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Das Sociedades Anônimas no direito brasileiro 
 
 
Maxwell Zavanella Rosa 
Aluno do 2º ano do Curso de Direito da Unesp 
 (Franca-SP) 
 
 
Sumário: 
 
1. Introdução 
2. Características gerais 
3. Classificação e constituição 
4. Valores mobilários e o capital social 
5. Órgãos sociais e a administração da sociedade 
6. Lucros, reservas e dividendos 
7. O fim da Companhia ou sua reorganização 
8. Conclusão 
 
 
A história do comércio se confunde com a história da humanidade. Hoje 
letras e números, imprescindíveis na prática comercial, nem ainda existiam 
enquanto os homens já se organizavam para cambiar produtos de seus 
interesses. Com o evoluir típico de nossa espécie, o comércio foi sendo 
naturalmente aprimorado, assim como as sociedades. Novas necessidades foram 
surgindo, como a organização dos homens dentro da sociedade por via de regras 
que também se desenvolveram. Assim aos poucos o comércio, parte intrínseca 
das sociedades se viu legislado pelo Direito e inseparável do homem. Antes da 
formação do império Romano (que sabiamente usavam a moeda) alguns povos já 
utilizavam títulos monetários rústicos. Estes foram sendo desenvolvidas e 
vastamente utilizadas em posteriores civilizações. Na Baixa Idade Média já era 
comum a utilização de bancos e títulos de créditos. As navegações permitiram que 
os povos se comunicassem e as trocas de mercadorias, ao mesmo tempo que 
incentivaram o desenvolvimento de tal prática se viram dinamizadas, gerando 
riquezas e desenvolvimento em muitos lugares, gerando conflitos e tráfico em 
outros e, posteriormente, desbravando continentes. As revoluções industriais 
permitiram a fabricação de produtos em larga escala com a utilização de 
máquinas, e organizaram os trabalhadores em linhas de produção, que os faziam 
trabalhar de modo mais proveitoso e econômico. Os comércios e as indústrias se 
organizaram, surgiram novos investimentos e fontes de captação de recursos. 
Com esse desenvolver da economia mundial, também foram desenvolvidas várias 
teorias filosóficas, políticas e sociológicas. Umas condenando alguns modelos, 
outras dissertando sobre a importância e sua fundamental aplicação nas 
sociedades. Como foi o que aconteceu no século XIX com as idéias de Karl Marx 
que pregava um mundo dominado pelos proletários onde não se visaria ao lucro, e 
sim ao bem-estar de todos, já que todos são iguais. A verdade é que em alguns 
lugares do Mundo o Capitalismo prosperou e caiu, se perdeu em meio ao 
liberalismo e ressurgiu no que foi chamado de Estado Social e atualmente está 
ligado à uma nova tendência européia chamada de neoliberalismo. O socialismo, 
que primeiro tomou a Rússia por meios revolucionários, representou praticamente 
metade do planeta após a Segunda Guerra Mundial, mas não conseguiu se 
sustentar falindo na década de oitenta do século XX. 
O que nos chega hoje no início do terceiro milênio é um Mundo capitalista, 
com algumas poucas exceções, das quais o Brasil não faz parte. O histórico 
comercial brasileiro não é longo, visto que era uma colônia submetida aos 
interesses de seus desbravadores portugueses que daqui levaram varias riquezas 
como primeiramente o pau-brasil que deu nome a essa terra e, posteriormente, o 
ouro e os diamantes, dizimaram indígenas, promoveram trabalho escravo nas 
lavouras de cana, engenhos e minerações e muito pouco investiram em nossa 
terra. Com a independência, o Brasil se viu um país agrícola com o ciclo do café, 
movido ainda pela mão-de-obra escrava e logo em seguida imigrante. A liberdade 
dos negros veio pouco antes da República que, por sua vez, deixou para o século 
XX a industrialização de nosso país. Nesse momento a economia mundial se viu 
revolucionada por novos modos de investimento e de arrecadação de lucros. 
Tomaram força as Bolsas de Valores, permitindo novos modelos de sociedades. 
No cenário mundial, e também no brasileiro, as sociedades por ações se 
expandiram e adquiriram importância devido a sua capacidade de atrair 
investimentos para a atividade que os sócios se propunham e devido à viabilidade 
de trabalho nas mais variadas áreas. As sociedades por ações, que são duas: a 
sociedade em comandita por ações e a sociedade anônima, são partes essenciais 
da economia de qualquer país do Mundo e do funcionamento da economia 
globalizada; sendo assim, não o poderia deixar de ser no Brasil 
Mesmo tendo existido Códigos Comerciais desde o Império, o comércio em 
nosso país, assim como praticamente no Mundo inteiro é assistido pelo Direito 
sempre baseado nos costumes, na prática. Hoje o Direito Brasileiro regula o 
Comércio através do Código Civil em vigor desde 2003. Há situações em que se 
viu por necessário a implantação de legislação especial em assuntos de Direito 
Comercial, como foi o caso da Lei das Sociedades por Ações (Lei nº 6404, de 
15/12/1976). Entender melhor a sociedade anônima, dentro do Direito Brasileiro, 
será o objetivo principal deste trabalho. 
 
CARACTERÍSTICAS GERAIS 
Para muitos, parece estranho o uso do termo ‘anônima’ a este modelo 
societário pelo fato do nome (mais a frente veremos que o termo correto é 
“denominação”) da sociedade não ser oculto ou obscuro. Ao surgir, a sociedade 
anônima já tem um modo de ser chamada publicamente. A Doutrina nos explica 
que a sociedade é anônima porque assim o são seus sócios. Uma sociedade é o 
conjunto dos sócios. 
A sociedade anônima, também conhecida por “companhia”, é uma 
sociedade de capital. Os títulos representativos da participação societária, que são 
as ações, são livremente negociáveis. Não está na alçada de competência de 
nenhum acionista impedir a entrada de quem adquire ações da empresa da qual 
faz parte no quadro associativo. Com o falecimento de um acionista (hipótese esta 
que será retomada ao tratarmos posteriormente das dissoluções) naturalmente 
seus herdeiros terão acesso aos títulos da ação. Também não será cabível aos 
sucessores do acionista morto pleitear a ação dos haveres deste. 
Automaticamente este sucessor fará parte da sociedade anônima como acionista. 
De acordo com o artigo 1º da Lei da Sociedades por Ações (LSA), para a 
configuração de uma sociedade como anônima é imprescindível que seu capital 
seja dividido em ações, que normalmente são representados por títulos 
negociáveis, que podem ser objeto de compra, venda, doação, de penhor ou 
caução, de usufruto, etc. Ainda de acordo com o primeiro artigo: “a 
responsabilidade dos sócios o acionistas será limitada ao preço de emissão das 
ações subscritas ou adquiridas”, o que quer dizer que ao pagar a por inteiro suas 
ações, ao acionista não resta nenhum tipo de débito com a sociedade ou com os 
credores. Vale ainda ser ressaltada a diferença técnica entre preço de emissão 
(que é o preço pago por quem subscreve a ação, e acaba equivalendo à 
contribuição do acionista para o capital social, bem como o limite de sua 
responsabilidade subsidiária) e os termos “valor nominal”, “valor patrimonial”, 
“valor de negociação” e “valor econômico”. São os fundadores que fixam o preço 
de emissão na constituição da companhia. Caberá à assembléia geral ou ao 
conselho de administração quando se tratar de emissão de novas ações. 
Por critérios legais, a companhia será sempre empresária, mesmo que suas 
atividades sejam inteiramente de natureza civil. Os atos constitutivos devem 
sempre ser arquivados na Junta Comercial. Há também a necessidade que a 
finalidade dessa sociedade seja voltada à obtenção do lucro. Portanto as 
associações, que são instituições de natureza civil, de fins não lucrativos, estão 
impossibilitadas de se registrarem sob a designação de sociedades anônimas. O 
objeto social da companhia deve vir explicitadoem seu respectivo artigo 
estatutário de modo preciso. 
A sociedade anônima deverá sempre ser designada por denominação, 
conforme reza o caput artigo 3º da LSA. Essa denominação deve vir 
acompanhada da expressão “sociedade anônima” – cabendo abreviação e 
podendo vir em qualquer ordem – ou “companhia”, que também poderá vir na 
forma abreviada porém nunca será admitida ao final; o uso de uma exclui o uso da 
outra. O nome de algum acionista, fundador ou qualquer outra que por ventura 
possa ser homenageado poderá figurar na denominação. Aqui se pretende deixar 
claro não ser obrigatório essa prática, necessária em outros modos societários. 
Uma sociedade não pode usar denominação idêntica a de outra. Se ocorrer, 
poderá a parte prejudicada requerer o direito de modificação, seja por meios 
administrativos, seja por meios judiciais, além de demandar as perdas e danos 
resultantes. Em 1940, o decreto-lei n.2627, obrigava haver na denominação a 
indicação dos fins sociais; devido a sua inviabilidade prática, essa prática não é 
mais obrigatória. 
 
CLASSIFICAÇÃO E CONSTITUIÇÃO 
 
A classificação entre aberta ou fechada, reside na disponibilidade ou não 
dos valores mobiliários de uma sociedade por ações, no mercado de negociação 
da bolsa de valores, ou no mercado de balcão. Se a companhia admite que os 
valores mobiliários de sua emissão sejam negociados será considerada aberta; 
nos demais casos será fechada. Uma companhia ter seus valores mobiliários 
admitidos na bolsa de valores ou no mercado de balcão representará maior 
liquidez do investimento representado por tais títulos. Porém será necessária uma 
permissão prévia do governo federal para que essa sociedade esteja apta a tal 
prática. Caberá ao CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a concessão desse 
registro. É dever da CVM juntamente ao Banco Central, exercer a supervisão e o 
controle do mercado de capitais, de acordo com diretrizes traçadas pelo CMN 
(Conselho Monetário Nacional). A Bolsa de Valores é uma entidade privada, 
formada pela associação de sociedades corretoras, ela conta com monopólio 
territorial e exerce um serviço público. É o Banco Central que permite sua criação, 
e seu funcionamento é monitorado pela CVM. Já o mercado de balcão representa 
todo tipo de negociação de valores mobiliários fora da Bolsa. São comercializados 
por sociedades corretoras e instituição financeira ou sociedades intermediárias 
autorizadas. A emissão de novas ações e outras subscrições de valores 
mobiliários só pode ser feita no mercado de balcão por se tratar de mercado 
primário. A bolsa de valores só trabalha com o mercado secundário (venda e 
aquisição de valores mobiliários). 
Uma sociedade tem que atender a alguns requisitos para ser considerada 
brasileira. De acordo com o Decreto-lei n. 2627, de 1940 (antiga legislação do 
anonimato), em seu artigo 60, mantido pela LSA em seu artigo 300; uma 
companhia é nacional se for constituída de acordo com a legislação brasileira e 
tendo no Brasil a sua sede administrativa. Não será importante ser considerada a 
nacionalidade do capital ou dos acionistas. A antiga lei do anonimato ainda rege 
empresas constituídas de acordo com legislação estrangeira, ou com sede de 
administração no exterior. 
A constituição de uma sociedade anônima deve atender a algumas etapas. 
A subscrição é uma dessas etapas, de acordo com Fábio Ulhoa Coelho, em sua 
obra Curso de Direito Comercial, vol. 1, “ela se trata de um contrato plurilateral 
complexo pelo qual uma pessoa se torna titular de uma ação emitida por uma 
sociedade anônima”. Há algum tempo era necessário que o capital social fosse 
subscrito por no mínimo sete acionistas para haver validade da constituição. Hoje 
é exigido somente dois acionistas como o mínimo. Todas as ações que 
representem o capital social devem estar subscritas, sendo a subscrição 
irretratável.. 
Há dois modelos de constituição previstos pela legislação especializada: a 
constituição por subscrição pública, que busca, na pessoa de seus fundadores, 
recursos para a constituição da sociedade junto a investidores; e a constituição 
por subscrição particular, em que não há o apelo, por parte da companhia, ao 
público investidor. A regulamentação da emissão pública de ações está no art. 19, 
§ 3º, da Lei n.6385/76. A constituição deverá ser registrada na CVM. Esta por sua 
vez usará critérios técnicos para analisar o pedido de registro. Após verificar a 
viabilidade econômica e financeira do empreendimento, o projeto do estatuto e o 
prospecto; a CVM terá capacidade jurídica para indeferir o registro alegando 
inviabilidade ou temeridade da empresa, ou também inidoneidade dos fundadores. 
Estes deverão contratar uma instituição financeira para intermediar junto à CVM a 
colocação de ações no mercado. A segunda etapa da constituição sucessiva é a 
subscrição das ações que representarão o capital da sociedade. À instituição 
financeira caberá o trabalho de oferecer ao público investidor as ações. 
Assim que todo o capital estiver subscrito , os fundadores convocarão a 
assembléia de fundação, quando serão avaliados os bens oferecidos para a 
integralização. Pode ocorrer nessa mesma assembléia a deliberação sobre a 
constituição, e todos os acionistas de qualquer espécie ou forma, nessa 
oportunidade, terão direito a voto. Logo em seguida, proclama-se a constituição e 
elegem-se os administradores e fiscais. 
A constituição por subscrição particular se dá de maneira mais simples. Já 
na assembléia de fundação os subscritores poderão deliberá-la, cabendo aos 
fundadores assinar o projeto do estatuto. Ou então poderá ser realizada por 
escritura pública, sendo que todos subscritores deverão assinar a escritura 
pública. Os requisitos de seu conteúdo estão predefinidos no artigo 88 da Lei das 
Sociedades por Ações 
Para ambas as modalidades de constituição há requisitos complementares 
previstos em lei como o registro e publicação dos atos constitutivos, o que 
permitirá à companhia a exploração de suas atividades comerciais regularmente. 
 
VALORES MOBILIÁRIOS E CAPITAL SOCIAL 
 
Os valores mobiliários são títulos de investimento lançados pela sociedade 
anônima visando a arrecadação de recursos necessários. A ação é um exemplo, 
porém devido a sua importância será observada com mais detalhes a frente, os 
outros valores mobiliários são as debêntures, as partes beneficiárias, o bônus de 
subscrição e a nota promissória. 
De acordo com a LSA, podemos definir debêntures como títulos 
negociáveis com valor nominal e estranhos ao capital social, que conferem a seus 
titulares direito de crédito não eventual contra a companhia. Para a sociedade 
anônima é interessante a emissão de debêntures no mercado, quando há a 
necessidade de captação de novos recursos e a companhia não prefere as 
opções de emitir novas ações ou pedir empréstimos a instituições financeiras. As 
debêntures podem ser convertidas em ações; podem conter cláusula de correção 
monetária podem conter a seu titular juros, fixos ou variáveis, participação no lucro 
da companhia e reembolso. Excepcionalmente, podem ter o pagamento estipulado 
em moeda estrangeira, ter garantia real ou flutuante, gozar de preferência, ser 
amortizadas parcialmente e ter resgate antecipado. Porem há um limite em sua 
emissão, que é o valor do capital social. 
As partes beneficiárias (art. 46 ao art. 51 da LSA) são títulos negociáveis 
sem valor nominal e estranhos ao capital social e com prazo de duração. 
Conferem a seus titulares direito e crédito eventual, consistente na participação de 
lucros a cada ano da companhia emissora. As partes beneficiárias podem ser 
vendidas ou doadas pela companhia, podendo,também conter clausulas de 
conversão em ações. Caberá ao estatuto fixar a participação (que não passará de 
10% dos lucros) e o prazo de duração. 
 Os bônus de subscrição permitem a seu possuidor (que paga o preço de 
emissão equivalente por esse título) subscrever ações da companhia emissora se 
houver um futuro aumento de capital desta. Esse titulo é muito pouco usado no 
Brasil. 
As notas promissórias são alternativas para captação de recursos a curto 
prazo (de 30 a 180 dias). Não são previstas pela LSA, entretanto foram 
regulamentados pela Instrução n. 134, de 1990 disciplinada pela CVM. 
As ações são valores mobiliários que representam o capital social e 
conferem a seus titulares direitos e deveres. As ações são ordinárias, 
preferenciais ou de fruição. As ações ordinárias são obrigatórias e conferem a 
seus titulares os direitos de acionista comum. as ações preferenciais conferem a 
seus titulares vantagens especiais como a prioridade na distribuição de 
dividendos, elas podem conferir direito a voto a seus titulares. As ações de fruição 
são emitidas em substituição a ações integralmente amortizadas. 
Pela LSA as ações eram classificadas em nominativas, endossáveis, ao 
portador ou escriturais. Em 1990, a Lei 8021 extinguiu as formas ao portador e 
endossáveis; ambas eram desprovidas de certificado. A ação é nominativa quando 
o nome de seu titular figura no respectivo certificado. A ação endossável é um tipo 
de nominal porem contém a particularidade de ser transferível por endosso em 
preto ou em branco. Os certificados são instrumentos materiais que representam 
as ações. Só podem ser emitidos após o arquivamento dos atos constitutivos na 
Junta Comercial e sua publicação. Há casos em que é necessária uma 
autorização governamental para que se autorize o funcionamento da companhia. 
Nesses casos a emissão das ações deverá esperar tal permissão. 
O capital social de uma empresa geralmente é integralizado em dinheiro, 
contudo é possível que haja integralização com bens (o que demanda um 
procedimento de avaliação especial regrada pelo art. 8º da LSA) ou créditos. As 
formas mais comuns de expansão de capital da sociedade anônima são: a 
emissão de ações, a emissão de valores mobiliários e a capitalização de recursos 
e reservas. O aumento desse capital pode ser previamente autorizado pelo 
estatuto dentro de certo limite, que é conhecido como capital autorizado. 
Quando há superdimensionamento (excesso de capital social) e irrealidade 
do capital social pode-se falar em redução do capital social da companhia (LSA, 
art. 173). 
 
ÓRGÃOS SOCIAIS E A ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE 
 
Os principais órgãos da sociedade anônima são: a assembléia geral (LSA, 
capítulo XI), o conselho de administração (LSA capitulo XII, seção I), a diretoria 
(LSA capitulo XII, seção II) e o conselho fiscal (capítulo XIII). 
A assembléia geral é o poder supremo da companhia, da qual emanam as 
diretrizes. Suas atribuições estão expressas no art. 122 da LSA. A assembléia 
geral ordinária é realizada quatro meses após o término do exercício social 
(atividade empresarial, no lapso de um ano predefinido no estatuto). Suas 
competências estão dispostas no art. 132 da LSA. A assembléia geral 
extraordinária é facultativa e sem época para ser realizada. A deliberação de 
assuntos de interesses da empresa demandará um quorum diferente para cada 
situação. A ação contra decisão tomada em uma assembléia prescreve em dois 
anos. 
A existência do conselho de administração é facultativa (assim como será 
facultativo o conselho fiscal), a não ser nas companhias abertas, nas de capital 
autorizado e nas de economia mista. Trata-se de colegiado de caráter deliberativo. 
Tal conselho deverá ter o mínimo de três integrantes que trabalharão num 
mandato inferior a três anos. Os membros, necessariamente serão acionistas e 
serão eleitos (e possivelmente reeleitos) ou destituídos do cargo pela assembléia 
geral. 
A diretoria não é um órgão de existência facultativa. É de caráter executivo 
e compete-lhe a representação legal da companhia. O número de membro deverá 
ser de no mínimo dois, com mandato de no máximo três anos. Os diretores não 
precisam ser acionistas e serão escolhidos pelo conselho administrativo (e pela 
assembléia geral, se este não houver). Os diretores são destituíveis pelo órgão 
que os escolher. O estatuto especificará o diretor responsável pela representação 
legal da companhia. Caso não haja tal especificação, qualquer diretor será apta a 
representar legalmente a sociedade anônima. Seus membros são reelegíveis. 
O conselho fiscal é de existência obrigatória, porém seu funcionamento é 
facultativo. Tem suas funções especificadas na LSA em seu artigo 163. É 
destinado à fiscalização dos outros órgãos. 
A LSA definiu, em seus artigos 145 a 160, como administradores tanto os 
membros do conselho administrativo, quanto os diretores. Tais funcionários da 
companhia deverão atentar ao dever de diligência (administrar com prudência 
atendendo os objetivos da companhia e a função social da empresa); ao dever de 
lealdade (não usar, para si ou para outrem, informações conseguidas através de 
seu cargo) e o dever de informar (divulgar decisões que possam influir na decisão 
dos investidores de mercado mobiliário). O administrador poderá responder por 
culpa ou dolo por ato ilícito ou por prejuízo que causar. A própria companhia 
poderá por vias judiciais pedir a responsabilização do administrador por prejuízo 
causado. Esse tipo de ação prescreve em três anos. Os administradores poderão 
responder civilmente e penalmente, além de administrativamente na CVM. 
As demonstrações financeiras que os acionistas, ao fim do exercício legal, 
em assembléia geral ordinária deverão analisar são as seguintes: balanço 
patrimonial; demonstração dos lucros acumulados; demonstração do resultado do 
exercício; demonstração da origem e aplicação dos recursos. As demonstrações 
financeiras devem ser assinadas por todos os administradores e por um 
contabilista. As de companhia aberta devem ser objeto de auditoria por auditor 
registrado na CVM. 
 
LUCROS, RESERVAS E DIVIDENDOS 
 
Do resultado do exercício deverão ser deduzidos, primeiramente os 
prejuízos acumulados, e a provisão para o imposto de renda. De restante devem 
ser deduzidas as participações estatutárias de empregados, administradores e 
partes beneficiárias, nessa ordem. Uma parte do lucro ficará necessariamente 
retida na companhia através do que é chamado de reserva legal. O restante dessa 
dedução será chamado de lucro líquido e será destinado a ficar nas mãos da 
própria sociedade ou se tornará título de dividendos, sendo assim distribuído entre 
os acionistas. Deve-se observar que essa cota não se trata do dividendo 
obrigatório (sempre dividida entre os acionistas). Caberá a diretoria sugestionar o 
melhor destino para o lucro restante do exercício. Será da assembléia geral a 
competência de analisar a proposta da diretoria e decidir entre constituição de 
reserva de lucro, distribuição de dividendos ou aumentar o Capital social através 
de capitalização. 
Há cinco tipos de reserva de lucros. Do lucro líquido, 5% serão destinados à 
formação da “reserva legal” (desde que não ultrapasse 20% do capital social). É 
uma aplicação obrigatória. A assembléia geral poderá destinar parte do lucro 
líquido à formação de reservas prevendo futura queda de rendimento, esse tipo de 
reserva será chamada de “reserva de contingência”. A “retenção de lucros” 
também partirá da assembléia geral, esta reserva deverá ser prevista no 
orçamento. A “reserva de lucros a realizar” será destinada a evitar a distribuição 
de recursos que deverãofazer parte do próximo exercício por parte dos acionistas. 
Por fim, se os acionistas, por cautela ou por necessidade específica da companhia 
poderão lançar mão de reservas “estatutárias” 
Para impedir que os acionistas majoritários investissem o capital da 
sociedade sem repassar aos acionistas minoritários, a LSA inovou obrigando em 
seu texto legal que seja distribuído entre todos os acionistas uma parcela do lucro 
líquido, a ser definida pelo estatuto. A isso dá-se o nome de “dividendos 
obrigatórios”. Tal divisão só não ocorrerá em sociedade anônimas de capital 
fechado, por deliberação da assembléia geral por unanimidade. Nas de capital 
aberto somente em casos em que a situação financeira não for compatível com o 
pagamento. 
 
O FIM DA COMPANHIA OU SUA REORGANIZAÇÃO 
 
O procedimento para uma sociedade anônima se extinguir passa pela 
dissolução, liquidação. Ou então através da incorporação,fusão e cisão, que 
analisaremos em seguida. 
Na dissolução, embora conservando a personalidade jurídica, pára suas 
atividades normais visando a seu desaparecimento A dissolução na sociedade 
anônima ocorre nos casos de término da duração, com previsão do estatuto, por 
deliberação da assembléia geral e pela extinção da autorização para funcionar. 
Pode também haver dissolução por vias judiciais quando qualquer acionista 
propuser ação anulando a constituição. Também em casa e falência. Há 
dissolução também por parte de autoridades administrativas competentes 
legisladas por legislação especial. 
A liquidação vem depois da dissolução. É uma serie de atos que ultima os 
negócios sociais, realiza os ativos, paga os passivos partilha o remanescente 
entre os sócios. Assim que se encerra a liquidação, a companhia deixa de ser 
pessoa jurídica, a isso dá-se o nome de “extinção”. Só acontece extinção direta 
quando não resta nada a liquidar, hipótese difícil de se ver realizada. 
As sociedades podem se reorganizar através de quatro modalidades. 
Caberá aos sócios adotar o modelo que mais se adequa à atividade praticada. 
A transformação é a mudança do tipo societário. Não acarreta dissolução e 
liquidação. É importante observar que a transformação não extingue a 
personalidade jurídica nem cria outra. A não ser quando o ato constitutivo admite 
transformação o procedimento exige unanimidade de todos os acionistas, inclusive 
dos detentores de ações preferenciais sem direito a voto. 
A incorporação é o processo através do qual uma companhia absorve 
outras, enquanto na fusão, há a união de duas ou mais sociedades dando origem 
a uma nova. A cisão consiste na transferência de parte do patrimônio social de 
uma sociedade para outra ou mais sociedades. Como dito anteriormente, nos três 
últimos casos há o fim da personalidade jurídica de pelo menos uma das 
sociedades. Elas são condicionadas a aprovação do CADE (Conselho 
Administrativo Defesa Econômica) sempre que a empresa tiver participação 
relevante no mercado. As empresas que emitem debêntures também estarão 
condicionadas a aprovação dos debenturistas reunidos em assembléia, a menos 
que se garanta o resgate dos valores mobiliários nos seis meses seguintes à 
operação. 
 
CONCLUSÃO 
A Sociedade anônima tornou-se peça fundamental na economia 
globalizada. Através do trabalho exposto procurou-se demonstrar a sua viabilidade 
para receber grandes investimentos e sua grande capacidade de produzir e gerar 
o lucro. Sua organização garante ao praticante da atividade empresaria a tomada 
certa de decisões através das várias estratificações previstas pela LSA. Seus 
títulos, livremente negociáveis, permitem que qualquer um (dentro dos requisitos 
necessários) adquirente configure em seu quadro societário. 
As ações e suas negociações são partes intrínsecas da economia mundial, 
tendo um histórico adverso, desde serem consideradas uma fonte de dinheiro 
rápido através de investimento a curto prazo, após a primeira Guerra Mundial, até 
serem responsáveis por grandes crises econômicas de nossa história. A crise de 
1929, após a quebra da bolsa de Nova Iorque, foi fundamental para maior 
maturidade do setor, pois a falência decorrida por um investimento desenfreado 
em um mercado tão abstrato, mostrou ao Mundo que as ações podem ser e são 
ótimas modalidades de investimentos, mas não a febre de outrora. Porém 
novamente o Mundo se veria em volta da crise por causa de investimentos em 
mercado de ações, durante o segundo mandato do republicano Reagan nos 
Estados Unidos. Todo o desenvolvimento do mercado de Bolsa de Valores 
adquirido, que nos chega no início do Terceiro Milênio, depois de tantas crises e 
choques, dá-se de maneira muito mais controlada, principalmente para fins 
trabalhistas e tributários. 
 
BIBLIOGRAFIA: 
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 1. 6. ed. Ver. e atual. – São 
Paulo: Saraiva, 2002. 
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2. 7.ed. ver. e atual. – São 
Paulo: Saraiva, 2004. 
Lei das S.A. nº 6.4040 de 15 de dezembro de 1976. 7.ed. – São Paulo: Atlas, 2000. 
BULGARELLI, Waldirio. Manual das Sociedades Anônimas. 10. ed. – São Paulo: Atlas, 
1998. 
REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial, volume 2. 20. ed. – São Paulo: Saraiva, 
1995. 
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à lei de sociedades anônimas, volume 1 – São 
Paulo: Saraiva, 1977. 
ASCARELLI, Tullio. Problemas das sociedades anônimas e direito comparado – 
Campinas: Bookseller, 1999.

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