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Petição Inicial e a Propositura da Demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Pós-Graduação “lato sensu” Prof. Ival Heckert Júnior Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Unidade II Procedimento Comum – Petição Inicial Aula 5 I) Causa de Pedir: fatos e fundamentos – art. 319, III, CPC – questões teóricas A petição inicial é, nada mais, nada menos, que a demonstração em juízo, de forma clara, precisa, ordenada e lógica, dos fatos ensejadores do direito pretendido pela parte. É a correta narrativa, de forma organizada, dos fatos jurídicos que causaram uma repercussão negativa no patrimônio de direitos de alguém, permitindo a essa pessoa, lesada que foi na sua esfera de direitos, exigir do Estado (da função jurisdicional do Estado), em razão do caráter substitutivo, a análise e julgamento de sua pretensão. Da obra essencial para entender a causa de pedir, da lavra do prof. José Rogério Cruz e Tucci, podemos extrair o seguinte entendimento: “É possível, assim, afirmar-se, com Gionnozzi, que os fatos entram, da vida, no processo. Tal ingresso deve ser alvitrado por uma única vertente: a exigência do respectivo acertamento, que é instrumentalizado pelo processo. Assim, por exemplo, o contrato celebrado entre Tício e Caio corresponde a um evento, um fato, tangível mesmo fora do campo do direito, mas constitui, igualmente, um fato jurídico [...]. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Observa-se, nessa linha de raciocínio, que o ato ou os fatos são essenciais para configurar o objeto do processo, e que constituem a causa de pedir, são exclusivamente aqueles que tem o condão de delimitar a pretensão.”1 O Código de Processo Civil determina a necessidade de demonstrar, na petição inicial, tanto os fatos quanto os fundamentos jurídicos; ou seja, tanto os fatos que ensejaram a pretensão levada a juízo, quanto a repercussão negativa na esfera de direitos advindos desses fatos. “[...] acrescenta Fazzalari que a exposição da causa de pedir é indispensável para o desenvolvimento do processo de conhecimento: ´tal alegação representa, na verdade, o parâmetro para a determinação da jurisdição, da competência, da legitimação para agir:Desse modo, a argumentação alusiva à causa petendi consiste no meio pelo qual o demandante introduz o seu direito subjetivo (substancial) no processo: ´se é verdade que o autor deduz fatos amoldando-os no esquema de uma norma, gerando determinadas consequências jurídicas, não se pode haver dúvida de que são deduzidos fatos constitutivos da situação jurídica (substancial) preexistente e, antes de mais nada, a hipótese concreta da qual deriva a posição de preeminência em relação ao bem; vale dizer, o direito subjetivo (substancial).”2 Mas, ao levar o direito substancial à petição inicial, não se evidencia a necessidade de mencionar dispositivos legais tidos como violados. A parte autora deve evidenciar os fatos, bem como a lesão materialmente sofrida, devendo o magistrado verificar se, da narrativa, alguma subsunção à legislação substancial poderá ocorrer. O autor deverá, na petição inicial, firmar narrativa sobre a causa de pedir próxima e a causa de pedir remota. Ou seja, por determinação legal e, claro, por posicionamento doutrinário, adota o Brasil a TEORIA DA SUBSTANCIAÇÃO. 1 TUCCI, José Rogério Cruz e. A Causa Petendi no Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 24-25. 2 TUCCI, José Rogério Cruz e. A Causa Petendi no Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 126-127. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Historicamente, no tocante à causa de pedir como elemento da demanda, duas teorias se digladiam: teoria da individualização e teoria da substanciação. Para a teoria da individualização, os fatos constitutivos do direito não mereceriam maior atenção, bastando “ao autor apontar genericamente o título com que age em juízo, como por exemplo, o de proprietário, o de locatário, o de credor, etc.”3 Já, para a teoria da substanciação, entretanto, necessária a “correta apresentação da causa de pedir à exposição dos fatos constitutivos do direito afirmado pelo autor. A causa de pedir seria o conjunto de fatos em que o autor baseia a sua ação.”4 Ou, sem outras palavras: “Não basta, por isso, dizer-se proprietário ou credor, pois será imprescindível descrever todos os fatos de onde adveio a propriedade ou o crédito.”5 Assim, adotada pelo sistema brasileiro a teoria da substanciação, podemos dividir a causa de pedir em causa próxima e em causa remota. Entretanto, é de se salientar que, até o presente momento, apesar de todas as discussões sobre o tema, academicamente não há consenso sobre o que seria a causa próxima e a causa remota. Para uns, o fato é causa próxima e os fundamentos, causa remota; para outros o fato seria a causa remota e, portanto, os fundamentos a causa próxima. Não havendo uniformidade de opiniões entre os maiores expoentes do direito, não é nesta aula (até pelo seu objetivo) que se dirimirá a questão, sendo que, a seguir, limitamo- nos a expor a divergência, digo novamente, de realçado interesse acadêmico e menos da prática do direito. De um lado, por exemplo, temos os defensores do fato como causa de pedir próxima, aqui representados pela pensamento do prof. Alexandre Freitas Câmara: “Os fatos a que se refere a norma são os que compõem a causa de pedir próxima, ou seja, os fatos que – segundo descrição do demandante – lesaram ou ameaçam o direito de que o mesmo afirma ser titular. Já os fundamentos jurídicos são, em verdade, a 3 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. I, 39. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 320. 4 VIANA, Juvêncio Vasconcelos. A Causa de Pedir no Processo de Execução. In: TUCCI, José Rogério Cruz e, BEDAQUE, José Roberto dos Santos (Coords.). Causa de Pedir e Pedido no Processo Civil: questões polêmicas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 95. 5 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. I, 39. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 320. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior causa de pedir remota, ou seja o título (o fato constitutivo) do direito afirmado pelo autor. É absolutamente desnecessária a indicação dos dispositivos legais onde o autor foi buscar os fundamentos para embasar sua demanda, já que iura novit cúria (o juiz conhece o direito).”6 De outro lado, estão aqueles que defendem ser o fato a causa de pedir remota, como o prof. Vicente Greco Filho: “O Código, ao exigir a descrição do fato e o fundamento jurídico do pedido, filiou-se à chamada teoria da substanciação quanto à causa de pedir. A decisão judicial julgará procedente, ou não, o pedido, em face de uma situação descrita e com descrita. [...] O fato é chamado de causa de pedir remota e o fundamento jurídico é a causa de pedir próxima.”7Ressalte-se, dessa discussão, a concordância quanto à teoria adotada, devendo a parte/autor expor tanto os fatos quanto os fundamentos jurídicos do pedido, inclusive, sob pena de inépcia da petição inicial. II) Causa de Pedir: fatos e fundamentos – art. 319, III, CPC – questões práticas Nitidamente percebemos, pela situação doutrinária e pela teoria acima abordadas, que a composição da causa de pedir não apenas é essencial para a 6 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. v. I, 9. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 319. 7 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 2, 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 98. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior delimitação da lide e para o devido alcance da própria atividade jurisdicional do Estado, como também pressupõe, na prática, uma correta precisão na petição inicial. Assim, apresento uma forma prática de delimitação e divisão da causa de pedir em seus elementos: - FATOS Toda narrativa fática pressupõe o desenvolvimento estrutural e temporal da relação jurídico-material. Ou seja: o autor deve expor na petição inicial o início da relação jurídico-material até a ocorrência da lide, de forma clara e organizada. Por exemplo: imaginemos uma convencional situação de acidente de veículos. Deve o autor narrar os fatos imediatamente anteriores ao acidente, o acidente como teria ocorrido e que a outra parte não assumiu a culpa; assim, estamos apresentando os fatos constitutivos do direito, com a narrativa da lide. - FUNDAMENTOS Expostos os fatos, compete agora à parte autora narrar as consequências jurídicas negativas na sua esfera de direito, apresentando os fundamentos pelos quais deve ter seu pedido acolhido. Continuando no exemplo citado: Narrada nos fatos a ocorrência do ilícito e da pretensão resistida (lide), compete agora ao autor, nos fundamentos, demonstrar o dano sofrido e sua extensão, inclusive, ser for o caso (sou favorável a tal situação), expondo os fundamentos legais que ampararão o seu pedido. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior III) Do pedido: art. 319, IV, CPC O próximo requisito exigido por lei, decorrente do próprio aspecto lógico da petição inicial é, justamente, o pedido, pelo qual o autor, após expor os motivos que o levam ao poder judiciário, deduz sua pretensão, tendo como objetivo atingir, por meio de uma prestação jurisdicional do Estado, a realização ou alteração de alguma coisa em sua esfera de direitos materiais (bem como na do réu). Da tentativa de conceito supra se extraem as duas faces (ou elementos, ou objetos) do pedido. Num primeiro momento, o autor busca uma prestação jurisdicional, um ato decisório do juiz com conteúdo específico (condenar, declarar, constituir); num segundo e sequenciado momento, exterioriza o autor que a sentença buscada tem como objeto tutelar, de forma específica, o bem jurídico que considera estar sendo violado. Assim, temos a definição do chamado pedido imediato e do pedido mediato. “O pedido é formulado com duas extensões ou dois alcances: em caráter imediato o autor pede uma determinada providência jurisdicional (condenação, declaração, constituição ou extinção de relação jurídica) e em caráter mediato uma providência que traduz um bem jurídico material (o pagamento, a desocupação do imóvel, nulidade do contrato, etc). Ambos os aspectos podem ficar contidos na mesma expressão verbal que os formula, mas distinguem-se na essência porque o primeiro (o imediato) tem conteúdo processual e o segundo (mediato), de direito material.”8 Façamos agora uma verificação sistêmica dos artigos do CPC que falam sobre o PEDIDO: 8 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 2, 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 99. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Art. 322. O pedido deve ser certo. § 1o Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advocatícios. § 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé. A lei antiga dizia que o pedido deveria ser certo e determinado. O CPC/15 manteve o preceito de o pedido ser certo e determinado, mas separou os artigos. No § 1º trouxe os pedidos implícitos ou indiretos. Se na petição inicial não solicitar os juros, por exemplo, o juiz os lançará na sentença, bem como a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários de advogado. Os pedidos implícitos já existiam no CPC/73, mas falava-se apenas em juros legais. Pedidos indiretos: Juros legais; Correção monetária; Verbas decorrentes da perda do processo / sucumbência: Despesas e, entre elas, as custas; Honorários de advogado. O § 2º não quer dizer que o juiz julgará mesmo se não houver pedido, pois o pedido existe, até porque não se pode esconder pedido na causa de pedir e não fazê- lo no local próprio. Mas talvez um pedido realizado gere consequências outras que não estão simplesmente postas. Veja a seguir as Referências Doutrinárias: Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior “Em boa hora, o legislador mudou a diretriz para a interpretação do pedido. Abandonou a ideia de interpretação restritiva do pedido, presente no art. 293 do CPC/1973. Agora prevalece a ideia de que o pedido seja interpretado de forma a lhe conferir efetividade, considerando a petição inicial no seu todo, mas sem a criação de surpresas ou armadilhas e com respeito ao contraditório e à ampla defesa (art. 5o, LV, da CF), isto é, sem elastérios indevidos e prejudiciais ao exercício do direito de defesa.”9 “Deve ser interpretado de modo a que lhe seja conferida efetividade. Então, por exemplo, numa ação em que o autor pede a rescisão contratual, deve-se entender, como incluído no pedido, o retorno ao status quo ante.”10 Art. 323. Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão consideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las. Está, basicamente, repetindo o art. 290, CPC/73. Art. 324. O pedido deve ser determinado. § 1o É lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados; II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; 9 BONDIOLI, Luis Guilherme Aidar. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al (Orgs.). Breves Comentários do Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 824. 10 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al (Orgs.). Breves Comentários do Novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 550. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival HeckertJúnior III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu. § 2o O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção. Permite a lei processual que se faça o pedido genérico. Pedido genérico Pedido ilíquido. Ex.: Pretensão na condenação em R$10.000,00. Tem liquidez. Pretensão no pagamento de indenização, mas ainda não se sabe o valor. Pedido genérico e ilíquido. Pedido líquido Obrigação em que se define quantidade e qualidade. Pedido ilíquido Não se especifica a quantidade. Não carrega toda a dimensão da obrigação. Art. 324, §1º, CPC Permite que se faça pedido genérico (pedido ilíquido). Ação universal: Ex.: Inventário, em que ainda não se tenha toda a definição da extensão patrimonial do falecido. Nesse caso, a ação versa sobre a universalidade de bens do falecido. Quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato: Ex.: Acidente de veículo, em que o acidentado ainda está tendo gastos em sua recuperação. Ainda não se sabe quanto será toda a extensão dos valores que será gasto para a plena recuperação física. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Não há necessidade de se esperar mais tempo para a ação. Já é possível acionar o poder judiciário e na sentença ou depois, se for o caso, o juiz fixará o valor. Quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu: Ex.: Ocorrência de hora extra em que não há o devido pagamento de seus valores. O autor busca, em juízo, seu pagamento. Contudo, na petição inicial não é possível que se precise exatamente quais são essas horas extras, porque o controle de ponto, em regra, permanece com a empresa. Portanto, será necessário, para conclusão dos valores, de ato a ser praticado pelo réu, qual seja, trazer aos autos do processo as folhas de ponto. Caso não o faça, isso gerará uma presunção para as afirmações do autor. Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo. Chama-se de alternativo aquele pedido que, “[...] pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo”, conforme CPC, art. 288. Não estamos diante de uma cumulação de pedidos, na verdade o autor tem apenas uma pretensão que, entretanto, poderá ser adimplida pelo devedor de mais Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior de um modo, de mais de uma forma. Como bem explicado pelo Prof. Humberto Theodoro Júnior: “Pedido alternativo é, pois, o que reclama prestações disjuntivas: „ou uma prestação ou outra‟. Alternatividade refere-se, assim, ao pedido mediato, ou seja, ao bem jurídico que o autor pretende extrair da prestação jurisdicional. Exemplo de pedido alternativo encontramos na ação de depósito, em que se pede a restituição do bem depositado ou o bem equivalente em dinheiro (art. 904). E também na hipótese do art. 1.136 do Código Civil de 1916, CC de 2002, art. 500, em que se pode pedir complementação da área do imóvel ou abatimento do preço.”11 Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz acolha um deles. Em comparação ao CPC/73, temos o art. 289, que dispunha que era lícito formular mais de um pedido em ordem sucessiva. Mudamos de ordem sucessiva para ordem subsidiária, pois o art. 289 nunca tratou de pedido sucessivo, mas sim de pedido subsidiário. Pedido sucessivo é aquele pedido cumulado em que se pede A e, sendo este julgado procedente, conceda B. Ex.: Declare a paternidade e condene em alimentos se declarada a paternidade. Já o pedido subsidiário é aquele em que se pede que seja declarado nulo o contrato, entretanto, se não tiver elementos para tanto, que declare nula a cláusula contratual. Ainda no parágrafo único a lei permite que se possa solicitar ao juiz pedidos alternativos, deixando a cargo dele decidir qual julgará procedente. 11 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. I, 39. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 328. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão. § 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo; III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento. § 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o procedimento comum. § 3o O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326. Um processo pode corresponder a um pedido, logo, nesse caso, tem-se o pedido simples. Mas a lei permite a cumulação de pedidos, que ocorre quando se tem um processo e mais de um pedido. Portanto, pedidos cumulados pressupõem que em um processo tenha mais de um pedido. Art. 327, caput, CPC Situação de permissivo de cumulação. Lícita cumulação, único processo, contra o mesmo réu. Se for contra o mesmo réu pode ser derivada de causa de pedir distinta. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Requisitos: Art. 327, §1º, CPC: Requisito da compatibilidade. Situação de competência. O juiz deve ser competente para conhecer todos os pedidos cumulados. Pedidos que vistos isoladamente seriam de procedimentos distintos, em regra, não poderiam ser cumulados. Art. 327, §2º, CPC: Se houver pedidos de ritos diferentes, em regra, não seria possível cumular. Contudo, de acordo com o §2º, é permitido que se renuncie ao procedimento especial e faça os pedidos pelo procedimento comum (procedimento básico). Art. 327, §3º, CPC: O inciso I do §1º não se aplica às cumulações do art. 326, CPC. Classificação: Existem quatro formas de classificar pedidos cumulados. Simples; Sucessiva; Subsidiária; e Alternativa. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior a) Simples: Serão feitos um primeiro e um segundo pedido, mas não importa a ordem em que são feitos. Ex.: Cometimento de ato ilícito, o qual ocasionou dano material e moral. Logo, se pede a condenação ao pagamento de dano moral e material ou, ainda, de dano material e moral. b) Sucessiva:Procedência do primeiro pedido. Julgado procedente o primeiro pedido, pede- se a procedência do segundo. Nesse caso, por situação lógica, há uma ordem de pedidos a ser seguida. Só será julgado o segundo pedido caso o primeiro seja julgado procedente. Ex.: Pedido de investigação de paternidade e, no mesmo processo, pedido de alimentos. Julgada procedente e reconhecida a paternidade, há a possibilidade de julgamento dos alimentos. Caso declare que não há paternidade, o juiz não enfrentará o segundo pedido. c) Subsidiária: Procura-se a procedência de um pedido específico. Contudo, caso o juiz julgue improcedente, pede-se, no mesmo processo, um segundo pedido. Pedido esse que é subsidiário. Ex.: Declaração de nulidade do contrato inteiro, como pedido principal. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Pedido de declaração de nulidade de uma cláusula abusiva de juros desse contrato, como pedido subsidiário. Art. 326, CPC Pedido subsidiário. Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior. Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz acolha um deles. d) Alternativa: Pressupõe que se tenha uma pretensão, mas que possa ser dada de uma ou de outra forma. Ex.: Relação de consumo. Comprado um aparelho de celular, esse está com problemas. Pode ser solicitado um novo aparelho ou a devolução do dinheiro. Art. 325, CPC Pedido alternativo. Art. 325. O pedido será alternativo quando, pela natureza da obrigação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo. Parágrafo único. Quando, pela lei ou pelo contrato, a escolha couber ao devedor, o juiz lhe assegurará o direito de cumprir a prestação de um ou de outro modo, ainda que o autor não tenha formulado pedido alternativo. Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Cumulação própria: Cumulação simples ou sucessiva, em que se pretende a procedência de todos os pedidos. Porém, pode existir apenas uma ordem lógica de colocação dos pedidos. Cumulação imprópria: Cumulação subsidiária ou alternativa, em que se pretende a procedência de um pedido ou de outro, mas não de todos. Art. 328. Na obrigação indivisível com pluralidade de credores, aquele que não participou do processo receberá sua parte, deduzidas as despesas na proporção de seu crédito. Não há nenhuma novidade, sendo idêntico ao art. 291 do CPC/73 . Deve-se combinar com o art. 258, CC/02. Ex.: Dois indivíduos compraram um imóvel, porém não foi entregue. Apenas um entra com o processo e a entrega da coisa será feita a esse, pois a obrigação é indivisível (não há como dividir o imóvel). Nessa obrigação indivisível em que há pluralidade de credores, embora o segundo não tenha participado, ainda assim receberá sua parte. Contudo, considerando que somente o primeiro incorreu em despesas, haverá compensação entre eles. Art. 329. O autor poderá: I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento do réu; Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva causa de pedir. É na petição inicial que o autor apresenta o pedido e a causa de pedir. Art. 329, CPC Pela modificação do pedido e causa de pedir no curso do processo, ou seja, após já apresentada petição inicial. Marco processual Ato de citação. Até a citação é permitida ao autor a mudança unilateral do pedido ou causa de pedir. Marco processual Saneamento. Saneamento: Quando o juiz organiza o processo, verificando todos os fatos, fundamentos e analisando se ainda há necessidade de alguma prova. A partir do momento em que há o saneamento do processo (organização do processo pelo juiz), não se pode mais modificar pedido ou causa de pedir. Contudo, após a citação e antes do saneamento do processo, pode ocorrer a modificação do pedido ou da causa de pedir por ato bilateral de vontade (com anuência do réu). Pós-Graduação “lato sensu” | Petição Inicial e a Propositura da demanda: técnicas de formulação e estratégias processuais Prof. Ival Heckert Júnior Nesse último caso (entre a citação e o saneamento), deve ser assegurado ao réu o contraditório, mediante manifestação, no prazo mínimo de 15 dias. REFERÊNCIAS CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. v. I, 9. ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 2, 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. I, 39. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. TUCCI, José Rogério Cruz e. A Causa Petendi no Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. VIANA, Juvêncio Vasconcelos. A Causa de Pedir no Processo de Execução. In: TUCCI, José Rogério Cruz e, BEDAQUE, José Roberto dos Santos (Coords.). Causa de Pedir e Pedido no Processo Civil: questões polêmicas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.
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