Buscar

Contestação no Processo Civil

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

4. A CONTESTAÇÃO
4.1. Noção geral
A contestação está para o réu como a petição inicial está para o autor. Trata-se do instrumento da exceção exercida (exercício do direito de defesa), assim como a petição inicial é o instrumento da demanda (ação exercida). É pela contestação que o réu apresenta a sua defesa. 
No procedimento comum, a contestação é escrita e deve ser assinada por quem tenha capacidade postulatória- advogado, membro do Ministério Público ou defensor público. 
4.2. Prazo
O prazo para a apresentação da contestação é de quinze dias (art. 335, caput, CPC). Se o réu for Ministério Público (art. 180, CPC). ente público (art. 183, CPC), réu representado judicialmente por defensor público (art. 186, CPC) ou litisconsorte com advogado diferente do outro litisconsorte (art. 229, CPC), o prazo é de trinta dias. O termo inicial do prazo é a data: 
a) da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição (art. 335, l, CPC);
b) do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4º, inciso I (art. 335, ll, CPC);
c) prevista no art. 231 do CPC, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos- quando, por exemplo, a audiência preliminar de conciliação ou mediação nem for marcada (art. 335, lll, CPC).
Se houver litisconsórcio passivo e um deles manifestar desinteresse na realização da audiência preliminar (art. 334, § 6º, CPC), o termo inicial será, para cada um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência (art. 335, § 1º, CPC). Se a audiência preliminar não for designada e o autor desistir do
processo em relação a um dos réus não citados, o prazo para contestação correrá da data de intimação da decisão que homologar a desistência (art. 335, § 2º, CPC). A regra é importante e útil, pois o prazo para a contestação, nos casos de litisconsórcio, começa a correr da data da juntada do último mandado aos autos (art. 231, § 1º, CPC); assim, não havendo mais o litisconsórcio, porque o autor desistiu da demanda em relação àquele que não foi citado, o réu já citado poderia ser surpreendido com a perda do prazo, caso ele fosse contado da data de juntada aos autos do mandado da sua citação;
de acordo com a regra, o prazo somente começará a correr da data da sua intimação da decisão que homologar a desistência.
4.3. A regra da eventualidade ou da concentração da defesa
A regra da eventualidade (Eventua/maxime) ou da concentração da defesa na contestação significa que cabe ao réu formular toda sua defesa na contestação (art. 336, CPC). Toda defesa deve ser formulada de uma só vez como medida de previsão ad eventum, sob pena de preclusão. O réu tem o ônus de alegar tudo o quanto puder, pois, caso contrário, perderá a oportunidade de fazê-lo. 
A regra da eventualidade aplica-se, em uma acepção mais ampla, ao autor e ao réu.
"Os litigantes devem produzir as suas alegações simultaneamente, quando a lei assim o disponha. Ainda que as alegações sejam excludentes, deve-se proceder assim na previsão, in eventum, de que uma delas seja rechaçada, cabendo então considerar a subsequente. ( ... ) Uma expressão exagerada, mas ilustrativa do princípio de eventualidade, e da necessidade de evitar a preclusão das alegações logicamente anteriores, contém-se no seguinte dístico clássico: 'Primeiro, não me deste dinheiro algum; segundo, já o devolvi faz um ano; terceiro, disseste que era um presente; e, finalmente, já prescreveu".(22. COUTURE, Eduardo. Fundamentos do Direito Processual Civil. Campi~as: RedUvros, 1999, p. 132-t 33.)
Da mesma forma que o autor pode cumular pedidos, própria ou impropriamente, pode o réu cumular defesas, própria ou impropriamente. Haverá cumulação própria de defesas quando o réu apresentar defesa contra vários pedidos, que foram apresentados também em cumulação própria: cada defesa faz o contraponto a um pedido e o demandado deseja que todas elas sejam acolhidas. Haverá cumulação eventual de defesas quando o réu alega uma defesa para a hipótese de a outra, anteriormente formulada, não ser acolhida; aliás, isso é o que normalmente ocorre, pois o réu, preocupado com a observância da regra da eventualidade, apresenta rol exaustivo de defesas. A uma defesa processual, o réu soma uma defesa de mérito para o caso de aquela não ser acolhida. Oportuna a lição de Cândido Dinamarco, que relaciona a regra da eventualidade com a eficácia preclusiva da coisa julgada (art. 508 do CPC): "Essa faculdade bastante larga repercute nos limites da eficácia preclusiva da coisa julgada, pela qual a sentença passada em julgado fica imune a qualquer alegação que pudesse pôr em dúvida a estabilidade dos seus efeitos. Ao impedir o conhecimento de qualquer questão referente a processo já extinto, quer as que ali foram suscitadas e discutidas, quer as que não o foram embora pudessem sê-lo (o deduzido e o dedutível), o art. 474 do Código de Processo Civil transmuda em autêntico ônus do réu o exercício das faculdades inerentes à eventualidade da defesa- porque, ou ele alega todas as defesas que tiver, ou não poderá alegá-las mais, depois que o mérito for julgado e a sentença ficar coberta pela coisa julgada':23 A referência é ao art 4 7 4 do CPC-1973, que corresponde ao art. 508 atuaL A regra da eventualidade autoriza, então, que o réu deduza defesas logicamente incompatíveis. Mas o princípio da boa-fé processual impõe que essa cumulação de defesas incompatíveis tenha limites." Nem toda ilogicidade é superada pela aplicação da regra da concentração da defesa. Luiz Guilherme Marinoni fornece interessante exemplo de incompatibilidade insuperável pela regra da eventualidade: se o réu afirma que a mercadoria entregue possui vícios, "é impossível negar a sua entrega, pois o juiz, para verificar a existência de vícios, deve necessariamente admitir a entrega da mercadoria".25 De fato, não se aceita a cumulação das defesas "nada devo" com a "exceção de contrato não cumprido", defesa que pressupõe a existência do direito afirmado pelo demandante.26 Do mesmo modo, não pode o réu alegar, simultaneamente, que jamais contratara com o autor e, se rejeitada essa alegação, que já havia adimplido a dívida. Note, porém, que pode o demandado alegar que pagou e, na eventualidade, que a dívida esteja prescrita. Pode-se alegar que o ato ilícito afirmado pelo autor jamais existiu e, mesmo se tivesse existido, a pretensão ressarcitória, que desse ato é consequência, estaria prescrita. Essas alegações, embora não possam ser acolhidas simultaneamente, compatibilizam-se pela regra da concentração da defesa. O art. 337 do CPC lista um rol de defesas processuais que devem ser apresentadas na contestação, antes de o réu discutir o mérito do processo. Excetuada a incompetência relativa e a convenção de arbitragem, todas são questões que o juiz pode conhecer ex officio (art. 337, § 5º, CPC). 
23. Instituições de Direito Processual Civil. São Paulo: Malheiros Ed., 2001, v. 3, p. 469. 24. TEIXEIRA, Guilherme Freire de Barros. O principio da eventualidade no processo civil. São Paulo: RT, 2005, p. 246. 25. MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil- teoria geral do processo. São Paulo: RT, 2006, v. 1, p. 326; OLIVEIRA, Rafael. Aspectos processuais da exceção de contrato não cumprido. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2010, p. 202. 26. OLIVEIRA, Rafael. Aspectos processuais da exceção de contrato não cumprido. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2010, p. 201.
4.4. Defesas de admissibilidade.
4.4. 1. Inexistência ou nulidade de citação
Trata-se de defesa dilatória, pois o máximo que o réu poder~\ conseguir com o acolhimento da sua alegação é a renovação do prazoi para a apresentação da sua resposta.
O inciso I do § 2º do art. 239 do CPC determina que, rejeitada a alegação de nulidade da citação, o réu será considerado revel, no processo de conhecimento. Essa regra somente se aplica ao caso em que o réu, após o prazo de resposta, pede a nulidade da citação e a devolução desse mesmo prazo. Se a alegação for feita no bojo da contestação, apresentada tempestivamente, a sua rejeição não gera revelia, pois o réu já terá apresentado a defesa. Acolhida a alegação feita na contestação, o réu terá novo prazo para apresentar a resposta.
4.4.2. Incompetência do juízo. O direito de o réu alegar incompetência no
foro do seu domicílio
A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada na contestação. Não há mais a diferença que existia ao tempo do CPC-1973, quando a incompetência relativa teria de ser alegada em um instrumento distinto da contestação. O art. 340 determina que, "havendo alegação de incompetência relativa ou absoluta, a contestação poderá ser protocolada no foro de domicílio do réu, fato que será imediatamente comunicado ao juiz da causa, preferencialmente por meio eletrônico". Observe que não é apenas a alegação de incompetência que é formulada perante o juízo do domicílio do réu: toda a contestação tem de ser apresentada neste momento. Notl!:, ainda, que essa regra precisa ser harmonizada com outra regra, a que impõe a realização da audiência preliminar de mediação e conciliação. É que, tendo sido marcada a audiência preliminar, a contestação somente seria oferecida se não se chegasse à autocomposição - o prazo de resposta começaria a correr da audiência, conforme visto. Como réu pode oferecer a contestação no foro de seu domicílio, onde não está tramitando o processo, caso alegue incompetência, será preciso cancelar a audiência prelíminar, marcada para realizar-se no foro onde tramita o processo. Perceba, então, que essa contestação, em cujo bojo se alega a incompetência, é apta para adiar a audiência preliminar. A contestação não equivale ao pedido de cancelamento da audiência, que o réu poderia ter formulado, pois é possível que ele tenha interesse na autocomposição, mas apenas não aceita que a audiência preliminar se realize no foro que ele, réu, alega ser incompetente. Não é fácil, como se vê, compatibilizar as duas regras: permitir que o réu alegue incompetência em seu domicílio e impor uma audiência preliminar antes do oferecimento da contestação, em cujo bojo a alegação de incompetência deve ser formulada. Por isso tudo, o art. 340 teve que disciplinar essa peculiar situação:
a) § 12: "A contestação será submetida a livre distribuição ou, se o réu houver sido citado por meio de carta precatória, juntada aos autos dessa carta, seguindo-se a sua imediata remessa para o juízo da causa". A regra é importante, pois, caso o réu seja vitorioso na alegação de incompetência, este será o juízo competente para o processamento da causa, em razão da prevenção, tal como estabelece o§ 2º do art. 340. Obviamente, esse juízo será o prevento se for o competente para o processamento da causa27. Isso porque nem sempre o juízo do foro do domicílio do réu, onde foi apresentada a contestação, é o competente; o réu pode, por exemplo, indicar como competente outro juízo, distinto daquele do foro do seu domicílio. 
b) § 3º: "Alegada a incompetência nos termos do caput, será suspensa a realização da audiência de conciliação ou de mediação, se tiver sido designada"; 
c) § 4º: "Definída a competência, o juízo competente designará nova data para a audiência de conciliação ou de mediação". Esse parágrafo é importante, pois esclarece que a alegação de incompetência no foro do seu domicílio não significa manifestação de vontade contra a realização da audiência preliminar. De todo modo, a utilização abusiva, pelo réu, deste benefício, pode caracterizar litigância de má-fé (art.BO, IV e VI, CPC).
27. Assim, enunciado n. 426 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: uo juizo para o qual foi distribuida a contestação ou a carta precatória só será considerado prevento se o foro competente for
o local onde foi citado
4.4.3. Incorreção do valor da causa
Na contestação, o réu apresenta a sua impugnação ao valor atribuído à causa pelo autor. Grande diferença em relação ao CPC-1973, em que a irr;pugnação ao valor da causa era apresentada em peça distinta, fora da contestação. A impugnação pode basear-se em dois fundamentos: a) o autor atribui à causa valor em desconformidade com o art. 292 do CPC, que estabelece critérios legais e objetivos para a fixação do valor da causa; b) nas hipóteses não reguladas pelo art. 292, cabe ao autor atribuir o valor estimado à causa; nesses casos, caberá impugnação pelo réu se o valor for irrazoável. A não impugnação pelo réu, neste momento, gera preclusão (art. 293, CPC). A decisão do juiz sobre essa alegação do réu é impugnável apenas por ocasião da apelação ou das contrarrazões (art. 1.009, § 1º, CPC).
4.4.4. Inépcia da petição inicial
Os casos de inépcia da petição inicial devem ser apontados pelo réu, em sua defesa. Como a inépcia se relaciona ao pedido ou à causa de pedir, o silêncio do réu, na defesa, pode levar ao entendimento de que ele conseguiu defender-se do que foi pedido e, assim, não seria mais caso de rejeitar a petição inicial por esse defeito. Obviamente, a total ausência de pedido inviabiliza a prestação jurisdicional; mas a obscuridade, também hipótese de inépcia, não a inviabiliza, sobretudo se da contestação for possível interpretar o que foi pedido. Por isso, é preciso atenção do réu neste ponto: seu silêncio pode implicar preclusão.
4.4.5. Perempção, litispendência e coisa julgada
Trata-se, como já se viu no capítulo sobre pressupostos p·rocessuais, de requisitos processuais negativos, pois são fatos que não podem ter ocorrido para que o processo se instaure regularmente. O exame desses pressupostos processuais negativos será feito no capítulo sobre a extinção do processo, nesse volume do Curso.
4.4.6. Conexão e continência
O inciso Vlll do art. 337 do CPC determina que cabe ao réu, em sua defesa, alegar conexão. O dispositivo também se aplica à continência23, que é espécie de conexão. Conexão e continência foram examinadas no capítulo sobre competência, neste volume do Curso.
4.4.7. Incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização
São todos defeitos relacionados à capacidade processual (capacidade para estar em juízo), que foi examinada no capítulo sobre pressupostos processuais, neste volume do Curso. 
4.4.8. Alegação de convenção de arbitragem
4.4.8. 1. Generalidades
Na contestação, cabe ao réu o ônus de alegar a existência de convenção de arbitragem [art 337, X, CPC). A existência de convenção de arbitragem (cláusula compromissória ou compromisso arbitral) é fato jurídico que o órgão jurisdicional não pode conhecer de ofício [art. 337, § 5º, CPC). A ausência de alegação de convenção de arbitragem pelo réu, na contestação, será considerada como aceitação da jurisdição estatal e consequente renúncia ao juízo arbitral- a omissão do réu, neste caso, é negociai, conforme explicado no capítulo sobre a teoria dos fatos jurídicos processuais. A premissa legislativa é óbvia: a convenção de arbitragem é cláusula negocia! firmada por pessoas capazes, envolvendo direitos disponíveis. Se uma das partes desobedece a essa disposição negocia!, demandando perante o Poder judiciário, cabe à parte adversária alegar esse descumprimento, demohstrando a existência da convenção de arbitragem; se não o fizer, é como se aceitasse a jurisdição estatal, de resto provocada pela parte autora, que, por isso, também renunciou tacitamente à jurisdição arbitral; assim, 
28. Assim, também, SlCI\ Heitor. NDa contestação': Breves Comentários ao Código de Processo Civil. Teresa
Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Dantas {coord.). São Paulo: RT, 2015, p. 89S.
ambas as partes, ao aceitarem a jurisdição estatal. abdicam da convenção de arbitragem, em um distrato tácito29 . Esse regramento encerra
duas antigas discussões doutrinárias. Primeiro, encerra a discussão sobre se o órgão jurisdicional pode conhecer de ofício qualquer convenção de arbitragem (cláusula compromissória ou compromisso arbitral), ou apenas a cláusula compromissória a combinação dos arts. 267, § 3º, e 301, § 4º, do CPC-1973 deixava essa dúvida 30•
Agora, não há mais dúvida: a existência de qualquer espécie de convenção de arbitragem não pode ser conhecida de ofício pelo órgão jurisdicional. Essa é, aliás, a opção mais correta, não apenas porque de acordo com a Convenção de Nova Iorque, em vigor no Brasil desde 200231 , mas, sobretudo, se levarmos em consideração que o compromisso arbitral costuma ser ato com conteúdo mais complexo, na medida em que sempre contém todos os elementos para a instauração da arbitragem, o que nem
sempre ocorre com a cláusula compromissória 32 •
Segundo, resolve a questão sobre até que momento é possível alegar a existência de convenção de arbitragem. Como a inexistêncía de convenção é pressuposto processual negativo, o§ 3º do art. 485 do CPC poderia levar ao entendimento de que se trata de questão que poderia ser controlada a qualquer tempo, enquanto o processo estivesse pendente ~ embora o parágrafo não se refira ao inciso VII do art. 485, que cuida da existência de convenção de arbitragem. Não é assim: a alegação deve ser feita no primeiro momento que couber ao réu falar nos autos, sob pena de pr-eclusão.
29. Exatamente na linha defendida por FICHTNER, José Antonio; MANNHEIMER, Sergio Nelson; MONTEIRO, André luis. "Cinco pontos sobre a arbitragem no projeto do novo Código de Processo Civil". São Paulo: RT, 2012, n. 205, p. 314. 30. Sobre a discussão, mais recentemente, com bastante proveito, FICHTNER, José Antonio; MANNHEIMER, Sergio Nelson; MONTEIRO, André luis. "Cinco pontos sobre a arbitragem no projeto do novo Código de Processo Civil". Revista de Processo. São Paulo: RT, 2012, n. 205, p. 311-314. 31. Art. 11, n. 3, da Convenção de Nova Iorque sobre sentenças arbitrais estrangeiras, de 10.06.1958: "3. O tribunal de um Estado signatário, quando de posse de ação sobre matéria com relação à qual as partes tenham estabelecido acordo nos termos do presente artigo, a pedido de uma delas, encaminhará as partes à arbitragem, a menos que constate que tal acordo é nulo e sem efeitos, inoperante ou inexequíve!': 32. FJCHTNER, José Antonio; MANNHE!MER, Sergio Nelson; MONTEIRO, André Luis. "Onco pontos sobre a arbitragem no projeto do novo Código de Processo Civil", cit., p. 31 1;TALAM!N!, Eduardo. "Arguição de convenção arbitral no projeto de novo Código de Processo CivH (exceção de arbitragem)': In: FREIRE, Alexandre; DANTAS, Bruno; NUNES, Dierle; DlD!ER JR., Fred!e; MEDINA, José Miguel GMcia; FUX, Luiz; CAMARGO, Luiz Henrique Vo!pe; OLIVEIRA, Pedro Miranda de (org.). Novas Tendências d:J Processo Civil- estudos sobre o projeto do Novo Código de Processo Civil. Salvador: Editora JusPodivm, 2014, v. 2, p. 413.
A alegação de convenção de arbitragem pode vir acompanhada do requerimento para que o processo corra em segredo de justiça, se houver cláusula de sigilo na convenção (art. 189, IV, CPC33, regra nova e que merece elogios) 34• A alegação de convenção de arbitragem deve vir acompanhada do instrumento desta convenção. A Convenção de Nova Iorque, embora exija a forma escrita, reputa acordo escrito a cláusula arbitral inserida em negócio de arbitragem, firmado pelas partes ou contido em troca de cartas ou telegramas (art. li, n. 2 - onde se lê "telegramas" pode-se ler, tranquilamente, correio eletrônico). Assim, a convenção de arbitragem pode decorrer de um conjunto de documentos, e não apenas de um instrumento. Quando isso ocorrer, será esse conjunto de documentos que terá de ser juntado pelo réu 35. Pode acontecer de a convenção de arbitragem já estar nos autos, juntada pelo autor no conjunto de documentos indispensáveis à propositura da ação. Nesse caso, bastará ao réu apontar a existência do documento. 
4.4.8.2. Alegação de convenção de arbitragem e a Kompetenzkompetenz do
juízo arbitral
Antes de examinar a alegação de convenção de arbitragem, o órgão julgador deve examinar a própria competência para fazer isso. "A competência do juízo estatal deverá ser analisada previamente à alegação de convenção de arbitragem" (enunciado n. 49 do Fórum Permanente de Processualistas Civis). É preciso observar, assim, a regra da Kompetenzkompetenz do juízo arbitral: é do juízo arbitral a competência para examinar a sua própria competência. O art. 8º, parágrafo único, da Lei n. 9.307/1996 (Lei de Arbitragem], é claro ao dizer que "caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória".
33. Art. 188, IV, CPC: "Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos: ( ... ) !V - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo': Observe que esse dispositivo garante o sigilo em qualquer processo que verse sobre a arbitragem, o que indu! A execução de sentença arbitraL 34. FICHTNER, José Antonio; MANNHEIMER, Sergio Nelson; MONTEIRO, André Luis. nCinco pontos sobre a arbitragem no projeto do novo Código de Processo Civil", cit., p. 321-325. 35. TALAMINI, Eduardo. "Arguição de convençáo arbitral no projeto de novo Código de Processo Civil (exceção de arbitragem)~ cit., p. 421. 
O art. 485, VII, dispõe que o juiz estatal extinguirá o processo, quando "o juízo arbitral reconhecer sua competência". Eis, então, a consagração da regra da competência do árbitro para julgar a própria competência. A regra da Kompetenzkompetenz não decorre apenas da autonomia da vont:ade das partes na arbitragem: se fosse apenas disso, não explicaria 0. natureza jurisdicional de uma dec:são de árbitro ou tribunal arbitrai declaratória de inexistência de convenção de arbitragem. Haveria a esdrúxula situação de um árbitro com poderes jurisdicionais conferidos por um negócio jurídico inexistente. A regra da Kornpetenzkompetenz do juízo arbitral é mais que isso: é um reconhecimento normativo por parte do Estado de que a jurisdição, em tese sob seu monopólio, pode ser exercida por agentes privados em algumas circunstâncias. Assim, essa regra é uma declaração de conhecimento do Direito da arbitragem como conjunto normativo em que está contido um método jurisdicional privado para solução de um litígio. A regra da Kornpetenzkornpetenz estabelece uma prioridade: na pendência de processo arbitrai; quem primeiro tem de analisar questões ativas à competência ou à existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem é o próprio árbitro ou tribunal arbitral. Ela não elimina a possibilidade de exame pelo Poder judiciário dessas questões ou torna esses temas imunes à apreciação do juiz estatal: apenas posterga a eventual análise deles para uma ação anulatória ajuizada pela parte que se sentiu prejudicada. Essa regra estabelece, pois, uma ordem cronológica eventual: na pendência de processo arbitral, a primeira análise tem de ser arbitral; em caso de reafirmação pelo árbitro ou tribunal arbitral da própria competência ou de julgamento improcedente da questão sobre inexistência, defeito ou ineficácia da convenção de arbitragem, a parte poderá, posteriormente à sentença arbitral, levar essa matéria para conhecimento do Poder judiciário com eventual ajuizamento da ação anulatória do art. 33 da Lei de Arbitragem. A possibilidade dessa análise posterior pelo Poder judiciário está bem evidente no art. 20, § 22, da Lei de Arbitragem, que determina o prosseguimento do processo arbitral em caso de não acolhimento da arguição feita pela parte, com fundamento nos temas do art. 82, parágrafo único, da Lei de Arbitragem, "sem prejuízo de vir a ser examinada a decisão pelo órgão do Poder judiciário competente, quando da eventual propositura da demanda de que
trata o art. 33 desta Lei".
Portanto, a regra da Kompetenzkompetenz do juízo arbitral é um impedimento a priori à cognição do juízo estatal, na pendência de processo arbitral. A amplitude da regra da Kompetenzkompetenz é variada e depende de cada ordenamento jurídico. Há enteJ1dimento restritivo, que tende a ver superioridade moral ou precedência soberana do Poder Judiciário, co"' o que se lhe permite a apreciação sobre aquelas questões em torno da convenção de arbitragem mesmo na pendência de um processo arbitral. Há entendimento mais expansivo, que reconhece a prioridade da própria jurisGição arbitral para julgamento daquelas questões sem eliminar a possibilidade de o tema ser futuramente reapreciado pelo Poder judiciário. Esse entendimento torna a arbitragem mais efetiva e atraente como uma alternativa à jurisdição estatal. O Brasil se situa no segundo grupo; o CPC ratifica isso. Assim, caso o procedimento arbitral tenha sido instaurado antes da propositura da ação, o juiz estatal, ao receber a alegação de convenção de arbitragem, suspenderá o processo, à espera da decisão do juízo arbitral sobre a sua própria competência. Se o procedimento arbitral não houver
sido instaurado, o juiz decidirá a questão. Se o procedimento arbitral for instaurado depois do ajuizamento da demanda perante o Poder judiciário, mas antes da decisão do juiz a respeito da questão, o processo jurisdicional estatal também deverá ser suspenso, por idêntica razão 36. A regra confere o devido prestígio ao sistema arbitral: se há processo arbitral pendente, cabe ao juízo arbitral a definição de sua competência; se não houver, cabe ao órgão jurisdicional estatal decidir sobre a alegação de convenção de arbitragem.
4.4.8.3. Decisão sobre a alegação de convenção de arbitragem.
A decisão que rejeita a alegação de convenção de arbitragem é impugnável por agravo de instrumento (art. 1.015, lll, CPC). Note, porém, que a decisão que acolher a alegação de convenção de arbitragem é sentença (art 203, § 1º, CPC) e, pois, apelável. 
36. Nesse sentido, enunciado n. 153 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: "A superveniente
instauração de procedimento arbitral, se ainda não decidida a alegação de convenção de arbitragem,
também implicará a suspensão do processo, à espera da decisão do juízo arbitral sobre a sua própria
competência':
A existência de convenção de arbitragem é fato que pode ser reconhecido pelo juízo arbitral, no caso em que o processo arbitral é anterior ao processo estatal, ou superveniente, mas antes da decisão do juiz estatal, ou pelo próprio órgão jurisdicional estatal, no caso de ainda não haver processo arbitral pendente (art. 485, VII, CPC). Note, assim, que a extinção do processo jurisdicional estatal pode decorrer de uma decisão do juiz da causa ou como efeito anexo da decisão do juízo arbitral sobre a sua própria competência.
4.4.9. Ausência de legitimidade ou de interesse processual. O direito de
substituição do réu e o dever de o réu indicar o legitimado passivo.
Novas hipóteses de intervenção de terceiro.
O inciso XI do art. 337 do CPC permite que o réu alegue ilegitimidade ou falta de interesse processuaL Sobre a legitimidade e o interesse processual, examinar capítulo sobre os pressupostos processuais, neste volume do Curso. Há, porém, duas regras especiais sobre a alegação de ilegitimidade passiva. A alegação de ilegitimidade passiva, formulada pelo réu em sua defesa, confere ao autor o direito de, no prazo de quinze dias, pedir a alteração da petição inicial para a substituição do réu (art. 338, caput, CPC). Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8', CPC (art. 338, par. ún., CPC). A regra, que confere um direito processual de alteração do paio passivo da demanda, é muito boa e simplificadora. Trata-se de uma modalidade nova de intervenção de terceiro, que tem por consequência a sucessão processual, que não depende da concordância do réu: ao alegar a ilegitimidade, o réu deve saber que poderá ser substituído, a critério do autor. Esta é uma situação peculiar, em que o autor pode desistir da ação, independentemente do consentimento do réu que já contestou. O autor tem o direito de desistir do processo em face do réu originário e incluir outra pessoa no polo passivo. Não se exige, neste caso, para a homologação da desistência, o consentimento do réu. A regra é razoável: tendo alegado sua ilegitimidade, não poderia mesmo o réu negar a desistência do processo em relação a ele. Essa desistência não levará à extinção do processo, que prosseguirá em relação ao novo réu. 
Há situações, porém, em que o réu que alegar a sua ilegitimidade tem o dever de indicar o legitimado passivo. São os casos em que, pelas circunstâncias do caso, o réu tem conhecimento de quem seja o legitimado passivo (art. 339, caput, CPC). Se o réu não cumprir esse dever, arcará com as despesas processuais e indenizará o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação a responsabilidade civil, no caso, é subjetiva 37•
Aceita a indicação pelo autor, este, no prazo de quinze dias38, procederá à alteração da petição inicial para a substituição do réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338, que foi examinado linhas atrás (art. 339, § 1º, CPC). No prazo de quinze dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu: em vez de pedir a substituição do réu, o autor pode pedir a ampliação do polo passivo da demanda. O autor tem o direito de optar por substituir o réu ou ampliar o polo passivo; não há necessidade de consentimento do réu originário. Um bom parâmetro para a concretização essa regra genérica é a antiga nomeação à autoria, prevista no CPC-1973, que impunha ao a réu o dever de indicar ao autor o legitimado passivo correto. No art. 62 do CPC- 1973, o mero detentor (fâmulo da posse: caseiro, motorista, vaqueiro etc.) tinha o dever de indicar o possuidor, quando a demanda reipersecutória lhe fosse indevidamente dirigida. Esse dever se justificava pela relação de subordinação que existe entre o réu (mero detentor) e o terceiro (o correto legitimado passivo, o possuidor ou proprietário). Essa, porém, é apenas uma hipótese. O art. 339 do CPC cria regra geral: demonstrado que tinha conhecimento de quem é o legitimado passivo, cabe ao réu fazer essa indicação. As regras decorrentes dos arts. 338 e 339 do CPC aplicam-se a qualquer procedimento, mesmo os especiais e aqueles que não admitem intervenção de terceiro, pois é medida saneadora e preocupada com a duração razoável do processo.
39. 37. Enunciado n. 44 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: NA responsabilidade a que se refere o art. 339 é subjetiva': 38. Enunciado n. 152 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: uNas hipóteses dos §§ 1 o e 2° do art. 339, a aceitação do autor deve ser feita no prazo de 15 dias destinado à sua manifestação sobre a contestação ou sobre essa alegação de ilegitimidade do réu": 39. Enunciado n. 42 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: uo dispositivo se aplica mesmo a procedimentos especiais que não admitem intervenção de terceiros, bem como aos juizados especiais cíveis, pois se trata de mecanismo saneador, que excepciona a establlização do processo": 
4.4.1 O. Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar
O inciso XII do art. 337 autoriza que o réu alegue, na contestação, a falta de caução ou de outra prestação que a lei exigir como preliminar. São exemplos! de deste tipo de defesa: não pagamento de honorários advocatícios de processo extinto sem resolução do mérito, quando o autor intente a mesma ação (art. 486, § 2Q, CPC); não pagamento das custas processuais (art. 290, CPC); não realização do depósito obrigatório na ação rescisória (art. 968, li, CPC); não apresentação da caução pro expensis prevista
no art. 83 do CPC etc. 
4.4.11. Indevida concessão do benefício da gratuidade concedido ao autor
Diferentemente do que acontecia ao tempo do CPC-1973, o requerimento de revogação da justiça gratuita concedida ao autor tem de ser apresentado pelo réu na própria contestação, e não em peça avulsa~ inciso· Xlll do art. 337. Se a gratuidade da justiça for concedida após a petição inicial, o pedido de revogação será formulado por petição simples, no prazo de quinze dias (art. 100, caput, CPC). Da decisão que acolhe esse pedido de revogação da justiça gratuita, cabe agravo de instrumento (art. 101 e art. 1.015, V, CPC). 
4.5. Defesas que têm de ser alegadas fora da contestação e que podem
ser alegadas depois da contestação
Há, no entanto, defesas que a própria lei impõe sejam alegadas em peça distinta da contestação: arguição de impedimento ou suspeição do juiz, membro do Ministério Público ou auxiliar da justiça. Porque também pode ser oferecida pelo autor, essa defesa será examinada em capítulo próprio. Há, também, defesas que podem ser alegadas após a apresentação da contestação (art. 342 do CPC):
I) que se refiram a direito ou a fato superveniente: se se trata de fato ou situação jurídica que surgiu após a apresentação da defesa, e que é relevante para o julgamento da causa, obviamei_~te o réu poderá alegá-lo posteriormente à apresentação da contestação (inciso I do art. 342, em consonância com o art. 493 do CPC) 40 ; objeções: se se trata de matéria que o magistrado possa conhecer ex officio, não haverá preclusão decorrente da não dedução dela na peça principal de defesa (inciso li do art. 342). É o que acontece com a alegação de incompetência absoluta, por exemplo. c) matérias que, por força de lei. podem ser deduzidas a qualquer tempo (art. 342, III, CPC): há, ainda, defesas que a lei autoriza sejam deduzidas a qualquer tempo, independentemente da circunstância de poderem ou não ser examinadas ex officio, como é o caso da decadência convencional (arts. 210-211 do Código Civil). A flexibilidade que a lei confere à regra da eventualidade, quando aplicada ao réu, não encontra precedente em favor do autor; li!Uítado que está às regras de estabilização do processo prevista no art. 329 do CPC.41 Assim, em homenagem ao princípio da isonomia processual, convém que o art 493 do CPC, que cuida do fato superveniente relevante para o deslinde do feito, seja interpretado com certa elasticidade, para permitir, também e em certas circunstâncias, uma quebra da eficácia preclusiva da regra da eventualidade em favor do autor. O tema será examinado com mais vagar no v. 2 deste Curso, no capítulo dedicado à decisão judicial. 4.6. Crítica à interpretação literal do art. 337 do CPC. Quebra do dogma da primazia da defesa de admissibilidade sobre a defesa de mérito O art. 337 do CPC determina que cabe ao réu, antes de discutir o mérito da causa, apresentar a sua defesa contra a admissibilidade do processo, apontando os vícios que porventura comprometam a validade do procedimento. Assim, as defesas do réu deveriam ser apresentadas em forma de cumulação imprópria: primeiro as defesas de admissibilidade e, em seguida, para o caso de não acolhimento delas, as defesas de mérito. A regra parte da premissa teórica da primazia das questões de admissibilidade em relação às questões de mérito. Nesse sentido, a análise daquelas deve preceder à análise dessas.
40. Segundo Dinamarco, o art. 303, I, do CPC-1973, que corresponde ao art. 342, 1, atua~ autoriza que o
réu alegue não só fatos ou situações jurídicas supervenientes, como também fatos já acontecidos à
época da contestação, mas até então desconhecidos pelo réu (Instituições de Direito Processual Civil.
São Paulo: Malheiros Ed., 2001, v. 3, p. 470.) 41. TEIXEIRA, Guilherme Freire de Barros. O princípio da eventualidade no processo civil. São Pau lo: RT, 2004,p. 230. 
A previsão normativa merece uma aplicação não literal. Primeiramente, é preciso compreender os requisitos de admissibilidade do processo como requisitos de validade. A falta de um requisito de validade somente pode gerar inadmissibilidade (invalidade do procedimento] se houver prejuízo ao interesse protegido pela exigência formal que foi desrespeitada. É por isso que o § 2º do art. 282 do CPC determina que "quando puder decidir do mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta". Regra semelhante decorre do art. 488 do CPC". Como visto no capítulo sobre as normas fundamentais do processo civil brasileiro, há, no Direito brasileiro, o princípio da primazia da decisão de mérito - art. 4º, CPC. A falta de um requisito de admissibilidade que visa proteger o réu pode ser ignorada, por exemplo, se o órgão julgador puder julgar improcedente a demanda. Aquela suposta primazia do juízo de admissibilidade não é, portanto, absoluta. Em segundo lugar, é preciso notar que um julgamento de improcedência do pedido pode ser mais interessante ao réu do que uma extinção sem resolução do mérito. Ora, se em relação ao objeto litigioso do processo, composto pelo conjunto das postulações de autor e réu, vigora no Direito brasileiro o princípio dispositivo, não parece possível, sob pena de ofensa à liberdade, impor~se ao demandado, sempre, a opção pela decisão terminativa em detrimento de uma decisão definitiva que lhe seja favorável. Cabe ao demandado proceder a essa escolha, assim como cabe ao demandante estabelecer a ordem de prioridade dos pedidos na cumulação subsidiária (art. 326 do CPC]. É claro que nem sempre isso será possível; por exemplo: se o juízo é incompetente, não será possível julgar improcedente o pedido. Mas se falta um requisito processual objetivo de validade (pagamento de custas ou escolha correta do procedimento), por que não permitir que o réu prefira a decisão de improcedência em vez da decisão sem resolução do mérito? É sempre muito difícil explicar porque o réu pretende, em primeiro lugar, a extinção sem exame de mérito, que permite a repropositura da demanda pelo autor, uma vez corrigido o defeito (art. 486, § 1º, CPC], e, somente 
42. Assim, também, mais recentemente, SICA, Heitor. "Da contestação': Breves Comentários ao Código de
Processo Civil. Teresa Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Dantas (coord.}. São Paulo:
RT, 2015, p. 898.
subsidiariamente, a improcedência do pedido, decisão que pode resolver o conflito definitivamente. A questão tem alguma repercussão prática. Como é sabido, se já houver resposta do réu, o autor somente pode desistir do processo com o consentimento do demandado. Afirma-se que, se o demandado pedir a extinção do processo sem resolução de mérito, não será possível negar consentimento à desistência, em razão da proibição de venire contra factum proprium. Se a extinção do processo sem análise do mérito é seu desejo, não pode o réu opor-se à eficácia da desistência do autor, que, enfim, é a concretização da vontade do demandado. Aplicado literalmente o art. 337, a defesa de admissibilidade do réu seria sempre prioritária em relação à defesa de mérito, impedindo, assim, que o réu se oponha à homologação da desistência. Caso o réu tivesse apresentando uma defesa de mérito como defesa principal, a ele seria lícito negar o consentimento à homologação da desistência, exatamente porque o seu principal objetivo é, em primeiro lugar; a obtenção de uma sentença desfavorável ao autor. Reforça-se, aqui, o que se vem repetindo em textos e palestras: a primazia é do julgamento do mérito. A extinção sem resolução do mérito deve ser encarada como uma manifestação de crise do processo, conforme célebre pensamento doutrinário.
4.7. ônus da impugnação especificada
4.7.1. Noção
Não se admite a formulação de defesa genérica. O réu não pode apresentar a sua defesa com a negativa geral das alegações de fato apresentadas pelo autor (art. 341 do CPC); cabe ao réu impugná-las especificadamente, sob pena de a alegação não impugnada ser havida como verdadeira. Eis
o ônus do réu de impugnar especificadamente as alegações do autor. Ao autor cabe formular sua demanda de modo claro e determinado (demanda obscura é inepta e o pedido genérico é apenas excepcionalmente admitido); idêntica razão impõe a regra que veda a contestação genérica. Prestigiam-se, assim, o princípio da cooperação (art. 6º, CPC) e, consequentemente, o princípio da boa-fé processual (art. 52, CPC). Embora se trate de regra prevista para a contestação, aplica-se, por analogia, à réplica: cabe ao autor impugnar especificadamente os fatos novos suscitados pelo réu em sua defesa, sob pena de admissão e, portanto, de incontrovérsia do fato. cuja prova se dispensa (art. 374. lll. CPC). Também se aplica à regra aos recursos: cabe ao recorrente impugnar
especificadamente a decisão recorrida, sob pena de não conhecimento do seu recurso.
4.7.2. Representantes judiciais que estão dispensados deste ônus (art. 341, par. ún., CPC)
Esse ônus não se aplica quando a defesa tiver sido apresentada por defensor público, advogado dativo ou curador especial (parágrafo único do art. 341). Trata~se de regra que precisa de uma explicação mais minuciosa. O curador especial e o advogado dativo (art. SQ, §§ 3Q e 4", Lei n. 1.060/1950)" estão dispensados de observar esse ônus ao elaborarem a defesa dos seus representados. Isso porque são representantes que assumem suas funções em situação que não lhes permite, no mais das vezes, ter acesso imediato ao réu, de quem poderiam extrair as informações indispensáveis para a elaboração de uma defesa específica. Ambos aterrissam no processo de (sem?) "paraquedas". Nestas circunstâncias, justifica-se plenamente a não incidência da regra de não impugnação especificada: para que não tenham de mentir ou esforçar-se na criação de uma "estória do réu", autoriza-se que esses representantes formulem uma defesa genérica. O defensor público também está livre desse ônus ao elaborar a contestação da pessoa que representa. A regra não é boa, pois, de tão geral, pode tornar-se fator de desequilíbrio processual injustificado e, por isso, inconstitucional. A dispensa somente se justificaria no caso de como advogado dativo ou curador especial, que é uma função institucional da Defensoria Pública (art.4Q, XVI, da Lei Complementar n. 80/1994). A incidência da regra deveria pressupor a dificuldade concreta de comunicação entre o representante judicial e o réu, que pode não existir na relação entre o defensor público e o cidadão carente. A exceção, inclusive, parece não se compatibilizar com a Constituição, por violar o princípio da igualdade. 
43. "§ 3°. Nos municípios em que não existem subseções da Ordem dos Advogados do Brasil, o próprio juiz fará a nomeação do advogado que patrocinará c; causa do necessitado.§ 4°. Será preferido para a defesa da causa o advogado que o interessado indicar e que ?eclare aceitar o encargo'
Perceba.
Caso representado por defensor público, o autor tem o ônus de formular pedido certo e determinado, sem qualquer ressalva legal que lhe retire do âmbito normativo da disciplina geral do pedido somente poderia formular pedido genérico nos mesmos casos em que qualquer pessoa poderia; nesse mesmo processo, porém, caso representado também por defensor público, o réu não teria o ônus da impugnação especificada, podendo formular defesa genérica, pouco importa qual tenha 'ido o objeto da demanda. De todo modo, parece que o legislador teria consagrado, aqui, uma presunção absoluta dessa dificuldade, a justificar a dispensa do ônus da impugnação especificada ao defensor público, em qualquer caso - é preciso esperar a posição dos tribunais sobre esse dispositivo, que necessita de uma interpretação conforme a Constituição. O CPC-1973 excepcionava também o Ministério Público. O CPC atual não repete a exceção. Agiu bem. A menção ao Ministério Público justificava- se, pois, ao tempo da promulgação do CPC (1973), a ele cabia, em certas situações, a defesa de pessoas em estado de hipossuficiência, atribuição semelhante à que hoje exerce a Defensoria Pública. O Ministério Público poderia promover a defesa do interditando, por exemplo (art. 1.182, § 1º, CPC-1973; art 449 do Código Civil de 1916). O novo perfil constitucional do Ministério Público não é mais compatível com esse tipo de atuação: ao MP cabe a legitimidade para
a defesa de interesses da coletividade. Se, porém, em alguma situação específica, relacionada a direito individual indisponível de incapaz (a única que se pode cogitar), o Ministério Público promover a defesa do réu, a regra de exceção ao ônus da impugnação especificada poderá incidir por analogía, desde que obviamente o Ministério Público não tenha acesso ao representado, situação fática indispensável para essa incidência. Observe-se, porém, o seguinte: a regra se aplicaria ao caso de o Ministério Público ser representante do réu (mesma condição do curador especial e do advogado dativo). Se o Ministério Público for réu (hipótese rara, mas plenamente possível; pense-se na ação rescisória contra sentença proferida em processo promovido pelo Ministério Público: ele será o réu) ou autor (no caso da réplica), terá de observar o ônus da impugnação especificada. A Fazenda Pública submete-se ao ônus da impugnação especificada". Não há razão para dispensar os advogados públicos desse ônus, até mesmo 
44. Nesse sentido, STJ, 2a T., REsp n. 635.996/SP, rei. Min. Castro Meira, j. em 06.122007, publicado no DJ de 17.12.2007.
por uma questão ética: ao advogado particular cabe a tarefa de manifestar-se precisamente sobre o que afirma a parte adversária; o advogado público, qualificado após a aprovação em concursos públicos concorridíssimos, poderia, simplesmente, não manifestar-se sobre as afirmações da parte adversária, sem qualquer consequência ... O papel do advogado na construção da decisão judicial justa não pode ser desprezado;c a incidência da regra aos advogados dos entes públicos seria verdadeira capitis deminutio desses profissionais. Veja-se o exemplo da ação civil pública em que um ente público é réu: nessa situação, o interesse público está, preponderantemente, do lado ativo, não se admitindo a negação geral, conduta que se
pode reputar temerária, quando provinda de ente público.
4.7.3. Afirmações de fato que, mesmo não impugnadas especificada mente,
não serão havidas como verdadeiras
A não impugnação especificada, em algumas situações, não produz o efeito de reputar-se verdadeira a afirmação de fato não impugnada. Eis os casos: 
I) se a respeito do fato não for admissível confissão, como nos casos relativos a direitos indisponíveis (arts. 341, I, e 392, CPC; art. 213, Código Civil); 
II) se a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato (art. 341, 11, CPC; certidão do registro imobiliário, o testamento etc.):46 se o ato só se prova por instrumento, a falta deste não pode ser suprida pela admissão da parte adversária;
III) se os fatos não impugnados estiverem em contradição com a defesa considerada em seu conjunto (art. 341, Jll, CPC): quando o réu contesta
45. Em sentido contrário, CUNHA, Leonardo Carneiro da. A fazenda pública em juízo. 3a ed. São Paulo: Dialética, 2005, p. 88, com a seguinte argumentação: "Além da indisponibilidade do direito e da inadmissibilidade da confissão, a não-sujeição da Fazenda Pública ao ônus da impugnação especificada dos fatos decorre da presunção de legitimidade dos atos administrativos~ 46. Há instrumentos públicos e particulares que a lei considera como da substância do ato (p. ex., arts. 541, 997, 1.334, § 1 c, 1.417, todos do Código Civil). Acertou o Código ao referir-se apenas a "instrumento'; sem adjetivá-lo. A propósito, "O direito material pode prever como da substância de determinado negócio jurídico 9 instrumento particular. Se assim dispõe o direito material, nâo pode o preceito processual revogar o princípio, pois que ao direito processual cabe disPor sobre prova, nâo sobre constituição de negócio jurídico de direito material. O negócio
jurídico ·que exige o instrumento particular para sua constituição, inexistindo esse instrumento, é nulo, incapaz, consequentemente, de produzir os efeitos próprios do negócio; nesse caso, a falta de impugnação pelo réu, ou mesmo sua confissão, não suprem a inexistência do documento, segundo os princípios do direito material" {PASSOS, José Joaquim Calmon de. Comentdrios ao Código de Processo Civil. 9a ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. 3, p. 315).
apenas alguns dos fatos alegados pelo autor, mas da impugnação destes decorre implicitamente a rejeição dos demais, por incompatibilidade lógica entre o que foi arguido e os fatos não apreciados pelo contestante. O inciso lll do art. 341 consagra regra de interpretação da contestação em consonância com o art. 112 do Código Civil, segundo o qual "nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem". A contestação é, também, uma declaração de vontade. É regra simétrica à que decorre do§ 2º do art. 322. Embora não possa ser presumido o fato relacionado a direito indisponível, a omissão do réu em impugná-lo pode ser levada em consideração pelo magistrado, como elemento de convencimento. Muito a propósito- e excelente como parâmetro interpretativo o dispositivo do art. 361 do Código CivH português (eis a rubrica do artigo: "valor do reconhecimento não confessório"): "O reconhecimento de factos desfavoráveis, que não possa valer como confissão,
vale como elemento probatório que o tribunal apreciará livremente'.
4.8. Forma e requisitos
Os requisitos da contestação são semelhantes aos da petição inicial: nome e prenome das partes (qualificação não é necessária, se corretamente já feita na inicial); endereçamento ao juízo da causa; documentos indispensáveis; requerimento de provas; dedução dos fatos e fundamentos jurídicos da defesa. A contestação deve vir em forma escrita, excepcionada a hipóteses da contesfação nos juizados Especiais Cíveis, que pode ser feita pela forma oral. 
4.9, Pedido do réu
Costuma-se dizer que o réu não pede, impede. De fato, em regra, a contestação não interfere no objeto litigioso do processo, ressalvados os casos em que se admite a formulação de pedido contraposto. Não é bem assim. O réu também pode demandar; embora com pedidos bastante peculiares. Pode pedir o réu, em sua peça de defesa:
a) a extinção do processo sem exame do mérito;
47. Pires de Lima e Antunes Varela dão os seguintes exemplos em que pode ter lugar a aplicação deste
art. 361 do Código Civil português: a) confissão feita por incapaz ou por quem náo tenha poderes de disposição; b) fatos relativos a direitos indisponíveis; c) confissão de litisconsorte. (Código Civil Anotado. 4~ ed. Coimbra: Coimbra Editora, 1987, p. 320.) 
b) a remessa dos autos ao juízo competente ou ao juízo prevento;
c) a devolução do prazo de defesa;
d) a improcedência do pedido do autor;
e) a condenação do autor às verbas da sucumbência; 
f)condenação do autor por litigância de má-fé; 
g) a sua pretensão dúplice nos casos de ação dúplice, como as ações meramente declaratórias.
Também há pedido qu'a ndo o réu exerce um contradíreito, como visto; nesse caso, há ampliação do objeto litigioso pelo réu. 
4.10 O. Aditamento e indeferimento da contestação
A contestação pode ser indeferida e aditada. A contestação pode ser indeferida se for intempestiva ou se, por exemplo, não ficar comprovada a regularidade da representação processual da parte (falta de documentos que comprovem a aptidão do sócio para atuar em nome da sociedade, p. ex.).48 Se o réu se apresenta sem advogado, não deve o juiz indeferir a contestação; deve nomear um advogado dativo, que pode ser um defensor público, para ratificar a peça de defesa. É que uma norma de proteção, como aquela que exige a capacidade postulatória, não pode ser utilizada contra o seu beneficiário. Não se pode punir um incapaz (decretando efeitos da revelia) exatamente por ele ser incapaz. O raciocínio é o mesmo para o caso de contestação apresentada por incapaz, que constituiu advogado, mas não tem representante: deve o juiz nomear-lhe um curador especial, e não considerar o réu revel, aplicando-lhe os efeitos da revelia.
Sobre a contestação intempestiva, cumpre ainda advertir o seguinte: 
a) se ela contiver a afirmação de defesas que podem ser alegadas após o prazo de contestação (art. 342, CPC), não poderá ser desentranhada;
b) se estiver acompanhada de documentos, embora a peça de defesa possa ser desentranhada, se for o caso, os documentos permanecem nos autos, pois, como se sabe, o réu revel tem o direito à produção de provas (art. 349, CPC; enunciado n. 231 da súmula da jurisprudência do STF: "O revel, em processo cível, pode produzir provas desde que compareça em tempo oportuno.").
48. PASSOS, José Joaquim Calmon de. Comentórios oo Código de Processo Civil. 9• ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2004, v. 3, p. 309.
O aditamento da contestação somente é possível nas hipóteses que excepcionam a regra da eventualidade que preside o oferecimento da resposta do réu e que já foi examinada. Ou seja: pode-se aditar a contestação para acrescentar as defesas que podem ser alegadas após o prazo de resposta do réu e que estão previstas no art 342, CPC, já examinado. 
4.11. Interpretação
A contestação veicula declaração de vontade do réu. Como tal, deve ser interpretada. Aplicam-se à interpretação da contestação as mesmas regras de interpretação do pedido. Remete-se o leitor ao quanto se disse a respeito no capítulo sobre a petição inicial, neste volume do Curso.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando