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A filosofia de Thomas Hobbes na obra: Medo, Reverencia e Terror de Carlo Ginzburg

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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)
Faculdade de Ciências e Letras, Departamento de História – Câmpus de Assis
Curso de Graduação em História (Licenciatura) - Diurno
Disciplina: História Moderna I
Docente: Eduardo José Afonso
Discente: João Pedro Geraldi de Melo – Diurno
AVALIAÇÃO/ PRIMEIRO SEMESTRE DE 2018
3. Tomando como base o texto acima, produza um ensaio dando conta da relação estabelecida por Ginzburg entre a obra de Hobbes, a formação do Estado Moderno e suas raízes na atualidade.
 	
	No início do período referido como Modernidade, a Europa vivia uma época de florescimento econômico e certa estabilidade política, com destaque inicial para as antigas cidades-estados italianas, e posteriormente, já no século XVII, para as regiões da Inglaterra, Países Baixos e parte da França. Período este denominado por Antigo Regime, cuja marca é a forte autoridade do Estado, configurado na imagem de um soberano absolutista, e pelo desenvolvimento de um capitalismo comercial, impulsionado pelo colonialismo em conjunto com uma burguesia de importância crescente.
	Contudo, as estruturas desse Antigo Regime passam a se desgastar já no decorrer dos séculos XVI e XVII. Esses dois séculos, se notabilizam por conflitos políticos, sociais e religiosos, como também, assinalam inovações na área cientifica e intelectual, através de novas ideias no campo político e econômico, que defendem uma nova concepção de liberdade, agora natural e individual. Ideais impulsionados pela influência crescente de uma burguesia alicerceada ao intenso mercantilismo comercial, mas que agora, encontra a necessidade de transpassar os limites impostos por um sistema absolutista ainda feudal, com o objetivo de inaugurar um novo sistema correspondente á suas necessidades, o capitalismo. Em virtude dessas mudanças, instaura-se durante os anos setecentistas, um período de Crise Geral na Europa.
	É justamente nesse contexto setecentista, em meio a dissolução da ordem feudal, a contestação sobre o poder temporal da Igreja e as subversões socias, que se desenvolvem as discussões políticas e filosóficas quanto a problemática de conciliar a liberdade e os direitos individuais dos indivíduos, com as exigências da vida em comunidade e ao equilíbrio social. Sobre o comando de tais discussões, estavam os teóricos e filósofos do liberalismo e do contratualismo político, dedicados a estudar o surgimento e o funcionamento das organizações políticas e do exercício do poder.
	Thomas Hobbes, nascido na Inglaterra, em Malmesbury, em 1588, é por consequência um conterrâneo da Crise Geral do Século XVII. Mais do que isso, vivenciou a mais violenta e impactante das revoltas geradas pela crise, a Revolução Puritana de 1640-1649, quando o confronto entre o rei Carlos I e o Parlamento chega a um ponto insustentável, que culmina na decapitação do rei em 1649. 
	Temendo por sua segurança, Hobbes fugiu da Inglaterra para Paris já em 1640, com medo das possíveis represarias por parte do Parlamento, pois havia exaltado a autoridade monárquica em seu livro Os elementos da lei. Nessa obra, já se verificam alguns dos elementos que constituem a essencial da filosofia hobbesiana, dentre os quais um é particularmente importante, a presença do medo. Tal presença, é ainda mais justificável ao levar-se em conta que Hobbes nascera justamente quando a frota espanhola, a Invencível Armada, ameaçava desembarcar na costa inglesa. 
	Em vista da presença marcante do medo em sua vida, o filósofo afirma que: “O medo e eu somos gêmeos.” Ao mesmo tempo, Hobbes sempre se mostrou um filósofo desafiador, corajoso, insolente e astucioso, características pitorescas para alguém que estabeleceu o medo como base central de sua filosofia.[1: GINZBURG, 2014, p. 3.]
	Na obra, Os elementos da lei, aborda-se de uma maneira sintética um ponto crucial da filosofia contratualista de Hobbes, aquilo que o filósofo descreve como um estado da vida humana de “guerra de todos contra todos,” ou convenientemente denominado como estado de natureza. Por esse conceito, deve-se entender não o homem primitivo em si, anterior a qualquer organização social, mas sim a forma como o homem se comportaria se em decorrência de alguma causa maior, todas as leis e contratos impostos pela sociedade fossem suspensas. Sendo assim, é um estágio no qual não existem diferenças entre os indivíduos e todos gozam da mesma condição, podendo ofender-se e defender-se livremente sem qualquer espécie empecilho.
	Por isso, Hobbes tem uma visão pessimista e negativa sobre a natureza do ser humano, um ser cuja condição natural seria agressiva e belicosa, muito diferente da percepção de outros filósofos contratualistas, tais como Jean-Jacques Rousseau, para quem o homem no estado de natureza é originalmente bom, sendo justamente a sociedade quem o corrompe, como exposto em suas palavras: “ O homem nasce bom, a sociedade o corrompe” [2: (contrato social, livro 1, cap.1), citado por MARCONDEZ, 2002, p. 200, grifo do autor.]
	A nível comparativo, Hobbes analisa a natureza humana por uma perspectiva mecanicista, baseando-se nas teorias físicas de sua época, cuja busca pautava-se na compreensão da natureza dos corpos e de seus movimentos. Com isso, para o filósofo, “o homem é o lobo do homem,” isto é, constitui-se como um ser cujas atitudes e as vontades são determinadas primordialmente por suas próprias paixões, não medindo esforços para alcança-las, nem que para isso tenha que matar ou destruir o seu semelhante. Seguindo esse conceito, a liberdade é entendida como a simples ausência do impedimento para a ação. 
 	Consequentemente, o estado de natureza humano é marcado por uma guerra permanente, além de uma desconfiança geral. Em virtude desses dois fatores, fomenta-se uma condição de “medo recíproco” entre os indivíduos, cuja única maneira de sair de tal condição intolerável, é renunciando parte de sua própria liberdade, por meio de um pacto ou contrato, no qual o indivíduo se submete a uma autoridade que possa garantir a sua integridade e segurança. [3: GINZBURG, 2014, p. 3.]
	Sobre a tutela de uma autoridade maior, o homem passa do estado de natureza para o estado social, que impede o extermínio entre os indivíduos e permite a coexistência entre os mesmos. Assim, forma-se o Estado, o qual Hobbes chamará de Leviatã, “um nome que no Livro de Jó designa uma baleia, um gigantesco animal marinho que ninguém consegue fisgar com um anzol”. [4: GINZBURG, 2014, p. 3.]
	Como pode ser percebido, o Estado é fruto de um pacto nascido através do medo, um tema tão recorrente na vida de Hobbes, oriundo das rebeliões que assolavam a Europa em sua época e que atingiam principalmente a Inglaterra, em função das lutas sanguinárias entre rei e Parlamento. Portanto, para a filosofia hobbesiana, a paz constitui-se como um bem supremo merecedor de qualquer sacrifício, já que a própria formação da instituição estatal e a sujeição dos indivíduos a essa mesma, decorre da necessidade do ser humano em sobreviver.
	 Torna-se evidente, o uso do medo como uma ferramenta de consolidação do próprio Estado. Por conseguinte, Hobbes diverge de Aristóteles, atribuindo a origem do Estado como algo divergente a própria natureza do ser humano. Esmiuçando essa ideia, enquanto que para Aristóteles “o homem é um animal cívico”; logo, a polis, entendida como o Estado, constitui-se em um fenômeno natural. Inversamente, Hobbes como anteriormente evidenciado, atribui como característica inerente do estado de natureza a guerra de todos contra todos, enxergando no medo o mecanismo responsável pela renúncia por parte dos sujeitos aos seus direitos naturais. Sendo assim, o Estado para o filósofo contratualista diferentemente de Aristóteles, não é algo natural, mas sim uma construção artificial.[5: ARISTÓTELES, 2006, p. 12.]
	Uma vez que o Estado se estabelece por meio de um pacto, alguém deve ser o responsável por salvaguardar os termos prescritos de comum acordo. Para tanto, faz-se necessário que alguma instituição exerça opoder, que na visão hobbesiana pode ser exercído tanto por uma assembleia, por um parlamento quanto por um único soberano, nesse último caso, o rei. Porém, sua visão filosófica adverte: “as assembleias tendem, contudo, a reviver o conflito, devido às disputas entre várias facções ou partidos. Hobbes dá assim preferência a monarquia”. A própria postura do autor frente ao conflito da Revolução Inglesa comprova seu pensamento, já que durante a guerra civil inglesa defendeu o partido monárquico contra Cromwell, tendo suas obras censuras e vendo-se pressionado a exilar-se para a França Esboçando sua concepção de Estado como consta em sua obra Leviatã, sua percepção sobre legitimidade do poder torna-se mais clara:[6: MARCONDEZ, 2002, p. 198.]
 A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los [os indivíduos] das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda a sua força e poder a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possam reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade. O que equivale a dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens como representante de suas pessoas [...].[7: (Leviatã, parte II, cap. XVII), citado por MARCONDEZ, 2002, p. 199, grifo do autor.]
	A critério de comparação, Rousseau compreendendo o Estado como uma instituição que deve prezar pelo bem-comum e pela justiça, atribui sua legitimidade somente quando correspondente aos anseios da população, que pelo contrário, tem o direito de substitui-lo. 
	Rousseau reconhece a funcionalidade tanto da monarquia quanto da aristocracia como sistemas de governo, desde que esses referidos sistemas, funcionem em consonância com a vontade geral, por meio de assembleias periódicas que possam garantir que os soberanos não usurpem o poder. Porém, Rousseau defende como modelo, a criação de pequenos Estados regidos por uma democracia direta, em que os escolhidos para governar são meros instrumentos da vontade geral, e as leis são discutidas e aprovadas em conjunto com o próprio povo, cuja população reduzida permite a união popular com frequência. Adota-se como ideal de virtuosidade e justiça, a Roma republicana anterior aos césares, pois na visão do filósofo iluminista: “A República é vista como garantia da liberdade, valor colocado como condição à humanidade”. [8: VIEIRA; MENDES, 2009, p. 6.]
	Deve-se salientar, que a concepção de monarquia absolutista defendida por Hobbes, baseia-se na ideia de que o poder para ser exercido com sucesso, é preciso ser exercido de forma absoluta. Por sua vez, o exercício desse poder absoluto, não deve ser desempenhado de acordo com a vontade pessoal, mas em nome do contrato estabelecido com os demais indivíduos. Nesse sentido, Hobbes pode ser visto como um contratualista, já que interpreta a sociedade como resultante de um pacto social. Porém, diferente de Rousseau não é liberal, defendendo a instauração de um poder absoluto que assegure a paz civil. 
	Alicerceado a temática do Estado, tem-se a religião, que é parte dos elementos que o constituem. Tendo isso em mente, Hobbes dedicou-se a estudar a origem da religião, atribuindo-lhe uma origem semelhante ao do próprio Estado, sendo para ele: “oriunda do medo nascido das causas naturais, substituídas por potências invisíveis.” Contudo, tal concepção valeria somente para a religião pagã, pois o reconhecimento de um único Deus, quer dizer, o Deus Cristão, que é eterno, infinito e onipotente, seria resultante da curiosidade em conhecer as coisas e não originário do medo . Algo contraditório, ao levar-se em conta que o filósofo atribui o desejo de conhecer como causa de ansiedade e do “medo perene”.[9: GINZBURG, 2014, p. 6]
	Logo, tanto a origem da religião quanto a origem do Estado, obedecem a uma mesma funcionalidade: inicialmente ao medo, cuja intenção final é incutir a sujeição, sendo esta última, fruto de uma ficção que se impõem como uma nova realidade criada. Dessa forma, é perceptível a ligação existente entre o poder temporal e o poder espiritual, pois abaixo daquele Deus Imortal está o Deus Mortal (o soberano), e da união entre os dois, resulta-se a paz e a segurança. 
	Para tanto, na visão Hobbesiana, adverte que dentro do Estado a religião não possuí autonomia nenhuma, funcionado como um mecanismo de controle estatal, levando em conta que o controle do Estado não ocorre somente pela força, mas por outros mecanismos de sujeição, cuja religião é um dos principais. Por isso, o mesmo Estado que incute o terror, uma mistura de medo e sujeição, necessita para se legitimar das “armas da religião”. Consequentemente, a concepção de Estado moderno para Hobbes, como argumenta Ginzburg: “gira em torno de uma Teologia política: uma tradição inaugurada por Hobbes” [10: GINZBURG, 2014, p. 9.]
	 Nesse sentido, ao falar de formação do Estado, Hobbes toma por base as instituições estatais vigentes em sua época, que em alguns países, já se encontravam em decadência, um modelo estatal que Trevor-Roper convenientemente chama de “cortes renascentistas”. Afinal, o que são as cortes renascentistas se não o espelho do modelo de Leviatã descrito por Hobbes? Um Estado totalmente centralizado na figura de um soberano, o príncipe, que por sua vez, sustenta a sua imagem de soberania por meio de certos mecanismos, como a monopolização da força armada, a adoção de medidas que visam alimentar sua lealdade frente ao corpo burocrático que o cerca, bem como a consolidação de seu poder por vias espirituais, apoiando-se em seu caráter divino.[11: ROPER, 1975, p. 135.]
	Na Modernidade, estes Estados passaram a competir entre si, e para isso, como bem expõem Perry Anderson, os países desenvolveram mecanismos que viabilizem tal competição, formando exércitos nacionais, desenvolvendo mecanismos burocráticos e tributários mais eficientes, e estabelecendo a diplomacia. 
	Já na contemporaneidade, apesar da diferença contextual, é possível perceber que o cerne do pacto social ainda se mantem, ou seja, o ideal de difusão do terror como forma de se alcançar a sujeição. Mas agora, o terror se perpetua de maneira mais avançada, em vista do crescimento tecnológico das últimas décadas. Durante a Guerra Fria, por exemplo, o medo eminente de uma guerra de consequência globais gerava igualmente, um terror psicológico difundido universalmente. Nesse mesmo contexto, há também a competição entre duas potencias, Estados Unidos e União Soviética (os Leviatãs da época), cuja rivalidade gerava a sujeição dos demais países, sobretudo dos países de Terceiro Mundo.
	Desde então, o déficit de desenvolvimento entre os Estados somente aumentou, ao ponto de hoje, as potências mundiais, isto é, os Leviatãs, estarem mais poderosos do que nunca. Vive-se em uma época, cujos mecanismos que incutem o terror aperfeiçoam-se simultaneamente. Não se trata mais somente de religião ou poder bélico, mas ao controle sobre meios de comunicação e sobre anonimato do universo virtual. Assim, tal é a clareza atemporal da funcionabilidade dinâmica do pacto social, cujo reflexo evidencia-se no mundo atual, no qual, segundo Ginzburg: “Gigantescos Leviatãs se debatem convulsamente ou ficam de tocaia, esperando. Um mundo semelhante àquele pensado e investigado por Hobbes”.[12: GINZBURG, 2014, p. 11, grifo do autor.]

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