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Professor Alyson Barros Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 1 Psicologia para o INSS Sumário Considerações Iniciais ...................................................................................................... 2 Teorias da Personalidade ................................................................................................ 4 Sigmund Freud ............................................................................................................. 9 M. Klein ........................................................................................................................ 18 D. Winnicott................................................................................................................ 24 J. Lacan ....................................................................................................................... 29 Skinner ......................................................................................................................... 31 Beck e a Terapia Cognitiva ........................................................................................ 38 F. Perls ........................................................................................................................ 42 Rogers......................................................................................................................... 47 O PSICODRAMA (MORENO) ......................................................................................53 Erik Erikson ................................................................................................................. 54 Adler ........................................................................................................................... 62 Kurt Lewin .................................................................................................................. 68 Wilhelm Reich ............................................................................................................. 74 C. G. Jung .................................................................................................................... 79 Harry Stack Sullivan ................................................................................................... 84 Karen Horney ............................................................................................................. 90 A VISÃO EPIGENÉTICA ............................................................................................... 97 Piaget .......................................................................................................................... 97 A VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA ...................................................................................... 107 Vigotsky ..................................................................................................................... 109 Técnicas psicoterápicas. ................................................................................................ 117 PSICANÁLISE (FREUD, M. KLEIN, WINNICOTT, LACAN) ......................................... 129 Modalidade de psicoterapia ..................................................................................... 132 Questões ....................................................................................................................... 145 Questões comentadas e gabaritadas .......................................................................... 166 Observação importante: este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram o curso. Valorize o trabalho do seu professor adquirindo os cursos honestamente através do site Estratégia Concursos. Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 2 Considerações Iniciais Sério, você tem muito o que estudar. Muito mesmo. A aula de hoje está bem calibrada. Tinha separado três tópicos para a aula de hoje, mas irei abordar só dois. O terceiro tópico abordarei na aula seguinte. Temos 60 questões bem selecionadas para a sua preparação para esse concurso e quanto mais eu resolvo provas da FUNRIO mais eu tenho a certeza que quem vai elaborar a sua prova é um aluno do primeiro ano da faculdade de psicologia. Comento mais sobre isso depois (rs). Antes de começarmos, temos de tratar de três coisas. A primeira é que alguns dos vídeos que já gravei ainda não foram ao ar. Com a mudança de plataforma eu ainda não sei como indicar os vídeos para o lugar certo. Mas não se preocupem, resolvo isso logo. O segundo ponto, e mais interessante, é que estou testando uma nova ferramenta, uma SALA DE AULA VIRTUAL. É uma sala para conversar diretamente com você. Ela está ainda em fase de teste e reservarei um horário nesse sábado especificamente para os alunos desse curso. Não tem relação com o Estratégia e é algo que ainda está em fase de teste. Por isso, a mlehor pessoa para responder as questões sobre como essa sala irá funcionar sou eu mesmo. Ela funcionará EXPERIMENTALMENTE da seguinte maneira, vou pegar o e-mail do pessoal interessado em participar nesse sábado de uma “conversa virtual” - dia 24/08, às 16h. Será uma hora de conversa onde falarei sobre o edital, indicações de livros e alinhamentos de expectativas quanto ao curso e a prova. A sala permite vídeo, áudio, bate papo, apresentações, etc. É um mundo novo que estamos desvelando para aproximar mais os alunos do professor. Caso você tenha interesse, envie um e-mail para alyson@psicologianova.com.br que anotarei seu nome (coloque o nome completo com que fez a compra do curso e no assunto do e- mail escreva INSS: Sala de Aula) e enviarei um mini manual de instruções. Combinado? Teremos problemas tecnológicos para acessar as aulas? Alguns alunos não conseguirão acessar a sala de aula virtual? Sem dúvida! É mais previsível o Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 3 comportamento humano que o comportamento das máquinas. Mesmo assim, mandarei um guia do que você tem de fazer antes para entrar na sala. Mas Alyson, sábado não posso, eu estou pagando e não poderei ir, o que faço? Well, well, well. Primeiro, como é uma sala de aula fora desse curso pago, é algo gratuito que estou testando com alguns alunos de cursos selecionados. Segundo, se tivermos algo relevante lá, obviamente que trarei para cá! Nem te preocupe, eu quero aprovar o máximo possível de alunos e ir na maior quantidade possível de churrascos após a publicação da lista final. Terceiro ponto, e não menos importante, não sou perfeito e nem acho que chegue perto disso, por isso, caso você discorde de alguma coisa da aula, não se acanhe e pergunte ao seu professor. Eu entendo de psicologia para concursos, o que é bem diferente de entender da psicologia acadêmica ou da vida real, por isso, fique a vontade mesmo com o nosso curso. Quarto ponto é que em tópicos abrangentes, como ocorrerá em todo nosso curso, tenho de fazer apostas baseadas nas informações que o edital passa e na resolução de provas passadas. Isso não impede que você faça outras apostas em outros assuntos, combinado? Se quiser, pode começar a ler as obras completas de Freud que será um bom começo. Bom, sem mais papo, vamos arrebentar logo com essa matéria que está supimpa! Abraço e bons estudos! Ou você se compromete com objetivo da vitória, ou não Ayrton Senna da Silva As grandes obras são executadas, não pela força, mas pela perseverança Samuel Johnson Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 4 Teorias da Personalidade Vamos começar com alguns conceitos básicos sobre personalidade antes de adentrarmos no mundo analítico de Freud e de Melanie Klein. Para cada um dos teóricos que estudaremos, encontraremos uma definição do que é personalidade. Porém, um dos conceitos mais comuns e abrangentes é que “Personalidade é um modo particular como percebemos o mundo e interagimos com o ambiente”. Assim, o conceito de personalidade remete a padrões de comportamento e o modo de organização do self. Observe que assim integramos uma definição intrapsíquica e ambiental. A maioria das outras definições manterá a perspectiva de consistência e padrão que se mantém. Outra definição útil é que “a personalidade representa aquelas características da pessoa que explicam padrões consistentes de sentimentos, pensamentos e comportamentos”. A intenção do estudo da personalidade é entender a razão da natureza humana, das diferenças individuais e a possibilidade de alteração desses traços e/ou fatores de personalidade. Assim, poderemos entender psicopatologias/tratamentos, processos motivacionais, estruturas e perspectivas de crescimento. É importante salientar que o estudo da personalidade concentra- se não apenas nos processos psicológicos, mas também nas relações entre esses processos e a gênese dos mesmos. Estudaremos agora cinco áreas que uma teoria da personalidade completa deveria cobrir: (1) Estrutura – as unidades básicas ou os blocos constitutivos da personalidade. (2) Processo – os aspectos dinâmicos da personalidade, incluindo os motivos. (3) Crescimento e desenvolvimento – como nos desenvolvemos, formando a pessoa única que cada um de nós é. (4) Psicopatologia – a natureza e as causas do funcionamento desordenado da personalidade. (5) Mudança – como as pessoas mudam e por que elas, às vezes, resistem à mudança ou são incapazes de mudar. 1) Estrutura Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 5 São aspectos estáveis da personalidade que representam os blocos organizadores e fundamentais (resposta, hábito, traço e tipo) e como esses blocos se relacionam e se estruturam hierarquicamente. Lembre-se da diferença entre Traço e Tipo: Traço: reações do indivíduo em diferentes situações (ex. abertura e agressividade). Tipo: é um padrão estável de traços de personalidade e representa agrupamentos de traços (ex. extrovertido e introvertido). Em comparação com o conceito de traço, o de tipo implica um grau maior de regularidade e generalidade no comportamento. Embora as pessoas possam ter muitos traços em graus diferentes, elas são geralmente descritas como pertencentes a um tipo específico. 2) Processos Motivacionais No estudo da personalidade empregamos três categorias principais de conceitos motivacionais: motivos de prazer ou hedônicos, motivos de crescimento ou auto-realização, e motivos cognitivo. As teorias de prazer focam na busca de satisfação e evitação da dor ou perda. Existem duas variações importantes deste tipo de abordagem motivacional: modelos de redução da tensão e modelos de incentivo. Os primeiros afirmam que as necessidades psicológicas criam tensões que requerem alívio e este alívio leva à satisfação. Nos modelos de incentivo o foco está na finalidade, no objetivo e nos incentivos que a pessoa busca alcançar. As teorias de crescimento ou realização enfatizam os esforços do indivíduo para progredir e realizar o seu potencial, mesmo que isto eleve o nível de tensão. Nas teorias cognitivas da motivação a ênfase está no esforço que a pessoa faz para compreender ou prever os eventos. A pessoa busca o conhecimento pelo próprio conhecimento. Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 6 3) Crescimento e Desenvolvimento Nesse ponto é importante destacar a relação entre determinantes genéticos (temperamento e inteligência) e determinantes ambientais. Teremos um tópico de nosso curso voltado a essa discussão. 4) Psicopatologia e Tratamento No estudo das teorias de personalidade encontramos a definição do que é saudável e adequado e do que é anormal. É importante salientar que, algumas vezes, agrupamentos teóricos apresentam classificações distintas entre si para o mesmo fenômeno. Dessa classificação decorrem as interpretações sobre a necessidade de tratamento ou, até, a impossibilidade do mesmo. Embora nem todos os teóricos da personalidade sejam terapeutas, uma teoria da personalidade completa deveria sugerir como e o porquê as pessoas mudam ou resistem à mudança. 5) Mudança Representa o conjunto de processos pelos quais a mudança ocorre. Como ela afeta a personalidade, seus níveis de atuação, sua efetividade na mudança de traços de personalidade e as resistências à mudança. Além de descrever a estrutura, os processos dinâmicos, o desenvolvimento e as possibilidades de mudança da personalidade, uma teoria da personalidade termina, por sua própria natureza, tocando e tendo de se posicionar em outros temas da maior relevância que, no entanto, ultrapassam o âmbito da psicologia da personalidade. As respostas dadas a essas perguntas são, muitas vezes, dependentes do ambiente sócio-cultural do pesquisador e mostram como a cultura influencia o processo científico: 1. A imagem do ser humano - o ser humano é um ser livre, autodeterminado ou é um ser guiado por pulsões? Ou ainda meros "supercomputadortes"? Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 7 2. Os fatores determinantes do comportamento - o ser humano é impulsionado por fatores internos (pulsões, como em Freud, ou a autorrealização, como em Rogers) ou externos (reforço e castigo, como em Skinner)? 3. A consistência e a estabilidade da personalidade - Quão consistente é a personalidade em diferentes momentos e situações? Qual é o limite da capacidade da personalidade de se transformar, se modificar? Até quando a pessoa permanece "ela mesma"? 4. A unidade da experiência e o conceito de si-mesmo - Como o ser humano é capaz de unir a diversidade de experiências que faz em uma só pessoa? Como ele é capaz de se sentir uma só pessoa, mesmo se comportando de maneira diferente em diversas situações? 5. A relação entre os diferentes estados de consciência e o conceito de inconsciente - O que é a consciência? Qual sua função? Como são organizados os processos mentais inconscientes? Qual sua importância para a formação da personalidade? 6. A importância da experiência temporal para o comportamento - como e de que forma as experiências passadas, presentes e futuras (esperadas) influenciam o comportamento e, assim, a personalidade? 7. Os limites do conhecimento científico - é o método científico capaz de representar a complexidade do viver e da personalidade humana? O candidato deve estar atento a definição de teoria de traços de personalidade. Essa é uma das principais abordagens para o estudo da personalidade humana. Teóricos dos traços de personalidade estão principalmente interessados na mensuração de traços, que podem ser definidos como padrões habituais de comportamento, pensamento e emoção. Segundo esta perspectiva, as características são relativamente estáveis ao longo do tempo, diferem entre os indivíduos (por exemplo, algumas pessoas são extrovertidas ao passo que, outras são tímidas), e influenciam o comportamento. Outra noção importante na área do estudo da personalidade, ainda dentro da perspectiva de crescimento e desenvolvimento, é a diferenciação entre a visão Nomotética e a visão Idiográfica. Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 8 Em psicologia, as teorias de personalidade nomotéticas são aquelas que enunciam leis gerais que, necessariamente, interferem na formação do sujeito. Essas teorias partem de leis gerais, geralmente estágios de desenvolvimento, às quais cada habitante desse imenso planeta está regido. Ao contrário, as teorias da personalidade idiográficas estão mais relacionadas a casos singulares, buscando a explicação das particularidades pessoais em detrimento da visão enunciativa de leis generalistas. A classificação pura entre uma matriz nomotética e idiográfica é uma tarefa árdua e polêmica em alguns casos, mas, em outros a distinção é simples. A seguir apresento um quadro que desenvolvi com a classificação a partir dos autores que devemos estudar. TENDÊNCIAS das TEORIAS Nomotética Idiográfica Freud Klein Maslow Erickson Reich Erich Fromm Watson/Skinner Dollard e Miller Adler Jung Rogers Lewin Sullivan Karen Horney George Kelly Constructo Hipotético (variáveis intervenientes comuns a todos) Psicologia Individual Terapia Centrada no Cliente Terapia da Gestalt Perspectiva Fenomenológica Observe que essa classificação é apenas um esforço meu em identificar padrões. Não quero ver nenhum psicólogo mais radical defendendo que sua teoria é mais “x” que “y” ou vice versa. Essa classificação não define teorias de origem exclusivamente nomotética ou idiográfica, mas, identifica tendências. No caso das teorias nomotéticas, por exemplo, percebemos que existe uma ênfase maior na Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 9 classificação da personalidade do sujeito a partir dos pressupostos dos autores. Para esses autores, de um modo geral, encontramos estágios de desenvolvimento e/ou crises universais. No caso das teorias idiográficas, os autores partem da singularidade do sujeito para identificar quesitos de suas teorias e, somente então, desenvolver um constructo teórico aceitável. Outro conceito básico é o de teorias psicodinâmicas. As teorias psicodinâmicas de personalidade são teorias que afirmam que o comportamento é resultado de forças psicológicas que atuam dentro do indivíduo, geralmente fora da consciência. Nesse ponto, existem pontos básicos de convergência dessas teorias: - uma parte significativa da vida mental é inconsciente. - processos mentais ocorrem de forma paralela (o que pode gerar conflitos) - os padrões estáveis de personalidade não só começam a se formar na infância como as experiências precoces têm um forte efeito no desenvolvimento da personalidade. - as representações mentais que temos de nós mesmos e dos demais tendem a guiar nossas interações com outras pessoas - o desenvolvimento da personalidade implica em aprender a regular os sentimentos sexuais e agressivos, assim como implica em buscar a independência social. SigmundSigmundSigmundSigmund FreudFreudFreudFreud Passar pelo curso de psicologia e não estudar Freud é como fazer um curso de direito sem conhecer as constituições federais anteriores à atual. Sua fluência verbal, repassada aos nossos tempos através de suas obras, era tamanha que Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 10 chegou a ser indicado ao Nobel de Literatura e foi vencedor do Prêmio Goethe (aos 74 anos de idade). Apesar das inúmeras críticas atuais ao seu método e à sua aplicabilidade, Freud é o autor que maior impacto teve no estudo da personalidade até então. Esse chairman da psicanálise desenvolveu o método da livre associação para estudar os fenômenos de suas tópicas. A livre associação é um método onde os pacientes são convidados a relatarem continuamente qualquer coisa que lhes ocorrer à mente, sem levar em consideração quão sem importância ou possivelmente embaraçadora esta situação possa parecer. Esse método seria o mais adequado para o contexto clínico para acessar conteúdos conscientes e inconscientes. Na esfera do inconsciente, seu conteúdo não pode ser acessado de forma objetiva através de uma ordinária introspecção. Mas pode ser acessado, segundo Freud, somente através da livre associação, da análise dos sonhos e da análise dos atos falhos. Freud descreveu em sua obra, posteriormente, a análise de chistes como sendo também uma forma de evidenciar conteúdos inconscientes. Assim: Métodos de Acesso ao inconsciente: a) Livre associação b) Análise sonhos c) Análise dos Atos falhos d) Análise dos chistes Os chistes são “gracejos” pelos quais sentimos prazer. São situações aparentemente tolas que geram prazer, como as brincadeiras e piadas. A palavra tem origem no alemão e significa literalmente “gracejo”, e para Freud o chiste é uma espécie de válvula de escape de nosso inconsciente, que o utiliza para dizer, em tom de brincadeira, aquilo que verdadeiramente pensa. Freud acreditava que utilizar o humor e a ironia no dia-a-dia deixava o cotidiano mais leve e a realidade mais tolerável. E é isto que o chiste possibilita quando conecta arbitrariamente, através de uma associação verbal, duas ideias contrárias ou sem sentido aparente. Apesar de parte do mundo inconsciente não ser acessível de forma alguma, um conceito é básico na teoria freudiana de personalidade: o passado é determinante para o presente. Esse conceito é chamado de Determinismo Psíquico e parte do pressuposto que existe uma continuidade nos eventos mentais e que Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 11 esses são historicamente desenvolvidos. Assim, para compreender sintomas e patologias, se faz necessário um sistemático esmiuçamento da vida psíquica do sujeito para entender as causas passadas dos problemas e a dinâmica psíquica atual. Freud descreveu sua teoria ao longo de 24 obras. Essas obras apresentam a evolução do pensamento freudiano e a ampliação dos conceitos. O caso mais exemplar é a descrição da Pulsão de morte na obra “Além do Princípio do Prazer”. A motivação é vista, para esse autor, como uma busca hedonista de dar vazão a energia psíquica acumulada. Essa energia psíquica é limitada e, via de regra, não consegue suprir simultaneamente as necessidades humanas de forma satisfatória. Essa energia provém das pulsões, a sexual e a agressiva, e motivam para a constante busca de prazer. As pulsões, às vezes chamadas incorretamente de instintos, opõem-se ao ideal de sociedade e, por isso, devem ser doutrinadas para uma expressão adequada. Porém, se essa energia psíquica não encontra vazão, um estado de tensão interna começa a se desenvolver. Isso pode cadenciar desde fixações até patologias mais sérias. Lembro uma vez, em um breve curso de psicanálise, que uma professora me falou: Alyson, você precisa de anos de estudos de psicanálise, anos submissão à análise e anos sendo analista para entender a personalidade humana de acordo com Freud. Felizmente nosso objetivo aqui é passar no concurso e não, necessariamente, entender a magnitude das ideias psicanalíticas. Compreender a teoria de personalidade de Freud pressupõe o conhecimento de sua Primeira e Segunda Tópicas, as fases de desenvolvimento psicossexual e a organização dos mecanismos de defesa. A base topológica de Freud é a raiz para a explicação da personalidade humana. Em grego, “topos” quer dizer “lugar”, assim o modelo tópico designa um “modelo de lugares”, sendo que Freud descreveu a dois deles: a “Primeira Tópica” conhecida como Topográfica e a “Segunda Tópica”, como Estrutural. PRIMEIRA TÓPICA: modelo topológico da mente Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 12 Essa tópica refere-se ao nível de consciência (acesso) aos processos intrapsíquicos e a qualidade dos conteúdos de cada um. Freud definiu três níveis de consciência: consciente, pré-consciente e inconsciente. O consciente engloba todos os fenômenos que em determinado momento podem ser percebidos de maneira conscientes pelo indivíduo. O pré-consciente refere-se aos fenômenos que não estão conscientes em determinado momento, mas pode tornar-se se o indivíduo desejar se ocupar com eles (o pré-consciente é um filtro de intermédio entre o consciente e o inconsciente). O inconsciente, que diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não são conscientes e somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se. Assim, para Freud, apenas uma pequena parte de nossos pensamentos e emoções são perceptíveis o tempo todo, alguns estão no nível pré-consciente e a maioria dos nossos fenômenos intrapsíquicos é inconsciente. Essa função, de deposito de pensamentos, emoções e desejos, é necessária, pois esses conteúdos causariam medo e ansiedade ao indivíduo caso fossem conscientes. É necessária uma atenção especial ao conceito freudiano de inconsciente. Essa parte do aparelho psíquico humano é caracterizada por não ter nenhuma formatação lógica ou pensamento racional (processo primário) e desenvolve-se como sendo um depósito para ideias sociais inaceitáveis, memórias traumáticas e emoções dolorosas colocadas fora da mente pelo mecanismo da repressão psicológica. O inconsciente é alógico (aberto a contradições), atemporal e aespacial (conteúdos de épocas ou espaços diferentes podem se conectar). Essa instância é governada pelo principio do prazer (a busca do prazer e evitação estímulos aversivos). SEGUNDA TÓPICA: modelo estrutural da personalidade Nessa segunda tópica, desenvolvida décadas depois da primeira, Freud diferencia instâncias da personalidade em três estruturas: o ID, o EGO e o SUPEREGO. O Id é todo inconsciente, o Ego e o Super-ego são parcialmente inconscientes. a) Id: O id é a fonte da energia psíquica (libido). O id é formado pelas pulsões - instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. Ele funciona Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 13 segundo o princípio do prazer, ou seja busca sempre o que produz prazer e evita o que é aversivo, e somente segundo ele. Não faz planos, não espera, busca uma solução imediata para as tensões, não aceita frustrações e não conhece inibição. Ele não tem contato com a realidade e uma satisfação na fantasia pode ter o mesmo efeito de uma atingida través de uma ação. O id desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, sendo exigente, impulsivo, cego irracional, anti-social, egoísta e dirigido ao prazer. O id é completamente inconsciente. De acordo com Freud, a energia psíquica é de natureza inconsciente e está armazenada no id. Essa energia é de natureza sexual (libido) e não tem objeto. De acordo com a teoria psicanalítica, o id é a parte mais antiga do aparelho psíquico. Do ponto de vista topológico, o id é o reservatório de toda energia psíquica. Ele ignora a realidade, os princípios lógicos e racionais tais como o tempo e a causalidade entre eventos. Dessa forma, diz-se que o id trabalha através do princípio primário. b) Ego: O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo de permitir que seus impulsos sejam eficientes, ou seja, levando em conta o mundo externo: é o chamado princípio da realidade. É esse princípio que introduz a razão, o planejamento e a espera ao comportamento humano: a satisfação das pulsões é retardada até o momento em que a realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de conseqüências negativas. A principal função do ego é buscar uma harmonização inicialmente entre os desejos do id e a realidade e, posteriormente, entre esses e as exigências do superego. c) Superego: É a parte moral da mente humana e representa os valores da sociedade. O superego tem três objetivos: (1) inibir (através de punição ou sentimento de culpa) qualquer impulso contrário às regras e ideais por ele ditados (2) forçar o ego a se comportar de maneira moral (mesmo que irracional) e (3) conduzir o indivíduo à perfeição - em gestos, pensamentos e palavras. O superego forma-se após o ego, durante o esforço da criança de introjetar os valores recebidos dos pais e da sociedade a fim de receber amor e afeição. Ele pode funcionar de uma maneira bastante primitiva, punindo o indivíduo não apenas por ações praticadas, mas também por pensamentos; outra característica sua é o pensamento dualista (tudo ou nada; certo ou errado, sem meio-termo). O superego Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 14 divide-se em dois subsistemas: o ego ideal, que dita o bem ser procurado, e a consciência, que determina o mal a ser evitado. As fases do desenvolvimento psicossexual A transição de uma fase para outra é biologicamente determinada, de tal forma que uma nova fase pode iniciar sem que os processos da fase anterior tenha se completado. As fases se seguem umas às outras em uma ordem fixa e, apesar de uma fase se desenvolver a partir da anterior, os processos desencadeados em uma fase nunca estão plenamente completos e continuam agindo durante toda a vida da pessoa. I - A fase oral (0-1) A primeira fase do desenvolvimento é a fase oral, que se estende desde o nascimento até aproximadamente um ano de vida. Nessa fase a criança vivencia prazer e dor através da satisfação (ou frustação) de pulsões orais, ou seja, pela boca. Essa satisfação se dá independente da satisfação da fome. Assim, para a criança sugar, mastigar, comer, morder, cuspir etc. têm uma função ligada ao prazer, além de servirem à alimentação. Ao ser confrontada com frustrações a criança é obrigada a desenvolver mecanismos para lidar com tais frustrações. Esses mecanismos são a base da futura personalidade da pessoa. A fixação nessa fase causa a depressão O principal processo na fase oral é a criação da ligação entre mãe e filho. II - A fase anal (1-3) A segunda fase, segundo Freud, é a fase anal, que vai aproximadamente do primeiro ao terceiro ano de vida. Nessa fase a satisfação das pulsões se dirige ao ânus, ao controle da tensão intestinal. Nessa fase a criança tem de aprender a controlar sua defecação e, dessa forma, deve aprender a lidar com a frustração do desejo de satisfazer suas necessidades imediatamente. Como na fase oral, também os mecanismos desenvolvidos nesta fase influenciam o desenvolvimento da personalidade. A fixação nessa fase ocasiona a neurose obsessivo-compulsiva (anancástica) III - A fase fálica (3-5) Complexo de Édipo Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 15 A fase fálica, que vai dos três aos cinco anos de vida, se caracteriza segundo Freud pela importância da presença (ou, nas meninas, da ausência) do falo ou pênis; nessa fase prazer e desprazer estão, assim, centrados na região genital. As dificuldades dessa fase estão ligadas ao direcionamento da pulsão sexual ou libidinosa ao genitor do sexo oposto e aos problemas resultantes. A resolução desse conflito está relacionada ao complexo de Édipo e à identificação com o genitor de mesmo sexo. O complexo de Édipo representa um importante passo na formação do superego e na socialização dos meninos, uma vez que o menino aprende a seguir os valores dos pais. Essa solução de compromisso permite que tanto o ego (através da diminuição do medo) e o id (por o menino poder possuir a mãe indiretamente através do pai, com o qual ele se identifica) sejam parcialmente satisfeitos. O conflito vivenciado pelas meninas é parecido, mas menos intenso. A menina deseja o próprio pai, em parte devido à inveja que sente por não ter um pênis (al. Penisneid); ela sente-se castrada e dá a culpa à própria mãe. Por outro lado, a mãe representa uma ameaça menos séria, uma vez que uma castração não é possível. Devido a essa situação diferente, a identificação da menina com a própria mãe é menos forte do que a do menino com seu pai e, por isso, as meninas teriam uma consciência menos desenvolvida - afirmação esta que foi rejeitada pela pesquisa empírica. Freud usou o termo "complexo de Édipo" para ambos os sexos; autores posteriores limitaram o uso da expressão aos meninos, reservando para as meninas o termo "complexo de Electra". A mãe mantém em ambos os sexos um papel primordial, permanecendo sempre o principal objeto da libido. Para os meninos é a castração que os faz superar o complexo de Édipo, quando é instaurada a lei da proibição gerando a interdição paterna. Para as meninas é justamente a castração que faz iniciar Complexo de Édipo. A resolução do Complexo: a ansiedade de castração nos meninos fará com que eles abandonem seus desejos incestuosos pela mãe e superem o complexo identificando-se ao pai. As meninas também passam a identificar-se com a mãe e assumem uma identidade feminina. Passa a buscar nos homens similaridades do pai. Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 16 IV - O período de latência (5 – puberdade) Depois da agitação dos primeiros anos de vida segue-se uma fase mais tranquila que se estende até a puberdade. Nessa fase as fantasias e impulsos sexuais são reprimidos, tornando-se secundários, e o desenvolvimento cognitivo e a assimilação de valores e normas sociais se tornam a atividade principal da criança, continuando o desenvolvimento do ego e do superego. V- A fase genital (puberdade) A última fase do desenvolvimento psicossexual é a fase genital, que se dá durante a adolescência. Nessa fase as pulsões sexuais, depois da longa fase de latência e acompanhando as mudanças corporais, despertam-se novamente, mas desta vez se dirigem a uma pessoa do sexo oposto. Como se depreende da explanação anterior, a escolha do parceiro não se dá independente dos processos de desenvolvimento anteriores, mas é influenciada pela vivência nas fases anteriores. Além disso, apesar de continuarem agindo durante toda a vida do indivíduo, os conflitos internos típicos das fases anteriores atingem na fase genital uma relativa estabilidade conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os desafios da idade adulta. Caráter A fixação nas fases de desenvolvimento freudianas identifica o tipo de caráter que a pessoa possui (caráter oral, anal, fálico ou genital). O caráter oral é caracterizado pelo otimismo, a passividade e a dependência. Para Freud, os transtornos alimentares poderiam se dar às dificuldades na fase oral. O caráter anal é caracterizado pro três traços que são: ordem, parcimônia (econômico) e teimosia. O caráter fálico, por sua vez, gera dificuldades na formação do superego (regras sociais), na identidade do papel sexual e até mesmo na sexualidade, envolvendo inibição sexual, promiscuidade sexual e homossexualismo. E, por fim, o caráter genital é descrito como o ideal freudiano do desenvolvimento pleno, que se desenvolve na ausência de fixações ou depois da sua resolução por meio de uma psicanálise. Contudo, o indivíduo livre de conflitos pré-edípicos significativos, aprecia uma sexualidade satisfatória preocupando-se com a satisfação do companheiro sexual, evitando assim a manifestação de um narcisismo egoísta. Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 17 Assim sua energia psíquica sublimada fica disponível para o trabalho, que é prazeroso5. Os mecanismos de Defesa O ego muitas vezes não consegue lidar com as demandas do Id e com as cobranças do superego. Assim, surgem os Mecanismos de Defesa, que são defesa bem sucedida contra a ansiedade, pois ele diminui a tensão. Destaca-se que os mecanismos de defesa contra a ansiedade podem ser encontrados em indivíduos saudáveis, porém quando estão fortemente associados e trazem dificuldades sociais caracterizam-se enquanto neuroses. A seguir apresento os mecanismos de defesa mais comuns: • Repressão é o processo pelo qual se afastam da consciência conflitos e frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados ou lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente; o que é desagradável é, assim, esquecido; • Formação Reativa: consiste em ostentar um procedimento e externar sentimentos opostos aos impulsos verdadeiros, indesejados. • Projeção consiste em atribuir a outros as idéias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas. • Regressão consiste em retornar a comportamentos imaturos, característicos de fase de desenvolvimento que a pessoa já passou. • Fixação é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido de continuar. Uma parte da libido permanece ligada a um determinado estágio do desenvolvimento e não permite que a criança passe completamente para o próximo estádio. A fixação está relacionada com a regressão, uma vez que a probabilidade de uma regressão a um determinado estádio do desenvolvimento aumenta se a pessoa desenvolveu uma fixação nesse estádio. • Sublimação é a satisfação de um impulso inaceitável através de um comportamento socialmente aceito. Expressão de impulso recalcado de forma criativa e produtiva. Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 18 • Identificação é o processo pelo qual um indivíduo assimila um aspecto, uma característica de outro. Uma forma especial de identificação é a identificação com o agressor. • Deslocamento é o processo pelo qual agressões ou outros impulsos indesejáveis, não podendo ser direcionados à(s) pessoa(s) a que se referem, são direcionados a terceiros. • Negação é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que perturba o Ego. • Racionalização é o processo de achar motivos lógicos e racionais aceitáveis para pensamentos e ações inaceitáveis. • Isolamento: Uma idéia ou ato sofre o rompimento de suas conexões com outras idéias e pensamentos. Para finalizar essa descrição dos mecanismos de defesa, faço uma didática diferenciação entre recalque e repressão. Recalcamento/Recalque Repressão “Operação pela qual o sujeito procura repelir ou manter no inconsciente representações (pensamentos, imagens, recordações) ligadas a uma pulsão. “Operação psíquica que tende a fazer desaparecer da consciência um conteúdo desagradável ou inoportuno: ideia, afeto, etc. Os conteúdos tornam- se pré-conscientes”. É um mecanismo consciente, que atua como censura. A moral do sujeito está ligada a este mecanismo. M.M.M.M. KleinKleinKleinKlein A teoria de Melanie Klein é de difícil simplificação, porém, não é Lacan. Brincadeiras a parte, nós temos a tarefa de entender a lógica de raciocínio desta teórica e seus principais conceitos acerca da personalidade humana. Para isso, temos de partir da sua teoria de desenvolvimento, pois, como pressuposto Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 19 fundamental de quase todos os psicanalistas, existe um determinismo psíquico inerente à condição humana. Melanie Klein foi uma famosa psicanalista e ganhou notoriedade na sua teorização sobre a infância, foi uma das pioneiras em análise infantil junto com Anne Freud. É importante salientar que muitos de seus estudos eram críticas a vertente da herdeira de Freud. Klein, por exemplo, excluiu os pais do tratamento porque acreditava que o problema fundamental das crianças era intrapsíquico. Ela desenvolveu uma teoria sobre a relação mãe-filho que ficou conhecida como teoria das relações objetais e a riqueza de sua teoria está, na opinião de muitos estudiosos da linha, na demonstração da função do superego no desenvolvimento psíquico, na sua descrição das defesas primitivas características do transtorno de personalidade limítrofe e psicose e no seu uso do brinquedo com crianças como um meio para a interpretação. Pra Klein, objetos são estruturas mentais que se desenvolvem através da experiência do sujeito com o mundo externo. Esses objetos são representações e é a partir destas que o eu se desenvolve. A representação psíquica dos objetos introjetados pela criança é enviesada pelas fantasias. A criação de uma relação objetal ocorre quando o impulso instintivo liga um afeto (incorporado ao ego) a um objeto externo, dando- lhe sentido de vida ou de morte. Melanie Klein distingue dois momentos no primeiro ano de vida do bebê: posição esquizo-paranoide (até os 6 meses) e posição depressiva (de 6 meses até 1 ano de idade). Essas duas posições estão dentro da fase oral freudiana. O conceito de posições é muito importante na escola kleiniana, pois o psiquismo funciona a partir delas, e todos os demais desenvolvimentos são invariavelmente baseados em seu funcionamento. Nesse sentido, o desenvolvimento em fases, proposto por Freud (fase oral, fase anal e fase genital), é aqui substituído por um elemento mais dinâmico que estático, pois as três fases estão presentes no bebê desde os três primeiros meses de vida. Klein não nega essa divisão, muito pelo contrário, mas dá a elas uma dinâmica até então ainda não vista em psicanálise. Para Klein, o psiquismo tem um funcionamento dinâmico entre as posições esquizoparanóide e depressiva, que se inicia como o nascimento e Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 20 termina com a morte. Todos os problemas emocionais, como neuroses, esquizofrenias e depressão são analisados a partir dessas duas posições. Por isso, em uma análise kleiniana, não basta trabalhar os conteúdos reprimidos, é preciso “equacionar” as ansiedades depressivas e persecutórias. É necessário que o paciente perceba que o mundo não funciona em preto e branco, e que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo. Em outras palavras, não adianta trabalhar o sintoma (neurose) se não trabalhar os processos que levaram seus surgimentos (ansiedades persecutória e depressiva). Vamos aprofundar um pouco mais o estudo das posições kleinianas. O conceito de “posição” remete a uma configuração específica de relações objetais, ansiedades e defesas, presentes ao longo de toda a vida, e não somente durante uma fase ou período do desenvolvimento. A experiência do nascimento a primeira fonte externa de ansiedade, pois durante a gestação o bebê experimenta um sentimento de unidade e segurança que é perturbado pelo nascimento. Observe que o ego está presente na teoria kleiniana desde o nascimento. Ele já sente ansiedade, cria mecanismos de defesa e forma relações de objeto primitivas, na fantasia e na realidade. Porém, esse ego é amplamente desorganizado e, quando confrontado com a ansiedade, tende a clivar-se (dividir-se) para defender-se desta ansiedade. O seio da mãe é o primeiro objeto internalizado pelo bebê (Objeto Primal). É importante destacar que esse primeiro objeto possui, inicialmente, uma posição ambivalente para a criança, sendo considerado ou “seio bom”, quando amamenta, ou “seio mau”, quando não alimenta a criança na hora em que a mesma deseja. Aqui, os bebês sentem, logo quando nascem, dois sentimentos básicos: amor e ódio. É fácil, portanto, perceber que a criança ama o “seio bom” e odeia o “seio mau”. O problema é que na fantasia da criança, o “seio mau”, esse objeto interno, vai se vingar dela pelo ódio e destrutividade direcionados a ele. Esse medo de vingança é chamado de ansiedade persecutória ou paranóide. O conjunto de ansiedade persecutória e suas respectivas defesas são chamados por Klein de “posição esquizoparanóide”. Por conta dessa visão fragmentada, o bebê não reconhece “pessoas”, mas apenas partes delas. Aqui existe a ansiedade que se Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 21 expressa pelo temor de que os objetos maus entrarem no ego e dominem tanto o objeto ideal quanto o self. Os mecanismos de introjeção da representação do seio materno e a clivagem do objeto devem ser entendidos à luz do conceito de pulsão de morte e pulsão de vida freudianos. Concomitante ao nascimento, já se inicia o embate permanente entre o instinto de vida e o de morte, representando uma pressão sobre o ego no sentido deste se organizar para responder ao paradoxo: ou se organiza para satisfazer suas próprias necessidades (pulsão de vida) ou para negar suas próprias necessidades (pulsão de morte). A pulsão de morte se expressa por meio de ataques invejosos (inveja primária) e sádico-destrutivos contra o seio materno. Essas pulsões provocam internamente a “angústia de aniquilamento” ou “ansiedade de morte”. É neste contexto que o ego rudimentar do recém-nascido assume a posição de defesa contra a angústia através de mecanismos primitivos, como a negação onipotente, a dissociação, a identificação projetiva, a introjeção e a idealização. O contato com o seio mau produz ansiedade, advinda da pulsão de morte. O ego deflete essa ansiedade em parte, pela projeção, e, em parte, pela conversão desta em agressividade. O ego se divide e projeta a parte que contém a pulsão de morte no objeto externo original, o seio materno, que passa a ser sentido como mau e ameaçador para o ego. Assim, o temor de aniquilamento transforma-se em sentimento de perseguição – ansiedade persecutória ou paranóide. Destaco, novamente, que nesse período o bebê se relaciona de forma parcial com o objeto. O mesmo processo ocorre com a libido, que, em parte, é projetada no objeto externo original, o seio, a fim de criar um objeto capaz de satisfazer o esforço egóico pela preservação da vida, e, em parte, permanece, sendo usada para estabelecer uma relação libidinal com este objeto ideal. Com objetivo de superar a essa ansiedade persecutória, o bebê desenvolve um processo esquizóide de forma que o objeto mau é internalizado como sendo diferente do objeto bom. Essa cisão do objeto resulta também em uma clivagem do eu do bebê (eu bom e eu mau). Na passagem da posição esquizoparanóide para a posição depressiva ocorre uma síntese entre a imagem do objeto do seio materno com a representação da mãe. Com a superação da posição esquizoparanóide, o bebê passa a reconhecer Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 22 a mãe como um objeto total (bom e mau). Essa é a característica da posição depressiva. Ele percebe que o mesmo objeto que odeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom) e ambos os registros fazem parte de uma mesma pessoa. Tal processo de síntese desencadeia mudanças no desenvolvimento: surgem a ansiedade depressiva e a culpa, a agressão é mitigada pela libido, o que diminui a ansiedade persecutória, o temor pelo destino dos objetos, externo e interno, ameaçados leva a uma identificação mais forte com ele; o ego, portanto, se esforça para fazer reparações e, além disto, inibe os impulsos agressivos sentidos como perigosos para o objeto amado. Agora o bebê teme perder o seio bom, pois teme que seus ataques de ódio e voracidade o tenham danificado ou morto. Esse temor da perda do objeto bom é chamado por Klein de “ansiedade depressiva”. O conjunto de ansiedade depressiva e suas respectivas defesas são chamados por Klein de “posição depressiva”. A posição depressiva tem início com o reconhecimento da mãe como uma pessoa ou objeto total e caracteriza-se pela relação com objetos totais e pelo predomínio da integração, ambivalência, ansiedade depressiva e culpa. O principal temor é o de que seus próprios impulsos agressivos tenham destruído, ou destruam o objeto que ele ama e do qual depende. Como decorrência desta experiência depressiva, o temor de ter perdido o objeto bom pela sua própria agressividade, surge a culpa, mobilizando o desejo de reparar seu objeto destruído. Observe a tabela abaixo: Fase Freudiana Posição para M Klein Objeto (Klein) Oral Posição Esquizo-paranóide – conjunto de ansiedade persecutória. Ocorre a clivagem do objeto em “seio bom” e “seio mau”. Seio Oral Posição Depressiva – conjunto de ansiedade depressiva. Ocorre a clivagem do objeto em “mãe boa” e “mãe má”. Mãe A teoria de Melanie Klein parte de alguns pressupostos comuns à teoria Freudiana, como, por exemplo: Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 23 a) a agressão e a libido são os dois instintos básicos. b) o instinto agressivo é uma extensão do instinto de morte c) a libido uma extensão do instinto de vida. Como divergências a Teoria Freudiana podemos destacar: a) Klein divergiu de Freud na suposição de que o ego existe ao nascimento. Ela acreditava que o instinto de morte é traduzido após o nascimento em sadismo oral, o qual, projetado para fora, dá lugar às fantasias de um seio mau, destrutivo, devorador. Tanto agressão como libido são expressas desde o nascimento em diante por fantasias inconscientes. b) Klein diferenciou inveja, ganância e ciúme como manifestações do instinto agressivo. Melanie Klein enfatizou o papel do superego, que assim como na teoria freudiana, ele coloca valor sobre o comportamento e ele pune ou proíbe o comportamento que ele considera ser errado ou mau. O superego tem qualidades persecutórias (derivadas de introjetos persecutórios) e exigentes (derivadas dos aspectos exigentes dos pais bons idealizados). Diferente do ego, que existe desde o nascimento, Klein sustentou o superego começa a desenvolver-se durante a posição depressiva, pois a pressão de superego excessiva causa regressão para a posição esquizoparanóide. O superego desenvolve-se a partir de maus objetos experimentados como persecutórios. Enquanto o ego assimila os objetos com os quais ele pode identificar-se positivamente, o superego assimila os aspectos proibitivos exigentes destes objetos. Decorrente dessa teoria de desenvolvimento de Melanie Klein, nós temos a conclusão basilar para a teoria de personalidade para esta autora: dos mecanismos de projeção e introjeção, que possibilitam a defesa (contra a ansiedade) advém o desenvolvimento de nossos mecanismos de projeção e introjeção nas outras fases da vida. Assim, não são apenas projetados os estados perturbadores, mas também partes do próprio self, da própria personalidade humana. Assim, podemos viver parte de nossas vidas projetados (em fantasia) no mundo interno de outra pessoa, ou podemos ter parte de nossas vidas vividas em identificação com aspectos da vida de outrem. Esse mecanismo é denominado por Klein de introjeção projetiva, um de seus mais importantes legados conceituais. Assim, o que é projetado para Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 24 fora, isto é, para dentro de um objeto, não só é perdido como também confere nova identidade a esse objeto. Da razão entre objetos introjetados bons e maus resultará o equilíbrio e a ansiedade do indivíduo. Objetos bons neutralizam os objetos internos maus, mas mesmo sob circunstâncias ideais predominantemente bons objetos de superego são contaminados pelos objetos maus. Os últimos pontos convenientes a serem destacados é que embora Klein concordasse que fatores ambientais podem desempenhar um papel em estimular a agressão excessiva, ela enfatizou como a causa de distúrbio emocional a força inata da agressão, aliada à formação de ansiedade excessiva do ego e baixa tolerância de ansiedade. Por fim, à título de recapitulação, para Melanie Klein, existe uma diferença entre a ansiedade: paranóide e a ansiedade depressiva. Nesta, existe o medo da perda do amor enquanto que naquela existe a ameaça à integridade do ego. D.D.D.D. WinnicottWinnicottWinnicottWinnicott Sabemos que a teoria freudiana tradicional possui pontos essenciais: a) aceitação da sexualidade, inclusive a infantil, como fenômeno humano normal; b) importância do passado infantil na vida em geral; c) conciliação da integração, normalidade de uma pessoa com a idéia de múltiplas personalidades, crenças, etc. (teorias do recalque, do inconsciente, do conflito). Para Freud, justamente, vivemos em permanente conflito entre nossas pulsões (sexual/de morte) e algo que nos impede de fazer o que gostaríamos: de um lado, o sexo, de outro, a lei, o pai (assujeitado, ou o Nome-do-Pai, como colocou Lacan). Por conseguinte, o sujeito é desamparado, sentindo-se muitas vezes joguete de certas forças, tanto internas quanto externas. Vive-se uma cultura plena de interdições, sendo fácil sentir-nos reféns de valores que nos são estranhos: nosso destino é a insatisfação, o mal-estar, sendo impossível encontrar uma saída. Winnicott vai se insurgir contra isso. Para ele, posso aceitar perfeitamente a clínica Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 25 de Freud sem me subordinar a todos os seus pressupostos. Ele propõe uma clínica um pouco mais otimista que a existente na psicanálise ortodoxa sem, no entanto, rebelar-se contra seus pressupostos básicos. Ele enfatiza a experiência cultural, e, também, abre perspectivas para uma vida em que não só haja ausência de sintomas, mas em que a criatividade possa ser compreendida como sinônimo de saúde. Outro conceito muito presente na obra de Winnicott é o "brincar". Através dessa atividade pode-se observar o grupo interagindo e consequentemente os mecanismos presentes no universo psíquico da família, que são expressos através de uma atividade relacional. Para Winnicott, a mão deve ter três aspectos (passíveis de análise): holding (nutrição física e psicológica), handling e apresentação de objetos. Do mesmo modo, o terapeuta deve administrar esses três aspectos para uma efetiva análise. Esses três quesitos servem para a satisfação das necessidades ligadas ao desenvolvimento psíquico. a) Apresentação do objeto: começa com a primeira refeição do bebê e é a qualidade da mãe demonstrar-se como passível de ser substituída, e apresentar novos modos da criança agir no ambiente, por conta do seu próprio esforço e criatividade. b) Holding: Através dos cuidados cotidianos, com seqüências repetitivas, a mãe segura o bebê não somente física, mas psiquicamente, dando apoio ao eu do bebê em seu desenvolvimento. Refere-se à relação da dupla mãe- bebê no desenvolvimento de uma personalidade e determina as interações sociais e patogenias que o sujeito desenvolverá futuramente. A sustentação compreende, em especial, o fato físico de sustentar a criança nos braços, e que constitui uma forma de amar. A mãe funciona como um ego auxiliar. Winnicott propõe que, durante os últimos meses de gestação e primeiras semanas posteriores ao parto, produz-se na mãe um estado psicológico especial, ao qual chamou de “preocupação materna primaria”. A mãe adquire graças a esta sensibilização, uma capacidade particular para se identificar com as necessidades do bebê. c) Handling: é a manipulação do bebê enquanto ele é cuidado, necessária ao seu bem-estar físico, e assim aos poucos ele se experimenta como Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 26 vivendo dentro de um corpo, unindo-o à sua vida psíquica. Faz referência à manipulação do bebê pelas mãos cuidadosas da mãe, e contato físico da dupla, que construirá as noções corporais ainda frágeis do bebê A fase inicial da vida, que compreende o nascimento aos seis meses, caracteriza-se pela condição de dependência absoluta do bebê em relação ao meio, aos cuidados maternos. Mas ainda que dependa inteiramente do que lhe é oferecido pela mãe, é importante considerar o desconhecimento do bebê em relação ao seu estado de dependência, já que em sua mente ele e o meio são uma coisa só. Idealmente, é pela perfeita adaptação às necessidades do bebê que a mãe permite o livre desenrolar dos processos de maturação. O ser humano, para Winnicott, nasce como um conjunto desorganizado de pulsões, instintos, capacidades perceptivas e motoras que conforme progride o desenvolvimento vão se integrando, até alcançar uma imagem unificada de si e do mundo externo. Quando a mãe não fornece a proteção necessária ao frágil ego do recém-nascido; a criança perceberá esta falha ambiental como uma ameaça à sua continuidade existencial, a qual, por sua vez, provocará nela a vivência subjetiva de que todas as suas percepções e atividades motoras são apenas uma resposta diante do perigo a que se vê exposta. Pouco a pouco, procura substituir a proteção que lhe falta por um “fabricada” por ela. O sujeito vai se envolvendo em uma casca, às custas da qual cresce e se desenvolve o self. O individuo vai se desenvolvendo como uma extensão da casca, como uma extensão do meio atacante. Winnicott diz que a “mãe boa” é a que responde a onipotência do lactante e, de certo modo, dá-lhe sentido. O self verdadeiro começa a adquirir vida, através da força que a mãe, ao cumprir as expressões da onipotência infantil, dá ao ego débil da criança. A mãe que “não é suficientemente boa” é incapaz de cumprir a onipotência da criança, pelo que repentinamente deixa de responder ao gesto da mesma, em seu lugar coloca o seu próprio gesto, cujo sentido depende da submissão ou acatamento do mesmo por parte da criança. Esta submissão constitui a primeira fase do self falso e é própria da incapacidade materna para interpretar as necessidades da criança. Nos casos mais próximos da saúde, o self falso age como uma defesa do verdadeiro, a quem protege sem substituir. Nos casos mais graves, o self falso Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 27 substitui o real e o indivíduo. Winnicott diz que na saúde o self falso se encontra representado por toda a organização da atitude social cortês e bem educada. Produziu-se um aumento da capacidade do individuo para renunciar a onipotência e ao processo primário, em geral, ganhando assim um lugar na sociedade que jamais se pode conseguir manter mediante unicamente o self verdadeiro. O falso self, especialmente quando se encontra no extremo mais patológico da escala, é acompanhado geralmente por uma sensação subjetiva de vazio, futilidade e irrealidade. Em proporções variadas, todos os seres humanos apresentam dois aspectos do self: um verdadeiro e um falso. O self verdadeiro, resultante da aceitação dos gestos espontâneos do bebê pela mãe, corresponde à pessoa que se constitui a partir do emprego de suas tendências inatas. Por outro lado, quando as falhas do ambiente ameaçam a continuidade existencial do bebê, ele deforma o seu verdadeiro self submetendo-se às exigências ambientais, o que leva à construção de um falso self. Neste caso, o falso self é o traço principal da reação do bebê às falhas de adaptação da mãe. A criança se submete às pressões de uma mãe que lhe impõe uma maneira inadequada de exprimir suas tendências inatas e que, consequentemente, obriga-o a adotar um modo de ser falso e artificial (coloca o seu próprio gesto). Desse modo, a mãe incapaz de se identificar com as necessidades do bebê é denominada mãe insuficientemente boa, que pode ser representada por uma mãe real ou uma situação, por exemplo, quando os cuidados são exercidos por diversas pessoas. A criança se depara então com uma mãe dividida em partes, e experiência os cuidados em sua complexidade, e não pela simplicidade que seria desejável. Na segunda fase do desenvolvimento da criança, que se estende do sexto mês aos dois anos, ela se encontra num estado de dependência relativa em relação ao meio. Neste momento, a criança se conscientiza de sua sujeição, e consequentemente tolera melhor as falhas de adaptação da mãe, e dessa forma se torna capaz de tirar proveito delas para se desenvolver. A criança já é capaz de se situar no tempo e no espaço, o que permite reconhecer as pessoas e objetos como parte da realidade externa e perceber a mãe como separada dela, como também Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 28 realizar uma união entre sua vida psíquica e seu corpo. Por parte da mãe, passa a haver uma identificação com o filho menos intensa, reintroduzindo então “falhas de adaptação” moderadas. Mãe Suficientemente boa � proporciona o desenvolvimento do verdadeiro self Mãe insuficientemente boa �proporciona o desenvolvimento do falso self Por conseguinte, após a desilusão por perceber que a fantasia não corresponde à realidade, a criança desenvolve atividades que permitem uma sustentação, um apoio frente à angústia, como levar à boca algum objeto externo (travesseiro, pano, etc.), segurar, se acariciar ou chupar um pedaço de tecido, balbucios, etc. Tais atividades foram denominadas fenômenos transicionais, e estes objetos utilizados foram chamados de objetos transicionais. O termo ―transicional indica que essa atitude da criança ocupa um lugar intermediário entre as realidades externa e interna, numa tentativa de amortecer o choque provocado pela conscientização da tensão entre ambos os aspectos de sua vida. Este espaço existente entre o mundo interior e mundo externo é chamado de espaço transicional, que persiste ao longo de toda a vida, sendo ocupado por atividades lúdicas e criativas diversificadas através das quais o ser humano busca aliviar a permanente tensão. Antes de tudo, o surgimento dessa dimensão transicional no desenvolvimento da criança é sinal de que a mãe da primeira fase foi suficientemente boa. E, por fim, cito as características do atendimento segundo Polity (1998) “Do terapeuta suficientemente bom não se espera outras qualidades, que não aquelas que a atitude sensível de um ser humano comum possa reunir. Entre elas a capacidade de "ouvir o outro, voz que enuncia, do fundo e de dentro da precariedade de seu existir, os seus desejos e as suas necessidades". Mas, tal lugar, só e possível a partir de um lugar onde também o terapeuta possa reconhecer, de fato, o quão frágil e precária é a sua própria existência, e que neste aspecto fundamental, a distância entre ele e seus pacientes é praticamente inexistente.” Fonte: http://www.winnicott.com.br/texto_detalhe.asp?txi_ID=43 Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 29 J.J.J.J. LacanLacanLacanLacan Lacan é a parte mais complicada sempre, de longe! A teoria não é complicada, mas o modo como ela é apresentada, além de niilista, não é feita de forma objetiva. Assim, julgo que seja necessário adentrarmos um pouco na visão psicopatológica (até mesmo para diferenciar de Freud). Em caso de dúvidas, vocês sabem meu e-mail. Inicialmente cumpre diferenciar as duas clínicas de Lacan: a Clínica estrutural e a Clínica borromeana. Fundamentalmente as diferenças entre essas duas clínicas está na perspectiva de diagnóstico. No modelo estrutural, no qual a referência principal é o envoltório formal do sintoma (neurose, perversão e psicose), existe o modelo que se refere às categorias da psicopatologia psiquiátrica e, dentro delas, privilegia o eixo psicose-neurose. Na segunda escola, a clínica Borromeana, ocorre a não-referência às categorias nosológicas da psicopatologia psiquiátrica. Sua primeira intervenção na psicanálise é para situar o Eu como instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo (o “eu” é desconhecido sempre). Para Lacan há três registros psíquicos: o registro no Campo Imaginário, o registro no Campo Simbólico e o Registro no Campo do Real. É a partir do campo simbólico, através da fala e da linguagem que é possível haver acesso ao inconsciente, que foi definido pelo autor como “estruturado como uma linguagem”. O campo de ação da psicanálise situa-se, para Lacan, na fala, onde o inconsciente se manifesta, através de atos falhos, esquecimentos, chistes e de relatos de sonhos, enfim, naqueles fenômenos que Lacan nomeia como "formações do inconsciente". A isto se refere o aforismo lacaniano "o inconsciente é estruturado como uma linguagem". O Simbólico é o registro em que se marca a ligação do Desejo com a Lei e a Falta, através do Complexo de Castração, operador do Complexo de Édipo. Para Lacan, "a lei e o desejo recalcado são uma só e a mesma coisa". Lacan pensa a lei a partir de Lévi-Strauss, ou seja, Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 30 da interdição do incesto que possibilita a circulação do maior dos bens simbólicos, as mulheres. O desejo é uma falta-a-ser metaforizada na interdição edipiana, a falta possibilitando a deriva do desejo, desejo enquanto metonímia. Lacan articula neste processo dois grandes conceitos, o Nome-do-Pai e o Falo. Para operar com este campo, cria seus Matemas. Esse registro é o do Simbólico, é o campo da linguagem, do significante. Lévi-Strauss afirmava que "os símbolos são mais reais que aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado”, no que é seguido por Lacan. Marca- se aqui a autonomia da função simbólica. Este é o Grande Outro que antecede o sujeito, que só se constitui através deste - "o inconsciente é o discurso do Outro", "o desejo é o desejo do Outro". O imaginário forma-se a partir do Estádio do Espelho, que, por sua vez, é descrito como o momento em que a criança descobre, constrói uma imagem de si. Pode prescindir de um espelho, onde uma imagem é projetada ou não necessariamente, pois o outro também faz a função de espelho. No caso de uma pessoa cega, por exemplo. A visão no espelho (outros) unifica as visões de “eu” que o ego cria. Não há um eu antes do estádio do espelho. O campo do simbólico se desenvolve junto ao complexo de Édipo: 1° Tempo: a criança ainda mantém com a mãe uma relação de indistinção, reforçada pelos cuidados que recebe e pela satisfação de suas necessidades. Essa relação quase fusional a permite supor ser seu objeto de desejo. É na posição de objeto (falo) que a criança se coloca como suposto completar o que falta à mãe. Ao querer constituir-se como falo materno, a criança se coloca como único objeto de desejo da mãe, assujeitando seu desejo ao dela. 2° Tempo: parte dessa dialetização de ser ou não ser o falo, introduzindo a dimensão paterna, que intervirá na relação mãe-criança-falo sob a forma de privação. O pai é aquele que interdita a satisfação do impulso da criança à medida que ela percebe que é para o pai que a mãe se dirige. Conforme Lacan, tem-se aí a chave da relação do Édipo e de seu caráter essencial: a relação da mãe com a palavra do pai e com aquilo que ele é suposto possuir, que a satisfaz e regula o desejo que ela tem de um objeto que não é mais a criança. Ela se remete ao desejo de um outro, reconhecendo a lei do pai como aquela que mediatiza seu próprio Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 31 desejo. O pai que priva é o que apresenta a lei. A criança, nessa perspectiva, tem acesso à simbolização da lei do pai, confrontada com a questão da castração na dialética do ter. A mediação que o pai introduz na relação com a mãe é o fato de que ela o reconhece como aquele que lhe dita a lei, o que permite à criança colocá- lo num lugar de depositário do falo. 3° Tempo: a criança irá dialetizar os outros dois tempos. Ameaçada em seus investimentos libidinais, a criança descobre que também a mãe nutre um desejo em relação ao desejo do pai. Ocorre um novo deslocamento do objeto fálico, no qual a instância paterna deixa seu lugar no imaginário para advir ao lugar de pai simbólico, lugar onde será investido como aquele que tem o falo. A criança, na problemática fálica, deixa de lado ser o falo para aceitar a problemática de ter o falo. A dialética do ser e ter põe em jogo as identificações. O menino se inscreverá na lógica identificatória, a partir do momento em que renuncia ser o falo e se engaja na dialética de ter, identificando-se com o pai, que é suposto ter. A menina se identifica com a mãe, deparando-se com a dialética do ter a partir do não-ter. Como a mãe, ela não tem, mas sabe onde encontrá-lo. SkinnerSkinnerSkinnerSkinner Skinner, advindo de uma forte base positivista, desenvolveu o behaviorismo radical. Limitou o estudo psicológico cientifico ao comportamento observável do organismo através da observação sensorial e definiu a Psicologia como a ciência do comportamento manifesto. Esse novo modelo de comportamentalismo é uma visão moderna das primeiras psicologias mecanicistas de estímulo-resposta, como o conexionismo desenvolvido por Thorndike e o behaviorismo desenvolvido por Watson. O problema básico das teorias S-R é a não inclusão da reação do meio sobre o organismo após a emissão da resposta. Apesar do seu parco estudo com a “lei do efeito” de Thorndike, pouco das consequências dos atos era estudado na manutenção dos comportamentos. Esse teórico foi fortemente anti-mentalista e se opunha aos behaviorismos mediacionais (como Tolman, Hull e Dollar e Miller), negando a relevância científica Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 32 de variáveis mediacionais, pois acreditava que o homem era uma entidade única, uniforme, em oposição ao homem "composto" de corpo e mente, ou seja, a visão de homem era a visão monista. Assim, ele não propõe que os estados internos não existam, mas sim que não podem servir como as causas em uma análise científica do comportamento. Estados mentais (como inteligência) são o produto de contingências prévias de reforço, e não tem nenhum status causal. Ele também não pretende negar que os sentimentos existem, no entanto, eles e outros estados corporais são produtos colaterais das nossas histórias, seja genética ou ambiental. Ele propôs a lei empírica de efeito. Isto é, um estímulo reforçador é um evento que aumenta a frequência do comportamento com o qual é emparelhado, sem nenhuma referência à satisfação ou a qualquer outro evento interno. Comportamentos complexos podem ser aprendidos por meio de modelagem (através de aproximações sucessivas). Inicia-se reforçando um comportamento que é um primeiro passo rumo ao comportamento final. Para ficar mais claro, imagine um psicólogo comportamentalista utilizando os conceitos aqui aprendidos para lidar com um paciente tímido. Inicialmente, e bem genericamente, deve-se traçar uma linha de base das competências sociais do paciente para planejar um conjunto de atividades que irão conduzi-lo a estágios superiores nessas habilidades. Como ele é tímido, pode-se começar com ensaios no consultório e depois com pequenas tarefas de casa diárias para, somente então, levar o paciente para experiências in vivo. Uma vez que ele detém uma boa base, aprendida nos passos anteriores, para lidar com a ansiedade social e para encadear comportamentos, fica mais fácil reduzir a timidez e eliciar comportamentos mais assertivos. Para a melhor compreensão dos processos de modelagem, é interessante entender como ocorre o controle de Estímulos. Esse controle pode ocorrer tanto pela generalização de estímulos (responder de forma semelhante a estímulos percebidos como semelhantes) como pela discriminação de estímulos (é o reforçamento diferencial; processo de decompor ou controlar generalizações). Creio que essas simplificações não ficarão claras para aqueles que não estão acostumados com os conceitos da Análise do Comportamento. Por isso, gosto das definições apresentadas por Bock (1999): Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 33 Generalização de estímulos: Na generalização de estímulos, um estímulo adquire controle sobre uma resposta devido ao reforço na presença de um estímulo similar, porém diferente. Frequentemente, a generalização depende de elementos comuns a dois ou mais estímulos. É o caso de uma criança aprendendo sobre animais, chamar todo animal que mama de "mamífero", independente da espécie... se mama... será mamífero, embora estímulos diferentes, há a generalização para classe "mamíferos". Discriminação de Estímulos: Diz-se que desenvolveu a discriminação de estímulos quando uma resposta se mantém na presença de um ou mais determinado(s) estímulo(s), mas sofre certo grau de extinção na presença de outros. Isto é, um estímulo antecedente à resposta adquire a possibilidade de ser conhecido como discriminativo da situação reforçadora. Sempre que ele for apresentado e a resposta emitida, haverá reforço. Exemplo: Motorista de ônibus para no semáforo, pois o sinal está vermelho, ou seja, o semáforo vermelho se tornou um estímulo discriminativo para emissão do comportamento de "parar" ser reforçada. Skinner apresentou experimentalmente o condicionamento operante, como alternativa ou complemento ao condicionamento clássico de Watson. Por isso, muitos estudiosos percebem a sua obra como um passo lógico da perspectiva watsoniana. O foco central para as duas teorias era a relação de comportamentos e variáveis determinantes. Assim, enquanto o comportamento reflexo ou respondente (condicionamento clássico) é controlado por um estímulo precedente, o comportamento operante (condicionamento instrumental ou operante) é controlado por suas consequências (reforço) que se seguem às respostas. É importante distinguir o Behaviorismo Radical da Análise Experimental do Comportamento e da Análise Aplicada do Comportamento. A teoria do Behaviorismo Radical foi desenvolvida como uma proposta de filosofia sobre o comportamento humano enquanto que as pesquisas experimentais constituem a Análise Experimental do Comportamento, enquanto as aplicações práticas fazem parte da Análise Aplicada do Comportamento. O Behaviorismo Radical seria uma filosofia da ciência do comportamento. Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 34 Skinner desenvolveu os princípios do condicionamento operante e a sistematização do modelo de seleção por consequências para explicar o comportamento. O condicionamento operante segue o modelo Sd-R-Sr, onde um primeiro estímulo Sd (estímulo discriminativo), aumenta a probabilidade de ocorrência de uma resposta R. A diferença em relação aos paradigmas S-R e S-O-R é que, no modelo Sd-R-Sr, o condicionamento ocorre se, após a resposta R, segue-se um estímulo reforçador Sr, que pode ser um reforço (positivo ou negativo) que "estimule" o comportamento (aumente sua probabilidade de ocorrência), ou uma punição (positiva ou negativa) que iniba o comportamento em situações semelhantes posteriores. Sd - R - Sr onde: Sd = estímulo discriminativo R = Resposta Sr = estímulo reforçador Para Skinner, os comportamentos são selecionados através de três níveis de seleção. Os componentes da mesma são: 1 - Nível Filogenético: que corresponde aos aspectos biológicos da espécie e da hereditariedade do indivíduo; 2 - Nível Ontogenético: que corresponde a toda a história de vida do indivíduo; 3 - Nível Cultural: os aspectos culturais que influenciam a conduta humana. Através da interação desses três níveis (onde nenhum deles possui um status superior a outro) os comportamentos são selecionados. Para Skinner, o ser humano é um ser ativo, que opera no ambiente, provocando modificações no mesmo, modificações essas que retroagem sobre o sujeito, modificando seus padrões comportamentais. Vamos nos aprofundar um pouco mais nos conceitos centrais da teoria do comportamentalismo de Skinner. Caso você consiga abstrair os conceitos do quadro abaixo sem dificuldades, recomendo pular dois parágrafos. Consequência após a resposta Apresentação da Consequência Retirada da Consequência Curso de Psicologia para o INSS – 2013 Professor Alyson Barros Aula 1 35 Reforço Aumenta a aparição da resposta (reforço positivo) Reduz a aparição da resposta (punição negativa) Estímulo Aversivo Reduz a aparição da resposta (punição positiva) Aumenta a aparição da resposta (reforço negativo) Consequência Inócua Extinção da resposta Extinção da resposta Para Skinner, um operante (resposta) é fortalecido pelo reforçamento ou enfraquecido pela sua extinção. Esse aumento da frequência de ocorrência de uma resposta pode ocorrer tanto pelo reforço positivo quanto pelo reforço negativo. A redução da frequência de um comportamento, por sua vez, pode ocorrer tanto por uma punição positiva quanto por uma punição negativa. Os conceitos podem parecer semelhantes na teoria, mas, são bem distintos na prática. Observe que sempre que falarmos de aumento de frequência de um operante (resposta) em função de suas consequências, estaremos falando de reforço. Enquanto que sempre que falarmos de um operante que reduz após a sua consequência, estaremos diante de uma punição. O termo “positivo” e “negativo” refere-se à inserção ou a retirada de algum elemento na consequência contingente ao comportamento. Assim, toda vez que falarmos de uma consequência de “x” positivo, estaremos inserindo algo no ambiente, por outro lado, toda vez que falarmos em uma consequência de “x” negativo, estaremos diante de algo que foi retirado do ambiente. Seguem alguns exemplos para
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