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Petição inicial

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Petição Inicial e a 
Propositura da 
Demanda: técnicas de 
formulação e 
estratégias 
processuais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pós-Graduação “lato sensu” 
Prof. Ival Heckert Júnior 
 
 
Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas 
de formulação e estratégias processuais 
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Unidade II 
 
Procedimento Comum – Petição Inicial 
Aula 5 
 
I) Causa de Pedir: fatos e fundamentos – art. 319, III, CPC 
– questões teóricas 
 
A petição inicial é, nada mais, nada menos, que a demonstração em juízo, de 
forma clara, precisa, ordenada e lógica, dos fatos ensejadores do direito pretendido 
pela parte. É a correta narrativa, de forma organizada, dos fatos jurídicos que 
causaram uma repercussão negativa no patrimônio de direitos de alguém, 
permitindo a essa pessoa, lesada que foi na sua esfera de direitos, exigir do Estado 
(da função jurisdicional do Estado), em razão do caráter substitutivo, a análise e 
julgamento de sua pretensão. 
Da obra essencial para entender a causa de pedir, da lavra do prof. José 
Rogério Cruz e Tucci, podemos extrair o seguinte entendimento: 
 “É possível, assim, afirmar-se, com Gionnozzi, que os fatos entram, da vida, no 
processo. Tal ingresso deve ser alvitrado por uma única vertente: a exigência do 
respectivo acertamento, que é instrumentalizado pelo processo. Assim, por exemplo, o 
contrato celebrado entre Tício e Caio corresponde a um evento, um fato, tangível 
mesmo fora do campo do direito, mas constitui, igualmente, um fato jurídico [...]. 
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Observa-se, nessa linha de raciocínio, que o ato ou os fatos são essenciais para 
configurar o objeto do processo, e que constituem a causa de pedir, são exclusivamente 
aqueles que tem o condão de delimitar a pretensão.”1 
O Código de Processo Civil determina a necessidade de demonstrar, na 
petição inicial, tanto os fatos quanto os fundamentos jurídicos; ou seja, tanto os fatos 
que ensejaram a pretensão levada a juízo, quanto a repercussão negativa na esfera de 
direitos advindos desses fatos. 
 “[...] acrescenta Fazzalari que a exposição da causa de pedir é indispensável para o 
desenvolvimento do processo de conhecimento: ´tal alegação representa, na verdade, o 
parâmetro para a determinação da jurisdição, da competência, da legitimação para 
agir:Desse modo, a argumentação alusiva à causa petendi consiste no meio pelo qual o 
demandante introduz o seu direito subjetivo (substancial) no processo: ´se é verdade 
que o autor deduz fatos amoldando-os no esquema de uma norma, gerando 
determinadas consequências jurídicas, não se pode haver dúvida de que são deduzidos 
fatos constitutivos da situação jurídica (substancial) preexistente e, antes de mais 
nada, a hipótese concreta da qual deriva a posição de preeminência em relação ao bem; 
vale dizer, o direito subjetivo (substancial).”2 
Mas, ao levar o direito substancial à petição inicial, não se evidencia a 
necessidade de mencionar dispositivos legais tidos como violados. A parte autora 
deve evidenciar os fatos, bem como a lesão materialmente sofrida, devendo o 
magistrado verificar se, da narrativa, alguma subsunção à legislação substancial 
poderá ocorrer. 
O autor deverá, na petição inicial, firmar narrativa sobre a causa de pedir 
próxima e a causa de pedir remota. Ou seja, por determinação legal e, claro, por 
posicionamento doutrinário, adota o Brasil a TEORIA DA SUBSTANCIAÇÃO. 
 
1 TUCCI, José Rogério Cruz e. A Causa Petendi no Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2001. p. 24-25. 
2 TUCCI, José Rogério Cruz e. A Causa Petendi no Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2001. p. 126-127. 
 
 
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Historicamente, no tocante à causa de pedir como elemento da demanda, duas 
teorias se digladiam: teoria da individualização e teoria da substanciação. Para a 
teoria da individualização, os fatos constitutivos do direito não mereceriam maior 
atenção, bastando “ao autor apontar genericamente o título com que age em juízo, como por 
exemplo, o de proprietário, o de locatário, o de credor, etc.”3 Já, para a teoria da 
substanciação, entretanto, necessária a “correta apresentação da causa de pedir à exposição 
dos fatos constitutivos do direito afirmado pelo autor. A causa de pedir seria o conjunto de 
fatos em que o autor baseia a sua ação.”4 Ou, sem outras palavras: “Não basta, por isso, 
dizer-se proprietário ou credor, pois será imprescindível descrever todos os fatos de onde 
adveio a propriedade ou o crédito.”5 
Assim, adotada pelo sistema brasileiro a teoria da substanciação, podemos 
dividir a causa de pedir em causa próxima e em causa remota. Entretanto, é de se 
salientar que, até o presente momento, apesar de todas as discussões sobre o tema, 
academicamente não há consenso sobre o que seria a causa próxima e a causa 
remota. Para uns, o fato é causa próxima e os fundamentos, causa remota; para 
outros o fato seria a causa remota e, portanto, os fundamentos a causa próxima. Não 
havendo uniformidade de opiniões entre os maiores expoentes do direito, não é nesta 
aula (até pelo seu objetivo) que se dirimirá a questão, sendo que, a seguir, limitamo-
nos a expor a divergência, digo novamente, de realçado interesse acadêmico e menos 
da prática do direito. 
De um lado, por exemplo, temos os defensores do fato como causa de pedir 
próxima, aqui representados pela pensamento do prof. Alexandre Freitas Câmara: 
 “Os fatos a que se refere a norma são os que compõem a causa de pedir próxima, ou 
seja, os fatos que – segundo descrição do demandante – lesaram ou ameaçam o direito 
de que o mesmo afirma ser titular. Já os fundamentos jurídicos são, em verdade, a 
 
3 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. I, 39. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2003. p. 320. 
4 VIANA, Juvêncio Vasconcelos. A Causa de Pedir no Processo de Execução. In: TUCCI, José Rogério 
Cruz e, BEDAQUE, José Roberto dos Santos (Coords.). Causa de Pedir e Pedido no Processo Civil: 
questões polêmicas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 95. 
5 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. I, 39. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2003. p. 320. 
 
 
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causa de pedir remota, ou seja o título (o fato constitutivo) do direito afirmado pelo 
autor. É absolutamente desnecessária a indicação dos dispositivos legais onde o autor 
foi buscar os fundamentos para embasar sua demanda, já que iura novit cúria (o juiz 
conhece o direito).”6 
De outro lado, estão aqueles que defendem ser o fato a causa de pedir remota, 
como o prof. Vicente Greco Filho: 
 “O Código, ao exigir a descrição do fato e o fundamento jurídico do pedido, filiou-se à 
chamada teoria da substanciação quanto à causa de pedir. A decisão judicial julgará 
procedente, ou não, o pedido, em face de uma situação descrita e com descrita. 
[...] 
O fato é chamado de causa de pedir remota e o fundamento jurídico é a causa de pedir 
próxima.”7Ressalte-se, dessa discussão, a concordância quanto à teoria adotada, devendo 
a parte/autor expor tanto os fatos quanto os fundamentos jurídicos do pedido, 
inclusive, sob pena de inépcia da petição inicial. 
 
II) Causa de Pedir: fatos e fundamentos – art. 319, III, CPC 
– questões práticas 
 
Nitidamente percebemos, pela situação doutrinária e pela teoria acima 
abordadas, que a composição da causa de pedir não apenas é essencial para a 
 
6 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. v. I, 9. ed. Rio de Janeiro: Lúmen 
Júris, 2004. p. 319. 
7 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 2, 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 
98. 
 
 
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delimitação da lide e para o devido alcance da própria atividade jurisdicional do 
Estado, como também pressupõe, na prática, uma correta precisão na petição inicial. 
Assim, apresento uma forma prática de delimitação e divisão da causa de 
pedir em seus elementos: 
 
- FATOS 
Toda narrativa fática pressupõe o desenvolvimento estrutural e temporal da 
relação jurídico-material. Ou seja: o autor deve expor na petição inicial o início da 
relação jurídico-material até a ocorrência da lide, de forma clara e organizada. 
Por exemplo: imaginemos uma convencional situação de acidente de veículos. 
Deve o autor narrar os fatos imediatamente anteriores ao acidente, o acidente 
como teria ocorrido e que a outra parte não assumiu a culpa; assim, estamos 
apresentando os fatos constitutivos do direito, com a narrativa da lide. 
 
- FUNDAMENTOS 
Expostos os fatos, compete agora à parte autora narrar as consequências 
jurídicas negativas na sua esfera de direito, apresentando os fundamentos pelos 
quais deve ter seu pedido acolhido. 
Continuando no exemplo citado: 
Narrada nos fatos a ocorrência do ilícito e da pretensão resistida (lide), 
compete agora ao autor, nos fundamentos, demonstrar o dano sofrido e sua extensão, 
inclusive, ser for o caso (sou favorável a tal situação), expondo os fundamentos legais 
que ampararão o seu pedido. 
 
 
 
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III) Do pedido: art. 319, IV, CPC 
O próximo requisito exigido por lei, decorrente do próprio aspecto lógico da 
petição inicial é, justamente, o pedido, pelo qual o autor, após expor os motivos que o 
levam ao poder judiciário, deduz sua pretensão, tendo como objetivo atingir, por 
meio de uma prestação jurisdicional do Estado, a realização ou alteração de alguma 
coisa em sua esfera de direitos materiais (bem como na do réu). 
Da tentativa de conceito supra se extraem as duas faces (ou elementos, ou 
objetos) do pedido. Num primeiro momento, o autor busca uma prestação 
jurisdicional, um ato decisório do juiz com conteúdo específico (condenar, declarar, 
constituir); num segundo e sequenciado momento, exterioriza o autor que a sentença 
buscada tem como objeto tutelar, de forma específica, o bem jurídico que considera 
estar sendo violado. Assim, temos a definição do chamado pedido imediato e do pedido 
mediato. 
 “O pedido é formulado com duas extensões ou dois alcances: em caráter imediato o 
autor pede uma determinada providência jurisdicional (condenação, declaração, 
constituição ou extinção de relação jurídica) e em caráter mediato uma providência que 
traduz um bem jurídico material (o pagamento, a desocupação do imóvel, nulidade do 
contrato, etc). Ambos os aspectos podem ficar contidos na mesma expressão verbal que 
os formula, mas distinguem-se na essência porque o primeiro (o imediato) tem 
conteúdo processual e o segundo (mediato), de direito material.”8 
 
Façamos agora uma verificação sistêmica dos artigos do CPC que falam sobre 
o PEDIDO: 
 
8 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 2, 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 
99. 
 
 
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Art. 322. O pedido deve ser certo. 
§ 1o Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as 
verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. 
§ 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e 
observará o princípio da boa-fé. 
A lei antiga dizia que o pedido deveria ser certo e determinado. O CPC/15 
manteve o preceito de o pedido ser certo e determinado, mas separou os artigos. 
No § 1º trouxe os pedidos implícitos ou indiretos. Se na petição inicial não 
solicitar os juros, por exemplo, o juiz os lançará na sentença, bem como a correção 
monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários de advogado. Os 
pedidos implícitos já existiam no CPC/73, mas falava-se apenas em juros legais. 
Pedidos indiretos: 
 Juros legais; 
 Correção monetária; 
 Verbas decorrentes da perda do processo / sucumbência: 
 Despesas e, entre elas, as custas; 
 Honorários de advogado. 
O § 2º não quer dizer que o juiz julgará mesmo se não houver pedido, pois o 
pedido existe, até porque não se pode esconder pedido na causa de pedir e não fazê-
lo no local próprio. Mas talvez um pedido realizado gere consequências outras que 
não estão simplesmente postas. 
Veja a seguir as Referências Doutrinárias: 
 
 
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“Em boa hora, o legislador mudou a diretriz para a interpretação do pedido. 
Abandonou a ideia de interpretação restritiva do pedido, presente no art. 293 do 
CPC/1973. Agora prevalece a ideia de que o pedido seja interpretado de forma a lhe 
conferir efetividade, considerando a petição inicial no seu todo, mas sem a criação de 
surpresas ou armadilhas e com respeito ao contraditório e à ampla defesa (art. 5o, LV, 
da CF), isto é, sem elastérios indevidos e prejudiciais ao exercício do direito de defesa.”9 
 
“Deve ser interpretado de modo a que lhe seja conferida efetividade. Então, por 
exemplo, numa ação em que o autor pede a rescisão contratual, deve-se entender, como 
incluído no pedido, o retorno ao status quo ante.”10 
 
Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em 
prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no pedido, 
independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na 
condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, 
deixar de pagá-las ou de consigná-las. 
Está, basicamente, repetindo o art. 290, CPC/73. 
Art. 324. O pedido deve ser determinado. 
§ 1o É lícito, porém, formular pedido genérico: 
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados; 
II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato 
ou do fato; 
 
9 BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al (Orgs.). Breves 
Comentários do Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 824. 
10
 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al (Orgs.). Breves Comentários do Novo Código de Processo 
Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 550. 
 
 
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III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de 
ato que deva ser praticado pelo réu. 
§ 2o O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção. 
Permite a lei processual que se faça o pedido genérico. 
Pedido genérico  Pedido ilíquido. 
Ex.: Pretensão na condenação em R$10.000,00.  Tem liquidez. 
Pretensão no pagamento de indenização, mas ainda não se sabe o valor.  
Pedido genérico e ilíquido. 
Pedido líquido  Obrigação em que se define quantidade e qualidade. 
Pedido ilíquido  Não se especifica a quantidade. Não carrega toda a 
dimensão da obrigação. 
Art. 324, §1º, CPC  Permite que se faça pedido genérico (pedido ilíquido). 
 
 Ação universal: 
Ex.: Inventário, em que ainda não se tenha toda a definição da extensão 
patrimonial do falecido. 
Nesse caso, a ação versa sobre a universalidade de bens do falecido. 
 
 Quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do 
fato: 
Ex.: Acidente de veículo, em que o acidentado ainda está tendo gastos em sua 
recuperação. Ainda não se sabe quanto será toda a extensão dos valores que 
será gasto para a plena recuperação física. 
 
 
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Não há necessidade de se esperar mais tempo para a ação. Já é possível 
acionar o poder judiciário e na sentença ou depois, se for o caso, o juiz fixará o 
valor. 
 
 Quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato 
que deva ser praticado pelo réu: 
Ex.: Ocorrência de hora extra em que não há o devido pagamento de seus 
valores. O autor busca, em juízo, seu pagamento. 
Contudo, na petição inicial não é possível que se precise exatamente quais são 
essas horas extras, porque o controle de ponto, em regra, permanece com a 
empresa. 
Portanto, será necessário, para conclusão dos valores, de ato a ser praticado 
pelo réu, qual seja, trazer aos autos do processo as folhas de ponto. Caso não o 
faça, isso gerará uma presunção para as afirmações do autor. 
 
Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o 
devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. 
Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao 
devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de 
outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo. 
 
Chama-se de alternativo aquele pedido que, “[...] pela natureza da obrigação, o 
devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo”, conforme CPC, art. 288. 
Não estamos diante de uma cumulação de pedidos, na verdade o autor tem 
apenas uma pretensão que, entretanto, poderá ser adimplida pelo devedor de mais 
 
 
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de um modo, de mais de uma forma. Como bem explicado pelo Prof. Humberto 
Theodoro Júnior: 
 “Pedido alternativo é, pois, o que reclama prestações disjuntivas: „ou uma prestação 
ou outra‟. Alternatividade refere-se, assim, ao pedido mediato, ou seja, ao bem jurídico 
que o autor pretende extrair da prestação jurisdicional. 
Exemplo de pedido alternativo encontramos na ação de depósito, em que se pede a 
restituição do bem depositado ou o bem equivalente em dinheiro (art. 904). E também 
na hipótese do art. 1.136 do Código Civil de 1916, CC de 2002, art. 500, em que se 
pode pedir complementação da área do imóvel ou abatimento do preço.”11 
 
Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de 
que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. 
Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para 
que o juiz acolha um deles. 
Em comparação ao CPC/73, temos o art. 289, que dispunha que era lícito 
formular mais de um pedido em ordem sucessiva. Mudamos de ordem sucessiva 
para ordem subsidiária, pois o art. 289 nunca tratou de pedido sucessivo, mas sim de 
pedido subsidiário. 
Pedido sucessivo é aquele pedido cumulado em que se pede A e, sendo este 
julgado procedente, conceda B. Ex.: Declare a paternidade e condene em alimentos se 
declarada a paternidade. Já o pedido subsidiário é aquele em que se pede que seja 
declarado nulo o contrato, entretanto, se não tiver elementos para tanto, que declare 
nula a cláusula contratual. 
Ainda no parágrafo único a lei permite que se possa solicitar ao juiz pedidos 
alternativos, deixando a cargo dele decidir qual julgará procedente. 
 
11 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. I, 39. ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2003. p. 328. 
 
 
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Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de 
vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. 
§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que: 
I - os pedidos sejam compatíveis entre si; 
II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; 
III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. 
§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, 
será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem 
prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos 
procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, 
que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento 
comum. 
§ 3o O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata 
o art. 326. 
 
Um processo pode corresponder a um pedido, logo, nesse caso, tem-se o 
pedido simples. 
Mas a lei permite a cumulação de pedidos, que ocorre quando se tem um 
processo e mais de um pedido. Portanto, pedidos cumulados pressupõem que em 
um processo tenha mais de um pedido. 
Art. 327, caput, CPC  Situação de permissivo de cumulação. 
Lícita cumulação, único processo, contra o mesmo réu. 
Se for contra o mesmo réu pode ser derivada de causa de pedir distinta. 
 
 
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Requisitos: 
Art. 327, §1º, CPC: 
 Requisito da compatibilidade. 
 Situação de competência. O juiz deve ser competente para conhecer todos 
os pedidos cumulados. 
 Pedidos que vistos isoladamente seriam de procedimentos distintos, em 
regra, não poderiam ser cumulados. 
 
Art. 327, §2º, CPC: 
Se houver pedidos de ritos diferentes, em regra, não seria possível cumular. 
Contudo, de acordo com o §2º, é permitido que se renuncie ao procedimento especial 
e faça os pedidos pelo procedimento comum (procedimento básico). 
Art. 327, §3º, CPC: 
O inciso I do §1º não se aplica às cumulações do art. 326, CPC. 
Classificação: 
Existem quatro formas de classificar pedidos cumulados. 
 Simples; 
 Sucessiva; 
 Subsidiária; e 
 Alternativa. 
 
 
 
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a) Simples: 
Serão feitos um primeiro e um segundo pedido, mas não importa a ordem em 
que são feitos. 
Ex.: Cometimento de ato ilícito, o qual ocasionou dano material e moral. Logo, 
se pede a condenação ao pagamento de dano moral e material ou, ainda, de dano 
material e moral. 
 
b) Sucessiva:Procedência do primeiro pedido. Julgado procedente o primeiro pedido, pede-
se a procedência do segundo. 
Nesse caso, por situação lógica, há uma ordem de pedidos a ser seguida. Só 
será julgado o segundo pedido caso o primeiro seja julgado procedente. 
Ex.: Pedido de investigação de paternidade e, no mesmo processo, pedido de 
alimentos. 
Julgada procedente e reconhecida a paternidade, há a possibilidade de 
julgamento dos alimentos. 
Caso declare que não há paternidade, o juiz não enfrentará o segundo pedido. 
 
c) Subsidiária: 
Procura-se a procedência de um pedido específico. 
Contudo, caso o juiz julgue improcedente, pede-se, no mesmo processo, um 
segundo pedido. Pedido esse que é subsidiário. 
Ex.: Declaração de nulidade do contrato inteiro, como pedido principal. 
 
 
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Pedido de declaração de nulidade de uma cláusula abusiva de juros desse 
contrato, como pedido subsidiário. 
Art. 326, CPC  Pedido subsidiário. 
 
Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o 
juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. 
Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o 
juiz acolha um deles. 
 
d) Alternativa: 
Pressupõe que se tenha uma pretensão, mas que possa ser dada de uma ou de 
outra forma. 
Ex.: Relação de consumo. 
Comprado um aparelho de celular, esse está com problemas. Pode ser 
solicitado um novo aparelho ou a devolução do dinheiro. 
 
Art. 325, CPC  Pedido alternativo. 
Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor 
puder cumprir a prestação de mais de um modo. 
Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz 
lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o 
autor não tenha formulado pedido alternativo. 
 
 
 
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 Cumulação própria: 
Cumulação simples ou sucessiva, em que se pretende a procedência de todos 
os pedidos. Porém, pode existir apenas uma ordem lógica de colocação dos pedidos. 
 
 Cumulação imprópria: 
Cumulação subsidiária ou alternativa, em que se pretende a procedência de 
um pedido ou de outro, mas não de todos. 
Art. 328. Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que 
não participou do processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na 
proporção de seu crédito. 
Não há nenhuma novidade, sendo idêntico ao art. 291 do CPC/73 . 
Deve-se combinar com o art. 258, CC/02. 
Ex.: Dois indivíduos compraram um imóvel, porém não foi entregue. Apenas 
um entra com o processo e a entrega da coisa será feita a esse, pois a obrigação é 
indivisível (não há como dividir o imóvel). 
Nessa obrigação indivisível em que há pluralidade de credores, embora o 
segundo não tenha participado, ainda assim receberá sua parte. 
Contudo, considerando que somente o primeiro incorreu em despesas, haverá 
compensação entre eles. 
 
Art. 329. O autor poderá: 
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, 
independentemente de consentimento do réu; 
 
 
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II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de 
pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a 
possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, 
facultado o requerimento de prova suplementar. 
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à 
respectiva causa de pedir. 
 
É na petição inicial que o autor apresenta o pedido e a causa de pedir. 
Art. 329, CPC  Pela modificação do pedido e causa de pedir no curso do 
processo, ou seja, após já apresentada petição inicial. 
 
 Marco processual  Ato de citação. 
 
Até a citação é permitida ao autor a mudança unilateral do pedido ou causa de 
pedir. 
 
 Marco processual  Saneamento. 
 
Saneamento: Quando o juiz organiza o processo, verificando todos os fatos, 
fundamentos e analisando se ainda há necessidade de alguma prova. 
A partir do momento em que há o saneamento do processo (organização do 
processo pelo juiz), não se pode mais modificar pedido ou causa de pedir. 
Contudo, após a citação e antes do saneamento do processo, pode ocorrer a 
modificação do pedido ou da causa de pedir por ato bilateral de vontade (com 
anuência do réu). 
 
 
Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas 
de formulação e estratégias processuais 
Prof. Ival Heckert Júnior 
 
Nesse último caso (entre a citação e o saneamento), deve ser assegurado ao réu 
o contraditório, mediante manifestação, no prazo mínimo de 15 dias. 
 
REFERÊNCIAS 
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. v. I, 9. ed. Rio de 
Janeiro: Lúmen Júris, 2004. 
GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 2, 14. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2000. 
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. I, 39. ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2003. 
TUCCI, José Rogério Cruz e. A Causa Petendi no Processo Civil. 2. ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2001. 
VIANA, Juvêncio Vasconcelos. A Causa de Pedir no Processo de Execução. In: 
TUCCI, José Rogério Cruz e, BEDAQUE, José Roberto dos Santos (Coords.). Causa 
de Pedir e Pedido no Processo Civil: questões polêmicas. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2002.

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