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Descoberta do Nordeste e a Pobreza no Brasil

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BUARQUE, Cristovam. Nordeste: quinhentos anos de descoberta. 1983. P.371-393.
“O Brasil foi descoberto no nordeste. Não apenas porque foi na Bahia que aconteceu o primeiro encontro que formaria o Brasil. Sobretudo porque foi no nordeste, em Pernambuco, que o novo país se consolidou como produtor de bem que exigia colonização permanente.” (Pág. 372)
“Durante a maior parte da historia do Brasil, três séculos, a fortuna brasileira se concentrou na região nordeste. [...] Foram necessários alguns séculos para que novos polos de desenvolvimento o sucedessem.” Pág.(372)
“A decadência relativa do nordeste, em relação ao Rio de Janeiro e a São Paulo, não o transformou de imediato, em uma região pobre. A economia nordestina manteve seu dinamismo. O nordeste deixou de ser o centro do país mas não era ainda um problema.” (Pág. 372)
A DESCOBERTA DO NORDESTE PELO BRASIL.
“No final do século XIX o Brasil descobriu o nordeste como um problema. [...] Um problema visto como consequência da estiagem, produto da natureza, como se o nordeste sempre tivesse sido condenado a essa situação de atraso e penúria.” (Pág. 372)
“Quando a natureza não “colabora” as técnicas de engenharia são o recurso para superar as dificuldades, foi essa a solução buscada [...] E essa tarefa coube ao DNOCS, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Durante décadas foi essa a solução buscada e durante décadas ela não foi encontrada. O trabalho do DNOCS em nada mudou a situação de nítida penúria de uma parte considerável da região nordestina. Foi necessário muito tempo para que uma nova concepção surgisse. No lugar da engenharia, a economia, saía a DNOCS, entrava a SUDENE. “ (Pág. 373)
“A SUDENE partiu de uma analise revolucionaria no entendimento do problema nordestino: ele era econômico e social. Suas raízes não estavam na falta de agua, mas na falta de poupança.” (Pág. 373)
“Esse órgão representou a mis importante consideração do país pelo nordeste, seu maior e mais consistente esforço para reduzir a desigualdade regional.” (Pág. 373)
“Tudo isso durou pouco tempo. As mudanças politicas de 1964, com a revisão do projeto brasileiro, provocaram um desvio radical no projeto as SUDENE para o nordeste.” (Pág. 374)
A DESCOBERTA DO NORDESTE NO BRASIL.
“ Até 1964, portrás do projeto daSUDENE estava um modelo distributivista no Brasil. Desde 1930, a industrialização era vista como desconcentrador da renda na sociedade. [...] O golpe militar provocou uma mudança de rumo. No lugar da preocupação regional ou social a atenção foi totalmente dirigida para o aumento mais rápido da produção. Da maneira mais concentrada possível.” (Pág.374)
“Pouco a pouco os recursos foram sendo deslocados, o planejamento foi abandonado e, ainda mais grave, os recursos do nordeste passaram a ser utilizados muito mais como forma de dinamizar a indústria de equipamentos de São Paulo do que a de bens de consumo do nordeste. Os incentivos se transformaram em um sistema de transferência de renda muito mais para os centros já desenvolvidos e apara as populações ricas do que para o nordeste e sua população pobre.” (Pág. 375)
A DESCOBERTA DO BRASIL PELO, NORDESTE.
“O problema do desenvolvimento nordestino deixou de ser um assunto de subdesenvolvimento da região: é um assunto de desenvolvimento errado de todo o país.” (Pág. 376)
“No lugar de o Brasil descobrir o nordeste, o Brasil precisa ser descoberto por seu lado nordestino de pobreza e,a partir daí, desenvolver novas politicas de combate a essa situação.” (Pág.376)
A DESCOBERTA DO BRASIL NORDESTINO.
“Um dos exemplos do equivoco da logica da economia no enfretamento da pobreza esta no tratamento dado ao assunto da desigualdade regional, no Brasil.” (Pág. 378)
“O caso nordestino é um exemplo do problema da pobreza e não da falta de desenvolvimento. O problema do nordeste não é o subdesenvolvimento, mas a concentração da pobreza em níveis maiores do que o resto do país.” (Pág. 378)
A DESCOBERTA DO ENTENDIMENTO DA POBREZA.
“Como no mundo, o Brasil e o nordeste tiveram um surpreendente desenvolvimentotécnico e econômico e construíram sociedades nacionais e regionais absolutamente divididas, apartadas. No Brasil, como no nordeste e no mundo, o século XX representa o êxodo técnico e o fracasso étnico.” (Pág. 383)
“Toda teoria econômica das universidades brasileiras, como as politicas de desenvolvimento regional do nordeste, concentrou-se no tema do aumento da riqueza ignorando os caminhos para a redução da pobreza.” (Pág. 385)
“A luta contra a pobreza tem que ser feita com óptica social e não econômica. É deixar de ver a redução da pobreza como consequência do aumento da riqueza ou mesmo como resultado de uma melhor distribuição de renda, que não beneficia os realmente pobres porque só ocorre entre os que estão incluídos no setor moderno do processo produtivo.” (Pág. 386)
“A luta contra a pobreza no nordeste e no Brasil vai exigir dos dirigentes políticos uma feminização da lógica social: um enfoque de um novo tipo, uma logica que vá direto ao ponto.” (Pág.387)
“A erradicação da pobreza consiste em mobilizar corretamente a própria pobreza, sem paternalismo ou assistencialismo, por meio de medidas simples e baratas, capazes de ser administradas, sem necessidade de aumentar a burocracia no estado.” (Pág. 39)
ANDRADE, Manoel correia de. O capitalismo e a evolução recente da agricultura nordestina.
Capítulo 7: O capitalismo e a evolução recente da agricultura Nordestina.
7.1- O ESTADO E CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA EMPRESARIAL NO CAMPO.
 “Optando por um sistema de economia capitalista, os governantes que dirigiam o país nos últimos vinte anos procuraram transferir para as atividades agrícolas o sistema de administração de empresas, já dominantes no setor industrial e comercial.” (Pág. 194)
“Poder-se observar ter havido no nordeste uma consolidação do latifúndio, classificado pelo Instituto Colonização Agraria (INCRA) como de “explotação” , isto é, sub explorado.” (Pág. 194)
“Grandes projetos agropecuários também vêm sendo financiados pelo FINOR e estimulados pelas agências de desenvolvimento SUDENE e SUDAM – visando à implantação de grandes propriedades dedicadas à pecuária extensiva nas áreas em povoamento, como o sul do Maranhão e do Piauí e o oeste da Bahia.” (Pág. 196) 
7.2- A DUALIDADE DA LEGISLAÇÃO RURAL.
“Ao analisarmos a legislação rural brasileira, observamos que há na mesma uma dualidade representada pelos dois estatutos básicos – O Estatuto do Trabalhador Rural e o Estatuto da Terra.” (Pág. 197)
 “Afastou a política da função repressiva, dando aos trabalhadores rurais, então chamados camponeses, o direito de reivindicação e de greve. Afastou a policia da função repressiva, dando aos trabalhadores rurais, pela primeira vez na historia pernambucana, condições de discutir e de reivindicar sem medo de represálias por parte dos proprietários de terra.” (Pág. 198)
“Um decreto do governo Castelo Branco que garantia ao trabalhador rural das usinas uma área de dois hectares para cultura de subsistência, por inadequado ao momento histórico e ao modelo geral em aplicação, não foi executado. [...] Daí a concentração de trabalhadores rurais nos centros urbanos, mesmo nos menos expressivos, e a oferta da mão-de-obra todos os dias pela manhã, nas praças e ruas, aos agenciadores que os procuram para prestar o dia de serviço nas propriedades.” (Pág. 199)
“Esta população marginalizada e dependente de um trabalho ocasional é também uma constante fornecedora de migrantes que se deslocam para outras áreas por tempo indeterminado a procura de trabalho.” (Pág. 199)
“O Estatuto da Terra, promulgado no governo de Castelo Branco, mas resultante ainda das pressões da base dos anos que o precederam, visava desenvolver uma política de reforma agrária e de colonização.” (Pág. 200)
“Dentro de um modelo econômico capitalista, monetarista, era natural que as diretrizes do Estatuto da Terra, procurando criar uma sociedade rural estável e com boa qualidade de vida, fossem suplantadas pela política de proletarizaçãorural não preconizada, mas facilitada pelo Estatuto do trabalhador Rural e pelas leis que o complementaram.” (pág.201)
7.3- AS IMPLICAÇÕES ECOLÓGICAS E SOCIAIS DO MODELO ECONÔMICO.
“Em face destas analises, concluímos que o modelo econômico brasileiro, feito visando desenvolver o capitalismo e destruir os modos de produção pré-capitalistas que ocorriam no campo, como modelos de produção dependentes, levaria a situação agraria a um agravamento e a situação ecológica a uma catástrofe.” (Pág. 201)
“Em uma sociedade em que coexistiam formas de exploração capitalista, visando a produção para exportação e formas pré-capitalistas, visando a produção para o auto-abastecimento do agricultor e para abastecimento da região, foi provocando um desequilíbrio. [...]Tal desequilíbrio provocou êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades, a princípio de grande porte, e, posteriormente, as de médio e pequeno porte.” (Pág. 201)
“A grilagem deterras e a violência organizada, atingindo os indígenas e os posseiros, é noticiada diariamente pela imprensa do país.” (Pág. 202)
“Além do aspecto social há ainda a considerar o grande problema ecológico, representado pela destruição desenfreada da vegetação natural e da fauna, tanto no Nordeste como na Amazônia.” (Pág.202)
“A desertificação está sendo subsidiada, sendo muito difícil, posteriormente, controlar a ação das empresas transnacionais.” (Pág. 202)
“Contribuiu também, coma mecanização, para acelerar o êxodo rural e provocar o crescimento exponencial das cidades, degradando as condições de vida a de saúde da população.” (Pag.203)