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Sujeitos de Direito Internacional Público O Estado Prof. Paulo Afonso de Oliveira Junior Direito Internacional Público Introdução Sujeitos de direito internacional, também chamados de Pessoas Jurídicas de direito internacional são os Estados e as Organizações Internacionais, sendo certo que estes últimos passou a integral o rol das pessoas jurídicas de direito internacional a partir do inicio do século passado (período pós guerra), quando até então somente os Estados eram admitidos como sujeitos desta sociedade internacional. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. “São sujeitos de Direito Internacional Público todos aqueles entes ou entidades cujas condutas estão diretamente previstas pelo direito das gentes (ou, pelo menos, contidas no âmbito de certos direitos ou obrigações internacionais) e que têm possibilidade de atuar (direta ou indiretamente) no plano internacional” Julio Barberis Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Diante desta definição, modernamente, alguns doutrinadores ainda incluirão os indivíduos no rol dos sujeitos de Direito Internacional, lembrando Mazzuoli que a qualificação jurídica de um certo ente como sujeito de direito internacional guarda, assim, duas conotações: uma passiva – a quem tal Direito é destinada – e outra ativa – que se traduz na capacidade de atuação no plano internacional. Passemos primeiro ao estudo do Estado como sujeito de Direito Internacional Público, vez que, este é sujeito pleno e primária do DIP. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Várias são as definições para Estado, dependendo do ramo da ciência que se propõe estuda-lo. No entanto para o Direito Internacional o Estado pode ser definido: "O Estado é o ente jurídico, dotado de personalidade internacional, formado de uma reunião (comunidade) de indivíduos estabelecidos de maneira permanente em um território determinado, sob a autoridade de um governo independente e com a finalidade precípua de zelar pelo bem comum daqueles que o habitam" Valério de Oliveira Mazzuoli “Estado é uma coletividade que se compõe de um território e de uma população submetidos a um poder político organizado caracterizado pela soberania." Parecer 01 da Comissão de Arbitragem e Julgamento de 1991 "O Estado pode ser definido como um fenómeno histórico, sociológico e político considerado pelo Direito" Alain Pellet Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ambas as definições nos remete a dois pontos muito importantes para o estudo do Estado como sujeito do DIP. O primeiro deles é a noção que subtraímos da definição de Pellet, afinal o Estado apesar de ser sujeito do DIP não é criado por este, sua existência independe da sociedade internacional, sua formação e extinção estão mais ligados a fatores históricos e sociais do que a fatores jurídicos, na realidade o direito apenas reconhece estes acontecimentos trazendo-os para si. O segundo ponto é que para existir um Estado enquanto tal, necessitamos de três elementos que o constituirão: O elemento territorial, o elemento populacional e o elemento governativo. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Elemento Territorial: Elementos constitutivos do Estado Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O primeiro elemento que estudaremos é o território que se caracteriza como sendo a base física/geográfica onde o Estado exerce sua autoridade ou jurisdição de forma geral e exclusiva: •Geral pois o exerce em todo o território; •Exclusiva pois só ele pode fazer, não se admitindo que outro assuma suas funções, sejam as executivas, legislativas ou judiciárias, sem seu próprio consentimento. É em regra sobre este primeiro elemento que se localiza o segundo (população) e também sobre esse que exerce o terceiro elemento (governativo). Clovis Beviláqua em seu Direito Público Internacional nos lembra que por elemento territorial constitutivo de um Estado não se deve entender somente a porção de terra definida por fronteiras, mas também o subsolo e as regiões separadas do solo, os rios, lagos e mares interiores, os golfos as baías e os portos, a faixa de mar territorial e a plataforma submarina e por fim, o espaço aéreo. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Questão da extensão: Devemos destacar que o elemento territorial de um Estado, não está ligado a nenhum conceito de extensão, sendo certo que para o DIP, pouco importa o tamanho do território de um Estado, todos gozam da mesma soberania, o que é comprovado pela existência dos chamados microestados, como o Principado de Andorra, Liechtenstein, Mônaco e San Marino, como estudaremos a seguir. Questão das fronteiras não delimitadas: Tão pouco deixará de existir a territorialidade de um Estado por este encontrar-se em litígio fronteiriço, o que acontece ainda em dias atuais, o que se exige na realidade é um mínimo de estabilidade territorial, não sendo necessário demarcações absolutas e incontestadas. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Questão das Embaixadas: Outro ponto que não se pode deixar de comentar, ao estudarmos a dimensão territorial do Estado, é a noção errônea defendida por parte da doutrina, que as embaixadas, navios e aeronaves de guerra são territórios do país que representa ou do pavilhão (bandeira) que ostenta. Deve-se deixar claro que tal noção não é verdadeira, o que acontece é a chamada imunidade que lhes são inerentes por força do próprio direito internacional. As embaixadas são indiscutivelmente território do país em que se instalam, não podendo ser violadas por força de tratados e convenções. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Duas modalidades eram, no passado, muito frequentes na questão da aquisição de territórios pelos Estados soberanos: a descoberta e a conquista. Aquisição e perda de território Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A descoberta foi durante o período chamado das grandes navegações o modo mais comum de aquisição de território. Lançando-se os estados Europeus ao mar, anexavam a seu próprio território aqueles que julgavam não serem de ninguém (terra nullius). Os limites destes territórios, segundo o princípio da continuidade, eram do litoral terra adentro, até que encontrassem outro Estado, que vindo em sentido contrário, reivindicavam as mesmas terras. Descoberta Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Nesta modalidade de aquisição, vamos conhecer uma variante, a chamada terra derelicta que são aquelas terras que foram ocupadas por um Estado após serem abandonadas pelo Estado que anteriormente a descobriu e a ocupava. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ilha de Palma A Ilha de Palma foi descoberta pela Espanha e abandonada em 1599, foi ocupada pelos Países Baixos: Ilhas Malvinas (Ilhas Falkland) Descobertas pela Espanha foram abandonadas em 1811 e ocupadas pela Grã-Bretanha. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ilhas Carolinas Descobertas pela Espanha foram abandonadas e ocupadas pela Alemanha. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Na segunda modalidade de aquisição comum no passado, temos a chamada conquista, que geralmente se dava através da guerra. Era o que acontecia, por exemplo, na América espanhola que em diversos rincões encontrava resistência dos povos indígenas, a aquisição destes territórios só ocorria após a fuga dos nativos ou mesmo seu extermínio. Conquista Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Evidentemente que atualmente nenhuma destas modalidades é admitida pelo direito internacional. Hoje a aquisição e perda de território acontecem, em regra, porsua cessão onerosa ou gratuita. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Cessão Onerosa A aquisição do Alasca pelo EUA que pagou a Rússia em 1867, 7,2 milhões de dólares Aquisição da Louisiana pelo EUA que pagou a França em 1803 o valor de 60 milhões de francos. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Aquisição pelo Brasil do que hoje é o Acre, que pagou a Bolívia 2 milhões de libras esterlinas e a prestação de alguns serviços de infraestrutura Cessão Onerosa Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Cessão da Alsácia-Lorena pela França em favor da Alemanha em 1871 após aquela perder a guerra bilateral ou mesmo o retorno desta mesma região a França por ocasião do término da 1ª guerra mundial que teve França no grupo dos vencedores e Alemanha no grupo dos perdedores. Não se confunde estas cessões gratuitas com conquistas de guerra, pois tal território não foi “conquistado” foi cedido através de negociações pós guerra. Cessão Gratuita Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A delimitação entre Estados pode acontecer por decisão arbitral ou judicial, mas é mais comum que ocorram através de tratados bilaterais. Os Estados confinantes reconhecendo seus limites tendem a celebrar tratados para que suas fronteiras fiquem estipuladas evitando possíveis conflitos. Nestes tratados os Estados optam por linhas divisórias naturais ou artificiais. Serão artificiais quando utilizadas as linhas geográficas dos paralelos, meridionais e diagonais. Serão naturais quando utilizável as linhas traçadas por rios e cordilheiras, por exemplo. Delimitação Territorial Linhas divisórias artificiais A fronteira dos EUA e Canadá utilizam boa parte de um paralelo Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Linhas divisórias artificiais Comum nas fronteiras do Continente Africano Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Linhas divisórias naturais Sistema das Cordilheiras e Montanhas Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. No critério das cordilheiras, pode-se adotar dois sub- sistemas: Sistema de flancos: onde a base da cordilheira é a divisa, fazendo que toda ela seja pertencente a um só dos países limítrofes. Sistema da divisão das águas: onde o limite entre os países é o mais alto de seu cume, onde as águas das chuvas se dividiriam. O sistema da divisão das aguas no critério das cordilheiras é o adotado no tratado de limites entre Argentina e Chile considerando a cordilheira dos Andes. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Sub-sistema das aguas também é o utilizado para a delimitação das fronteiras entre Brasil-Venezuela, Brasil-Colômbia e Brasil-Peru. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Linhas divisórias naturais Sistema dos Rios Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. No critério dos rios, também teremos uma subdivição em dois outros subsistemas: Sistema da equidistância considera-se o limite o meio exato do rio Sistema do talvegue. o limite partiria do ponto mais profundo do rio. O sistema do talvegue é utilizado nas fronteiras do Brasil-Argentina considerando os rios Uruguai e Iguaçu: Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O sistema do talvegue é utilizado nas fronteiras Brasil-Peru considerando o rio Purus: Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O sistema da equidistância é o utilizado nas fronteiras do Brasil- Bolívia considerando os rios Guaporé, Momoré e Madeira: Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Elemento Pessoal: Elementos constitutivos do Estado Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O segundo elemento constitutivo de um Estado é sua dimensão pessoal, ou seja, a população sujeita a um governo sobre um determinado território. Apesar de não se confundirem a noção de povo e população, sendo aquele o conjunto de nacionais dentro de um território e este a soma dos nacionais e dos estrangeiros que residem em definitivo em um Estado estrangeiro, a doutrina não é consensual ao firmar a noção da dimensão pessoal do Estado. Defende alguns, como Rezek, que somente o povo comporia a dimensão pessoal do Estado para o DIP, e outros, como Mazzuoli que defende que a dimensão pessoal do estado seria para o DIP àquela composta de sua população. Parece-nos mais acertada a noção de Mazzuoli, pois não se pode afirmar que o Estado não exerce seu poder soberano sobre os estrangeiros que estejam em seu território, daí acreditarmos que a melhor doutrina traz a população como sendo a dimensão pessoal do Estado. Muito importante para esta dimensão pessoal, é a ideia de nacionalidade, vinculo jurídico-político que liga o Estado a seus nacionais, pois indiscutivelmente, a soberania de um Estado também atuará sobre seus nacionais residentes no estrangeiro. No mais, é através do conceito de nacionalidade que nasce a ideia de estrangeiro. Sobre a nacionalidade e a condição jurídica do estrangeiro estudaremos detalhadamente no Direito Internacional Privado, quando então conheceremos com profundida esta dimensão pessoal do Estado. Elemento Governativo: Elementos constitutivos do Estado Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Como terceiro elemento constitutivo do Estado, teremos sua dimensão governativa, o poder soberano que o mesmo exerce sobre sua população e seu território de forma absoluta e exclusiva. Para configurar-se esta dimensão, não basta haver um governo, este tem que ser soberano. Soberania é a característica do Estado que não reconhece nenhum poder acima do seu, não aceita autoridade alguma superior a sua. Para o DIP não importa o sistema ou o regime de governo adotado pelo Estado, o que é necessário é que ele seja soberano. A soberania é princípio basilar das relações entre as nações, estando garantida na Carta da ONU e na da OEA além de tantos outros documentos. Carta da ONU Art. 2º - A Organização e seus membros, para a realização dos propósitos mencionados no art. 1º, agirão de acordo com os seguintes princípios: 1 – A Organização é baseada no princípio da igualdade soberana de todos os seus membros. Carta da OEA Art. 3º - Os Estados Americanos reafirmam os seguintes princípios: b) A ordem internacional é constituída essencialmente pelo respeito à personalidade, soberania e independência dos Estados e pelo cumprimento fiel das obrigações emanadas dos tratados e de outras fontes do direito internacional. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Não de pode confundir, no entanto, soberania com autonomia, como o que ocorre com os chamados estados federados. Os estados federados, que recebem nomes diversos como províncias, cantões, estados, comunas etc, não possuem soberania, pois se reúnem para formar um único Estado soberano. Os estados federados são detentores de autonomia, havendo poder superior ao seu. Não podem se relacionar na esfera internacional, pois não têm um dos atributos necessários para serem sujeitos de Direito Internacional Público. Mesmo quando alguns estados federados atuam na esfera internacional, ou mesmo quando o Estado Soberano lhes atribui uma “nacionalidade federada”, tudo isso não passa de uma aparência de soberania, pois quando estes estados federados atuam ou atribuem sua nacionalidade só o fazem por permissão do Estado Soberano que está acima do seu poder autônomo. É o caso da Suíça que atribui uma “nacionalidade” a seus cantões e até mesmo certo poder para que estes se relacionem com Estados Soberanos limítrofes, ou mesmo o caso brasileiro que em 1970 viu o estado de Minas Gerais celebrar contrato de empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, tal contrato só foi possível por que a Estado Brasileiro consentiu com tal contrato afiançando tal negócio. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Protetoratos: Outro ponto que se deve colocar quantoa questão da soberania dos Estados, foi o sistema encontrado pelas SDN e posteriormente pela ONU no processo de descolonização. Por ocasião do final da primeira guerra mundial os países vencedores não sabiam o que fazer com as colônias alemãs da África, vez que entendiam imoral colonizá-las por sua vez, então se criou o sistema dos territórios sob administração ou sistema de Tutela. Como muitas destas colônias não tinham condições para assumirem sua soberania, a SDN e a ONU, concederam sua administração a outros países que deveriam prepará-las para que alcançassem a soberania. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. É o que aconteceu com a Namíbia (Sudoeste Africano) que foi colocada sob administração da África do Sul e tornou-se independente em 1990. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Outro exemplo é o Palau, ilha do Pacífico que colocada sob administração dos EUA tornou-se independente em 1994 Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Reconhecimento de Estado "Reconhecimento de Estado seria o ato unilateral – nem sempre explícito – com que um Estado, no uso de sua prerrogativa soberana, faz ver que entende presentes numa entidade homóloga, a soberania, a personalidade jurídica de direito internacional idêntica à sua própria, a condição de Estado” Francisco Rezek Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Como já falamos acima, alguns doutrinadores eleva o reconhecimento do Estado pela sociedade internacional, e, principalmente, pelos demais Estados, como elemento constitutivo do Estado. Tal teoria não deve ser aceita, considerando que o Estado existirá independentemente do reconhecimento dos demais Estados, pois sua prática é meramente declaratória e não constitutiva do próprio Estado. O Estado existirá não quando outros Estados o reconhecerem como tal, mas sim quando for dotado de governo soberano, população e território. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Tanto é verdade, que a Carta Constitutiva da Organização dos Estados Americanos (OEA), textualmente consigna em seu artigo 13: “A existência política de um Estado é independente do seu reconhecimento pelos outros Estados. Mesmo antes de ser reconhecido, o Estado tem o direito de defender a sua integridade e independência, de promover a sua conservação e prosperidade, e, por conseguinte, de organizar como melhor entender, de legislar sobre os seus interesses, de administrar os seus serviços e de determinar a jurisdição e a competência dos seus tribunais. O exercício desses direitos, não tem outros limites senão o exercício dos direitos de outros Estados, conforme o direito internacional.” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O reconhecimento de um Estado por outro Estado pode se dar de forma expressa ou mesmo de forma tácita. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Forma expressa Ocorrerá de forma expressa, quando um país emite nota de reconhecimento, ou mesmo celebra tratados bilaterais com outro Estado, consignando tal reconhecimento. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ex de reconhecimento por tratado O Brasil foi reconhecido como Estado por Portugal em tratado celebrado entre estas duas nações em 29 de agosto de 1825. Outro exemplo é o tratado bilateral celebrado entre Brasil e Argentina (Províncias Unidas do Rio da Prata) que reconheceu o Estado Cisplatino (Uruguai) em 27 de agosto de 1828. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ex de emissão de nota O Brasil reconheceu por notas diplomáticas unilaterais as repúblicas bálticas (Letônia, Estônia e Lituânia) em 1991. Croácia e Eslovênia em 1992. Eslováquia e República Tcheca em 1993. República de Montenegro em 2006 Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Forma tácita Ocorrerá, por sua vez, de forma tácita o reconhecimento de um Estado por outro, quando o Estado que reconhece passa a se relacionar com o Estado reconhecido através de atos que aquele não praticaria frente a este, sabendo não tratar-se de um Estado soberano. Isso poderá acontecer quando o Estado celebra acordos bilaterais com o outro sem, no entanto, consignar no texto do próprio tratado o reconhecimento; quando um país inicia relações diplomáticas com outro etc. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Exemplo A França reconheceu a República Popular da China tacitamente quando em 27 de janeiro de 1964 divulgou um comunicado onde estabelecia o início das relações diplomáticas entre os dois países; O Egito reconheceu tacitamente o Estado de Israel quando em Camp David (USA) celebrou acordo com este, intermediado pelos EUA. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Tratados Multilaterais e o Reconhecimento de Estado: O que se deve consignar é que não será considerado reconhecimento tácito, quanto da negociação ou mesmo assinatura de um tratado multilateral, alguns países não sejam reconhecidos pelos outros. A simples celebração deste tratado, por ser multilateral, não induzirá o reconhecimento. É o que acorre, por exemplo, no tratado de constituição da ONU do qual é signatário o Estado de Israel e vários outros Estados - em sua maioria mulçumanos - que não reconhece aquele primeiro Estado. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Reconhecimento de Governo Além do chamado reconhecimento de Estado, que se dará em regra quando da formação de um novo ente da sociedade internacional, por questões de descolonização, fusão ou desmembramento, haverá também o chamado reconhecimento de Governo, quando por questões diversas, houver dentro de um Estado já reconhecido, um brusco rompimento da ordem política e os demais Estados se vêm no direito de reconhecê-lo ou não. Ocorrerá, por exemplo, quando estivermos diante de um golpe de estado ou mesmo uma revolução que instaure dentro da ordem política de um Estado já reconhecido, um novo governo. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Caso mais recente é o ocorrido em Honduras, onde por um golpe com apoio militar, destituiu-se o presidente Manoel Zelaya instalando-se um novo governo, mesmo que provisório. Neste caso específico, o Brasil, acompanhado por algumas outras nações, recusaram-se a reconhecer a legitimidade do novo governo que se instalara. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Duas são as teorias criadas nas Américas para a questão do reconhecimento de governo, tendo em vista que foi aqui em nosso continente que ocorreu em meados do século passado a instalação de vários governos golpistas. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Doutrina Tobar A primeira delas é a chamada doutrina Tobar que recebeu este nome por causa do ministro de relações exteriores do Equador Carlos Tobar. Esta doutrina preleciona que os Estados deveriam recusar-se a reconhecer os governos golpistas com o intuito de fazer cessar esta prática comum à época. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O próprio Carlos Tobar a justifica: “O meio mais eficaz para acabar com essas mudanças violentas de governo, inspiradas pela ambição, que tantas vezes têm perturbado o progresso e o desenvolvimento das nações latino- americanas e causado guerras civis sangrentas, seria a recusa, por parte dos demais governos, de reconhecer esses regimes acidentais, resultantes de revoluções, até que fique demonstrado que eles contam com a aprovação popular.” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Doutrina Estrada A segunda teoria é a chamada doutrina Estrada, que por sua vez recebe este nome por causa do ministro de relações exteriores do México Genaro Estrada, que através de um comunicado divulgado no México e remetido aos demais ministros de relações exteriores das Américas, condenava a doutrina Tobar sob alegação de que esta era por demais intervencionista, e que os demais Estados não tinham o direito de interferir nosassuntos internos de um país, analisando se o novo governo era ou não um governo legítimo. Este comunicado é extenso, mas vale a pena reproduzi-lo para melhor entendermos a doutrina Estrada. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. “Em razão de mudanças de regime ocorridas em alguns países da América do Sul, o governo do México teve uma vez mais que decidir sobre a teoria chamada do “reconhecimento” de governo. É fato sabido que o México sofreu como poucos países, há alguns anos, as consequências dessa doutrina que deixa ao arbítrio de governos estrangeiros opinar sobre a legitimidade ou ilegalidade de outro regime, isto criando situações em que a capacidade legal ou a legitimidade nacional de governos e autoridades parecem submeter-se ao juízo exterior. A doutrina do chamado “reconhecimento” foi aplicada, desde a grande guerra, especialmente às nações de nossa área, sem que em casos conhecidos de mudança de regime na Europa tenha sido usado expressamente, o que mostra que os sistema se transforma em prática dirigida às repúblicas latino-americanas. Após atento estudo da matéria, o governo do México expediu instruções a seus representantes nos países afetados pelas crises políticas recentes, fazendo-lhes saber que o México não se pronuncia no sentido de outorgar reconhecimento, pois estima que essa prática desonrosa, além de ferir a soberania das nações, deixa-as em situação na qual seus assuntos internos podem qualificar-se em qualquer sentido por outros governos, que assumem de fato uma atitude crítica quando de sua decisão favorável ou desfavorável sobre a capacidade legal do regime. Por conseguinte, o governo do México limita-se a conservar ou retirar, quando crê necessário, seus agentes diplomáticos, e a continuar acolhendo, também quando entender necessário, os agentes diplomáticos que essas nações mantêm junto a si, sem qualificar, nem precipitadamente nem a posteriori, o direito que teriam as nações estrangeiras de aceitar, manter ou substituir seus governos ou suas autoridades.” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A questão da desonra para o Estado reconhecido, manifestada pela nota de Estrada, fica muito evidente na nota que emitiu os EUA quando em 1928 reconheceu o governo Equatoriano: “Meu governo observou com maior satisfação os progressos realizados pela república do Equador durante os três anos passados desde o golpe de 9 de julho de 1925, e a tranquilidade que reina no país desde então. A confiança que o regime do Dr. Ayora inspira na maioria dos equatorianos, sua habilidade e seu desejo de manter a ordem na administração do país, assim como o respeito por suas obrigações internacionais, fazem com que o governo dos Estados Unidos sinta-se feliz em conceder-lhe a partir de hoje seu completo reconhecimento como governo legal do Equador”. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Hoje a prática corrente entre as nações é a fusão entre estas duas doutrinas. O que é importante é a efetividade do governo, se este observa suas normas constitucionais e cumpre com suas obrigações internacionais, pouco importando se este governo é democrático ou não. Com isso, encontra-se em desuso a utilização de nota oficial de reconhecimento, o que é mais comum nos tempos atuais é o rompimento das relações diplomáticas quando isso se faz necessário, sem, no entanto, qualquer manifestação oficial de reconhecimento ou não. Formação, Extinção e Sucessão de Estados Várias são as formas de formação e extinção de Estados, entre elas podemos citar a emancipação, separação ou desmembramento e fusão. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Formação do Estado A formação se dará por emancipação quando um Estado se liberta do julgo de outro Estado, como o que aconteceu no caso das colônias americanas e africanas. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Emancipações pacíficas: Norte Americana (1776). Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Emancipações pacíficas: Brasileira (1822). Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. óleo sobre tela de François-René Moreaux (Museu Imperial de Petrópolis). Emancipação por meio de rebeliões: Grécia (1830), Montenegro, Romênia, Bulgária e Sérvia (1878) que se emanciparam do Império Otomano. Formação do Estado Separação ou desmembramento ocorrerá quando parte de um Estado se separa de um outro dando origem a um novo Estado. É também conhecido como secessão que é proibida pelo artigo 1º da Constituição Federal Brasileira. É atualmente a forma mais comum de criação de Estados, tendo em vista que não há mais terras sem ocupação e tão pouco países ainda colonizados. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Separação da Áustria, Hungria e Tchecoslováquia em 1918 que pôs fim ao Império Austro-Húngaro. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Separação dos Estados da antiga República da Grã-Colômbia que dissolvida em 1930 deu origem a República da Nova Granada (Colômbia), Venezuela e Equador Separação da Federação Centro Americana em 1838 que originou outros cinco Estados: Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Separação da Iuguslávia que em 1991 gerou a formação de 5 outros países (Eslovênia, Croácia, Bósnia Herzegovina, Macedónea e Sérvia e Montenegro). Em 5 e 3 de junho de 2006 respectivamente Sérvia e Montenegro declararam independência formando dois Estados. Em 2008 o Kosovo declarou independencia da Sérvia. Formação do Estado Por meio da fusão, dois ou mais Estados se reúnem para a formação de um terceiro Estado. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O surgimento do Reino da Itália que fundiu os ducados de Modena, Parma e Toscana, mais o Reino de Nápoles e o Piamonte em 1860. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Surgimento da Tanzânia em 1964 pela fusão de Zanzibar e Tanganica ou ainda a fusão do Iêmem do Sul com o Iêmem do Norte em 1990 que originou o Iêmem.. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ainda na fusão, poderemos encontrar o fenômeno em que um Estado já existente absorve outro se transformando, não criando outro necessariamente. É o que ocorreu em 1908 quando o Congo foi incorporado a Bélgica e a Coréia ao Japão em 1910. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Evidentemente que os fenômenos acima estudados tem o condão não só de criar como também de extinguir Estados, pois em muitas das modalidades estudadas acima, a formação de um novo Estado se dará pela extinção de outro. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Mas quais as consequências jurídicas destas extinções e formações de Estados? Estas consequências são estudadas na chamada sucessão de Estados que nos ensinamentos de Ian Brawnlie, ocorreria “quando um Estado (chamado de predecessor ou sucedido) é definitivamente substituído por outro (chamado sucessor) no que tange ao domínio de seu território e às responsabilidades pelas suas relações internacionais”. O Princípio da Tábula Rasa: Dentro da sucessão de Estados é conhecido o princípio da “tábula rasa” que afirma que com o surgimento do novo Estado, este não teria vinculação alguma ao Estado que se extinguiu, incluindo a isenção quando ao cumprimento dos tratados celebrados pelo antigo Estado ou mesmo quanto a não responsabilidade por suas dívidas. No entanto, tal princípio, segundo melhor doutrina, não deve ser aplicado em absoluta, devendo ser observado alguns outros princípios quanto aos tratados anteriormente assumidos, as questões relativas às situações financeiras, as relativas à nacionalidade e as questões ligadas aos domínios e a legislação interna. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Consequências Jurídicas na Sucessãode Estados quanto aos Tratados Quanto aos tratados assumidos pelo extinto Estado duas são as teorias. A primeira (sucessão automática) preleciona que o Estado sucessor assume automaticamente os tratados do Estado sucedido e a segunda que ensina que o Estado sucessor não teria qualquer vinculação advindo dos tratados assumidos pelo Estado sucedido (tábula rasa). Esta segunda teoria é a mais aceita, tendo sido inclusive a assumida pelo Tratado de Viena sobre Sucessão de Estados em Matéria de Tratados que em seu artigo 16: “nenhum Estado de recente independência estará obrigado a manter em vigor um tratado ou a passar a ser parte dele pelo fato de, na data da sucessão de Estados, o tratado estar em vigor relativamente ao território a que se refere a sucessão de Estados.” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Consequências Jurídicas na Sucessão de Estados quanto a Nacionalidade Na fusão: todos devem adotar a nova nacionalidade, como foi o caso da fusão Italiana onde Vênetos, Romanos, Lombardos e Piamonteses tornaram-se Italianos. No desmembramento: é comum que os nacionais do país desmembrado percam a do primeiro e adquiram a do novo Estado. Eventualmente nestes casos, poderá ser concedido o direito de opção quando se optando em manter a nacionalidade anterior, correr-se-á o risco do individuo passar ao status de estrangeiro. O que não se deve desconsiderar são as regras concernentes à nacionalidade elencadas na Declaração Universal dos Direitos do Homem que prescreve o direito de todos a uma nacionalidade e coíbe a arbitraria privação à sua nacionalidade ou ao direito de mudança de nacionalidade. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Consequências Jurídicas na Sucessão de Estados quanto as dívidas. A respeito das obrigações (dívidas) assumidas pelo Estado sucedido, não há na doutrina e na prática, uma regra única e unanimemente aceita. São dois pesos a serem considerados, afinal, não se poderia atribuir ao novo Estado uma dívida que este não aproveitou e tão pouco seria justo com os credores que tais dívidas não fossem mais exigíveis, o que colocaria até mesmo em risco a boa fé do novo Estado que poderia por meio de uma sucessão fraudulenta negar suas dívidas. Como regra geral, o Estado sucessor assumirá as dívidas do Estado sucedido quando esta sucessão se der através da fusão ou pela incorporação total de um Estado por outro, como o que aconteceu com a Bélgica que assumiu as dívidas do Congo. No entanto, problema maior são os casos de incorporações parciais ou mesmo de desmembramentos. Nestes casos o comum é a divisão proporcional da dívida, como a que aconteceu com o desmembramento dos Países-Baixos em 1831, dividindo-se proporcionalmente as dívidas entre Holanda e Bélgica.Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Consequências Jurídicas na Sucessão de Estados quanto a legislação. Quanto a legislação interna, haverá a sua manutenção nos casos de desmembramento, até estatuir-se novas leis, como foi o caso do Brasil que mesmo declarando independência em 1822 permaneceu utilizando as legislações do reino de Portugal. Quando estivermos diante da anexação, o Estado anexado dá lugar a legislação do Estado anexador como o que ocorreu com a Correia que passou a adotar a legislação Japonesa quando este país anexou aquele em 1910. O que é pacífico, no entanto, na prática da sucessão de Estados, é a observância dos direitos adquiridos para aqueles que terão sua legislação suprimida. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Consequências Jurídicas na Sucessão de Estados quanto ao patrimônio. A princípio a solução é fácil: o novo Estado encampa todos os bens que estão sobre o território fundido total ou parcialmente. No entanto, problema maior são os casos de desmembramentos frente aos bens que se encontram fora do território dos Estados desmembrados. Nestes casos não existem regras ditadas pelas doutrinas, o que encontraremos são exemplos reais divergentes, como é o caso da Rússia que ficou com todo o patrimônio imobiliário no exterior da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, aparentemente sem nenhuma oposição (bens em mais de 100 países) ou mesmo o caso da briga entre Egito e Síria por uma embaixada no Rio de Janeiro após o fim da República Árabe Unida em 1961. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Os Microestados Questão que se deve consignar é a situação jurídica de Estados que mesmo reunindo os requisitos para existirem como tal - território, população e governo soberano – os têm de forma exígua. Por algum tempo, a doutrina e a prática internacionalista negou a estes microestados a condição de pessoas de direito internacional sob várias justificativas, dentre elas, que tais Estados, não exerceriam seu poder de forma soberana por concederem parte dele a outros Estados Soberanos. Tal justificativa não deve prevalecer vez que estes poderes somente são concedidos a outros por força da própria soberania do microestado concedente. É o que acontece com estes microestados, por exemplo, quando concedem a outros o poder de emitir sua moeda ou a competência para a proteção militar. Vários são os exemplos dos microestados: Andorra, Liechtenstein, San Marino, Malta, Mônaco, Nauru e tantos outros. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Principado de Andorra Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Andorra é um principado encravado entre a Espanha e a França tem 468 km² e 72 mil habitantes Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Tem um sistema peculiar de governo, é uma monarquia parlamentar não hereditária, onde a coroa é divida por dois príncipes, o presidente Francês e o Bispo de Urgel (Espanha). Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O principado de Liechtenstein Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Situado entre a Áustria e a Suíça, tem 160 km², e 34 mil habitantes. Tornou-se independente do Sacro Império Romano Germânico em 1608. É uma monarquia constitucional. Em março de 2003 sua população foi chamada as urnas para um plebiscito que ampliava os poderes do monarca Hans Adam II. Muito criticado por tal plebiscito, o príncipe saiu fortalecido e com seus poderes alargados. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. É um dos países mais ricos da Europa Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Sereníssima República de San Marino Também conhecida como San Marinho ou São Marino, tem 61 km² e uma população de 27 mil habitantes, está encravada nas montanhas apeninas, completamente envolta pela Itália Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. É a mais antiga república do mundo tendo sido fundada em 3 de setembro de 301 d.c., tendo a constituição mais antiga ainda vigorante do mundo (1600). Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Fato interessante é o ligado a Formula 1, que desde 1963 realiza o Grande Prémio de San Marino na cidade de Ímola que não pertence a San Marino e sim a Itália. Foi neste grande prémio que morreu em 1994 em dias seguidos o austríaco Roland Ratzenberger e o brasileiro Ayrton Senna. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. República de Malta Malta é uma república parlamentarista situada em um arquipélago no mar mediterrâneo. Tem 316 km² e uma população de 402 mil habitantes. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Esta ilha foi cedida pela Espanha a Ordem Militar de São João de Jerusalém em 1530, após ser expulsa pelo Império Otomano da ilha de Rodes, quanto então passa a ser mais conhecida como Ordem de Malta. Em 1964 converteu-se em membro da ONU. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Principado de Mônaco O Principado de Mônaco é uma monarquia constitucional. É o país com maior densidade demográfica do mundo, são 32,5 mil habitantes em apenas 2 km², de seus habitantes, apenas 16% é mesmo nacional de Mônaco(monegascos), a maioria da população é Francesa e Italiana. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A casa Grimaldi é a mais antiga casa real em atividade governativa no mundo, desde 1297, quando esta família nobre saiu de Genova e se estabeleceu onde hoje é Mônaco. Mônaco ganhou notoriedade quando o príncipe Rainier III, em 1956, casou-se com a atriz norte americano Grece Kelly que morreu tragicamente em um acidente automobilístico no próprio principado. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. É em Monte Carlo, sua capital, que acontece um dos mais famosos prémios da formula 1 em circuito de rua. É também em Monte Carlo que está o terceiro metro quadrado mais caro do mundo (86.000 dólares). Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Nauru Nauru é uma república situada em uma região da Micronésia e disputa com Mônaco e o Vaticano o título de menor país do mundo, tem 21 km² e uma população de quase 14 mil habitantes. Obteve a independência em 1968, filiando-se a ONU em 1999. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Santa Sé Ainda na categoria de microestado, teremos a Santa Sé, que por ser o mais peculiar de todos, recebe tratamento especial em nosso estudo. A natureza jurídica da Santa Sé é doutrinariamente algo de grande divergência entre os pensadores e escritores do Direito Internacional. Não reside dúvida na doutrina dominante que a Santa Sé tem personalidade jurídica no Direito Internacional, sendo sujeito na ordem internacional. Para iniciarmos o estudo da natureza jurídica da Santa Sé, podemos analisar os elementos constitutivos do Estado sobre as especificidades destes elementos em referência a ela, verificando sua real ou ideal proximidade desse status no Direito Internacional. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. População A população Vaticana é composta de menos de 1.000 (mil) pessoas, segundo o sítio “indexmundi” em 2011 a população vaticana estava contabilizada em 836 pessoas, entre residentes permanentes, e seus funcionários, sendo que a composição étnica desta população é de italianos em sua maioria, com uma representatividade, considerada por volta de 10% (dez por cento), de suíços, e outra pequena parcela de diversas etnias do mundo. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Guarda Pontifícia Suiça Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Território Segundo o Tratado de Latrão, ao papa é garantido a soberania, inviolabilidade e a imunidade de seu território que tem 44 (quarenta e quatro) hectares, situado na cidade de Roma, próximo ao Rio Tíber. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Governo Soberano Seu governo pode ser tecnicamente considerado como uma monarquia absolutista eletiva não hereditária, onde o Soberano Pontífice, ou seja, o Papa, é chefe de Estado, exercendo em última instância, os poderes legislativos, executivos e judiciários. Seu governo é independente do governo Italiano ou de qualquer outro, e se há ingerência de outro Estado, principalmente do Estado Italiano, é por delegação ou autorização da Santa Sé. A administração da Santa Sé é organizada por diversos órgãos que dá efetividade a sua vontade, são eles o colégio cardinalício, os diversos dicastérios, as congregações, secretarias, tribunais, conselhos pontifícios, e tantos outros. Dentro desta organização governamental temos entre outros serviços, os de segurança, como da Guarda Suíça; de filatelia; de comunicação, como a Rádio Vaticana, a sala de imprensa, o centro televisivo, e o jornal L´osservatore Romano etc. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A soberania é uma característica que no decorrer da história, como já visto, nunca foi negada a Santa Sé principalmente em consideração aos Estados pontifícios ou mesmo após a sua queda, vez que a maioria dos Estados do mundo, bem como as diversas organizações internacionais, a reconhecem independentemente da soberania concedida pelo Estado Italiano no tratado de São João de Latrão. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Santa Sé dentro de seu pequeno território e sobre seus poucos nacionais exerce seu poder soberano e independente. Em duas ocasiões no século passado, vemos exemplo da soberania da Santa Sé, quando por ocasião da segunda guerra mundial, em 1940 e depois em 1942 - nesta última data com maior atenção aos países americanos - várias nações romperam relações diplomáticas com o Estado Italiano que por sua vez expulsou de seu território os representantes diplomáticos daqueles Estados acreditados junto a Santa Sé, que foram de imediato, acolhidos na Cidade Estado do Vaticano, nas duas ocasiões. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A soberania Vaticana também se exterioriza por seu poder de legação passivo e ativo e pela indiscutível capacidade de celebração de acordos bilaterais e multilaterais jamais contestados por falta de capacidade jurídica internacional. A Santa Sé é parte de inúmeros organismos internacionais e figura como parte em diversos tratados internacionais, como por exemplo, nas convenções da “Humanização da Guerra” de 1949; do “Direito dos apátridas” de 1954, do “Direito do Mar” de 1958, do “Direito dos Tratados” de 1969 e 1986 etc. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Já o reconhecimento da Santa Sé, é claro e incontestável, quando observamos a vasta relação diplomática exercida por ela. Não havendo forma pré-determinada pelo Direito Internacional do reconhecimento dos Estados uns pelos outros, com o estabelecimento de relações diplomáticas entre os Estados, dá-se tacitamente o reconhecimento recíproca entre eles. A Santa Sé, segundo informação de seu sítio virtual, mantém relações diplomáticas com 172 países; com a União Européia e a Ordem Militar de Malta; em caráter especial com a Federação Russa e a Organização para a Libertação da Palestina e participa como membro ou observador em 43 diferentes organizações intergovernamentais, internacionais e regionais. Observa-se, que o reconhecimento da Santa Sé se dá também por vários países não cristão, como várias nações mulçumanas, como o Iran e o Iraque. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Francisco Rezek deixa claro em sua obra que não falta a Santa Sé os elementos constitutivos do Estado, afirma textualmente que a alegação de baixa demografia e pequena territorialidade não pode ser alegado seriamente como motivos para se negar a condição estatal, nem tão pouco deve-se duvidar da efetividade e independência do seu governo, para ele, a Santa Sé careceria da condição estatal por causa da finalidade de seu governo que se confundiria com a organização da Igreja Católica por todo o mundo o que divergiria das finalidades de qualquer outro Estado, e por fim, conjugaria a esta razão, a ausência de nacionais, afirmando ser inexistente a nacionalidade vaticana. A primeira razão, muitas das vezes é contestável frente ao princípio da autodeterminação dos povos, e a falta de nacionais parece-nos um grande equivoco na doutrina do ilustre professor, uma vez que, ao contrário de seus ensinamentos, a nacionalidade vaticana efetivamente existe, tendo sido inclusive uma das garantias do Tratado de Latrão bem comentados por Celso de Albuquerque Melo: “É interessante observar que o Vaticano possui uma nacionalidade própria e que Niboyet denominou de “funcional”, enquanto Ilmar Penna Marinho fala em “jus domicilii” combinado com o “jus laboris”. Tem a sua nacionalidade: a) os cardeais residentes na cidade do Vaticano ou em Roma; b) os que residirem de modo permanente no Vaticano; c) perdem a nacionalidade do Vaticano aqueles que perderem as suas funções que os obrigam a residir no Vaticano.” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Coletividades não estatais Ainda teremos dentro do estudo dos Estados como sujeitosdo direito internacional, a situação das coletividades não-estatais, como os beligerantes, os insurgentes, os movimentos de libertação nacional e a Soberana Ordem Militar de Malta. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Beligerantes e Insurgentes Segundo Mazzuoli "A beligerância ocorre quando, dentro de um Estado, verifica-se uma sublevação da população, por meio de movimento armando politicamente organizado, para fins de desmembramento ou de mudança do governo ou do regime vigente, constituindo-se em verdadeira guerra civil” "Insurgência é o conflito dentro do Estado com a finalidade de modificação do sistema político vigente e reestruturação da ordem constitucional em vigor em que a sublevação atinge certo grau de importância e efetividade, mas sem assumir tão grandes proporções, não chegando a constituir uma guerra civil, como se dá no caso da beligerância”. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. É característica relevante da beligerância a luta armada, sendo talvez este o ponto que mais o diferirá da insurgência. Nesta última não haverá o controle político de parte do Estado como é comum naquela, sendo certo ainda que a insurgência poderá ter a finalidade de rompimento com uma situação social indesejada como o fim do racismo e do julgo colonialista. Nestas duas hipóteses poderão os Estados conceder certo status aos Beligerantes e aos Insurgentes que os assemelharia a condição de Estados, mesmo que lhes falte os requisitos necessários para tal. No entanto, não se pode olvidar que os direitos e deveres que lhes são reconhecidos, como se fossem Estados, goza de certa transitoriedade. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O reconhecimento destas entidades não governamentais é de grande importância, principalmente no caso da beligerância, pois ocorrendo esta através da luta armada, é necessário a observância das normas prescritas para a guerra. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Movimentos de Libertação Nacional Os movimentos de libertação nacional surgiram no cenário internacional com o movimento de descolonização. São movimentos que geralmente lutam contra a opressão de um governo da qual não fazem parte, não existindo em regra, possibilidade de ascenderem a cargo deste governo, pois geralmente são compostos de minorias. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Exemplo clássico de movimento de libertação nacional teremos a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) que indiscutivelmente atua no cenário internacional como um verdadeiro status de Estado. Surgida oficialmente em 1964, era tida por muitos países como organização terrorista, tendo sido reconhecido como organização legítima de representação do povo palestino pela Conferencia de Madri de 1991. Até mesmo seu maior inimigo, o Estado de Israel, reconheceu a legitimidade da OLP oficialmente em 1993. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ordem de Malta A Soberana Ordem Militar e Hospitalar de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, mais conhecida como Ordem de Malta foi fundada em 1050 por alguns mercadores da antiga república de Amalfi, com a finalidade de amparar os peregrinos católicos que se dirigiam a Jerusalém. Foi lá que a Ordem de Malta, construiu uma igreja, um mosteiro e um hospital com o intuito de cumprir seus propósitos. Com as vitórias mulçumanas nas cruzadas, a Ordem de Malta se deslocou para a ilha de Rodes, posteriormente para Malta, até se estabelecer em definitivo na cidade de Roma (1834). Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Na realidade, a Ordem de Malta não é uma pessoa jurídica internacional, mas sim uma organização humanitária católica ligada a Santa Sé, que atualmente dirige hospitais e centros de reabilitação, possui 12.500 membros, 80.000 voluntários permanentes e 20.000 profissionais da saúde, incluindo médicos, enfermeiros, auxiliares e paramédicos. Seu objetivo é auxiliar os idosos, os deficientes, os refugiados, as crianças, os sem-teto, aqueles com doença terminal e hanseníase em cinco continentes do mundo, sem distinção de raça ou religião. O que acontece na realidade com a Ordem de Malta é uma aparencia do status de Estado, vez que durante muitos séculos foi realmente uma instituição soberana. No mais, até os dias atuais, tem representação diplomática com mais de 90 Estados soberanos, entre eles o Brasil; tem documento constitutivo chamado de constituição; tendo inclusive, seu chefe supremo (Grã-Mestre), o privilégio da imunidade de jurisdição concedido pelo Estado Italiano. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Comité Internacional da Cruz Vermelha Por fim, ainda teremos no estudo do Estado como sujeito do Direito Internacional, a figura do Comité Internacional da Cruz Vermelha, que não é sujeito de Direito Internacional, sendo uma organização humanitária independente e neutra, com estatuto próprio. Apesar de ser pessoa jurídica de direito interno Suiço, muitos países tem celebrado tratados com a Cruz Vermelha, o que, algumas vezes, lhe dá o ar de pessoa jurídica de direito internacional. Também não é classificada como Organização Internacional, vez que não apresenta as caracteristicas que lhe são necessárias, como estudaremos a seguir. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Cruz Vermelha foi fundada em 1863 pelo suiço Jean Henri Dunant que após presenciar a destruição da guerra Sardo-Austríaca em 1859 em Solferino (Itália), vislumbrou a necessidade de se criar uma organização para auxiliar os feridos de guerra, com visão humanitária, para ele, os feridos de guerra deveriam ser atendidos independentemente de qualquer condição. Por seu trabalho e pensamento, Dunant recebeu em 1901 o prémio Nobel da Paz. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Bibliografia Consultada BARBOZA, Julio. Derecho Internacional Público. 2 ed. Buenos Aires: Zavalia, 2008. BRONLIE, Ian. Princípios de direito internacional público. Trad. Maria Manuela Farrajota; Maria João Santos; Victor Richard Stockinger; Patrícia Galvão Teles. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. BROTÓNS, Antônio Remiro. Derecho Internacional. Valencia: Tirant lo Blanch, 2007. DINH, Nguyen Quoc; e DAILLIER, Patrick; e PELLET, Alain. Direito Internacional Público. 2ª ed. Trad. Vitor Marques Coelho. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. 2 ed. (ver., atual. e ampl.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. 11.ed. (ver. e atual.) 2ª tiragem. São Paulo: Saraiva, 2008. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr.
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