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Apostila da Disciplina de Tópicos especiais das Ciências Juridicas

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Apostila da Disciplina de 
Tópicos Especiais das Ciências 
Jurídicas 
 
 
Ementa da Disciplina: 1. Ética como Filosofia Moral 2. As 
Teorias Éticas; Direito e Moral 3. Expressões Latinas do 
Cotidiano Forense 4. Verbetes Funcionais do Direito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2017 
Autora: Professora Mestre Maria Emília 
Gonçalves Miranda Barros 
 
 
Tópicos Especiais das Ciências Jurídicas 
 
Maria Emília Gonçalves Miranda Barros 
 
Resumo 
 
Na primeira parte expõe-se sucintamente, questões relacionadas à moral, à 
ética e ao entrelaçamento destas com o Direito, por meio de um enfoque que 
realça a atuação de cada um destes institutos e destaca as possíveis 
diferenças e semelhanças entre eles. 
Na segunda parte, analisamos alguns conceitos jurídicos elementares, 
consubstanciados há séculos em expressões latinas de uso rotineiro nos meios 
forenses, ainda nos nossos dias. Por último, falamos sobre a teoria funcional 
do direito e a forma de interpretar na atualidade o Direito, trazendo à colação 
alguns tópicos de verbetes funcionais. 
 
Palavras-chave 
 
Ética; Moral; Direito; Expressões Latinas; Verbetes Funcionais 
 
Introdução 
Na atualidade, em razão da valorização e avanço mundial pela 
transparência nos negócios e administração públicos e privados, além do 
zelo e respeito pela democracia e participação de toda a sociedade, temos 
nos meios de comunicação e na própria sociedade uma grande inflação 
nos usos dos termos “ética” e “moral”. 
Neste trabalho vamos analisar esses vocábulos sob o ponto de vista 
filosófico, com rápida visão dos estudiosos desde a antiguidade aos nossos 
dias, para tornar mais claro o conceito, afastando–se das confusões que os 
cercam, além de analisar sua influência na esfera do direito. 
Após essa análise inicial veremos a diferenciação entre ambas e o 
conceito de direito e de que forma essas disciplinas e campo de aplicação 
se entrelaçam. 
Em seguida, convidamos você a estudar conosco, ainda, algumas 
expressões latinas muito utilizadas em nosso cotidiano jurídico, bem como 
alguns termos funcionais do direito, utilizados largamente em nosso meio 
jurídico e que podem ajudar nos estudos e trabalhos diários. Vamos 
prosseguir em nossos estudos? 
Desenvolvimento 
1 Ética como Filosofia Moral 
 A ética ou filosofia moral tem sido considerada fundamental para explicar os 
aspectos da moral humana. As questões éticas distinguem-se pela sua 
generalidade em relação às questões morais da vida homem em sociedade, as 
quais são apresentadas em situações concretas. 
Assim, a moral diz respeito ao indivíduo, ainda que pertencente a um grupo social, 
enquanto a ética é teórica e se refere ao que o grupo social considera correto e 
moralmente aceito. Como bem salienta Zanon, entretanto: 
Cabe referir que os julgamentos morais e éticos influenciam, ainda que de forma 
inconsciente, as tomadas de decisões das pessoas, ainda que seja no sentido de 
justamente contrariar aquilo que entendem como certo. Por exemplo, não é 
incomum que uma pessoa, ao subtrair indevidamente os pertences de outra, 
entenda que sua conduta é moralmente inadequada, pois contrária àquilo que 
entende como valioso, e ainda eticamente reprovável, porquanto incompatível com 
os ditames compartilhados intersubjetivamente em comunidade, embora mesmo 
assim proceda por crer, por exemplo, que não será descoberta nem punida. 
Outrossim, quando se afirma que a Moral e a Ética influenciam e orientam a 
tomada de decisão, isto muito obviamente não significa que ambas sejam forças 
naturais que causem determinada conduta.1 
A ética, considerada como ciência, tem o mesmo objetivo de toda teoria: 
explicar, esclarecer, averiguar determinado objeto ou fato.O que a ética apura 
sobre o fundamento ou natureza da norma moral pode ser aplicado para a 
sociedade romana ou para a moral que vigora em nossos dias, em 
determinada sociedade. 
 
1Zanon, Orlando Luiz. Moral, Ética e Direito, REVISTA DA ESMESC, v. 21, n. 27, 2014 
Um dos fundamentos da ação política, além do uso no cotidiano das pessoas, 
é a questão da sua relação com a ética. Para estudarmos mais esse campo, 
vamos nos aprofundar um pouco sobre o tema da Moral, que é o imenso 
campo de investigação e análise da ética. 
1.1 O campo de estudo da ética 
A Ética pode ser considerada como “a teoria ou ciência do comportamento 
moral dos homens em sociedade”.2Desde a antiguidade, a partir das ideias de 
Aristóteles, que viveu em 384 a.C., a ética (do grego ethike) é considerada 
como a ciência que estuda a moral, destinando-se a compreender as regras 
para um comportamento de respeito a direitos e deveres, segundo o que é 
honesto e virtuoso. 
Aristóteles compreendia a ética como a finalidade de se viver bem, ter uma boa 
vida, tanto em relação a si mesmo como em relação aos outros (na cidade, a 
“pólis”, que é a Cidade-Estado na Grécia antiga3). Viver uma boa vida para ele 
é ter uma vida reta e virtuosa. 
Há, ainda, a necessidade de o indivíduo ter consciência do que faz, ter pleno 
discernimento e livre vontade. Se a pessoa não sabe o que faz ou está coagida 
a agir de alguma forma não se poderá afirmar se possui ou não comportamento 
ético. Assim, por exemplo, uma pessoa que ajuda outra, estando sob grave 
ameaça, não está agindo por influência de um argumento moral ou ético, mas 
sob coação, nesse caso, não há virtude. 
Aristóteles salientava que, tanto no aspecto privado como no público, os 
homens devem se pautar pela ética. Por outro lado, para ele, a ética da virtude 
objetiva obter-se a felicidade, por meio da vida contemplativa, de uso apenas 
da razão e do pensamento, sendo por ele considerados impuros os trabalhos 
manuais ou físicos. 
Outra questão colocada como importante por Aristóteles é a temperança, a 
sobriedade: a virtude, nas relações sociais e políticas somente é possível no 
 
2Vázquez, Adolfo Sanchez. Ética. Civilização Brasileira, 2012, p. 23. 
3Filosofia: Textos Fundamentais Comentados, 2 ª edição – BONJOUR, Laurence e BAKER, 
Ann, p. 480/ 493, Capítulo: “Aristóteles Ética a Nicômano”. 
 
meio termo. Assim, a virtude consiste em um meio termo entre dois vícios 
opostos, em deles envolvendo o excesso e o outro a deficiência de uma 
qualidade. Dessa forma, por exemplo, entre a covardia e a ousadia encontra-se 
a coragem. 
1.2 A delimitação da moral 
Historicamente, a moral surge quando o homem ultrapassa as fronteiras de seu 
estado natural para viver em sociedade. A partir daí, surgiu a necessidade de 
regular os comportamentos mais básicos para que o homem pudesse subsistir 
e defender-se. Desde esse primeiro momento, entretanto, observa-se que: 
 
Como regulamentação do comportamento dos indivíduos entre si e destes com 
a comunidade, a moral exige necessariamente não só que o homem esteja em 
relação com os demais, mas também certa consciência – por limitada e 
imprecisa que seja – desta relação para que se possa comportar de com as 
normas ou prescrições que o governam. 4 (VÁZQUEZ, 2012, p.39) 
 
A moral pode ser definida como o conjunto de regras aplicadas ao cotidiano 
pelos indivíduos que vivem em sociedade. É, portanto, derivada do padrão 
cultural vigente, formada pelos valores considerados indispensáveis ao 
convívio em determinada sociedade e que podem ser questionados e 
analisados pela ética. Segundo o que Vázquez, nos ensina na obra citada, 
“Ética”: 
A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são 
regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a 
comunidade, de tal maneira que estas normas dotadas de um caráter histórico 
e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e 
não deuma maneira mecânica, externa e impessoal. (VÁZQUEZ, 2012, p. 84) 
 
2. As teorias éticas: direito e moral 
Nesta parte de nossos estudos, vamos analisar as teorias éticas e a sua 
confluência com a moral e o direito. O Direito e a Moral são preceitos sociais 
que regulam a conduta do Homem no meio social, delimitando a conduta que é 
certa e a que não se enquadra, a qual é considerada como errada. 
 
4Vazquez, Adolfo Sanchez. Obra citada, 2012, p. 39. 
 
Existem regras que cumprimos em sociedade, quase sem perceber, tais como 
com relação aos atos praticados por honestidade ou por bondade, atos esses 
de conteúdo moral. Outros atos, pela sua clara obrigatoriedade, de conduta 
forçada, pertencem ao campo de atuação do Direito. Há outras diferenças, 
entretanto, entre a moral e o direito. 
Observe-se que surge a questão do direito e da moral com mais força, em 
ascensão, a partir da Renascença, pois com a formação dos Estados 
modernos, a grande pergunta passou a ser: até que ponto o Estado pode 
interferir na vida dos indivíduos? 
Sendo a moral mais abrangente que o direito, eis que há muitos preceitos que 
se colocam no estudo da moral, mas não no campo do direito, como por 
exemplo, a honra, o respeito etc. 
O jurista MiguelReale, em importante obra, já destacava5que há três aspectos 
fundamentais no direito: fato, valor e norma. E o valor nada mais é que o 
aspecto moral da norma jurídica. A teoria tridimensional do direito, de Miguel 
Reale, considera que não se pode prender apenas ao enunciado solene da 
norma, mas deve-se verificar que o fato em análise e os valores (morais) 
envolvidos fazem parte da técnica de constituição da norma. 
Outra Interessante teoria com relação ao conteúdo do direito e a da moral foi 
elaborada pelo filósofo alemão Jellinek. É a chamada teoria do “mínimo ético”, 
pela qual se considerava que o direito constitui o mínimo indispensável de 
respeito às obrigações morais. Como nem todos os indivíduos obedecem 
espontaneamente às obrigações morais, é necessário garantir pela força da 
norma legal que certos preceitos éticos sejam atendidos, para que a sociedade 
não naufrague. Exemplo: As pessoas devem amparar seus filhos quanto à 
subsistência e educação (norma moral), mas foi necessário colocar-se essa 
obrigação moral como obrigação prevista em lei, pelo pagamento de pensão 
alimentícia, pois os pais nem sempre cumprem prontamente essa obrigação. 
 
As morais, em regra, dizem os adeptos dessa doutrina, é cumprida de 
maneira espontânea, mas como as violações são inevitáveis é 
indispensável que se impeça com vigor da lei e do aparato estatal a 
 
5REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 29° edição, ajustada ao novo Código Civil, 6° 
Tiragem 
transgressão dos dispositivos considerados indispensáveis à paz social 
(REALE, 1993). 
 
Nosso próximo tópico trata, de forma concisa, sobre a evolução das ideias 
sobre a moral e a ética, para depois adentrarmos no tema propriamente dito, 
da moral em seu entrelaçamento com o direito. 
 
2.1 Evolução do pensamento sobre a moral e a ética 
Após a Idade Média, na qual a moral era vinculada ao poderreligioso, a 
evolução dos conceitos e forma de aplicação da ética e seu campo de 
pesquisa, a moral, passaram a existir diversas correntes de pensamentos 
filosóficos que defendiam o determinismo pela situação natural do homem, em 
sociedade, não havendo como agir de outra forma. 
Pelo utilitarismo, defendido por Stuart Mill, entre outros, o homem procura o 
princípio da utilidade como critério do valor moral de um ato. Assim, haveria 
valor ético, nas ações que beneficiassem o maior número de pessoas possível. 
Posteriormente, a noção de moral passa, a partir do trabalho de Kant (1724 – 
1804), a concentrar-se no conceito do dever à existência da própria moral. 
Segundo esse filósofo, a base da moral existirá na medida em que o ser 
racional ajusta a sua intenção e comportamento aos preceitos universais da 
razão que a natureza oferece a todos. 
Kant apreendeu do iluminismo a noção de que os seres humanos em 
sociedade são atraídos pela regra moral que é o bem, pois o mal é mais difícil 
de conceber, desde que se conhece o bem. O iluminismo, no sentido de 
esclarecer os homens pelas luzes da razão, teve grande influência na forma de 
Kant compreender a própria razão, pois a partir daí o homem será esclarecido 
de tudo o que o cerca. 
O exercício de uma vontade autônoma implica em liberdade de pensamento 
que é a procura pela razão. Veja o que diz Ramos sobre o tema: 
 
Toda a época de Kant clamava por essa emancipação da razão 
considerada uma passagem das trevas do obscurantismo para a luz natural 
do conhecimento. O Século XVIII é chamado de Século das Luzes em 
referência a esse ideal... (Ramos, 2012, p. 155) 6 
 
Para Kant, contudo, a submissão do homem às leis morais não o priva de 
suadignidade, mas, ao contrário, sendo uma vontade livre e autônoma, dá o 
fundamento à dignidade do homem. 
 
2.2. Direito e Moral: semelhanças e diferenças 
Com relação aos pontos semelhantes entre moral e direito salientamos 
principalmente os que dizem respeito: a) tanto a moral como o direito são 
condutas obrigatórias; b) são imperativas. Pois os indivíduos devem agir certa 
maneira; c) constituem uma necessidade social para garantir a harmonia social; 
d) mudam com os acontecimentos históricos de acordo com o sistema político-
social e ambos são diferentes de um povo para outro. As principais diferenças 
entre direito e moral, em suma, são: 
Moral Direito 
O individuo age com convicção 
íntima ou adesão à norma 
Não há possibilidade de adesão. O 
indivíduo deve cumprir a norma (coerção 
estatal) 
É interna a convicção. Ninguém 
obriga. 
É externa a coação. Impõe-se a 
observância da norma. 
Não há codificação de normas 
morais. 
Há codificação de normas (leis, 
regulamentos etc.) 
É mais ampla que o Direito. Compreende relações vitais, mínimas e 
necessárias para o funcionamento e paz 
social do Estado 
A moral existe antes do Estado, 
desde que há homens em 
sociedade. 
Está ligado ao aparecimento do Estado, 
para que pudesse ser cobrado pelo 
soberano dos súditos as normas mínimas 
de boa convivência. 
Podem existir mais de uma 
moral no Estado, dependendo 
Há somente um Direito em cada Estado, 
mesmo que a sociedade possua classes 
 
6Ramos, Flamarion Caldeira. Coordenador. Manual de Filosofia Política. Saraiva. 2012. p.143. 
da sociedade sociais antagônicas. 
 Síntese de trecho da obra de Vázquez, Ética, já citada, p.98 
 
Em síntese, moral e direito compartilham características entre si, mas possuem 
diferenças que ao mesmo tempo pertencem a determinada época e grupo 
social, mas também se observa a natureza do direito como a conduta humana 
sancionada pelo Estado e a moral como um comportamento que não exige a 
sanção estatal, se apoiando tão somente no comando do grupo social, 
expressa em normas e respeitadas voluntariamente. 
 
3 Expressões latinas do Cotidiano forense 
Nesta segunda parte do nosso trabalho, vamos tratar de dois temas 
interligados. O uso de expressões e termos latinos ainda nos dias atuais e sua 
importância e, ainda, o uso de termos específicos de expressões funcionais, 
que estão ligadas à interpretação funcional do direito, ambas igualmente 
importantes na linguagem jurídica, com alguns verbetes especiais, como 
protagonistas da comunicação no mundo jurídico. 
Tais ideias foram desenvolvidas em vista do extremo valor que a linguagem 
jurídica possui para levar a bom termo a comunicação, podendo-se dizer que é 
da própria essência e o principal instrumento de trabalho do advogado e das 
outras profissões vinculadasao Direito, expressar-se de forma correta e clara. 
No Brasil, a Língua Portuguesa, é a principal ferramenta de atuação do 
profissional do direito. Assim, ela é o instrumento pelo qual devemos 
aperfeiçoar o conhecimento especializado para convencer o magistrado ou a 
quem quer dirijamos a palavra. 
Outro aspecto importante, diz respeito à clareza e precisão da linguagem 
utilizadas na redação dos documentos e peças dirigidas ao Judiciário. Esses 
textos devem ser elaborados da forma mais objetiva possível, tanto para 
facilitar o próprio trabalho dos juízes, já assoberbados por excesso de trabalho, 
quanto para que os próprios pedidos sejam prontamente atendidos, em vista da 
melhor compreensão do conteúdo. 
É notório, entretanto, que muitos advogados fazem uso de linguagem bastante 
antiquada e, por vezes, rebuscada, distante da linguagem comum, que 
dificultam a compreensão. Há utilização excessiva de expressões latinas, 
brocardos em geral e outros termos eruditos. 
Por outro lado, é necessário o uso de alguns termos e expressões específicos, 
peculiares ao Direito. Não há como ser de outra forma. Algumas expressões 
latinas poderiam ser substituídas facilmente por vocábulos em português, mas 
por tradição não o fazemos. 
É razoável e necessário, portanto, usar de bom senso para trazer ao discurso 
forense, seja ele escrito ou verbal, expressões latinas quando estas definem 
conceitos históricos e tradicionais do Direito, mas principalmente quando estas 
gerem menções que influenciam, de maneira decisiva, a compreensão dos 
textos, que de outro modo não teriam o mesmo sentido. Algumas dessas 
expressões não poderiam apenas ser substituídas por outras, como uma 
simples tradução, pois perderiam significados que lhes são próprios. 
3.1. Exemplos de expressões latinas 
A colação exemplificativa que trazemos agora, foi extraída do Dicionário 
Jurídico Brasileiro de Washington dos Santos7, no Michaelis e no Expressões 
Jurídicas Latinas Aplicadas ao Cotidiano Forense(Pequeno Dicionário 
Comentado), de Ruy Magalhães Araújo. 
 A definição de cada vocábulo é de um dos três Dicionários (SANTOS, 
MICHAELIS ou ARAÚJO), estando nossos comentários logo abaixo. 
Ad hoc. Significa “para isso”. Usada na eventual substituição ou 
designação oficial para determinado ato.8 
É utilizada, por exemplo, quando um réu não tem ou não pode constituir 
advogado e, nesse caso, o juiz um advogado ad hoc. Tal nomeação, contudo, 
é apenas para esse determinado caso, não podendo se aproveitada para 
outros. 
Ad judicia para o foro em geral 9 
Ad negocia para os negócios. Refere-se ao mandato outorgado para 
fins de negócio. 
Usa-se Ad judicia nos mandatos em geral para conferir poderes próprios para 
atuação no foro judicial. É uma limitação de poderes no sentido que, se houver 
somente essa menção no mandato, o advogado não poderá atuar também 
 
7SANTOS, Washington dos. S337. Dicionário jurídico brasileiro / Washington dos Santos. - 
Belo Horizonte : Del Rey, 2001.Disponível em 
http://www.ceap.br/artigos/ART12082010105651.pdf 
8
 SANTOS, Obra citada, p.30 
9
 SANTOS, Obra citada, p.31. 
extrajudicialmente. Ao contrário, usa-se o poder Ad negocia nos mandatos em 
geral para conferir poderes para atuação para fins extrajudiciais, como um 
contrato, por exemplo. 
Ad quem.Para quem. 1 Diz-se do juiz ou tribunal a que se recorre de 
sentença ou despacho de juiz inferior. 2 Dia marcado para a 
execução de uma obrigação. Se contrapõe a: 
A quo. De que, do qual. Dia a partir do qual se começa a contagem 
dos prazos da lei. Também designa juiz ou tribunal de instância 
inferior10 
Ad quem significa juízo de instância superior, para o qual, seguem os 
recursos. A quo é uma expressão que significa, sua origem. 
A non domino.Transferência de bens, móveis ou imóveis, por parte 
de quem não é o proprietário.11 
Diz-se da transferência de bens móveis ou imóveis, por quem não é seu 
legítimo dono. Nesse caso a venda é considerada nula de pleno direito. Pode, 
eventualmente, serem reconhecidos direitos (de indenização, por exemplo) ao 
adquirente de boa fé. 
Audiatur et altera pars. Que a outra parte seja também ouvida. 
Para haver imparcialidade e justiça no julgamento, deve-se ouvir a 
defesa depois da acusação.12 
É a consagração do princípio do contraditório, pelo qual a outra parte deve 
sempre ser ouvida. 
Bis de eademre non sitactio. Não haja dupla ação sobre a mesma 
causa. 13 
Não pode haver ação sobre mesma causa de pedir, pedido e partes. É a 
chamada litispendência, que pode ser alegada sempre que isso ocorra. 
Causamortis.A causadamorte. Serve para distinguir os atos de 
última vontade ou os atos detransmissão de propriedade, 
após a morte, dos atos de transmissão entre vivos, inter 
vivos. Também seemprega com relação ao imposto pago 
sobre a importância líquida da herança ou legado. 14 
 
 
10ARAUJO, Ruy Magalhães. Expressões Jurídicas Latinas Aplicadas ao Cotidiano 
Forense(Pequeno Dicionário Comentado), p. 9,disponível em 
https://www.passeidireto.com/arquivo/11228171/dicionario-de-expressoes-juridicas-latinas 
11Michaelis, Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa. Editora 
Melhoramentos.2017.Disponível em 
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=lit%EDgio 
12ARAUJO, Idem p. 14. 
13
 ARAUJO, idem p. 16 
14ARAUJO, Idem p. 19. 
Causamortis é expressão oposta à expressão intervivos. Servem para gerar, 
respectivamente, em caso de transmissão de bens, o imposto denominado 
ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Bens ou 
Direitos), no caso de morte de alguém ou ITBI (Imposto sobre Transmissão de 
Bens Imóveis), quando se trata de transação entre pessoas vivas. 
 
Conditio sinequa non – Condição sem a qual não. Condição 
essencial à realização de um ato jurídico.15 
Toda a condição sem a qual o ato ou fato jurídico não teria ocorrido. No direito 
penal a conditio sinequa non é o nexo causal.16 
Corpus delicti – Corpo de delito. 1 Objeto, instrumento ou sinal que 
prove a existência do delito. 2 Ato judicial feito pelas autoridades a 
fim de provar a existência de um crime e descobrir os responsáveis 
por ele.17 
É a materialidade do ato praticado, podendo a investigação ou perícia referir-se 
a pessoa ou objeto. 
Data venia. Dada a vênia. Expressão respeitosa com que se inicia 
uma argumentação para discordar da opinião de outrem.18 
Essa é uma expressão muito usada nos meios forenses. É respeitoso utilizá-la 
quando se discorda do interlocutor, tanto no discurso verbal como no escrito. 
De cujus. De quem. Primeiras palavras da locução de cujus 
sucessioneagitur (de cuja sucessão se trata). Trata-se da pessoa 
falecida, cuja sucessão se acha aberta. 19 
Não recebe flexão de gênero em caso de inventário ou arrolamento com mais 
de uma pessoa falecida designa-se os “de cujos” (os falecidos). 
Cujus seccessioneagitur. Aquele o u aquela de cuja suces- 
Dura lexsed Lex. A lei é dura, mas é a lei. Apesar de exigir 
sacrifícios, a lei deve ser cumprida.20 
A locução latina tem como efeito que ninguém pode alegar a ignorância da lei 
em seu benefício. Se a lei existe ela deve ser cumprida (Lei de Introdução às 
normas do Direito Brasileiro).21 
 
15ARAUJO, Idem p. 24. 
16Art. 13 do Código Penal: O resultado, de que depende a existência do crime, somente é 
imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o 
resultado não teria ocorrido. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). BRASIL. 
Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm 
17ARAUJO, Idem p.27 
18Michaelis, Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa. Obra citada. 
19ARAUJO, Idem p. 30 
20ARAUJO, Idem p. 36 
Erga omnes. Contra todos. Diz-se de ato, lei ou dispositivo que 
obriga a todos.22 
O denominado efeito erga omnes significa que a lei ou um ato jurisdicional 
possui efeitos para toda a sociedade. 
Exequatur. Execute-se, cumpra-se. 23. 
 É a decisão de se cumprir no país uma sentença de justiça estrangeira. A 
própria Constituição Federal ampara a concessão do exequatur (Artigos 105, 
inciso I, alínea "i"; e 109, inciso X, ambos da Constituição Federal). 24 
Ex lege.Por força da lei: Foi nomeado ex lege.25 
Assim, por exemplo, a obrigação tributária é ex lege, ou seja, a lei tributária 
prevê as hipóteses de incidência e o fato gerador, entre outros detalhes da 
obrigação. 
Exofficio. Por obrigação, por dever do cargo. Diz-se do ato realizado 
sem provocação das partes.26 
Há casos em que mesmo sem a parte solicitar, há por parte do Judiciário, 
cautelas ao realizar determinado ato, como por exemplo, o envio ao Tribunal 
para reexame necessário do processo em certas hipóteses. 
Extunc. Desde então. Com efeito retroativo.27 
É o contrário de ex nunc que significa a partir de agora, sem retroagir. 
Observe-se que os atos nulos produzem efeitos retroativos, isto é, extunc 
enquanto osanuláveis possuem efeitosex nunc. 
Factumprincipis.28 Fato do príncipe. Em direito trabalhista, 
cessação do trabalho por imposição da autoridade pública, sem culpa 
do empregador, ficando o governo responsável pela indenização 
devida ao empregado (CLT, art. 486).29 
 
21Artigo 3º que "ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece." 
BRASIL. 1942. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm 
22ARAUJO, Idem p. 37 
23ARAUJO, Idem p. 42 
24
“a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas 
rogatórias” Brasil, 1988, (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004), BRASIL. 
1988 Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 
25ARAUJO, Idem p. 39 
26ARAUJO, Idem p. 39 
27ARAUJO, Idem p. 40 
28ARAUJO, Idem p. 44 
29Art. 486 - No caso de paralisação temporária ou definitiva do trabalho, motivada por ato de 
autoridade municipal, estadual ou federal, ou pela promulgação de lei ou resolução que 
impossibilite a continuação da atividade, prevalecerá o pagamento da indenização, que ficará a 
cargo do governo responsável. (Redação dada pela Lei nº 1.530, de 26.12.1951)BRASIL, 1943. CLT. 
Outra situação: Fato do príncipe é um ato do Estado, como uma Lei ou decisão 
administrativa, por exemplo, que vem a trazer resultados que dificultam ou não 
permitem o cumprimento de um Contrato administrativo. Assim, a parte não 
tem como agir e não pode dar cabal cumprimento ao contrato firmado com a 
própria Administração pública, em virtude de ato editado por ela mesma. 
Habeas corpus. Que tenhas o corpo. Recurso judicial que garante o 
direito de liberdade de locomoção, por ilegalidade ou por abuso de 
poder.30 
O caso mais comum de impetração de habeas corpus é a prisão ilegal por 
autoridade policial. Nesse caso, o advogado peticiona ao Tribunal e um 
habeascorpus libera o réu da prisão, que continuará respondendo ao 
processo em liberdade. 
In dubio pro reo. Na dúvida, pelo réu. A incerteza sobre a prática de 
um delito ou sobre alguma circunstância relativa a ele deve 
favorecer o réu.31 
Esse é um dos maiores direitos para o homem. Se há dúvida sobre a 
materialidade ou a autoria, deve o réu ser favorecido. Por outro lado, a lei penal 
não pode retroagir se não for para beneficiar o réu.32 
Intuitu personae. Em consideração à pessoa.33 
Muitos contratos são celebrados tendo-se em vista da pessoa que vai executar 
um trabalho ou tarefa. Por exemplo: contratar um advogado para uma ação 
será intuitu personae, pois, em razão da confiança depositada, somente ele 
poderá dar cumprimento ao ato. 
Juris et de jure. Dedireito e por direito. Estabelecido por lei e 
considerado por esta como verdade. 34 
Trata-se aqui de uma presunção de certos atos, que não admitem prova em 
contrário. Por outro lado, inversamente, temos a expressão latina juris tantum 
para a qual se admite prova em contrário. Exemplo: A presunção de inocência 
no Direito Penal é Juris tantum , admitindo prova em contrário. 
Jussanguinis. Direito de sangue. Princípio que só reconhece como 
nacionais os filhos de pais nascidos no país. 
 
Decreto-Lei 5452 de 1º de maio de 1943, disponível 
emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452compilado.htm 
30Michaelis,obra citada. 
31ARAUJO, Idem p. 50. 
32Art 5º XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; ” BRASIL. 1988. 
Constituição da República Federativa do Brasil. 
 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. 
33ARAUJO, Idem p. 52 
34ARAUJO, Idem p. 56 
Jus soli.Direito do solo. Princípio pelo qual a pessoa tem a cidadania 
no país onde nasceu. 35 
Estes são institutos que determinam a nacionalidade em função do nascimento 
de pais nascidos no país (jussanguinis) ou no solo – a pessoa tem a 
cidadania de acordo com o país onde nasceu (jus soli). No Brasil adotamos os 
dois, dependendo do caso. 
Non bis in idem.Não duas vezes pelo mesmo delito.36 
Axioma jurídico, em virtude do qual ninguém pode responder, pela segunda 
vez, sobre o mesmo fato já julgado, ou ser duplamente punido pelo mesmo 
delito. 
Nullapoenasine lege. Nenhuma pena sem lei. Não pode existir 
pena, sem a prévia cominação legal37. 
Trata-se do princípio da legalidade. Se o fato ocorrido não estiver previsto em 
lei, não é crime. 
Pro rata. Locução adv. De modo a respeitar a proporcionalidade: 
obedeceram a exigência de distribuir pro rata todos os cargos. 
Locução adj. Que representa proporcionalidade, proporcional.38 
Refere-se ao rateio proporcional, de acordo com o que foi determinado. Usa-
se, por exemplo, na legislação civil para determinar o rateio de quotas 
condominiais ou de sociedades empresariais, etc. 
Ratio juris – Razão do direito. Motivo que o hermeneuta encontra no direito 
vigente para justificar a interpretação ou solução que dá a uma regra jurídica ou a 
certo caso concreto.39 
É o motivo que existe na legislação vigente para embasar um direito, por 
exemplo. Trata-se da razão legal, portanto. Ao contrário, a ratiolegis serve aos 
doutrinadores e intérpretes da lei, os quais buscam o espírito ou motivação que 
levaram à edição da própria lei (razões econômicas, sociais etc). 
Ultra petita. Além do pedido. Diz-se da demanda julgada além do 
que pediu o autor.40 
O juiz não pode julgar ultra petita, deve-se prender apenas ao que foi pedido 
pelo autor. 
 
4. Verbetes funcionais do direito 
 
35ARAUJO, Idem p. 58 
36ARAUJO, Idem p. 70 
37ARAUJO, Idem p. 72 
38Michaelis. Obra citada 
39ARAUJO, p. 83 
40ARAUJO, p. 94 
 
Para que possamos comentar alguns verbetes funcionais do direito, vamos 
primeiro falar um pouco sobre a teoria funcional do direito de Norberto Bobbio, 
fazendo nossas observações adaptadas em relação ao Estado brasileiro. 
Com o início do Estado de bem-estar social, previsto na Constituição Brasileira 
de 1988, o papel do direito deixou de ser apenas coercitivo para punir os 
infratores dos atos ilícitos e proteger os atos lícitos.A partir de então, o Estado 
passa a agir de forma positiva, ora intervindo no domínio econômico, ora no 
meio social, para incentivar e promover os direitos individuais e a igualdade de 
oportunidades a todos, entre outros direitos. 
Segundo Bobbio, em sua obra “Da estrutura à função: novos estudos de teoria 
do direito”.41 As políticas de estímulo ou encorajamento social ou, ao contrário, 
as de desencorajamento, visam a operar mudanças na sociedade ou, de outra 
forma, desencorajar atitudes, para estimular a manutenção de situação 
existente ou conservação social. As medidas de desencorajamento são sempre 
mais comuns, pois o direito tende a manter o status quo, sendo essas técnicas 
ainda dominantes na teoria do direito. 
A CF de 1988 passa, portanto, a ser uma Constituição programática42, para, 
em muitas ocasiões, “promover” ações que objetivamo bem-estar social. O 
verbo “promover” é um dos que mais aparece na CF de 1988. 
A respeito do assunto, Paulo Bonavides salienta: 
A Constituição brasileira de 1988, por exemplo, classificada pela doutrina como 
uma Constituição do Estado Social, prevê como objetivo da República "promover o 
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer 
outras formas de discriminação" (Art. 3, IV); é dever do Estado promover a defesa 
do consumidor (art. 5º, XXXII), promover a defesa contra calamidades públicas 
(art. 21, XVIII), promover programas de construção de moradias e a melhoria das 
condições habitacionais e de saneamento básico (art. 23, IX), combater as causas 
da pobreza e da marginalização, promovendo a integração social dos setores 
desfavorecidos (art. 23, X); é dever dos Municípios promover a proteção do 
patrimônio histórico-cultural local (art. 30,IX); é dever do Presidente o do Vice-
Presidente da República prestar compromisso de promover o bem geral do povo 
brasileiro (art. 78); admissão da concessão de incentivos fiscais destinados a 
 
41BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. Tradução de 
Daniela BaccacciaVersani. Barueri-SP: Editora Manole, 2007. Ibidem, p. 19 
42Constituição dirigente ou compromissória ou, ainda, programática de acordo com a doutrina 
constitucionalista consagra inúmeras normas programáticas a serem cumpridas por outras leis 
ou programas de governo. É o caso da Constituição brasileira de 1988. [comentários nossos] 
promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes 
regiões do país (art. 151, I); é dever do Estado promover e incentivar o turismo 
como fator de desenvolvimento social e econômico (art. 180); [ ... ] Promover e 
incentivar o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas 
(art. 218), e promover a educação ambiental (art. 225, VI). ”43 
 
4.1. A Função Social do Direito e a Justiça 
 
Como consequência das ideias da função social do direito, além da ação do 
legislativo e das políticas administrativas do Estado, que procuram incentivar a 
melhoria social, temos também o papel da Justiça. Nesse aspecto, a visão do 
Estado hoje é a de propor ao intérprete do direito – magistrados e operadores 
do direito, uma visão abrangente que perceba além da aplicação da letra fria da 
lei, o objetivo de atender cada caso, com razoabilidade e equidade. Não pode a 
técnica legal da aplicação da lei estar distante do objetivo humano de atender 
às pessoas. 
 
Para a teoria funcional do direito, portanto, o intérprete, operador do direito, 
deve proceder a uma análise sob a ótica funcional, ou seja, deve analisar os 
objetivos a serem alcançados pelo sistema de normas jurídicas vigentes. 
Mas porque há essa necessidade de humanização do direito? Ora, muitos 
operadores do direito, em especial no Judiciário, interpretam de maneira 
automática a legislação, sem se preocupar com os aspectos peculiares 
envolvidos em cada caso. 
A noção de função social, seja do direito da propriedade, do contrato, ou de 
qualquer outra aplicação que se lhe dê, é a ideia de que o direito está vinculado 
às pessoas envolvidas na lide ou ao contrato, etc. A proteção ao homem deve 
ser observada. 
Bobbio percebeu isso muito bem, quando combateu a teoria anacrônica de 
Kelsen. Para Kelsen, em sua teoria estruturalista, o direito abrange um sistema 
de normas, com princípios próprios e autossuficientes. O ordenamento jurídico 
para ele era completo em si mesmo, justamente para proteger a própria 
sociedade e dar maior segurança. Não oferecia espaço para uma análise 
funcional como vemos analisamos hoje. Pela análise funcional, contudo, leva-
 
43BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 21ª ed. São Paulo: Ed. Malheiros, 2007, 
p. 371. 
se em consideração fatores sociológicos, econômicos e outros, a depender de 
cada situação, tudo buscando compreender e aplicar a legislação da maneira 
mais adequada e justa em cada aspecto. 
Não podemos esquecer o sistema, a estrutura do sistema jurídico vigente, mas 
devemos aplicar o direito de forma a atender a sociedade, o ser humano. 
 
4.2 Verbetes Funcionais do Direito 
 
Função social do direito 
 
A ideia está vinculada à teoria funcional de Norberto Bobbio. O Direito deve ser 
aplicado, no Judiciário e interpretado sempre, levando-se em conta fatores 
sociais, históricos, econômicos etc., para melhor análise de cada situação. O 
Direito é uma ciência social que se comunica com as outras ciências sociais 
(Sociologia, Filosofia, etc.). A teoria funcional é oposta, em muitos aspectos, à 
antiga escola da exegese e ao positivismo jurídico de Kelsen, pela qual eram 
rígidas as formas de interpretar a lei. A interpretação deveria ser literal, racional 
e gramatical, não havendo possibilidade de outras ciências humanas 
interferirem na interpretação. 
 
Função social da propriedade 
 
Na legislação brasileira, quer na própria CF de 1988 como no Código Civil, 
considera-se essencial que a propriedadetenha seu devido uso. Se for 
abandonada ou mal utilizada poderá eventualmente ser tomada do proprietário. 
É um viés próprio da teoria funcional do direito, pois se considera, antes de 
tudo a prioridade da sociedade, que a propriedade não pode ser absoluta. Não 
havendo bom uso poderá ser tomada pelo poder público ou por um particular 
legitimado. Hoje todos os direitos subjetivos estão limitados por sua função 
social. Se não houver bom uso podem ser limitados para atender ao interesse 
coletivo. 
 
Função social do contrato 
 
O Código Civil estatui em seu art. 422. “A liberdade de contratar será exercida 
em razão e nos limites da função social do contrato”.Esse preceito também 
estáde acordo com o previsto na Constituição Federal de 1988 - nos incisos 
XXII e XXIII do Art. 5º que o direito de propriedade atenderá a sua função 
social. 
Porém, mesmo nos contratos em que não se cuide de propriedade é pacífico o 
entendimento que o operador do direito deve sopesar todos os fatores sociais 
envolvidos. Por exemplo: Contrato de locação - não se refere a direito de 
propriedade, mas o juiz deve analisar as implicações das cláusulas contratuais 
em face da função social do Contrato, ou seja, analisando os detalhes 
socioeconômicos e outros fatores, sempre que possível, pois a locação tem 
relevância social. 
Promover o bem social e promover oportunidades para todos 
Estes dois objetivos programáticos que estão na CF de 1988 e são importantes 
porque, mesmo que se demore muito para efetivar o cumprimento desses 
programas, só o fato de estarem contidos na Constituição já constitui avanço, 
porque não pode a legislação infraconstitucional esquecer ou ir contra esse 
objetivo de “promoção do bem social” e de “oportunidades para todos”, sob 
pena de inconstitucionalidade da lei. 
 
Considerações finais 
 
A ética constitui o estudosistemático e científico de determinada moral, 
aplicada a certo grupo, que é sempre cultural e historicamente dependente da 
moral do nicho a que pertence.Há ainda, os estudos específicos de ética 
aplicados a uma profissão ou ramo de conhecimento humano, a ética de 
grupos sociais determinados. 
A moral é a mais abrangente. O próprio Direito está contido no campo da 
moral. O Direito, por outro lado, é o mínimo estabelecido pelo Estado como 
necessário ao respeito para o convívio social. 
Para finalizar sobre a parte da ética, moral e Direito, devemos lembrar que as 
sociedades que são ética e moralmente coerentes e mais desenvolvidas, são 
as que tem na educação de seus cidadãos a sua maior riqueza. Estimulam que 
as pessoas sejam esclarecidas e que a sociedade lhes cobrará se agirem em 
desacordo com os preceitos morais. 
Com relação ao uso dos temos em latim consideramos importante continuar a 
usar os termos e expressões já consagrados. Faz parte de um certo ritual do 
Direito, como a toga dos Tribunais. Mas o exagero e a linguagem jurídica 
empolada, mal utilizada é um erro grave, que só tende a acentuar a demora 
dos processos e a má comunicação das partes. 
Em relação ao tópico final, sobre a teoria funcional e suas aplicações no 
Direito, o que não podemos esquecer é a extrema preocupação com os direitos 
do homem em sociedade, em todos os aspectos. Geralmente “direitos 
humanos” pensamos logo em Direitos na esfera penal e o indivíduo que foi 
preso. Não é este o enfoque aqui. Em todas as aplicações do Direito, seja 
Direito Internacional, Constitucional, Civil, penal ou outros ramos, o que importa 
no âmago mesmo é o ser humano. Então, se vamos analisar ou aplicar a lei ao 
caso concreto, é necessário verificar se o ser humanoestá sendo atendido. 
 
Referências 
 
BOBBIO, Norberto. Da estrutura à função: novos estudos de teoria do direito. 
Tradução de Daniela BaccacciaVersani. Barueri-SP: Editora Manole, 2007. 
 
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 21ª ed. São Paulo: Ed. 
Malheiros, 2007 
 
BONJOUR, Laurence; BAKER, Ann. Filosofia: Textos Fundamentais 
Comentados. 2ª edição, Editora Artmed. 2010. p. 480-493. 
 
MICHAELLIS, Dicionário Brasileiro de Língua Portuguesa. Editora 
Melhoramentos. 2017.Disponível em: 
<http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-
portugues&palavra=lit%EDgio> Acesso em: 24 maio 2017 
 
RAMOS,Flamarion Caldeira, Coord. Manual de Filosofia Política. Saraiva. 
2012. p.143. 
 
REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 29° edição, ajustada ao novo 
Código Civil, 6° Tiragem. 
 
SANTOS, Washington dos. Dicionário jurídico brasileiro. In:______. - Belo 
Horizonte : Del Rey, 2001. Disponível em: 
<http://www.ceap.br/artigos/ART12082010105651.pdf> Acesso em: 24 maio 
2017 
 
VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. Ética. Civilização Brasileira, 2012. 
 
ZANON, Orlando Luiz. Moral, Ética e Direito, Artigo. REVISTA DA ESMESC –
Escola Superior da Magistratura de Santa Catarina, v. 21, n. 27, 2014. 
Disponível em: <https://revista.esmesc.org.br/re/article/download/85/79>Acesso 
em: 24 maio 2017

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