mais adiante, separaremos e classificaremos o Direito, para que sua compreensão seja mais clara. Em seguida, deter- minaremos quais são as fontes do Direito, verificando quais são as formas nas quais ele se apresenta. Ao final desta primeira Unidade, verificaremos a funcionalidade da lei, entendendo como ela surge, produz efeitos e deixa de existir em nosso sistema. Ao final desta primeira unidade, vocês deverão ter a capacidade de compreender o fenômeno jurídico com outros olhos, separando a norma jurídica de outras espécies normativas, e entendendo a importância do Direito para o convívio em sociedade. Deverão saber classificar os diversos ramos do Direito, aplicando as principais teorias para tanto, e entendendo a importância deste processo classificatório. Entenderão as diversas fontes do Direito e como funciona uma lei no Brasil, concluindo assim esta primeira fase, de compreensão das primeiras noções de Direito. Tudo isto dentro de uma perspectiva crítica e construtiva, onde outros conhecimentos oriundos de outras disciplinas (como a filosofia e a história) auxiliarão nosso desenvolvimento. Palavras do Professor Desde já faço algumas recomendações. A primeira unidade, é a mais importante, é de que vocês devem ler todo o material de apoio, o que inclui principalmente o livro organizado por Ricardo Glasenapp, Intro- 2 dução ao Direito, disponível na biblioteca virtual Pearson. Em seguida, que vocês utilizem todo o apoio disponível para tirar quaisquer dúvidas que surjam. E, para concluir, que entretenham-se neste processo, já que o estudo do Direito pode ser bastante prazeroso quando feito da forma certa. O DIREITO, A MORAL E A JUSTIÇA. Origens do Direito Por que não começar pelo início, pela origem deste fenômeno chamado de Direito? Assim, pode-se dizer que o Direito como um sistema de comandos já existe desde o início da humanidade. Contudo, hoje quando falamos em Direito, aplicamos a ideia de que o mesmo trata-se de um conteúdo racional que busca a melhor forma do agir humano. Portanto, essa forma de pensar em Direito tem origem na Grécia e desenvolve-se durante os séculos até a forma atual. O mérito de construir pela primeira vez um sistema de normas de natureza racional, que indicava a forma correta da conduta humana, cujo cumprimento en- tendia-se como justiça e o descumprimento deveria ser punido, é dos gregos antigos. Leitura complementar Hoje já vemos como Direito a norma que vem do Estado decorrente de seu processo democráti- co. Para melhor entendermos esta construção de origem grega, recomendo a leitura do referi- do artigo: www.tjrs.jus.br O Direito, a Moral e a Justiça. a) Conceito de Direito Caro(a) aluno(a), o Direito pode ser visto por diversos ângulos: como poder/faculdade; como norma; como sinônimo de justiça; ou como uma ciência. Contudo a resposta não será simples quando se pergunta o que é Direito? Existem várias definições para o que seria Direito. Vamos listar algumas destas? § Segundo Ricardo Glasenapp, em nosso material de apoio: O Direito é a expressão da ordem jurídica da sociedade, formada por um conjunto de normas jurídicas (leis escritas) que regulam as relações sociais. Essas normas são gerais, abstratas e obrigatórias, isto é, aplicam-se a todos, com base no princípio da igualdade (“todos são iguais perante a lei”), e aqueles que não as obedecer estarão sujeitos a sanções legais – impostas pelo Estado através dos órgãos e autoridades competentes. 3 § Segundo Tércio Sampaio Ferraz Jr., um dos grandes nomes da teoria do Direito: § Segundo Maria Helena Diniz, em seu Compêndio de introdução à Ciência do Direito: A ciência jurídica é uma ciência social normativa, por tratar da conduta recíproca dos homens, não como efetivamente se realiza, mas como ela, determinada por normas, deve realizar-se. Mas o Direito é uma Ciência? Maria Helena Diniz acredita que sim. Para melhor compreendermos esta resposta sugiro o artigo do quadro abaixo: Visite a Página O que você acha em fazer uma visita a este endereço? http://www.terciosampaioferrazjr.com.br/?q=/publicacoes-cientificas/13 São sobre os imperativos acabados, decrito por Tercio Sampaio Ferraz Junior. Atenção! Esse texto é de dificil compreensão mas é muito interessante, caso precise fale com seu tutor, ele pode lhe ajudar. Vamos continuar? b) Direito e Moral Antes de seguirmos com o nosso estudo, devemos fazer uma pontuação importante. A norma jurídica não é o único tipo de norma do nosso convívio social. Se pensarmos bem, existem diversos protocolos que cumprimos que não estão postos em nenhuma lei mas são tão socialmente exigidos quanto aqueles que estão na lei. Assim, falamos em tipos de norma, como as normas jurídicas, as normas morais, as normas religiosas e de trato social. O Direito se define como um imperativo acabado e dado antes do caso concreto ao qual ela se aplica. Assim o Direito seria um sistema de controle de comportamento, que existe para impor um comporta- mento, que nem sempre seria o natural do ser humano. O artigo do link abaixo refere-se a um artigo escrito pelo prof. Dr. Reis Friede para a revista online Di- reito e Liberdade. Nele se analisa a posição majoritária da doutrina que entende que o Direito pode ser visto como uma ciência autônoma. Nele se aborda o conceito de ciência, a classificação binária das ciências e a clas- sificação da Ciência do Direito. Texto recomendado para se entender o Direito também como Ciência. http://www.esmarn.tjrn.jus.br/revistas/index.php/revista_direito_e_liberdade/article/view/357 4 § Normas Jurídicas: são aquelas que, uma vez produzidas pelo Estado Brasileiro dentro do procedi- mento legítimo que a nossa constituição impõe, são impostas com a ameaça de punição para quem a descumprir (é a possibilidade de coerção). § Normas Morais: são as normas que vêm da compreensão e do convívio social informando como devemos ou não agir. Tratam-se de obrigações que impomos para nós mesmos, com universalidade e incondicionalidade. Contudo, o seu descumprimento não gera uma punição do Estado de Direito, mas apenas da sociedade de onde emana a norma. § Normas Religiosas: são os dogmas impostos por cada religião. Via de regra são normas reveladas e incontestáveis, cujo descumprimento ocasionará em uma sanção divina. § Normas de Trato social: são as normas do bom convívio, como as de etiqueta. O seu descumprimento gera o mal-estar daqueles que convivem socialmente com seu transgressor, sem demais sanções. Guarde essa ideia! Caro(a) estudante, já se pode notar que quem cria a norma é responsável pelo seu cumprimento e por repreender seu descumprimento. Correto. Vamos continuar ! c) Comparativo entre a norma jurídica e a Moral: NORMA JURIDICAMORAL Produzida pelo Estado(heterônoma) Produzida pelo convívio social(autoproduzida) Representa um valor defendido pelo Estado Representa um valor social presente no senso comum Busca a justiça Busca aperfeiçoar o ambiente social Fundada no poder soberando do Estado e sua força imperativa Fundada nos valores e costumes Seu descumprimento gera o dever do Esta- do de punir o transgressor Seu descumprimento não gera sanção for a do ambiente social Com isso podemos concluir que, segundo Jellinek, o Direito corresponde ao mínimo ético ou seja, disci- plina aquilo que é necessário para o convício social. Apesar da moral disciplinar essa convivência, a sua possibilidade de transgressão faz com que seja necessária a norma jurídica para garantir esse mínimo exigido para o bom convívio social. 5 Direito e Justiça O que é justiça? Para que você possa entender melhor, assista ao vídeo abaixo, espero que ele lhe ajude a entender al- gumas coisas. https://www.youtube.com/watch?v=TPj5T3nTXxk Dica! Importante! Entender o que é justiça não é uma tarefa fácil. Para aqueles que desejam aprofundar o tema com uma leitura interessante, recomendo o livro Leitura do autor Michael Sandel, professor da Universi- dade de Harvard, chamado Justiça: o que é fazer a coisa certa da editora Civilização Brasileira. Também recomendo assistir a entrevista do autor nos links abaixo: http://https//www.youtube.com/watch?v=ZV76V-C0_BE http://https//www.youtube.com/watch?v=_uHBAMD-EBM JUSTIÇA ARISTOTÉLICA: A definição de justiça aristotélica é uma das mais utilizadas, devido a sua natureza classificatória. Aristóteles, no Livro V da Ética a Nicômaco, determina: “A justiça é a forma perfeita de excelência moral porque ela é a prática efetiva da excelência moral per- feita. Ela é perfeita porque a pessoa que possue o sentimento de justiça pode praticá-la não somente a si mesma como também em relação ao próximo. O justo nesta acepção é, portanto o proporcional, e o injusto é o que viola a proporcionalidade. Neste último caso, um quinhão se torna muito grande e outro muito pequeno, como realmente acontece na práti- ca, pois a pessoa que age injustamente fica com um quinhão muito grande do que é bom e a pessoa que é tratada injustamente fica com um quinhão muito pequeno. No caso do mal, o inverso é verdadeiro, pois o mal maior, já que o mal menor deve ser escolhido em preferência ao maior, e o que é digno de escolha é um bem, e o que é mais digno de escolha é um bem ainda maior.” Leitura complementar Que tal fazer uma leitura complementar? Como um apoio, recomendo a leitura do artigo abaixo, escrito por Evanna Soares que explica de forma detalhada o que é a justice Segundo Aristóteles. http://servicos.prt22.mpt.mp.br/artigos/trabevan19.pdf Espero que goste. 6 RAMOS DO DIREITO A. Direito Positivo e Direito Natural B. Direito Público e Privado Caro(a) aluno(a)A ideia da divisão do Direito em áreas de atuação não deve ser vista como um grande mistério, já que de fato é bastante simples. O Direito não pode ser visto exclusivamente como algo indi- visível, nem que comporta-se em todas as suas partes da mesma forma, já que ele é em si um fenômeno que precisa atuar nas mais diversas áreas sociais. Portanto, é necessário que façamos a sua análise em partes para que possamos entender como cada parte dele funciona. A primeira divisão expressiva é aque- la que separa o Direito Público do Direito Privado. Dicas! Fica a dica, a palavra ramo, que nos remete ao crescimento de uma trepadeira, indica que o Direito desen- volve-se em áreas diferentes e que vai comportar-se de forma diferente em cada uma destas áreas. Em especial, divide-se o Direito em Público e Privado. Direito Público Direito Privado Para os romanos É aquele dos negócios romanos, que diz respeito ao Estado É o que disciplina os interesses do particular Para Savigny O todo aparece como finalidade da norma O direito é meio para a existência das relações entre particulars(ou iguais) Para Jellink Regula as relações onde existe o jus imperium do Estado Regula relações entre indivíduos, em situação de igualdade Para Golfredo Teles Jr. Direito de subordinação – hier- arquia/verticalidade Direito de coordenação – igualdade/ horizontalidade Para Maria Hel- ena Diniz Organiza as relações onde o Esta- do é parte, regendo a Organização e atividade do Estado considerado em si mesmo, em relação a outro Estado e em suas relaçõescom par- ticulars, quando procede em razão de seu poder soberano e atua na tutela do bem coletivo Disciplina as relações entre partic- ulars, nas quais predomina, de for- ma imediata, o interesse da ordem privada. Existem várias formas de fundamentar esta divisão do Direito em áreas, ou ramos, como se vê abaixo: 7 Uma vez feita esta definição, podemos começar a nossa etapa classificatória. Ramos do Direito Público: Interno: regula o funcionamento do Estado Brasileiro, determinar a estrutura de limitações da ação do Estado e impõe condutas normativas obrigatórias. Constitucional: representa a estrutura política vista pelo Direito e funciona como ponto de partida para todo o sistema jurídico: § Regula a estrutura básica do Estado; § Separa os poderes; § Institui a República Presidencialista e o Federalismo; § Determina as garantias fundamentais. Administrativo: determina as normas que regem o funcionamento do aparato administrativo do Estado: § Explica quem é a Administração Pública, dividindo-a em setores; § Limita a esfera de ação estatal nas suas diversas áreas de atuação; § Institui os serviços públicos; § Regula a atividade econômica do Estado; § Determina o poder de polícia da administração, trazendo segurança pública (na Atuação do Estado), fiscalização, conservação e controle dos bens públicos. Tributário: responsável pelo sistema normativo que regula a atividade tributária (fiscalização, institu- ição e arrecadação de tributos): § Distingue as espécies tributárias; § Regula os limites constitucionais da atividade tributária; § Interfere na atividade econômica do Estado e alimenta o sistema financeiro; § É responsável pela contribuição financeira do cidadão para o custeio da administração do Estado. Financeiro: institui o sistema de arrecadação e gastos públicos: Determinações sobre o Banco Central e o Sistema Financeiro Nacional; Institui a série de regras responsáveis pela formação e execução do orçamento público. Ramos processuais: determinam a ritualística que dá acesso ao Poder Judiciário: § Processo Civil; § Processo Penal; § Processo Trabalhista; § Processo Administrativo; § Outros processos. 8 Direito Penal: regula a atividade punitiva do Estado, capaz de interferir na liberdade individual. § Institui os crimes e contravenções; § Determina as penas; § Tem função preventiva e repressiva. Direito Previdenciário: conjunto de normas que regulam o sistema do seguro previdenciário contido no sistema da seguridade social. § Regula as contribuições; § Disciplina os benefícios. Externo: consiste no conjunto de normas criadas entre os países, no sistema internacional, regendo esta interação entre entes soberanos. Direito Internacional Público: regula as relações entre Estados Soberanos, disciplinando os tratados e demais fontes do Direito Internacional. Direito Comunitário: No Brasil refere-se ao Direito do MERCOSUL, decorrente do processo de inte- gração regional do cone sul. Direito Internacional Privado: disciplina o estrangeiro no território brasileiro e dos conflitos entre nor- mas com origem em países diferentes. Ramos do Direito Privado: Direito Civil: também visto como Direito Privado Geral, dos quais seus próprios ramos e demais ramos privados são vistos como especializações. Divide-se em: Parte Geral: § Pessoas;§ Bens; § Negócios jurídicos. § Obrigações; § Contratos; § Coisas; § Família; § Sucessões. Direito Empresarial (ou Direito Comercial): explica a criação de sociedades empresariais, personalidades jurídicas com fins lucrativos, sua regulação e os atos empresariais. 9 Direito do Consumidor: disciplina da relação que se estabelece entre as diversas formas de fornecedor e consumidor, equilibrando esta relação. Destaca-se do Direito Civil devido ao desequilíbrio natural exis- tente entre quem consome e quem fornece o bem ou serviço. Direito Social ou do Trabalho: nem sempre visto como parte do Direito Privado devido a grande inter- venção do Estado Brasileiro nesta área, disciplina as relações de emprego entre empregado e empregador. Caro(a) aluno(a), os ramos processuais são todos parte do Direito Público, já que estipulam a série de regras e procedimentos da provocação do poder judiciário. O Direito Constitucional pode ser visto como Direito Público Geral, tal como o Direito Civil pode ser visto como Direito Privado Geral. O Direito do Tra- balho pode ser visto como ramo do Direito Social, mas este posicionamento é minoritário. Já o Direito Internacional, muitas vezes criticado como Ramo do Direito, apesar de ser Direito Público, trabalha com cooperação entre soberanias, fazendo com que suas normas sejam produzidas como várias do Direito Privado, apesar de sua situação como Direito Público. Direito Objetivo e Direito Subjetivo Lembram-se que disse que o direito pode ser entendido melhor se o dividirmos? Pois é, este processo de classificações e divisões do fenômeno jurídico ainda não acabou. Uma das mais complexas divisões é a que separa o Direito Subjetivo do Direito Objetivo. Pode-se dizer que as duas classificações apontam para dois lados de uma mesma moeda. Uma vez que existe Direito ele poderá ser visto de uma ou outra forma. O Direito Objetivo verifica a norma enquanto prescrição, de forma objetificada, enquanto corpo de leis, por exemplo. Esta visão busca uma análise abstrata da norma, verificando-a enquanto sistema ou conjunto. Este grupo tem validade no sistema, sendo a matéria do comando do Estado. O Direito Subjetivo verifica a norma enquanto faculdade do agente, vinculada à pessoa à quem se destina a norma. É o Direito concretizado, determinando o que um sujeito (eis o nome subjetivo) tem ou não fac- uldade de fazer. A sua fundamentação estaria no Direito Objetivo. Fique atento pois, não existe oposição entre os dois sistemas, mas sim complementariedade. São literal- mente, dois lados de uma mesma moeda. FONTES DO DIREITO O que é uma fonte? A fonte deve ser vista como o nascedouro de algo, o local de onde algo provém ou, de forma mais simples, sua origem. Já sabemos que o Direito é um conjunto de normas prescritivas que regem o agir humano, pois bem, resta-nos determinar de onde vem este Direito – portanto o estudo de suas fontes. Quando pensamos de forma simples, como leigos, já identificamos que a Lei é Direito e que a mesma vem da sua produção dentro da estrutura de separação de poderes (Congresso Nacional e Presidente, por exemplo). Contudo, apesar dessa simplificação não ser incorreta, a mesma não consegue atingir a complexidade que buscamos quando identificando de onde vem o Direito. 10 Guarde essa ideia! Vejamos como Tércio Sampaio Ferraz Jr. faz esse mesmo questionamento em sua obra de Introdução ao Estudo do Direito: A própria teoria das fontes do direito implica reconhecer que o direito não é um dado posto e sim uma construção humana. Dessa forma, cria-se um problema teórico, já que o reconhecimento do direito como uma construção cultural humana não exclui seu aspecto formal posto, ou seja, a matéria-prima do direito não se confunde com a própria obra. Meu caro(a), nesse questionamento verifica-se a preocupação em separar o formal do material, ou seja, a matéria da forma. Neste momento devemos recorrer à uma simples analogia, pensem em cubos de gelo. A matéria é a água, a forma é o recipiente onde a água se congelou. Ficou claro? Sem um ou o outro, o cubo de gelo não existiria do jeito que ele se solidificou. Modificando o conteúdo e a forma, teríamos outros tipos de gelo, mas não necessariamente um cubo como formou-se. Palavras do Professor Agora vamos pensar em como aplicaremos esta situação ao Direito. Ora, o que poderia ser visto como capaz de atribuir matéria (o conteúdo) ao Direito? Tudo o que puder ser visto como fator condicionante da norma poderá ser visto como matéria do Direito. Os valores da sociedade, como sua ideologia política e econômica, a história de um povo, todos os fatores sociais que indicam aqueles ideais mínimos de condu- ta (vistos lá em cima), podem ser considerados fontes materiais do Direito. Você sabia? Você sabia que a fonte material é a fonte REAL do Direito? Pois é, trata-se da força social criadora da norma. Não é Direito pronto, mas indica o conteúdo que esse Direito terá. Mas como essa matéria congela-se, transformando-se em Direito? Agora devemos procurar as fontes for- mais, ou seja, aqueles formatos que reconhecemos como Direito. Identifica-se a fonte formal através do processo pelo qual a matéria torna-se conteúdo reconhecido pelo Direito. Como este processo não é úni- co, compreendem-se várias fontes formais do Direito, cada qual decorrente de seu processo de formação. A princípio pode-se ver que existem dois tipos de fontes: as diretas (próprias e puras) e as indiretas (im- próprias e impuras). As primeiras são primárias e apresentam exclusivamente natureza de fonte, como a lei, por exemplo. As indiretas já têm um sentido maior, explicando e tornando as fontes diretas mais precisas. Essa classificação não tem muito sentido prático, mas auxilia na compreensão da operacional- ização dessas fontes. ??? 11 Para entendermos melhor o que são as fontes do Direito, vamos recorrer a norma que indica como todo este sistema deve funcionar: a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito Legislação: § É a mais importante fonte do Direito em nosso ordenamento; § É a regra geral, abstrata e permanente, dotada de sanção, expressa pela vontade de autoridade competente, de cunho obrigatório e forma escrita. Características gerais da lei: § Generalidade: dirigida a um número indeterminado de pessoas. § Abstração: as hipóteses que regulam aplicam-se a casos futuros concebido em abstrato, não devendo gerar efeitos pretéritos. § Permanência: seu caráter enquanto vigente é imperativo e permanente. Havendo ocorrido um fato em determinada época, aquela lei deverá sempre ser aplicada àquele. § Existência de sanção: deverá prever consequências deontológicas do eventual descumprimento do dever jurídico. § Origem competente: CF/88 art. 59-69. É o ato legislativo emanado dos órgãos de representação pop- ular e elaborado de conformidade com o processo legislativo previsto na CF. § Obrigatoriedade: a ausência de força indicaria uma verdadeira desmoralização. § Registro escrito: garante a sua divulgação e estabilidade. Tem a publicação como ato necessário para sua validade. Classificação: Ø Quanto à permissibilidade § Impositivas: não permitem atuação diversa daquela posta em lei. São de observância obrigatória. § Dispositivas: são aplicadas caso não haja manifestação de vontade em sentido contrário pelas partes. Ø Quanto à sanção § Perfeitas: simplesmente anulam o ato. 12 § Mais que perfeitas: anulam o ato e preveem sanções. § Menos que perfeitas: apenas sanção. § Imperfeitas: não preveem sanção nem nulidade do ato. Ø Quanto à origem e extensão territorial § Federais. § Estatais. § Municipais. § Distritais. Ø Quanto à permanência § Permanentes: sem prazode vigência. § Temporárias: prazo de vigência pré-determinado. Ø Alcance • Gerais. • Especiais. • Excepcionais. • Singulares. Ø Hierarquia no sistema nacional § Constituição. § Leis Infra-constitucionais. § Lei Complementar. § Lei ordinária. § Decretos legislativos. § Medidas provisórias. § Resoluções do Poder Legislativo. § Leis delegadas. § Decretos-leis. § Decretos regulamentares. § Normas internas. Costume § Definição: é o uso geral, constante e notório, observado socialmente e correspondente a uma neces- sidade jurídica. Ø Requisitos de existência § Objetivo (substancial): uso continuado da prática no tempo. § Subjetivo (relacional): a convicção da obrigatoriedade da prática como necessidade social. Ø Formas § Praeter legem: disciplina ou complementa a lei. § Secundum legem: costume cuja eficácia fora reconhecida posteriormente pela lei. 13 § Contra legem: “revolta dos fatos contra os códigos”. § Apenas em casos de desuso de regras legais. Ex. anulação por defloramento anterior da mulher (art. 176 §1º do CC-16) Ø O costume deve ter § Uniformidade: sempre existir da mesma forma. § Diuturnidade: ter longa duração. § Moralidade: não contrariar a moral e os bons costumes. § Obrigatoriedade: sempre ser visto como prática obrigatória. Jurisprudência § Definição: é o conjunto de reiteradas decisões dos tribunais sobre determinada matéria. É a complexa reunião de julgados, e não cada um isoladamente. Sua finalidade é adequar o sistema a nova reali- dade social. Foi assim que a Constituição Federal Americana sobreviveu tanto tempo. § Diferencia-se a jurisprudência como sinônimo da ciência do direito desta fonte do direito. Doutrina § É a opinião dos Doutos, dos cientistas do Direito, conhecidos como juristas. No civil law não chega a ser fonte expressa ou dominante, entretanto na tradição de direito comum um parecer de um jurista famoso poderá ser peça chave em um caso. § Serve como base de orientação para a interpretação do direito, trazendo significados para conceitos jurídicos indeterminados, como por exemplo: justa causa, mulher honesta, etc. Analogia § Forma típica de raciocínio onde se estende fatos próprios de uma norma às situações não determina- das pela mesma porém semelhantes as quais não haviam a princípio sido estabelecidas. Ø Tipos § Legis: quando, inexistente norma para o caso, aplica-se outra norma legal semelhante. § Júris: quando se aplica princípio geral do direito a caso que antes não se aplicaria. Equidade § Aplica-se apenas quando autorizado pela norma legal ou quando surge lacuna legal. § É a justiça do caso concreto, que depende da concepção do juiz sobre aquela situação material. 14 Princípios gerais do direito § Postulados que fundamentam todo o sistema jurídico, não tendo correspondência positiva equiva- lente. Podem ser, inclusive, os preceitos romanos, como Res perit domino suo. Visite a Página As decisões mais importantes dos nossos tribunais são aquelas que vêm do STF (Supremo Tribunal Federal). Para encontrar estas decisões basta acessar o link abaixo e efetuar a sua Busca: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp A LEI: SEU USO Caro(a) estudante, antes de começarmos a falar na lei, devemos falar em uma lei específica: a Lei de In- trodução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). Essa lei é responsável pela orientação do uso da lei no sistema jurídico brasileiro. É uma lei sobre leis (ou meta-direito). Nela encontram-se todas as disposições sobre a aplicabilidade e vigência das leis no Direito Brasileiro. Dicas Fica da Dica, toda a coleção de leis do Brasil encontra-se disponível no sítio virtual do Planal- to, em: http://www2.planalto.gov.br/ , no link LEGISLAÇÃO. Além disto, recomendo a leitura, mesmo que superficial, da LINDB, disponível no seguinte link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm Vamos estabelecer agora um breve glossário, complementar ao presente no livro de Introdução ao Direito de Ricardo Glassenapp (disponível na Biblioteca Virutal) para auxiliar nossa compreensão desta matéria: Quanto à existência da lei no tempo: § Publicação: ato oficial onde a lei aprovada aparece no diário oficial de quem a aprovou (ex. No Diário Oficial da União). § Vacatio Legis: período de adaptação entre a publicação e a produção de efeitos da lei. Salvo dis- posição em contrário, 45 dias após sua publicação (90 para os efeitos fora do país). § Vigência: período em que a norma produz efeitos. Ocorre depois do vacatio e antes da sua revogação. § Revogação: momento em que a lei perde seu potencial de produzir efeitos. Geralmente decorre do surgimento de nova lei que a revogou. 15 Quanto ao uso da lei: § Aplicabilidade: possibilidade de ser utilizada de ser aplicada. § Eficácia: capacidade de gerar efeitos, potencialidade. § Efetividade: depende da eficácia jurídica; é a realização de fato da norma constitucional. Con- funde-se com a ideia de eficácia social. Quanto à adequação da lei: § Válida: lei que foi produzida de acordo com as determinações do sistema, descritas na Constituição Federal. § Nula: lei que não é válida, que contém vícios, e por estar em desacordo com a constituição deverá ser retirada do sistema (inconstitucional). Conceito de Lei Em sentido amplo: a lei deve ser entendida como qualquer ato normativo escrito que venha dos poderes executivo e legislativo, como portarias, decretos ou até a própria constituição. Em sentido estrito: a lei é a produção normativa que vem de um processo chamado de processo legis- lativo, onde depois da iniciativa legal (apresentação da proposta) as duas casas do Congresso Nacional (Senado e Câmara dos Deputados) deliberam e votam, submetendo o resultado positivo ao Presidente da República para Promulgação (resultado positivo) ou Sanção (resultado negativo). Você sabia? Você sabia que existem leis ordinárias e complementares? Não há diferença entre as duas, exceto o fato de que a matéria das leis complementares é determinada na Constituição Federal (chama-se de matéria reservada) e seu quórum de aprovação nas casas legislativas (ordinária: de acordo com a maioria dos presentes → maioria relativa; complementar: de acordo com a maioria total → maioria absoluta) Aplicação da Lei no tempo e no espaço: § Obrigatoriedade. § Continuidade. § Irretroatividade. § Territorialidade. § Extraterritorialidade. § Territorialidade moderada. ??? 16 Leitura complementar Sugiro que você leia algumas informações no endereço abaixo citado, fala sobre a interpre- tação, aplicação e a integração das leis, recomendo a leitura dos textos abaixo. Eles trazem diversos fundamentos para a compreensão histórica e moderna deste processo. http://www.uff.br/direito Palavras do Professor Para concluir esta primeira etapa do nosso guia de Estudos, peço que você agora leia este artigo (link abaixo), que de certa forma aproxima vários dos elementos que trabalhamos aqui, desde o Direito como Ciência, como a interpretação do Direito dentro de sua natureza estrutural. http://www.scielo.br/pdf/his/v28n2/09.pdf Bons estudos e até a próxima aula!