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2010
Claudia Amorim
Mariana Paladino
Cultura e Literatura 
Africana e Indígena
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
© 2010 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização 
por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: Jupiter Images/DPI Images
A524 Amorim, Claudia ; Paladino, Mariana / Cultura e literatura africana e 
Indígena. / — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2010.
180 p.
ISBN: 978-85-387-0965-7
1. Literatura africana 2. Cultura africana 3. Indígenas – Cultura 
4. Literatura Africana (Português) – História e Crítica I. Título II. Paladino, 
Mariana.
CDD 896
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Doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Ja-
neiro (UERJ). Mestre em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Rio de 
Janeiro (UFRJ). Especialista em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Graduada em 
Letras Português – Literaturas de Língua Portuguesa pela UFRJ.
Claudia Amorim
Doutora em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia 
Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAS/UFRJ). 
Mestre em Antropologia Social pelo PPGAS/UFRJ. Licenciada em Antropologia 
pela Universidad Nacional de La Plata, Argentina.
Mariana Paladino
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Sumário
A África lusófona: um pouco de história .......................... 11
Breve panorama histórico da África lusófona ................................................................. 12
A colonização das ilhas do Atlântico e da Costa Africana .......................................... 14
O Império Colonial Português nas ilhas e nas terras africanas ................................. 14
A independência dos cinco países africanos lusófonos .............................................. 16
Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos 
e na Guiné-Bissau ..................................................................... 29
Cabo Verde: história, cultura e literatura ........................................................................... 31
São Tomé e Príncipe: história, cultura e literatura ......................................................... 34
Guiné-Bissau: história, cultura e literatura ....................................................................... 37
Cultura e literatura em Angola ............................................ 45
Angola: história, cultura e literatura ................................................................................... 46
Cultura e literatura em Moçambique ............................... 59
Moçambique: história, cultura e literatura ....................................................................... 61
África lusófona e Brasil: laços e letras ................................ 77
Os africanos no Brasil: um pouco de história .................................................................. 77
Estudos afro-brasileiros na contemporaneidade .......................................................... 90
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História e historiografia indígena .....................................101
O sistema colonial e missionário (1549–1755) .............................................................102
O Diretório dos Índios e o retorno da ação missionária (1755–1910) .................108
O Regime tutelar (1910–1988) ...........................................................................................110
As imagens sobre os índios nos séculos XVIII, XIX e XX .............................................114
Visões indígenas do contato ...............................................................................................115
Situação contemporânea dos povos indígenas ..........123
Quem são e quantos são os povos indígenas hoje no Brasil ..................................123
Diversidade linguística e cultural ......................................................................................128
Formas de organização social e parentesco ..................................................................132
Economias indígenas .............................................................................................................133
Religiões indígenas .................................................................................................................134
Demandas, conquistas e projetos 
do movimento indígena ......................................................143
Lutas do movimento indígena ...........................................................................................143
Conquistas legais ....................................................................................................................146
O avanço no processo de escolarização dos povos indígenas ...............................149
Escritores e literatura indígena ..........................................................................................152
Artistas e cineastas indígenas .............................................................................................154
Gabarito .....................................................................................165
Referências ................................................................................173
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Apresentação
Muito bem-vindos aos estudos de cultura, história e literatura africana e indíge-
na. Esses estudos visam proporcionar a vocês, alunos dos cursos de graduação em 
Letras, sólidos subsídios para o conhecimento das culturas e literaturas africanas de 
língua portuguesa e da cultura, história e literatura indígena, a fim de que esses co-
nhecimentos ampliem a compreensão da diversidade da cultura brasileira na qual 
nos inserimos.
Além disso, a obrigatoriedade de abordar nos currículos das escolas públicas 
e privadas conteúdos da África e dos descendentes de africanos no Brasil (Lei 
10.639/2003) e da história indígena e a cultura desses povos (Lei 11.465/2005) 
propiciou a demanda por esses conhecimentos. Também a homologação do 
Acordo Ortográfico, que unificou a grafia do português, estimulou uma aproxi-
mação entre as culturas irmãs de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique 
e São Tomé e Príncipe, que constituem a África de língua portuguesa, e o Brasil.
Resumir em alguns capítulos a cultura e a literatura de cada um dos países afri-
canos de língua portuguesa e a cultura, a história e a literatura indígena no Brasil 
não foi tarefa fácil. No primeiro caso devido à necessidade de nos remetermos à 
história e à cultura secular dos países africanos referidos. No segundo caso, pela 
diversidade de formas de vida, cultura e organização social dos povos indígenas 
existentes hoje no país, o que torna complexa a composição de um quadro geral.
Privilegiamos em primeiro lugar as informações históricas para, em segui-
da, focalizarmos a cultura e a literatura africana e indígena, uma vez que sem um 
conhecimento prévio da história dos povosda África de língua portuguesa, dos 
povos indígenas e de como os portugueses, nos séculos XV e XVI, provocaram essa 
ligação entre regiões tão distantes, por meio das navegações, qualquer estudo que 
estabeleça associações entre essas culturas não será completo. No caso dos indíge-
nas também se privilegiou a compreensão dos processos de mudança ocorridos 
a partir da Constituição de 1988, quando o Estado reconheceu sua condição de 
povos e o direito à posse dos territórios tradicionalmente ocupados por eles. Decor-
rente desses processos situa-se a produção de uma literatura indígena que procura 
expressar, por meio da escrita, uma diversidade de conhecimentos e relatos orais, 
de modo que possam ser conhecidos pela sociedade não indígena.
Assim, com o intuito de facilitar as informações, dividimos o conteúdo deste 
curso em 8 capítulos, dedicando os cinco primeiros aos estudos da história, da cul-
tura e da literatura dos cinco países africanos de língua portuguesa, os chamados 
Palop (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), e os 3 capítulos restantes 
para os estudos sobre a história, a cultura e os modos de vida contemporâneos 
dos povos indígenas no Brasil. 
Esperamos, então, que vocês façam uma boa leitura dos capítulos que ora 
se apresentam e descubram, nesses estudos, a presença africana e indígena ao 
longo da história do Brasil e a relevância atual que suas culturas possuem, enri-
quecendo a diversidade de nosso país.
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mais informações www.iesde.com.br
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Claudia Amorim
O objetivo deste capítulo é apresentar um breve panorama da ocupa-
ção portuguesa, na África, que se iniciou na segunda década do século XV 
(1415), com a conquista da cidade de Ceuta, no Marrocos, e se finalizou 
na segunda metade do século XX, com a independência dos cinco países 
africanos colonizados pelos portugueses.
Durante esses cinco séculos de ocupação portuguesa na África, a cul-
tura do colonizador se misturou, ainda que timidamente, com a do coloni-
zado, malgrado os esforços dos europeus em impor a cultura dominante. 
Antes da chegada do europeu na África, quase nada se sabia sobre o modo 
de vida ou sobre a organização dos grupos étnicos que lá viviam, porém 
é inegável que a cultura secular e ágrafa desses povos permaneceu e se 
difundiu por outros territórios ocupados pela nação lusa, como o Brasil, 
por exemplo, que recebeu um grande número de escravos provenientes 
da África, especialmente do Congo, da Guiné e de Angola (grupo étnico 
banto) e da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim (grupo étnico sudanês).
No Brasil colonial, a cultura portuguesa do colonizador, a cultura africana e 
a cultura indígena foram os pilares da constituição do caráter brasileiro, ainda 
que o colonizador europeu, branco, tenha subjugado o negro e o índio e suas 
culturas não cristãs e, por isso, naquela época, consideradas “inferiores”.
Contemporaneamente, os laços culturais que aproximam a cultura bra-
sileira da África lusófona são inúmeros e passam, entre outras coisas, pela 
música, pelas crenças religiosas, pela culinária e pela literatura que se ex-
pressa em português.
Assim, para falarmos da cultura e da literatura africana, e de seus inegáveis 
laços com o Brasil, precisamos voltar no tempo e observar que, sem os empre-
endimentos marítimos dos portugueses que os levaram a algumas regiões da 
África, e também ao nosso território, essa história seria bem diferente.
Comecemos, então, por estudar a África lusófona, ou seja, a África dos 
cinco países que falam hoje o português (Cabo Verde, São Tomé e Prín-
cipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique), focalizando primeiramente a 
chegada do português a essas regiões.
A África lusófona: um pouco de história
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12
A África lusófona: um pouco de história
Breve panorama 
histórico da África lusófona
No ano de 1415, os portugueses tomaram dos mouros, em apenas um dia de 
combate, a cidade de Ceuta, no Marrocos. Essa importante vitória da cristanda-
de sobre os “infiéis”, já nos primórdios do Renascimento, guarda um significado 
simbólico também por ter sido exatamente de Ceuta que Tarik e o seu exército 
de 7 mil berberes partiram no ano de 711 para invadir a Península Ibérica, per-
manecendo na Península durante sete séculos.
Para além do espírito cruzadístico dessa empreitada, a conquista de Ceuta 
foi o primeiro passo do caminho que levou os navegadores portugueses da Pe-
nínsula Ibérica ao Extremo Oriente e ao Brasil no final do século XV e início do 
século XVI.
A cidade de Ceuta era o ponto de chegada das rotas comerciais oriundas 
do sul da Berbéria (nome com que os europeus designaram, até o século XIX, a 
região que hoje compreende o Marrocos, a Argélia, a Tunísia e a Líbia – o atual 
Magreb com exceção do Egito), e das caravanas com o ouro proveniente da 
Guiné. Essas riquezas encontradas em Ceuta fizeram com que os portugueses 
adivinhassem que havia outras maiores espalhadas em alguns pontos do con-
tinente africano. Na intenção de dominar esse comércio, ao mesmo tempo em 
que buscava contato com um suposto soberano cristão na África – Preste João 
das Índias1 –, a política de expansão portuguesa adotou a exploração da África 
em detrimento da ocupação de territórios ao longo do Mediterrâneo.
Assim, a expansão portuguesa teve início no norte da África, seguiu para o sul 
ao longo da costa ocidental africana, alcançando as ilhas do Atlântico e depois 
avançou pela costa oriental do continente africano ao longo do Oceano Índico, 
em direção ao Oriente e ao Extremo-Oriente, chegando finalmente à região do 
Atlântico Sul com a colonização do Brasil.
O desejo de lutar contra os mouros e de alargar o império de Cristo entre os 
povos não cristãos vai se misturando, pouco a pouco, a perspectivas economica-
mente mais enriquecedoras. A exploração da Costa Africana onde os navegantes 
encontraram pimenta malagueta, canela e outras especiarias, além do marfim e 
do ouro, se mostrava bastante lucrativa. Assim, novas expedições se organiza-
ram pelos mares já navegáveis da Costa ocidental e oriental da África, marcando 
um período da história conhecido como Descobrimentos Portugueses.
O mapa a seguir indica os territórios ocupados pelos portugueses e a rota das 
navegações portuguesas a partir de 1415 até meados do século XVI.
1 Nos séculos XV e XVI corria uma lenda na Europa de que havia um rei cristão no Oriente, cujo nome era Preste João das Índias, e acreditava-se 
que seu reino, que não se sabia precisar exatamente onde ficava, mas que se pensava ser na África, poderia ser aliado europeu para a exploração do 
caminho marítimo para as Índias. A Coroa Portuguesa, a partir dos relatos de viajantes e peregrinos, tentou encontrar o reino de Preste João com 
o desejo de fazer possíveis alianças.
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A África lusófona: um pouco de história
13
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IESDE Brasil S.A. Adaptado.
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A África lusófona: um pouco de história
A colonização das ilhas 
do Atlântico e da Costa Africana
Nos anos seguintes à tomada de Ceuta, os navegadores portugueses empre-
enderam seu movimento para o sul, chegando em 1418 à ilha de Porto Santo, 
em 1419 à Ilha da Madeira, em 1427 aos Açores, em 1460 às ilhas de Cabo Verde 
e em 1470 às ilhas de São Tomé e Príncipe, todas desabitadas. Nos primeiros 
arquipélagos – Porto Santo, Madeira e Açores – o clima favorecia a ocupação e 
o trabalho na terra, e ali se estabeleceram, então, as primeiras colônias de po-
voamento. Nos demais arquipélagos – Cabo Verde e São Tomé e Príncipe –, os 
portugueses fundaram colônias de plantação, não se preocupando com o povo-
amento da região.
Nas terras continentais, no ano de 1446, os portugueses alcançaram a Guiné-
-Bissau (a que colonizaram com o nome de Guiné Portuguesa), em 1483 che-
garam à região que hoje se conhece como Angola e, após a viagem de Barto-
lomeu Dias, que venceu o Cabo das Tormentas (renomeado para Cabo da Boa 
Esperança, devido ao sucesso da empreitada), Vasco da Gama pôde preparar sua 
armada para uma viagem até a Índia. Em 1488, Gama partiu da Praia do Restelo 
em Lisboa, onde está atualmente a Torre de Belém, avançando para o sul até 
alcançar o Oceano Índico. Antes que o propósito de sua viagem se concluísse, as 
caravelas portuguesas aportaram em Moçambique no ano de 1489.
Em cada lugar em que as caravelas portuguesas aportavam, um padrão de 
pedra com as armas e o brasão português era fincado. O padrão simbolizava a 
posse oficial do território. Essa medida da Coroa Portuguesa visava a desencora-
jar intrusos e reforçar o senhorio sobre as terras ocupadas.
O Império Colonial Português 
nas ilhas e nas terras africanas
A extensão do Império Português no Oriente e no Extremo Oriente obrigou 
a Coroa Portuguesa à fragmentação das possessões portuguesas na África. O 
alto custo da manutenção em algumas cidades do Marrocos fez com que a 
Coroa abandonasse essa região. Os gastos numerosos com a defesa da Costa 
da África, especialmente com os ataques de corsários e comerciantes de outros 
países europeus, enfraqueceram a Coroa Portuguesa. Porém, mesmo com esses 
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A África lusófona: um pouco de história
15
revezes, nos séculos seguintes, o Império Colonial Português se sustentou e as 
colônias portuguesas na África continuaram a ser sistematicamente exploradas. 
Para garantir as terras na África, a Coroa Portuguesa concedia as terras, por um 
período de tempo limitado (cerca de três gerações), aos colonos que desejassem 
explorá-las. Ao fim desse período, a concessão deveria ser renovada. Os colonos 
tinham como tarefa defender os interesses portugueses nas terras do além-mar 
e pagar por essa concessão com o produto dos territórios que lhes eram confia-
dos. No entanto, gradativamente, o mundo dos senhores ia se misturando com 
o dos africanos e indianos locais, alterando as relações de poder.
Nesse período, outro “negócio” começou a ganhar força – o tráfico negreiro. 
Por volta de 1648, os portugueses ocuparam os locais estratégicos no comércio 
de escravos, que se tornou indispensável a todas as colônias da América. A eco-
nomia de plantação – especialmente na América – demandava uma maior ex-
portação de escravos africanos que se tornou sistemática. Entre os anos de 1502 
e 1860, 9,5 milhões de africanos foram deportados para o continente americano, 
e no século XVIII, com a descoberta do ouro em Minas Gerais e a necessidade de 
extraí-lo, muitos negros da região de Angola foram enviados ao Brasil.
A Guiné Portuguesa foi inicialmente a principal fornecedora de mão de obra 
escrava para o continente americano, sendo depois substituída por Angola, país 
que manteve essa posição até o século XVIII. Nos fins desse mesmo século e du-
rante o século XIX a região do Golfo da Guiné3 ocupou a supremacia do tráfico 
negreiro, que havia sido de Angola no século anterior, e a feitoria de São Jorge da 
Mina4, em Gana, foi o principal porto de escoamento de escravos para a América.
O início do século XIX trouxe mudanças significativas para a situação da África 
portuguesa. Com a independência do Brasil, em 1822, Portugal se viu pressio-
nado a enfrentar as demais potências europeias para assegurar seus “direitos” 
sobre os territórios africanos ocupados.
Pressionado pela política europeia, Portugal extingue o tráfico negreiro no 
Império em 1842, e em 1869 declara o fim da escravidão, embora esse tráfico 
continuasse a ser feito durante os anos seguintes. Nas colônias, a política de ex-
ploração das riquezas tinha seguimento e, para tanto, Portugal precisou instituir 
uma legislação trabalhista que obrigava o nativo ao trabalho forçado nas planta-
ções de algodão ou nas obras públicas.
3 Golfo da Guiné é uma reentrância próxima às Ilhas de São Tomé e Príncipe e compreende o litoral da Costa do Marfim, Gana, Togo, Benim, Nigéria, 
Camarões, Guiné Equatorial e a parte norte do Gabão.
4 A feitoria de São Jorge da Mina, em Gana, é a construção europeia mais antiga ao sul do deserto do Saara.
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16
A África lusófona: um pouco de história
Paralelamente às pressões externas, ao longo do século XIX, a vida nos ter-
ritórios africanos mudava lentamente. A essa altura, uma população mestiça e 
burguesa, ainda que em número reduzido, vai se formando nas colônias do ultra-
mar, reivindicando melhores condições para essas terras. Aparecem os primeiros 
assimilados, nome pelo qual eram identificados os descendentes de portugue-
ses, geralmente mestiços, nascidos na África, que recebiam uma educação mais 
formal. Nessa época, alguns poucos jornais circulavam pelas mais importantes 
cidades da África portuguesa, instaurando a necessidade de uma educação nas 
regiões mais importantes do ultramar.
As demais nações europeias, interessadas em repartir a África, pressionaram 
Portugal a abrir mão de alguns de seus territórios. Na Conferência de Berlim, 
de 1885, Portugal perdeu o Congo e teve que se contentar com o enclave de 
Cabinda, região próxima a Angola. No entanto, apesar desse recuo, Portugal é, 
no fim do século XIX, senhor de dois milhões de quilômetros quadradros no 
território africano.
A independência dos 
cinco países africanos lusófonos
A Guerra Colonial durou treze anos – de 1961 a 1974 – e pôs fim à ocupação 
portuguesa no território africano. Essa guerra ficou conhecida, ainda, entre os 
portugueses, como Guerra do Ultramar ou Guerra da África. Entre os povos dos 
territórios ocupados duas denominações foram adotadas: Guerra de Libertação 
Nacional e Guerra pela Independência.
Ao longo desses cinco séculos de domínio português nas colônias da África, 
houve muitas tentativasde resistência dos povos locais, mas a supremacia bélica 
dos portugueses, aliada às disputas políticas entre as diversas etnias das regi-
ões ocupadas, favoreceram o domínio lusitano, dando lugar ao Império Colonial 
Português que abrangia não só territórios na África, mas também na América do 
Sul, com o Brasil, e, ainda, na Índia e na Ásia.
Como afirma Kabengele Munanga (1986), quando os primeiros europeus 
desembarcaram nas terras africanas, encontraram estados organizados politica-
mente, mas essa organização não foi capaz de reverter a ocupação europeia, 
pois o desenvolvimento técnico dos estados africanos, incluída a tecnologia de 
guerra, era inferior ao dos portugueses.
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A África lusófona: um pouco de história
17
A República Portuguesa 
e o golpe militar de 1926
No início do século XX, a situação das colônias africanas lusófonas não se al-
terou muito em relação ao século anterior. Segundo Enders (1997, p. 69), para 
“Portugal, como para as outras potências europeias, a colonização supõe a con-
quista, o desenvolvimento de uma economia de exportação e a submissão da 
mão de obra indígena para o trabalho e para o imposto”. Com isso, o trabalho 
de exploração das terras africanas, sem nenhum investimento econômico, conti-
nuou e se agravou com o início das duas grandes guerras mundiais.
A curta vida da República Portuguesa, que surgiu em 1910 e foi derrubada 
pelo golpe militar de 1926, põe fim às pretensões dos republicanos, inauguran-
do um longo período ditatorial marcado por perseguições de toda ordem, re-
trocesso político e econômico, com reflexos graves nas colônias do ultramar. Em 
1928, Antônio de Oliveira Salazar – um professor de Coimbra – foi convidado a 
assumir a Pasta das Finanças do país e a partir dessa data inaugurou-se um pe-
ríodo difícil da história de Portugal. É o início da ditadura salazarista, nome pelo 
qual ficou conhecido o regime ditatorial em Portugal, que teve início em 1926 e 
só terminou em 1974, com a Revolução dos Cravos.
Como observa José Paulo Netto (1986, p. 18), durante a ditadura salazarista 
“[...] um projeto econômico-social se integra organicamente à repressão antipo-
pular e antidemocrática. Trata-se, explícita e nitidamente, do projeto fascista do 
grande capital, de que Salazar se fez um funcionário coerente, lúcido e pertinaz”.
Entre 1929 e 1933, Salazar acumulou os Ministérios das Finanças e das Colô-
nias, e com mão de ferro tomou medidas duras contra a enfraquecida oposição. 
Em 1932, instaurou o Ato Colonial, que instituiu o trabalho forçado para os na-
tivos das colônias, obrigando a população negra a servir por um determinado 
período de sua vida ao Estado ou a um patrão europeu. Esse Ato Colonial era, na 
verdade, uma reedição do trabalho forçado instituído no século XIX pela Coroa 
Portuguesa aos nativos dos territórios africanos ocupados. Além disso, a dita-
dura salazarista criou a polícia política portuguesa – PVDE (Polícia de Vigilância 
e Defesa do Estado), mais tarde conhecida como PIDE (Polícia Internacional de 
Defesa do Estado), que também teve sua área de atuação nas colônias do ultra-
mar, especialmente nos anos 1960 quando se inicia um movimento de grande 
revolta nas colônias contra a política da Metrópole.
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A África lusófona: um pouco de história
Além do trabalho forçado nas colônias africanas, instituído pelo Ato Colonial, 
o regime português continuou a explorar vorazmente suas riquezas, especial-
mente algodão, cana-de-açúcar, café, petróleo, entre outros produtos. Os lucros 
obtidos com essa exploração eram revertidos para a Metrópole, ao passo que as 
colônias amargavam uma situação de penúria e ausência de perspectiva.
O descontentamento com essa política de exploração aumentou visivelmen-
te na década de 1950 e, durante essa mesma época, disseminaram-se na África 
as ideias do Movimento da Negritude, criado em 1934, em Paris, por um grupo de 
poetas e intelectuais negros. O Movimento da Negritude defendia uma revolu-
ção na linguagem e na literatura, a fim de reverter o sentido pejorativo da pala-
vra negro e dela extrair um sentido positivo. Em 1939, o poeta negro martinica-
no Aimé Césaire o utilizou pela primeira vez em um trecho do ”Cahier d’un Retour 
au Pays Natal” (Caderno de um Regresso ao País Natal), poema que se tornou a 
obra fundadora da Negritude. Inspirados pela luta dos negros norte-americanos, 
que combatia a discriminação racial e a intolerância, os adeptos do Movimento 
da Negritude defendiam o respeito à diferença e a valorização das características 
próprias da cultura negra.
Nesse ínterim, a situação de alguns dos territórios africanos colonizados 
por franceses ou ingleses, por exemplo, ganhava outro estatuto. Alguns novos 
países independentes surgiam na África acelerando o processo de descoloniza-
ção. Todas essas lutas eram estimuladas pela ação do Movimento da Negritude 
que defendia a valorização dos negros e da sua cultura e pelas lutas dos negros 
norte-americanos contra o racismo.
Desse modo, a grande insatisfação com a política salazarista para as colô-
nias, a disseminação das ideias do Movimento da Negritude, a luta dos negros 
norte-americanos contra o racismo e a independência de países africanos co-
lonizados pela França e pela Inglaterra foram os propulsores dos movimentos 
independentistas nas “províncias ultramarinas” portuguesas.
A criação dos movimentos pela 
independência das colônias na África Portuguesa
Na esteira desses acontecimentos, em meados da década de 1950, surgia, 
na Guiné Portuguesa, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné 
e Cabo Verde), cujo líder era Amílcar Cabral, e em Angola o MPLA (Movimento 
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A África lusófona: um pouco de história
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Popular de Libertação de Angola), sob a liderança do poeta Agostinho Neto. Na 
década seguinte, em 1962, um ano após o início da guerra pela independência 
em Angola, surgia em Moçambique a FRELIMO (Frente Nacional de Libertação 
de Moçambique), sob o comando de Eduardo Mondlane.
Todos esses movimentos africanos pela independência têm entre seus líde-
res escritores, poetas, jornalistas e outros intelectuais, muitos dos quais antigos 
estudantes da Casa do Estudante do Império (CEI), em Lisboa – (havia uma em 
Coimbra também). Essas casas funcionavam como um ponto de reunião de 
jovens estudantes oriundos de vários territórios do ultramar, especialmente dos 
países africanos, e especificamente a CEI de Lisboa acabou se tornando um local 
estratégico e decisivo para a tomada de consciência e organização dos jovens 
estudantes africanos, em sua maioria angolanos, que se aliaram aos estudantes 
e intelectuais portugueses contrários ao regime fascista. Centro de articulação 
política e resistência, a CEI de Lisboa também funcionou como um espaço para 
o surgimento de uma literatura de valorização das raízes africanas.
Como observa Manuel Ferreira (1977, p. 34):
A partir do início da década de 1960 a vida literária (e cultural, de certo modo) de Angola 
só poderá ser apreendida na totalidade se estivermos atentos ao que se desenrola na Casa 
dos Estudantes do Império, em Lisboa. Aliás também em Coimbra onde tiveram lugar várias 
iniciativas, a partir da década de 1950. A Casa dos Estudantes do Império transforma-se no 
centro aglutinador dos estudantes e intelectuais africanos. Mas a predominância da sua 
composição é angolana, como predominantemente angolana é a sua atividade editorial.
Na entrada dos anos 1960, a situação nas colônias portuguesas do ultramar 
se torna mais difícil, forçando-as à luta armada pela conquista da independência.Nesse momento, à exceção de São Tomé e Príncipe e de Cabo Verde, cuja contri-
buição para os movimentos de independência consistiu em enviar guerrilheiros 
para engrossarem a luta armada das outras colônias, Angola, Guiné Portuguesa 
e Moçambique iniciam sua guerra pela independência.
O movimento armado é deflagrado em Angola quando no norte do país um 
grupo de agricultores protesta violentamente contra a política de plantação com-
pulsiva de algodão, queimando armazéns de algodão e escorraçando os compra-
dores. O regime salazarista responde à revolta com violência e como reação a isso, 
em fevereiro de 1961, em Luanda, capital de Angola, um grupo organizado do 
MPLA toma de assalto a prisão da cidade para libertar os líderes do movimento. 
Munidos de catanas5 e algumas poucas armas automáticas, o movimento não 
logra bons resultados e a repressão que a ele se segue é extremamente dura.
5 Catana é um tipo de facão usado para cortar mato.
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A África lusófona: um pouco de história
Em razão desses acontecimentos, alguns antigos colonos e brancos que 
haviam chegado recentemente a Angola conseguem permissão do regime para 
invadir os bairros nos quais moravam os negros (os musseques) e ali atacar qual-
quer um que considerassem suspeito. Desse episódio resultaram muitas mortes, 
em sua maioria de jovens assimilados – que são justamente aqueles que se 
aculturaram, deixando suas raízes negras para frequentar as escolas de brancos. 
Reagindo a essa matança, os movimentos organizados em Angola respondem 
com a luta armada que irá se disseminar também por outras regiões da chamada 
África lusófona como a Guiné Portuguesa (1963) e Moçambique (1964). É o início 
da Guerra Colonial.
A Guerra Colonial durou 13 anos em Angola (1961–1974), 11 anos na 
Guiné (1963–1974) e 10 anos em Moçambique (1964–1974). Durante essa 
época, cerca de 800 mil jovens portugueses foram mobilizados para a guerra 
na África, onde permaneceriam em média 29 meses, ou seja, quase 10% da 
população portuguesa e 90% da juventude masculina da época estiveram 
diretamente envolvidas com os conflitos na África. Do lado africano, a mo-
bilização do contingente masculino foi massiva. Muitos se envolveram na 
guerra por motivações político-ideológicas, outros se aliaram às guerrilhas 
aliciados pelas necessidades que se criaram em razão especialmente da falta 
de mantimentos. Essa guerra também propiciou que, em Portugal, as forças 
contrárias ao regime Salazar/Caetano6 se unissem aos oficiais – especialmen-
te tenentes e capitães – do Movimento das Forças Armadas (MFA), que inicia-
ram na madrugada do dia 25 de abril de 1974 uma revolução para derrubar o 
regime ditatorial e por fim à guerra na África. Esse movimento ficou conheci-
do como Revolução dos Cravos.
A guerra na África marcou o início do fim do Império Colonial Português e 
foi um dos fatores que propiciou a queda da ditadura salazarista. No entanto, 
um legado cultural, para além da língua portuguesa – oficialmente adota-
da pelos países africanos já independentes, consolidou-se nos cinco países 
do PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). Certos traços da 
cultura portuguesa e a adoção e o uso da língua portuguesa nesses países, 
ainda que modificada e enriquecida pelas diversas línguas locais, são exem-
plos de como a cultura portuguesa enraizou-se nos territórios africanos an-
teriormente ocupados.
6 Marcello Caetano (1906–1980) substituiu, em 1968, Antônio de Oliveira Salazar (1889–1970) que ocupava o cargo de Presidente do Conselho 
de Ministros em Portugal. Caetano, embora menos rigoroso que Salazar, levou adiante a política salazarista até o fim da ditadura em 25 de abril 
de 1974, quando o Movimento das Forças Armadas Portuguesas, apoiado pelas forças progressistas da sociedade portuguesa, pôs fim à longa 
ditadura que vigorava desde 1926 em Portugal.
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A África lusófona: um pouco de história
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Texto complementar
O poema que você vai ler, do santomense Francisco José Tenreiro (1921–
1963), trata da saga africana, que se inicia com a chegada dos europeus à 
África. É interessante notar que, ao contrário da epopeia camoniana, Os 
Lusíadas (1572), de Luís Vaz de Camões, a façanha heroica aqui abordada 
não é a façanha lusa, mas a façanha heroica dos negros que buscaram re-
sistir à dominação branca, porém acabaram sendo levados como escravos 
para outras terras. O poema mostra, ainda, a saga do negro nessas terras, 
lutando para fazer existir a sua cultura e termina evocando-o à luta pela 
dignidade com novas armas, novas azagaias1.
Epopeia
(TENREIRO, Francisco José in ANDRADE, 1975, p. 137-139)
Não mais a África
da vida livre
e dos gritos agudos de azagaia!
Não mais a África
de rios tumultuosos
– veias entumecidas dum corpo em sangue!
Os brancos abriram clareiras
a tiros de carabina.
Nas clareiras fogos
arroxeando a noite tropical.
Fogos!
Milhões de fogos
num terreno em brasa!
1 Azagaia é uma espécie de lança curta usada pelos africanos, especialmente na África do Sul.
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A África lusófona: um pouco de história
Noite de grande lua
e um cântico subindo
do porão do navio.
O som das grilhetas
marcando o compasso!
Noite de grande lua
e destino ignorado!...
Foste o homem perdido
em terras estranhas!...
No Brasil
ganhaste calo nas costas
nas vastas plantações do café!
No norte
foste o homem enrodilhado
nas vastas plantações do fumo!
Na calma do descanso nocturno
só a saudade da terra
que ficou do outro lado...
– só as canções bem soluçadas –
dum ritmo estranho!...
Os homens do norte
ficaram rasgando
ventres e cavalos
aos homens do sul!
Os homens do norte
estavam cheios
dos ideais maiores
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A África lusófona: um pouco de história
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tão grandes
que tudo foi um despropósito!...
Os homens do norte
os mais lúcidos e cheios de ideais
deram-te do que era teu
um pedaço para viveres...
Libéria! Libéria
Ah!
Os homens nas ruas da Libéria
são dollars americanos
ritmicamente deslizando...
Quando cantas nos cabarés
fazendo brilhar o marfim da tua boca
é a África que está chegando!
Quando nas Olimpíadas
corres veloz
é a África que está chegando!
Segue em frente
irmão!
Que a tua música
seja o ritmo de uma conquista!
E que o teu ritmo
seja a cadência de uma vida nova!
... para que a tua gargalhada
de novo venha estraçalhar os ares
como gritos de azagaia!
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A África lusófona: um pouco de história
Dicas de estudo
História da África Lusófona � , de Armelle Enders, Editorial Inquérito.
 Essa obra da historiadora francesa Armelle Enders, da Universidade Paris-
IV- Sorbonne, aborda a história da África de língua portuguesa, focalizando 
desde a chegada dos portugueses a Ceuta até o fim do Império Colonial 
Português com a saída dos portugueses da África, após o fim da Guerra 
Colonial.
Negritude: usos e sentidos � , de Kabengele Munanga, Editora Ática.
 Essa obra do antropólogo Kabengele Munanga, professor titular da Facul-
dade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, nascido no Zaire, é 
bastante interessante para quem quer iniciar seus estudos sobre cultura 
negra e negritude.
Capitães de Abril � . Direção: Maria de Medeiros. Elenco: Stefano Accorsi, Ma-
ria de Medeiros, Joaquim de Almeida, Frédéric Pierrot. LusomundoAudio-
visuais S.A., 2000.
 Esse filme, dirigido pela portuguesa Maria de Medeiros, ilustra bem o 
momento em que, ao som de “Grândola, Vila Morena”, é deflagrado em 
Portugal o movimento de revolta dos capitães das forças armadas contra 
os rumos da política de Marcello Caetano na África. Esse movimento, que 
depois ficou conhecido como Revolução dos Cravos, devolveu a liberdade 
política ao país que viveu sob a ditadura desde 1926 até o dia 25 de abril 
de 1974.
Estudos literários
1. Em 1415, a conquista da cidade de Ceuta, no Marrocos, foi estratégica para a 
empreitada portuguesa pelos mares do ocidente. Por que motivos partiram 
os portugueses até Ceuta? E por que quando lá chegaram abandonaram a 
ideia da ocupação dos territórios ao longo do Mar Mediterrâneo?
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A África lusófona: um pouco de história
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2. Como se desenvolveu a política de exploração das colônias na África? 
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A África lusófona: um pouco de história
3. Qual a importância dos encontros de jovens estudantes na Casa do Estudan-
te do Império?
4. Quais foram os fatores que desencadearam a luta dos povos africanos das 
colônias contra o regime fascista de Salazar?
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A África lusófona: um pouco de história
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Cultura e literatura nos arquipélagos 
lusófonos e na Guiné-Bissau
Claudia Amorim
O objetivo deste capítulo é apresentar as características históricas, 
culturais e literárias de dois arquipélagos, Cabo Verde e São Tomé e Prín-
cipe, e da Guiné-Bissau, territórios africanos colonizados por Portugal 
no século XV e tornados independentes a partir de 1975. Após a inde-
pendência, essas três ex-colônias portuguesas adotaram oficialmente 
a língua portuguesa, mas quase todos os cidadãos desses países falam, 
paralelamente ao português, um crioulo1 como língua materna.
Os arquipélagos de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, assim 
como a Guiné-Bissau (que foi colonizada com o nome de Guiné Portu-
guesa), localizam-se na Costa Ocidental da África e foram descobertos 
pelos portugueses no século XV. A partir dessa época, fizeram parte 
do chamado Império Colonial Português até 1975, quando a Revolu-
ção dos Cravos, ocorrida em Portugal, pôs fim ao domínio imperial dos 
portugueses na África.
Essa Revolução foi consequência, entre outras coisas, da Guerra Co-
lonial que desde 1961 mobilizou três das colônias africanas portugue-
sas – Angola, Guiné Portuguesa e Moçambique – contra a ditadura de 
Antônio de Oliveira Salazar e Marcello Caetano2. Os arquipélagos de 
Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe não participaram diretamente 
dos conflitos armados, tentando por via diplomática sua independên-
cia. No entanto, muitos cabo-verdianos e santomenses se deslocaram 
até os territórios em guerra no continente africano para reforçar a luta 
dos povos locais pela independência.
1 O crioulo é a língua materna das regiões colonizadas e é uma língua que evoluiu do pidgin, uma espécie de sistema verbal com que 
dois povos não usuários de um idioma comum se comunicam. O pidgin nasce geralmente da necessidade de uma comunicação comer-
cial e, quando alcança a condição de língua materna de um grupo de indivíduos, ele se torna um crioulo.
2 Antônio de Oliveira Salazar assumiu em Portugal a Pasta das Finanças e das Colônias em 1928, dois anos após o golpe militar que 
derrubou a República, e deixou o cargo de Presidente do Conselho de Ministros somente em 1968, sendo substituído nessa função por 
Marcello Caetano que ficou no posto até a Revolução dos Cravos, ocorrida no dia 25 de abril de 1975.
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
A seguir, no mapa da África, podemos visualizar esses territórios e perce-
ber como foram estratégicos às naus portuguesas avançando pelo Oceano 
Atlântico em direção ao sul. 
Fonte: Temática Cartografia.
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0 420Km
Escala gráfica aproximada
MAPA POLÍTICO DA ÁFRICA
Nos séculos seguintes, a Coroa Portuguesa explorou os territórios ocupados 
de modo mais ou menos similar. Mas, cada um desses territórios apresentou 
também as suas particularidades.
Para conhecer-nos melhor essas três ex-colônias portuguesas na África, pas-
semos a focalizar cada uma delas, começando, em primeiro lugar, a mostrar as 
características históricas, culturais e literárias do arquipélago de Cabo Verde, em 
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
31
segundo lugar, as do arquipélago de São Tomé e Príncipe e, finalmente, focalizare-
mos a história, a cultura e a literatura da Guiné-Bissau, antiga Guiné Portuguesa.
Cabo Verde: história, cultura e literatura
Para começarmos a conhecer Cabo Verde, segue o mapa das dez ilhas que 
compõem esse arquipélago. 
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MAPA DE CABO VERDE
0 40 Km
Escala gráfica aproximada
Fonte: Temática Cartografia.
O arquipélago de Cabo Verde, composto por um conjunto de dez ilhas – Ilha 
de Santo Antão, Ilha de São Vicente, Ilha de Santa Luzia, Ilha de São Nicolau, 
Ilha do Sal, Ilha da Boa Vista, Ilha do Maio, Ilha de São Tiago, Ilha do Fogo, Ilha 
Brava –, numa extensão de 4 033 quilômetros quadrados, foi descoberto pelos 
portugueses por volta do ano de 14603 e, na época, todas as suas ilhas estavam 
3 A data de 1460 é controversa, embora seja adotada por muitos historiadores portugueses como Antônio Sérgio, por exemplo. Para outros estu-
diosos, como Armelle Enders, os portugueses aportaram nas ilhas de Cabo Verde entre 1456 e 1462.
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
desabitadas. Dispersos pelas ilhas, a estimativa é de que o arquipélago contenha 
em 2009 aproximadamente 423 263 habitantes, segundo a página oficial do Go-
verno de Cabo Verde4.
Quando os europeus lá aportaram, perceberam que o clima da região favo-
recia a agricultura e, por conta da exploração agrícola, iniciaram o processo de 
colonização das ilhas através do sistema de capitanias hereditárias. Porém, se 
nos Açores e na Madeira a colonização foi feita por imigrantes vindos de Portu-
gal, nas ilhas de Cabo Verde o povoamento se realizou com os negros trazidos 
do continente africano, especialmente da Guiné. Os africanos trazidos do con-
tinente destinavam-se especialmente às plantações de algodão. Artesãos afri-
canos também foram trazidos da África para ensinar aos demais as técnicas de 
tecelagem. Logo, uma “indústria têxtil”, alimentada pela mão de obra africana, 
tornou-se capaz de se perpetuar de modo autônomo.
A produção têxtil que teve lugar nas ilhas de Cabo Verde era de grande impor-
tância para a Metrópole. Segundo Birmingham (2003, p. 29), Portugal tinha quase 
tanta falta de têxteis como tinha de trigo. Nas ilhas foram estabelecidas plantações 
de algodão para tecer e tingir. Porém, logo um outro negócio concorria com a 
produção de algodão nas ilhas: a plantação de cana-de-açúcar, que também teve 
lugar no arquipélago de São Tomé ePríncipe e depois se estendeu ao Brasil.
Paralelamente a essa produção, nos séculos seguintes, as ilhas de Cabo Verde 
ocuparam posição estratégica nas rotas de caravelas de Portugal ao Brasil e ao 
restante da África. As ilhas serviam de entreposto comercial e de aprovisiona-
mento para as naus de passagem.
Com a entrada dos africanos nas ilhas de Cabo Verde, a mestiçagem tornou-se 
comum e formou-se nas ilhas uma população de cabo-verdianos descendente 
de portugueses e africanos. Essa miscigenação também resultou na criação de 
uma língua crioula que se enraizou em Cabo Verde. Hoje, a língua oficial desse 
país é o português, no entanto, o crioulo cabo-verdiano é usualmente falado 
pela população, paralelamente ao português.
Durante os séculos de exploração colonial, a situação nas ilhas não se modifi-
cou. No entanto, nos fins do século XIX, já é possível assistir nas ilhas a uma tímida 
manifestação cultural. A publicação do romance O Escravo, do português José Eva-
risto de Almeida, habitante durante muitos anos do arquipélago, é vista por alguns 
como o marco inicial da literatura de ficção de Cabo Verde. Alguns escritores que 
se destacaram nesse período foram Pedro Cardoso e Eugénio Tavares. 
Porém, é com a revista Claridade, lançada em 1936 por intelectuais cabo-ver-
dianos em sua maioria mestiços, que se pode falar de uma literatura de ruptura. 
4 A página oficial do Governo de Cabo Verde encontra-se disponível no endereço: <www.governo.cv>.
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
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Com o lançamento dessa revista nas ilhas de Cabo Verde inicia-se o primeiro 
movimento cultural-literário nativista da África lusófona. Entre os nomes impor-
tantes desse movimento destacam-se Baltasar Lopes da Silva, Jorge Barbosa, 
Manuel Lopes, entre outros. 
O movimento da revista Claridade reivindicava o respeito aos valores cabo-
verdianos, a valorização da língua crioula e uma sociedade cabo-verdiana bioló-
gica e naturalmente híbrida em sua formação. No campo literário, os poetas rei-
vindicavam uma literatura nascida do próprio húmus, com uma poesia telúrica e 
social de raiz e de renovação estética.
O nativismo do movimento que lançou a revista Claridade também se mani-
festou nos modelos aos quais os poetas vão seguir. Abandonando a referência 
literária e cultural do colonizador português, os “claridosos” vão buscar na lite-
ratura brasileira com Manuel Bandeira, Jorge Amado, José Lins do Rego, entre 
outros, as identidades possíveis, especialmente no que diz respeito à cultura 
mestiça que Cabo Verde e Brasil apresentam e que é resultante de um percurso 
histórico marcado pelo processo de colonização.
Manuel Lopes, um dos fundadores da revista Claridade, já afirmara que era ne-
cessário fincar os pés na terra para escrever e pensar naquilo que os pés pisavam. 
Essa consciência para com a terra não dispensará um cuidado com a renovação 
estética. A geração da Claridade tinha o propósito de “fincar os pés na terra” para 
representar a imagem mais próxima da realidade antropológica, social e cultural 
crioula. Essa imagem se configuraria a partir de uma ruptura literária com rela-
ção a tudo que anteriormente havia sido feito.
Alguns críticos consideram a existência de três fases na literatura cabo-verdia-
na. A primeira seria constituída dos nativistas (geração pré-claridosa), a segunda 
seria formada pela geração em torno da revista Claridade (geração claridosa) e, 
finalmente, a terceira, chamada de pós-claridosa, constituída pelos escritores e 
poetas que iniciaram sua atuação por volta de 1960 e que até a presente data 
continuam a produzir.
Em fins da década de 1950 até meados de 1960, a poesia cabo-verdiana in-
tensificou a associação entre a cabo-verdianidade e a negritude. Nesse tempo, 
as ideias do Movimento da Negritude, criado na década de 1930 por Aimé Césai-
re (Martinica/Antilhas), Léopold Sédar Senghor (Senegal) e Léon Damas (Guiana 
Francesa), que preconizava a valorização do negro e da negritude, já haviam se 
disseminado também pela África de língua portuguesa.
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
Nos anos seguintes, a literatura cabo-verdiana sublinhou a sua insularidade, 
caracterizada pelas imagens do mar e de um modo de ser próprio dos povos 
das ilhas. Além disso, enveredou, no campo da ficção, por caminhos próprios, 
inspirada pelo realismo mágico. Dina Salústio é um dos nomes dessa nova feição 
da literatura cabo-verdiana e sua obra nos permite conhecer um pouco mais do 
modus vivendi dos homens e mulheres do arquipélago.
São Tomé e Príncipe: 
história, cultura e literatura
Para melhor conhecer o arquipélago de São Tomé e Príncipe, segue abaixo 
um mapa de suas duas ilhas principais e das ilhotas que lhes são próximas.
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0 40 Km
Escala gráfica aproximada
MAPA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
Fonte: Temática Cartografia.
O arquipélago de São Tomé e Príncipe, localizado no Golfo da Guiné, é forma-
do por duas ilhas principais: Ilha de São Tomé e Ilha de Príncipe (ilhas vulcânicas) 
e por alguns ilhéus, alguns dos quais desabitados. O arquipélago contava, em 
2005, segundo a página oficial do Governo de São Tomé e Príncipe5, com uma 
5 A página oficial do Governo de São Tomé e Príncipe encontra-se disponível no endereço: <www.gov.st>.
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
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população de aproximadamente 169 000 habitantes distribuídos em uma área 
de mais ou menos 1 001 quilômetros quadrados. Essas ilhas eram desabitadas 
quando os portugueses lá aportaram em fins de 1470 ou início de 1471.
A condição favorável do solo e a chuva abundante propiciaram a introdu-
ção da plantação de cana-de-açúcar no arquipélago e, para empreender essa 
plantação, em 1493 teve início o povoamento do arquipélago com portugueses 
oriundos da Ilha da Madeira e degradados vindos da Metrópole. Na “indústria” 
açucareira, a mão de obra foi trazida dos reinos vizinhos da Guiné, do Benin, do 
Gabão e do Congo. Nesse arquipélago, a plantação da cana-de-açúcar prospe-
rou e o negócio com o açúcar foi estendido para outras colônias portuguesas, 
especialmente para o Nordeste do Brasil.
Em razão da necessidade de mão de obra escrava, muitos negros do con-
tinente foram levados às ilhas desse arquipélago. Segundo Enders (1997), por 
volta de 1560, São Tomé tinha cerca de 4 000 habitantes, sendo que a metade 
deles era composta de escravos. Por conta da escassez de mulheres brancas nas 
ilhas, africanas escravizadas foram levadas para São Tomé e Príncipe para ge-
rarem filhos dos portugueses que lá viviam, a fim de povoarem o território. Os 
filhos gerados dessa união receberam carta de alforria e mais tarde se tornaram 
os forros (corruptela de alforros), um dos grupos étnicos mais representativos na 
região.
No entanto, a produção de cana-de-açúcar no Brasil, mais produtiva que a do 
arquipélago africano, e as constantes revoltas dos negros nas ilhas propiciaram 
um decréscimo na produção açucareira. Essa decadência da economia das ilhas 
acabou por transformá-las em entrepostos do “comércio” de escravos.
Somente no século XIX, com as pressões externas pela extinção do tráfico 
negreiro, Portugal investiu em outro tipo de produção nas ilhas, incentivando 
nelas o cultivo do café e do cacau.
No início do século XX, a situação político-econômica do arquipélago de São 
Tomé e Príncipe não diferiu muito da que se encontrava em Cabo Verde ou na 
Guiné Portuguesa. À exceção deCabo Verde, em cuja ilha de São Nicolau há 
um Liceu desde o ano de 1866, as demais colônias não têm como propiciar aos 
jovens uma escolarização. No entanto, o discurso colonial valorizava a política de 
assimilação, cobrando da população das colônias comportamentos europeus e 
o uso da língua portuguesa em detrimento do crioulo. O índice de analfabetis-
mo era grande nas três regiões e a pobreza grassava nas colônias, pois a explora-
ção das matérias-primas não as beneficiava.
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36
Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
O arquipélago de São Tomé e Príncipe não ficou imune aos movimentos de 
valorização da cultura negra, especialmente em meados do século XX, quando 
os jovens da Casa dos Estudantes do Império6 divulgaram as ideias do Movimen-
to da Negritude.
Assim como nas outras colônias de Portugal, a difusão das ideias do Movi-
mento da Negritude, a insatisfação dos santomenses com as péssimas condi-
ções de vida no arquipélago e a repressão política da ditadura salazarista, exten-
siva às colônias, desencadearam a formação do Movimento pela Libertação de 
São Tomé e Príncipe (MLSTP) que, por vias diplomáticas, conseguiu negociar a 
independência do arquipélago em fins de 1974.
Mesmo em terreno adverso, uma prática jornalística e uma literatura nativista 
começam a ganhar força na primeira metade do século XX. O mais importante 
nome na literatura desse momento é o de Francisco José Tenreiro (1921–1963).
Natural de São Tomé, o poeta Francisco José Tenreiro, filho de um administra-
dor português com uma africana, ganha visibilidade em Lisboa como professor 
universitário e organiza em 1953 com Mário Pinto de Andrade, poeta e militante 
angolano, a primeira antologia de poesia africana. O Caderno da Poesia Negra de 
Expressão Portuguesa7, publicado na Metrópole e nas colônias, reuniu uma série 
de poemas em que se observava a valorização da terra africana e do negro.
Após a morte de Tenreiro, Alda do Espírito Santo, Maria Manuela Margarido e 
Tomaz Medeiros, todos ex-estudantes da CEI de Lisboa, são alguns dos escritores 
que revitalizam a literatura santomense. 
A poesia de Alda do Espírito Santo tem um lugar especial entre as demais. 
Em sua poesia se inscreve a afirmação identitária santomense, pois em sua obra 
é notável sua forte ligação com a história de seu país, deixando um legado ine-
gável aos poetas santomenses mais jovens. Entre esses mais novos, destaca-se 
Conceição Lima que também desenha em suas obras as questões abordadas por 
Alda do Espírito Santo, mas vivendo uma outra época, a poesia de Conceição 
Lima adquire um viés de crítica ao contexto em que a poesia emerge.
6 A Casa do Estudante do Império (CEI) de Lisboa reunia por volta dos anos 1950 um grupo de jovens estudantes oriundos de todos os territórios 
colonizados pelos portugueses, em sua maioria da África. Na Casa, os estudantes se organizaram politicamente contra a política portuguesa na 
África e também escreveram poemas e outros textos literários que estabeleceram as bases de uma nova literatura que buscava explicitar a situação 
do negro nas colônias, utilizando formas poéticas que valorizassem a africanidade também na língua.
7 Note-se que o título da coletânea organizada por Tenreiro e Andrade remete à conhecida obra de Aimé Césaire Cahier d’un Retour au Pays Natal 
(Caderno de um Regresso ao País Natal) no qual Césaire usou pela primeira vez o termo negritude.
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
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Guiné-Bissau: história, cultura e literatura
Para localizarmos a Guiné-Bissau na África de língua portuguesa, vejamos o 
seu mapa a seguir.
Fonte: Temática Cartografia.
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ad
o.
0 38 Km
Escala gráfica aproximada
MAPA DA GUINÉ-BISSAU
O território da Guiné-Bissau, no ocidente da África, com suas fronteiras atuais 
tem hoje aproximadamente 36 125 quilômetros quadrados e em 2005, segundo 
a página oficial do Governo da Guiné-Bissau8, possuía cerca de 1 442 029 ha-
bitantes. Porém, antes da chegada dos portugueses, a Guiné-Bissau era parte 
de uma extensa região conhecida como Terra da Guiné, pertencente ao Reino 
de Mali. Em 1446, os portugueses aportaram na região e a nomearam Guiné 
Portuguesa. Embora o litoral da região tenha sido explorado desde essa época, 
somente em 1630 estabeleceu-se no território a Capitania Geral da Guiné Portu-
guesa, que visava à administração da região, embora a Guiné Portuguesa conti-
nuasse administrativamente ligada às ilhas de Cabo Verde. 
8 A página oficial do Governo da Guiné-Bissau encontra-se disponível no endereço: <www.guineabissau-government.com>.
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
Em 1697, devido à ameaça de ocupação da região, especialmente por parte 
dos franceses e ingleses, a Coroa Portuguesa fundou nessa região uma vila, 
Bissau, que cresceu e se constituiu num importante posto fornecedor de escra-
vos, especialmente para o continente americano nos séculos seguintes. 
Porém, no século XIX, com a abolição da escravatura, a Guiné Portugue-
sa, sem qualquer recurso para sobrevivência material, passou por uma crise 
econômica e para sair dela investiu na produção de novas culturas como a da 
borracha e a da mancarra (amendoim).
As condições extremamente pobres da região fizeram com que os povos 
locais se rebelassem contra o governo português que reagiu imediatamente, 
enviando militares à Guiné para sufocar as revoltas populares. Para inibir os 
conflitos, o governo português incentivou a exploração agrícola da região por 
parte de colonos portugueses ou de seus descendentes que iniciaram a pro-
dução da mancarra.
Já no início do século XX, as forças coloniais reprimiram fortemente as re-
beliões locais e objetivavam eliminar os africanos mais combativos, impor o 
pagamento de impostos à administração colonial e controlar os recursos eco-
nômicos no território.
Em meados do século XX, a Guiné Portuguesa amargou uma situação de 
extrema pobreza, com um grande índice de analfabetos. Nessa mesma época, 
as ideias independentistas se difundiram especialmente nos meios urbanos. 
A difusão dessas ideias e a independência de outros países da África, colo-
nizados por outras nações europeias, estimularam a fundação, em 1956, do 
Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), criado por 
Amílcar Cabral (1924–1973). Em suas constantes viagens a Cabo Verde, Guiné e 
Portugal, onde se graduou em Agronomia, Amílcar Cabral tomou contato com 
os poetas, escritores e estudantes dos outros países africanos colonizados por 
Portugal. Desse contato, nascerá mais adiante um processo de luta dos países 
africanos lusófonos pela independência.
Devido às condições socioculturais da Guiné-Bissau, a literatura guineense 
só floresceu muito tardiamente em relação às literaturas das outras colônias 
portuguesas na África. O fato de a Guiné ser basicamente uma colônia de ex-
ploração e também o fato de ter ficado, por um longo período, administrati-
vamente atrelada ao governo geral da colônia de Cabo Verde foram decisivos 
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
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para que não houvesse, mesmo na capital Bissau, as condições necessárias 
para uma produção literária e artística.
A imprensa também chegou muito tarde à Guiné. Os jornais oficiais só apa-
receram na região por volta de 1880, sendo que nas outras colônias africanasjá havia uma circulação de jornais desde 1843. 
Os primeiros textos produzidos em território guineense tiveram lugar na 
primeira metade do século XX. Em 1930, é editado o primeiro jornal dirigi-
do por um guineense. Trata-se de O Comércio da Guiné, editado por Juvenal 
Cabral, pai de Amílcar Cabral.
Entre os escritores e poetas, Fausto Duarte se destacou como romancista 
e Maria Archer como poetisa. João Augusto Silva, ganhador de um prêmio li-
terário no período colonial, e Fernanda Castro são com Fausto Duarte e Maria 
Archer os nomes mais importantes da literatura guineense que, nesse período, 
não se afasta muito da referência portuguesa.
Vale destacar ainda nesse período a produção de Marcelino Marques de 
Barros que em sua obra Cantos, Canções e Parábolas reúne um grupo de contos e 
canções guineenses tradicionais e populares, valorizando a cultura da região.
Depois de 1945, surge na Guiné uma literatura de combate que denun-
ciava a dominação e a miséria a que os negros estavam submetidos em suas 
terras e os incitava à libertação e à valorização da cultura negra. Entre os 
escritores dessa época, destacam-se Vasco Cabral, António Baticã Ferreira e 
Amílcar Cabral.
Após a independência da Guiné, a literatura guineense ganha novo vigor. 
Nessa época, surge um grupo de jovens poetas, cujas obras manifestam um ca-
ráter social, focalizando a defesa da liberdade, a questão da identidade nacio-
nal, entre outras coisas. Agnelo Regalla, António Soares Lopes (Tony Tcheca), 
José Carlos Schwart, Francisco Conduto de Pina e Félix Sigá são alguns dos 
autores mais significativos desse período. 
Na década de 1990, novos autores se somam ao grupo atuante da Guiné-
-Bissau, já independente, e uma escrita de cunho mais intimista se desenha 
nesse momento. Entre os autores desse período destacam-se Helder Proença, 
Tony Tcheca, Carlos Vieira e Odete Semedo. A utilização da língua crioula na 
literatura ganha força e valoriza a cultura mestiça do arquipélago. 
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
Texto complementar
O poema a seguir, de Kaoberdiano Dambará, pseudônimo poético do 
poeta e advogado cabo-verdiano Felisberto Vieira Lopes, foi escrito em 
crioulo, e conclama os negros a lutarem pela justiça na África. Ao lado do 
poema em crioulo, incluímos a versão em português extraída do livro Na 
Noite Grávida de Punhais. Antologia temática da poesia africana, organizado 
pelo poeta e escritor angolano Mário Pinto de Andrade.
Ora dja tchiga
Kaoberdiano Dambará
Labanta bo anda fidjo d’Afrika
Labanta negro, obi gritu’ l Pobo:
Afrika, Djustissa, Liberdadi
Obi gritu’l Povo na Sistensia, na 
 [funko,
na simiteri, na lugar sem tchuba,
na bariga torsedo di fomi
Dexa bo funko, dexa bo mai, bo 
 [armun,
dexa tudo, pega na kunsiensia bo 
 [subi monti:
finka pé na tchom bo pega 
 [n’arma.
Brandi fero riba’ l monti,
ko fomi o ko fartura, ko guerra o 
 [ko paz,
luta pa liberdadi’l bo tera!
Chegou a hora
Kaoberdiano Dambará
Ergue-te e caminha filho de África
Ergue-te negro escuta o clamor do povo:
África, Justiça, Liberdade.
Escuta o gritar do povo clamando na 
[Assistência Pública, no funco1,
nos cemitérios, nos campos sem chuva,
nos ventres torcidos de fome.
Abandona funco, mãe, irmão tudo
toma consciência, sobe para as 
 [montanhas,
finca os pés na terra, pega em armas.
Brande o ferro no cimo dos montes,
com fome ou abundância, guerra ou 
 [paz,
luta p’la liberdade da tua terra!
1 Funco é uma espécie de habitação de formato cônico, construída com a utilização de folha de sisal, bananeira ou colmo.
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
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Dicas de estudo
Literaturas Africanas de Expressão Português � , de Pires Laranjeira, Editora 
Universidade Aberta.
 Esse livro é uma obra primordial para o estudo das literaturas africanas 
dos países lusófonos, pois o autor analisa as literaturas de Cabo Verde, São 
Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, desde a expressão 
de uma literatura nativista até a contemporaneidade. Na obra, há ainda 
os estudos de duas especialistas em literaturas africanas lusófonas: Elsa 
Rodrigues dos Santos e Inocência Mata.
Na Noite Grávida de Punhais. Antologia temática da poesia africana � , organi-
zado por Mário Pinto de Andrade, Editora Sá da Costa.
 Essa antologia reúne a lírica de alguns dos mais representativos poetas 
dos países africanos lusófonos e apresenta ainda uma pequena biografia 
sobre cada um deles.
Estudos literários
1. De que maneira podemos afirmar que o lançamento da revista Claridade, 
em 1936, em Cabo Verde, inaugura uma nova fase na literatura africana 
de língua portuguesa e na literatura cabo-verdiana?
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Cultura e literatura nos arquipélagos lusófonos e na Guiné-Bissau 
2. Na primeira metade do século XX, a literatura santomense ganha visibi-
lidade pela ação do seu maior representante nesse período – Francisco 
José Tenreiro. Qual foi o importante gesto de Tenreiro em prol da litera-
tura em sua época? 
3. Caracterize a produção literária guineense posterior à independência do 
país. 
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Cultura e literatura em Angola
Claudia Amorim
O objetivo deste capítulo é apresentar as características históricas, culturais 
e literárias de Angola, país cujos limites foram estabelecidos após a chegada 
à região do navegador português Diogo Cão por volta de 1483. Com a vinda 
do colonizador branco, o território foi demarcado e as diversas etnias que 
viviam na região estiveram sob o jugo português até a independência do país 
em 1975. Mesmo após a independência, o país adotou oficialmente a língua 
portuguesa1, no entanto, em Angola, existem muitos dialetos e línguas locais, 
entre as quais se destacam o umbundo, falado pelo grupo Ovimbundu (parte 
central do país); o quicongo, falado pelos Bacongo, ao norte; e o chokwe-lunda 
e o kioko-lunda, ambos correntes no nordeste do país. Há ainda o quimbundo, 
falado pelos Mbundos, Mbakas, Ndongos e Mbondos, grupos aparentados, 
que habitam o litoral de Luanda e arredores até o Rio Cuanza.
No século XX, a luta armada pela independência das colônias portuguesas 
na África começou em 1961, em Angola, e depois se disseminou pela Guiné 
Portuguesa (atual Guiné-Bissau) em 1963 e chegou a Moçambique em 1964. 
Os arquipélagos de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, que juntamente com 
os três primeiros territórios aqui citados constituem a chamada África Portu-
guesa, engrossaram a luta armada iniciada no continente, enviando guerri-
lheiros para as regiões em conflito. Em Angola, a guerra foi mais longa e durou 
exatamente 13 anos.
De todas as colônias portuguesas na África, Angola foi a que mais recebeu 
atenção de Portugal. Essa atenção foi bastante perniciosa, pois do seu territó-
rio muitas riquezas foram extraídas, os povos locais foram submetidos à escra-
vidão e à diáspora até o século XIX, quando Portugal, por pressões externas, 
foi obrigado a extinguir o tráfico negreiro e a escravidão. Em contrapartida, 
a colônia portuguesa mais extensa na África foi a que recebeu um número 
maior de colonos e sua capital, Luanda, acaboupor apresentar no século XIX 
um estatuto que as outras cidades das colônias portuguesas não possuíam.
1 Kwame Appiah (1997, p. 20) observa que, mesmo “[...] depois de uma brutal história colonial e de quase duas décadas de contínua 
resistência armada, a descolonização da África Portuguesa, em meados dos anos 1970, deixou atrás de si uma elite que redigiu as leis 
e a literatura africanas em português”. Segundo o estudioso, tal fato se deu pela necessidade de os escritores usarem a língua europeia 
em seus ofícios sob pena de, em isso não acontecendo, serem vistos como particularistas. Além disso, o uso da língua portuguesa unia 
as diferentes etnias na difícil tarefa da construção nacional, o que se configuraria quase impossível, caso os inúmeros grupos étnicos 
usassem, ao invés de uma língua comum, as suas línguas de origem.Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
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Cultura e literatura em Angola
No século XX, após a conquista da independência, Angola convocou eleições 
gerais e com a vitória do candidato do MPLA (Movimento Popular de Libertação 
de Angola), o país enfrentou, por cerca de duas décadas, uma guerra interna 
entre os diversos grupos que rivalizavam pelo comando do país.
Para melhor conhecer essa ex-colônia portuguesa, será necessário primeira-
mente visualizar sua localização e extensão no continente africano.
Fonte: Temática Cartografia.
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0 420 Km
Escala gráfica aproximada
MAPA POLÍTICO DA ÁFRICA
Angola: história, cultura e literatura
O território de Angola, no sudoeste da África, possui aproximadamente 1 246 700 
quilômetros quadrados e contava, em 2004, segundo a página oficial do Governo 
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Cultura e literatura em Angola
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de Angola, com cerca de 14 767 655 habitantes2. Foi a mais extensa das colônias 
portuguesas na África e fazia parte de uma antiga região conhecida no século 
XV como Reino do Congo, quando os portugueses lá chegaram. O nome Angola 
é oriundo da palavra banto ngola, nome com que se designava o governante de 
uma região que se localiza hoje a leste da capital Luanda.
A história da colonização de Angola começa em 1483, quando Diogo Cão, um 
navegador a serviço da Coroa Portuguesa, chegou à foz do Rio Zaire (o segundo 
maior rio da África), situado no Reino do Congo, e fixou no local um padrão de 
pedra com o brasão português. O Reino do Congo era uma extensa região que 
compreendia os atuais territórios da República do Congo, Cabinda, República 
Democrática do Congo, o centro-sul do Gabão e o noroeste de Angola.
No Reino do Congo havia um chefe local, denominado Mani Congo, que gover-
nava os diversos grupos étnicos bantos da região, especialmente os Bacongo. Após 
o contato com os portugueses, o monarca, Mani Congo, converteu-se ao catolicismo 
e a capital do reino, Mbanza Congo, recebeu o nome de São Salvador do Congo.
O Reino do Congo era uma região com grandes mercados regionais, nos quais 
se comercializavam produtos como sal, metais, tecidos e derivados de animais por 
meio de escambo ou através de uma moeda local – uma concha (nzimbu), coleta-
da na região de Luanda.
Com a chegada dos portugueses, o comércio regional se intensificou. E a 
Coroa Portuguesa visava nesse comércio o controle das minas e o negócio com 
escravos que, aliás, foi um dos mais rentáveis para Portugal. A colônia de Angola 
forneceu um grande número de escravos para a América durante o século XVIII.
A região apresentou também inúmeras revoltas contra a invasão portuguesa, 
todas reprimidas pelo poderio bélico europeu. A primeira rebelião de que se 
tem notícia ocorreu em 1491 e foi liderada por Panzo-a-Nginga, que se recusou a 
receber o batismo e não aceitou as novas leis impostas pelos missionários e con-
quistadores portugueses. A mais conhecida resistência ao domínio português, 
porém, foi a da rainha Jinga, que, no século XVII, resistiu ao domínio europeu, 
comandando os povos da região contra os invasores, com o auxílio também de 
holandeses.
 Após a perda do Brasil no início do século XIX, Angola se tornou a colônia 
portuguesa mais importante para o reino português do ponto de vista econômi-
co. A atenção dispensada pela Metrópole à maior colônia portuguesa na África 
2 A página oficial do Governo de Angola encontra-se disponível no endereço: <www.info-angola.com>.
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Cultura e literatura em Angola
resultou, apesar da intensa exploração das riquezas, em importantes mu-
danças sociais no território, verificáveis, sobretudo, na capital Luanda. Nessa 
época, a sociedade angolana já apresenta uma elite local, constituída por 
funcionários públicos, juristas, jornalistas e alguns pequenos comerciantes, 
quase todos mestiços.
A população europeia que no último quartel do século XIX habitou a cidade era essencialmente 
constituída, diz-nos o historiador Júlio de Castro Lopo, por africanistas de permanência 
incerta no território, aventureiros, colonos forçadamente amarrados por necessidades 
econômicas e contrariedades diversas à vida colonial, missionários e clérigos, militares e 
degredados. Numericamente inferior – um censo de 1889 dá-nos conta de 5 000 europeus 
para 23 000 africanos –, [...], o português, dado o reduzido número de mulheres de sua raça [...] 
aproximou-se intimamente do agregado africano, com o qual se cruzou e constituiu família, 
determinando uma sociedade em que o mestiço, no declinar do século, gozou duma certa 
relevância. (ERVEDOSA, 1979, p. 23-24) 
Com a crescente expansão da indústria europeia durante o século XIX, Portugal, 
por pressões externas, especialmente de países como a Inglaterra, se viu obrigado 
a extinguir o tráfico negreiro em todas as colônias ultramarinas. Ainda sob pressão 
estrangeira, o país estabeleceu uma data limite, 1878, para extinguir a escravatura. 
No entanto, mesmo com essas medidas, uma forma de escravatura persistia nas 
colônias africanas de língua portuguesa sob a forma de trabalho forçado. 
Durante o século XIX, as colônias de Angola e São Tomé e Príncipe sustenta-
ram a economia da Metrópole, fornecendo importantes produtos tropicais como 
o café e o cacau, que se transformaram em dividendos para a Coroa Portuguesa, 
uma vez que ela exportava esses produtos para outros países europeus.
A importância de Angola para Portugal resultou necessariamente em algumas 
modificações na vida da colônia, especialmente na capital Luanda. Assim, na se-
gunda metade do século XIX, Angola já possuía um pequeno grupo de africanos 
que frequentava as poucas escolas criadas na região. Com essa medida, Portugal 
pretendia investir em uma “ação civilizadora”, tornando o africano um assimilado3. 
A existência desse grupo de africanos escolarizados e descendentes, em 
geral, de portugueses, possibilitou o incremento de atividades jornalísticas na 
capital de Angola. Na segunda metade do século XIX, alguns jornais circulavam 
pela região, como O Echo de Angola e o Jornal de Loanda, fundado por Alfredo 
Troni, que já marca a transição de um jornalismo colonial para um jornalismo 
que evidenciava as questões africanas.
No campo literário, Joaquim Dias Cordeiro da Matta, colaborador dos jornais 
da época, aponta a necessidade de se perceber a diferença cultural em relação 
3 Assimilado era o termo usado para designar primeiramente os descendentes das grandes famílias crioulas do século XIX que estudavam em 
escolas católicas – responsáveis pela educação formal – e eram apadrinhados por brancos da elite colonial.
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Cultura e literatura em

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