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A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA COORDENAÇÃO DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL DO INSTITUTO FEDERAL DE SERGIPE: AÇÕES, AVANÇOS E PERSPECTIVAS 
Jessica Gonçalves de Andrade [0: Doutora em Difusão do Conhecimento (UFBA), Mestre em Educação (UNIT), Pedagoga Licenciada (UFS). Pedagoga do Instituto Federal de Sergipe. Contato: jessicagandrade@gmail.com]
 
RESUMO: Este estudo surgiu a partir de indagações pessoais, desassossego e dúvidas profissionais quanto a ação pedagógica desenvolvida por mim em meu ambiente de trabalho. Trata-se de discutir as ações, avanços e perspectivas da atuação do pedagogo na Coordenação de Assistência Estudantil (CAE) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe.Tendo em vista as contribuições desse profissional na implementação de uma educação profissional de qualidade, o objetivo deste estudo é analisar as atribuições e contribuições do pedagogo na CAE, refletindo acerca das ações pedagógicas na perspectiva de desenvolver o serviço da assistência estudantil de qualidade no Instituto Federal de Sergipe. Diante destes posicionamentos, parte-se do seguinte problema: como se dá a prática laboral do pedagogo nas ações da assistência estudantil da CAE considerando suas atribuições e contribuições dentro deste setor? Por se tratar de uma pesquisa que nasceu diante de conversações e guerrilhas comigo mesma, percebe-se que as provocações feitas por Deleuze se mostram como as mais potentes para discutir as questões subjetivas e pessoais postas aqui. Para conceituar e teorizar a pedagogia social utilizaremos as teorias de Geraldo Caliman (2010) João Clemente de Souza Neto, Roberto da Silva e Rogério Adolfo Moura (2009), Maria Stela Santos Graciani (2006), Jorge Camors (1999). No que se refere a educação profissional, os principais referenciais teóricos são Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta e Marise Ramos (2005) Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta (2006), Claudino Ortigara (2014), além de considerarmos toda a legislação vigente (leis e dercretos) que regem a educação no Brasil. Atentando para a necessidade de criar caminhos metodológicos menos cartesianos para investigar processos de produção de subjetividade onde possam transitar as vozes dos envolvidos, é que apostamos na metodologia da cartografia proposta por Deleuze e Guattari. Mais do que delimitar um procedimento metodológico, aqui, utilizaremos a cartografia como uma maneira de conceber esta pesquisa, em uma postura epistemológica e de vida, em uma atitude, justificando, assim, o encontro desta pesquisadora com seu campo. Finalmente, é importante perceber este estudo enquanto potência de devir profissional onde, a medida em que ocorre a atuação laboral há também a reflexão desta ação (subjetividade/ação/subjetividade), de modo que não buscaremos expor aqui verdades sobre a educação e a função do pedagogo na educação, mas sim trazer provocações que permitam, pensar a ação educativa repelindo qualquer certeza que venha a legislar sobre a vida. 
PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia Social, Educação Profissional, Assistência Estudantil, Subjetividade. 
THE WORK OF THE PEDAGOGUE IN THE STUDENT ASSISTANCE COORDINATION OF THE FEDERAL INSTITUTE OF SERGIPE: ACTIONS, ADVANCES AND PERSPECTIVES 
 
ABSTRACT: This study arose from personal doubts, restlessness and professional doubts regarding the pedagogical action developed by me in my work environment. It’s a question of discussing the actions, advances and perspectives of the pedagogue's action in the Coordination of Student Assistance (CSE) of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Sergipe. Considering the contributions of this professional in the implementation of a quality professional education, the objective of this study is to analyze the attributions and contributions of the pedagogue in the CSE, reflecting on the pedagogical actions in the perspective of developing the service of the quality student in the Federal Institute of Sergipe. In view of these positions, the following problem arises: how does the pedagogical work practice in the student assistance actions of the CSE, considering its attributions and contributions within this sector? Because it’s a research study that was born before conversations and war with myself, it is perceived that the provocations made by Deleuze are shown as the most powerful to discuss the questions put here.To conceptualize and theorize social pedagogy we’ll use theories of Geraldo Caliman (2010) João Clemente de Souza Neto, Roberto da Silva e Rogério Adolfo Moura (2009), Maria Stela Santos Graciani (2006), Jorge Camors (1999). With regard to professional education, the main theoretical references are Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta e Marise Ramos (2005) Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta (2006), Claudino Ortigara (2014), in addition to considering all current legislation (laws and regulations) governing education in Brazil. Taking into account the need to create less Cartesian methodological is that ways to investigate processes of subjectivity production where the voices of those involved can pass through, we bet on the mapping methodology proposed by Deleuze and Guattari. More than delimiting a methodological procedure, here, we will use cartography as a way of conceiving this research, in an epistemological and life posture, in an attitude, thus justifying the encounter of this researcher with her field. Finally, it’s important to perceive this study as a power of professional becoming where, as the labor action occurs, there is also the reflection of this action (subjectivity / action / subjectivity) so that we will not seek to present here truths about education and the role of the pedagogue in education, but rather to bring about provocations that allow, to think the educational action repelling any certainty that comes to legislate on life. 
 
Keywords: Social Pedagogy, Professional Education, Student Assistance, Subjectivity.
INTRODUÇÃO
Este artigo tentará de maneira própria e apropriada (GALEFFI, 2014) discorrer acerca da minha experiência quanto pedagoga da Coordenação de Assistência Estudantil (CAE) do Instituto Federal de Sergipe (IFS). Desta forma, buscarei trilhar aqui meus caminhos como pedagoga, onde pela primeira vez tive a possibilidade de trabalhar diretamente com a pedagogia social. Aqui buscarei relatar minhas impressões, sobre esta experiência em uma cartografia (DELEUZE; GUATTARI, 1995) de modo a pensar o ser pedagogo neste sistema educacional. 
Geralmente costumamos pensar a educação a partir de duas relações: a ciência e técnica ou teoria e prática. Aqui explorarei outra possibilidade de pensar a educação de modo mais existencial e mais estética, a partir da experiência. Segundo Jorge Larrosa (2002), experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Deste modo, para escrever de maneira mais clara dividi este artigo em duas seções: em "O Instituto Federal de Sergipe e a Coordenação de Assuntos Estudantis: Ações e Desafios Na Assistência Estudantil" onde há a descrição um breve histórico dos Institutos Federais, considerando as circunstâncias administrativas e sociais para o desenho de uma educação profissionalizante no Brasil. Em seguida, enfatizamos a função da CAE e do pedagogo desta coordenação, considerando o trabalho junto a equipe interdisciplinar para a construção de uma pedagogia social.
Na seção "O Pedagogo na Coordenação De Assuntos Estudantis: o Devir de um Profissional" busquei cartografar minhas experiências e envolvimento junto à CAE, meu relacionamento com os estudantes diretamente assistidos por esta coordenação, os projetos desenvolvidos e os acompanhamentos pedagógicos dos estudantes. Também reflito sobre minha adaptação com a perspectiva de assuntos estudantis do IFS, com a proposta de trabalho em equipe interdisciplinar, bem como o início da familiaridade com a proposta da pedagogia social. Destaco ainda minha divagação acerca de minhas andançaspelo sertão sergipano, onde fica meu local de trabalho. 
Finalmente, trago minhas (In)conclusões sem a pretensão de totalizar um tema ou uma experiência, mas como uma proposta de refletirmos mais sobre as possibilidades de pensar a educação para além dos currículos e da instituição.
Diante do explanado, é importante salientar que este artigo busca a todo o tempo considerar as contribuições do pedagogo na implementação de uma educação profissional de qualidade visando ainda a plena formação do estudante para além da disseminação de currículos técnicos ou propedêuticos. Assim, o objetivo deste estudo é analisar as atribuições e contribuições do pedagogo na CAE, refletindo acerca das ações pedagógicas na perspectiva de desenvolver o serviço da assistência estudantil de qualidade no Instituto Federal de Sergipe.
O INSTITUTO FEDERAL DE SERGIPE E A COORDENAÇÃO DE ASSUNTOS ESTUDANTIS: AÇÕES E DESAFIOS NA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL
	Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia passaram por um longo caminho para se fazer nessa estrutura de hoje. Na tentativa de contextualizar e formar uma linha do tempo para um sucinto entendimento acerca da história da educação no profissional no Brasil, faremos uma linha do tempo da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.[1: http://redefederal.mec.gov.br/images/pdf/linha_tempo_11042016.pdf]
	Em 1909 o então Presidente da República, Nilo Peçanha, criou 19 "Escolas de Aprendizes e Artífices" destinadas ao ensino profissional, primário e gratuito, subordinadas ao Ministério dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio. Em 1927 o Congresso Nacional sancionou o Projeto de Fidélis Reis, que previu o oferecimento obrigatório do ensino profissional no país. Em 1930, foi estruturado o Ministério da Educação e Saúde Pública que passava a supervisionar as Escolas de Aprendizes Artífices através da Inspetoria do Ensino Profissional Técnico. Estas primeiras três décadas foram um período de grande expansão do ensino industrial profissional, com uma política de criação de novas escolas industriais profissionais e criação de novas especializações nas escolas existentes. 
Foi então quando em 1937, a Constituição Brasileira de foi a primeira a tratar especificamente de ensino técnico, profissional e industrial, estabelecendo no artigo 129,
A infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais. O ensino pré-vocacional profissional destinado às classes menos favorecidas é em matéria de educação o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais. É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera da sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão ao Estado, sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo Poder Público.
Assim, em 13 de janeiro de 1937, foi assinada a Lei 378 que transformava as Escolas de Aprendizes e Artífices em Liceus Profissionais, destinados ao ensino profissional, de todos os ramos e graus. Não obstante, em 1941 vigoraram as leis conhecidas como a “Reforma Capanema” que remodelou todo o ensino no Brasil. Os principais pontos dessa reforma foram: o ensino profissional passou a ser considerado de nível médio; o ingresso nas escolas industriais passou a depender de exames de admissão. Além disso, os cursos passaram a ser divididos em dois níveis, correspondentes aos dois ciclos do novo ensino médio: o primeiro compreendia os cursos básico industrial, artesanal, de aprendizagem e de mestria. O segundo ciclo correspondia ao curso técnico industrial.
Cinco anos após a criação dos Liceus Profissionais, institui-se o decreto nº 4.127, de 25 de fevereiro de 1942 que os transformam em Escolas Industriais e Técnicas, as quais passam a oferecer a formação profissional em nível equivalente ao do secundário. De acordo com o documento que mostra o cenário da rede federal de educação profissional e tecnológica do Brasil, é em 1942 que inicia-se, formalmente, o processo de vinculação do ensino industrial à estrutura do ensino do país como um todo. Ou seja, a partir daquele momento os alunos formados nos cursos técnicos ficavam autorizados a ingressar no ensino superior em área equivalente à da sua formação. [2: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/centenario/historico_educacao_profissional.pdf]
O incentivo de 1944 com o empréstimo financeiro dos Estados Unidos para impulsionar a indústria no Brasil no o governo de Getúlio Vargas, fizeram que futuramente, entre 1946 e 1961, o governo de Juscelino Kubitschek aprofundou a relação Estado Economia, levando a formação de profissionais orientados para as metas e desenvolvimento do país. Em 1959, as Escolas Industriais e Técnicas são transformadas em autarquias com o nome de Escolas Técnicas Federais. As instituições ganham autonomia didática e de gestão. Com isso, intensificam a formação de técnicos, mão de obra indispensável diante da aceleração do processo de industrialização. 
A Lei 4.024 de 20 de dezembro de 1961 fixou as diretrizes e bases da educação naquela época trazendo grandes mudanças na política educação profissional pois foi a primeira vez que o ensino profissional passou a ser equiparado ao acadêmico. Neste momento, o ensino técnico abrangia os cursos industrial, agrícola e comercial.trazendo Em 1967 o decreto 60.731 transferiu para o Ministério da Educação e Cultura os órgãos de ensino do Ministério da Agricultura, deste modo, todas as fazendas modelos do Ministério da Agricultura passam a funcionar como escolas agrícolas.
Em 11 de agosto de 1971, novamente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira - LDB (nº. 5.692), foi reformulada e tornando, de maneira compulsória, todo currículo do segundo grau técnico-profissional. De acordo com o INEP [3: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002257.pdf]
A Lei 5.692/71 foi instaurada em plena fase de expansão acelerada da economia do País. Nessa fase a modernização da economia brasileira implicou a redefinição das relações capital/trabalho, nos moldes em que elas vêm ocorrendo nas sociedades capitalistas desenvolvidas e que se caracteriza pelo surgimento de grandes empresas e conglomerados econômicos e pela multiplicação das hierarquias ocupacionais (INEP, p. 05).
Nesta época, as Escolas Técnicas Federais aumentam expressivamente o número de matrículas e implantam novos cursos técnicos pois foi um momento em que era prioridade a formação de técnicos. Em decorrência disso, em 1978, a lei nº 6.545, legisla sobre a transformação três Escolas Técnicas Federais (Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro) em Centros Federais de Educação Tecnológica - CEFETs. Esta mudança outorga a incumbência de formar engenheiros e tecnólogos. 
Em 1994 a Lei nº 8.948, de 8 de dezembro sistematiza e transforma gradativamente todas as Escolas Técnicas Federais e as Escolas Agrotécnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica – CEFETs. Em 20 de novembro de 1996 foi sancionada a Lei 9.394 considerada como a segunda LDB, a qual possui um capítulo exclusivo sobre Educação Profissional da Educação Básica. Em 2005,a Lei 11.195 lança primeira fase do Plano de Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, com a construção de 64 novas unidades de ensino. Dois anos depois há o lançamento da segunda fase deste Plano de Expansão. Mas o grande passo da educação profissional e tecnológica no país acontece em em 2008 quando os todas as instituições federaisque se encontravam em regime ligado a educação profissional e tecnológica foram articuladas para formar os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, modelo que perdura até hoje.
 Percebemos que a educação profissional e tecnológica adquire grande relevância para o desenvolvimento do país, principalmente após a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, com a responsabilidade de promover a educação de qualidade através da articulação entre ensino, extensão, pesquisa aplicada e inovação para formação integral dos cidadãos visando atender os mais diferenciados públicos nas modalidades: presencial, semi-presencial e a distância. 
 Na prestação do serviço educacional o principal objetivo dos institutos é oferecer uma educação de qualidade. Para tanto, foi criado através do decreto no 7.234 de 19 de julho de 2010 o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) o qual apoia a permanência de estudantes de baixa renda matriculados em cursos presencial das instituições federais de ensino superior. O objetivo é viabilizar a igualdade de oportunidades entre todos os estudantes e contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico, a partir de medidas que buscam combater situações de repetência e evasão. O PNAES oferece assistência à moradia estudantil, alimentação, transporte, à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche e apoio pedagógico.Os critérios de seleção dos estudantes levam em conta o perfil socioeconômico dos alunos, além de critérios estabelecidos de acordo com a realidade de cada instituição.
As ações e seleções para saber qual aluno se encaixa no perfil de vulnerabilidade exigido pelo programa são executadas pela própria instituição de ensino, a qual deve acompanhar e avaliar o desenvolvimento do programa. Para tanto cada instituição possui uma política de assistência estudantil própria que condiz com o PNAES mas, também leva em consideração o contexto social, cultural e histórico de cada local.
Pensando mais especificamente no Instituto Federal de Sergipe (IFS), este possui sua Política de Assistência Estudantil outorgada pela Resolução 37/2017 baseada nos princípios do PNAES, a qual foi construída em um processo participativo dos diversos sujeitos: estudantes, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, enfermeiros, gestores em geral. Esta política demonstra que a assistência ao educando vai além da assistência financeira, já que engloba também assuntos relacionados ao atendimento biopsicossocial e pedagógico, com equipe interdisciplinar, a fim de que o estudante tenha suas necessidades atendidas enquanto protagonista do processo de transformação social, conforme preceitua a missão do IFS. É uma política que tem como finalidade prover os recursos humanos, materiais e financeiros necessários para que o estudante supere os entraves do seu desempenho acadêmico, propiciando, assim, a permanência e êxito do estudante nesta Instituição, possibilitando uma formação voltada para o exercício da cidadania.	
O principal objetivo da política do IFS é desenvolver projetos, linhas de ação e serviços que assegurem ao estudante do IFS o acesso, a permanência e o êxito em seu percurso educacional, consolidando o apoio à formação integral, contribuindo preventivamente nos casos de evasão e retenção. Tendo como público alvo os estudantes regularmente matriculados neste Instituto e buscando sempre a excelência em educação e atendimento do seu público, esta instituição tem em sua organização um desenho funcional que conta com profissionais de diversas áreas, para a formação da equipe interdisciplinar a qual executa as ações existentes na citada política. 
A equipe interdisciplinar completa é composta por: assistentes sociais, educadores físicos, enfermeiros, médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, odontólogos, pedagogos, psicólogos, assistentes de aluno, técnicos em assuntos educacionais, revisores braille, transcritores braille, intérpretes de libras, assistentes/auxiliares em administração e outras áreas correlatas. Apesar de no IFS como um todo possuir todos esses profissionais, nos Campi, existem apenas uma equipe mínima, a qual pode solicitar outros profissionais em casos excepcionais para demandas pontuais. 
Pensando ainda mais especificamente no Campus que faço parte, o Campus Glória do IFS, está localizado no sertão de Sergipe a 120 km da capital Aracaju. Em um total de 219 alunos, nosso Campus atende 184 alunos com um orçamento de aproximadamente 84 mil reais anual. Além da Política mencionada aqui a qual legisla sobre a assistência estudantil do IFS, há dentro desta o Programa de Acompanhamento e Assistência ao Educando (PRAAE). Este é um programa institucional composto por projetos, linhas de ações e serviços, desenvolvidos e executados pela Coordenação de Assistência Estudantil (CAE) de cada campus, acompanhados pela Diretoria de Assuntos Educacionais (DIAE). 
Nossa equipe interdisciplinar é formada por um pedagogo, um psicólogo, uma assistente social, um técnicos em assuntos educacionais e três assistentes de alunos. Todas as atividades são desenvolvidas em equipe, ou pelo menos com dois ou mais membros, isso porque a não centralização do trabalho em uma pessoa estabelece uma relação de parceria e socialização, facilitando assim nosso trabalho.
Os casos para acompanhamento da equipe chegam a partir de uma "ficha de acompanhamento psicopedagógico" de modo que as diversas pessoas que fazem parte do instituto podem procurar a equipe e preenchê-la com as informações necessárias para nossa ação. Após a ficha ser preenchida, a equipe se reune e acompanha caso a caso em forma de escuta das partes e averiguação dos fatos. Semanalmente a equipe se reune para comunicar o que fora feito de cara caso e, sucessivamente. 
Além das fichas e acompanhamento de casos individuais, a equipe faz um trabalho em conjunto através de momentos de realização de atividades com os estudantes. Isso acontece pois a equipe adquiriu, junto a Gerência de Ensino, horários em cada turma para o Atendimento Psicopedagógico, ou seja, do mesmo modo que os alunos possuem horário para as disciplinas propedêuticas e técnicas, também pensou-se em um horário específico para que pudéssemos tratar de outros assuntos, não curriculares mas, também importantes. É nestes horários que propomos ações de incentivo e fomento à inclusão, cidadania e à diversidade, estimulando a vivência e o aprendizado do processo democrático para o efetivo exercício da cidadania. 
Além disso também buscamos problematizar temas importantes e que tiveram popularidade naquele momento e, assim realizamos eventos entre todas as turmas para tratar de tal assunto. Geralmente fazemos esses eventos uma vez por mês, em um momento em que pessoas são convidadas para palestrar e discutir com os estudantes acerca de assuntos diversos. Salienta-se ainda a contribuição para o estreitamento da aliança família-escola-comunidade, ampliando o espaço de articulação e participação no âmbito escolar com reuniões bimestrais entre pais e alunos .
O PEDAGOGO NA COORDENAÇÃO DE ASSUNTOS ESTUDANTIS: O DEVIR DE UM PROFISSIONAL
Quando fui designada para trabalhar no IFS Campus Glória como pedagoga, não tinha ideia de como era o trabalho, pois apesar de ter cursado essa graduação pensei sempre na área da docência como meu trabalho principal e nunca na área técnica. Ao assumir essa função me desenvolvi enquanto profissional e pude perceber pouco a pouco como fazer o melhor trabalho, focando sempre no estudante. A cada trabalho realizado, tentava criar uma cartografia que abrangesse aquela localidade relacionada com os estudantes que eu começava a atender/auxiliar. É neste sentido que tomo aqui a metodologia da cartografia para me auxiliar a tecer estas linhas. 
A cartografia que nasce como um princípio do rizoma, conceito criado por Deleuze e Guattari (1995), que tem como princípio uma experimentação ancorada no real. Os autores denominam este método como cartográfico, justamente porqueem um mapa nada se decalca, não há um sentido exclusivo para a sua experimentação nem uma mesma entrada. São múltiplas as entradas em uma cartografia, pois uma realidade sendo cartografada se apresenta como mapa móvel, de modo que tudo aquilo que pode aparentar uma mesma coisa, na verdade, é um concentrado de significação, de saber e de poder.[4: Conceito criado por Deleuze e Guattari no final dos anos 1970, inspirado na botânica. “A metáfora do rizoma subverte a ordem da metáfora arbórea, tomando como imagem aquele tipo de caule radiciforme de alguns vegetais, formado por uma miríade de pequenas raízes emaranhadas em meio a pequenos bulbos armazenatícios, colocando em questão a relação intrínseca entre várias áreas do saber, representadas cada uma delas pelas inúmeras linhas fibrosas de um rizoma, que se entrelaçam e se engalfinham formando um conjunto complexo no qual os elementos remetem necessariamente uns aos outros e mesmo para fora do próprio conjunto”. (GALLO, 2008, p. 76)]
Pensando "cartograficamente", sempre busquei compreender a complexidade das subjetividades destes estudantes, buscando problematizar os acontecimentos junto ao coletivo de forças em cada situação. Como dito no início, este artigo buscou basear-se na experimentação do pensamento assumindo-o como atitude, privilegiando linhas flexíveis de fuga para potencializar a tessitura de uma profissão.
Caliman (2010) define a pedagogia social como,
uma ciência, normativa, descritiva, que orienta a prática sociopedagógica voltada para indivíduos ou grupos, que precisam de apoio e ajuda em suas necessidades, ajudando-os a administrarem seus riscos através da produção de tecnologias e metodologias socioeducativas e do suporte de estruturas institucionais (CALIMAN, 2010, p. 352).
	Apesar do autor associar claramente a Pedagogia Social a espaços não escolares diferenciando a Pedagogia Escolar da Pedagogia Social quando afirma que, 
[...] A primeira tem toda uma história e é amplamente desenvolvida pela didática, ciência ensinada nas universidades. A segunda, a Pedagogia Social, se desenvolve dentro de instituições não formais de educação É uma disciplina mais recente que a anterior. Nasce e se desenvolve de modo particular no século XIX como resposta às exigências da educação de crianças e adolescentes (mas também de adultos) que vivem em condições de marginalidade, de pobreza, de dificuldades na área social. Em geral essas pessoas não freqüentam ou não puderam freqüentar as instituições formais de educação. Mas não só: o objetivo da Pedagogia Social é o de agir sobre a prevenção e a recuperação das deficiências de socialização, e de modo especial lá onde as pessoas são vítimas da insatisfação das necessidades fundamentais. Podemos re-afirmar, portanto, que no Brasil atual a Pedagogia Social vive um momento de grande fertilidade. É um momento de criatividade pedagógica mais que de sistematização dos conteúdos e dos métodos. Em outras palavras, mais que pedagogistas, temos no Brasil educadores que colaboram com o nascimento e o desenvolvimento de um know how com identidade própria, rica de intuição pedagógica e de conteúdos. Ao mesmo tempo nos damos conta de que é chegado o momento no qual precisamos sistematizar toda essa gama de conhecimentos pedagógicos para compreender melhor e interpretar a realidade e projetar intervenções educativas efetivas.
Percebo que minha atuação no exercício pedagógico realizado nesta instituição, estava diretamente relacionada com Pedagogia Social, por se tratar do acompanhamento e assistência de um grupo de estudantes que necessita de auxílio educacional por conta dos moldes que assumiu os Institutos Federais de Educação no Brasil. Explico. 
O IFS Campus Glória oferece o ensino médio integrado onde os alunos passam os dois turnos na instituição cursando em média dezenove disciplina no ano. De acordo com Gaudêncio Frigotto, Maria Ciavatta e Marise Ramos (2005), a proposta do currículo integrado é organizar o conhecimento e desenvolver o processo de ensino-aprendizagem de forma que os conceitos curriculares sejam apreendidos como sistema de relações de uma totalidade concreta que se pretende explicar/compreender. Mas, apesar de percebermos uma visão holística no Projeto Político Curricular dos cursos de ensino integrado, na prática muitos docentes apenas exercem sua função de cumprir com o que está previsto no currículo, esquecendo da interdisciplinaridade em suas ações. É neste momento que a equipe interdisciplinar atua.
	No Campus Glória o trabalho do pedagogo na CAE, é de responsabilidade deste profissional proporcionar apoio pedagógico aos estudantes, planejando, executando e avaliando os programas e projetos relacionados à assistência estudantil. Além disso, compete ao pedagogo auxiliar nas ações de acolhimento de novos alunos e acompanhamento dos estudantes já matriculados. Convém ressaltar que essas atribuições aqui mencionadas são executadas junto à equipe interdisciplinar onde elaboramos encontros diversos para o diálogo e reflexão de temáticas transversais ao currículo escolar. 
	Saliento que demorei para identificar e relacionar a minha ação enquanto pedagoga à área da pedagogia social. Primeiro por perceber que na literatura a Pedagogia Social está muito mais diretamente ligada aos espaços não escolares. Segundo pois como afirma João Clemente de Souza Neto, Roberto da Silva e Rogério Adolfo Moura (2009) afirmam quando lembram da necessidade de ampliar o leque de formação do futuro pedagogo nos currículos dos atuais cursos de pedagogia. 
	Como já fora salientado é através do PRAAE que o IFS demanda recurso a Assistência Estudantil. Este programa prevê a abertura de vários projetos que podem ser desenvolvidos através de editais coordenados pela equipe interdisciplinar. Assim oferecemos além dos atendimentos individuais já salientados aqui, e dos atendimentos em grupo, trabalhamos também com atividades educativas pertinentes para uma verdadeira prática social tendo em vista uma educação integral.
	Dentre algumas das ações pedagógicas para uma efetiva prática social tendo em vista uma educação integral, podemos citar as ações de arte, cultura, esporte e lazer do IFS, visando à formação integral do estudante para o desenvolvimento de suas potencialidades, promovendo bolsas para que os estudantes possam oferecer oficinas de atividades culturais que possuam domínio (teatro, dança, xadrez, música). Além disso temos a bolsa de monitoria, onde os alunos contemplados exercem a assistência das aulas de algumas disciplinas acompanhando alunos para sanar dúvidas e reforçar conceitos. Há ainda a bolsa partilhando saberes que tem o objetivo de sensibilizar os estudantes para ações solidárias no processo de ensino-aprendizagem, envolvendo a participação de duplas de discentes, os quais são contemplados com bolsas pelo êxito acadêmico.			
	Diante das atribuições no IFS, coloco-me aqui como sujeito da experiência, de modo que não venho aqui me definir por minha atividade como pedagoga, mas por minha passividade, não como oposição ao ser ativo, mas uma passividade feita de paciência e atenção. Em meio às ações que desenvolvo no IFS, procuro não me posicionar, mas ouvir, adiando o juízo de valor, sendo receptiva, aberta e disponível para ouvir as histórias contadas em cada encontro. 
Percebo a pedagogia social na nossa prática educacional quando buscamos garantir a educação, tendo em vista à inclusão da história dos estudantes em seu viés social, cultural, econômico e político. Não obstante nossa atuação é voltada para o aspecto social, não apenas pelo fato de oferecermos auxílio financeiro, mas porque pensamos nos estudantes para que eles tenham as condições de alcançarem a consciência crítica diante do contexto em que estão inseridos. Compreendendo que uma prática educativa constitui sempre uma prática social, percebemos que aquela pode ocorrer em diferentes espaços na sociedade e de várias formas. Ao falarmos em prática educativa, pensamos imediatamente em um processo de ensino,mas entendendo que esta é uma prática social, a educação pode ser compreendida de outra forma. Deste modo passei a compreender o processo de ensino – aprendizagem de maneira holística e abrangente, sendo o estudante o protagonista desse processo.
Convém salientar que, apesar de já ter lecionado em turmas de ensino fundamental menor, apenas exercendo a função de pedagoga pude perceber com clareza o que viria ser de fato uma prática educativa social. A experiência de estar fora da sala de aula me fez perceber outros fatores intrínsecos ao processo educacional, para além do ensino - aprendizagem. Para Larrosa (2002, p. 27) a experiência não é o que acontece, mas o que nos acontece, duas pessoas, ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, não fazem a mesma experiência.
Se a experiência é o que nos acontece e se o saber da experiência tem a ver com a elaboração do sentido ou do sem-sentido do que nos acontece, trata-se de um saber finito, ligado à existência de um indivíduo ou de uma comunidade humana particular; ou, de um modo ainda mais explícito, trata-se de um saber que revela ao homem concreto e singular, entendido individual ou coletivamente, o sentido ou o sem-sentido de sua própria existência, de sua própria finitude. Por isso, o saber da experiência é um saber particular, subjetivo, relativo, contingente, pessoal.
É partir dos relatos, depoimentos e conversas dos estudantes, que me lancei em uma aventura criativa do conhecimento e do desconhecimento de mim, desde a Pedagogia, a partir do outro. Procurei me inspirar em Galeffi (2014) quando diz que, nosso ser mais próprio depende de um ato criador de si mesmo, um ato sempre novo, sempre Outro, sempre surpreendente como acréscimo de potência. Para este autor, toda criação é filha da necessidade de ser próprio e apropriado. De ser para si uma transformatividade ritualizada, disposta no tempo-espaço da existência fática, finita, inacabada, sempre em deriva inevitável.
INCONCLUSÕES
As linhas aqui tecidas refletidas a partir de minhas próprias experiências, acrescida de discussões teóricas, permitiu que eu atingisse algumas proposições para o aprimoramento das minhas ações como Pedagoga do Instituto Federal de Sergipe. De fato, as leituras acerca das discussões da Pedagogia Social contribuíram muito para o meu desenvolvimento profissional me tornando capaz de assumir sem temer a função de Pedagoga. 
Percebendo que a educação escolar é cada vez mais uma questão social e não apenas uma questão de natureza educacional é que as políticas relativas à educação profissional estão diretamente ligadas a educação social. Compreendendo que ao formar estudantes diretamente para o trabalho é que reconhecemos que os Instituto Federais de Educação têm conseguido associar a assistência estudantil como principal norteador para que haja acesso, permanência e êxito dos estudantes matriculados nestas instituições. 
É aí que observamos a figura do pedagogo com uma função fundamental no Instituto Federal de Sergipe: desenvolver ações da assistencia estudantil com vistas compromisso social cidadão, em uma formação política e cultural para além dos conteúdos concentrados nos currículos. É ai que a pedagogia social contribui como vertente norteadora deste profissional, se manifestando junto com outras ciências para o debate de diversos temas. 
A pedagogia social difunde-se ai como uma ciência interessada nas políticas de formação do educando e no agir pedagógico, considerando o âmbito não apenas educacional, mas social e com uma prática intervencionista. Uma pedagogia que compreende o estudante como um ser apto a apropriar-se e declarar sua história, como agente de sua transformação e da sociedade. 
REFERÊNCIAS
 
BRASIL, LDB. Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em < www.planalto.gov.br >. Acesso em: 25 Julho de 2018.
______. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CENTENÁRIO DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/centenario/historico_educacao_profissional.pdf> Acesso em: 25 Julho de 2018
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