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A Constituição Federal de 1988 INTRODUÇÃO DO TEMA Como a Constituição de 1985 deu suporte à ditadura de 1964, quando o golpe militar termina, em novembro de 1986 são realizadas eleições presidenciais e legislativas para compor a assembleia nacional constituinte (que foi convocada em 1987, formada por senadores e deputados e sob a presidência de Ulysses Guimarães) para reestabelecer a democracia no Brasil. Nessas eleições, mais de 75% do total de cargos de deputados e senadores foram ocupados pelo PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) e pelo PFL (Partido da Frente Liberal), caracterizando um perfil mais conservador à assembleia constituinte, dominada pela lógica governista de José Sarney, presidente da república no período. Em contra partida, as oposições partidárias não tinham condições de oferecer qualquer resistência às políticas defendidas pelo PMDB/PFL em caso de divergência de ideais. Entretanto, apesar da maioria conservadora, a constituição de 1988 foi marcada por profundos princípios sociais, reafirmando os direitos cassados pela ditadura - denominando como A Constituição Cidadã - publicada no dia 5 de outubro de 1988, sendo a sétima constituição adotada pelo Brasil, que prossegue até os dias atuais. CARACTERÍSTICAS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 Para elaborar a estrutura do texto constitucional, foram criadas oito comissões temáticas com a tarefa de conceder organicidade e sistematicidade entre os seguintes temas: Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher Comissão da Organização do Estado Comissão da Organização dos Poderes e Sistema de Governo Comissão da Organização Eleitoral, Partidária e Partidos Políticos Comissão do Sistema Tributário, Orçamento e Finanças Comissão da Ordem Econômica Comissão da Ordem Social Comissão da Família, Educação, Cultura e Esportes, da Ciência e Tecnologia e da Comunicação. Outra característica dessa nova constituição se dá a de Uma Constituição analítica (trata os temas de maneira mais minuciosa do que uma constituição deveria tratar. Ou seja, cuidou de temas que, em geral poderiam ter sido tratadas pelo legislativo por meio de leis comuns), por se tratar de um texto abrangente e detalhista, exige que sejam feitas muitas emendas constitucionais até hoje, que em 2014 totalizava 80 emendas constitucionais realizadas desde a promulgação da constituição. Para essas emendas e avanços do texto da constituição, exige-se uma intervenção do constituinte derivado, ou seja, a autorização a fazer modificações no texto constitucional, nos limites que as próprias regras constitucionais permitem, com exceção das cláusulas pétreas (aquela que não podem ser alteradas), como: O Sistema Federativo do Estado; O voto direto, secreto, universal e periódico; A separação dos poderes; Os direitos e as garantias individuais. ESTRUTURAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO Por fim, está estruturada em nove títulos, a seguir: Título I - Princípios Fundamentais Título II - Direitos e Garantias Fundamentais Título III - Organização do Estado Título IV - Organização dos Poderes Título V - Defesa do Estado e das Instituições Título VI - Tributação e Orçamento Título VII - Ordem Econômica e Financeira Título VIII - Ordem Social Título IX - Disposições Gerais Onde cada um dos títulos é dividido por artigos, incisos, parágrafos e alienas. A Constituição rege o ordenamento jurídico do país, estabelece regras que regulam e pacificam os conflitos de interesse dos grupos que integram uma sociedade. PRINCIPAIS CONQUISTAS DA NOVA CONSTITUIÇÃO: Criação do Sistema Único de Saúde (SUS), universalizando o serviço de saúde no Brasil, política pública inédita na história do país. Reconhecimento da função social da propriedade, descaracterizando a possibilidade de que a propriedade venha a ser considerada um direito absoluto. Garantia de aposentadoria para trabalhadores rurais sem necessariamente precisarem ter contribuído com o INSS. Garantia da demarcação de terras indígenas, em proteção às minorias. Fim da censura às emissoras de rádio e TV, filmes, peças de teatro, jornais e revistas etc. Voto facultativo a partir dos 16 anos até a maioridade. CRÍTICAS RECEBIDAS O próprio presidente da época, José Sarney alegava que a constituição ao ser publicada promoveria indiretamente a ingovernabilidade, principalmente através dos custos advindos dos novos benefícios previstos no texto. Não só os setores conservadores que criticavam o texto consolidado, entendendo que as inovações propostas levariam ao país um perfil “esquerdista”, como também foi alvo dos departamentos mais progressistas da sociedade, que esperavam por uma constituição mais renovadora. Tais considerações foram imediatamente rebatidas pelo Presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), Ulysses Guimarães que afirmou em discurso transmitido em rede nacional que a Carta Magna Brasileira seria a guardiã da governabilidade, pois as conquistas sociais por ela promovidas ajudariam a combater à fome, à miséria, à ignorância e à doenças sem amparo, dando resposta à fala do Presidente José Sarney na seguinte frase: “Esta Constituição, o povo brasileiro me autoriza a proclamá-la, não ficará como bela estátua inacabada, mutilada ou profanada. O povo nos mandou aqui para fazê-la, não para ter medo. Viva a Constituição de 1988! Viva a vida que ela vai defender e semear!” CONCLUSÃO Embora tenha recebido algumas críticas por seu texto minimalista, a Constituição de 1988 é resultado de todos os embates históricos e ideológicos vivenciados na época em que foi escrita. O que remete à lição de Miguel Reale que afirma que a norma o é consequência da correlação evidente entre a realidade dos fatos que ocorrem em uma sociedade e os valores que a sociedade deseja manter. Somos uma sociedade plural, e nossa história nos concedeu as peculiaridades que nos identificam como um povo cheio de características específicas. Ulysses: “Esta Constituição terá cheiro de amanhã, não de mofo.”
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