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RESPOSTA À ACUSAÇÃO - eurico

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUÍZ DE DIREITO DA 4º VARA CRIMINAL DA COMARCA DE RIO VERDE - GOIÁS.
	
EURICO ALVES COSTA, já devidamente qualificado nos autos supra que lhe move a Justiça Pública e que tem regular curso perante este r. juízo, vem respeitosamente ante a douta presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu defensor que esta subscreve, com fulcro nos arts. 394,§4º e 396-A do Código de Processo Penal, especialmente para apresentar:
RESPOSTA À ACUSAÇÃO 
em face da Denúncia proposta pelo Ministério Público do Estado do Maranhão, ante as razões fáticas, expondo e requerendo o que segue:
	I) DA DENUNCIA:
Narra a denúncia que no dia e no local supramencionado o denunciado aguardava na residência do requerente a sua aparição, já com o intuito de o matar, quando o mesmo sai pelos fundos de sua residência que tem saída pra rua, quando o assistido lhe atinge com um golpe de arma branca.
Após ser atingido, o requerente ainda com vida se deslocou até o quintal de sua residência, e posteriormente caiu ao chão sendo, vez que bastante debilitada foi socorrida pelo seu genitor que o levou ao Hospital Municipal de Santa Helena – GO onde não resistiu ao ferimento e veio a óbito 
Conforme a denúncia, Eurico após o ocorrido foi até a sua residência e pegou a sua motocicleta mas durante sua fuga o requerido perdeu o controle de seu veículo, ficando desacordado até ser preso e autuado em flagrante pelos policiais acionados via COPOM, oportunidade em que encontraram em seu poder uma arma branca suja de uma substância vermelha.
Há relatos de que antes do ocorrido o requerente e o requerido já tinham se alterado, entrando em vias de fato.
O réu foi preso em flagrante pelos artigos 121, § 2º, incisos I e IV.
A denúncia foi recebida. 
É o breve relato do necessário. 
II) A RESPOSTA 
Todavia, da mera leitura do inquérito, constata-se que o quadro fático dos acontecimentos é, dada a máxima vênia, diverso do narrado pela denúncia e retrata situação de legítima defesa. O assistido não apunhalou imediatamente, Cláudio, motivado por este ter o importunado e porque em momento e local distintos, concretizaram anterior agressão contra Eurico que agiu, sem qualquer imediatismo com o primeiro fato, com propósito exclusivo de se autodefender, conforme se demonstrará.
As alegações desta defesa podem ser constatadas da mera leitura dos autos, prescindindo de análise aprofundada da prova.
Mas, ainda que se entenda necessário exame analítico da prova, essa apreciação é permitida, mesmo nesta fase de deliberação sobre a denúncia, tendo em vista que o artigo 6º, da Lei nº 8.038/90, confere a esse Egrério Tribunal o exame da improcedência da acusação, pedido que, a final, é postulado nesta defesa.
Feitas essas considerações iniciais, passa-se ao oferecimento da resposta.
O assistido, quando interrogado no auto de prisão em flagrante, esclareceu sobre os fatos que:
“… Que no dia e hora indicados na denúncia o interrogando estava a passar em frente a residência da vítima momento em que esta, ao notar sua presença, veio em direção ao assistido e tentou agredi-lo com um tapa; que para se defender o mesmo de posse de um a faca e enfiou o mesmo na barriga da vítima, região próxima ao peito; que em seguida se evadiu da cena do crime, foi até a sua casa para pegar sua moto e foi para um boteco onde parou e conversou com um amigo que estava lá, que inclusive é testemunha neste processo, o assistido ficou no boteco por cerca de três minutos conversando com seu colega e em seguida novamente pegou a moto e tomou o rumo da fazenda onde seu filho estava porém não conseguiu alcançar o referido local pois perdeu o controle da moto não se lembrando de mais nada tendo acordado com o policial lhe chamando para ir até Acreúna porém não sabe dizer se estava no hospital ou na delegacia de Santa Helena pois os policiais da referida cidade em razão do machucado levou o assistido de Formozinha para Santa Helena. O assistido nega que no dia anterior ao crime tenha tido uma briga com o irmão da vítima, tendo esta saído em defesa do irmão e o acusado e a vítima entraram em vias de fato, relata que a primeira amásia do interrogando organizou um churrasco em sua residência e a vítima estava conversando com a mesma momento em que o assistido chamou-a para conversar e a vítima não gostando, desferiu-lhe um tapa no rosto, o assistido nega que tenha matado a vítima em virtude do tapa do rosto que lhe foi desferido pela mesma na referida festa e sim pelo fato da vítima tentar bater no interrogando novamente quando este passava na porta de sua casa e que entre o dia da festa na casa da sua primeira amásia e a data do crime apanhou por três vezes da vítima; que o interrogando nega que tenha ficado no fundo da casa armando uma emboscada para que a vítima saísse e a golpeasse de surpresa, o assistido morava com a irmã da vítima fazia cerca de 03 meses e que jamais teria espalhado pelo povoado de Formozinha que ceifaria a vida e que passava na porta da casa da vítima com a finalidade de ameaçar ou intimidá-lo como a vítima o fazia e sim com a finalidade de ir para o serviço, pois obrigatoriamente tinha que passar pela porta da casa do mesmo, que no dia e na hora do crime apesar de ter bebido um pouco não estava bêbado e possui duas filhas; não é viciado em substância entorpecente; possui primeiro grau incompleto é um bom pai e esfaqueou a vítima pela frente e que no barone foi conversar um colega após o crime o pai do requerente não apareceu no local, onde até mesmo uma testemunha relata que o pai da vítima Sr. Manoel apareceu depois do ocorrido pedindo socorro pela vítima.”
A descrição fática dos acontecimentos, feita pelo assistido, encontra amparo no conjunto probatório.
Com efeito.
A testemunha de acusação, Renaldo Santada da Silva, que foi arrolada e ouvida pelo Ministério Público, testemunhou:
“(fls. 7)… que estava no Bar do Sr. Gevaldo, local conhecido no distrito de Formosinha onde ocorreu o crime, quando chegou o Sr. Manoel. Freira Santos, pai da vítima CLÁUDIO FREIRE SANTOS, pedindo socorro para a vítima comunicou que seu filho havia sido ferido com faca, e acreditava que o mesmo estava morrendo então imediatamente o Sr. Divair Borges de Oliveira, acompanhado do depoente e ]osc Welton dos Santos, deslocaram para o Hospital Municipal de Santa Helcna-GO; e na chegada foram comunicados pelo médico ora de plantão que a vítima havia falecido.”
					Como se constata, a testemunha citada é amigo das partes e não relata nenhum episódio onde o requerido profere ameaças com a faca ensanguentada após o delito no bar onde estavam, como também não relata nenhuma ameaça anterior ao ocorrido, bem como o Sr. JOSÉ WELTON SANTOS, que por sua vez diz que ficou surpreso com o corrido crime, não viu a arma era amigo das partes e jamais soube de brigas ou outras informações que esclareça o crime.
		Destaque-se que, desde logo, a testemunha Divair de Oliveira Borges relata:
“Que conhece o acusado desde o ano de 1988, pois o mesmo trabalhou como diarista bóia fria na propriedade do declarante por algum período e ouviu comentários de que antes do crime o assistido se envolveu em uma discussão coma vítima Cláudio, sendo que nesta ocasião o mesmo teria agredido Eurico com um soco; que nunca ouviu notícias de que o assistido tenha se envolvido em confusões, é casado, possui dois filhos, tem uma convivência familiar harmônica aparentemente e não apresentam nenhuma turbulência. Dada a palavra a defesa, às perguntas respondeu: que o depoente possui conhecimento de que uma das filhas de Eurico teve um breve namoro com um dos irmãos da vítima Cláudio e não sabe dizer se as famílias de ambas as partes aceitavam o relacionamento deste casal”
	 A testemunha Jair de Oliveira narra:
“Que conhece o requerido há aproximadamente três anos; que ele é trabalhador, honesto e cumpridor de suas obrigações e que nunca soube do envolvimento do acusado na prática de outros crimes; que requerido possui esposa e filhos e mora com a família.”
Algo intrigante
é que as testemunhas citadas também moram no povoado de Formosinha, mas não relatam nenhum boato de que o assistido teria a espalhado pelo povoado a sua intenção de matar a vítima dias antes e quanto menos foi ao bar fazer ameaças depois do ocorrido, como relata o pai da vítima que é o único que desfere essa acusação ao requerido
				 	 Relata o Sr. Manuel Freire dos Santos, pai da vítima:
“[…] Eurico havia espalhado pelo povoado que mataria Cláudio, inclusive durante o dia Eurico passou diversas vezes na porta da casa do declarante para ver se encontrava CLÁUDIO, após um conflito entre as partes dias anteriores mas os presentes separaram a briga, mas o acusado passou o dia seguinte tentando vender sua moto para comprar um revólver, que o assistido também espalhou pela cidade o boato de que mataria a vítima, o depoente tomou conhecimento destes fatos por intermédio de sua esposa […] o requerido foi a pessoa que construiu a varanda da casa do informante […] entre a casa do requerente e o requerido possui uma distância de 100 metros e a casa é dividida da residência do acusado apenas por uma cerca, e que Eurico após desferir um golpe de faca ainda correu para um boteco próximo, sendo que o declarante ainda tentou se aproximar mas Eurico sacou novamente a faca portava na cintura e fez ameaças caso chegasse perto[…]”
Nota-se que a residência das partes são divididas apenas por uma cerca de arame farpado e com distância de aproximadamente 100 (cem) metros e todos os dias obrigatoriamente o mesmo passava por ali para ir ao trabalho, mercado, farmácia ou qualquer coisa que tenha que se deslocar de sua residência e isso explica claramente esse movimento.
O pai do requerente cita que foi ameaçado depois do ocorrido, como consta em seu relato e na denúncia do Ministério Público, porém, não entraram em um acordo em relação a se o assistido “correu ate sua casa e pegou a sua motocicleta” como citado pelo Ministério Público, ou se “correu até um boteco e fez ameaças ao pai da vítima” que repentinamente já estava no boteco para sofrê-las, como disse em seu depoimento destacado acima, visto que na hora do delito ele estava em casa e inclusive não presenciou o fato pois estava em seu quarto se preparando para dormir.
Porque essas ameaças, que ocorreram em um local presenciado por várias pessoas, nenhuma além do pai da vítima relata esse acontecimento?
	 Segue a acusação do Ministério Público:
“Conforme se logrou apurar, o indiciado após atingir a vítima se deslocou até sua residência, pegando sua motocicleta, posteriormente seguindo para um boteco, onde se deparou com o pai da mesma, ameaçando-o com a arma branca que portava na cintura, em seguida empreendendo funga.”
É algo contraditório.
Enfim, a prova é coerente e maciça em evidenciar que, no evento envolvendo as partes, houve fatos diferentes, ocorridos em momentos e locais distintos e por motivações diversas, num quadro inequívoco de legítima defesa.
	III) DA LEGÍTIMA DEFESA
Como cumpridamente demonstrado, o Defendente Eurico agiu em legítima defesa, tal como definida pelo art. 25, do Código Penal:
“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.
										 Esclarecendo:
“Para defender com eficiência um valor jurídico próprio ou alheio, vítima de agressão injusta, pode o agente ir até o extremo que as circunstâncias fizerem preciso. Pode avançar na sua defesa até a morte do agressor, se esse for o recurso que ele tinha ao seu alcance no momento, para uma defesa eficaz. Esse é realmente o princípio que domina o instituto”(Crimes contra a pessoa, 3ª edição, Editora Rio, págs. 91/92)
O requerido relata que antes do crime, já teria sido agredido por Cláudio por três vezes, fica exposto que as partes já haviam entrado em vias de fato não só uma, mas várias vezes, o que não anula a possibilidade de Cláudio ter vindo ao encontro de Eurico.
Manuel Freire dos Santos, pai de Cláudio, se recorda claramente de um desses episódios em seu depoimento: “o autor de nome EURICO, conhecido por Furico, iniciou uma briga com um irmão da vítima, sendo que CLÁUDIO foi em defesa do irmão, momento em que entraram em vias de fato (…)”
Dentro desse espírito, decidiu esse E. Tribunal de Justiça:
“Não se pode pretender aja o agente da legítima defesa com matemática proporcionalidade. Defesa própria é um ato instintivo, reflexo. Ante a temibilidade do agressor e o inopinado da agressão, não pode o agredido ter reflexão precisa para dispor sua defesa em equipolência com o ataque. Ademais, se a legítima defesa encontra respaldo no inquérito policial, e se a imputação retratada na denúncia nele não encontra subsídio digno de consideração, não há como deixar-se de resguardar o status dignitatis do cidadão, fazendo-se abortar a ação penal oca de juridicidade” (RT 698/333).
Nesse mesmo sentido, o entendimento do E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO:
“LEGÍTIMA DEFESA – Proporcionalidade entre a agressão da vítima e a reação do acusado – Inexistência de excesso no uso da excludente – Absolvição mantida – Inteligência do art. 25 do CP. Aquele que é atacado e agredido dificilmente estará em condições de calcular, com balancinha de ourives, quando e como começa o excesso na reação” (RT 604/327)
No laudo médico está expresso que Cláudio levou 1 (uma) facada, não houve mais agressões por parte do requerido, que como supracitado, cessou a agressão ainda com a vítima viva, ocasião a qual ela fez todo o percurso demostrado nos autos buscando socorro. No momento em que ocorreu o delito ninguém presenciou ou chegou durante o fato, que o tenha impedido de esfaqueá-lo até a morte. Já que essa seria a suposta intenção de Eurico, então por quê não o fez?
Nos deparamos com um caso inconfundível de legitima defesa.
O entendimento do E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO nesse sentido:
“LEGÍTIMA DEFESA – Uso moderado dos meios necessários – Caracterização – Inexigibilidade da proporcionalidade no revide à agressão injusta – Agente que, em tal instante dramático, não pode dispor de ânimo calmo e refletido para medir aritmeticamente a sua reação em relação ao ataque – Hipótese em que o meio empregado era o único existente no momento que tornava possível a repulsa à violência” (RT 774/568); 
Nota se que a residência das partes são bem próximas, a ponto da propriedade ser divida por apenas uma cerca de arame farpado, o que faz com que o fato de Cláudio ter vindo a óbito no jardim de sua residência não signifique que eles tenham entrado em vias de fato exatamente no lugar alegado pela denúncia, que considera o local do ocorrido onde se iniciaram os respingos de sangue.
Diante do exposto, não devemos descartar a possibilidade de Cláudio ter vindo ao encontro de Eurico.
Esse E. Tribunal de Justiça, em acórdão da lavra do eminente Desembargador Bittencourt Rodrigues, decidiu que:
“Está em legítima defesa pessoal quem reage a uma agressão iminente, sem motivo para sofrê-la e sem o dever de fugir, covardemente, para evitar o perigo do ataque, matando o agressor, com uso moderado do meio necessário” (RESE nº 155.935-3/4, Quarta Câmara Criminal, rel. Des. Bittencourt Rodrigues, 26/06/95, v.u.).
Não vejo provas de que o ocorrido foi exatamente como alega a acusação, devendo a versão do requerido ser levada em conta, pois é plenamente possível que Cláudio tenha vindo em direção a Eurico no intuito de tirar satisfações e agredir novamente Eurico, essa não seria a primeira vez!
Apenas quem presenciou o fato desde o início foram o requerente e o requerido, e ele mais do que ninguém sabe com clareza dos fatos, lembrando que as partes já haviam tido conflitos antes do crime, como consta no depoimento do Sr. Divair Oliveira, onde relata que antes do crime, soube que Cláudio desferiu um murro na cara de Eurico, e isso é, até onde sabemos.
Portanto fica exposto a falta de materialidade na denúncia, pois não existem depoentes que presenciaram o fato além do requerido, e compreendo perfeitamente
o sentimento de perda da vítima por parte de seus familiares, porém, dada a máxima venia, não deve o Direito ficar a mercê do que é alegado pelo Ministério Público, não sendo ele um acusador implacável, o Direito deve buscar além dos fatos, quando há falta de provas da denúncia, deve responder o requerido pelo que fez, não pelo que acusamos que ele fez, ou pelo que uns dizem que fez. 
É preciso mais exatidão, mais provas, caso contrário, como poderíamos afirmar o que fez? Eurico não nega o crime de homicídio, nega apenas que o tenha feito por motivo torpe mediante emboscada e traição, isso não aconteceu, tendo ele atuado em legítima defesa.
Daí porque o Defendente roga a esse E. Tribunal que reconheça a legítima defesa e julgue improcedente a acusação, nos termos do artigo 6º, da Lei nº 8.038/90
	IV) DA INEXISTÊNCIA DA QUALIFICADORA DO MOTIVO TORPE
Caso esse E. Tribunal entenda não ser caso de improcedência da acusação, o que se põe para argumentar, o Defendente roga o afastamento da qualificadora de motivo fútil.
Isso porque inexiste, nos autos, prova, ainda que em tese, que possa embasar a qualificadora deduzida.
Ensina Aníbal Bruno que motivo fútil é aquele pequeno demais para que, na sua insignificância, possa parecer capaz de explicar o crime que dele resulta, ou seja, aquele que demonstra “estranha insensibilidade, esse desprezo pela vida alheia, que o agente revela na inconsequente motivação do seu comportamento” (Crimes contra a pessoa, 3ª edição, Ed. Rio, pág. 78 – grifou-se).
Paulo José da Costa cita o caso daquele que mata balconista do bar por ter se recusado a servir-lhe uma cachaça como exemplo de motivo fútil (Comentários ao Código Penal, pág. 366).
A facada que Eurico deu em Cláudio, não foi em razão de uma briga de família há dias entre as partes, como alega a denúncia. Mas, sim, motivados pela necessidade concreta de autodefesa de Eurico.
Demais disso, conforme sobejamente demonstrado, entre o primeiro episódio alegado pelo pai de Cláudio, da importunação ofensiva a seu irmão, e o delito, ocorreram vários eventos distintos, no tempo e no espaço, o que descaracteriza o motivo fútil, consoante lição de Euclides Custódio da Silveira:
“A futilidade do motivo deve prender-se imediatamente à conduta homicida em si mesma: quem mata no auge de uma alteração oriunda de motivo fútil, já não o faz somente por este motivo mediato, de que se originou aquela” (Direito Penal, 1959, Ed. Max Limonad, pág. 76).
Portanto, ainda que Eurico tivesse matado Cláudio logo após as provocações – e não o fez, consoante indiscutivelmente comprovado– não se poderia alegar futilidade de motivo.
Primeiro, porque teve sua auto-estima ferida, o que é incompatível com o motivo fútil, conforme decidiu esse E. Tribunal de Justiça:
“HOMICÍDIO QUALIFICADO – Motivo fútil – Réu que agiu sentindo-se ferido em seu orgulho e auto-estima – Atitude incompatível com a futilidade – Qualificadora afastada – Recurso provido para esse fim.” (Recurso Criminal nº 57.877-3 – RJTJESP 113/497)
Segundo, porque a discussão anterior entre contendores afasta a futilidade da motivação, consoante proclamou esse E. Tribunal de Justiça:
“HOMICÍDIO QUALIFICADO – Motivo fútil – Pronúncia – Exclusão da qualificadora – Admissibilidade se existe prova inconteste de que, antes do acontecimento do fato delituoso, houve discussões e desentendimentos entre a vítima e o acusado.” (RT 786/696).
Por conseguinte, no caso em exame, de qualquer ângulo que se examine e ainda que se admita a versão da denúncia – o que se deduz apenas para argumentar - não há como, sempre pedindo a máxima vênia, sustentar a ocorrência de motivo fútil na conduta do Defendente.
Nessa conjuntura, inexistente a qualificadora que tornaria hediondo o suposto crime, com projeção no estado de liberdade do Defendente, deve o Poder Judiciário, de pronto, afastar o excesso de acusação. 
Nessa linha, decidiu o E. Supremo Tribunal Federal:
"(…) II- Rejeição vestibular da denúncia, à falta de justa causa. A regra segundo a qual a denúncia pode ser liminarmente rejeitada se o fato narrado não constituir crime há de ser lida como significando que o juiz pode rejeitar a denúncia, se o fato narrado evidentemente não constitui o crime a que se refere o acusador. Habeas Corpus concedido, para restabelecer a decisão do juiz de primeiro grau, que rejeitou a denúncia. Entender que só a absoluta atipicidade do fato narrado autoriza a rejeição vestibular da denúncia, seria afirmar que o juiz está obrigado a recebê-la mesmo quando o promotor descreve um adultério e acusa o réu de homicídio, ou historia uma receptação culposa e capitula como incêndio doloso. Há um justo limite para a prerrogativa acusatória de divorciar a capitulação inicial da narrativa que pretende servir-lhe de base” (HC no 68.966-RJ. Segunda Turma. Rel. Min. Francisco Rezek - RTJ 146/579).”
Dessa forma, na improvável hipótese desse E. Tribunal entender de receber a denúncia oferecida contra o Defendente, roga a sua rejeição parcial, removendo a qualificadora do motivo fútil, pela absoluta ausência de situação típica de homicídio qualificado por motivo fútil.
	V) DA INEXISTÊNCIA DE EMBOSCADA E TRAIÇÃO
Como já foi dito, o representado obrigatoriamente passava várias vezes ao dia se necessário por sua porta.
Suponhamos que se Eurico estava tão intencionado assim em matar Cláudio, por quê não o fez antes? Já que morava ao lado, passava toda hora na porta de sua casa e já que foi o próprio Eurico quem fez a varanda de Cláudio e entrar em sua casa não seria algo difícil, pois a residência era dividida por uma cerca de arame farpado, não tinha muro de segurança e uma das saídas da varanda era coberta apenas por um frágil pano. 
Consta na denúncia: “O denunciado Eurico passou então a fazer graves ameaças, espalhando pelo povoado que pegaria Cláudio”. Sejamos honestos de que quando uma pessoa não tem medo de se expor e está motivada como alegado, ela simplesmente age sem se importar com quem a veja, ou a escute. Se levar em consideração o exposto, Eurico parece realmente motivado!
Refletindo sobre essa questão me pergunto por quê alguém assim teve que aguardá-lo de tocaia no fundo de sua casa?
De acordo com fatos narrados na denúncia, o ora acusado cometeu o crime previsto no artigo 121, § 2°, IV do CP, qual seja, homicídio qualificado mediante “traição, emboscada, ou mediante dissimulação ou outro meio que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”. No entanto, vê-se que a conduta do agente se enquadra no tipo penal incriminador, mas sobre ele não recai a qualificadora, pois trata-se de uma qualificadora objetiva, cuja incidência diz respeito ao modo insidioso com que o agente executa o crime, impossibilitando ou dificultando a defesa da vítima. O modo de execução do crime nestas circunstâncias demonstra maior grau de criminalidade, na medida em que o agente esconde a sua intenção de matar, agindo de forma sorrateira e inesperada.
Ora, é exatamente este ponto que acusação dirigida ao requerido está equivocada, pois conforme os fatos narrados acima a vítima não foi surpreendida com a ação do agente, visto que houve entre eles vários conflitos anteriores, fato este que presumidamente despertou na vítima a consciência da probabilidade da prática criminosa, não constituindo um evento inopinado. 
Outrossim, aconduta do acusado não se ajusta a nenhuma das circunstâncias que integram a qualificadora em questão.
	
	VI) DO PEDIDO
É sempre atual a lição do pranteado Evandro Lins e Silva, grande jurista e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal: 
“A justiça não existe para fazer vingança nem para exemplo”. 
O Defendente, confiante no elevado espírito de justiça desse eminente Relator e dos demais membros do C. Órgão Especial, tem certeza de que a circunstância de ser Promotor de Justiça, em si, e a repercussão do caso não serão causas impedientes do reconhecimento dos seus direitos.
Por todo o exposto, o Defendente roga, respeitosamente, o reconhecimento da legítima defesa, causa excludente da ilicitude
(art. 23, II, do Código Penal), com a consequente improcedência da acusação, ou, alternativamente, a rejeição da denúncia para afastar a qualificadora de emboscada e traição e do motivo torpe, nos termos e para os fins do artigo 6º, da Lei nº 8.038/90, como medida da mais pura e lídima
“A defesa é imprescindível resultante do princípio do contraditório, todavia, não se faz necessária prolixidade, podendo, taticamente, o advogado reservar argumentos para arguí-los a final.” (TJDF – 2ª Turma Criminal – APR 3072 – Rel. Luiz Vicente Cernicchiaro. DJU 05/04/1979).
Ex positis, aguardará a instrução quando terá melhores condições de apresentar a defesa propriamente dita.
Destarte, após a instrução do feito à luz do princípio do devido processo legal, a defesa do denunciado EURICO ALVES COSTA como ato de justiça, e, por fim, requerer a oitiva das mesmas testemunhas arroladas pelo Ministério Publico.
Nestes Termos, 
pede deferimento.
Rio Verde – GO, 27 de agosto de 2018.
____________________
Talita Ataides Cruvinel
Estagiária

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