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APOSTILA DA DISCIPLINA: GERENCIAMENTO DE SISTEMAS DE ENERGIA PROFESSOR: LUIS BLASQUES 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................................................................. 3 1.1. Estrutura Básica da Gestão do Setor Elétrico Brasileiro ................................. 3 1.2. Visão Geral das Legislações de Interesse do Setor Elétrico .......................... 4 2. Gestão da Utilização da Energia .............................................................................. 6 2.1. Definições Gerais ............................................................................................. 6 2.2. Grupos de Consumidores e Estruturas Tarifárias Existentes ......................... 7 2.3. Análises Tarifárias .......................................................................................... 13 3. Direitos e Deveres do Consumidor sobre o Produto Energia ................................ 23 3.1. Direitos do Consumidor sobre o Produto Energia ......................................... 23 3.2. Deveres do Consumidor sobre o Produto Energia ........................................ 24 4. Qualidade de Energia Elétrica ................................................................................ 26 4.1. Introdução ...................................................................................................... 26 4.2. Distúrbios que Afetam a Qualidade da Energia ............................................ 28 4.2.1. Transitórios .......................................................................................... 28 4.2.2. Variação de Tensão de Curta Duração ............................................... 29 4.2.3. Variação de Tensão de Longa Duração .............................................. 32 4.2.4. Desequilíbrio ou Desbalanço de Tensão ............................................ 34 4.2.5. Flutuações ou Oscilações de Tensão ................................................. 35 4.3. Harmônicos em Sistemas de Energia Elétrica .............................................. 35 4.4. Regulamentação sobre Qualidade de Energia .............................................. 40 4.4.1. Módulo 8/PRODIST ............................................................................. 40 4.5. Dispositivos de Mitigação .............................................................................. 51 3 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques 1. INTRODUÇÃO 1.1. Estrutura Básica da Gestão do Setor Elétrico Brasileiro A figura 1.1 apresenta de forma simplificada a estrutura do setor elétrico brasileiro. Figura 1.1 - Estrutura do setor elétrico brasileiro. A ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica é o órgão responsável pela regulação e fiscalização da geração, transmissão, distribuição e comercialização da energia elétrica, atendendo reclamações de agentes e consumidores com equilíbrio entre as partes e em benefício da sociedade. É responsável por mediar os conflitos de interesses entre os agentes do setor elétrico e entre estes e os consumidores; conceder, permitir e autorizar instalações e serviços de energia; garantir tarifas justas; zelar pela qualidade do serviço; exigir investimentos; estimular a competição entre os operadores e assegurar a universalização dos serviços. Está vinculada ao Ministério de Minas e Energia – MME e foi criada pela Lei 9.427 de 26 de dezembro de 1996. Sua missão é proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da sociedade. A descentralização de parte das atividades da ANEEL é realizada por meio de convênios de cooperação com as agências reguladoras estaduais credenciadas. É um mecanismo facultativo de delegação das competências da Agência Nacional aos estados e Distrito Federal e tem como objetivo agilizar e aproximar as ações da ANEEL junto aos consumidores de energia elétrica, agentes setoriais e demais 4 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques segmentos da sociedade, com respeito às peculiaridades locais e regionais. As atividades descentralizáveis abrangem preferencialmente a fiscalização, o apoio à regulação dos serviços e instalações de energia elétrica e a mediação de problemas e soluções entre os agentes e entre esses e os consumidores, por meio da Ouvidoria. A tabela 1.1 apresenta a lista das Agências Reguladoras Estaduais. Tabela 1.1 - Agências Reguladoras Estaduais conveniadas com a ANEEL. Agência Estado Agência de Regulação de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo - ARSESP SP Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul – AGERGS RS Agência Estadual de Regulação e Controle de Serviços Públicos – ARCON PA Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Ceará – ARCE CE Agência Reguladora de Serviços Públicos do Rio Grande do Norte – ARSEP RN Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado de Mato Grosso – AGER MT Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas – ARSAL AL Agência Goiana de Regulação, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos – AGR GO Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos do Mato Grosso do Sul – AGEPAN MS Agência Estadual de Energia da Paraíba – ARPB PB Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado de Pernambuco – ARPE PE Agência Reguladora de Serviços Públicos de Santa Catarina - AGESC SC 1.2. Visão Geral das Legislações de Interesse do Setor Elétrico RESOLUÇÃO ANEEL No 414, de 09/09/2010 Estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de forma atualizada e consolidada. Revoga os seguintes atos legislativos: Portaria DNAEE No 466/1997 (Condições Gerais de Fornecimento); Portaria DNAEE No 033/1988 (Estrutura Tarifária Horo-sazonal); Portaria DNAEE No 1.569/1993 (Fator de Potência); Resolução ANEEL No 456/2000 (A partir de 09/2011) RESOLUÇÃO ANEEL No 676, de 19/12/2003 Altera dispositivos e procede ajustes na Resolução ANEEL No 505, de 26 de novembro de 2001. A Resolução ANEEL No 505, de 26 de novembro de 2001, estabelece de forma atualizada e consolidada, as disposições relativas à conformidade dos níveis de tensão de energia elétrica em regime permanente. 5 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques PROCEDIMENTOS DE DISTRIBUIÇÃO – PRODIST Normas que disciplinam o relacionamento entre as distribuidoras de energia elétrica e demais agentes (unidades consumidoras e centrais geradores) conectados aos sistemas de distribuição, que incluem redes e linhas em tensão inferior a 230 quilovolts (kV). Foi aprovado através da Resolução Normativa ANEEL nº 345, de 16 de dezembro de 2008. Em 2009, passou por sua primeira revisão, aprovada através da Resolução Normativa n° 395, de 15 de dezembro de 2009. Possui oito (8) módulos, cujos títulos são apresentados abaixo: • Módulo 1 – Introdução • Módulo 2 - Planejamento da Expansão do Sistema de Distribuição • Módulo 3 - Acesso ao Sistema de Distribuição • Módulo 4 - Procedimentos Operativos do Sistema de Distribuição • Módulo 5 - Sistemas de Medição • Módulo 6 - Informações Requeridas e Obrigações • Módulo 7 - Cálculo de Perdas na Distribuição • Módulo 8 - Qualidade da Energia Elétrica RESOLUÇÃOANEEL No 024, de 27/01/2000 Estabelece as disposições relativas à Continuidade da Distribuição de energia elétrica às unidades consumidoras. Revogada pela Resolução Normativa ANEEL nº 395 de 15/12/2009. RESOLUÇÃO HOMOLOGATÓRIA No 1.035, de 03/08/2010 Homologa as tarifas de fornecimento de energia elétrica e as Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição – TUSD, estabelece a receita anual das instalações de conexão e fixa o valor anual da Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica – TFSEE, referentes a Centrais Elétricas do Pará S/A -CELPA. 6 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques 2. GESTÃO DA UTILIZAÇÃO DA ENERGIA 2.1. Definições Gerais - Energia elétrica ativa: energia elétrica que pode ser convertida em outra forma de energia, expressa em quilowatts-hora (kWh). - Energia elétrica reativa: energia elétrica que circula continuamente entre os diversos campos elétricos e magnéticos de um sistema de corrente alternada, sem produzir trabalho, expressa em quilovolt-ampere-reativo-hora (kVArh). - Demanda: média das potências elétricas ativas (kW) ou reativas (kVAr), solicitadas ao sistema elétrico pela parcela da carga instalada em operação na unidade consumidora, durante um intervalo de tempo determinado. - Demanda contratada: demanda de potência ativa (kW) a ser obrigatória e continuamente disponibilizada pela concessionária, no ponto de entrega, conforme valor e período de vigência fixados no contrato de fornecimento e que deverá ser integralmente paga, seja ou não utilizada durante o período de faturamento. - Demanda de ultrapassagem: parcela da demanda de potência ativa medida (kW) que excede o valor da demanda contratada. - Demanda medida: maior demanda de potência ativa (kW), verificada por medição, integralizada no intervalo de 15 minutos durante o período de faturamento. - Limite de tolerância de demanda: limite acima do qual será aplicada a tarifa de demanda de ultrapassagem, estabelecido em 5 % para todas as unidades consumidoras. - Demanda faturada: valor da demanda de potência ativa considerada para fins de faturamento, com aplicação da respectiva tarifa. Em situações onde a demanda medida seja igual ou inferior à demanda contratada, a demanda faturada será a própria demanda contratada; em situações onde a demanda medida seja maior que a demanda contratada e menor ou igual ao limite mínimo de tolerância de demanda, a demanda faturada será a própria demanda medida, com cobrança de tarifa normal de demanda; e em situações onde a demanda medida seja maior que o limite mínimo de tolerância de demanda, a demanda faturada será composta por duas parcelas: a primeira será composta pela demanda contratada, sendo cobrada sobre esta parcela a tarifa normal de demanda, e a segunda será composta pela diferença entre a demanda medida e a contratada, sendo cobrada sobre esta parcela a tarifa de demanda de ultrapassagem. - Tensão primária de distribuição: tensão disponibilizada no sistema elétrico da concessionária com valores padronizados iguais ou superiores a 2,3 kV. - Tensão secundária de distribuição: tensão disponibilizada no sistema elétrico da concessionária com valores padronizados inferiores a 2,3 kV. 7 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques - Fator de carga: razão entre a demanda média e a demanda máxima da unidade consumidora, ocorridas no mesmo intervalo de tempo especificado. - Fator de demanda: razão entre a demanda máxima num intervalo de tempo especificado e a carga instalada na unidade consumidora. - Fator de potência: razão entre a energia elétrica ativa e a raiz quadrada da soma dos quadrados das energias elétricas ativa e reativa, consumidas num mesmo período especificado. - Tarifa monômia: tarifa de fornecimento de energia elétrica constituída por preços aplicáveis unicamente ao consumo de energia elétrica ativa. - Tarifa binômia: conjunto de tarifas de fornecimento constituído por preços aplicáveis ao consumo de energia elétrica ativa e à demanda faturável. - Horário de ponta (P): período definido pela concessionária e composto por 3 horas diárias consecutivas, exceção feita aos sábados, domingos e feriados nacionais, considerando as características do seu sistema elétrico. É considerado o período em que o sistema elétrico encontra-se mais carregado, com conseqüente aplicação de tarifas mais elevadas. - Horário fora de ponta (F): período composto pelo conjunto das horas diárias consecutivas e complementares àquelas definidas no horário de ponta. Período em que o sistema elétrico encontra-se menos carregado, com conseqüente aplicação de tarifas reduzidas. - Período úmido (U): período de 5 meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de dezembro de um ano a abril do ano seguinte. É o período considerado de maiores índices de chuvas, contribuindo para o aumento da capacidade dos reservatórios de hidrelétricas. Conseqüência disto é a aplicação de tarifas reduzidas. - Período seco (S): período de 7 meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas leituras de maio a novembro. É o período considerado de menores índices de chuvas, contribuindo para a redução dos níveis dos reservatórios. Conseqüência disto é a aplicação de tarifas mais elevadas. 2.2. Grupos de Consumidores e Estruturas Tarifárias Existentes O primeiro ponto de enquadramento tarifário a ser definido é em função da tensão de fornecimento. As unidades consumidoras são divididas em dois grupos, “A” e “B”. O grupo “A” é composto por unidades consumidoras com fornecimento em tensão igual ou superior a 2,3 kV, ou atendidas em tensão inferior a 2,3 kV a partir de sistema subterrâneo de distribuição. Também chamado de grupo de consumidores de alta tensão, é caracterizado pela estruturação tarifária binômia. 8 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Para casos de unidades consumidoras localizadas em áreas servidas por sistema subterrâneo ou previstas pelo programa de obras da concessionária para serem atendidas por tal sistema, o consumidor poderá optar por faturamento com aplicação das tarifas do grupo “A” (subgrupo “AS” – ver tabela 3.1), desde que o fornecimento seja feito em tensão secundária de distribuição e um dos seguintes requisitos seja atendido: - Verificação de consumo de energia elétrica ativa mensal igual ou superior a 30 MWh em, no mínimo, 3 ciclos completos e consecutivos nos 6 meses anteriores à opção; - Celebração de contrato de fornecimento fixando demanda contratada igual ou superior a 150 kW. O grupo “B” é composto por unidades consumidoras com fornecimento em tensão inferior a 2,3 kV. Também chamado de grupo de consumidores de baixa tensão, é caracterizado pela estruturação tarifária monômia. Podem ser atendidas em tensão superior a 2,3 kV e faturadas no grupo “B” nos seguintes termos: - Para unidade consumidora do grupo “A”, localizada em área de veraneio ou turismo, oficialmente reconhecida como estância balneária, climática ou turística, em que sejam explorados serviços de hotelaria ou pousada, o consumidor poderá optar por faturamento com aplicação da tarifa do grupo “B” correspondente à respectiva classe, independentemente da carga instalada; - Para unidade consumidora do grupo “A”, cuja potência instalada em transformadores for igual ou inferior a 112,5 kVA, o consumidor poderá optar por faturamento com aplicação da tarifa do grupo “B” correspondente à respectiva classe. O mesmo se aplica a unidade consumidora classificadacomo cooperativa de eletrificação rural, quando a potência instalada em transformadores for igual ou inferior a 750 kVA; - Para unidade consumidora do grupo “A”, com instalações permanentes para a prática de atividades esportivas ou parques de exposições agropecuárias, o consumidor poderá optar por faturamento com aplicação da tarifa do grupo “B” correspondente à respectiva classe, desde que a potência instalada em projetores utilizados na iluminação dos locais seja igual ou superior a 2/3 da carga instalada. Os grupos “A” e “B” são divididos em subgrupos, conforme apresentado na tabela 2.1. 9 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Tabela 2.1 - Grupos e subgrupos divididos segundo a tensão de fornecimento e as classes de atendimento. Grupo A Grupo B Subgrupo Tensão de Fornecimento Subgrupo Classe A1 ≥ 230 kV B1 Residencial A2 88 a 138 kV B1 Residencial baixa renda A3 69 kV B2 Rural A3a 30 a 44 kV B2 Cooperativa de eletrificação rural A4 2,3 a 25 kV B2 Serviço público de irrigação AS < 2,3 kV (sistema subterrâneo) B3 Demais classes B4 Iluminação pública As unidades consumidoras faturadas com aplicação da tarifa do grupo “B” são obrigatoriamente enquadradas na estrutura tarifária convencional monômia, enquanto que as unidades consumidoras faturadas com aplicação da tarifa do grupo “A” podem optar pela estrutura tarifária convencional binômia, chamada a partir deste ponto somente de estrutura tarifária convencional, ou horo-sazonal. A estrutura tarifária convencional é caracterizada pela aplicação de tarifas de consumo de energia elétrica e/ou demanda de potência independentemente das horas de utilização do dia e dos períodos do ano, calculadas conforme as equações (2.1) a (2.5). ativoCTconsumoativoc _$ _ (2.1) reativoCTconsumoreativoc _$ _ (2.2) ativaDTdemandaativad _$ _ (2.3) reativaDTdemandareativad _$ _ (2.4) contratadaDmedidaDT gemultrapassadgemultrapassad __$ __ (2.5) Sendo: $c_ativo: Parcela de custo referente ao consumo ativo; Tconsumo: Tarifa de consumo estabelecida em legislação; C_ativo: Consumo ativo efetivamente medido; $c_reativo: Parcela de custo referente ao consumo reativo; C_reativo: Consumo reativo efetivamente medido, se houver; $d_ativa: Parcela de custo referente à demanda ativa; Tdemanda: Tarifa de demanda estabelecida em legislação; D_ativa: Demanda ativa contratada, quando a efetivamente medida for menor que a contratada ou quando for superior ao limite de tolerância de demanda; 10 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques demanda ativa efetivamente medida, quando esta estiver situada entre a contratada e o limite de tolerância de demanda; $d_reativa: Parcela de custo referente à demanda reativa; D_reativa: Demanda reativa efetivamente medida, se houver; $d_ultrapassagem: Parcela de custo referente à demanda de ultrapassagem; Td_ultrapassagem: Tarifa de demanda de ultrapassagem estabelecida em legislação; D_medida: Demanda ativa efetivamente medida; D_contratada: Demanda ativa contratada. A estrutura tarifária horo-sazonal é caracterizada pela aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica e de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do dia e dos períodos do ano. São divididas em tarifas horo-sazonais azul e verde. A tarifa azul é uma modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização do dia e os períodos do ano, bem como de tarifas diferenciadas de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do dia, calculadas conforme as equações (2.6) a (2.10). FativoCTPativoCT FconsumoPconsumoativoc ____$ ___ (2.6) FreativoCTPreativoCT FconsumoPconsumoreativoc ____$ ___ (2.7) FativaDTPativaDT FdemandaPdemandaativad ____$ ___ (2.8) FreativaDTPreativaDT FdemandaPdemandareativad ____$ ___ (2.9) FcontratadaDFmedidaDT PcontratadaDPmedidaDT Fgemultrapassad Pgemultrapassadgemultrapassad ____ ____$ __ ___ (2.10) Sendo: Tconsumo_P: Tarifa de consumo no horário de ponta estabelecida em legislação, respeitado o período do ano, seco ou úmido; C_ativo_P: Consumo ativo efetivamente medido no horário de ponta; Tconsumo_F: Tarifa de consumo no horário fora de ponta estabelecida em legislação, respeitado o período do ano, seco ou úmido; C_ativo_F: Consumo ativo efetivamente medido no horário fora de ponta; C_reativo_P: Consumo reativo efetivamente medido no horário de ponta, se houver; 11 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques C_reativo_F: Consumo reativo efetivamente medido no horário fora de ponta, se houver; Tdemanda_P: Tarifa de demanda no horário de ponta estabelecida em legislação, respeitado o período do ano, seco ou úmido; D_ativa_P: Demanda ativa contratada no horário de ponta, quando a efetivamente medida for menor que a contratada ou quando for superior ao limite de tolerância de demanda; ou demanda ativa efetivamente medida, quando esta estiver situada entre a contratada e o limite de tolerância de demanda; Tdemanda_F: Tarifa de demanda no horário fora de ponta estabelecida em legislação, respeitado o período do ano, seco ou úmido; D_ativa_F: Demanda ativa contratada no horário fora de ponta, quando a efetivamente medida for menor que a contratada ou quando for superior ao limite de tolerância de demanda; ou demanda ativa efetivamente medida, quando esta estiver situada entre a contratada e o limite de tolerância de demanda; D_reativa_P: Demanda reativa efetivamente medida no horário de ponta, se houver; D_reativa_F: Demanda reativa efetivamente medida no horário fora de ponta, se houver; Td_ultrapassagem_P: Tarifa de demanda de ultrapassagem no horário de ponta estabelecida em legislação, respeitado o período do ano, seco ou úmido; D_medida_P: Demanda ativa efetivamente medida no horário de ponta; D_contratada_P: Demanda ativa contratada no horário de ponta; Td_ultrapassagem_F: Tarifa de demanda de ultrapassagem no horário fora de ponta estabelecida em legislação, respeitado o período do ano, seco ou úmido; D_medida_F: Demanda ativa efetivamente medida no horário fora de ponta; D_contratada_F: Demanda ativa contratada no horário fora de ponta. A tarifa verde é estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização do dia e os períodos do ano, bem como de uma única tarifa de demanda de potência, calculadas conforme as equações (2.6) e (2.7), para o caso de consumo, e (2.3), (2.4) e (2.5), para o caso de demanda. As unidades consumidoras do grupo “A” devem obrigatoriamente assinar contrato com a empresa concessionária de energia elétrica onde, além das cláusulas essenciais de contratos administrativos, constem informações como: tensão de fornecimento; demanda contratada, especificada por segmento horo- sazonal, quando for o caso, observado o valor mínimo contratável de 30 kW; definições dos horários de ponta e fora de ponta, nos casos de tarifação horo- sazonal; condições de aplicação da tarifa de ultrapassagem, entre outros. 12 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Os critérios de inclusão das unidades consumidoras do grupo “A” nas estruturas tarifáriasconvencional ou horo-sazonal são os seguintes: - Unidades consumidoras com tensão de fornecimento inferior a 69 kV e com demanda de potência contratada inferior a 300 kW podem optar pelo enquadramento na estrutura convencional ou horo-sazonal, com aplicação da tarifa azul ou verde; - Unidades consumidoras com tensão de fornecimento inferior a 69 kV e com demanda de potência contratada igual ou superior a 300 kW, ou unidades consumidoras faturadas na estrutura tarifária convencional que apresentarem, nos últimos 11 ciclos de faturamento, 3 registros consecutivos ou 6 alternados de demandas medidas iguais ou superiores a 300 kW, devem optar pelo enquadramento na estrutura horo-sazonal, com aplicação da tarifa azul ou verde; - Unidades consumidoras com tensão de fornecimento igual ou superior a 69 kV são enquadradas compulsoriamente na estrutura horo-sazonal com aplicação da tarifa azul. Os faturamentos convencional e horo-sazonal são aplicados de acordo com a estrutura resumida pela tabela 2.2. 13 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Tabela 2.2 - Resumo de aplicação de valores por estrutura tarifária. Tarifa Convencional Tarifa Horo-sazonal Azul Tarifa Horo-sazonal Verde Consumo ativo (kWh) Um único valor, o maior entre o contratado, se houver, e o efetivamente medido no período de faturamento Quatro valores: um valor para o horário de ponta em período úmido, um valor para o horário fora de ponta em período úmido, um valor para o horário de ponta em período seco, e um valor para o horário fora de ponta em período seco Quatro valores: um valor para o horário de ponta em período úmido, um valor para o horário fora de ponta em período úmido, um valor para o horário de ponta em período seco, e um valor para o horário fora de ponta em período seco Demanda de potência (kW) Um único valor, o maior entre o contratado e o efetivamente medido no período de faturamento, respeitando-se a tarifa de ultrapassagem Dois valores: um valor para o horário de ponta, e um valor para o horário fora de ponta, os maiores entre o contratado e o efetivamente medido, respeitando-se a tarifa de ultrapassagem Um único valor, o maior entre o contratado e o efetivamente medido no período de faturamento, respeitando-se a tarifa de ultrapassagem Consumo reativo (kVArh) Um valor, quando o fator de potência da unidade consumidora, indutivo ou capacitivo, for inferior a 0,92 Quatro valores, quando o fator de potência da unidade consumidora, indutivo ou capacitivo, for inferior a 0,92, seguindo a mesma distribuição do consumo ativo Quatro valores, quando o fator de potência da unidade consumidora, indutivo ou capacitivo, for inferior a 0,92, seguindo a mesma distribuição do consumo ativo Demanda de potência reativa (kVAr) Um valor, quando o fator de potência da unidade consumidora, indutivo ou capacitivo, for inferior a 0,92 Dois valores, quando o fator de potência da unidade consumidora, indutivo ou capacitivo, for inferior a 0,92, seguindo a mesma distribuição da demanda de potência, exclusive os casos de ultrapassagem Dois valores, quando o fator de potência da unidade consumidora, indutivo ou capacitivo, for inferior a 0,92, seguindo a mesma distribuição da demanda de potência, exclusive os casos de ultrapassagem 2.3. Análises Tarifárias Dois são os pontos fundamentais a serem analisados no momento de assinatura de contrato de consumidor do grupo “A”, ou em momentos de revisões tarifárias: o enquadramento tarifário, se convencional ou horo-sazonal, com aplicação da tarifa azul ou verde, e a demanda contratada. A determinação da estrutura tarifária e da demanda contratada mais adequadas, em momentos de celebração de primeiro contrato, não é tarefa das mais simples, excetuando-se os casos em que o consumidor conheça muito bem o regime de funcionamento da carga. Outro ponto a ser atentado pelo consumidor é a tensão de fornecimento, mesmo sendo de responsabilidade da concessionária estabelecê-la e informá-la ao interessado. O valor deve ser estabelecido sendo observados os seguintes limites: 14 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques - Tensão secundária de distribuição: quando a carga instalada na unidade consumidora for igual ou inferior a 75 kW; - Tensão primária de distribuição inferior a 69 kV: quando a carga instalada na unidade consumidora for superior a 75 kW e a demanda contratada ou estimada pelo interessado, para o fornecimento, for igual ou inferior a 2.500 kW; e - Tensão primária de distribuição igual ou superior a 69 kV: quando a demanda contratada ou estimada pelo interessado for superior a 2.500 kW. É importante atentar para tal fato porque pode ser economicamente interessante ao consumidor que, por exemplo, possua carga instalada superior a 75 kW e demanda contratada de 2.500 kW, solicitar atendimento por tensão igual ou superior a 69 kV, mesmo que para isso tenha que contratar um valor de demanda superior a 2.500 kW. Cada caso deve ser analisado de forma particular, mas esta situação se configura em uma potencial ação de viabilidade econômica em função das tarifas de demanda mais reduzidas do subgrupo A3 (69 kV), quando comparadas às do subgrupo A4 (2,3 a 25 kV). Com relação à definição do enquadramento tarifário mais adequado, a tarefa merece certos cuidados, mas a decisão é fundamentalmente baseada no perfil da empresa. A tabela 2.3 fornece alguns indicativos que relacionam as características básicas da empresa ao enquadramento tarifário sugerido. Tabela 2.3 - Relações entre o Perfil da empresa e enquadramento tarifário sugerido. Tarifa Convencional Tarifa Horo-sazonal Azul Tarifa Horo-sazonal Verde Perfil da Empresa - Indicada para empresas cuja maior demanda de energia elétrica ocorre no horário de ponta; - Mais adequada para empresas que operam sob regime de encomenda; - Indicada para empresas que utilizam processo contínuo de produção ou prestação de serviço, sem possibilidade de modulação. - Indicada para empresas que podem reduzir, parcialmente, a demanda de potência e o consumo de energia no horário de ponta. - Indicada para empresas que podem eliminar ou reduzir o consumo de energia no horário de ponta; - Mais adequada para empresas que têm todo ou grande parte de seu funcionamento fora do horário de ponta. Com o propósito de permitir o ajuste da demanda a ser contratada, é estabelecido em legislação que a concessionária deve oferecer ao consumidor, quando da celebração do contrato, um período de testes, com duração mínima de 3 ciclos consecutivos e completos de faturamento, durante o qual será faturável a demanda medida. Com base nos valores de demanda medidos durante este período de testes o consumidor está apto a decidir pelo valor de demanda contratada que represente os menores custos. Outro ponto importante a ser observado, também estabelecido em legislação, é que a concessionária deve renegociar o contrato de fornecimento, a qualquer momento, sempre que solicitado por consumidor que, ao implementar medidas de 15 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques eficiência energética comprováveis pela concessionária, resultem em redução da demanda de potência e/ou de consumo de energia elétrica ativa. O correto valor de demanda contratadaé de extrema importância, pois situações de demanda contratada superior à utilizada resultam em pagamento por demanda inutilizada, e situações de ultrapassagem apresentam custos altamente proibitivos, 3 vezes superior ao valor da tarifa normal de fornecimento. Em função do exposto, é importante que o consumidor conheça os valores das tarifas praticados pela concessionária de sua região. Todas as concessionárias de energia passam por um reajuste tarifário periódico, com resultados homologados pela ANEEL, realizado com o objetivo de proporcionar à concessionária receita necessária para a cobertura de custos operacionais e remuneração adequada de investimentos. Por isso, os reajustes podem resultar em aumento ou redução de tarifa, conforme os resultados operacionais obtidos pela concessionária no respectivo período e em componentes financeiros externos à revisão periódica. A tabela 2.4 apresenta o calendário de reajustes tarifários divulgado pela ANEEL, e as tabelas 2.5, 2.6 e 2.7 apresentam, respectivamente, as tarifas convencional, horo- sazonal azul e horo-sazonal verde da concessionária de energia do Estado do Pará, Centrais Elétricas do Pará S.A. – CELPA, conforme resultado do último reajuste tarifário homologado pela ANEEL pela Resolução no 1.035, de 3 de agosto de 2010. Neste reajuste, provisório, as tarifas da CELPA foram reajustadas em 15,83% médios. Tabela 2.4 - Calendário anual de reajustes tarifários contratuais. Data Concessionária Data Concessionária 03/fev MOCOCA, CPEE, CSPE, SANTA CRUZ e JAGUARI (SP), OESTE (PR) 04/jul CELTINS (TO), ELETROPAULO (SP) 15/jul JARI CELULOSE (PA) 04/fev CELB (PB) 07/ago CELESC (SC), CELPA (PA), ESCELSA-D (ES), IENERGIA (SC) 07/fev COOPERALIANÇA (SC), Sta. MARIA (RS) 15/mar AMPLA (RJ) 26/ago CEB (DF), FORCEL (PR) 30/mar URUSSANGA e JOÃO CESA (SC) 27/ago ELEKTRO (SP) 08/abr ENERSUL (MS), CEMAT (MT), CPFL (SP), CEMIG (MG) 28/ago CEAL (AL), CEPISA (PI), CEMAR (MA), SAELPA (PB) 19/abr RGE e AES-SUL (RS) 12/set CHESP e CELG (GO) 22/abr COELBA (BA), COSERN (RN), COELCE (CE), ENERGIPE (SE) 23/out BANDEIRANTE e PIRATININGA (SP) 25/out CEEE-D (RS) 29/abr CELPE (PE) 01/nov CEAM e MANAUS ENERGIA (AM), BOA VISTA e CER (RR) 10/mai NACIONAL, BRAGANTINA, V. PARANAPANEMA e CAIUÁ (SP) 07/nov LIGHT (RJ) 18/jun CATAGUAZES (MG), CENF (RJ) 30/nov ELETROACRE (AC), CERON (RO), CEA (AP) 24/jun COPEL e COCEL (PR) 28/jun DMEPC (MG) 14/dez SULGIPE (SE) 29/jun ELETROCAR, MUXFELDT, DEMEI-IJUI e PANAMBI (RS) 28/dez NOVA PALMA (TO) 16 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Tabela 2.5 - Tarifas do segmento convencional, praticadas pela CELPA. Subgrupo Tarifa * A3a (30 a 44 kV) Demanda (R$/kW) Consumo (R$/kWh) 39,69 0,14252 A4 (2,3 a 25 kV) Demanda (R$/kW) Consumo (R$/kWh) 50,28 0,14252 B1 – Residencial Consumo (R$/kWh) 0,36990 B1 – Residencial Baixa Renda Consumo até 30 kWh (R$/kWh) Consumo entre 31 e 100 kWh (R$/kWh) Consumo entre 101 e 220 kWh (R$/kWh) Consumo superior a 220 kWh (R$/kWh) 0,12233 0,20970 0,31455 0,34949 B2 – Rural Consumo (R$/kWh) 0,23159 B2 – Cooperativa de Eletrificação Rural Consumo (R$/kWh) 0,18137 B2 – Serviço Público de Irrigação Consumo (R$/kWh) 0,21296 B3 – Demais Classes Consumo (R$/kWh) 0,36942 * Tarifas de fornecimento TUSD+TE (Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição + Tarifas de Energia), sem impostos. 17 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Tabela 2.6 - Tarifas do segmento horo-sazonal azul, praticadas pela CELPA. Subgrupo Tarifa * Ultrapassagem * A2 (88 a 138 kV) Demanda Ponta (R$/kW) Demanda F Ponta (R$/kW) Consumo Ponta Seca (R$/kWh) Consumo Ponta Úmida (R$/kWh) Consumo F Ponta Seca (R$/kWh) Consumo F Ponta Úmida (R$/kWh) 26,72 4,61 0,22336 0,20231 0,14049 0,12828 80,16 13,83 A3 (69 kV) Demanda Ponta (R$/kW) Demanda F Ponta (R$/kW) Consumo Ponta Seca (R$/kWh) Consumo Ponta Úmida (R$/kWh) Consumo F Ponta Seca (R$/kWh) Consumo F Ponta Úmida (R$/kWh) 30,96 6,49 0,22336 0,20231 0,14049 0,12828 92,88 19,47 A3a (30 a 44 kV) Demanda Ponta (R$/kW) Demanda F Ponta (R$/kW) Consumo Ponta Seca (R$/kWh) Consumo Ponta Úmida (R$/kWh) Consumo F Ponta Seca (R$/kWh) Consumo F Ponta Úmida (R$/kWh) 40,13 10,80 0,22336 0,20231 0,14049 0,12828 120,39 32,40 A4 (2,3 a 25 kV) Demanda Ponta (R$/kW) Demanda F Ponta (R$/kW) Consumo Ponta Seca (R$/kWh) Consumo Ponta Úmida (R$/kWh) Consumo F Ponta Seca (R$/kWh) Consumo F Ponta Úmida (R$/kWh) 50,21 14,13 0,22336 0,20231 0,14049 0,12828 150,63 42,39 * Tarifas de fornecimento TUSD+TE (Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição + Tarifas de Energia), sem impostos. 18 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Tabela 2.7 - Tarifas do segmento horo-sazonal verde, praticadas pela CELPA. Subgrupo Tarifa * Ultrapassagem * A3a (30 a 44 kV) Demanda (R$/kW) Consumo Ponta Seca (R$/kWh) Consumo Ponta Úmida (R$/kWh) Consumo F Ponta Seca (R$/kWh) Consumo F Ponta Úmida (R$/kWh) 10,80 1,15514 1,13409 0,14049 0,12828 32,40 A4 (2,3 a 25 kV) Demanda (R$/kW) Consumo Ponta Seca (R$/kWh) Consumo Ponta Úmida (R$/kWh) Consumo F Ponta Seca (R$/kWh) Consumo F Ponta Úmida (R$/kWh) 14,13 1,38920 1,36815 0,14049 0,12828 42,39 * Tarifas de fornecimento TUSD+TE (Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição + Tarifas de Energia), sem impostos. Com base no exposto até aqui, pode-se concluir que uma instalação é considerada eficiente em termos de tarifação se observados os seguintes pontos: - Excedentes de reativos: Nunca apresentar custos com excedentes reativos ou, na impossibilidade disto, apresentar menores custos possíveis (assunto melhor abordado no próximo item). - Ultrapassagem de demanda: Não apresentar custos de ultrapassagem de demanda. - Demanda contratada: Contratar um valor de demanda adequado ao seu perfil de carga, mantendo a demanda medida muita próxima da contratada. Exemplo de uma boa contratação de medida é apresentado no gráfico da figura 2.1, onde não houve registro de ultrapassagem e os valores efetivamente verificados estiveram, em 9 dos 10 meses analisados, entre a demanda contratada e a tolerância. No único mês onde a demanda verificada esteve abaixo da contratada a diferença foi mínima. Em contrapartida, a figura 2.2 apresenta um exemplo de contratação de demanda razoável, já que em 9 dos 12 meses analisados a demanda efetivamente verificada esteve consideravelmente abaixo da demanda contratada, representando um pagamento por insumo não utilizado. Uma das recomendações para contratação de demanda, dispondo-se de uma série histórica de valores medidos, é o valor máximo verificado no período, com redução de 5 % (demanda máxima verificada 1,05). 19 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 05/06 06/06 07/06 08/06 09/06 10/06 11/06 12/06 01/07 02/07 D em an da (k W ) Mês/Ano Demanda Verificada Demanda Contratada Tolerância Figura 2.1 - Exemplo de valor de demanda contratada de forma correta. 0 20 40 60 80 100 120 140 05/06 06/06 07/06 08/06 09/06 10/06 11/06 12/06 01/07 02/07 03/07 04/07 Dem an da (k W ) Mês/Ano Demanda Verificada Demanda Contratada Tolerância Figura 2.2 - Exemplo de valor de demanda contratada de forma razoável. - Enquadramento tarifário: Optar pelo melhor enquadramento tarifário, com base no perfil do consumidor e nas sugestões apresentadas pela tabela 2.3. Apresentar maior parte do consumo de energia no horário de ponta, estando enquadrado na tarifa horo-sazonal, por exemplo, é pouco eficiente. - Consumo específico: Apresentar o menor consumo específico possível. O consumo específico (CESP) é um índice que indica a quantidade de produto ou serviço produzido pela empresa (QP), em uma quantidade qualquer (kg, m3, L), em função do seu consumo de energia elétrica ativa (C_ativo), em kWh, ambos em um determinado período de tempo t qualquer, conforme apresenta a equação (2.11). Baixos consumos específicos significam, portanto, que a empresa produz muito com o menor consumo de energia possível, situação considerada ideal. A figura 2.3 apresenta um gráfico comparativo entre a produção de uma empresa (em kg) e o 20 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques consumo de energia (em kWh). Os pontos destacados ilustram situações de ineficiência, já que o consumo de energia no dia foi muito superior à produção. Nos demais dias a produção se manteve relativamente compatível com o consumo. tQ tativoCC P ESP _ (2.11) Figura 2.3 - Relação entre produção e consumo de energia de uma empresa. - Fator de carga: Apresentar elevado fator de carga. Conforme já definido, o fator de carga é dado pela razão entre a demanda média e a demanda máxima verificadas em um mesmo intervalo de tempo. A equação (2.12) apresenta uma forma alternativa de cálculo do fator de carga (FC), caso não se disponha da demanda média, dado pela razão entre o consumo ativo (em kWh) verificado em determinado período pelo produto entre a demanda máxima (Dmax, em kW) e o número de horas (t) do período em questão. Elevados fatores de carga indicam que a energia foi utilizada racionalmente ao longo do período de tempo; baixos fatores de carga, no entanto, indicam que o consumo esteve concentrado em um curto período de tempo, elevando a demanda registrada. As figuras 2.4 e 2.5 apresentam exemplos de curvas de carga que apresentam bom e mau fatores de carga, respectivamente. Na curva de carga da figura 2.5, percebe-se que a demanda se concentrou em um curto intervalo de tempo, antes do meio do dia, apresentando valor máximo muito superior à média. tD tativoCFC max _ (2.12) 21 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques De m an da (k W ) hora Demanda máxima Demanda média FC = 0,52 Figura 2.4 - Curva de carga com bom fator de carga. De m an da (k W ) hora Demanda máxima Demanda média FC = 0,27 Figura 2.5 - Curva de carga com mau fator de carga. - Custo médio de energia: Apresentar baixos custos médios de energia. O custo médio de energia é dado pela razão entre o custo total da fatura, em R$, e o consumo de energia elétrica ativa, em kWh, verificado no período de faturamento, conforme apresentado pela equação (2.13). De forma resumida, baixos custos médios de energia indicam que o consumidor concentrou seus custos nas parcelas de consumo e demanda úteis, com pouca ou nenhuma presença de custos com excedentes reativos, ultrapassagens de demanda, multas, etc. EnergiadeConsumo FaturadaTotalCustokWhREnergiadeMédioCusto ]/$[ (2.13) A figura 2.6 apresenta uma fatura de energia elétrica, de consumidor com enquadramento tarifário horo-sazonal azul, com a indicação de alguns pontos discutidos ao longo do presente item. 22 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Dados da concessionária Identificação da Unidade consumidora Classe do consumidor, Enquadramento tarifário e Tipo de ligação Período: Seco ou Úmido Demandas contratadas (ponta e fora de ponta) Fator de potência verificado Demandas verificadas (ponta e fora de ponta) Datas de leituras atual e anterior e número de dias faturados Histórico de consumo dos últimos 12 meses Mês de referência Número da unidade consumidora Consumo ativo total (ponta + fora de ponta) Valor total da fatura Quantidades faturadas Valores cobrados por grandeza faturada Tarifas aplicadas (sem impostos) Grandezas faturadas Composição do cálculo do ICMS Figura 2.6 - Fatura de energia elétrica de consumidor com enquadramento tarifário horo-sazonal azul, com pontos principais destacados. 23 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques 3. DIREITOS E DEVERES DO CONSUMIDOR SOBRE O PRODUTO ENERGIA 3.1. Direitos do Consumidor sobre o Produto Energia - Receber energia elétrica com qualidade e confiabilidade, dentro dos limites estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). - Ser informado, na própria conta, sobre a qualidade e confiabilidade do fornecimento de energia recebida. - Receber informações e orientações sobre formas de redução do desperdício de energia e sobre os aspectos de segurança na sua utilização. - Receber a conta de energia com antecedência mínima de 5 (cinco) dias úteis em relação à data do seu vencimento, no endereço da sua escolha. - Escolher uma data de vencimento para a sua fatura de energia, dentre 6 (seis) disponibilizadas pela concessionária. - Ser atendido em suas solicitações e reclamações dentro dos prazos regulamentados, sem ter que se deslocar do município onde se encontra a unidade consumidora. - Ser informado, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, sobre as providências adotadas quanto às solicitações ou reclamações. - Responder, apenas, por débitos relativos à fatura de energia de sua responsabilidade. - Ter um serviço de atendimento telefônico gratuito, disponível 24 (vinte e quatro) horas por dia, para a solução de problemas emergenciais. - Ser informado, na própria conta, sobre a existência de débitos anteriores. - Ser informado, na fatura, do percentual de reajuste da tarifa de energia elétrica e o início da sua vigência. - Ser ressarcido, em dobro, por valores cobrados e pagos indevidamente, a não ser que se trate de engano justificável. - Ser informado com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, e por escrito, quanto à possibilidade de suspensão do fornecimento por falta de pagamento. - Ter o fornecimento de energia restabelecido, sem ônus, no prazo máximo de até 4 (quatro) horas, caso seja constatado que a suspensão tenha sido indevida. - Ser indenizado, em caso de suspensão indevida do fornecimento, com o maior valor entre o dobro da religação de urgência ou 20% (vinte por cento) do valor líquido da primeira fatura, gerada após a religação da unidade consumidora. - Ter o fornecimento restabelecido no prazo máximo de 48 (quarenta e oito) horas, desde que tenha cessado o motivo da suspensão e ocorra a solicitação do consumidor ou constatação do pagamento. 24 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques - Ser ressarcido pelo conserto de equipamentos elétricos, quando constatado que o dano foi causado pela má qualidade do fornecimento de energia, no prazo máximo de 15 (quinze) dias úteis, a partir da respectiva data de solicitação. - Serinformado, com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas, sobre a ocorrência de interrupções programadas, através dos principais meios de comunicação: jornal, revista, televisão e rádio. - Ser informado, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias úteis e por escrito, sobre possíveis interrupções programadas, quando existir na unidade consumidora pessoa que dependa de equipamentos elétricos indispensáveis à vida. - Ser comunicado, por escrito, da necessidade de substituição do equipamento de medição, devendo estar indicadas no documento a leitura do medidor retirado e a do instalado. - Ter limitado, no máximo, a 3 (três) o número de contas consecutivas, emitidas com base na média aritmética do trimestre anterior, em caso de impedimento do acesso à leitura do medidor pela concessionária. - Ter à disposição, nos locais de atendimento, exemplares das Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica e das Normas e Padrões de Instalação de Entrada de Energia Elétrica. - Os danos em equipamentos ocorridos por problemas no fornecimento de energia deverão ser ressarcidos pela concessionária ou permissionária. - Qualquer usuário pode recorrer à ANEEL, ou agência conveniada, caso entenda que a sua concessionária não respeitou os seus direitos. - A concessionária deve desenvolver campanhas permanentes sobre os direitos e deveres dos consumidores. - O consumidor do Grupo A (alta tensão) pode optar pela tensão de fornecimento que lhe convier, desde que haja viabilidade técnica do sistema elétrico e que ele assuma os investimentos adicionais necessários ao atendimento do nível pretendido. - O fornecimento de energia passa a ser regido por um Contrato de Adesão. - A concessionária deve possuir e divulgar com destaque um número de telefone com acesso gratuito (0800) para atendimento ao consumidor. - O consumidor que faz uso de equipamentos essenciais à vida tem direito a atendimento diferenciado. 3.2. Deveres do Consumidor sobre o Produto Energia - Manter a adequação técnica e a segurança das instalações internas da unidade consumidora, de acordo com as normas e os padrões da concessionária. 25 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques - Manter sob sua guarda e cuidado os equipamentos de medição instalados na unidade consumidora. - Garantir o livre acesso aos representantes da concessionária aos locais onde estiverem instalados os equipamentos de medição, para fins de inspeção e leitura. - Efetuar o pagamento da fatura de energia até a data do vencimento, sujeitando-se às penalidades cabíveis em caso de atraso. - Informar à concessionária sobre a existência, na unidade consumidora, de pessoa que use equipamentos elétricos indispensáveis à vida. - Manter o cadastro na concessionária atualizado, informando eventuais alterações nos dados da conta de energia, como mudança de nome, número do CPF, mudança de atividade econômica (residência, comércio, rural, serviços), entre outros. - Informar à concessionária a necessidade de aumento ou diminuição da carga instalada na unidade consumidora. - Responsabilizar-se por danos causados nos equipamentos de medição ou no sistema elétrico da concessionária, decorrentes de qualquer procedimento irregular ou de deficiência técnica das instalações elétricas internas da unidade consumidora. - Pagar o custo administrativo adicional, decorrente de auto-religação à revelia da concessionária. - Responder criminalmente, caso fique comprovada sua participação no uso de meios ilegais para consumir energia sem medição e sem autorização da concessionária. - Solicitar a rescisão do Contrato de Adesão de Fornecimento de Energia Elétrica, mediante pedido de desligamento da unidade consumidora, a partir do que não mais estará sujeito à cobrança dos valores mínimos faturáveis. 26 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques 4. QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA 4.1. Introdução O termo “Qualidade de Energia” tem ganhado cada vez mais notoriedade nos últimos anos, pois tem se convertido em uma questão de grande interesse tanto para as companhias responsáveis pela geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, quanto para os fabricantes de equipamentos e os consumidores finais. Não há uma definição exata para o termo “Qualidade de Energia” (ou, em inglês, Power Quality) e que seja completamente aceita pela comunidade internacional, a notar pelas várias definições encontradas nos mais importantes padrões internacionais relacionados à qualidade da energia elétrica. Como por exemplo, o padrão IEC 61000-4-30 (IEC - International Electrotechnical Commission) define a qualidade da energia como “as características da eletricidade em um dado ponto de um sistema elétrico, avaliadas em relação a um conjunto de parâmetros técnicos de referência”, enquanto o padrão IEEE 1159-1992 (IEEE - Institute of Electrical and Electronics Engineers) define como “uma ampla variedade de fenômenos eletromagnéticos que caracterizam a tensão e a corrente em um dado instante e em uma dada localização do sistema elétrico”. De uma forma geral, a qualidade de energia de um sistema elétrico abrange a combinação da disponibilidade do suprimento elétrico com a presença de formas de onda de tensão e corrente, sem que as mesmas prejudiquem o funcionamento dos diferentes equipamentos e/ou das instalações que o constituem. Entretanto, o conceito de Qualidade de Energia não está somente relacionado a aspectos técnicos, visto que pode englobar outros fatores, como ambientais, contratuais, sociais, econômicos, etc. A eletricidade é tida hoje como um produto; as companhias geradoras e distribuidoras de eletricidade estão sujeitas às responsabilidades associadas aos danos causados por um produto defeituoso. Esse produto deve ser confiável e fornecido com determinadas características regulamentadas, as quais devem ser medidas, garantidas, preditas e melhoradas. Uma particularidade importante também da eletricidade é que sua utilização por parte dos clientes (consumidores) modifica suas características. A conexão dos equipamentos dos clientes ao sistema de distribuição de energia elétrica origina a circulação de correntes elétricas proporcionais às suas demandas. Estas correntes, ao circularem pelos condutores da rede, originam quedas de tensão. As características da forma de onda da tensão suprida a um consumidor é afetada pelas formas de ondas das quedas de tensão acumuladas em todos os elementos da rede que alimenta o cliente, sendo o mesmo afetado por sua própria demanda e pela demanda simultânea de outros clientes. Como a demanda de cada cliente varia continuamente, a tensão fornecida varia também da mesma forma. 27 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques As perturbações eletromagnéticas aos elementos que compõem o sistema de geração, transmissão ou distribuição de energia elétrica e que afetam a qualidade do suprimento da energia elétrica podem também ser causadas por diversos fatores, como descargas atmosféricas, desgastes, má conexões, envelhecimento de dispositivos, a própria atividade humana, ação de animais, entre outros. Os fatores que determinam a qualidade da energia elétrica dependem tanto das condições do fornecimento quanto de seus consumidores. Então, para assegurar bons níveis na qualidade do suprimento, torna-se necessária a cooperação entre os agentes (fornecedor e consumidor) que intervêm no processo. Os efeitos produzidos pela má qualidade de energia nos diversos equipamentos elétricossão variáveis, indo desde ligeiros aquecimentos até a falha total. Algumas cargas podem funcionar de forma incorreta se na energia fornecida há uma interrupção de somente décimos ou mesmo centésimos de segundos. Cada tipo de equipamento sensível aos distúrbios, principalmente os eletrônicos, difere em seu comportamento em relação às frequências e intensidades das variações das grandezas elétricas. A eletricidade é utilizada em muitas atividades da sociedade moderna e um distúrbio na energia elétrica pode acarretar em problemas significativos para essas atividades. Por exemplo, para um consumidor residencial, sob o ponto de vista de seu bem-estar, pode haver problemas para conservação de alimentos, condicionamento ambiental, conforto e facilidades domésticas, lazer, pessoas que trabalham em casa, etc. Para o setor de serviços públicos, como exemplo, os serviços de saúde, telecomunicações, bancos, iluminação pública, poderá haver problemas de segurança pública, riscos à saúde, etc. Os efeitos econômicos de um problema de qualidade na energia nos setores comerciais e industriais, principalmente nos processos industriais com a parada ou a avaria de equipamentos, podem ser muito significativos. A qualidade de vida e o padrão de conforto requerido pela sociedade moderna, devido ao seu atual grau de desenvolvimento, têm levado nos últimos anos a mudanças cada vez maiores na característica das cargas elétricas (ou equipamentos) utilizados nos vários setores (residencial, comercial, industrial) e também na necessidade de crescimento, cada vez mais acelerado, na oferta de energia elétrica. Atualmente, uma das grandes necessidades do setor elétrico é o uso da energia elétrica de uma forma cada vez mais racional e otimizada. Diante da necessidade em se obter ganhos em eficiência e produtividade, faz também com que os consumidores busquem por equipamentos mais modernos, que propiciem esses fatores (geralmente dispositivos com eletrônica de potência), associados à redução das perdas. No entanto, esses equipamentos podem constituir as próprias fontes de problemas e deteriorar a qualidade do suprimento elétrico, 28 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques comprometendo o funcionamento de sistemas ou de cargas mais sensíveis às falhas e distúrbios no sistema elétrico de potência. Vale ressaltar que, para o crescente interesse no uso racional de energia elétrica, muitas das medidas de conservação, apesar de serem atrativas, se não forem estudadas e implementadas de forma conveniente, podem resultar em vários problemas relacionados à qualidade de energia elétrica. Diante do exposto, verifica-se a necessidade de busca por soluções por parte das companhias elétricas, fabricantes de equipamentos e consumidores para a realização de medidas práticas e econômicas para a eliminação ou atenuação dos problemas de qualidade de energia. Para isso, há a necessidade de identificação e caracterização dos distúrbios que se manifestam nos sinais elétricos, suas causas e efeitos em equipamentos que compõem um sistema elétrico, para assim desenvolver ou adotar técnicas de controle adequadas para atenuar ou suprimir os efeitos destes eventos. 4.2. Distúrbios que Afetam a Qualidade da Energia Qualquer distúrbio encontrado nas formas de onda de tensão, corrente ou variações de frequência que resulte em falha ou defeito nas instalações e/ou equipamentos de um sistema elétrico pode ser caracterizado como um problema de qualidade da energia elétrica. Os distúrbios em uma forma de onda podem ser originados tanto nos componentes e/ou equipamentos do sistema supridor como dos consumidores. Estes distúrbios podem ser classificados em categorias que podem variar quanto ao efeito, duração e intensidade. Alguns dos fenômenos que afetam a qualidade de energia de um sistema são descritos ao longo deste item. 4.2.1. Transitórios Os transitórios são fenômenos eletromagnéticos oriundos de alterações súbitas nas condições operacionais de um sistema de energia elétrica. Geralmente, a duração de um transitório é muito pequena, mas de grande importância, uma vez que submetem equipamentos a grandes solicitações de tensão e/ou corrente. De forma geral, os transitórios podem ser classificados em duas categorias: impulsivos, como por exemplo, com a forma de onda característica na figura 4.1a, causada normalmente por descargas atmosféricas, e os oscilatórios, como por exemplo, o apresentado na figura 4.1b, causados por chaveamentos. 29 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques (a) (b) Figura 4.1 - (a) Corrente transitória impulsiva oriunda de uma descarga atmosférica e (b) Transitório proveniente do chaveamento de banco de capacitores. 4.2.2. Variações de Tensão de Curta Duração A variação de tensão de curta duração (VTCD) é um desvio significativo no valor eficaz da tensão em curto intervalo de tempo. A VTCD pode ser caracterizada por alterações instantâneas, momentâneas ou temporárias, isto dependerá da duração de cada fenômeno. Dependendo da variação no valor eficaz da tensão, esses distúrbios elétricos não estacionários podem ser caracterizados como interrupções, afundamentos de tensão e elevação de tensão em curta duração. As VTCDs constituem fenômenos eletromagnéticos de grande importância dada à influência na operação do sistema e no comportamento de cargas sensíveis. Tais eventos são responsáveis por falha, má operação, ou desligamento de equipamentos, processos e sistemas, acarretando em elevado prejuízo financeiro, notadamente no setor industrial. Afundamentos de Tensão (Dip ou Sag) Um afundamento de tensão é caracterizado como uma diminuição entre 10 e 90% no valor eficaz da tensão de alimentação com duração de 0,5 ciclo a 1 minuto. A figura 4.2 ilustra um exemplo de afundamento na amplitude da forma de onda de tensão. Um afundamento de tensão geralmente é associado aos curtos-circuitos no sistema, mas pode também ser causado pela energização de grandes cargas, tais como grandes motores, ou pelas fortes variações características de algumas cargas. 30 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Figura 4.2 - Exemplo de um afundamento de tensão. Elevação de tensão (Swell) Uma elevação de tensão é definida como um aumento entre 10 e 80% no valor eficaz da tensão de alimentação com duração de 0,5 ciclo a 1 minuto. A figura 4.3 ilustra um exemplo de elevação na amplitude da forma de onda de tensão. Como os afundamentos de tensões, as elevações de tensão são geralmente associadas às condições de faltas no sistema elétrico, mas estas elevações não são tão freqüentes quanto os afundamentos. Uma elevação de tensão pode surgir, por exemplo, nas fases “sãs” na presença de um curto-circuito fase-terra ou ainda, pela retirada de grandes blocos de cargas do sistema elétrico. Figura 4.3 - Exemplo de uma elevação de tensão. 31 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Interrupções As interrupções de energia de curta duração são caracterizadas quando a amplitude da tensão atinge valor menor que 10% ao da nominal em um intervalo inferior a 1 minuto. As interrupções de energia podem ocorrer devido a descargas atmosféricas na rede, faltas no sistema ocasionadas por curtos-circuitos e ao mal funcionamento de dispositivos ou equipamentos do sistema. A duraçãode uma interrupção, devido à ocorrência de uma falta, dependerá do tempo em que os dispositivos de proteção levam para entrar em operação. Em contrapartida, o atraso no fechamento dos dispositivos de proteção pode causar interrupções momentâneas, temporárias ou mesmo sustentadas. As interrupções momentâneas possuem duração de interrupção de 0,5 ciclos a 3s e ocorrem, por exemplo, como o caso da figura 4.4 quando o sistema elétrico dispõe de disjuntores ou religadores, que abrem na ocorrência de uma falta, fechando-se automaticamente após alguns milissegundos e mantendo-se ligados caso a falta já se tenha extinguido. Figura 4.4 - Interrupção momentânea devida uma falta no sistema. Segundo os Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional – PRODIST da Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, as variações de tensão de curta duração são classificadas, de acordo com a tabela a seguir. 32 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Tabela 4.1 - Classificação das Variações de Tensão de Curta Duração. Classificação Denominação Duração da Variação Amplitude da tensão (valor eficaz) em relação à tensão de referência Variação Momentânea de Tensão Interrupção Momentânea de Tensão Inferior ou igual a três segundos Inferior a 10% Afundamento Momentâneo de Tensão Superior ou igual a um ciclo e inferior ou igual a três segundos Superior ou igual a 10% e inferior a 90% Elevação Momentânea de Tensão Superior ou igual a um ciclo e inferior ou igual a três segundos Superior a 10% Variação Temporária de Tensão Interrupção Temporária de Tensão Superior a três segundos e inferior ou igual a um minuto Inferior a 10% Afundamento Temporário de Tensão Superior a três segundos e inferior ou igual a um minuto Superior ou igual a 10% e inferior a 90% Elevação Temporária de Tensão Superior a três segundos e inferior ou igual a um minuto Superior a 10% 4.2.3. Variações de Tensão de Longa Duração As variações de tensão de longa duração são caracterizadas por desvios que ocorrem no valor eficaz da tensão, durante um período superior a 1 minuto. Estas variações podem estar associadas à sobretensão, subtensão ou interrupções sustentadas. Subtensão Uma subtensão é caracterizada quando ocorre uma diminuição no valor eficaz da tensão CA para menos de 90% e com uma duração superior a 1 minuto. As subtensões são decorrentes, principalmente, do carregamento excessivo de circuitos alimentadores, os quais são submetidos a determinados níveis de corrente que, interagindo com a impedância da rede, dão origem a quedas de tensão acentuadas. Outros fatores que contribuem para as subtensões são a conexão de grandes cargas à rede elétrica, o desligamento, por exemplo, de bancos de capacitores e, consequentemente, o excesso de reativo transportado pelos circuitos de distribuição, o que limita a capacidade do sistema no fornecimento de potência ativa e ao mesmo tempo eleva a queda de tensão. 33 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Sobretensão Uma sobretensão é definida como sendo um aumento no valor eficaz da tensão CA, maior do que 10% por uma duração maior do que 1 minuto. As sobretensões usualmente resultam do desligamento de grandes cargas ou energização de um banco de capacitores. Também podem ser resultados de taps dos transformadores incorretamente conectados. Outro fato pode ser devido à inserção de bancos de capacitores, normalmente fixos, para correção do fator de potência ou mesmo para elevação da tensão nos circuitos internos de uma instalação. Nos horários de ponta, quando há grandes solicitações de carga, e a energia reativa fornecida por estes bancos é requerida. Entretanto, no horário fora de ponta, principalmente no período noturno, tem-se um excesso de energia reativa injetada no sistema, o qual se manifesta por uma elevação da tensão. Atualmente, índices que caracterizam variações de tensão de longa duração encontram-se definidos na Resolução 676 da ANEEL. No Módulo 8 do PRODIST são estabelecidos, baseado na resolução 676, os limites adequados, precários e críticos para os níveis de tensão em regime permanente, os indicadores individuais e coletivos de conformidade de tensão elétrica, os critérios de medição e registro, os prazos para regularização e de compensação ao consumidor, caso os limites de tensão observados não se encontrem na faixa de atendimento adequado. A conformidade da tensão elétrica refere-se à comparação do valor de tensão obtido por medição apropriada, no ponto de conexão, em relação aos níveis de tensão especificados como adequados, precários e críticos. Na figura 4.5 apresentam-se as faixas de tensão em relação a uma determinada tensão de referência (TR). Figura 4.5 - Faixas de tensão em relação à tensão de referência (TR). 34 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Interrupção sustentada As interrupções sustentadas são causadas geralmente por danos físicos em algum componente do sistema de geração, transmissão ou distribuição, sendo necessária a intervenção de pessoal responsável pela manutenção do mesmo, uma vez que o impacto desta interrupção no fornecimento de energia elétrica sobre os consumidores deste sistema pode levar de alguns minutos ou até mesmo dias. Portanto, os dispositivos de proteção são extremamente importantes a fim de evitar uma maior duração da interrupção de energia do sistema. A Resolução 024 da ANEEL estabelece as disposições relativas à continuidade da distribuição de energia elétrica às unidades consumidoras (em sistemas de grande porte), observando os aspectos de duração e frequência de ocorrência das interrupções. Estes aspectos devem ser supervisionados, avaliados e controlados por meio de indicadores vinculados a conjuntos de unidades consumidoras, bem como unidades individuais. Por meio do controle das interrupções, do cálculo e da divulgação dos indicadores de continuidade de serviço, as distribuidoras, os consumidores e a ANEEL podem avaliar a qualidade do serviço prestado e o desempenho do sistema elétrico. 4.2.4. Desequilíbrio ou Desbalanço de Tensão O desequilíbrio de fases é o fenômeno no qual os valores eficazes das tensões ou os ângulos de fases entre fases consecutivas não são iguais. Pela definição do PRODIST, o desequilíbrio de tensão é o fenômeno associado a alterações dos padrões trifásicos do sistema de distribuição. Um desequilíbrio na tensão de alimentação pode ser causado pela presença de cargas trifásicas desequilibradas conectadas a uma rede elétrica, uma vez que as correntes absorvidas nas três fases não são simétricas ou, por exemplo, pela perda de uma fase de um banco de capacitores ocasionada pela queima de fusível. Os desequilíbrios de tensão devem-se também a má distribuição de cargas monofásicas em redes de distribuição trifásicas. Os desequilíbrios de tensão podem apresentar problemas indesejáveis na operação de equipamentos, como máquinas síncronas, retificadores e motores de indução. Mesmo havendo um equilíbrio razoável das cargas nas fases do sistema e se a maioria dessas cargas for do tipo não-linear, poderá haver a presença de correntes significativas circulando no condutor neutro. 35 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques 4.2.5. Flutuaçõesou Oscilações de Tensão Flutuações de tensão são variações sistemáticas no perfil da tensão ou uma série de mudanças aleatórias da magnitude da tensão, as quais, normalmente, não excedem o limite especificado de ± 5%. Tais flutuações são geralmente causadas por cargas que apresentam variações significativas na corrente, podendo se manifestar de forma aleatória (a principal fonte destas flutuações são os fornos a arco, onde as amplitudes das oscilações dependem do estado de fusão do material e do nível de curto-circuito da instalação); repetitiva (dentre as principais fontes, tem-se as flutuações de tensão causadas por máquinas de solda, laminadores, elevadores de minas e ferrovias) e de forma esporádica (a principal fonte causadora destas oscilações é a partida direta de grandes motores). Os principais efeitos nos sistemas elétricos, resultados das oscilações causadas pelos equipamentos mencionados anteriormente são oscilações de potência e torque das máquinas elétricas; queda de rendimento dos equipamentos elétricos; interferência nos sistemas de proteção; efeito flicker ou cintilação luminosa. O fenômeno flicker consiste no efeito mais comum provocado pelas oscilações de tensão. Este tema merece especial atenção, uma vez que o desconforto visual associado à perceptibilidade do olho humano às variações da intensidade luminosa é, em toda sua extensão, indesejável. 4.3. Harmônicos em Sistemas de Energia Elétrica Harmônicos são componentes senoidais de uma forma de onda periódica cuja frequência é um múltiplo inteiro, ou harmônico, da frequência fundamental de operação do sistema (usualmente 50 ou 60 Hz). As distorções harmônicas são fenômenos associados com deformações nas formas de onda das tensões e correntes em relação à onda senoidal da frequência fundamental. Harmônicos são classificados como um tipo de distorção na forma de onda em relação a uma senóide, ou seja, como um desvio, em regime permanente, em relação a uma forma de onda puramente senoidal, na frequência fundamental. Além dos harmônicos, existem outros quatro tipos principais de distorções na forma de onda: interharmônicos, Nível CC, Microcorte (Notching) e Ruídos. Para facilitar a compreensão sobre as componentes harmônicas em um sistema elétrico, são apresentadas abaixo as figuras 4.6 e 4.7. A primeira ilustra uma forma de onda senoidal pura, que idealmente deveria ser a forma de onda entregue pela concessionária à carga. Porém, ao ser aplicada a uma determinada carga, a forma de onda resultante será dependente das características da carga. Se a forma de onda da corrente da carga for também senoidal pura, como a apresentada na figura 4.6, então esta carga é dita linear. Se a forma de onda de corrente da carga apresentar distorções com relação à senóide pura, então a carga é dita não linear. 36 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Correntes de cargas não-lineares podem provocar a distorção harmônica da tensão de alimentação do sistema. A forma de onda da figura 4.7 apresenta amplitude e frequência diferentes da forma de onda 4.6. A amplitude, em geral, é menor, e a frequência define a ordem da componente harmônica. No caso em questão, a componente harmônica é de quinta ordem, ou seja, sua frequência é cinco vezes a frequência fundamental da forma de onda de alimentação. No caso do Brasil, onde a frequência fundamental é 60 Hz, tal componente harmônica de quinta ordem, teria, portanto, frequência de 300 Hz. Figura 4.6 - Forma de onda senoidal pura. Figura 4.7 - Forma de onda apresentando componente harmônica de quinta ordem. A figura 4.8 repete as figuras 4.6 e 4.7 e apresenta a forma de onda resultante da soma entre a componente fundamental e a componente de quinta ordem. Em uma situação ideal, onde a forma de onda resultante fosse senoidal pura, ou seja, contendo somente a senóide de frequência de 60 Hz, existiria apenas a harmônica de primeira ordem, chamada de fundamental. Nos demais casos, as harmônicas são classificadas quanto a sua ordem, frequência e sequência. Quanto à ordem, há harmônicas ímpares e pares. As ímpares são encontradas nas instalações elétricas em geral. Quanto à sequência, podem ser de sequência positiva, negativa ou nula (zero), e quanto à frequência, são determinadas a partir de sua ordem, multiplicada pela frequência fundamental. A tabela 4.2 apresenta as classificações citadas considerando um sistema balanceado. 37 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Figura 4.8 - Forma de onda resultante da soma entre a componente fundamental e componente de quinta ordem Tabela 4.2 - Ordem, frequência e sequência das harmônicas. Ordem Frequência (Hz) Sequência 1 60 + 2 120 - 3 180 0 4 240 + 5 300 - 6 360 0 n n * 60 A Distorção Harmônica Total (DHT, ou THD, do inglês Total Harmonic Distortion) é definida em consequência da necessidade de se avaliar a distorção harmônica presente em uma determinada instalação. São definidos dois valores para THD, um para a tensão (THDv) e outro para corrente (THDi), que indicam, respectivamente, o grau de distorção das ondas de tensão e de corrente com relação à senóide pura. Em geral, a distorção de corrente é provocada pela carga e a distorção de tensão é produzida pela fonte geradora como consequência da circulação de correntes distorcidas pela instalação. O espectro harmônico é uma representação no domínio da frequência que permite decompor um sinal em suas componentes harmônicas e representá-lo em um formato de gráfico de barras, onde cada barra representa uma harmônica com 38 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques sua frequência e amplitude, podendo ser representada por seu valor eficaz ou percentual em relação à fundamental. A figura 4.9 apresenta dois espectros harmônicos, o primeiro de um sinal senoidal puro, onde há a presença apenas da componente fundamental, e o segundo de um sinal distorcido, possuindo harmônicas de ordem 5, 7, 11, 13, 17, 19, 23 e 25. (a) (b) Figura 4.9 - Espectros harmônicos de amplitude (a) um sinal senoidal puro, e (b) de um sinal distorcido. A presença de componentes harmônicas em sistemas elétricos de potência não é um fenômeno novo. Esforços para limitar o conteúdo harmônico para proporções aceitáveis já eram uma preocupação de engenheiros da área de potência no início do século passado. Naquela ocasião, a distorção era causada tipicamente pela saturação magnética de transformadores, ou por certas cargas industriais, como fornos a arco ou soldadores a arco. As principais preocupações eram os efeitos dos harmônicos em máquinas síncronas, de indução, interferência na telefonia e falhas em bancos de capacitores. 39 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA Disciplina: Gerenciamento de Sistemas de Energia Elétrica Prof. Luis Blasques Hoje, porém, métodos adicionais para lidar com harmônicos são necessários por três razões principais: - a proliferação do uso de conversores estáticos de potência; - o aumento das possibilidades de ressonâncias na rede elétrica; - a presença de equipamentos e cargas do sistema de potência com maior sensibilidade a harmônicos. As principais fontes de harmônicos em um sistema elétrico são provenientes de equipamentos com características não-lineares. As fontes clássicas de harmônicos são: - equipamentos com componentes saturáveis (transformadores, máquinas elétricas, reatores, etc.); - lâmpadas de descarga de gás; - fornos a arco;
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