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1 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Direito Empresarial Unidade Nº 4 – Sistema Tributário Nacional Marcia Teodoro 2 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Introdução Nesta unidade final de nossos estudos nos debruçaremos sobre o estudo da inserção do conhecimento acerca do direito tributário brasileiro no bojo de nossas discussões acerca do direito empresarial. Estudaremos então o Sistema Tributário Nacional, um conjunto de disposições constitucionais que regulam a atividade tributária de nosso Estado. O ano de sua estipulação é 1966, na figura da lei 5.172, que serve de sistematização ao Código Tributário Brasileiro. A Constituição de 1988 fará algumas alterações nesta vigência, versando a respeito da matéria tributária. Veremos, além disso, os principais instrumentos de tributação, como impostos, taxas e contribuições. Observaremos as diferentes situações de sua ocorrência, bem como seus respectivos fatos geradores. Vamos lá? Bons estudos! 1. Sistema Tributário Nacional e o Poder de tributar Trata-se de sistema que corresponde às regras de recolhimento de tributos, que tem como objetivo o financiamento das atividades do Estado junto à sociedade, através de investimentos nas mais diversas áreas sociais e no pagamento de servidores públicos. O Poder de tributar corresponde à aptidão atribuída pela Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) a instituir, por lei, tributos. Assim, a competência tributária corresponde ao “poder” que cada pessoa política detém para criar tributos, ou seja, para editar normas tributárias. A Constituição de 1988 instituiu a forma de Estado Federal no Brasil e o subdividiu em entes federados autônomos entre si, que correspondem às pessoas jurídicas de direito público interno, estudadas no primeiro capítulo, ou seja, União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios. Desta forma, é importante perceber que a competência tributária relaciona-se ao poder de instituir tributos e é outorgado pela Constituição aos 3 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional entes federados, que poderão (ou não) se valer do uso dessa competência por meio da edição de leis, que atribuirão as especificidades sobre o tributo fixado. Assim, a partir da competência outorgada aos entes federados para tributar, cabe a cada um deles legislar mediante lei complementar sobre a definição dos tributos, suas espécies, fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes, obrigações, lançamento, crédito, prescrição, decadência e demais peculiaridades, conforme dispõe o art. 146 da Constituição Federal. Assim, a Constituição dispõe que são tributos de competência da União (art. 153, CRFB, 1988): Imposto de importação de produtos estrangeiros; Imposto de exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; Imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza; Imposto sobre produtos industrializados; Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; Imposto sobre propriedade territorial rural; Imposto sobre grandes fortunas, nos termos de lei complementar. E ainda os Empréstimos Compulsórios (art. 148, CRFB, 1988) e as contribuições sociais (art. 149, CRFB, 1988). Ademais, compete ainda à União a chamada competência extraordinária, que corresponde ao poder de instituir, na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação (art. 154, II, CRFB). Cabe ainda à União competência residual, que consiste na possibilidade de instituição de tributos diversos daqueles dispostos na Constituição mediante lei complementar, desde que sejam não-cumulativos e não tenham 4 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na Constituição (art. 154, I, CRFB, 1988). Observe-se que a União deixou de legislar norma complementar a respeito o Imposto sobre grandes fortunas, o que confirma o entendimento de que a criação dos tributos pelos entes federados refere-se à mera faculdade, de forma que cabe a cada ente fazê-lo de acordo com sua própria conveniência e interesse. Assim, nada impede que a União, a qualquer momento, caso seja de seu interesse, institua por lei complementar o Imposto sobre grandes fortunas. Compete aos Estados instituir impostos sobre (art. 155, CRFB, 1988): Imposto sobre a transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; Imposto sobre a propriedade de veículos automotores. Compete aos Municípios instituir impostos sobre (art. 156, CRFB, 1988): Imposto sobre propriedade predial e territorial urbana; Imposto sobre transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; Imposto sobre serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. Ao Distrito Federal, por corresponder a um ente federado híbrido, cabe a competência dupla dos Municípios e Estados. 2. Características da competência tributária 5 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Ana Flávia Messa (2016) aponta as principais características relativas à competência, vejamos. Irrenunciabilidade: Não é possível a renúncia à competência tributária instituída pela Constituição; Inalterabilidade: Corolário da hierarquia das normas, a competência tributária instituída pela Constituição não pode ser alterada por normas infraconstitucionais; Incaducabilidade: Não caduca o exercício da criação de tributos, uma vez que posta por regras constitucionais. Indelegabilidade: A competência instituída pela Constituição deve ser cumprida. Não há a possibilidade de delegação de um ente federado para outro. Facultatividade: A criação do tributo corresponde a faculdade exercida pelo ente federado, conforme seus interesses políticos e econômicos. Privatividade: A Constituição especifica a competência de cada ente federado, que não podem invadir as competências uns dos outros. Limitada: A criação dos tributos deve respeitar a reserva legal, as demais regras e princípios constitucionais e sua definição depende de lei que determine e descreva seus elementos fundamentais. 3. Limitações constitucionais ao poder de tributar O poder de tributar não é ilimitado e como tal encontra limites em regras e princípios de Direito. As regras correspondem a normas expressas e objetivas, que cabem em situações específicas. Os princípios são a base do ordenamento jurídico ou, nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello o “mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhe o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo” (2001, p. 772). Alguns dos principais princípios serão analisados neste capítulo. 3.1. Princípio da legalidade 6 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – SistemaTributário Nacional Pressupõe que não há tributo sem lei anterior que o preveja. O termo “lei” deve ser entendido em sentido mais amplo, como norma derivada do processo legislativo, que deve descrever as situações de incidência dos tributos, forma de cobrança, montantes e características gerais que possibilitem sua cobrança. 3.2. Princípio da capacidade contributiva Trata-se de critério democrático que tem como objetivo impedir imposições excessivas, de caráter confiscatório aos cidadãos. Isso significa que sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte (art. 145, §1º, CRFB, 1988). Por outro lado, quando não for possível a atribuição de caráter pessoal aos impostos, será aplicado caráter real, ou seja, não levarão em consideração a pessoalidade do sujeito, mas sim determinado bem ou coisa (SILVA, 2014, p. 63). Assim, o princípio da capacidade contributiva busca preservar a harmonia das cobranças, de acordo com a capacidade de contribuição de cada contribuinte. 3.3. Princípio da igualdade/isonomia Dentre as limitações ao poder de tributar encontra-se o Princípio da igualdade/isonomia, que significa que sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos (art. 150, CRFB, 1988). Assim, pressupõe-se a criação de tributos que respeitem não apenas a igualdade formal, mas também material entre os contribuintes. 3.4. Princípio do não-confisco A carga tributária deve se manter no limite do razoável, de forma que preserve o patrimônio do contribuinte, sem implicar no fim de suas atividades por causa dos tributos. 3.5. Princípio da irretroatividade 7 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Não há tributo sem lei anterior que o crie, por isso, a regra do Direito Tributário é da irretroatividade da norma. Suas exceções encontram-se no art. 106 do CTN, que dispõe sobre a possibilidade de retroação nas seguintes hipóteses: Quando a norma for interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; Tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. Trata-se de princípio que busca oferecer segurança jurídica à “população no que se refere aos seus direitos e deveres, de forma que todos saibam antecipadamente o que devem fazer e quais são os limites de atuação das outras pessoas e do Estado” (HACK, 2015, p.77). 3.6. Princípio da anterioridade ou não-surpresa do contribuinte Trata-se de princípio que visa garantir segurança jurídica aos contribuintes em relação ao tempo, de forma que relaciona a data da publicação da lei e a cobrança do tributo que foi instituído ou majorado. Por tal dispositivo, em certas situações “o tributo deve ser cobrado apenas a partir do exercício financeiro seguinte em que foi publicada a lei”. Trata-se da anterioridade do exercício financeiro. Além da observância da regra mencionada há ainda o dever de respeitar o lapso temporal de 90 dias após a publicação da lei que criou ou aumentou o tributo. Trata-se da denominada anterioridade nonagesimal ou noventena (HACK, 2015, p.78 e 79). Consigne-se que o exercício financeiro no Brasil coincide com o período de um ano, que vai de 1º de janeiro e 31 de dezembro. 8 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Importante observar que nem todos os impostos são obrigados a respeitar o princípio da anterioridade, sendo que aqueles tributos cuja natureza é de extrafiscalidade não estão subordinados a ele. Vejamos: Exceções ao princípio da anterioridade – Exercício seguinte e nonagesimal: II, IE, IOF, Imposto Extraordinário de Guerra, Empréstimo Compulsório guerra/calamidade. Exceções ao princípio da anterioridade – Exceção apenas ao exercício financeiro: IPI, Contr. Seguridade Social, restabelecimento de alíquota ICMS-monofásico, restabelecimento alíquota CIDE-combustíveis. Exceções ao princípio da anterioridade – Exceção apenas à nonagesimal IR, base de cálculo IPVA, base de cálculo IPTU. Os demais tributos ficam vinculados a ambas as regras da anterioridade. 3.7. Princípio da liberdade de tráfego É vedado o estabelecimento de limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público (art. 150, V, CRFB, 1988). 3.8. Princípio da generalidade O tributo é fixado em abstrato, o que significa que deve ser fixado de forma geral e abranger toda e qualquer pessoa que possuir capacidade contributiva (art. 153, § 2º, I, CRFB, 1988). 3.9. Princípio da uniformidade Os tributos devem ser uniformes em todo território nacional. Por este princípio é vedado à União instituir tributo não uniforme no território nacional, o que garante a não discriminação de Estado em relação a outros e geraria verdadeira guerra fiscal e afronta ao princípio do equilíbrio federal (RUSSO. P. 129). Nesse sentido se manifesta o art. 151, I da CRFB (1988), vejamos: Art. 151. É vedado à União: 9 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País; Perceba-se que o artigo ressalva a possibilidade de a União exercer política de incentivos fiscais para promover o equilíbrio entre as regiões do País, o que não contraria o princípio da uniformidade, mas solidifica o princípio da igualdade entre os entes federados. 3.10. Princípio da progressividade De acordo com este princípio a alíquota cresce à medida que se eleva a quantidade ou valor da coisa tributada, em contraste com a relação constante dos impostos simplesmente proporcionais. Os tributos podem ser fiscais ou extrafiscais. Fiscal: A alíquota varia em função do aumento da base de cálculo. Vejamos o tema na Constituição da República Federativa do Brasil: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; § 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: I - ser progressivo em razão do valor do imóvel; e II - ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel (CRFB, 1988). Ou seja, quem tem mais, paga mais. Extrafiscal: Alíquota em função do princípio da função social. Nesses casos o objetivo do Estado não é apenas a arrecadação, mas também a regulação da economia ou do aproveitamento de imóveis rurais. Nesse sentido, a título deexemplo, a Constituição da República apresenta: 10 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. (CRFB) [grifo nosso]. Ou seja, opera de acordo com a necessidade do Estado. 3.11. Princípio da não-cumulatividade Nos tributos indiretos, com incidência em etapas sucessivas, compensa- se o que for devido em cada operação com o montante cobrado anteriormente. Assim, o valor recolhido nas operações anteriores serve de crédito nas operações seguintes. Trata-se de princípio de aplicação obrigatória no IPI, ICMS, nos Impostos Residuais e nas Contribuições Sociais de Seguridade Residuais. 4. Principais espécies tributárias Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal há cinco espécies de tributos, quais sejam impostos, taxas, contribuições de melhoria, 11 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional empréstimos compulsórios e contribuições especiais. Estudaremos as quatro espécies mais relevantes ao empreendedor. 4.1. Impostos Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte (art. 16, CTN). Isso significa dizer que seu fato gerador é não vinculado, ou seja, tem como fato gerador uma situação ou um fato relativo ao particular, como por exemplo ser proprietário de um veículo automotor (IPVA) ou proprietário de um imóvel (IPTU). São tributos de competência privativa de cada ente federado e sua destinação não é afetada por órgão, despesa ou fundos, o que significa dizer que a receita auferida pela Fazenda Pública não é atrelada a uma determinada despesa autorizada, deixado livre sua utilização de acordo com a conveniência e necessidades do ente federativo. 4.2. Taxas Trata-se de tributo de competência comum entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, que instituem as taxas pela prestação de serviço público ou exercício do poder de polícia (art. 145, CRFB). O fato gerador das taxas abarca o exercício do poder de polícia ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição (art. 145, II, CRFB, 1988). Como regra geral sua destinação não é afetada, devendo os créditos advindos das obrigações tributárias comporem o orçamento público para utilização, de acordo com a necessidade e interesse do ente federativo correspondente. Por outro lado, a norma poderá vinculá-la, desde que o faça com relação ao mesmo serviço ou exercício do poder de polícia que ocasionou o pagamento. A título de exemplo, a Constituição em seu art. 98 destina as taxas correspondentes a custas e emolumentos a custeio exclusivo de serviços afetos às atividades específicas da Justiça. 12 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Os serviços prestados são aqueles específicos e divisíveis, ainda que apenas colocados à disposição, como por exemplo a taxa de incêndio, de coleta de lixo ou de esgoto sanitário. Para uma melhor compreensão das hipóteses da aplicação das taxas, importante se faz a compreensão sobre Poder de Polícia. Nesse sentido, [...] considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos (art. 78, CTN). Ou seja, há cobrança de taxa nos casos do exercício de poder de polícia como, por exemplo, na expedição de alvarás, taxas de fiscalização de controle e fiscalização ambiental, fiscalização sanitária, dentre outros. Por fim, as principais características das taxas, segundo a professora Fabiana Alves Pinto (2012, p. 12) são: a) Possuem como fato imponível fatos de conteúdo econômico (verbo mais complemento); b) vinculados a uma contraprestação estatal; c) desvinculados de qualquer prestação financeira mediata ou futura por parte do poder público; d) destinação específica ao pagamento das despesas e estrutura necessária para a prestação de serviço público; e) objetiva remunerar o Poder Público pela prestação de serviços específica e divisível, prestado ou posto à disposição do contribuinte; f) evitar gastos do orçamento com a prestação de serviços públicos de interesse particular; g) caráter fiscal; h) competência constitucional (PINTO, 2012 p. 12). Assim, a taxa é uma “espécie tributária vinculada a uma contraprestação estatal” (PINTO, 2012, p. 12) 13 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional 4.3. Contribuições de Melhoria A contribuição de melhoria é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e, como limite individual, o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado (art. 81, CTN). Trata-se de tributo de competência comum, que pode ser instituído pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, de acordo com o ente que realizar obra que valorize bem imóvel do contribuinte. Tem como fato gerador vinculado à realização de obra pública que valorize o imóvel do contribuinte, razão pela qual é caracterizado como tributo vinculado. Cobrado apenas após o término da obra, sua destinação não é afetada, tendo em vista que seu objetivo precípuo é “recompor” os cofres públicos que dispenderam valores para realização da obra. Ademais, cumpre salientar que a contribuição relativa a cada imóvel deve ser determinada pelo rateio da parcela do custo da obra a que se refere à alínea “c”, do inciso I, pelos imóveis situados na zona beneficiada em função dos respectivos fatores individuais de valorização (art. 82, §1º, CTN). Por fim, por ocasião do respectivo lançamento, cada contribuinte deve ser notificado do montante da contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integram o respectivo cálculo (art. 82, §2º, CTN). 4.4. Empréstimo Compulsório Trata-se de tributos instituídos privativamente pela União, mediante lei complementar para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; e no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional (art. 148, CTN). Seu fato gerador é definido em lei complementar e, tendo em vista se tratar de hipótese extraordinária,pode contar com mesma base de cálculo de imposto já existente. 14 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Naturalmente sua destinação é afetada, uma vez que sua arrecadação necessariamente deve ter seu uso vinculado à situação que justifica a instituição da cobrança, seja a causa guerra, hipótese de calamidade ou investimento. Por se tratar de hipótese de empréstimo, a lei deve fixar, obrigatoriamente, o prazo do empréstimo e as condições de seu resgate, que deve ser realizado apenas em dinheiro (art. 15, CTN). 5. Tributos em espécie Analisaremos agora alguns dos principais tributos em espécie, com foco nos impostos mais relacionados às atividades empresariais. 5.1. Aquisição e alienação da propriedade Veremos a seguir uma listagem e detalhamento de tributos que recaem sobre a aquisição ou alienação de imóveis no Sistema Tributário Brasileiro. Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR Trata-se de imposto de caráter extrafiscal, que tem como objetivo “incentivar a utilização adequada da propriedade rural e do solo” (PINTO, 2012, p. 95). De competência da União, tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel localizado fora da zona urbana do Município (art. 29, CTN). Sua base de cálculo é o valor fundiário do imóvel e seu contribuinte é o proprietário do imóvel, o titular de seu domínio útil ou seu possuidor a qualquer título (art. 31, CTN). Suas alíquotas são progressivas tendo em vista seu caráter extrafiscal (art. 153, §4º, CF/88). Apesar da competência da União, pode o Município se responsabilizar pela fiscalização e arrecadação do valor correspondente sobre o tributo, caso em que o município tem, em troca, a totalidade dos valores arrecadados, ao contrário do que ocorre quando União arrecada, caso em que compete ao Município apenas 50% desse valor (PINTO, 2012, p. 95). Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana – IPTU 15 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Sendo de natureza fiscal, é imposto de competência dos Municípios e tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel por natureza ou por acessão física, localizado na zona urbana do Município (art. 32, CTN). O contribuinte é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título (art. 34, CTN). Sua base de cálculo é o valor venal do imóvel, sendo que para sua determinação não se considera o valor dos bens móveis mantidos, em caráter permanente ou temporário, no imóvel, para efeito de sua utilização, exploração, aformoseamento ou comodidade (art. 33, CTN). As alíquotas do IPTU são estabelecidas em lei municipal. 5.2. Renda Neste tópico veremos o detalhamento relativo ao imposto que recai sobre os diferentes tipos de renda e provento. Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza - IR Trata-se de imposto de natureza fiscal, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza, que tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; e demais proventos de qualquer natureza (art. 43, CTN). Sua base de cálculo é o montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos tributáveis e seu contribuinte é o titular da disponibilidade da respectiva renda, sem prejuízo de atribuir a lei essa condição ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou dos proventos tributáveis. Suas alíquotas devem ser previstas em lei, progressivas em relação às pessoas físicas e fixadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, em relação às pessoas jurídicas, com a possibilidade de incidência de alíquota adicional caso ultrapassado montante previsto em lei. Vale a pontar que a incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção, sendo que na 16 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional hipótese de receita ou de rendimento oriundos do exterior, a lei estabelecerá as condições e o momento em que se dará sua disponibilidade, para fins de incidência do imposto referido neste artigo (art. 43, §§1º e 2º, CTN). 5.3. Consumo Neste tópico veremos uma listagem e detalhamentos de impostos que recaem sobre as relações de consumo no Sistema Tributário Brasileiro. Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI Imposto de competência da União, tem como fato gerador o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira, que contará com base de cálculo sobre o preço normal do produto, acrescido do montante do imposto sobre a importação; das taxas exigidas para entrada do produto no País; ou dos encargos cambiais efetivamente pagos pelo importador ou dele exigíveis (art. 46 e 47, CTN). Outro fato gerador é sua saída dos estabelecimentos de importador, industrial, comerciante ou arrematante. Nesse caso, sua base de cálculo é o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria; e, na falta, o preço corrente da mercadoria, ou sua similar, no mercado atacadista da praça do remetente (art. 46 e 47, CTN). Por fim, ainda pode apresentar como base de cálculo sua arrematação, quando determinado bem for apreendido ou abandonado e levado a leilão, caso em que sua base de cálculo será o preço da arrematação (art. 46 e 47, CTN). Suas alíquotas são fixadas de maneira seletiva, em função da essencialidade do produto, nos termos do art. 153, §3º, CTN. Saliente-se que apenas é “considerado industrializado produto que, de alguma forma, sofre transformação, montagem ou beneficiamento, ou seja, que de alguma forma tenha sido alterado ou acrescentado alguma coisa ao seu conteúdo” (PINTO, 2012, p. 90). O contribuinte do imposto é o importador ou quem a lei a ele equiparar; o industrial ou quem a lei a ele equiparar; o comerciante de produtos sujeitos ao imposto, que os forneça aos contribuintes definidos no inciso anterior; ou o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados, 17 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional levados a leilão. E, para os efeitos deste imposto, considera-se contribuinte autônomo qualquer estabelecimento de importador, industrial, comerciante ou arrematante. Aplica-se ao imposto o Princípio da não-cumulatividade, de forma que o montante devido deve resultar da diferença a maior, em determinado período, entre o imposto referente aos produtos saídos do estabelecimento e o pago relativamente aos produtos que nele entrarem, sendo que o saldo verificado, em determinado período, em favor do contribuinte transfere-se para o período ou períodos seguintes. (art. 49, CTN). Isso significa que o imposto, “por ter caráter não cumulativo, deverá repassar seu valor, como uma espécie de compensação ao sujeito seguinte da cadeia e assim por diante, até que o referido produto não passe mais por processo de industrialização” (PINTO, 2012, p. 90). Ademais, trata-se de imposto seletivo em função da essencialidade dos produtos, o que significa dizer que produtos mais importantes, como aqueles usados para subsistência como arroz e feijão, são menos tributados do que aqueles produtos cuja importância é menor ao dia-a-dia, como carros e cigarros. Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação - ICMS Trata-se de imposto de competência estadual, ainda que as operaçõese as prestações se iniciem no exterior, que incide sobre I - operações relativas à circulação de mercadorias, inclusive o fornecimento de alimentação e bebidas em bares, restaurantes e estabelecimentos similares; II - prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal, por qualquer via, de pessoas, bens, mercadorias ou valores; III - prestações onerosas de serviços de comunicação, por qualquer meio, inclusive a geração, a emissão, a recepção, a transmissão, a retransmissão, a repetição e a ampliação de comunicação de qualquer natureza; 18 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional IV - fornecimento de mercadorias com prestação de serviços não compreendidos na competência tributária dos Municípios; V - fornecimento de mercadorias com prestação de serviços sujeitos ao imposto sobre serviços, de competência dos Municípios, quando a lei complementar aplicável expressamente o sujeitar à incidência do imposto estadual (art. 2º, lei complementar 87 de 1996). § 1º O imposto incide também: I – sobre a entrada de mercadoria ou bem importados do exterior, por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade; II - sobre o serviço prestado no exterior ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior; III - sobre a entrada, no território do Estado destinatário, de petróleo, inclusive lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e de energia elétrica, quando não destinados à comercialização ou à industrialização, decorrentes de operações interestaduais, cabendo o imposto ao Estado onde estiver localizado o adquirente. Saliente-se que a caracterização do fato gerador independe da natureza jurídica da operação que o constitua (art. 2º, lei complementar 87 de 1996). Sua base de cálculo corresponde ao valor de saída da mercadoria e sua alíquota é fixada pela legislação estadual, geralmente definida em 17% ou 18% (art. 155, §2º, CRFB). Trata-se de imposto pautado pelo princípio da não-cumulatividade razão pela qual pode o contribuinte creditar do valor do ICMS pago na operação anterior, seja qual for sua modalidade (PINTO, 2012, p. 100). Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação de serviços definidos em Lei Complementar n. 116/2003, ainda que esses não se 19 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional constituam como atividade preponderante do prestador. Trata-se de definição taxativa, que exclui qualquer serviço fora do rol determinado. Seu caráter é “arrecadatório ou fiscal devendo ser pago pelo prestador de serviços ao município do local de sua sede ou por eventual responsável descrito pela lei”. Sua base de cálculo é o preço do serviço prestado, com incidência cumulativa (art. 7º, Lei Complementar, 116/2003) e suas alíquotas são dispostas pelos municípios. Todas as especificidades sobre este tributo constam na Lei Complementar 116 de 2003. 5.4. Comércio exterior Neste tópico, nossa listagem e detalhamento terão como objeto verificar os diferentes impostos pressupostos na legislação brasileira e que regulamentam atividades ligadas ao comércio exterior. Impostos sobre a Importação - II Trata-se de imposto de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros, que tem como fato gerador a entrada destes no território nacional (art. 19, CTN). Sua base de cálculo é: I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária; II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País; III - quando se trate de produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, o preço da arrematação (art. 20, CTN). 20 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional O contribuinte do imposto é o importador ou quem a lei a ele equiparar; e, ainda, o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados (art. 22, CTN). Pode-se considerar como momento em que o bem ingressa no território nacional como aquele em que “o contribuinte declara a respectiva importação e esta é submetida à análise da autoridade aduaneira”. Ademais, o ingresso dos bens deve ser definitivo para que seja passível de ser tributado (PINTO, 2012, p. 87). Por se tratar de um tributo com caráter de extrafiscalidade o Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior (art. 21, CTN). Imposto sobre a Exportação - IE Imposto, também de competência da União, opera sobre a exportação, para o estrangeiro, de produtos nacionais ou nacionalizados tem como fato gerador a saída destes do território nacional (art. 23, CTN). Sua base de cálculo dispõe o Código Tributário Nacional: I - quando a alíquota for específica, será a unidade de medida adotada pela lei tributária; II - quando a alíquota for ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da exportação, em uma venda em condições de livre concorrência. Parágrafo único. Para os efeitos do inciso II, considera- se a entrega como efetuada no porto ou lugar da saída do produto, deduzidos os tributos diretamente incidentes sobre a operação de exportação e, nas vendas efetuadas a prazo superior aos correntes no mercado internacional o custo do financiamento (art. 24, CTN). A lei ainda pode adotar como base de cálculo a parcela do valor ou do preço apontados acima, excedente de valor básico, fixado de acordo com os critérios e dentro dos limites por ela estabelecidos (art. 24, CTN). 21 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Nessa hipótese o contribuinte é o exportador ou quem a lei a ele equiparar (art. 27, CTN). Também em virtude de seu caráter extrafiscal, o Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-los aos objetivos da política cambial e do comércio exterior. 5.5. Mercado Financeiro Neste tópico, nossa listagem detalhará os impostos que recaem sobre as atividades ligadas ao setor financeiro, ao mercado, portanto, e que estão previstos na legislação brasileira. Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, e sobre Operações Relativas a Títulos e Valores Mobiliários - IOF Trata-se de imposto vinculado ao mercado financeiro, de competência da União, sobre operações de crédito, câmbio e seguro, e sobre operações relativas a títulos e valores mobiliários, que tem como fato gerador: I - quanto às operações de crédito, a sua efetivação pela entrega total ou parcial do montante ou do valor que constitua o objeto da obrigação, ou sua colocação à disposição do interessado; II - quanto às operações de câmbio, a sua efetivação pela entrega de moeda nacional ou estrangeira, ou de documento que a represente, ou sua colocação à disposição do interessado em montante equivalente à moeda estrangeira ou nacional entregue ou posta à disposição por este; III - quanto às operações de seguro, a sua efetivação pela emissão da apólice ou do documento equivalente, ou recebimento do prêmio, na forma da lei aplicável; IV - quanto às operações relativas a títulose valores mobiliários, a emissão, transmissão, pagamento ou resgate destes, na forma da lei aplicável. Parágrafo único. A incidência definida no inciso I exclui a definida no inciso IV, e reciprocamente, quanto à emissão, ao 22 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional pagamento ou resgate do título representativo de uma mesma operação de crédito (art. 63, CTN). Sua base de cálculo é: I - quanto às operações de crédito, o montante da obrigação, compreendendo o principal e os juros; II - quanto às operações de câmbio, o respectivo montante em moeda nacional, recebido, entregue ou posto à disposição; III - quanto às operações de seguro, o montante do prêmio; IV - quanto às operações relativas a títulos e valores mobiliários: a) na emissão, o valor nominal mais o ágio, se houver; b) na transmissão, o preço ou o valor nominal, ou o valor da cotação em Bolsa, como determinar a lei; c) no pagamento ou resgate, o preço (Art. 64, CTN). É mais um exemplo de extrafiscalidade de tributo, em que o Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo aos objetivos da política monetária (art. 65, CTN). Por fim, cumpre apontar que o contribuinte do imposto é qualquer das partes na operação tributada, como dispuser a lei (Art. 66, CTN). 6. Fato Gerador e Obrigação Tributária Fato gerador é a situação definida em lei que origina a obrigação tributária. Será fato gerador da obrigação principal a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência (art. 114, CTN). E será fato gerador da obrigação acessória qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, imponha a prática (fazer) ou a abstenção (não fazer) de ato que não configure obrigação principal (art. 115, CTN). 6.1. Obrigação Principal e obrigação acessória A obrigação tributária é principal ou acessória. 23 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Obrigação principal é aquela que surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Ou seja, trata-se de obrigação que tem como objetivo um pagamento em dinheiro aos cofres públicos e que se extingue com o crédito dela decorrente (art. 113, §1º, CTN). A obrigação acessória, por outro lado, decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Significa dizer que se referem a obrigações de fazer ou não fazer, como é o caso de emissão de nota fiscal, por exemplo (art. 113, §2º, CTN). Apesar da nomenclatura sugerir que obrigações principais e acessórias seriam necessariamente conectadas, não é a realidade, uma vez que ambas obrigações são independentes uma da outra, de forma que cada qual, se não cumprida, ensejará repercussões legais próprias no que se refere a eventual cumprimento. Assim, a obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária, exatamente por referirem-se a obrigações diferentes na relação tributária. 6.2. Sujeitos da Relação Tributária O protagonismo da relação tributária é aferido aos sujeitos ativo e passivo. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento, como é o caso da União, dos Estados, do Distrito Federal e Municípios, de acordo com sua competência ou eventual delegação (art. 120, CTN). 6.3. Sujeito Passivo Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, que será o próprio contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; ou a figura do responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei (art. 121, CTN). 24 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Por outro lado, o sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto (art. 122). A capacidade tributária passiva independe da capacidade civil das pessoas naturais; de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais ou da administração direta de seus bens ou negócios; ou mesmo de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional (art. 126, CTN). Imprescindível apontar que é a lei que define o sujeito passivo das obrigações tributárias, de forma que eventuais convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes (art. 123, CTN). Isso significa dizer, por exemplo, que em um contrato de locação de imóveis, ainda que as partes acordem que o pagamento relativo ao IPTU corresponde à obrigação a ser cumprida pelo inquilino, referida cláusula só terá validade entre as partes contratantes e não perante o fisco, que deve buscar o cumprimento da obrigação perante o proprietário do imóvel, por ser este o sujeito passivo definido em lei . 7. Solidariedade Obrigação solidária é aquela que se caracteriza pela pluralidade subjetiva – ativa ou passiva -; nelas, cada um dos obrigados possui direitos e obrigações à totalidade da prestação, como se fosse unos (CORTEZ, 2010, p. 131). Assim, são solidariamente obrigadas ao pagamento dos tributos as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal e aquelas expressamente designadas por lei (art. 124, CTN). Nesse sentido, Art. 125. Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes os efeitos da solidariedade: 25 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional I - o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos demais; II - a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade quanto aos demais pelo saldo; III - a interrupção da prescrição, em favor ou contra um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais. Assim, a solidariedade, seja legal ou em virtude de interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal, obriga mais de uma pessoa ao pagamento da totalidade de determinado tributo. 8. Extinção da Relação Tributária A extinção da relação tributária refere-se às hipóteses que põe fim ao vínculo entre o fisco e o contribuinte e são dispostas expressamente no art. 156, do Código Tributário Nacional. Iremos nos aprofundaremos nas formas mais relevantes ao empreendedor e mencionaremos as demais. 8.1. Pagamento A primeira forma de extinção que será abordada é o pagamento, forma mais usual de extinção do crédito tributário, se caracteriza pela entrega, por parte do contribuinte, de quantia correspondente ao crédito tributário ao fisco. O pagamento, apesar de se tratar da forma mais comum de extinção do crédito tributário conta com algumas regras específicas no CTN. 1. Em primeiro lugar, importa apontar que a imposição de penalidade não ilide o pagamento integral do crédito tributário, ou seja, o pagamento do tributo não pressupõe o pagamento da multa, muito menos sua extinção. Tratam-se de obrigações diferentes e como tal devem ser cumpridas(art. 157, CTN). 2. O pagamento de um crédito não importa na presunção do pagamento de sua totalidade, se parcial, ou de outros créditos, ainda que referentes ao mesmo ou a outros tributos (art. 158, CTN). 26 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional 3. Quando a legislação tributária não dispuser a respeito, o pagamento é efetuado na repartição competente do domicílio do sujeito passivo (art. 159, CTN). 4. Quando a legislação tributária não fixar o tempo do pagamento, o vencimento do crédito ocorre trinta dias depois da data em que se considera o sujeito passivo notificado do lançamento. Observe-se que a regra é a fixação do prazo para pagamento fixado por lei, que também pode conceder desconto pela antecipação do pagamento, nas condições que estabeleça (art. 160). 5. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária (art. 161, CTN). 6. Cabe à lei fixar os juros de mora, caso contrário os juros devem ser calculados à taxa de um por cento ao mês. Art. 161, 𝟏º, CTN) 7. O pagamento deve ser feito em dinheiro (art. 162, CTN) e caso seja realizado através de cheque, somente se considera extinto com o resgate deste pelo fisco. 8. Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do mesmo sujeito passivo para com a mesma pessoa jurídica de direito público, relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes de penalidade pecuniária ou juros de mora, a autoridade administrativa competente para receber o pagamento determinará o pagamento em primeiro lugar, relativo aos débitos por obrigação própria, e em segundo lugar aos decorrentes de responsabilidade tributária; depois, as contribuições de melhoria, taxas e por fim impostos, nesta ordem; na ordem crescente dos prazos de prescrição, ou seja, os mais antigos têm preferência em relação aos mais novos; e na ordem decrescente dos montantes, o que significa dizer que os de maior valor têm preferência em relação aos de menor valor. Na prática o fisco não aplica esta regra, uma vez que os pagamentos atualmente são pagos nos bancos e já têm destinação específica. 8.2. Pela compensação 27 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Ocorre quando o fisco e o contribuinte são ao mesmo tempo devedores entre si. Nesses casos é possível a compensação dos débitos, de forma que a fazenda pública abate do montante a receber o que lhe é devido. A possibilidade deve ser prescrita em lei que autorize a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública (art. 170, CTN). Mister salientar que a hipótese é vedada antes do trânsito em julgado de respectiva decisão judicial, se o tributo for objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo (art. 170-A, CTN). III - a transação; Trata-se de acordo entre o Poder Público e o contribuinte, desde que autorizado por lei, após a instauração do litígio, mediante concessões mútuas, entre os litigantes. IV - remissão; Trata-se do perdão da obrigação tributária, autorizado por lei, seja em sua forma total ou parcial, desde que atenda: I - à situação econômica do sujeito passivo; II - ao erro ou ignorância excusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato; III - à diminuta importância do crédito tributário; IV - a considerações de eqüidade, em relação com as características pessoais ou materiais do caso; V - a condições peculiares a determinada região do território da entidade tributante (art. 172, CTN). Na prática dificilmente se faz possível a extinção por remissão, uma vez que a Fazenda Pública, para isso, deve comprovar que o perdão não causará prejuízos nas contas públicas. V - a prescrição e a decadência; Ambos institutos se referem à inércia da Fazenda Pública. 28 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional A decadência corresponde à perda do Direito em si da Fazenda Pública buscar créditos tributários pendentes. Ou seja, é a perda do direito de constituir o crédito tributário, que se extingue após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue- se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento (art. 173, CTN). A prescrição, por outro lado, corresponde à perda da pretensão da Fazenda Pública em buscar os créditos tributários em juízo. Significa que a ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva (art. 174). VI - a conversão de depósito em renda; Ocorre nas hipóteses em que o sujeito passivo deposita em juízo valores que considera devidos à Fazenda Pública com o intuito de questionar os valores sobre os quais está sendo cobrado. Nesses casos, após o trânsito em julgado os valores depositados são convertidos em renda. VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado. 29 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. Assim, ensejadas as hipóteses listadas, extingue-se o crédito tributário, e encerra-se eventual relação existente entre os sujeitos ativo e passivo. Síntese Chegamos ao final de nossos estudos. Nesta ultima unidade nos debruçamos a respeito das questões basilares do direito tributário. Observamos a constituição do Sistema Tributário Brasileiro, as relações estabelecidas entre o Estado e os entes sujeitos à tributação. Além disso, nos situamos quanto às diferentes situações que detém fato gerador de tributo e conhecemos as principais espécies de impostos no contexto brasileiros. Bem como as situações em que há extinção da relação tributária. E assim encerramos as questões básicas que são imprescindíveis para a introdução ao direito empresarial. Nesta unidade você teve a oportunidade de: Situar-se quanto ao Sistema Tributário Nacional e a conformação do poder de tributar do Estado; Compreender as características atribuídas à administração para a competência tributária; Observar os princípios que se consolidam como limitações constitucionais ao poder de tributar; Conhecer e conceituar as principais espécies tributárias; Estudar os conceitos de “Fato Gerador” e “Obrigação Tributária”; Compreender as circunstâncias que supõe a obrigação solidária; Estudar as circunstâncias que supõe a extinção da relação tributária. 30 Direito Empresarial – Unidade nº 4 – Sistema Tributário Nacional Bibliografia: AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 23 ed. São Paulo: Saraiva. 2019. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgadaem 5 de outubro de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. 2019. Acesso realizado em 16 de abril de 2019. BRASIL. Lei Complementar n. 87 de 13 de setembro de 1996. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp87.htm. Acesso realizado em 20 de abril de 2019. BRASIL. Lei complementar 116 de 31 de julho de 2003. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp116.htm. Acesso realizado em 18 de abril de 2019. BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Institui o Código Tributário Nacional. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5172.htm. Acesso realizado em 16 de abril de 2019. CAROTA. José Carlos. Manual de direito tributário aplicado. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2016. COELHO. Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 16 ed. Rio de Janeiro: Forense. 2019. CORTEZ. Fernandes Alexandre. Direito Civil: Obrigações. Caxias do Sul, RS: Educs, 2010. FONTES. Juliana Frederico. Curso de Direito Tributário. 1ª edição. Belo Horizonte. Editora Rede preparatória, 2013. GLASENAPP. Ricardo Bernd. Direito tributário. 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