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4 1. INTRODUÇÃO De acordo com Schultz & Schultz (2019), o comportamento, objeto de estudo do Behaviorismo, pode ser entendido como qualquer reação do indivíduo, animal, órgão ou instituição perante o meio em que está inserido. Refere-se à forma como as pessoas ou organismos agem perante os estímulos em relação ao entorno. A sociedade também pode influenciar na forma como as pessoas devem agir, impondo padrões para determinadas situações, e esperando que as pessoas apresentem uma boa conduta, de acordo com esses padrões. Para Schultz & Schultz (2019), existem diversos modos de comportamento, entre eles o comportamento consciente, que é aquele comportamento racional, em que a pessoa controla o próprio comportamento quando analisa ou descreve algo; e existe o comportamento inconsciente, que é aquela atitude que realizamos sem parar para refletir sobre ela. Dentro do behaviorismo, pode-se falar ainda, em comportamento público e privado. De acordo com BAUM (2019), eventos públicos são aqueles que podem ser relatados por mais de uma pessoa, como por exemplo, uma tempestade. Pensamentos, sentimentos e sensações são considerados eventos privados, ou seja, aquilo que desfrutamos sozinhos, como por exemplo, uma dor de dente. Ainda temos Skinner (1978), que tinha como objetivo uma modificação social. Sua proposta era a organização de um planejamento social e cultural, promovendo a modificação do sujeito de acordo com objetivos prévios. Com isso, chegar-se-ia a uma sociedade ideal. Skinner (2014) escreve sobre o condicionamento operante, que se baseia na ideia de uma reação a um estímulo casual. É um método de aprendizado que ocorre como resposta a um estímulo puramente externo, ou seja, uma recompensa ou punição de acordo com o comportamento. Por exemplo, se uma criança desobedece às ordens dos pais, esses podem repreendê-las por seu mau comportamento, aplicando-lhe um castigo. Neste processo é feita uma associação entre o comportamento e o castigo (consequência deste comportamento). E esta consequência afeta a probabilidade do comportamento ocorrer novamente. Os métodos do Behaviorismo também foram usados para melhorar os processos de aprendizagem. Schultz & Schultz (2019), diz que Watson, acreditava que a educação é um importante elemento capaz de transformar a conduta de 5 indivíduos, e com os estímulos específicos, era possível "transformar" e "moldar" o comportamento de uma criança. De acordo com Schultz & Schultz (2019), Pavlov foi o primeiro a propor o modelo de condicionamento do comportamento conhecido como reflexo condicionado, e tornou-se conceituado com suas e experiências de condicionamento com cães. Essas experiências consistiam em associar um estimulo não condicionado (comida) com um estimulo neutro (som de campainha), que gerava um reflexo incondicionado (salivação) Depois de algumas repetições, o cão aprendeu a salivar apenas com o estimulo neutro (som da campainha), sem que fosse necessário o estimulo condicionado. Esse comportamento foi denominado de resposta condicionada (aprendida). Dentro desses contextos, pode-se dizer que o behaviorismo busca estudar o comportamento humano dentro da Psicologia, e propõe modificações no ambiente tentando provocar manifestações no comportamento. Com base no Behaviorismo, será feita a análise do Filme “Laranja Mecânica”, que pode ser considerado um excelente exemplo das técnicas de tentativa de mudança comportamental. Na perspectiva psicológica, faz-se a reflexão sobre os métodos behavioristas utilizados no tratamento do personagem Alex, quais influências tiveram sobre seu comportamento e quais foram os resultados. 6 2. LARANJA MECÂNICA – O FILME Lançado em 1971, o filme Laranja Mecânica, que foi adaptado ao cinema por Stanley Kubrick é uma obra de Anthony Burgess, (1962) que mostra o mundo pela ótica do rebelde jovem Alex, que com sua gangue aterroriza a sociedade, violando as leis, e cometendo crimes ultraviolentos. Alex demonstra uma inteligência acima do normal, mas é um jovem egocêntrico, violento e que vive a vida de forma inconsequente, batendo em mendigos e invadindo casas. Alex também é fanático por Beethoven. Para não ir á escola, mentia para os seus pais. Ele demonstrava ódio pelos homens da sociedade, não só com seus atos de violência, mas também com a arrogância que tratava a todos que apareciam em seu caminho. Alex acaba sendo traído por sua gangue, e em uma de suas invasões a uma casa, ele é preso e condenado a quatorze anos de detenção, por assassinato. Na prisão ele descobre que o governo esta aplicando um método para recuperação dos presos, chamado de Tratamento Experimental Ludovico, onde se recupera os criminosos e os inserem novamente no convívio social em um prazo bem curto. Ele então é submetido ao tratamento com drogas experimentais e com seções de filme com teor violento e sexual e ao som de sua música preferida de Beethoven. Alex sai do tratamento totalmente incapaz de cometer qualquer ato de violência e quando é liberto da cadeia ele se depara com as pessoas as quais ele tinha causado algum sofrimento, essas pessoas tentam se vingar e ele se torna uma vítima indefesa que sofre com a vingança das pessoas que antes ele atormentou. Totalmente perdido e sem saber o que fazer, Alex pula de uma janela, tentando se matar, mas não tem sucesso. Depois da queda, é lavado ao hospital e enquanto se recupera começa a perceber que os pensamentos sobre sexo e violência já não lhe causavam mais sofrimento como antes. Ao final do filme, nota-se que o tratamento já não tem mais efeito quando ele, feliz, se imagina fazendo sexo com uma mulher na neve, com uma multidão assistindo e aplaudindo. 7 3. ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO ALEX NA ADOLESCENCIA Com 16 anos, um ponto de análise de Alex, antes de sua prisão é o seu comportamento dentro da sua gangue e da sociedade em geral. Observamos que, de acordo com PAPALIA, OLDS e FELDMAN (2006; 2013), existe um egocentrismo além da rebeldia que pode ser pertinente a sua idade. Demonstra crise de identidade e comportamento e sente uma necessidade de inserção a um grupo. Sua mente agressiva e violenta encontra nos crimes um prazer. Vive uma vida sem limites e não tem nenhuma noção moral sobre seus atos, apresentando também um comportamento sem culpa ou ressentimento. Alex é um jovem impulsivo, que não consegue discernir seus atos entre bem ou mal. Ele exerce grande influência e liderança sobre seus amigos, mas sempre de forma coerciva, forçando-os a cometer os atos. O ambiente em que vive e a relação com os pais parece estarem relacionados com sua conduta, ainda que não demonstre ser uma motivação para seus crimes. Alex se torna então um criminoso, e mesmo quando passa pelo processo que pretende alterar seu comportamento, ele age não preocupado com sua mudança, não manifesta culpa, mas encara somente como uma forma de fugir da prisão e resgatar sua liberdade. Com o tratamento, ele tem seu comportamento modificado, não conseguindo assim praticar nenhum tipo de violência. Quando acaba o estimulo que o condiciona à aversão, ele se vê novamente desejando cometer os atos criminosos, e é então que percebemos que o tratamento tinha somente um efeito temporário e não significava uma mudança de sua visão sobre seus atos. 8 4. ANALISE DO FILME - TRATAMENTO O filme possui um clima muito violento e hostil, e traz reflexões a cerca de como os princípios behavioristas podem também ser aplicados em pessoas de conduta violenta com a finalidade de alterar seu comportamento. O Tratamento Experimental Ludovico, citado no filme, é uma experiênciacom o objetivo de fazê-lo sentir aversão aos seus atos violentos, condicionado a assistir, sob efeito de uma substância que lhe causava náuseas, cenas de violência e sexo, ao som de sua música preferida de Beethoven, com isso ele seria condicionado, a relacionar aquele momento de sofrimento às vezes que sentiria vontade de cometer crimes. Os estímulos sonoros e visuais dos filmes associado às drogas, produziam no organismo de Alex, crises de dor, de medo e até náuseas e tonturas. As repetições das seções condicionavam uma reação através de estímulo / resposta, na qual ele sofria alterações no sistema glandular e locomotor para criar a aversão ás práticas violentas. Dessa forma, vemos então que Alex seria condicionado a um comportamento com princípios behavioristas, ao qual ele faria sempre a associação dos atos de violência ao momento que passava de sofrimento no tratamento, criando uma repulsa por violentar e agredir as pessoas. Para o Estado, o tratamento, criado para proteger "cidadãos do bem", foi então eficiente e eles o libertam novamente para o convívio social. Porém, depois do tratamento, Alex não se torna uma pessoa boa, mas sim uma pessoa incapaz de cometer atos de violência. Ele deixou de ser bandido, mas deixou também de ser uma criatura capaz de fazer escolhas morais. E quando um homem não tem mais escolha, deixa de ser um homem. Mas para o Estado isso não é importante, pois ele não está preocupado com questões éticas, apenas quer diminuir o crime e se autopromover. 9 5. ANALISE DO FILME - PSICOLOGIA A proposta do filme é falar sobre as patologias criminosas do comportamento social, mostrando o tratamento de condicionamento de um criminoso para mudar sua forma de ver a violência, e que voltando a sociedade agiria de acordo com as regras do estado, porém é desprezado no filme a subjetividade dele, existe uma intenção de tratar os atos violentos, mas sem pensar na causa deles. Alex não tem a chance de passar por nenhum tratamento psicológico tradicional só foi submetido á uma analise de que o comportamento humano é reação através de estimulo e resposta. Quanto a Psicologia, podemos encontrar no filme, a clara manifestação do behaviorismo, como por exemplo, o condicionamento feito através de uma relação estabelecida com o soro experimental, a música e as cenas assistidas por Alex. Os princípios básicos do behaviorismo estão numa psicologia mais objetiva, sendo uma ciência do comportamento que se ocupa unicamente de atos visíveis de conduta, que são descritos nos termos de estímulos e respostas. De acordo com Schultz & Schultz (2019), Watson fez descobertas e usou a psicologia animal como base de desenvolvimento para suas pesquisas sobre o comportamento, temos então o behaviorismo na psicologia como uma ciência objetiva e empírica, que traz o comportamento como resultado de um estimulo/ resposta. O filme possui um clima muito violento e hostil, e traz as reflexões a cerca de como os princípios behavioristas, podem também ser aplicados em pessoas de conduta violenta com a finalidade de alterar seu comportamento. 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise nos levou a concluir que o tratamento proposto á Alex, foi um fracasso, pois além de coercivo não foi feito uma análise do que poderia leva-lo a cometer tais crimes, como sua história de vida, seu ambiente familiar, escolar e social. O modelo behaviorista radical apresentado no filme onde Skinner aplicou seus estudos, só condicionaram temporiamente Alex a se comportar de forma diferente, porque estava respondendo a um estímulo ao qual estava condicionado. Outro ponto observado, que fez com que o tratamento não obtivesse sucesso, é o fato de que não houve um acompanhamento após o tratamento para que ele fosse mantido, levando a crer que existia somente uma intenção de libertar Alex e não levá-lo á uma mudança de vida. A intervenção utilizada para tratar Alex nos leva a perceber quais tratamentos são os mais adequados e qual o resultado que os métodos behavioristas utilizados no filme podem trazer a cada pessoa e que qualquer tratamento deve ser para promover a qualidade de vida e não produzir pessoas mecanizadas. 11 REFERENCIAS BAUM. W. M.; Compreender o Behaviorismo: Comportamento, Cultura e Evolução. 3.ed. Porto Alegre. Artmed, 2019. BOCK, A.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. Psicologias. Uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1999. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2006. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2013. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. Historia da Psicologia Moderna. 11º ed. São Paulo, 2019. SKINNER, B. F. Sobre o Behaviorismo. 10 ed. São Paulo. Cultrix, 2014. SKINNER, B. F. Walden II. Uma Sociedade do Futuro. 2º ed. Editora Pedagógica e Universitária, 1978.