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avaliacao e transtorno psicomotor

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OS TRANSTORNOS PSICOMOTORES
(sintomas ou perturbações motoras)
Instabilidades Psicomotoras, Inibição Psicomotora, Debilidade Psicomotora
Ajuriaguerra descreve
“a instabilidade psicomotora é a figura psicomotora sobre um fundo desorganizado”.
A figura é então o sintoma psicomotor, o transtorno.
Transtornar= “alterar a ordem, desorganizar, agitar, perturbar, atrapalhar, alterar o viver de, fazer mudar de opinião. (Novo Aurélio séc. XXI)
O transtorno psicomotor é uma inquietação corporal causada por uma emoção que perturba, desorganiza, atrapalha, que altera o viver. O transtorno está à vista, manifesta-se no próprio corpo, ele se dá a ver.
J. Abramson, também francês, diz que a criança instável psicomotora atua em geral em “curto circuito”, de maneira mais intuitiva e confusa, não utilizando os encadeamentos, as oposições, as confrontações, considera a memória imediata desses pacientes boa, mas têm dificuldades de ordenar fatos em sequência de tempo.
Não conseguem inibir sua necessidade de dispersão, sua atenção é lábil, se fixa tanto nos detalhes como no conjunto, sem fazer a análise, a atividade ordenada o fatiga.
Fracassa nos testes de coordenação, precisão e rapidez do movimento, apresentando muita dificuldade em toda ação que requer dele um esforço de inibição ou de organização.
As características dos transtornos psicomotores são perturbações no esquema corporal, no tônus muscular, e na imagem corporal, o que leva à confusões espaciais (de lateralidade), rítmicas, distúrbios na coordenação dos movimentos e no equilíbrio, isto é, no movimento.
Estes problemas no corpo são visíveis a qualquer olhar, e se tornam um foco de preocupação para o outro.
O que se marca é a diferença, a diferença que se percebe em relação a outras crianças.
Esta diferença percebida é marcada pela “mãe” através da superproteção, e do super- controle.
Todo sintoma tem um caráter defensivo, e o sintoma psicomotor também. 
O corpo real, da criança recebe então uma atenção especial, uma proteção especial, uma preocupação especial por parte daquele que o vê. É no corpo e em seus movimentos que se situam os sintomas, este corpo então recebe um “sobre- peso” (Esteban Levin, A clínica psicomotora, 1999)). Aí está a causa, é aí que encontramos o “fundo desorganizado” do qual falou Ajuriaguerra.
Para Ajuriaguerra, o que está “desorganizado“ é a imagem corporal. A não apropriação deste corpo pela criança, a faz refém do Outro. Esta dependência do olhar do Outro (mãe), que o marca e o superprotege, não permite a entrada da lei (do pai). Este impedimento se manifesta então, por uma torpeza, por uma inibição ou por uma instabilidade psicomotora.
Impedir = obstruir, “prender pelos pés”.
A criança com um sintoma psicomotor foi “pega pelo pé”, captura narcísica, seu caminho está obstruído, impedindo-a de conquistar seu espaço separado do Outro.
Características Clínicas Gerais dos Transtornos Psicomotores
Dificuldade em dar continuidade às brincadeiras e às produções corporais;
Dificuldade para inibir movimentos;
Necessidade de estar sempre em movimento;
Atitudes expansivas e explosivas;
Inquietação e agitação;
Incapacidade para relaxar e permanecer quietas;
Descontrole emocional e neuro-vegetativos (sudorese nas mãos, dores de barriga, vontade de urinar., rubor...)
Tiques (involuntário, súbito, rápido e repetitivo). Existe nos tiques um período de “luta”, de controle doloroso, seguido de uma explosão “liberadora” do movimento, que se transforma em fonte de constrangimento.
Paratonias (impossibilidade de relaxar voluntariamente um músculo) 
		Paratonia de fundo: refere-se ao tônus global, e pode ser evidenciada através de mobilizações passivas (ao mexer nos braços da criança, esta deveria deixá-los bem relaxados), o que observa-se é uma resistência permanente ao movimento, ou seja, não existe uma disponibilidade à movimentação passiva.
		Paratonia de ação: surge também a partir de uma movimentação passiva, só que movimentos de uma limitada amplitude, não aparece no início do movimento e sim no seu decorrer, interrupções, um refreamento brusco, definitivo ou transitório.
Sincinesias intensas, difusas e de instalação rápida.
Atividades desordenadas.
Atenção dispersa, ocasionando alterações perceptivas; dificuldade para focalizar a atenção;
Pouca concentração ocasionando pouca eficiência durante trabalhos prolongados.
Nível mental normal.
Alterações das relações interpessoais;
Como já vimos, os Transtornos Psicomotores não podem ser tratados como uma síndrome unicamente motora, não pode deixar de se levar em consideração o desenvolvimento psico-afetivo das crianças e suas relações com o meio ambiente e com os outros.
Excluem-se de tais transtornos as síndromes cuja sintomatologia indica a existência de lesões focais precisas.
Em alguns casos com alto nível de hiperatividade, transtornos do sono e da atenção considera-se uma indicação medicamentosa baseada no uso de anfetaminas e psicotônicos, que deve ser dada pelo neuropediatra ou neurologiasta consultado pela família.
Após vários estudos, é no início do séc. XX, que Dupré (1907) descreve a Síndrome da Debilidade motora, Wallon (1925), Ajuriaguerra e posteriormente Jean Bergès também realizam novas contribuições e classificações.
Instabilidades Psicomotoras, Inibição psicomotora e Debilidade Psicomotora
As instabilidades são , segundo Levin, “uma certa maneira de articular postura e motricidade, a partir do momento em que a criança está sob o olhar do outro, e tentando levar em conta a “imagem” que ela dá a seu próprio olhar”. (Levin,1995)
Segundo Bérgès as Instabilidades Psicomotoras dividem-se em duas grandes categorias, que se opõem em suas características clínicas:
estado tensional
estado de deiscência
Com duas formas de manifestação distintas, presentes em ambos os quadros clínicos:
manifestação motora ( a ação da criança recai sobre os objetos)
manifestação postural (a ação da criança recai sobre o próprio corpo)
Estado Tensional
Para Bergès as características clínicas deste estado seriam as seguintes: 
estado geral de alerta permanente que resulta em hipertonia generalizada, com presença de paratonia e bloqueios respiratórios (alteração de tônus)
agitação, movimentos bruscos e explosivos (alteração do movimento)
Corpo vivido como um conjunto de tensões internas; corpo como envolvido numa armadura tônica, uma barreira que, em sua falência, deixa escapar o movimento (alterações da imagem corporal).
Para explicar a gênese do estado tensional, Bergès se remete ao corpo sob o olhar do outro. Aqui, o olhar do outro antecipa a ação motora da criança (“o olhar da mãe quebra o vaso, antes mesmo da criança ver o vaso” – Cuidado! Você vai quebrar isso!!!) e a criança, assustada, em estado de alerta, age de acordo com a ação descrita verbalmente pelo adulto ( Vai lá e...quebra o vaso!)
Além destes dados clínicos, estas crianças nos mostram seu sofrimento e a construção de seu sintoma também através das manifestações motoras e posturais (alterações no esquema corporal)
Manifestações Motoras: (já sabemos que a ação da criança recai sobre os objetos...)
grafismo rígido, usando muito tônus na produção gráfica, chegando à cãimbras;
a criança não sabe brincar, não sabe construir, tem como hábito motor a falta de destreza que conduz à demolição, à destruição, mesmo que não intencional. No entanto, não age sobre quaisquer objetos, age sobre os objetos que têm sentido para o outro, na busca (sempre frustrada) de desviar o olhar do outro (para o objeto em questão) e...quem sabe...fora deste olhar antecipatório, poder mover-se espontaneamente (porém não consegue pois está aprisionada em sua armadura, em seu sintoma).
Manifestações Posturais: (já sabemos que o sintoma aparece no próprio corpo)
tiques, tosses nervosas, etiologia de algumas gagueiras
bloqueios respiratóriosa criança também tem dificuldade na organização do brincar, do construir, sua busca (também sempre frustrada) é a de desviar o olhar do outro (para o tique, para a tosse, para a fala) e...quem sabe.., enquanto fora deste olhar antecipatório, mover-se espontaneamente, aliviar sua tensão (porém não consegue pois está aprisionada em seu tique, em seu sintoma).
“Não há perseguição mais sinistra que a do próprio corpo: dessa não há saída.”
(L. Rossi, Lecturas de Lacan, 1984)
A instabilidade representa a falência deste sistema. Este estado tensional é um limitador para o corpo, para suas ações e relações com o meio.
Estado de Deiscência
No que diz respeito às manifestações clínicas, segundo Bergès, este estado nos mostra o oposto do Estado Tensional.
Caracteriza-se pela presença de um estado de hipotonia generalizada, a criança apresenta características tônicas elásticas e flexíveis (alterações do tônus), certa apatia, palidez e certa labilidade vascular, fazendo hematomas com facilidade.
 Seus movimentos são rápidos e lábeis dando impressão de incontrole das atividades (grafismo desordenado). A criança esbarra muito nos objetos (alterações no movimento).
Seu corpo é vivido como que sem fronteiras; um corpo sentido como um envoltório sem consistência, feito de falhas. Além desta sensação de incompletude do envelope corporal, há uma sensação de vazio interno que provoca angústia. (alterações da imagem corporal)
Para compreendermos como a criança constrói seu sintoma, vejamos como Bergès se remete ao corpo sob o olhar do outro para explicar a gênese do estado de deiscência:
.Aqui,como no estado tensional, o olhar do outro antecipa a ação motora da criança (“o olhar da mãe quebra o vaso, antes mesmo da criança ver o vaso” – Cuidado! Você vai quebrar isso!!!) e a criança em vez de reagir com motricidade, tem uma baixa tônica e aborta a ação motora (Não vai lá...não quebra o vaso...não faz nada!) De tanto deixar de agir, sua tonicidade, seu esquema corporal e seus movimentos serão ineficazes nas relações que estabelecerem com os objetos e com os outros. 
A instabilidade aqui, representa a busca incessante dos limites, a tentativa de estabelecer uma fronteira entre si mesmo e o mundo. 
Além destes dados clínicos, estas crianças nos mostram seu sofrimento e a construção de seu sintoma também através das manifestações motoras e posturais (alterações no esquema corporal).
Manifestações Motoras: (já sabemos que a ação da criança recai sobre os objetos)
Grafismo lábil, porém preciso (uso de pouco tônus muscular)
A criança vive encostada, colada, esbarrando em algo ou alguém, na tentativa (sempre frustrada) de sentir o limite de seu corpo, pois nestes momentos tem falsa sensação de fechamento do envelope corporal, (fornecido pelo contato momentâneo). No entanto, ao deparar-se sozinha, sem tocar em nada ou encostar em nada, encontra-se tomada pela sensação de vazio interno e de incompletude de seu envelope corporal. Volta, então a colar-se, a esbarrar e etc...num moto perpétuo de luta contra o sintoma.
Manifestações Posturais: (já sabemos que o sintoma aparece no próprio corpo)
Partindo da imagem de um corpo sem fronteiras podemos observar a expressão do sintoma do estado de deiscência. No caso das manifestações posturais, o carro chefe serão as alterações do sistema neurovegetativo (hiper hidrose palmar, sudorese, ruídos epigástricos, enrrubecimento, empalidecimento), e como podemos constatar, todas estas manifestações ultrapassam, sem o controle do sujeito, as fronteiras do corpo e...se dão a ver ao outro. 
Tanto no estado de Deiscência como no Estado de Tensão o problema está relacionado aos LIMITES CORPÓREOS.
Por um lado, encontramos as crianças que apresentam uma envoltura à mais (corpo como fortaleza – estado de tensão), por outro, aquelas que percebem seu corpo como que sem envoltura (corpo sem fronteiras – estado de deiscência), mas sabemos que ambas estão, o tempo todo, buscando informações à cerca de seus próprios corpos apresentando no primeiro caso temor em perder esse corpo e, no outro, temor porquê está perdido.
Essas ações sobre o meio são dadas a ver ao Outro e é a eles que ela incomoda.
A queixa da instabilidade vem do Outro e não da criança.
Na tentativa de construir este corpo e criar seus espaços, elas acabam com ações instáveis, compulsivas e por vezes agressivas que, ao contrário de estarem se fortalecendo como sujeitos proprietários de seus corpos, estão deixando suas marcas através das instabilidades ou das inibições psicomotoras.
A Inibição Psicomotora
A inibição psicomotora apresenta as seguintes características clínicas:
crianças quietas demais, se tensionam com facilidade, demonstram cansaço e fatiga, paralisia, angústia diante das situações (alterações de tônus – enquanto postura, atitude)
um corpo limitado que não se presta à exploração do mundo nem à exploração das relações com o Outro com movimentos comprometidos, em bloco, bloqueados, inibidos (alterações do movimento)
expressividade e gestualidade prejudicadas;
o corpo é vivido como se fosse um “objeto bom”, objeto do desejo do outro, assujeitado a este outro (alterações da imagem corporal)
Estas crianças são aqueles anjos que a mãe se refere como o “bonzinho”, o que faz tudo certo e não perturba nunca, mas esta criança não só não perturba como também não deseja, não luta pelo que quer, não tem iniciativa, não se defende (alterações do esquema corporal), ocupam o lugar de objeto, porque são extremamente passivas, e por medo e insegurança se tornam crianças angustiadas, com medo de se expor, de perder o lugar de “objeto bom” e de não ter mais lugar nenhum. Para o professor, são as que, quando faltam a aula, ninguém percebe...
O olhar do Outro, que nas crianças instáveis aparece controlando e cercando suas ações, aqui não está mais presente, pois estas crianças “não precisam ser vistas”. Esse olhar esteve presente um dia mas, não o suficiente para a aceitação desta criança fora deste lugar de objeto.
Elas perpetuam este comportamento pois é assim que são vistas, e é para não mexer com esta dinâmica estabelecida, que elas “se dão a ver para não serem vistas”. 
Segundo Esteban Levin (1995) “ As crianças com inibição dissimulam que dissimulam”, isto é, fazem de conta que não querem ser vistas mas colocam-se de tal forma que se fazem notar. Afinal, o que mais querem é serem vistas com um outro olhar!!!
As Avaliações Psicomotoras não conseguem informar o que está por trás do sintoma psicomotor. Elas nos mostram como está o sintoma, como ele se apresenta para o mundo, para o Outro.
A proposta da Clínica Psicomotora é a de, compreendendo e analisando o sofrimento que se esconde por trás do sintoma, proporcionar o desenlace corporal, desfazendo os nós que bloqueiam a apropriação deste corpo e consequentemente o desabrochar deste sujeito.
Debilidade Psicomotora
Descrita por Dupré em 1907, como um processo de interrupção do desenvolvimento das funções motoras e mais precisamente do sistema piramidal. Caracterizado por alterações no movimento intencional, chegando muitas vezes à impossibilidade de realizar voluntariamente a resolução muscular necessária.
 “Estado de insuficiência, de imperfeição das funções motoras
consideradas em função de sua adaptação aos atos ordinários da vida.”
(AJURIAGUERRA,p.232)
É descrita como um estado patológico do movimento, com caraterísticas mais a nível neuro-motor do que psico-afetivo, que apresenta alterações e exaltação de alguns reflexos, sincinesias e paratonias.
BIBLIOGRAFIA
	 LEVIN, E. - A Clínica Psicomotora, Vozes, Petrópolis, 1999
	AJURIAGUERRA,J.- Manual de Psiquiatria Infantil, Masson, S.P., 1986
AVALIAÇÃO PSICOMOTORA 
A avaliação em psicomotricidade é um momento importante para o processo terapêutico, porém acreditamos que mesmo a avaliação mais completa e abrangente que pudermos realizar, não será suficientepara conhecermos o que está por trás do sintoma psicomotor. Então, como avaliar, que instrumentos utilizar, quais situações iniciais com a criança nos serão necessárias para a conhecer melhor?
A anamnese, realizada, anteriormente com os pais da criança, nos trás dados sobre todo seu desenvolvimento, suas atividades atuais, suas relações, sua forma de enfrentar as dificuldades, etc. Mas sabemos, como nos diz Esteban, que o sintoma é o que a criança nos dá a ver, que ele se desenvolve com, para e pelo Outro, por isso a queixa do sintoma psicomotor como afirma Bergès, não vem da própria criança e sim do Outro, e isto também deve ser considerado durante a anamnese.
A avaliação sistemática, mensurada por idade ou por atividades quantitativas acaba nos fornecendo informações a cerca desta envoltura, que é o corpo da criança, suas dispraxias, suas sincinesias e paratonias, seu equilíbrio, sua lateraliade e seu esquema corporal... mas nenhuma avaliação psicomotora é capaz de nos informar a respeito da “estrutura que subjaz ao transtorno psicomotor.” (Levin, 1999). Assim, reconhecemos que através da “atividade espontânea” podemos não só observar tais dados, como também podemos observar o lugar que esse corpo, que esse sujeito com seu corpo em movimento, ocupa nas suas relações e atitudes perante e com o Outro e o meio externo, dos objetos. Num momento espontâneo, de atividade livre, sem tensão, a criança pode movimentar-se de forma desejante, nos mostrando qual a posição assume diante das situações e diante do Outro, e que lugar esse sintoma psicomotor ocupa , “não mais para a família, e sim para a criança que sofre no seu corpo e que nos dá a ver a nós.”(Levin, p.166)
Para a psicomotricidade o corpo da criança é um corpo em relação, relação esta que abrange não só a relação com o outro, com o mundo dos objetos, mas também e, acima de tudo uma relação consigo mesmo.
Para Françoise Desobeau durante essas relações se processam três esferas do SER:
. a esfera física: que compreende os aspectos psicossomáticos e sensório- motores;
. a esfera afetiva: que abrange seus sentimentos e emoções;
. e a esfera mental: que compreende o intelectual e o imaginário.
Desta forma, Desobeau defende a idéia de que a avaliação psicomotora deve abranger todas essas particularidades do Ser. Para isso ela propõe que se observe a criança em três situações distintas: sozinha, com o outro e dirigida pelo outro. 
Através dessas situações espera-se observar toda a riqueza, intensidade e qualidade das relações que a criança estabelece com o Outro, consigo mesma e com o objeto.
O terapeuta deve estar atento ao comportamento da criança, a qualidade de seus gestos, das relações que estabelece, seu tônus de ação e de relação, a forma como se organiza no tempo e no espaço, sua lateralidade, como trabalha com seu corpo, como utiliza ele nas suas atividades, ou seja, estar atento a seu esquema e imagem corporal.
O material deve estar disponível para a criança desde o 1º momento. E pode ser classificado em 4 tipos:
. o material dinâmico: que possibilitam atividades motoras amplas como: cordas, bolas, bastões, arcos e bamboles, tábuas de equilíbrio, etc.
. os materiais de construção que possibilitem a coordenação motora fina, óculo- motora como: cubos, jogos de quebra- cabeça, lápis, papel, tinta, massinha, etc.
os materiais afetivos: através dos quais podemos observar a criança em relação, como bonecos, bichos, colchão e almofadas...
. os materiais de elementos: como água, fogo, terra, tecido, etc.
O espaço da sala deve ser amplo, possibilitando a livre circulação da criança pelo ambiente.
O 1º momento é nomeado de ATIVIDADE ESPONTÂNEA, quando a criança pode fazer o que quiser, usar o material exposto que preferir, durante algum tempo combinado 10 minutos, por exemplo. O terapeuta fica como um mero observador, registrando tudo. Não só a sua forma de brincar como, o material que escolhe, como se situa em relação a ele, terapeuta, se verbaliza ou não, como aproveita seu tempo e espaço. Após o tempo combinado o terapeuta deve perguntar o que foi que ela fez, do que mais gostou na sala, observando a coerência e o nível de linguagem. Observa-se também como a criança reage ao limite dado pelo terapeuta.
O 2º momento é nomeado de ATIVIDADE COMPARTILHADA, nesta hora o terapeuta entra no jogo para contracenar com a criança que pode escolher um jogo ou material disponível. O terapeuta deve estar muito atento para a relação que se estabelece, para a forma como a criança reage a presença do Outro. Se existe regras na brincadeira, se ela respeita essas regras, se domina a atividade, se tem dificuldade no contato, etc.
O 3º e ultimo momento é a ATIVIDADE DIRIGIDA, onde o terapeuta realizará as avaliações necessárias para aquele caso, através, não só das observações realizadas até então durante a sessão como também baseado na anamnese feita anteriormente.
O terapeuta então avalia, reflete sobre o comportamento da criança nas três situações mencionadas. A conclusão desta reflexão será fundamental para direcionar a postura do terapeuta em relação à criança neste início de terapia, buscando deixá-la o mais segura e à vontade possível.
A avaliação e o trabalho em equipe, com outros profissionais, são fundamentais, se complementam não só na prática clínica como também nos ajudam a conhecer o paciente, seus sinais e sintomas sob vários aspectos, ampliando nossos conhecimentos e consequentemente nossa capacidade de auxiliar o paciente e sua família.
A primeira meta de uma terapia psicomotora é como nos diz Bergès 1992, dar ao corpo a possibilidade de eleger uma posição, uma presença, onde o importante não é a ação motora, é o ato, através do qual podemos reconhecer um sujeito que deseja e que sofre com seu corpo em movimento. 
O terapeuta poderá através da terapia psicomotora promover, auxiliar, possibilitando a criança recriar sua própria unidade, o que vai gerar maior equilíbrio e harmonia no seu mundo de relações. A terapia psicomotora deve possibilitar à criança um momento de livre agir, de livre sentir onde ela possa externar suas emoções , seus sentimentos sem censura externa, que possibilite sempre uma maior compreensão e elaboração das experiências vividas.
O terapeuta deve estar receptivo, seu corpo é não só calmante como também instigador e decodificador, é continente seguro para as relações da criança, que pode se utilizar dos objetos como mediador dessa relação com o corpo.
O terapeuta deve estar sempre atento, não apenas para o sintoma, para o desequilíbrio da função corporal que tem como conseqüência uma desarmonia no ato motor, pois o sintoma é sustentado para uma vivência afetiva e fantasmática, conhecida como o “simbólico do transtorno”.

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