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Em suma, podemos distinguir duas grandes séries de dificuldades psicomotoras: As que afetam a expressão motora, em que é possível observar os comportamentos mal ajustados às tarefas propostas ou condutas motoras pouco eficientes; As que dizem respeito à comunicação motora, que perturbam a relação interindividual, seja pelo excesso e crescimento de comportamentos que demonstram a agitação interior da criança, seja pela ausência de comunicação devida ao retraimento e à inibição do sujeito. O exame motor é composto por diversas provas, em sua globalidade que permitem a avaliação da tonicidade e do estilo motor da criança: Algumas crianças apresentam inaptidão nos testes, apresentando um certo tipo de relação com os objetos, gestos muito bruscos ou muito lentos, condutas motoras mal organizadas, uma continuação desordenada de movimentos. Enfim, uma atitude desajeitada, mas que não pode ser reduzida a um simples quadro motor, pois engloba dimensões afetivas e relacionais. A dispraxia trata-se de um quadro psicológico e neurológico complexo, apresenta perturbações da orientação e da organização espacial e problemas do esquema corporal. O déficit motor e a inaptidão são evidentes, enquanto déficits da organização espacial são discretos, mas aparecem nas provas perceptivo-motoras dos testes de eficiência intelectual realizados pela criança. O Transtorno Psicomotor O transtorno psicomotor – sintoma ou perturbação – manifesta-se no corpo sendo um obstáculo na construção corporal do sujeito, são problemas de equilíbrio, de descoordenação, de obscenidade, de preensão etc. Essas características dificultam os processos de simbolização impedindo a constituição desse corpo subjetivado e o desenvolvimento psicomotor no seu conjunto. As alterações da motricidade possuem traços visíveis, especialmente, para os pais ou aqueles que exercem essa função primordial e torna-se uma preocupação para estes e para a própria criança. Surge como uma diferença T Ô N U S D E F U N D O É avaliado pela extensibilidade e oscilação dos membros superiores; e pela possibilidade de relaxamento e desaparecimento das paratonias do segmento do membro. T Ô N U S D E A Ç Ã O É avaliado pela existência ou persistência de sincinesias. Além destas, deve-se observar a coordenação, a maleabilidade, o ritmo e a rapidez dos movimentos, pois informam o nível do desenvolvimento motor do indivíduo. Dificuldades Psicomotoras Laura P. da Encarnação em relação às outras crianças, esse sujeito não se inclui nas brincadeiras corporais, porque não sabe brincar, e/ou é sempre o último a ser escolhido num jogo de equipes. Tal quadro gera uma dependência da criança ao adulto. O sintoma psicomotor, como todo sintoma, possui um caráter defensivo, a criança age dessa maneira para defender-se do peso do real. Em psicanálise, o sintoma inclui sempre o sujeito e o Outro, uma situação em que o indivíduo sempre busca entender o que este Outro deseja de si, estabelecendo todo o mal-estar somático. Quando a imagem corporal não recebe um corte simbólico, um corte exercido pela função de um terceiro (a posição paterna), a criança fica presa ao Outro (encarnado na mãe). O sintoma é o meio pelo qual a criança irá estabelecer um corte, sendo a fachada da separação. Ao demonstrar inibição ou a instabilidade psicomotora, que não permitem que a criança se aproprie de seu corpo, esta continua “...unida pelo olhar, enquanto corpo e movimento dado a ver numa relação de gozo, de não separação com o Outro” (LEVIN, 1995, p. 156). Instabilidade Psicomotora A instabilidade psicomotora pode ser visualizada quando a criança apresenta descontinuidade nas brincadeiras em toda a sua produção corporal; dificuldade em inibir seus movimentos; grande desdobramento corporal, expansivo, explosivo e agressivo, grande necessidade de mover-se; atitudes mudam constantemente dando uma imagem de inquietação. Estas crianças tentam criar seu espaço e construir um corpo, mas o fazem de forma instável, marcada por tentativas agressivas que acabam por manter uma situação sem cortes, sem diferenciação simbólica, cuja saída encontrada é a instabilidade. A turbulência de seus movimentos e de seu corpo continuam sob o olhar do Outro, a criança ocupa um lugar de objeto com o qual se goza. Inibição Psicomotora A inibição psicomotora apresenta um bloqueio geral em todo o modo de agir da criança, seu corpo e movimentos são inibidos e limitados pela relação ao Outro, de tal forma que não é capaz de utilizar seu próprio corpo para explorar o mundo nem se relacionar com os outros. A inibição é produzida devido à ausência de corte simbólico e, ainda assim, mantêm esta não separação. Sua estratégia para não se separar do Outro é ocupar um lugar passivo, de objeto. É o “filho bonzinho" que "nunca dá problema". A criança carrega sempre os olhos do Outro, que a cuidam e prolongam sua dependência, sempre “O corpo da criança não funciona bem, causa alarme, preocupação, e é no corpo e em seus movimentos onde se situa o olhar do Outro [...] O sintoma psicomotor, então, situa-se de tal maneira que está à vista do Outro, e ali o Outro goza olhando e manipulando este corpo [...] O sintoma psicomotor cronifica-se neste se dar a ver para o gozo do Outro e o corpo real torna-se duplamente presente. Presença que obstaculiza o seu desenvolvimento psicomotor”. (LEVIN, 1995, p. 155-156). querendo demonstrar que ali tudo corre bem, colocando-se numa posição para que não a olhem, mas porque, dessa forma, a olham. Retomando, o sintoma psicomotor está relacionado a posição que o corpo da criança ocupa. A avaliação psicomotora não irá mudar a posição que este corpo situa, na verdade, trata-se de uma “invasão” que especifica o seu não-lugar, sua carência, seu déficit instrumental. Desta forma, o diagnóstico psicomotor precisa investigar a posição do corpo do sujeito: como este se situa diante do examinador, diante dos outros, ou diante da sua família. O diagnóstico psicomotor é em transferência, pois é a criança quem nos situa em um lugar à partir do seu desejo, e nós, terapeutas, olhamos, agimos, falamos desde esse lugar no qual não podemos escolher para estar ou não estar. R E F E R Ê N C IA • LEVIN, Esteban. A estrutura do sintoma psicomotor: a metáfora no movimento do corpo. In: A clínica psicomotora: o corpo na linguagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
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