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História de Porto Velho e o Ciclo da Borracha

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PORTO VELHO – UMA BREVE HISTÓRIA DE SUA OCUPAÇÃO
PROF. CÉLIO LEANDRO
ATUAÇÃO DA IGREJA
Santo Antônio do Alto Madeira, era a localidade de maior destaque no vale do alto rio Madeira no primeiro ciclo econômico da borracha. Foi fundada como missão jesuítica em 1728 pelos padres João Sam Payo e seu adjunto Manuel Fernandes, na margem direita do rio Madeira, em frente a sua primeira cachoeira a do Aroya (nome indígena), são João (nome dado por Francisco de melo Palheta). A missão foi denominada Santo Antônio das Cachoeiras, destruída pelos Mura em 1742, sendo abandonada pelos missionários e seus demais habitantes. Dez anos após essa ocorrência, a Ordem Régia de 14 de novembro de 1752 ordenava ao governador da capitania do Grão-Pará acantonar uma esquadra de soldados em Santo Antônio, não sendo possível executa-la por falta de recursos financeiros.
Durante o século XVII e boa parte do século XVIII, a metrópole portuguesa não tinha recursos nem pessoas suficientes para realizar a ocupação do extenso território amazônico. Uma das alternativas para solucionar esse problema foi permitir que as ordens religiosas se instalassem na colônia.
Eles ajudavam na conquista, pois a catequização dos povos indígenas ajudava no processo de ocupação e geração de riquezas.
Nos anos finais do século XVII as missões religiosas cobriam grande parte do espaço que viria a constituir a atual região amazônica brasileira.
 Esses religiosos tinham como principal missão converter os povos indígenas em cristãos. Os missionários procuravam convencer os indígenas a deixar suas aldeias e se transferirem para os Aldeamentos. A esse deslocamento, chamamos Descimento.
 Nos aldeamentos, os indígenas aprendiam diversos costumes europeus e a religião Católica. Eles aprendiam sobre história de Santos, aprendiam também a rezar, a cantar músicas religiosas e até esculpir imagens de Santos Católicos. Esses ensinamentos eram importantes para os objetivos dos colonizadores, pois preparavam os índios aldeados para se tornarem trabalhadores muitas vezes escravizados.
 As missões não tinham apenas um caráter religioso. Os missionários receberam grandes propriedades da coroa portuguesa. Essas terras se tornaram muito produtivas, pois os religiosos utilizavam os indígenas como mão de obra. 
 Essa prática, além de gerar riquezas para as ordens religiosas, fazia parte da doutrina cristã, pois, o trabalho era considerado uma salvação.
A história da fé cristã nestas paragens teve início quando o Pe. João de San Payo, vindo da missão de Canumã, por ele fundada desde 1712, e com a ajuda do governador de Santa Maria de Belém do Grão Pará, João da Maia Gama, fundou em março de 1723, na cachoeira de Aroaya, a missão de Santo Antônio das Cachoeiras dando, assim, nome ao lugar e à cachoeira.
CICLO DA BORRACHA
O Ciclo da Borracha corresponde ao período da história brasileira em que a extração e comercialização de látex para produção da borracha foram atividades basilares da economia. De fato, ocorreram na região central da floresta amazônica, entre os anos de 1879 e 1912, revigorando-se por pouco tempo entre 1942 e 1945.
Neste período, conhecido como “Belle Époque Amazônica” que vai de 1890 a 1920, cidades como Manaus, Porto Velho e Belém, tornaram-se as capitais brasileiras mais desenvolvidas, com eletricidade, sistema de água encanada e esgotos, museus e cinemas, construídos sob influência europeia. 
Contudo, os dois períodos de “ciclos da borracha” acabaram de maneira repentina, o que se agravou pela falta de políticas públicas para desenvolvimento da região.
A demanda provocada pela Revolução Industrial, fez da borracha natural um produto super valorizado, especialmente após o advento do processo de vulcanização, um tratamento industrial que elimina as impurezas da coagulação, tornando a borracha um bom material para ser utilizado em pneus de automóveis, motocicletas e bicicletas, bem como na fabricação de correias, mangueiras, solas de sapatos, etc.
Nesse período, cerca de 40% de toda a exportação brasileira era proveniente da Amazônia, paga em libra esterlina (£), a moeda do Reino Unido.
Como consequência deste “boom”, muitas vilas e povoados ribeirinhos surgiram e as cidades que já existiam prosperaram e cresceram, desenvolvendo desde infraestruturas básicas, como escolas e hospitais, até as mais suntuosas, como hotéis de luxo e teatros. Além do desenvolvimento socioeconômico, centenas de milhares de trabalhadores, sobretudo do nordeste, migraram para a região, resolvendo em partes o problema de povoamento.
Somente em 1743, quando o naturalista francês Charles Marie la Condamine descreveu o processo de extração e fabricação da goma de látex é que a borracha despertou interesses comerciais. Portanto, em 1763, químicos franceses descobrem como dissolver borracha com terebintina e éter e, em 1770, Joseph Priestley cria a borracha para apagar grafite.
A partir do início do século XIX, a exploração da borracha já era uma realidade: em 1803, na cidade de Paris, era fundada a primeira fábrica de produtos de borracha; em 1823, o inglês Thomas Hancock cria o elástico e, em 1839, Charles Goodyear desenvolve o processo de vulcanização, tornando o látex um material viável para utilização industrial.
Em 1910, tem início a concorrência da Hevea brasiliensis plantada na Ásia, utilizando aquelas sementes contrabandeadas décadas antes e produzindo a custos muito inferiores aos da mata nativa no Brasil.
Isso provoca uma queda brusca no preço do látex, tornando impossível a exploração comercial da borracha amazônica. Com isso, a fabricação de borracha brasileira entra em crise, paralisando a economia nas regiões produtoras.
Segundo Ciclo da Borracha
Por sua vez, o “segundo Ciclo Da Borracha” ocorreu entre os anos de 1942 a 1945, durante o contexto da Segunda Guerra Mundial. Em 1941, o governo brasileiro fez um acordo com o governo norte americano para extração de látex na Amazônia.
Desse modo, quando os japoneses invadiram a Malásia em 1942, tomando o controle dos seringais, os EUA, por meio de seu Departamento de Guerra, repassou mais de 100 milhões de dólares ao Brasil em troca de artigos necessários à defesa nacional, dentre eles, a borracha.
A comoção foi tanta, que foi preciso a criação de um Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia, instituído em 1943 para o alistamento compulsório, especialmente de nordestinos que sofriam com a seca. Este evento ficou conhecido como a “Batalha da Borracha”, a qual mobiliza mais de 100 mil “Soldados da Borracha”.
Por fim, a borracha sintética produzida após a Segunda Guerra, destroem qualquer pretensão comercial da borracha amazônica, a qual irá definhar até 1960. Atualmente, São Paulo é o maior produtor brasileiro de borracha natural.
A intensificação dos movimentos migratórios fica por conta do período áureo do ciclo da borracha, entre 1908 e 1912, o que caracterizava, nessa época, o povoamento dessa área como essencialmente de origem amazônica, em que a busca dos produtos era o móvel da ocupação ou o fato econômico gerador.
ESTRADA DE FERRO MADEIRA MAMORÉ
Quando começava a se mostrar promissora a extração da goma elástica, o presidente da província do Amazonas, Tenreiro Aranha, organizou uma expedição com a finalidade de resolver o contorno das dezenove cachoeiras que impediam a navegação do rio Madeira. Ao ordenar a execução dessa empreitada pelo sertanista e Diretor de Índios da bacia do Purus, Manuel Urbano da Encarnação, imaginava salvar o trecho por uma ligação terrestre.
Apesar da notável visão do administrador amazonense, a questão ficou pendente, se bem que não faltaram tentativas para solucioná-la após essa primeira incursão.
Em 1867, o governo brasileiro contratou o engenheiro norte-americano Keller para o desenvolvimento de um projeto ferroviário que viabilizasse o percurso entre a povoação do Alto Madeira e da foz do Abunã. O engenheiro contratou o coronel George Earl Church para as exploratórias.Em 1870, Church pensou ter encontrado uma alternativa, através da construção de um canal que contornasse as quedas naturais. Logo se percebeu a impossibilidade dessa empreitada.
 Abandonando a ideia do canal, Church contratou a "Publics Works Construction Company", de capital inglês, para a construção de uma ferrovia entre Santo Antônio do Madeira e Guajará-Mirim.
Como os acionistas ingleses se mostrassem descrentes do empreendimento moveram uma ação contra o norte-americano. Este conseguiu dirigir um novo contrato, agora a favor da empresa americana "Dorsey & Caldwell" que deu início aos trabalhos em 1873, para logo depois sustá-los, diante do surto endêmico de malária que atacou duramente o pessoal envolvido na construção. Nesse momento, já haviam sido implantados oito quilômetros de linha e explorados outros setenta e sete.
Em 1878, Church voltou à iniciativa, firmando um contrato com o Governo brasileiro. Quando havia conseguido avançar cerca de seis quilômetros, os trabalhos foram novamente suspensos por conta de uma ação movida pelos antigos acionistas ingleses. A concessão foi cassada.
Enquanto a exploração de borracha dava lucro, a administração inglesa, inaugurada em julho de 1907, resistiu a todas as dificuldades. Quando sobrevieram os tempos ruins, a ferrovia foi sendo abandonada aos poucos. Em 1930 a situação se tornou crítica, levando o Governo Federal a intervir em sua administração.
Quanto à população, nesse período, foi marcada por suas origens amazônicas, predominando o nordestino, quando do apogeu do ciclo da borracha. Ao redor de Porto Velho, povoações foram surgindo ao longo da ferrovia, na medida em que os trilhos ganhavam o embate contra a cobertura vegetal. Entre 1907 e 1911, somavam-se aos contingentes de nortistas e nordestinos, mais preocupados com a indústria extrativista da borracha, os elementos estrangeiros – barbadianos, principalmente, espanhóis e gregos, contratados para o assentamento da estrada de ferro.
Por todo o período, os fluxos migratórios incipientes e de mercadorias, tiveram como eixo o rio Madeira e seu apêndice ferroviário.
Com o declínio da extração gomífera, a região retomou a situação de abandono, até que em 1943, com a criação do território Federal do Guaporé, novo impulso foi dado, a partir dos investimentos governamentais.
No início da segunda metade desse século, a população distribuía-se escassamente ao longo dos rios e do eixo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Núcleos habitados ainda podiam ser encontrados ao longo da linha telegráfica, aberta pela Comissão Rondon, que percorria a zona Nordeste do estado, de Vilhena a Porto velho, pela chapada dos Parecis, interligados pelas linhas heroicas do Correio Aéreo Nacional.
Grandes áreas ainda estavam sem povoamento, nelas se encontrando numerosos e dispersos agrupamentos indígenas assistidos pelo Serviço Nacional de Proteção aos Índios.
As atividades econômicas limitavam-se à produção extrativista, com realce para a borracha e a castanha, além do óleo de copaíba. A agricultura era de subsistência e a pecuária incipiente. A atividade mineira começava a ganhar importância e as comunicações eram realizadas por via fluvial, sendo o Madeira e o Guaporé os principais veículos. O sistema era completado pela Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Os transportes terrestres se faziam por caminhos precários, como o que se estendia ao longo da linha telegráfica de Porto Velho a Cuiabá. As praças de Manaus e Belém representavam os grandes pólos comerciais para a região.
O NOME PORTO VELHO
A origem do nome “Porto Velho” estaria ligada a duas versões: a primeira derivada da denominação “Porto do Velho” e a segunda de “Ponto Velho”. 
A primeira versão conta que a pouca distância, ou seja, a 8 km das terras ocupadas pela Madeira-Mamoré, havia um local denominado “Boca do Igarapé da Samaúma”, isto porque no passado não muito remoto existiram duas grandes Sumaumeiras que serviam de marco de um porto. Residia neste local um velho agricultor conhecido como “Velho Pimentel” e onde por ocasião da baixa das águas, devido as dificuldades de atracação das embarcações no porto de Santo Antônio, causadas pelo aparecimento de praias, os ingleses(*) responsáveis pela construção da EFMM preferiam atracar, sendo chamado por eles o “Porto do Velho”. 
Com o passar do tempo, por aglutinação a denominação “Porto do Velho” passou a “Porto Velho”. 
A segunda versão, O “Ponto Velho”, segundo antigos moradores da região, seria de um antigo ponto de caça (barreiro Central das Antas) onde se praticava a caça de maior porte. Ao rarear a caça pela margem, foram os caçadores forçados a penetrar na mata e subir os igarapés. Temendo o risco de encontrarem os índios (existentes em toda região) passaram a marcar encontro nesta baixada, como ponto inicial de suas caçadas, local onde mais tarde foi construído o Clube Internacional, próximo ao atual Clube Ferroviário, referindo-se a ele como o “Ponto Velho”, isto é, o antigo local das caçadas.
O mais certo sobre as origens do nome, denotam ainda do século XVIII quando o governo imperial, por conta da Guerra do Paraguai instala na região um Porto Militar. Com o fim dos conflitos o porto foi abandonado, ficando como referencia na região. Ficando então o “velho porto militar’, o Porto velho dos militares... Porto velho.
CRONOLOGIA
1866/1870 – Na margem direita do Rio Madeira a jusante sete quilômetros da cachoeira de Santo Antônio, foi instalado um acampamento de soldados do Regimento do Jamari, preventivo a uma invasão da Bolívia, simpática do Paraguai em guerra contra o Brasil. O local passou a ser conhecido por Porto dos Militares, retirando-se os soldados, por Porto Velho dos Militares.
1871/1872 – Os padres franciscanos Jesualdo Macchett e mais três companheiros, vindo de São Carlos do Jamari onde residiam, estiveram por poucos dias no Porto Velho dos Militares, pretendiam instalar uma missão para catequizar os indígenas Caripunas. Porém desistiram.
 1872 – O local foi ocupado por agricultores sitiantes e fornecedores de lenha aos navios movidos a vapor d’agua que trafegavam entre Belém/PA, Manaus/AM e Santo Antônio/MT, o denominando Ponto do Velho e Porto Velho de lenha.
 1883 – O engenheiro Carlos Morsing chefe da Comissão Morsing indicou o Ponto Velho para ser local inicial da ferrovia a ser construída contornando as cachoeiras do Alto Madeira. O relator da Comissão , jornalista Ernesto Matoso registra o local com os nomes de Ponto Velho, Porto Velho dos Lenhadores, Porto Velho das caçadas.
1890/1907 – O espaço do Porto do Velho compreendido entre a margem esquerda do igarapé Milagres (ao norte) e margem direita do igarapé Bueira (ao sul), o Rio Madeira (a oeste) e o limite com o Estado de Mato Grosso (ao leste), foi comprada por seiscentos mil reis, pelo coronel José da Costa Crespo, do governo do Estado do Amazonas.
 1907 – A empresa construtora norte-americana May And Jekyl contratada por Percival Farquhar para construir a ferrovia Madeira-Mamoré, no dia 25 de junho de 1907, se instalou no Porto do Velho, local por ela escolhido para ser o ponto inicial da ferrovia. O coronel Crespo seu legitimo proprietário, protestou, contra a apropriação indevida. A questão foi submetida a decisão judicial sendo esta favorável à empresa, perdendo o coronel Crespo parte de área do seu seringal, sem nenhuma indenização monetária. Os americanos deram inicio a construção das instalações ferroviárias. Ainda em 1907, próximo a essas começa a surgir um aglomerado de barracas habitadas por pessoas sem vínculo com a empresa. Era o surgimento espontâneo do povoado de Porto Velho, não tendo este fundador individual, mas sim, fundadores anônimos.
 1913 – Foi criado o Termo Judiciário de Porto velho por intermédio da Lei n.º 741 de 30 de outubro de 1913, sancionada pelo Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa, governador do Estado do Amazonas. Sendo instalado no povoado de Porto Velho, no dia 30 de janeiro de 1914.
 1914 –O Decreto Estadual n.º 1.063, de 17 de março de 1914, estabeleceu os limites do Termo Judiciário de Porto Velho, os quais extensivo para o município.
 1914 - Foi criado o Município de Porto Velho por intermédio da Lei n.º 757, de 02 de outubro de 1914, sancionada pelo Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa, governador do Estado do Amazonas, com sede no povoado da mesma denominação. Não passou pela condição politica/administrativa de DISTRITO.
 1915 – Instalação do Município de Porto Velho no dia 24 de janeiro de 1915, no povoado de Porto Velho.
 1917 – Foi criada a Comarca de Porto Velho por intermédio da Lei n.º 900, de 31 de agosto de 1917 sancionada por Dr. Pedro Alcântara Bacellar, governador do estado do Amazonas.
 1919 – Foi o povoado de Porto Velho, elevado à categoria de cidade por intermédio da Lei n.º 1011, de 07 de setembro de 1919, sancionada por DR. Pedro Alcântara Bacellar, governador do Estado do Amazonas. Não passou pela condição politica de VILA.
 1931 – O governo federal expede o Decreto n.º 20.200, de 10 de julho de 1931, assumindo a administração da Madeira-Mamoré. O povoado ferroviário dos anglo/canadenses, gradativamente foi sendo absorvida pela cidade de Porto Velho, integrando-se ao município, extinguindo-se a duplicidade administrativa.
 1943 – A cidade de Porto Velho foi escolhida para ser a capital do Território Federal do Guaporé, constituído por áreas desmembradas dos estados do Amazonas e de Mato Grosso, por intermédio do Decreto –Lei n.º 5.812, de 13 de setembro de 1943, expedido pelo Presidente da República DR. Getúlio Dornelles Vargas.
 1981 – A cidade de Porto Velho transforma-se em capital do Estado de Rondônia instituído pela Complementar n.º 41, de 22 de dezembro de 1981, sancionada pelo Presidente da República General João Batista de Figueiredo.
 
Conclusões:
 A cidade de Porto velho, originária do povoado de Porto Velho dos brasileiros surgido a partir de 1907, elevado à categoria de cidade, no dia 07 de setembro de 1919, completou 107 anos no mês de junho de 2014.
 O município de Porto Velho, localizado no espaço geográfico do Termo Judiciário da mesma denominação, criado em 1913, foi instituído pela Lei n.º 752, de 02 de outubro de 1914 e instalado no povoado de Porto velho, sua sede, no dia 24 de janeiro de 1915. Completou 100 anos de sua criação e em 2015, cem anos de sua instalação.
A cidade de Porto Velho surgiu na margem direita do Rio Madeira, durante a construção da monumental Estrada de Ferro Madeira Mamoré (1907/1912). Antes porem, houve duas tentativas de se construir uma ferrovia ultrapassando o trecho “encachoeirado” do Rio Madeira.
A primeira tentativa foi em 1872 sob o comando do Coronel Churc não foi muito bem sucedida, assim como a segunda em 1878, quando Coronal Churc contratou a construtora P & T Collins. Essas duas tentativas tinham como ponto de partida a pequena Vila de Santo Antônio, o único povoado da região, pertencente ao Estado do Mato Grosso.
O norte americano Percival Farquar, responsável pela construção da EFMM após o Tratado de Petrópolis, mudou o início das obras para um novo local, devido dificuldades de ancorar grandes embarcações em Santo Antônio. Farquar define que o ponto de partida seria no antigo “Porto Velho dos Militares”, uma referencia ao ponto de apoio utilizado pelo Exército Brasileiro da Guarda Imperial durante a Guerra do Paraguai (1864/1870). Esse antigo porto, a sete quilômetros de Santo Antônio, ficava em terras pertencentes ao Estado do Amazonas. Por essa razão, a cidade ganhou o nome de Porto Velho.
Porto Velho foi elevado a categoria de município do Estado do Amazonas através da Lei 757 de 02 de outubro de 1914, sancionada pelo governador do Estado do Amazonas, Dr. Jonathas de Freitas Pedrosa.
Transcrevo abaixo a lei de criação do município de Porto Velho, com sua grafia original.
A LEI Nº 757 DE 2 DE OUTUBRO DE 1914
Crea o municipio de Porto Velho, com séde na povoação do mesmo nome, à margem direita do rio Madeira, e dá outras providencias.
O DR. JONATHAS DE FREITAS PEDROSA, Governador do Estado do Amazonas,
Faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléa Legislativa do Estado decretou e eu sanccionei a seguinte LEI :
Art. 1º – Fica creado o município de Porto Velho, com séde na povoação do mesmo nome, á margem direita do rio Madeira, tendo os limites estabelecidos pelo Decreto nº 1063 de 17 de Março do corrente anno para aquelle Termo Judiciário.
Art. 2º – O Poder Executivo fica autorisado a entrar em acordo com o Governo Federal, a Madeira Mamoré Raylway Company e os proprietarios de terras para a fundação immediata da povoação, aproveitando na medida do possivel, as obras do saneamento feitas ali por aquella companhia, e abrir os créditos necessários à execução da presente lei.
Art. 3º – O primeiro governo do município será constituído por nomeação do governador do Estado e o seu mandato se extenderá até 31 de Dezembro de 1916.
Manda, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução desta Lei pertencer que a cumpram e façam cumprir fielmente.
O sr. secretario do Estado a mande imprimir, publicar e correr.
Palacio do Governo, em Manáos, 2 de Outubro de 1914.
Dr. Jonathas Pedrosa.
No dia 24 de dezembro de 1914, o Governador Jonathas de Freitas Pedrosa, nomeou o Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense como Superintendente (prefeito) do Município de Porto Velho. O município foi instalado no dia 24 de Janeiro de 1915.
Com a criação do município de Porto velho, surge também o primeiro grande impasse. Com domínio americano na região, visto que o idioma e toda a documentação da EFMM eram em inglês, assim como também o primeiro jornal impresso na cidade foi em inglês, o The Porto Velho Time, tornava-se necessário uma divisão territorial para não haver conflito de poderes.
Foi criada então a Rua Divisória, que era onde é atualmente a Avenida Presidente Dutra. Nela havia uma cerca dividindo a cidade em duas partes. Uma parte era domínio americano, visto que os americanos eram detentores da concessão da ferrovia e outra parte era domínio do município. O lado leste da Rua Divisória era administrado superintendente do município e o lado oeste pelos diretores da EFMM.
A primeira eleição no município de Porto Velho só aconteceu em dezembro de 1916, quando foi eleito o médico Joaquim Augusto Tanajura. Este, por sua vez, assumiu o município no dia 1º de janeiro de 1917, para uma gestão no período de 1917/1919. Joaquim Tanajura foi eleito novamente em 1922, para um segundo mandato no período de 1923/1925.
Foi no segundo mandato do Superintendente Joaquim Tanajura que o município adquiriu o imóvel na Rua José Bonifacio, na ladeira Comendador Centeno para ser a nova sede do executivo municipal. Anteriormente a sede do município era em um antigo casarão de madeira próximo da atual sede central dos Correios e Telégrafos.

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