Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Relatório do Professor José Narciso de Camargo Couto Jemiro, da Escola Publica de Varzinha, apresentado ao Director da Instrucção Publica do Estado de S. Paulo em 1° de Junho de 1890. Arquivo do Estado de São Paulo, Códice: 4925. Para dar cumprimento ao Art. 112, $16 do Regulamento de 22 de Agosto de 1887, envio-vos, por intermédio do Conselho Municipal, o relatório sobre o estado da escola do Bairro da Varzinha, município de Parahybuna, que tendo a honra de reger, e sobre o adiantamento dos meus alunos. Fui nomeado para reger esta cadeira no dia 16 de Janeiro do corrente anno e entrei em exercício no dia 1° de Fevereiro, de modo que não tenho 6 mezes de exercício, mas sim 4. (...) Estado em que encontrei a escola. Quando aqui cheguei no dia 31 de Janeiro para tomar posse em 1° de Fevereiro procurei saber qual o prédio em que funcionava a escola definitivamente, isto é, no tempo do meu antecessor. Foi-me apresentado um edifício extremamente baixo, com a frente voltada para o sol, tendo de vista uma porta e uma janela, enfim, um edifício insuportável para quem deixara os bancos da Escola Normal com a cabeça cheia de Pedagogia. De facto, saber-se que é de grande, mesmo imprescindível necessidade que o prédio escolar tenha a frente voltada para o nascente, que a sala da aula deve infallivelmente ter quantidade de ar sufficiente para a respiração dos alumnos, que deve ter sufficiente viração, que a sua temperatura interior deve ser regularmente de 16º centig. No máximo, e de 12º no mínimo e nada disto obter-se é simplesmente horroroso. O próprio terreno em que está collocado o prédio é argilloso, e como tal insalubre e anti-pedagogico. Quanto á mobília que suppuz encontrar, fui levada a crer que o ex- professor fazia com que seus alumnos escrevessem de pé, pois não encontrei cousa alguma. Presente estado da escola. Para começar o exercício no dia 1º de Fevereiro tomei emprestado 3 caixões de kerozene, sobre os quaes colloquei uma taboa, e para minha secretaria uma espécie de criado-mudo. Era uma mobília pedagógica!” (p. 2) “[...] Assim, pois, a mobília de que hoje me utiliso compõem-se das seguintes peças: 3 bancos, 2 mezas – uma grande e outra pequena, 5 caixões de kerozene – em que sentam-se os meninos para escreverem, 5 cadeiras das quaes 3 sem braços e nada mais.” Presente estado dos meus alumnos. A matricula da minha escola é enorme, para o logar, porem a frequência bem diminuta. A razão disto é óbvia. Todos os habitantes deste canto do mundo são mimiamente pobres, de modo que os paes não podem mandar quotidianamente seus filhos á escola. Alguns que comprehendem bem a necessidade da instrucção mandam-n’as quase diariamente, outros, porem, que não a compreendem suficientemente, julgam que o prejuízo pecuniário é maior do que o intellectual e por isso mettem seus filhos no trabalho e dizem: ‘Eu não aprendi a ler e vivo bem, pois do mesmo modo viverá meu filho.(p. 5) Considerações sobre o ensino na roça. O maior obstáculo que encontra o professor primário na roça é a impossibilidade de organizar classes. A frequência dos meninos nas escolas da roça é irregularíssima, de modo que o professor pode organizar classes em uma escola no começo do seu magistério, porem terá de soffrer o enorme desgosto de, na semana seguinte, modificar a sua organização, pois, os seus alumnos já estarão desigualmente adiantados e muito desigualmente, pelas faltas de comparecimento. Ainda não é tudo. A falta absoluta de livros, ou melhor, a grande variedade de autores que o professor a contre crer adoptará em sua escola, é a maior prova da impossibilidade de o professor da roça organizar classes. Sendo assim, o ensino infallivelmente se tornará individual, o que é terrível, pois além de ser um mau processo, fatiga extraordinariamente um professor que, como eu, tiver a frequência media de 21 alumnos. Julgo ter satisfeito as exigências regulamentares. (p. 6) Saude e Fraternidade Varzinha, 1° de Junho de 1890. O Professor normalista: José Narciso de Camargo Couto Jemiro.
Compartilhar