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O conceito de história, tempo e memória Evandro Cardoso A apologia da história Marc Bloch (2001) A história enquanto ciência • O mito, a filosofia, a religião e a ciência: quem pode explicar? – A história é velha quanto à narrativa ficcional e factual, mas jovem quanto ao empreendimento racional de análise. “As gerações que vieram logo antes da nossa, nas últimas décadas do século XIX e até os primeiros anos do XX, viveram como alucinados por uma imagem muito rígida, uma imagem verdadeiramente comtiana das ciências do mundo físico.” (p. 47) A vertente teórica de Bloch “estamos, portanto, agora bem melhor preparados para admitir que, mesmo sem se mostrar capaz de demonstrações euclidianas ou imutáveis leis de repetição, um conhecimento possa, contudo, pretender ao nome de científico. [...] Não sentimos mais a obrigação de buscar impor a todos os objetos do conhecimento um modelo intelectual uniforme, inspirado nas ciências da natureza física, uma vez que até nelas esse gabarito deixou de ser integralmente aplicado.” (p. 49). “toda ciência, tomada isoladamente, não significa senão um fragmento do universal movimento rumo ao conhecimento.” (p. 50). A história e os homens • Para Bloch, definir a história como a ciência que estuda o passado é um erro; – Os velhos analistas “narravam desordenadamente, acontecimentos cujo único elo era terem se produzido mais ou menos no mesmo momento.” (p. 52) • Para ele, a história é a ciência que estuda os homens no tempo; – “Ocupamo-nos ao mesmo tempo do estudo do homem individual, e isso será a filosofia, e do estudo do homem social, e isso será a história.” (nota Michelet: p. 54). O tempo histórico • O tempo cronológico tem sua importância, mas são das mudanças e permanências que “provêm os grandes problemas da pesquisa histórica” (p. 55); – Concepção de história na modernidade: “registro do passado humano”; – Concepção de história do século XIX: “estudo do passado humano”; – Concepção de história do século XX: Marc Bloch “estudo do homem no tempo”. Ou seja, o presente passa a ser objeto de estudo do historiador: “como a temporalidade afeta os diversos modos de vida presente?” O ídolo das origens • Bloch chama a atenção dos historiadores que tentam explicar as causas pelas origens; – “o conhecimento de seus primórdios, não basta para explicá- los. [...] A questão, em suma, não é mais saber se Jesus foi crucificado, depois ressuscitado. O que agora se trata de compreender é como é possível que tantos homens ao nosso redor creiam na Crucificação e na Ressurreição.” (p. 58). • Não se pode confundir uma filiação [origem] com sua explicação [estrutura hoje]. Bloch cita exemplos na etimologia, onde os sentidos das palavras fogem das origens: – “os homens não têm o hábito, a cada vez que mudam de costumes, de mudar de vocabulário” (p. 59). Passado e presente • Bloch critica os historiadores que se recusam a estudar a contemporaneidade: – “Acredita-se poder colocar à parte uma fase de pouca extensão no vasto escoamento do tempo.” (p. 61) • Também critica aqueles que estudam somente a contemporaneidade: – “a ignorância do passado não se limita a prejudicar a compreensão do presente; compromete, no presente, a própria ação.” (p. 63) Passado e presente “O presente e o passado se interpenetram. A tal ponto que seus elos, quanto à prática do ofício de historiador, são de sentido duplo. Se, para quem quer compreender mesmo o presente, a ignorância do passado deve ser funesta [nociva], a recíproca — embora não se esteja sempre tão nitidamente alertado — não é menos verdadeira.” (nota: p. 65). Passado e presente • O conselho de Bloch: “Acrescentem que, ao proceder, mecanicamente, de trás para frente, corre-se sempre o risco de perder tempo na busca das origens ou das causas de fenômenos que, à luz da experiência, irão revelar- se, talvez, imaginários. [...] no filme por ele considerado, apenas a última película está intacta. Para reconstituir os vestígios quebrados das outras, tem obrigação de, antes, desenrolar a bobina no sentido inverso das sequências.” (p. 67). Questão 1 • Partindo das reflexões de Marc Bloch explique a frase: “história é a ciência que estuda os homens no tempo”. – Folha A4, de 20 a 30 linhas, Times 12, entre linhas 1,5.
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