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Direitos Humanos Prof. Paulo Afonso de Oliveira Junior Direito Internacional Público 1-Introdução O Homem sempre foi, ou pelo menos deveria ser, o ponto principal de toda sistemática jurídica. A lei não só deve ser elaborada pelo homem, mas para ele. No decorrer da história da humanidade, alguns tratados e regras esparsas previam normas de direitos humanos, basicamente visando a proteção de minorias. Muitas das vezes, tais normas eram mesmo tidas como de direito humanitário e não de direitos humanos, sendo estes dois ramos muito semelhantes e às vezes com certa complementaridade, mas que não se confundem, sendo pertencentes, cada um, a um sistema jurídico distinto. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O descobrimento das Ámericas Ainda nos idos do descobrimento, quando Cristóvão Colombo (1451- 1506), partindo de Palos nas caravelas Santa Maria, Pinta e Nina, avista em 12 de outubro de 1492 as ilhas do arquipélago do Caribe, sendo a primeira delas a ilha hoje conhecidas como Bahamas, inicia-se a preocupação com os direitos humanos, distante da concepção que hoje conhecemos e não denominada como tal, mas externada com a preocupação na forma de tratamento adequado a ser conferido aos habitantes nativos das novas terras: os índios. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Izabel de Castela “a católica” (Madrigal de las Altas Torres, 1451 – Medina del Campo, 1504) foi a primeira a reconhecer a liberdade dos índios e a impossibilidade de escravizá-los, seguida, já em 1509, pelas instruções de Fernando II de Aragão “o católico” (Saragoça 1452- Madrigalejos - Cáceres 1516) dirigida aos descobridores e governadores das novas terras, com o intuito de normatizar o tratamento conferido aos índios e os meios de evangelizá-los. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Pouca efetividade tiveram as normas até então editadas por Fernando II de Aragão, o que levou os frades dominicanos, como Bortolomé de Las Casas, a primeiro levantarem a voz em proteção ao direito dos aborígines. Clássica a homilia de Frei Antônio de Montesinos, às Vésperas da Solenidade do Natal do Senhor do ano de 1511, lembrada por Ramón Soriano em seu livro “História temática de los derechos humanos”: Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Bortolomé de Las Casas (Sevilha 1472 - Madrid 1566) “Todos vós estais em pecado mortal. Nele viveis e nele morrereis, devido à crueldade e tiranias que usais com estas gentes inocentes. Dizei-me: com que direito e baseados em que justiça mantendes em tão cruel e horrível servidão os índios? Com que autoridade fizestes estas detestáveis guerras a estes povos que estavam em suas terras mansas e pacíficas e tão numerosas e os consumistes com mortes e destruições inauditas? Como os tendes tão oprimidos e fatigados, sem dar-lhes de comer e curá-los em suas enfermidades. Os excessivos trabalhos que lhes impondes os fazem morrer, ou melhor dizendo, vós os matais para poder arrancar e adquirir ouro cada dia?” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A voz de Montesinos chegou à Espanha, inclusive alguns freis dominicanos defenderam o seu ponto de vista pessoalmente à coroa espanhola, surgindo daí, efetivamente, a primeira lei que garantia direitos aos indígenas do novo mundo espanhol: as leis de Burgo, de 1512. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Os conflitos religiosos Enquanto na Península Ibérica o Tribunal da Santa Inquisição guardava a fé católica, toda Europa enfrentava, em final do século XVI e início do século XVII, grandes conflitos religiosos, não existindo liberdade para que os súditos de seus Estados praticassem a religião desejada. Todos os súditos deveriam praticar a religião oficial, que evidentemente era a religião de seu soberano. Grandes conflitos e imigrações marcaram esta época de intolerância religiosa. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Diante deste quadro, algumas leis, acordos e textos foram elaborados, para por fim às guerras religiosas e garantir aos súditos dos Estados beligerantes a paz tão desejada. Entre estas, a Paz de Ausgsburgo, celebrada por Carlos V do Sacro Império Romano e as forças da Liga de Esmalcalda, em 25 de setembro de 1555. No preâmbulo da Paz de Ausgsburgo, expõe-se os motivos de sua celebração como sendo a necessidade da paz entre os Estados e a segurança de seus súditos. Neste acordo, vemos claramente normas de proteção dos Direitos Humanos: • Reconhecimento de liberdade religiosa dos protestantes e de católicos; • Reconhecimento do direito de imigração por questões de fé, tanto a católicos quanto a protestantes; • Direito dos clérigos católicos de abandonarem seus cargos sem dano à sua dignidade. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Primeira página da Paz de Ausgsburgo Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Liga de Esmalcalda ou de Schmalkalden (Schmalkaldischer Bund, em alemão) era uma aliança defensiva de príncipes protestantes do Sacro Império Romano criada em 27 de fevereiro de 1531. Recebeu o nome da cidade de Schmalkalden, na Turíngia (atual Alemanha), onde foi proclamada. Filipe I de Hesse, um dos fundadores da Liga. À Paz de Ausgsburgo seguiram-se outras leis, tratados e textos que, da mesma forma, garantiam às pessoas o direito ao livre exercício de sua religião: Edito de Nandes na França (13 de abril de 1598), permitindo aos huguenotes a tolerância religiosa após 36 anos de perseguições e massacres, como o da noite de São Batolomeu, em 1572; As Liberdades de Massachusetts (dezembro de 1641), que previam a liberdade de consciência religiosa, liberdade para a prática de culto das religiões em reuniões privadas, o direito de asilo aos perseguidos por motivos religiosos; Ata de Tolerância de Maryland (21 de abril de 1649), que pela primeira vez previa pena e multas para as pessoas que desrespeitasse a tolerância religiosa, entre tantas outras. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A noite de São Bartolomeu foi um episódio sangrento de repressão aos protestantes pelos reis católicos franceses, iniciado na noite de 24 de agosto de 1572, dia de São Bartolomeu, onde foram vitimados ao longo de vários meses e localidades francesas, mais de 30 mil protestantes, conhecidos na França como huguenotes. "Uma manhã nos portões do Louvre" Pintura de Édouard Debat-Ponsan. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Declaração de Direitos da Virgínia Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. É a partir da revolução inglesa do século XVII e das revoluções francesa e das colônias inglesas da América do Norte, no século XVIII, que vemos com mais clareza o nascimento dos direitos humanos, sendo a Declaração de Direitos da Virgínia (12 de junho de 1776), propriamente dita, a primeira declaração de direitos, que viria a ser exemplo para as declarações das demais colônias inglesas na América do Norte, e mesmo para as declarações europeias após a Revolução Francesa. Na Declaração de Direitos da Virgínia distinguem- se duas partes, uma que trata dos princípios liberais da organização do poder público e a outra das liberdades individuais. Nela prevê-se: A separação dos poderes; A garantia de que todo poder emana do povo e que o povo deve eleger os seus governantes; Que todo homem tem direitos inerentes a ele e que nenhuma ordem jurídica e social poderia revogar; Que todo homem por natureza é igualmente livre e independente, gozam do direito a vida e a liberdade, aos meios de adquirir e possuir propriedades, a perseguir e obter a felicidade e a segurança. Outras declarações nos estados da América do Norte incluem outros direitos,como o direito à liberdade de reunião, incluído na declaração dos estados da Pensilvânia, Carolina do Norte e Massachusetts, ou o direito a petição, incluído na declaração dos estados de Maryland e Delaware. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ainda na América do Norte, a Declaração de Independência (4 de julho de 1776), a luz da igualdade pela qual todos os homens foram criados, consagra como direitos inerentes ao povo o direito à vida, à liberdade, à busca da felicidade e à resistência contra a opressão. Na Constituição dos Estados Unidos da América (17 de setembro de 1787), incluída a emenda constitucional de 15 de setembro de 1791, vários são os direitos fundamentais garantidos aos seus cidadãos, como o direito à liberdade religiosa, de expressão, reunião, petição, inviolabilidade de domicílio, correspondência e pessoal, o direito de não ser julgado duas vezes pelo mesmo crime, não se declarar culpado, de saber a causa de sua detenção, de ter julgamento rápido público e imparcial, assistência de advogado, não ser castigado com crueldade, justa indenização por desapropriações e tantos outros que a própria constituição não desautoriza pelo simples fato de ali não estarem enumeradas. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Já em França, após sua revolução, concebeu- se as • Declaração do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, • Declaração do Homem e do Cidadão de 24 de junho de 1793 sendo esta última complementar à primeira. Nelas se garante forte presença da igualdade, prevalência da soberania popular, liberdade e igualdade quanto aos direitos políticos e reconhecimento amplo ao direito de resistência. As Constituições Francesas por sua vez, tanto a de 3 de setembro de 1791, quanto a de 24 de junho de 1793, não fecharam os olhos para os direitos individuais, tendo a segunda muito mais que garantido direitos, mas consagrado verdadeiras obrigações do Estado para com a sociedade. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ainda em França, o texto constitucional de 1848 (Constituição Francesa de 4 de novembro de 1848) vem aprofundar as liberdades reconhecidas nas constituições e declarações francesas anteriores. As maiores diferenciações entre os textos constitucionais anteriores ao de 1848 é justamente a relação entre direitos e deveres, sendo que neste texto constitucional a República Francesa reconhece que não só seus cidadãos, mas também o próprio Estado, tem deveres a serem observados, garantindo em seu preâmbulo a reciprocidade entre cidadãos e Estado, no concernente aos deveres de cada um. Os deveres do Estado viriam a garantir a eficácia dos direitos dos cidadãos já anteriormente consagrados. Uma das grandes novidades inseridas neste contexto são os direitos sociais, sendo garantida a liberdade de trabalho e a proteção aos trabalhadores, direito a educação e a assistência social. O Estado passa a garantir educação primária e profissional gratuitas, proporciona proteção às crianças abandonadas, aos enfermos e aos anciãos. Quanto às liberdades individuais, a Constituição Francesa de 1848 não só reafirma muitas das já consagradas, como as desenvolve, trazendo alguns aspectos novos a clássicos direitos. É nela que se abole na França a pena de morte por matéria política, proíbe a escravidão, consagra o princípio do juiz natural, extinguindo qualquer tribunal de exceção, reafirma a liberdade religiosa e a proteção à celebração de seus cultos. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Revolução Russa Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. De igual forma às demais revoluções, a revolução russa de 1917 também traça em seu escopo a busca da proteção do direito do homem, voltada principalmente ao direito dos trabalhadores. Inspirada na ideologia socialista de Karl Marx (1818-1883) e Vladimir Lênin (1870-1924), a Declaração dos direitos do povo trabalhador, de 23 de janeiro de 1918, e a Constituição da República Socialista Federativa Soviética da Rússia, de 10 de julho de 1918, rompe com as declarações anteriores, deixando de lado os direitos e liberdades da tradição liberal para dar lugar aos princípios filosóficos e organizacionais, visando a conquista do socialismo e a igualdade entre as pessoas, suprimindo-se as classes sociais. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Os direitos humanos, nos moldes que hoje conhecemos e vem se desenvolvendo, é uma preocupação relativamente recente, tendo em vista que somente com a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, após vivenciarmos os massacres da Segunda Guerra Mundial, é que podemos afirmar que surge no direito internacional público esta preocupação consciente, e principalmente organizada, visando à internacionalização dos direitos humanos. É através da barbárie do holocausto, onde algumas previsões enumeram o assassinato de 6 milhões de judeus, que a humanidade vislumbra a necessidade de proteger os seres humanos, pelo simples fato de serem humanos, isentando-os de quaisquer condições, para que possam ser protegidos, sejam elas de raça, cor, religião ou qualquer outra. 2-Conceituação Conceder direitos básicos aos seres humanos, direitos estes inerentes a todo e qualquer pessoa, independente de qualquer condição, e defende-los, inclusive contra os abusos do Estado da própria nacionalidade do indivíduo, é a finalidade dos Direitos Humanos. Conceituá-lo é uma tarefa difícil, tanto que muitos doutrinadores não arriscam em fazê-lo. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Professor Celso de Albuquerque Mello, citando Perez Luño, defini os direitos humanos como sendo: “o conjunto de faculdades e instituições, que, em determinado momento histórico, concretiza as exigências da dignidade, a liberdade e a igualdade humana, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos a níveis nacionais e internacionais.” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Na obra de Valério de Oliveira Mazzuoli, o ilustre professor com bastante clareza afirma que o direito internacional dos direitos humanos seria “aquele que visa proteger todos os indivíduos, qualquer que seja a sua nacionalidade” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ainda Mazzuoli em sua obra cita a definição do professor boliviano José Antônio Rivera Santivañez: “A disciplina encarregada de estudar o conjunto de normas internacionais, convencionais ou consuetudinárias, onde são estipulados o comportamento e os benefícios que as pessoas ou grupo de pessoas podem esperar ou exigir dos governos, tendo por objeto de estudo o conjunto de normas previstas pelas declarações, tratados ou convenções sobre direitos humanos, adotadas pela Comunidade Internacional em nível universal ou regional, aquelas normas internacionais que consagram os direitos humanos, que criam e regulam os sistemas supranacionais de promoção e proteção dos direitos humanos, assim como as que regulam os procedimentos possíveis de serem levados ante ditos organismos para o conhecimento e consideração das petições, denúncias e queixas pela violação dos direitos humanos”. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ainda na obra de Valério Mazzuoli, o mesmo faz sutil diferenciação entre as expressões, direitos do homem, direitos fundamentais e direitos humanos. Direitos do Homem: teria maior cunho jusnaturalista, seria a expressão utilizada para determinar aqueles direitos inerentes ao homem que ainda não estariam positivados no ordenamento interno ou internacional, mesmo reconhecendo, em dias atuais, a difícil missão de encontrar tais direitosque ainda não estariam positivados. Direitos Fundamentais: determinaria os direitos do homem já positivados através de normas internas constitucionais. Direitos Humanos: seriam aqueles direitos do homem positivados através de tratados ou costumes internacionais. O próprio autor, no entanto, esclarece que “o que realmente importa é admitir a interação desses mesmos direitos (direitos do homem, direitos fundamentais e direitos humanos), a fim de que todas as pessoas (pertencentes ou não ao Estado onde se encontrem) estejam efetivamente protegidos.” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Alguns doutrinadores ainda fazem uma divisão entre os direitos humanos, sendo classificados como sendo, de primeira, segunda ou terceira geração. Os direitos de primeira geração seriam aqueles ligados aos direitos civis e políticos, chamados de primeira geração por uma simples evolução histórica, por serem estes os primeiros a serem positivados no âmbito das Nações Unidas. Segundo Hildebrando Accioly e Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, esses direitos de primeira geração são: “...a reafirmação do direito à liberdade, em oposição à ação do Estado, que tem a obrigação de se abster de atos que possam representar a violação de tais direitos. São os direitos civis e políticos que abrangem o direito à vida e a uma nacionalidade, a liberdade de movimento e o direito de asilo, a proibição de tortura ou tratamento cruel, desumano ou degradante, a proibição de escravidão, a liberdade de opinião e as atividades políticas e trabalhistas etc.” Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Os direitos de segunda geração, surgidos em um segundo momento, são basicamente os direitos econômicos, sociais e culturais. Eles partem do princípio da igualdade e só podem ser desfrutados com o auxílio do Estado. São eles o direito ao trabalho em condições justas e favoráveis, o direito de pertencer a sindicatos, o direito à educação e cultura, o direito a um nível adequado de vida, o direito à seguridade e seguro social. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Por fim, os direitos de terceira geração, ventilados por primeira vez em 1974, por René Cassin, na Academia de Direito Internacional de Haia, seriam aqueles pertencentes a um perfil de fraternidade, avançando para além da tradição individualista dos direitos de primeira geração e da tradição socialista dos de segunda. Nas décadas de 70 e 80, Diego Uribe, entre outros, defendia que esses direitos no futuro seriam realmente tidos como direitos humanos, e isso atualmente não se pode negar, principalmente quando pensamos no direito, por exemplo, a um meio ambiente sadio. Os direitos de terceira geração, denominados também como direitos sociais por alguns doutrinadores, seriam aqueles que são desfrutados de maneira coletiva, sejam pelos indivíduos, pelos Estados ou pelas entidades públicas e privadas. Os direitos de terceira geração é o direito a um ambiente sadio, a paz, ao desenvolvimento e ao patrimônio comum da humanidade. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Evidentemente, críticas não faltam à teoria geracional dos direitos humanos, alguns, a início, negam mesma a existência dos direitos de terceira geração, basicamente sobre a alegação que direitos humanos devem ser individuais e não coletivos. Os que criticam esta teoria, temem que a visão de evolução dos direitos em gerações crie uma segmentação sobre o tema, afastando uma visão contemporânea e coletiva dos direitos humanos, criando a possibilidade da crença que os direitos de terceira geração seriam mais importantes, o que poderia levar as políticas públicas a deixarem de lado os direitos humanos individuais em detrimento dos coletivos. 3 – Proteção dos Direitos Humanos no Âmbito Universal É consenso doutrinário, que não basta garantir direitos aos seres humanos se não se cria meios para efetivamente protegê-los. É necessário, no âmbito universal, a criação de sistemas voltados a proteção dos direitos humanos, vez que sua internacionalização já se desenvolve desde a criação das Nações Unidas. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Na carta constitutiva das Nações Unidas, a preocupação com os direitos humanos é visível já em seu preâmbulo e na eleição de seus propósitos NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. CAPÍTULO I PROPÓSITOS E PRINCÍPIOS Artigo 1 Os propósitos das Nações unidas são: 1. omissis 2. omissis 3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e Mesmo não trazendo de forma clara a conceituação dos direitos humanos ou dos direitos fundamentais e meios efetivos para sua proteção, a carta das Nações Unidas, não se limita a referenciá-los somente em seu preâmbulo e artigo primeiro, em outros artigos, como nos artigos 13, 55, 62, 68 e 76, a carta afirma e reafirma sua fé nos direitos humanos encorajando o respeito a eles e aos direitos fundamentais. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Declaração Universal No âmbito universal, o primeiro documento efetivamente a disciplinar os direitos humanos foi a Declaração Universal dos Direitos do Homem aprovada por unanimidade – sem votos negativos, apenas abstenções – em 10 de dezembro de 1948 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Mesmo tendo sido aprovada através de resolução, não tendo caráter obrigatório, é unânime a aceitação de tal resolução, tendo em vista o apelo que trás em seu bojo. Sobre o assunto bem organiza Max Sorensen em sua obra: “Apesar da ampla variedade de seu conteúdo, a Declaração Universal foi proclamada como norma comum de realização para todas as pessoas e todas as nações, no entanto, não foi elaborada em forma de tratado que impusesse obrigações contratuais aos Estados. Não obstante a Declaração – como carta internacional de direitos humanos – ganhou uma considerável autoridade, que não se pode ignorar, como guia geral para os conteúdos dos direitos e as liberdades fundamentais, tal como são entendidos pelos membros das Nações Unidas. Frequentemente se faz referencia a ela nas constituições nacionais, em outras legislações, em decisões judiciais e também em instrumentos internacionais”. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Declaração Universal dos Direitos do Homem, em seus trinta artigos, assinala os direitos básicos e as liberdades fundamentais a todas as pessoas, em qualquer lugar que estejam, sem distinção alguma de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política, origem nacional ou social ou outra condição qualquer. Nela encontramos duas amplas categorias de direitos: os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Quanto aos direitoscivil e políticos, a Declaração Universal protege o direito a vida, a liberdade, a segurança, a nacionalidade, a propriedade, ao casamento e a constituição de família, reconhece a liberdade de locomoção, de residência, de pensamento, de opinião, de expressão, de consciência e de religião, coibi a escravidão, a servidão, a tortura, o tratamento desumano e degradante e a detenção arbitrária, garantindo a inviolabilidade de correspondência, o julgamento justo por tribunal independente e imparcial, a presunção de inocência até que se prove o contrário, o direito de buscar e desfrutar de asilo contra a perseguição, de associar-se e reunir-se pacificamente, de votar e participar dos governos. Já quanto aos direitos econômicos, sociais e culturais - a Declaração Universal dos Direitos do Homem garante direito a seguridade social, ao trabalho, ao descanso, ao lazer, ao nível de vida adequada à condição humana, a educação, a vida cultural e comunitária. Os Pactos A ausência do caráter obrigatório da Declaração dos Direitos do Homem fez nascer a necessidade no âmbito universal, de documentos com força obrigatória, não só que declarasse os direitos humanos mas que criasse um sistema efetivo para sua proteção. Diante disso, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de 1966, aprovou, após longo e minucioso estudo, dois Pactos Internacionais, um relativo aos direitos econômicos, sociais e culturais e outro aos direitos civis e políticos, enumerando seus clássicos direitos. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos tem redação muito mais precisa e técnica que a da Declaração Universal dos Direitos do Homem, trás rol de direitos mais amplos que naquela e maior rigidez quanto as obrigações dos Estados frente ao respeito aos direitos ali elencados. Entrou em vigor em 23 de março de 1976, três meses após alcançar o número de 35 ratificações conforme previa seu artigo 49 § 1º. Já em seu artigo 2º o pacto descreve o compromisso basilar que os Estados devem assumir: Art. 2o - 1. Os estados-partes no presente Pacto comprometem-se a garantir a todos os indivíduos que se encontrem em seu território e que estejam sujeitos à sua jurisdição os direitos reconhecidos no atual Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A maior evolução do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, sem sombra de dúvidas, foi a implementação de mecanismos de supervisão e monitoramento dos compromissos ali assumidos. Nos artigos 28 a 45 do pacto, encontramos tais mecanismos, como a criação de um Comitê de Direitos Humanos (art. 28); a obrigatoriedade de apresentação de relatórios por parte dos Estados membros ao Comitê sobre as atividades desenvolvidas por eles visando a garantia o desenvolvimento e a implementação dos direitos ali garantidos (art. 40); a possibilidade de um Estado membro fazer denuncia contra outro Estado membro que estejam descumprindo os compromissos assumidos no pacto (art. 41); a possibilidade de criação de Comissão de Conciliação ad doc e fiscalização de todas estas atividades pela Assembleia Geral através de encaminhamento de relatórios de suas atividades ao Conselho Econômico e Social (art. 45). Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, aprovou-se, em 16 de dezembro de 1966, um Protocolo Facultativo versando sobre a possibilidade de indivíduos fazerem diretamente ao Comitê de Direitos Humanos, petições e reclamações de violações dos Direitos Humanos. Este Protocolo Facultativo entrou em vigor em 1976 e teve sua inspiração na Convenção Europeia de Direitos Humanos de 1950, que já trazia em seu texto o mesmo mecanismo. Segundo regras deste Protocolo Facultativo, o Comitê de Direitos Humanos só examinará a petição individual caso já se tenha esgotado todos os recursos jurídicos internos e que o mesmo caso não esteja sendo analisado por outra instância internacional de investigação. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Ainda ao Pacto Internacional dos Direitos Civil e Políticos foi adotado um segundo Protocolo Facultativo a 15 de dezembro de 1989, tendo entrado em vigor internacional em 11 de junho de 1991, versando sobre a eliminação da pena de morte. Tanto o primeiro quanto o segundo protocolo facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos foram ratificados pelo Brasil em 1992. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais O segundo pacto adotado em 1966, é o Pacto sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e da mesma forma que o Pacto de Direitos Civis e Políticos, foi adotado para dar obrigatoriedade aos direitos econômicos, sociais e culturais já enumerados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Este pacto não tem o rigor do Pacto de Direitos Civis e Políticos, seu mecanismo de fiscalização resume-se a apresentação de relatórios pelos Estados partes do pacto, ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, sobre as medidas que os mesmos estão adotando para implementar os direitos elencados no pacto. No Pacto Econômico, Social e Cultural, é garantido o direito dos povos a autodeterminação; o direito de homens e mulheres à igualdade no gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais; o direito de todas as pessoas ganharem a vida mediante trabalho de sua livre escolha ou aceitação; direito de gozar de condições de trabalho justas, assegurando, especialmente, remuneração igual por trabalho igual, sem qualquer distinção, principalmente ao trabalho da mulher; direito a trabalho que proporcione existência digna para o trabalhador e para sua família; direito a condições de trabalho seguras e higiênicas; direito a igualdade de promoção no trabalho levando-se em consideração apenas tempo de trabalho e capacidade; direito ao descanso e ao lazer; direito a limitação razoável das horas de trabalho; direito a férias remuneradas; direito a fundação e filiação a sindicatos de sua escolha; direito a previdência e seguro social; direito de constituição de família garantindo a ela especial proteção, incluindo alimentação, vestimenta e moradias adequadas; direito ao mais elevado nível de saúde física e mental; direito ao acesso a educação por todos visando o pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e a fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais; direito a participar da vida cultural; direito de desfrutar do progresso científico e suas aplicações; direito de beneficiar-se da proteção a produção científica, literária ou artística de que seja autor. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Além de todos os instrumentos acima discorridos, o sistema de proteção dos direitos humanos a nível internacional, conta ainda com outras convenções temáticas, como, por exemplo, a de repressão ao genocídio de 1948; da abolição do tráfico de seres humanos e à prostituição de 1950; da abolição da escravidão de 1953 e 1956; da eliminação de toda forma de discriminação racial de 1966; da eliminação de toda forma de discriminação fundadas sobre o sexo; da luta contra a tortura e outras penas e tratamentos desumanos ou degradantes de 1984. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. 4 – Proteção dos DireitosHumanos nos Sistemas Regionais Além do sistema universal de proteção aos direitos humanos, temos também os sistemas regionais de proteção dos mesmos direitos. O professor Antônio Remiro Brotóns, atribui à homogeneidade dos Estados de um mesmo sistema regional o grande segredo para que o sistema de proteção dos direitos do homem nos âmbitos regionais sejam mais eficientes como ele mesmo descreve em sua obra: "A relativa homogeneidade dos Estados membros de Organizações Regionais tem propiciado que os sistemas de promoção e proteção dos direitos humanos nascidos de seu amparo, particularmente o Conselho da Europa e a Organização dos Estados Americanos (OEA), tenham dado a luz a órgãos e mecanismos de garantia e controle mais fortes que os instituídos a nível universal. É assim que nestes espaços regionais se tem criado instâncias de proteção dos direitos humanos (principalmente civis e políticos) sobre a vigilância de órgãos judiciais, cujas decisões são, por definição, juridicamente vinculantes." O sistema Europeu O sistema regional mais sólido Motivo: palco das maiores violações. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Documento (primeiro e principal): Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais de 1950 - entrada em vigor em 1953. Criação: Conselho da Europa. Finalidade: tomar as primeiras providências para assegurar e implementar os direitos já elencados na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Exemplos: Nela são garantidos o direito a vida; a proibição da tortura, e das penas ou tratamentos desumanos ou degradantes; coíbe a escravidão e o trabalho forçado; reafirma o direito de toda pessoa à liberdade e à segurança; assegura o direito do devido processo legal realizado de forma pública e imparcial; o direito a vida privada e a constituição de família; o direito de liberdade de pensamento, crença, reunião, associação e opinião, garantindo ainda por fim, a concessão de todos estes direitos a todos indistintamente, a todos sem qualquer discriminação. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Protocolos: Reafirmação da proibição de qualquer tipo de discriminação, seja ela de raça, cor, religião, posição política, língua, e qualquer outra; a eliminação da pena de morte; o direito de propriedade; direito a educação; direito de eleições livres e secretas; a coibição de prisão por dívidas; direito de livre circulação; proibição de expulsão de nacionais de seu próprio país, proibição de expulsão em massa de estrangeiros de um território; direito de duplo grau de jurisdição em matéria penal; direito a garantias processuais no caso de expulsão de estrangeiros; direito a indenização em caso de erro judiciário. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Órgãos: Corte Europeia de Direitos Humanos criado em Estrasburgo em 21 de janeiro de 1959. O grande diferencial deste tribunal para demais tribunais do gênero, é o livre e direto acesso dos indivíduos, através do sistema de petições, levadas a corte diretamente por aqueles que se sentem lesados em seus direitos humanos. No sistema anterior, tais petições deveriam ser apresentadas a Comissão Europeia de Direitos Humanos, que avaliava e apresentava os pleitos dos indivíduos a Corte. Pelo protocolo número 11, com entrada em vigor em 1º de novembro de 1998, extinguiu-se tal comissão, concedendo ao indivíduo o direito de peticionar diretamente a Corte Europeia de Direitos Humanos. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O sistema interamericano O sistema interamericano de proteção aos Direitos Humanos surgiu juntamente com a criação da Organização dos Estados Americanos na IX Conferencia dos Ministros de Relações Exteriores dos países da América Latina e Anglo Saxônica ocorrida em Bogotá na Colômbia, em maio de 1948. Sua carta constitutiva entrou em vigor em dezembro de 1951 e traz disposições genéricas sobre os direitos humanos como a constante no artigo 3º, alínea 1, que obriga os Estados ali pactuantes a protegerem os direitos fundamentais da pessoa humana, sem qualquer distinção, seja de raça, nacionalidade, credo ou sexo. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem Juntamente com a Carta Constitutiva da Organização dos Estados Americanos em maio de 1948, foi adotada a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem que dá inicio a proteção dos direitos humanos em nível regional. Vale considerar que esta declaração é anterior a Declaração Universal dos Direitos do Homem e da Declaração Européia dos Diretos do Homem e das Liberdades Fundamentais. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Como na declaração universal, a declaração americana, não tem força coercitiva por não tratar-se de uma convenção, e não ser parte integrante da Carta Constitutiva da Organização dos Estado Americanos. O Comitê Jurídico Interamericano já declarou que tal documento e uma “declaração de princípios”, no entanto, valemo-nos das mesmas considerações observadas ao tratarmos do tema referente à declaração universal. Com a necessidade de consolidação deste sistema, surge em 1959 na cidade de Santiago do Chile a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que seria responsável pela promoção e proteção destes direitos. Esta comissão funcionaria de forma provisória até a criação de uma Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos que acabou ocorrendo na Conferencia Especializada Interamericana de Direitos Humanos, realizada de 7 a 22 de novembro de 1969 na Costa Rica, convenção esta também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O Pacto de San José da Costa Rica O Pacto de San José da Costa Rica, é instrumento fundamental na proteção dos direitos humanos no continente americano. Apesar de ter sido assinado em 1969, só entrou em vigor após obter 11 ratificações, em 18 de julho de 1979, com o depósito da ratificação do governo de Granada. Mesmo diante da importância de tal Pacto, dos 35 membros da OEA, apenas 25 o ratificaram. O Estado Brasileiro o ratificou em 1992. O número inclui o Estado de Cuba que teve seu governo excluído de participar da OEA em 1962 depois da tomado do novo governo pela revolução cubana. O número apresentado inclui a República de Trinidad e Tobago que denunciou o Pacto em notificação datada de 26 de maio de 1998. A título de curiosidade, Estados como EUA e Canadá não ratificaram o Pacto. Na primeira parte do Pacto de San José da Costa Rica, o mesmo é bem semelhante ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, garantindo direito a vida; direito a liberdade; direito a ser submetido a julgamento justo; direito a não ser submetido à escravidão; direito à liberdade de consciência e de crença; direito de liberdade de pensamento e expressão, direito ao nome, direito a nacionalidade entre outros. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Já quanto aos direitos econômicos, sociais e culturais, o Pacto de San José da Costa Rica, não os especifica, apenas subliminarmente os consagra em seu artigo 26: Os Estados partes comprometem-se a adotar as providências, tanto no âmbito interno, como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Protocolo de San Salvador: Para garantir os direitos econômicos,sociais e culturais, a OEA, adotou em 1988, entrando em vigor em novembro de 1999, um protocolo adicional ao Pacto de San Jose da Costa Rica conhecido como Protocolo de San Salvador, ratificado pelo Brasil no ano de sua entrada em vigor. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Outros tratados: Ainda no âmbito da Organização dos Estados Americanos, existem outras convenções e tratados temáticos que visam a proteção dos direitos humanos. Dentre eles, podemos citar, Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura de 1985; Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Referente à Abolição da Pena de Morte de 1990; Convenção Interamericana para Previnir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher de 1994, também conhecida como Convenção de Belém do Pará; Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional de Menores de 1994; Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas Portadores de Deficiência de 1999. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Além dos textos convencionais, a proteção dos direitos humanos no sistema regional interamericano conta com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, já anteriormente citada, e com a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos A Comissão Interamericana de Direitos Humanos é órgão não só da Organização dos Estados Americanos mas também da Corte Interamericana dos Direitos Humanos. Principal funções: a de promover a observância dos direitos humanos, para garantir tal observância, tem a função de estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América; formular recomendações aos governos dos Estados-membros; preparar estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas funções; solicitar aos governos dos Estados-membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos; atenderem a consultas que lhe forem formuladas pela Assembleia Geral do OEA, pelos Estados-membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos; prestar assessoria aos Estados-membros e a própria OEA quando solicitado; atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade em conformidade com o artigo 44 a 51 do mesmo documento; apresentar relatório anual à Assembleia Geral da OEA. Segundo artigo 44 da mesma convenção, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem como principal função, receber de indivíduos, grupos de indivíduos ou ainda de entidades não- governamentais, petições com reclamações concernentes a violação por parte de qualquer Estado-membro da OEA, dos direitos humanos consagrados no Pacto de San Jose da Costa Rica. É importante observar que não há necessidade de concordância do Estado denunciado para o recebimento da reclamação pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Mesmo os Estados não fazendo parte do Pacto, poderão ser submetidos a Comissão, devido a seus compromissos assumidos na Carta de Constituição da OEA e da Declaração Interamericana dos Direitos e Deveres do Homem, afinal, como já mencionado a Comissão é órgão tanto do Pacto quando da OEA. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Condições para o recebimento das reclamações: Art. 46 § 1º Entre eles: que se tenha interposto e esgotado os recursos jurisdicionais internos; que seja apresentado no prazo de seis meses a partir da data em que o prejudicado tenha sido notificado da decisão interna definitiva; que a reclamação não esteja ou já tenha sido analisada por outro órgão internacional, entre outros quesitos. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Defesa e recebimento da denuncia: Arts. 48 a 51 do Pacto Concessão de prazo razoável ao Estado denunciado para que apresentar informações a respeito da denuncia. Prestadas as informações, ou em caso de não apresentadas, a Comissão pode: 1 - arquivar o processo pelo convencimento que a violação não mais persiste 2 - considerar inadmissível ou improcedente a reclamação 3 - admiti-la, quando a denuncia será registrada como caso e passa a ser investigada pela Comissão. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Conciliação (com acordo): Dentro deste procedimento, poderá haver uma solução amistosa através de conciliação, quando a Comissão redigirá relatório que será enviado a todos os Estados-membros e a Secretaria Geral da OEA que publicará os termos do acordo. Conciliação (sem acordo): Comissão redige relatório e o encaminha aos Estado- membros interessados com recomendações que devem ser cumpridas pelo Estado que cometeu a violação do direito. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Caso de não cumprimento das determinações: Comissão apresenta o caso a Corte Interamericana de Direitos Humanos, caso o país reconheça a competência da Corte Não sendo parte do Pacto de San José, o procedimento continua na comissão que encaminha novas recomendações ao Estado que violou o direito para serem cumpridas em um determinado lapso temporal. Findo este prazo, a comissão passa a decidir através do voto de seus membros, se os Estado cumpriu as recomendações e se publica ou não o relatório. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. A Corte Interamericana O segundo órgão do Pacto de San José da Costa Rica, é a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Competência consultiva: a corte tem poder de interpretação das disposições concernentes aos direitos humanos. Competência contenciosa: relativa a um caráter judicial, somente pode ser aplicada aos Estados-membros do Pacto de San Jose da Costa Rica que tenham reconhecido expressamente sua jurisdição, tendo em vista que na ratificação de tal pacto, os Estados-membros automaticamente já aceitaram a competência consultiva da corte. O Brasil aderiu a competência contenciosa da Corte Interamericana dos Direitos Humanos em 1998. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Diferentemente da Corte Europeia de Direitos Humanos, na Corte Interamericana, não é permitido petições de indivíduos e instituições privadas de forma direta, somente a Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem poder de apresentar as demandas a Corte Interamericana. Ressalta-se, no entanto, que os Estados-membros podem apresentar demandas contra Estados que tem reconhecido a competência contenciosa da corte diretamente a esta. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, não emite recomendações e sim sentenças que deverão ser cumpridas pelos Estados que reconhecem a sua competência contenciosa, conforme compromisso por eles assumido. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. O sistema africano O mais novo sistema regional de proteção dos direitos humanos é o sistema de proteção Africana, elaborada no âmbito da União Africana (Organização de Unidade Africana). Seu principal instrumento convencional é a Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, também conhecida como Carta de Banjul, de 27 de junho de 1981, com entrada em vigor em 1986. Visivelmente inspirada nas declarações europeia e americana tem traços característicos bastante distintos. Nela há instituição de uma Comissão dos Direitos do Homem e dos Povos e de um Tribunal Africano de Direitos Humanos, sendo este ultimo instituído pelo protocolo de Ouagadougou de 9 de junho de 1998 com entrada em vigor em dezembro de 2003. A Unidade Africana teve seu nome alterado em 2000 para União Africana. Prof. Paulo Afonso de Oliveira Jr. Bibliografia consultada: BORGES, Leonardo Estrela. Coleção para entender: O Direito Internacional Humanitário. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. BRONLIE,Ian. Princípios de direito internacional público. Trad. Maria Manuela Farrajota; Maria João Santos; Victor Richard Stockinger; Patrícia Galvão Teles. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997. BROTÓNS, Antônio Remiro. Derecho Internacional. Madri: McGRAW-HILL, 1997 DINH, Nguyen Quoc; e DAILLIER, Patrick; e PELLET, Alain. Direito Internacional Público. 2. ed. Trad. Vitor Marques Coelho. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003. GODINHO, Fabiana de Oliveira. Coleção para entender: A Proteção Internacional dos Direitos Humanos. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. 2 ed. (ver., atual. e ampl.). São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. MEDEIROS, Ana Letícia Baraúna Duarte. Direito Internacional dos Direitos Humanos na América Latina. Rio de Janeiro: Lúmen Júris. 2007. MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 15.ed. (ver. e aum.). Rio de Janeiro: Renovar, 2004, v.1. REZEK, José Francisco. Direito Interncional Público: curso elementar. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e; ACCIOLY, Hildebrando. Manual de direito internacional público. 15. ed. rev. e atual. Paulo Borba Caselha. São Paulo: Saraiva, 2002. SORENSEN, Max. Manual de derecho internacional publico. México: Fondo de Cultura Econômica, 1972. SORIANO, Ramón. História temática de los derechos humanos. Sevilla: Editorial MAD, 2003.
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