Buscar

Quanto Custa Para As Famílias de Baixa Renda Obterem Uma Dieta Saudável No Brasil

Prévia do material em texto

QUANTO CUSTA PARA AS FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA 
OBTEREM UMA DIETA SAUDÁVEL NO BRASIL? 
Camila Borges 
Doutora em Nutrição em Saúde Pública – FSP/USP 
Professora Universidade Paulista 
 
 
2016 
XIV Encontro Nacional da Rede de Alimentação e Nutrição do SUS 
Reunião do Programa Bolsa Família na Saúde 
Revista Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 31(1): 137-148, jan, 2015. 
Contextualização 
• A qualidade inadequada da dieta praticada por indivíduos 
pertencentes às classes sociais mais baixas afeta 
diretamente a saúde desta população (Monteiro, 2007; Drewnowski, 2005); 
 
• Caracterização do consumo alimentar das famílias de baixa 
renda no Brasil: 
• Cereais, óleos, gorduras e açúcares, carnes gordas e alimentos 
industrializados com alta densidade energética; 
• Consumo insuficiente e monótono de hortaliças e frutas (restrito a 
tomate, alface, banana e laranja); 
• Menor aquisição de diversidade de grupos alimentares (grãos integrais, 
peixes, leites e derivados de leite desnatados, carnes magras, frutas e 
hortaliças). 
Contextualização 
ESCOLHAS ALIMENTARES 
INFLUENCIADAS POR 
FATORES INDIVIDUAIS 
CONHECIMENTO E 
PERCEPÇÕES SOBRE 
ALIMENTAÇÃO 
 
FATORES SOCIAIS, 
CULTURAIS E 
ECONÔMICOS 
PROCESSOS 
COMPLEXOS 
INFLUENCIADAS POR 
FATORES COLETIVOS 
DESTAQUE 
RENDA E 
PREÇO DOS 
ALIMENTOS 
INFLUENCIA 
ESPECIALMENTE 
COMPRA DE GRÃOS 
INTEGRAIS, FRUTAS 
E HORTALIÇAS 
Objetivo 
Identificar o custo necessário para a obtenção de uma 
dieta saudável no Brasil e analisar o comprometimento 
dessa prática no orçamento das famílias. 
Método 
DADOS DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS E BEBIDAS, RENDA TOTAL E PREÇO DOS ALIMENTOS 
FORAM OBTIDOS DA POF 2008-2009 
55.970 DOMICÍLIOS ENTREVISTADOS 
Renda per capita/mês de 
R$74,00 ou US$1,00 diário 
Renda per capita/mês de 1 
salário mínimo ou R$415,00 
Renda média R$899,00 
1.716 tipos de alimentos e bebidas foram 
encontrados nestes domicílios 
 
 
 
 
 
 
1. Cereais, tubérculos, raízes 
e derivados 
2.Feijões 
3.Frutas e sucos de frutas 
naturais 
4.Legumes e verduras 
5.Leites e derivados 
6.Carnes e ovos 
7.Óleos, gorduras e 
sementes oleaginosas 
8.Açúcares e doces. 
 
 
 
 
 
 
Calculou-se: 
1. gramas 
adquiridas 
2. preço em reais 
3. disponibilidade 
calórica per capita 
média dos 
domicílios 
 
Despesa real: valor gasto na 
obtenção dos 8 grupos de 
alimentos pelos domicílios. 
 
Despesa ideal: valor gasto para 
atingir as recomendações do 
Guia Alimentar (2006). 
 
Preço médio: expresso em 
R$/1.000Kcal 
 
Resultados 
• A disponibilidade calórica per capita média nos domicílios 
segundo classe de renda: 
• 957 Kcal para os que recebem até US$1,00 per 
capita/dia; 
• 1.278Kcal para os que recebem até 1 salário mínimo 
per capita mensal; 
• 1.572 kcal para a média de todos os domicílios 
brasileiros. 
Resultados 
• Em todas as situações estudadas a aquisição de alimentos 
(em gramas) ultrapassou a recomendação para os grupos: 
• óleos, gorduras e sementes oleaginosas; 
• açúcares e doces; 
• carnes e ovos, 
• A obtenção foi insuficiente para os grupos: 
• frutas e sucos de frutas; 
• leite e derivados; 
• legumes e verduras 
• A obtenção atingiu ou se aproximou das recomendações 
para os grupos: 
• cereais, tubérculos, raízes e derivados; 
• feijões 
 
Resultados 
Tabela 1. Participação relativa de cada grupo alimentar sobre as calorias totais provenientes dos 
alimentos obtidos para consumo dentro dos domicílios brasileiros segundo as recomendações do 
Guia Alimentar para a População Brasileira e classes de renda. Brasil, 2008-2009. 
Resultados 
Tabela 2. Preço por 1.000kcal dos oito grupos alimentares recomendados pelo Guia Alimentar para a 
População Brasileira segundo classes de renda. Brasil, 2008/2009. 
O preço pago pelos indivíduos que recebem até < US$ 1,00/ per capita É 
MENOR para todos os grupos de alimentos quando comparado com as demais 
classes, COM EXCEÇÃO DOS LEGUMES E VERDURAS. 
Resultados 
Tabela 3. Valores per capitas das despesas diárias reais e ideais para cada grupo de alimento estudado e a 
diferença (delta) entre eles, segundo as classes de renda. Brasil, 2008/2009. 
 
 
Aumento 58% 
nos gastos reais 
 
 
Aumento 39% 
nos gastos reais 
 
 
Aumento 31% 
nos gastos reais 
Resultados 
Figura 1. Padrão de despesas ATUAIS com os grupos de alimentos estudados, segundo 
classes de renda. Brasil 2008-2009. 
até US$1,00 
 R$415,00 
R$899,00 
Resultados 
Figura 1. Padrão de despesas IDEAIS com os grupos de alimentos estudados, segundo 
classes de renda. Brasil 2008-2009. 
até US$1,00 
 R$415,00 
R$899,00 
Resultados 
Tabela 4. Comprometimento da renda com as despesas reais em alimentação e com as despesas ideais (para 
atingir as recomendações nutricionais de energia do Guia Alimentar para a População Brasileira). Brasil, 
2008/2009. 
Alto comprometimento 
da renda com a 
despesa real e 
impossibilidade de 
adqurir quantidades 
adequadas de 
alimentos para a 
despesa ideal 
REFLEXÃO SOBRE O 
ACESSO REGULAR E 
PERMAMENTE SEM 
COMPROMETER 
OUTRAS 
NECESSIDADES 
BÁSICAS 
Discussão 
• Os brasileiros de baixa renda gastam uma significativa 
parte da sua renda total em alimentos com alta 
concentração de açúcares e gorduras. 
 
• A despesa atual com alimentação, se realocada, ainda 
assim não seria suficiente para compras de frutas, 
hortaliças, leite e derivados segundo as quantidades 
recomendadas. 
Discussão 
• Os achados evidenciam a impossibilidade de execução 
das recomendações de consumo do Guia Alimentar para 
a População Brasileira (2006) por parcela significativa da 
população brasileira (23,3% da população recebia até 1/2 
salário mínimo e 27,2% de 1/2 a 1 salário mínimo em 
2009 – IBGE em 2009.) 
Na Austrália, os custos para se 
atingir as recomendações 
nacionais também são altos e não 
alcançados pela população de 
baixa renda. (Friel, 2006) 
Discussão 
• Reflexão sobre a a importância de conhecer a 
porcentagem da renda comprometida com a alimentação, 
sobretudo entre os domicílios de baixa renda. 
• O Canadá monitora as despesas com alimentos e 
bebidas para criar modelagens econômicas para 
identificar os reais custos de dietas saudáveis e propor 
políticas públicas (Ricciuto, 2007). 
Conclusão 
• Acompanhar as recomendações do Guia Alimentar para a 
População Brasileira (2006) comprometeria mais do que 
todo o rendimento dos indivíduos com renda mensal de 
até R$ 71,4. O que torna esse ato impossível de ser 
conduzido por esta população. 
 
• Os brasileiros de menor poder aquisitivo necessitam 
aumentar suas despesas reais em alimentação para 
alcançarem uma dieta adequada, baseada nas 
recomendações nutricionais propostas pelo Guia 
Alimentar para a População Brasileira, versão 2006 
Conclusão 
• Os brasileiros de outras camadas sociais também 
destinam ou comprometem um considerável percentual 
de sua renda total na compra de alimentos (nem sempre 
fazendo escolhas saudáveis!!). 
 
• A quantidade da renda total destinada para a compra de 
alimentos tem um papel importante na aquisição de 
alimentos mais saudáveis por grande parte da população 
brasileira. 
Considerações Finais 
• Necessidade de se adotar política de redução de preços dos 
alimentos saudáveis. 
• Criação de impostos mais rigorosos sobre alimentos com baixa 
qualidade nutricional.• Melhorar a distribuição da renda, de forma a melhorar o poder 
aquisitivo da população. 
• Adotar políticas de incentivo à produção de alimentos locais ou 
regionais. 
• Realizar orientação dos gastos com alimentos – via Educação 
alimentar e Nutricional; 
Considerações Finais 
• Em longo prazo, recomenda-se a adoção de programas 
de monitoramento dos gastos em alimentação que 
contribuam para a melhor compreensão das barreiras 
econômicas que levam a hábitos alimentares 
inadequados comprometendo o Direito Humano a 
Alimentação Adequada-DHAA. 
OBRIGADA!!! 
 
Camila Borges 
E-mail: camilaborges.usp@gmail.com 
Telefone: 11 972486014

Continue navegando