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LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA E CONTABILIZAÇÃO Autor Alessandra Simão Indaial – 2021 1a Edição Indaial – 2021 LegisLação TribuTária e ConTabiLização Prof. Alessandra Simão 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof. Alessandra Simão Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: apresenTação Olá, estudante! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Legislação Tributária e Contabilização! A contabilidade tributária é uma ferramenta de gestão empresarial muito importante, a qual fornece informações primordiais para o processo de tomada de decisão. Contudo, é pouco utilizada, principalmente nas micro e pequenas empresas. Ela objetiva o estudo das regras de apuração de tributos, bem como seu controle e planejamento. Para tanto, se baseia nas normas fiscais que estabelecem as práticas contábeis, os métodos de registros e demais formalidades exigidas pela legislação. E quando falamos em normas, decretos e legislações, vale destacar que o Brasil possui um sistema tributário extremamente complexo de acordo com especialistas. Outro ponto de destaque em nosso sistema é a alta carga tributária, em especial quando comparamos o volume arrecadado e a qualidade de serviços públicos prestados, que são direitos garantidos à sociedade pela Constituição Federal. Diante disso, ao longo desta disciplina, teremos uma visão geral do Sistema Tributário Nacional, assim como dos principais tributos que incidem nas atividades operacionais das entidades de diferentes regimes tributários. Bons estudos! Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os alunos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, Aluno, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Bons estudos! NOTA Olá, Aluno! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação ................................................................................................. 9 TÓPICO 1 ............................................................................................................................................... 11 Fundamentos da Legislação Tributária ............................................................................................ 11 TÓPICO 2 ............................................................................................................................................... 23 Conceitos e Fundamentos da Tributação ......................................................................................... 23 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 33 TÓPICO 3 .............................................................................................................................................. 35 Princípios do Planejamento Tributário: Elisão, Evasão e Infrações Tributárias ...................... 35 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 44 RESUMO ................................................................................................................................................ 46 UNIDADE 2 Principais Tributos ............................................................................................................................... 47 TÓPICO 1 ............................................................................................................................................... 49 Tributos Municipais ............................................................................................................................. 49 TÓPICO 2 ............................................................................................................................................... 57 Tributos Estaduais ................................................................................................................................ 57 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 65 TÓPICO 3 .............................................................................................................................................. 67 Tributos Federais .................................................................................................................................. 67 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89 RESUMO ................................................................................................................................................ 91 UNIDADE 3 Regimes tributários .............................................................................................................................. 92 TÓPICO 1 ............................................................................................................................................... 94 Simples Nacional .................................................................................................................................. 94 TÓPICO 2 ............................................................................................................................................. 109 Lucro Presumido ................................................................................................................................. 109 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 120 TÓPICO 3 ........................................................................................................................................... 122 Lucro Real ............................................................................................................................................. 122 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 134 RESUMO ..............................................................................................................................................137 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 138 9 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA Fundamentos da Base da Tributação UNIDADE 1 Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles, você encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – Fundamentos da legislação tributária TÓPICO 2 – Conceitos e Fundamentos da Tributação TÓPICO 3 – Princípios do planejamento tributário: elisão, evasão e infração tributária A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os fundamentos e a importância do Sistema Tributário Na- cional; • reconhecer e diferenciar as espécies tributárias; • aplicar a legislação tributária adequadamente frente às necessidades da gestão empresarial; • classificar as espécies tributárias; • conhecer os procedimentos fiscais de constituição e cobrança de crédito tributário. 10 INTRODUÇÃO DA UNIDADE O sistema tributário brasileiro é um dos mais complexos, mas entendermos a legislação tributária é de extrema importância, pois, ao permitir que cada ente governamental exerça a cobrança de tributos sobre a sociedade, estabelece-se uma rede de controle. No entanto, é necessário ordenar todo esse mecanismo. Assim, podemos entender que a legislação tributária é um sistema de regras jurídicas que visa limitar o poder de tributar e proteger os interesses dos particulares. Nesta primeira unidade, estudaremos o Sistema Tributário Nacional, seus princípios, as espécies tributárias e sua importância na gestão dos negócios. Com isso, conseguiremos entender quanto aos princípios do planejamento tributário, conheceremos pontos importantes para reconhecermos e classificarmos adequadamente as espécies tributárias, bem como para organizarmos um planejamento tributário. Iremos verificar, ainda nesta unidade, o quanto é relevante termos conhecimento a respeito das normas e dos decretos que nos ajudam a melhorar o planejamento tributário e, dessa forma, gerir com mais economia os recursos. 11 UNIDADE 1 Fundamentos da Legislação Tributária TÓPICO 1 1.1. Introdução do tópico Conhecermos os princípios e fundamentos da legislação tributária é primordial para entendermos como cada tributo é cobrado pelos entes governamentais, possibilitando um planejamento empresarial que objetive a melhor gestão dos recursos. Contudo, não é possível realizarmos um planejamento tributário sem o conhecimento das normas que regem a arrecadação das espécies tributárias. Quanto mais sabemos a respeito da legislação tributária, maior é a possibilidade de economia de tributos. O sistema de legislação tributária do Brasil se apresenta recheado de decretos, seguindo, primeiramente, a Constituição Federal de 1988. É ela que define prioritariamente os tributos, a competência de cada ente governamental em tributar, assim como as limitações e destinações que devem ser atribuídas à arrecadação de cada tributo. Vamos entender melhor sobre esse assunto? 1.2. Aspectos gerais da legislação Fabretti (2017) nos explica que o direito diz respeito ao conjunto de princípios e normas que regulam coercitivamente a vida social e qualificam situações para discipliná-las normativamente. Já o direito tributário é o ramo jurídico, adotado desde a Emenda Constitucional n. 18/1965, que organizou o Sistema Tributário Nacional (STN), juntamente com a Lei n. 5.172/1966 e as constituições subsequentes. A Constituição Federal de 1988, inclusive, nos art. 145 a 162, trata do STN. O Sistema Tributário Nacional (STN) nada mais é que um agrupamento de leis que objetivam regulamentar a instituição, cobrança, arrecadação e distribuição da tributação em todo o território nacional. Com essa definição, temos que a lei, conforme Roveri (2011), é fruto do processo legislativo. Este, por sua vez, está relacionado a ações realizadas pelos órgãos do Poder Legislativo para proceder com a elaboração das leis, independentemente de serem constitucionais, complementares e ordinárias, assim como as resoluções e os decretos. UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação 12 Figura 1. Poder Legislativo Fonte: Freepik (2021).. O Código Tributário Nacional (CTN) é a lei brasileira que norteia a aplicabilidade dos tributos, assim como a extensão, o alcance, os limites, os direitos e os deveres do contribuinte, além da forma de atuação dos agentes fiscalizadores. É, portanto, a lei que reúne e sistematiza a legislação tributária no país. Conforme seu art. 96, temos que “A expressão ‘legislação tributária’ compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes” (BRASIL, [2007], on-line). Dessa maneira, podemos entender que as leis, os tratados, as convenções e os decretos são as fontes primárias do direito tributário, enquanto as normas complementares são consideradas as fontes secundárias. O art. 97 da mesma lei estabelece a distinção relativa: Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I – a instituição de tributos, ou a sua extinção; II – a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III – a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V – a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI – as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. § 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso. Fundamentos da Legislação Tributária 13 § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. (BRASIL, [2007], on-line) Segundo especialistas, a legislação tributária brasileira é a mais complexa do mundo, com mais de 90 espécies de tributos e atualizações constantes das normas tributárias, visto que as três esferas governamentais são responsáveis pela tributação brasileira, cada uma dentro de sua competência. Entretanto, apesar da extrema complexidade de sua estrutura, o funcionamento do STN é pautado no reconhecimento de tributo, objetivando o financiamento das atividades do estado brasileiro, garantidas na Constituição Federal: melhorias nos serviços prestados à população, como saúde e educação, investimentos em infraestrutura e manutenção da máquina pública. A Constituição Federal apresenta as matérias do sistema tributário e das finanças públicas. Saiba mais a respeito da temática com a leitura do Título VI, composto dos art. 145 a 169. Nos art. 145 a 162, estão as disposições sobre o Sistema Tributário Nacional, enquanto os art. 163 a 169 apresentam as finanças públicas. DICAS Como podemos verificar com a leitura dos artigos 145 a 162 da Constituição Federal, os entes públicos União, Estados e municípios possuem o poder de tributar, sendo que não somente o governo federal pode desempenhar esse papel. Ainda podemos destacar, conforme Crepaldi (2019), que as normas envolvem: • os princípios constitucionais tributários e as limitações ao poder de tributar; • o discernimento de competências no delineamento dos impostos e na distribuição das receitas tributárias. Ainda podemos destacar que, no Brasil, além da legislação tributária, as atividades empresariais devem definir a forma como serão tributadas,baseando- se em três regimes tributários: Simples Nacional, lucro presumido e lucro real. O Simples Nacional é o regime mais simples e menos oneroso para pequenas e médias empresas com faturamento de até R$ 4.800.000 ao ano e que se enquadram nas atividades previstas por ele. É baseado no regime simplificado e unificado de recolhimento de tributos, autorizado pelo art. 146 da Constituição Federal. O lucro presumido, por sua vez, serve para empresas que possuem faturamento de até R$ 78 milhões ao ano e não se enquadram nas atividades previstas no Simples Nacional, nem nas atividades obrigadas ao lucro real. UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação 14 Já o lucro real é voltado às empresas com atividades específicas e faturamento acima de R$ 78 milhões ao ano. Figura 2. Tributação Fonte: Freepik (2021). Outro aspecto importante que devemos considerar é a vigência das leis. De acordo com Roveri (2011), para que uma lei possa vigorar, deve respeitar algumas regras, a exemplo das leis em geral, inclusive as tidas como tributárias. Essas regras gerais estão previstas na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto Lei n. 4.657/1942) e na Lei Complementar n. 95/1998. Para Wolff (2019), a vigência da lei significa que ela está em vigor, ou seja, é válida para ser aplicada, sendo um termo que expressa a existência da lei tributária. Ela se verifica com a publicação da lei no Diário Oficial da União. Assim que promulgadas e publicadas, as leis tributárias passam a existir no ordenamento jurídico. Entretanto, embora já aprovadas, não possuem eficácia devido à não decorrência do prazo previsto para entrarem em vigor ou porque sua eficácia se encontra paralisada pela incidência do princípio constitucional da anterioridade. Relevante destacar que as leis tributárias precisam respeitar o princípio da anterioridade e da noventena. Assim, é preciso que tenhamos consciência quanto aos princípios constitucionais que orientam a legislação tributária. Esses princípios são espécies de limitações ao poder de tributar, estando previstos nos art. 150 e 151 da Constituição Federal. Resumidamente, temos o seguinte: • princípio da legalidade: a exigência e o aumento de tributos somente serão possível por meio de uma lei que estabeleça essas particularidades. Trata-se de uma referência direta ao art. 5º da Constituição Federal (CF), em que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei; • princípio da anterioridade: não é permitido aumentar o tributo no mesmo exercício financeiro em que foi publicada a lei que o instituiu ou elevou; Fundamentos da Legislação Tributária 15 • princípio da isonomia: não é permitido instituir tratamento desigual entre os contribuintes. O princípio também remete ao art. 5º da Constituição Federal, em que todos somos iguais perante a lei; • princípio da irretroatividade: é vedada a cobrança de tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei; • princípio de vedação ao confisco: é vedada a utilização de tributo com efeito de confisco, ou seja, não pode implicar em comprometimento do patrimônio ou dos rendimentos do contribuinte; • princípio da liberdade de tráfego: não é permitido haver limitações ao tráfego de pessoas ou bens, considerando tributos interestaduais ou intermunicipais, com exceção da cobrança de pedágio em vias conservadas pelo Poder Público; • princípio da uniformidade geográfica: a União não pode aplicar tributo que não seja uniforme em território nacional. Isto é, o tributo federal deve ter a mesma alíquota em todo o território. Um ponto importante que precisamos destacar sobre os princípios é que eles prevalecem sobre todas as normas jurídicas, sendo que estas somente são válidas se editadas em rigorosa consonância com eles. No Quadro 1, de maneira resumida, podemos melhor compreender quanto à aplicação das regras em relação aos principais impostos cobrados pelo Sistema Tributário Nacional. Analise atentamente! Quadro 1. Regras para a validade de normativos propondo aumentos em tributos Anualidade e noventena Taxas, contribuições de melhoria, ITBI e ITDI, ICMS e ISS, IPTU e IPVA, ITR e IGF, contribuições, exceto Seguro Social. Apenas anualidade Imposto de Renda, base de cálculo do IPTU e IPVA. Apenas noventena IPI, CSLL, COFINS, CPMF, INSS e PIS/PASEP. Em vigor imediatamente Imposto de Importação e Exportação, IOF, empréstimo e compulsório. Fonte: Pêgas (2017, p. 49). Entretanto, os princípios constitucionais não são os únicos dispositivos de limitação ao poder de tributação. As imunidades ou exonerações tributárias também fazem esse papel. Previstas exclusivamente na CF, elas podem ser entendidas delimitações negativas do poder de tributar. UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação 16 Além disso, é válido mencionar que o sistema tributário nem sempre foi da forma que se apresenta atualmente. O sistema brasileiro, antes da Constituição de 1934, era basicamente a estrutura tributária do período imperial, em que a fonte principal de receitas públicas se baseava em atividades do comércio exterior e no imposto de importação. A Constituição de 1934 apresentou a importância dos tributos internos sobre a venda e as consignações por parte dos Estados, ao passo que a União permaneceu com o imposto de importação e sobre o consumo (PÊGAS, 2017). Em 1966, ocorreu uma reforma que simplificou o sistema. Inicialmente, foram criados os impostos ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias), de competência estadual; e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), de competência federal. Estes substituíram, respectivamente, o Imposto sobre Vendas e Consignações (estadual) e o Imposto Sobre o Consumo (federal). Para os municípios, ainda foram alocados o ISS (Imposto Sobre Serviços) e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) (PÊGAS, 2017). Figura 3. Criação de impostos Fonte: Freepik (2021). Com isso, a reforma tributária de 1934 dividiu os tributos em quatro classificações: patrimônio e renda, produção e comercialização, comércio exterior e impostos únicos. A seguir, temos mais detalhes de cada um deles. • Patrimônio e renda: Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto de Transferência de Bens Imóveis (ITBI), Imposto Territorial Rural (ITR) e Imposto de Renda (IR). • Produção e comercialização: Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM), Imposto Sobre Serviços (ISS), Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e Imposto Sobre Serviço de Transporte e Comunicações (ISTC). • Comércio exterior: Impostos de Importação (II) e Exportação (IE). • Impostos únicos: Cobrados sobre Energia Elétrica (IUEE), Combustíveis e Lubrificantes (IUCL) e Minerais (IUM) (todos de competência federal). Fundamentos da Legislação Tributária 17 Contudo, a reforma de 1934 não foi a única no contexto histórico. Em 1988, com a Constituição Federal, tivemos uma modificação, principalmente quanto à distribuição dos tributos arrecadados pela União e pelos Estados para os municípios, mediante a transferência constitucional. Isto é, parte dos tributos federais e estaduais foram repassados aos municípios brasileiros. O quadro a seguir apresenta os tributos e percentuais de transferência de receitas tributárias entre os entes governamentais. Quadro 2. Percentuais de transferência de receitas tributárias entre entes governamentais Tributo Destinação IPI (União) - 21,5% para o FPE (Fundo de Participação dos Estados). - 3% para os estados do norte, nordeste e centro-oeste. - 24,5% para o FPM (Fundo de Participação dos Municípios). - 10% para o FPEx (Fundo de Participação de Exportação, pertencente aos Estados). Os Estados deverão repassar 25% desse fundo aos municípios. IR (União) - 21,5% para o FPE (Fundo de Participação dos Estados). - 3% para os estados do norte, nordeste e centro-oeste, direcionados para programas definanciamento do setor produtivo. O repasse se faz por meio das instituições financeiras regionais, seguindo o planejamento regional. - 24,5% p/ o FPM (Fundo de Participação dos Municípios). - Os valores retidos de IR dos funcionários e servidores públicos estaduais e municipais não entram, ficando em sua totalidade para estados e municípios em que os funcionários e servidores estão lotados. O imposto será descontado do valor distribuído conforme os três itens acima. Por exemplo, um servidor residente em SP desconta R$ 25,00 de IR e o dinheiro será retido pelo estado, mas não repassado à União. Admitindo que a arrecadação do IR no ano fosse R$ 10.000,00, o FPE total seria de R$ 2.100,00. Considerando que o estado de SP tenha direito a R$ 380,00, a União irá repassar o valor de R$ 355,00 (380 – 25), descontando o IRRF que não foi desembolsado pelo estado. CIDE (União) - Dos valores arrecadados com a CIDE-Combustíveis, 29% são destinados aos estados, que repassarão 25% dos 29% (7,25%) aos municípios. ICMS (estadual) - 25% aos municípios, sendo 75% (18,75%) para o município onde a operação foi realizada e 25% (6,25%) conforme lei estadual específica. IPVA (estadual) - 50% para os municípios onde o veículo automotor foi licenciado. Fonte: Pêgas (2017, p. 33). UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação 18 Assim, resumidamente, podemos entender que os princípios dizem respeito ao meio que o sistema legislativo dispõe para propor limitações ao poder de tributar, sendo cada ente governamental responsável por determinados tipos de tributos como forma de garantir a arrecadação e proporcionar o oferecimento de serviços públicos de sua responsabilidade. Mesmo com a competência de cada ente federativo de estabelecer e cobrar tributos, ocorre a distribuição dos tributos arrecadados pela União e pelos Estados para os municípios, como verificamos no quadro anterior. 1.3. Fundamentos da tributação Conforme nos explica Fabretti (2017), a lei é norma jurídica emanada do poder competente. E sendo jurídica, é a regra de comportamento obrigatório, sob pena de sanção. O sistema legislativo é constituído de forma piramidal, ou seja, de forma hierárquica, sendo a Constituição Federal a lei máxima que as demais devem respeitar. Por tal motivo, qualquer lei inferior que estabeleça algo que vá contra a Constituição, entende-se que se trata de uma lei inconstitucional. De acordo com o art. 59 da Constituição Federal, o sistema legislativo brasileiro é composto por emendas constitucionais, leis complementares, leis ordinárias, medidas provisórias, leis delegadas, decretos legislativos, resoluções do Senado Federal, assim como decretos e normas complementares (BRASIL, [2020]). As emendas constitucionais são alterações do texto da Constituição Federal. Depois de incorporadas, tornam-se tão importantes quanto a própria CF. As leis complementares, por sua vez, recebem esse nome porque têm a função de complementar o texto constitucional. Elas somente são utilizadas ou aplicadas quando houver expressa previsão na Constituição, pois seu quorum para aprovação é qualificado (metade mais um dos membros do parlamento). Sua utilização em matéria tributária está prevista no art. 146 da CF. Já as leis ordinárias tratam de matérias em geral. O quorum para sua aprovação, reduzido, é de metade mais um dos votantes. Temos, ainda, as medidas provisórias, em que o Chefe do Executivo as utiliza quando há relevância e urgência. Podem tratar sobre qualquer matéria, exceto aquelas reservadas para lei complementar. Depois de aprovadas, têm força de lei ordinária. Fundamentos da Legislação Tributária 19 Figura 4. Sistema legislativo Fonte: tiko33, Freepik (2021). O Congresso Nacional delega poder ao presidente para que ele promulgue uma lei sobre determinada matéria. Nesse caso, trata-se de uma lei delegada. Seu uso é restrito, sendo que, em matéria tributária, ela não é utilizada. Já os decretos legislativos são utilizados pelo Congresso Nacional para ratificação de acordos internacionais firmados pelo Poder Executivo. A respeito das resoluções do Senado Federal, estas são transformadas em direitos positivos. Uma vez promulgadas, têm o mesmo nível de uma lei ordinária. Finalmente, temos os decretos, atos típicos do Poder Executivo, os quais têm a função de regular um dispositivo legal, como o regulamento dos tributos. Enquanto isso, as normas complementares são portarias, instruções e circulares expedidos por servidores públicos com a finalidade única de complementar a lei, nunca inovar. 1.4. créditos tributários O crédito tributário, conforme Fabretti (2017), ocorre do direito do Estado (União, Estados, municípios e Distrito Federal) em exigir do sujeito passivo direto ou indireto, após a realização do fato gerador, o pagamento do tributo devido. Para que ocorra a cobrança do crédito tributário, é necessária a comprovação da existência do direito, sendo o lançamento o ato que constitui o crédito tributário. De acordo com o Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172/1966), em seu art. 142, estabelece-se o conceito legal de lançamento tributário: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível. […] UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação 20 Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. (BRASIL, [2007], on-line) É importante destacar a respeito das formas de extinção do crédito tributário, que geralmente acarreta a extinção da obrigação. De acordo com o art. 156 do Código Tributário Nacional, temos o seguinte: I - o pagamento; II - a compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência; VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado; XI - a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. (BRASIL, [2007], on-line) A grosso modo, podemos mencionar que, de acordo com o art. 142 do Código Tributário Nacional, o crédito tributário é um procedimento administrativo que consiste em verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente; determinar a matéria tributável; calcular o montante do tributo devido, ou seja, o débito a pagar; identificar o sujeito passivo; e propor a aplicação da penalidade cabível, quando for o caso. 21 AUTOATIVIDADE 1. Como bem sabemos, o sistema legislativo brasileiro é composto por diversos dispositivos, estruturado de forma piramidal, ou seja, construído de forma hierárquica, seguindo cada tipo de lei em momentos determinados. Assim, com base em nossos estudos a respeito do sistema legislativo brasileiro, analise as alternativas a seguir e marque a que está correta. a. ( ) O sistema legislativo é hierarquicamente ordenado por medidas provisórias, emendas constitucionais, leis constitucionais, leis ordinárias, resoluções do Senado, leis delegadas, decretos legislativos, decretos e normas complementares. b. ( ) O Chefe do Legislativo utiliza a medida provisória para ocorrências de relevância e urgência, podendo se tratar de qualquer matéria, exceto aquelas reservadas para a lei complementar. Após aprovada, tem força de lei ordinária. c. ( ) As emendas constitucionais são alterações do texto constitucional que, apósa incorporação, equivalem-se à Constituição Federal. d. ( ) A lei ordinária se refere às leis que complementam o texto constitucional, sendo utilizada apenas quando houver expressa previsão na Constituição Federal. 2. Nos art. 150 e 151 da Constituição Federal, são estabelecidos os princípios constitucionais, os quais funcionam como espécies de limitações ao poder de tributar, orientando a legislação tributária. As leis tributárias têm como base o respeito aos princípios da anterioridade e noventena. Nesse sentido, com base em nossos estudos sobre os princípios constitucionais, analise as afirmativas a seguir. I. Com o princípio da isonomia, não é permitido instituir tratamento desigual entre os contribuintes. II. O princípio da legalidade estabelece que tanto a exigência quanto o aumento de tributos somente será possível por meio de uma lei que estabeleça essas particularidades. III. O princípio da anterioridade estabelece que não é permitido aumentar o tributo no mesmo exercício financeiro em que foi publicada a lei que o instituiu ou elevou. 22 AUTOATIVIDADE Está correto o que se afirma em: a. ( ) I e II. b. ( ) I, II e III. c. ( ) I e III. d. ( ) II e III. 3. A obrigação tributária é o dever de fazer de um contribuinte, responsável ou terceiro, em função da legislação. De acordo com o art. 113, o crédito decorre da obrigação principal, sendo que está se extingue juntamente com o crédito tributário. De acordo com a legislação tributária, com base em nossos estudos a respeito do crédito tributário, podemos afirmar que ele decorre da obrigação principal e se extingue: a. ( ) pela moratória. b. ( ) pelo pagamento. c. ( ) pela anistia. d. ( ) pelo parcelamento. 4. Considerando nossos estudos até o momento, assim que são promulgadas e publicadas, as leis tributárias passam a existir no ordenamento jurídico. Contudo, mesmo que já aprovadas, elas não possuem eficácia. Nesse sentido, explique o motivo da não eficácia da lei recém-aprovada e promulgada, levantando os princípios que devem ser respeitados. 5. Conforme pudemos estudar até aqui, o crédito tributário corresponde ao direito de o Estado exigir o tributo do sujeito passivo. Ele nasce com a ocorrência do fato gerador, juntamente com a obrigação tributária. Diante de nossos estudos, explique como é constituído o crédito tributário e apresente o papel dos agentes envolvidos. 23 TÓPICO 2 UNIDADE 1 Conceitos e Fundamentos da Tributação 2.1. Introdução do tópico Precisamos entender a respeito dos tributos para a aplicação adequada da competência tributária, dos limites para a instituição e da cobrança de tributos, bem como a relação entre os agentes envolvidos no processo: contribuinte e ente governamental. Assim, neste tópico, estudaremos os fundamentos e elementos do tributo, identificando as modalidades tributárias contempladas na Constituição Federal. É na CF de 1988 que estão definidos os tributos, a competência de cada ente governamental para tributar, as limitações e a destinação que deve ser dada para a arrecadação. Além disso, devemos entender as diferenças e semelhanças entre os tributos existentes: impostos, taxas e contribuições de melhoria, sociais e econômicas. Ainda buscaremos esclarecimentos sobre os elementos fundamentais do tributo, o fato gerador, o contribuinte, a base de cálculo e a alíquota. 2.2. Princípios gerais da tributação Primeiramente, é necessário entendermos os principais conceitos relacionados aos tributos. Como estudamos anteriormente, o Sistema Tributário Nacional tem sua estrutura básica definida no Código Tributário Nacional (Lei n. 5.172/1966), em que se define a competência tributária de cada ente governamental (art. 145 a 149 e 153 a 156), as limitações constitucionais ao poder de tributar (art. 150 a 152), a repartição das receitas (art. 157 a 162) e as demais normas (art. 195). Os elementos fundamentais de tributo, conforme Pêgas (2017) são o contribuinte, o fato gerador, a base cálculo e a alíquota. O contribuinte é a pessoa natural ou jurídica que tem uma relação pessoal e direta com que constitua o fato gerador. A definição de contribuinte e responsável é apresentado no art. 121 do CTN: Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa que obrigada ao pagamento do tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se: I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei. (BRASIL, [2007], on- line) 24 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação A natureza jurídica do tributo é determinada pelo fato gerador da atividade. Nesse sentido, conforme os art. 114 e 115 da mesma lei, temos que: Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal. (BRASIL, [2007], on-line) Para termos uma melhor compreensão a respeito da temática, apresentamos alguns exemplos de fatos geradores no quadro a seguir. Confira! Quadro 3. Exemplo de fato gerador x tributo Fato gerador Tributo Prestação de serviços de consultoria, cuidados pessoais, limpeza e manutenção ISS Contratação de financiamento IOF Transferência onerosa de um imóvel ITBI Fonte: elaborada pela autora (2021). Resumidamente, o fato gerador é o acontecimento de algo determinado em lei que dá a obrigação de pagar o tributo ao contribuinte. Dessa forma, da ocorrência do fato gerador pode nascer uma obrigação principal, de pagar o tributo (pecuniária); ou uma obrigação acessória, o ato administrativo (PÊGAS, 2017). Diante disso, temos os dois elementos que nos fornecem o valor do tributo: a base de cálculo e a alíquota. A base de cálculo é o valor na qual será aplicada a alíquota e realizado o cálculo para a apuração do tributo. Já a alíquota é o percentual definido na lei que será aplicado sobre a base de cálculo para determinar o valor do tributo. 2.3. Espécies tributárias O tributo pode ser conceituado, conforme o art. 3 do CTN, como “[…] toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade plenamente vinculada” (BRASIL, [2007], on-line). No entanto, você consegue entender o que significa todos esses termos? Conceitos e Fundamentos da Tributação 25 Crepaldi (2019) e Pêgas (2017) conseguem nos ajudar nesse sentido. Eles esclarecem o que significa cada termo, conforme observamos a seguir: • prestação pecuniária compulsória: significa que o pagamento de tributo é obrigatório ao Estado, não sendo opcional ao contribuinte; • moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: significa que o pagamento só poderá ser efetuado em dinheiro, sendo admitido por lei que ele seja realizado a partir de algo de valor equivalente à moeda ou que possa se converter; • não constitua sanção de ato ilícito: significa que o tributo não é uma punição, ou seja, penalidade por infração. A sanção de ato ilícito é definida por multa, cobrada devido a algum tipo de infração; • instituído em lei: significa que o tributo só existirá se estiver previsto em lei, remetendo ao princípio da legalidade; • cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada: significa que a cobrança do tributo deve ser realizada de acordo a lei, não sendo pertinente o administrador público analisar a situação verificando a conveniência, justa ou não a tributação. Crepaldi (2019, p. 15) ainda conceitua o tributo como a […] receita derivada, compulsoriamente lançada e arrecadada pelo Estado, na forma da lei, em moeda corrente ou em valor que por ela se possa exprimir, semcontraprestação diretamente equivalente, cujo montante é aplicado na execução das finalidades que lhe são próprias. Caracteriza-se pela compulsoriedade, pelo pagamento em dinheiro ou valor equivalente, pelo seu caráter não punitivo, pela previsão legal e por sua cobrança vinculada, sem margem de discricionariedade. Para Fabretti (2017), por sua vez, o tributo é sempre um pagamento compulsório em moeda, que é a forma normal de extinção da obrigação tributária. A respeito dessa, por outro lado, temos que se trata de um “[…] vínculo abstrato, de conteúdo patrimonial, pelo qual uma pessoa (sujeito passivo) se vê compelida a dar, a fazer, a não fazer ou a suportar algo em favor de outra (sujeito ativo)” (CREPALDI, 2019, p.16), podendo ser uma prestação tributária positiva ou negativa, sendo o contribuinte o sujeito passivo, possuindo relação direta com o fato gerador. A obrigação tributária pode ser dividida em principal e acessória. A principal é a obrigação de pagamento em moeda corrente nacional, enquanto a acessória consiste na obrigatoriedade ou isenção de algum ato que seja caracterizado como administrativo. 26 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação Quanto à finalidade a que se destina o tributo, Crepaldi (2019) destaca algumas funções e ainda adverte que uma função não exclui a outra, podendo o tributo possuir uma função principal e uma secundária. Assim, ele pode ser classificado em: • fiscal: tem como objetivo a arrecadação de recursos financeiros para o ente tributante; • extrafiscal: tem como objetivo interferir no domínio econômico, equilibrando as relações socioeconômicas; • parafiscal: tem como objetivo custear entidades que atuam em áreas específicas não alcançadas pela atividade estatal, como a fiscalização do exercício profissional, a seguridade social, entre outras. Vale mencionar que, no Brasil, muitos acabam confundindo tributo com imposto, mas é necessário esclarecer as espécies tributárias existentes no país para não termos esse tipo de confusão, visto que se tratam de conceitos distintos. ATENCAO O termo tributo abrange as espécies tributárias. Existem divergências quanto à sua divisão. Enquanto a Constituição Federal, em seu art. 145, incisos I a III, classifica o tributo em três espécies (impostos, taxas e contribuições de melhoria), o Supremo Tribunal Federal entende que são cinco as espécies a serem consideradas (impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições sociais e empréstimos compulsórios). Em nosso curso, para facilitar a classificação e o entendimento, iremos adotar aquela estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal, ou seja, impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimo compulsório e contribuições parafiscais. 2.4. Impostos Os impostos estão regulamentados pelo art. 16 e seguintes do Código Tributário Nacional (CTN), bem como pelo art. 145 da Constituição Federal, em que se estabelece que os impostos terão, sempre que possível, caráter pessoal, sendo graduados conforme a capacidade econômica do contribuinte. Além disso, de acordo com os art. 16, 17 e 18 do CTN, temos que: Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. Conceitos e Fundamentos da Tributação 27 Art. 17. Os impostos componentes do sistema tributário nacional são exclusivamente os que constam deste Título, com as competências e limitações nele previstas. Art. 18. Compete: I - à União, instituir, nos Territórios Federais, os impostos atribuídos aos Estados e, se aqueles não forem divididos em Municípios, cumulativamente, os atribuídos a estes; II - ao Distrito Federal e aos Estados não divididos em Municípios, instituir, cumulativamente, os impostos atribuídos aos Estados e aos Municípios. De acordo com Sabbag (2016), os impostos podem ser classificados em reais e pessoais; progressivos, proporcionais e seletivos; fiscais e parafiscais; diretos e indiretos. Dentro dessa classificação, é importante destacar as características dos impostos fiscais e parafiscais Os fiscais têm finalidade meramente arrecadatória, ou seja, têm como objetivo trazer recursos aos cofres públicos. Já os impostos parafiscais, além da função arrecadatória, têm finalidade reguladora de mercado e da economia. Podemos citar como exemplo o Imposto sobre Importação. No caso dos tributos diretos, o contribuinte de fato e o de direito se confundem, sendo apenas um. Como exemplo, podemos citar o Imposto de Renda e o IPVA. Nesse caso, o imposto incide sobre o contribuinte de direito e este, teoricamente, não tem a possibilidade de repassar para outro o ônus tributário. Já quanto aos tributos indiretos, temos que o contribuinte de direito é um, enquanto o contribuinte de fato é outro, como ocorre com o ISS. Isto é, a carga tributária recai sobre o contribuinte de direito, que o transfere a outro, nesse caso, o consumidor é o “contribuinte de fato” (SILVA, 2013). Outro ponto de destaque é a respeito das alíquotas que sofrem com a progressividade, ou seja, aumentam de forma progressiva, tal como ocorre com o Imposto de Renda da Pessoa Física. Quanto maior a renda do contribuinte, maior será a alíquota a ser aplicada e, consequentemente, maior será o montante pago pelo contribuinte. Figura 5. Alíquotas progressivas Fonte: Pixabay (2021). 28 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação Como exemplos de impostos, podemos citar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), o Imposto de Importação (II) e o Imposto sobre Serviços (ISS). Quanto às taxas, estas são vinculadas à atuação estatal. Elas têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia e a utilização de serviços públicos (SILVA, 2013). Estão regulamentadas pelo art. 77 e seguintes do CTN, bem como pelo art. 145 da Constituição Federal. Desse modo, temos que: Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função do capital das empresas. (Vide Ato Complementar nº 34, de 1967) O art. 78 do Código Tributário Nacional determina o poder de polícia como sendo a atividade da administração pública para assegurar o bem-estar geral, em razão de interesse público no que concerne à segurança, à higiene, à ordem e aos costumes, impedindo por meio de ordens o exercício antissocial dos direitos individuais, o uso abusivo da propriedade ou a prática de atividades prejudiciais à coletividade. Quanto aos serviços públicos, o art. 79 do Código Tributário Nacional considera como aqueles utilizados pelo contribuinte. São específicos quando podem ser destacados em unidades autônomas de intervenção, utilidade ou necessidade pública; e divisíveis quando suscetíveis de utilização Assim, como estabelece a Constituição Federal em seu art. 145, as taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos, podendo ser instituídas por todos os entes governamentais, desde que atenda à legislação (SILVA, 2013). Como exemplos de taxas, podemos mencionar duas bastante conhecidas: a taxa para emissão de documentos e a taxa de registro do comércio (junta comercial). A contribuição de melhoria, de acordo com o artigo 145 da Constituição Federal, estabelece que ela é decorrente de obras públicas. Conforme o art. 81 do Código Tributário Nacional, ela pode ser cobrada por todos os entes federativos e ser instituída para fazer custo de obras públicas de que decorram valorização imobiliária. Art. 82. A lei relativa à contribuição de melhoria observará os seguintes requisitos mínimos: I - publicaçãoprévia dos seguintes elementos: a) memorial descritivo do projeto; b) orçamento do custo da obra; about:blank about:blank Conceitos e Fundamentos da Tributação 29 c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela contribuição; d) delimitação da zona beneficiada; e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas; II - fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para impugnação pelos interessados, de qualquer dos elementos referidos no inciso anterior; III - regulamentação do processo administrativo de instrução e julgamento da impugnação a que se refere o inciso anterior, sem prejuízo da sua apreciação judicial. Assim, podemos entender a contribuição de melhoria como o tributo que é cobrado ao contribuinte para financiar os custos de obra pública. O fator de decisão para a sua cobrança consiste na valorização patrimonial que o imóvel do contribuinte obtém com a conclusão da obra. Contudo, a grande dificuldade é verificar o percentual de valorização, pois todos os imóveis devem sofrer a tributação, inclusive os que se valorizaram indiretamente (SILVA, 2013). Os empréstimos compulsórios possuem fundamento constitucional no art. 148 da Constituição Federal. Desse modo, podemos dizer o seguinte: Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, “b”. Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. (BRASIL, [2020], on-line) De acordo com a legislação, a competência dos empréstimos compulsórios é de exclusividade da União e apenas em situações específicas, principalmente em guerra extrema, eminência de calamidade pública e investimento público. Já as contribuições parafiscais estão regulamentadas pelos art. 149, 149-A e 195 da Constituição Federal. Elas possuem fins econômicos, sociais e culturais, como a Contribuição para o Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), uma contribuição estabelecida pela União que tem como beneficiário o INSS. Ainda, o art. 195 da Constituição Federal estabelece a respeito das contribuições sociais destinadas ao financiamento da seguridade social. 30 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação Como exemplos de contribuições sociais, podemos citar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Resumidamente, temos três categorias previstas: • contribuições sociais: estão vinculadas à seguridade social, saúde, previdência e assistência social; • contribuições de intervenção do domínio público: são utilizadas para fomentar as atividades econômicas; • contribuições de interesse de categorias profissionais: são destinadas aos órgãos de classe de cada categoria, como OAB e CRC. Impostos, taxas e contribuições de melhoria são de competência comum a União, Estados e municípios. Por outro lado, as contribuições sociais e os empréstimos compulsórios são de competência exclusiva da União (PÊGAS, 2017). IMPORTANT E Ainda, os tributos podem ser divididos em duas espécies: vinculados e não vinculados. Pêgas (2017) menciona que os impostos vinculados são os tributos relacionados entre a arrecadação e o serviço prestado ou a prestar pelo Estado, como as taxas e contribuições especiais: a COFINS possui vínculo. Já os impostos não vinculados são relacionados aos tributos que não possuem vínculo entre a arrecadação e a destinação, devidos independentemente de qualquer atividade. Outro aspecto importante é a incidência. Pêgas (2017) nos traz que os tributos devem ser divididos em renda, patrimônio, consumo e encargos sociais. • Renda: tributos cobrados sobre o produto do capital, do trabalho e da combinação de ambos. Inclui a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e o Imposto de Renda (IR). • Patrimônio: tributos cobrados sobre o patrimônio de pessoas físicas e jurídicas. Os principais são IPTU, IPVA e ITBI. • Consumo: tributos que incidem sobre a cadeia produtiva, como IPI, ICMS, ISS, II, IE, PIS, COFINS, CIDE e IOF. • Encargos sociais: contribuições cobradas sobre a folha de pagamento, como INSS, SESC, SENAC, Salário-Educação, FGTS, SEBRAE, entre outras. Entendido a respeito do assunto, podemos seguir com nossos estudos. No próximo item, conheceremos a competência dos tributos. Conceitos e Fundamentos da Tributação 31 2.5. Competência dos tributos Os impostos estão previstos na Constituição Federal, em seus art. 153, 154 (impostos de competência da União), 155 (impostos de competência dos Estados e do Distrito Federal) e 156 (impostos de competência dos municípios e do Distrito Federal). Quadro 4. Impostos previstos Competência Tributos União Imposto sobre Importação (II) Imposto sobre Exportação (IE) Imposto de Renda (IR) Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Imposto sofre Operações Financeiras (IOF) Programa de Integridade Social (PIS/PASEP) Contribuição de Financiamento da Seguridade Social (COFINS) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) Estados e Distrito Federal Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD) Municípios e Distrito Federal Imposto Sobre Serviços (ISS) Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU) Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) Fonte: Elaborado pela autora, baseado em Brasil ([2020]). Como podemos verificar, os tributos são divididos entre os entes federados, sendo que cada um possui a competência de tributar determinadas operações da economia, conforme estabelece a Constituição Federal. Entretanto, 32 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação alguns tributos são de competência de todos os entes federados, como as taxas e contribuições de melhoria. No caso das taxas, conforme nos traz o Código Tributário Nacional (CTN): Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. (BRASIL, [2007], on-line) Vale ressaltar que algumas regras devem ser observadas pelos tributantes para que a taxa possua validade, a exemplo da existência de lei que institua a taxa e esta não ter como base de cálculo a mesma utilizada pelos impostos. O Código Tributário Nacional (CTN) também nos traz sobre a contribuição de melhoria em seu art. 81, conforme segue: Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado. (BRASIL, [2007], on-line) A contribuição de melhoria é de competência da União, dos estados e municípios, podendo ser cobrada mediante lei que regulamente a sua cobrança. Além da lei, faz-se necessária a publicação em edital com o objetivo de comunicar a população a respeito dessa cobrança. O art. 12 do Decreto Lei n. 195/1967, inclusive, estabelece que o valor cobrado anualmente da população beneficiada pela obra pública não pode superar os 3% do valor fiscal do imóvel. 33 AUTOATIVIDADE 1. Devemos entender a diferença entre as espécies tributárias, bem como os elementos fundamentais de tributo. Estes estãoinstituídos no Código Tributário Nacional e podemos classificá-los em fato gerador, base cálculo e alíquota. Para as questões de tributação, alguns elementos são fundamentais, conforme o Código Tributário Nacional. A respeito dos elementos fundamentais de tributo, considerando nossos estudos a respeito da temática, assinale a alternativa correta. a. ( ) O contribuinte é determinado por lei que dá a obrigação de pagar tributo. b. ( ) O sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada a realizar o pagamento do tributo ou levar penalidade pecuniária. c. ( ) O fato gerador fornece o valor a ser cobrado do tributo, fazendo com que nasça uma obrigação principal. d. ( ) O fato gerador de uma obrigação acessória é qualquer situação definida em lei necessária e suficiente à sua obrigação. 2. O estado de calamidade pública consiste em uma situação anormal, podendo ser devido a um desastre que provoque danos e prejuízos, comprometendo a capacidade de resposta do Poder Público do ente atingido. Diante disso, analise a seguinte afirmação: o governo brasileiro, frente a uma situação de calamidade pública, pode instituir uma espécie tributária. Nesse caso, com base em nossos estudos, a espécie tributária em questão é: a. ( ) a taxa. b. ( ) a contribuição de melhoria. c. ( ) a contribuição social. d. ( ) o empréstimo compulsório. 34 AUTOATIVIDADE 3. Conforme nossos estudos, tributos e impostos não têm o mesmo significado, apesar de grande parte da população utilizar os termos como sinônimos. No caso, temos que os tributos são classificados em espécies tributárias. A respeito das espécies tributárias, assinale a alternativa correta. a. ( ) Os impostos são vinculados à atuação estatal. b. ( ) A contribuição de melhoria é cobrada pela União, decorrente de obras públicas. c. ( ) As taxas são vinculadas à seguridade social, saúde, previdência e assistência social. d. ( ) Os empréstimos compulsórios são cobradas do contribuinte com o objetivo de financiar os custos de obra pública. 4. Conforme o art. 3 do CTN, o tributo é toda prestação pecuniária, compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção por ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Cada espécie tributária possui uma finalidade específica. Quanto à finalidade a que se destina o tributo, quais são suas classificações? Disserte a respeito da temática indicando cada classificação. 5. Os tributos, segundo a interpretação do Supremo Tribunal Federal, são divididos em cinco grupos: imposto, taxas, contribuição por melhoria, empréstimos compulsórios e contribuições especiais. Contudo, apesar de serem classificados em espécies diferentes, carregam consigo algumas similaridades. Dessa forma, com base em nossos estudos até o momento, apresente as principais características das espécies tributárias. 35 TÓPICO 3 UNIDADE 1 Princípios do Planejamento Tributário: Elisão, Evasão e Infrações Tributárias 3.1. Introdução do tópico As práticas de planejamento tributário são essenciais para uma boa gestão empresarial. Esse planejamento, além de garantido na Constituição Federal, é um dever legal determinado pela Lei n. 6.404/1976, conforme seu art. 153, em que temos o seguinte: “O administrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios” (BRASIL, [2019], on-line). Ainda podemos verificar que os entes governamentais, em todas as esferas, preocupados com possíveis diminuições das receitas, procuram meios para descaracterizar um planejamento tributário, classificando-o como ilícito. Assim, o parágrafo único do art. 116 foi introduzido ao Código Tributário Nacional pela Lei Complementar n. 104/2001. O trecho em questão determina que: Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos em lei ordinária. (BRASIL, [2007], on-line) Ainda a respeito do planejamento tributário, Fabretti (2017) esclarece que se trata de um estudo realizado preventivamente, pesquisando-se os efeitos jurídicos e econômicos, assim como as alternativas legais menos onerosas no que se refere aos tributos. Trata-se da escolha entre opções lícitas, a qual possa resultar em melhores resultados para a empresa. Diante disso, para entendermos e gerirmos adequadamente uma organização, faz-se necessário reconhecer e diferenciar as práticas de elisão e evasão fiscal, além das consequências relativas às práticas de sonegação e fraude. 36 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação Figura 6. Planejamento Fonte: StartupStockPhotos, Pixabay (2021). O planejamento tributário é uma ferramenta de gestão muito importante devido à complexidade do sistema, competitividade e economia globalizada. Ele objetiva economizar nos pagamentos dos tributos devidos pelas empresas, respeitando a legislação vigente. Neste tópico, portanto, buscaremos estudar e entender a elisão fiscal, diferenciando-a da prática ilícita da evasão fiscal. 3.2. Elisão fiscal No Brasil, temos uma alta carga tributária. Este é um dos pontos mais críticos na gestão das empresas brasileiras. Conforme Crepaldi (2019), 33% do faturamento das organizações no país é destinado à liquidação dos tributos. Aliás, o Imposto de Renda (IR) e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) podem alcançar a margem de 51% do lucro líquido das empresas. Podemos verificar, assim, uma cumulatividade de tributos, a qual impede a recuperação dos créditos ao longo da cadeia produtiva, acarretando o aumento dos custos de produção. Com isso, é importante para a competitividade e sobrevivência das organizações que sejam adotadas as práticas da elisão fiscal. De acordo com Silva (2013, p. 195), o “[…] planejamento lícito é aquele realizado sem infringir as leis, enquanto o planejamento ilícito é aquele levado a cabo com infração à lei”. Desse modo, Crepaldi (2019) complementa que a forma lícita econômica na carga tributária das empresas é chamada de elisão fiscal e conhecida como planejamento tributário. A segunda forma de economizar é a sonegação ou fraude, chamada de evasão fiscal. É uma forma ilegal que acarreta sanção para o empresário. O autor ainda conceitua a elisão fiscal como “[…] um proceder legalmente autorizado, que auxilia a legislação cumprir seu objetivo extrafiscal” (CREPALDI, 2019, p. 95), sendo adotado um conjunto de atos pelo contribuinte, autorizado ou não pela legislação, objetivando uma carga fiscal reduzida. Assim sendo, podemos entender a elisão fiscal como um conjunto de práticas lícitas baseadas na legislação, com a finalidade de reduzir ou postergar o pagamento de tributos. Princípios do Planejamento Tributário: Elisão, Evasão e Infrações Tributárias 37 A ideia é buscar impedir a incidência do fato gerador, reduzir a alíquota, a base de cálculo e o valor dos tributos sem que ocorram penalidades ao contribuinte. Antes que você se pergunte sobre a legalidade da elisão fiscal, cabe destacar que a prática é um direito constitucional, garantido pelo art. 1 da Constituição Federal. Dentro da temática de elisão fiscal, deve-se realizar o planejamento prévio das transações antes que ocorra o fato gerador. Crepaldi (2019) nos explica que há duas espécies de elisões fiscais: decorrente da própria lei e resultante das lacunas e brechas existentes na lei. Vamos conhecê-las melhor? A elisão fiscal decorrente da própria lei diz respeito ao fato de que a lei permite ou, até mesmo, leva a economia de tributos. Ocorre a vontade clara e consciente do legislador em conceder ao contribuinte determinados benefícios fiscais. Temos como exemplos a Lei n. 11.196/2005, de incentivos à inovaçãotecnológica; e os incentivos fiscais, quando uma cidade oferece esses benefícios fiscais a determinadas indústrias ao se instalarem no município (CREPALDI, 2019). Já a elisão fiscal resultante de lacunas e brechas existentes na lei está relacionada ao fato de que o contribuinte configura suas operações de modo que se harmonize com gastos com tributos mais reduzidos. Utiliza-se de elementos que a lei não proíbe ou contidos nela que possibilitem evitar o fato gerador de tal tributo. Podemos exemplificar quando uma empresa muda de endereço para pagar ISS com alíquota menor ou escolhe distribuir seus produtos de um Estado que tenha uma alíquota menor. No entanto, frente a essas considerações, como realizar a elisão fiscal? Quais procedimentos devem ser adotados? A priori, devemos lembrar que a contabilidade é uma ferramenta de gestão que gera informações importantes para o processo de tomada de decisão. Por conta disso, é imprescindível realizar e manter os registros das atividades operacionais, das apurações de tributos, das provisões, dos créditos tributários e das despesas incorridas no período para se ter informações fidedignas e confiáveis. Em primeiro lugar, o planejamento tributário deve ser realizado com a utilização das seguintes ferramentas: • legislação tributária (Constituição Federal, CTN e demais leis complementares); • documentação contábil da empresa; • livros contábeis e fiscais; • guias de recolhimentos, declarações de rendimentos e outras declarações que são obrigações próprias de cada contribuinte. O profissional responsável pelo planejamento precisa de um conjunto de conhecimentos, como noções básicas contábeis e jurídicas. Trata-se de aliar o conhecimento do processo operacional e os fatos geradores de tributos com o 38 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação conhecimento de identificar na legislação tributária as oportunidades de redução da carga tributária envolvida (CHAVES, 2017). De posse das ferramentas e do conhecimento necessário, o responsável pelo planejamento deve iniciar o processo com uma revisão fiscal, conforme determina Chaves (2017, p. 3), seguindo alguns procedimentos: 1. fazer um levantamento histórico da empresa, identificando a origem de todas as transações efetuadas, e escolher a ação menos onerosa para os fatos futuros; 2. verificar a ocorrência de todos os fatos geradores dos tributos pagos e analisar se houve cobrança indevida ou recolhimento a maior; 3. verificar se houve ação fiscal sobre fatos geradores decaídos, pois os créditos constituídos após cinco anos são indevidos; 4. analisar, anualmente, qual a melhor forma de tributação do Imposto de Renda e da contribuição sobre o lucro, calculando de que forma (real ou presumida) a empresa pagará menos tributos; 5. levantar o montante dos tributos pagos nos últimos cinco anos, para identificar se existem créditos fiscais não aproveitados pela empresa. Realizadas as etapas e análises mencionadas, deve-se demonstrar quais procedimentos serão adotados para reduzir a carga tributária. Figura 7. Análise de carga tributária Fonte: Freepik (2021). Dentro de elisão fiscal, Crepaldi (2019) comenta a respeito da forma abusiva, sobre a qual devemos ter atenção. O autor destaca que, em alguns casos, pode ocorrer uma prática voltada à economia de tributos baseada em maneiras atípicas ou anormais nas operações da organização, o que ocasionaria um abuso na utilização dos institutos de direito privado ou na realização dos negócios jurídicos. Princípios do Planejamento Tributário: Elisão, Evasão e Infrações Tributárias 39 Para um entendimento mais claro e coerente, temos o seguinte: • evasão fiscal ilícita: práticas atípicas que denotam abuso da legislação tributária; • elisão fiscal lícita: práticas legalmente aceitas. Para Torres (2012), a elisão abusiva (ilícita), também chamada de planejamento inconsistente, torna-se ilícito com o abuso de direito. A elisão ilícita, por seguinte, se restringe ao abuso da possibilidade expressiva da letra da lei e dos conceitos jurídicos abertos ou indeterminados; inicia-se com a manipulação de formas jurídicas para culminar na ilicitude atípica ínsista ao abuso de direito (art.187 do Código Civil de 2002). (TORRES, 2012, p. 9) A fim de verificar a elisão fiscal abusiva, podemos aplicar dois testes: o de propósito negocial e o da proporcionalidade. O teste de propósito negocial sinaliza que não devem produzir efeitos contra o fisco os negócios jurídicos que tenham como objetivo único a obtenção da economia. Já o teste da proporcionalidade ocorre quando é escolhida uma forma jurídica inadequada que resulta em uma vantagem não prevista em lei, sem que o contribuinte comprove o fundamento não tributário da escolha, significativo de acordo com o quadro geral das circunstâncias (TORRES, 2012). Uma maneira de evitar os abusos da elisão fiscal é recorrer à norma antielisiva, como estabelece o parágrafo único do Código Tributário Nacional (CTN), inserido pela Lei Complementar n. 104/2001: Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. (BRASIL, [2007], on-line) O principal objetivo da lei complementar em questão é inserir uma cláusula não elisiva, regulamentando a possibilidade de desconsideração do planejamento fiscal para fins tributários. Muitos especialistas mencionam que é uma forma de reduzir o planejamento tributário, obrigando os contribuintes a desembolsarem toda a carga tributária da atividade empresarial. Torres (2012) complementa que a norma antielisiva objetiva desconsiderar ou requalificar o fato gerador concreto — ou seja, do ato praticado com a simulação — e do fato gerador abstrato. Em outras palavras, a elisão fiscal, enquanto forma de planejamento tributário, possibilita a redução da carga tributária, gerenciar adequadamente o crédito tributário, melhorar o enquadramento da alíquota do tributo e, consequentemente, melhorar o gerenciamento de caixa da empresa (SILVA, 2013). 40 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação Suponhamos que a empresa ABC, ao apurar o lucro líquido após o Imposto de Renda, respeitando as regras da Lei n. 6.404/1976, observa a determinação quanto à obrigação de remunerar sócios com a distribuição dos lucros, podendo ser por meio de dividendos ou juros sobre o capital próprio. Nesse contexto, a empresa precisa determinar qual é a forma de distribuição e terá de fazer um planejamento tributário, optando pela alternativa que for mais vantajosa tanto para o sócio quanto para a organização. Os juros sobre o capital próprio pode ser deduzido da base de cálculo do Imposto de Renda. De certa forma, o sócio acabará podendo receber uma quantia menor de distribuição de lucros, mas, por outro lado, pode maximizar o lucro da empresa. UNI Ainda com base no assunto, algumas terminologias merecem certo destaque para que não haja dúvidas ou confusões: • pró-labore: é a expressão que significa “pelo trabalho”. Diz respeito à remuneração definida como salário para o sócio administrador da empresa. É uma remuneração fixa, mensal e pré-determinada destinada somente ao sócio com alguma atividade na organização; • distribuição dos lucros: deve ser proporcional ao capital integralizado pelos sócios. Quando não há lucros, não há distribuição. Além disso, a distribuição dos lucros é isenta de tributação; • juros sobre o capital próprio: praticado por empresas optantes pelo regime de lucro real. Os juros sobre o capital próprio são dedutíveis para o Imposto de Renda, sendo calculados sobre as cotas de patrimônio líquido com o limite determinado pela variação da taxa de juros de longo prazo. Mas e quanto à evasão fiscal? Você saberia explicar do que se trata? Estudaremosa respeito dela com o próximo item. Confira o conteúdo! 3.3. Evasão fiscal A evasão fiscal é a economia de pagamento de tributos, baseando-se em uma prática inadequada, alcançada ao se evitar a prática do ato, o surgimento do fato jurídico ou de situação de direito suficiente à ocorrência do fato gerador (FABRETTI, 2017). Ela é o oposto da elisão fiscal, pois tem por finalidade burlar a legislação para obter vantagens por meio de práticas ilegais, como tributar de maneira diferente de como deveria ser. Crepaldi (2019) nos alerta que essa prática se caracteriza como ilicitude do negócio jurídico tributário, podendo ser considerada crime de ordem tributária, arcando com multa por uso de má-fé contra o erário. Fabretti (2017) complementa que a evasão fiscal é uma prática contrária à legislação, ocorrida geralmente após Princípios do Planejamento Tributário: Elisão, Evasão e Infrações Tributárias 41 o fato gerador da obrigação tributária, com a finalidade de redução ou ocultação. Inclusive, ela está prevista na Lei n. 8.137/1990 (Lei dos Crimes Contra a Ordem Tributária, Econômica e Contra as Relações de Consumo). De acordo com os art. 1 e 2 da lei em questão, é crime contra a ordem tributária extinguir ou diminuir tributo mediante as seguintes condutas: I - omitir informações ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operações de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; […] I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente do pagamento do tributo; […] V - utilizar ou divulgar programa de processamento ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à fazenda pública. (BRASIL, [1999], on-line) Dentro das práticas de evasão, algumas espécies são mais comuns, como alterações, falsificações de documentos e omissão de informações na declaração de Imposto de Renda. Entre essas práticas, destacam-se: • o lançamento de mercadorias e serviços com valores alterados para não ultrapassar os limites de faturamento do regime tributário; • a omissão de valores que compõem a base de cálculo de algum tributo, a exemplo do Imposto de Renda; • utilizar pessoas alheias à atividade empresarial como “laranjas”; • realizar a contratação informal de funcionários sem os devidos registros para redução dos encargos trabalhistas; • a venda de mercadorias e prestação de serviços sem a emissão de nota fiscal. 42 UNIDADE 1 Fundamentos da Base da Tributação Figura 8. Alterações tributárias Fonte: Freepik (2021). A Lei n. 8.137/1990 ainda nos traz que a pena para esse tipo de prática é reclusão de dois a cinco anos, bem como uma multa. Além disso, temos que: Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V. (BRASIL, [1999], on-line) Nesse contexto, conforme destacam os especialistas tributários, o crime de sonegação exige dolo, ou seja, a intenção. Não existe a modalidade culposa. Considerando esse cenário, muitas ferramentas foram incorporadas ao fisco, sendo que, com o avanço tecnológico, novos recursos passaram a auxiliar quanto à arrecadação, à fiscalização e ao recolhimento, como a Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), a declaração de Imposto de Renda e o Sped. Tais ferramentas buscam melhorar a arrecadação e o controle, permitindo a redução de burocracia e, principalmente, evitando a sonegação. O empresariado, assim como as pessoas físicas em geral, precisam se atentar para não cometerem evasão fiscal (sonegação) e infringirem a lei cometendo o crime previsto no Código Tributário Nacional (CTN). 3.4. Infrações Tributárias Já que estamos falando a respeito de infrações, vamos entender a diferença entre infração e sanção? Você sabe o que diferencia uma da outra? A sanção é o elemento que garante o cumprimento da legislação tributária, assim como a consequência do descumprimento da obrigação tributária. Já a infração consiste na violação do dever legal, ou seja, do dever tributário. Nesse caso, como ocorre o ato ilícito, o autor é penalizado com as ações previstas em lei. Princípios do Planejamento Tributário: Elisão, Evasão e Infrações Tributárias 43 É importante destacar, de acordo com o direito tributário, que a sanção decorre do descumprimento da obrigação tributária. Nesse contexto, considera-se obrigação tributária o dever de destinar dinheiro aos cofres públicos. ATENCAO De acordo com artigo 113 do Código Tributário Nacional, temos que: Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. (BRASIL, [2007], on- line) Com essa divisão no Código Tributário Nacional, podemos classificar as infrações em dois grandes grupos: infração substancial e infração formal. A infração substancial consiste em o contribuinte não atender à obrigação principal, geralmente por falta ou insuficiência do pagamento de tributos. Por sua vez, a infração formal ocorre quando o contribuinte age contra os procedimentos e as formalidades, ou seja, descumpre as obrigações acessórias. Podemos verificar a natureza punitiva da penalidade confirmada no artigo 157 do Código Tributário Nacional, o qual previne que a imposição da penalidade não contesta o pagamento integral do crédito tributário (BRASIL, [2007]). A infração fiscal significa uma prática contrária à lei, ou seja, é uma transgressão. Conforme a legislação, a infração fiscal pode ser classificada em três espécies: exclusivamente tributária, simultaneamente tributária e penal e exclusivamente penal. A infração exclusivamente tributária está descrita apenas na lei fiscal. Como exemplo, podemos citar a aplicação da alíquota errada no cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Nessa situação, é aplicada uma sanção administrativo-fiscal, a qual é calculada sobre a diferença não recolhida. Já a infração simultaneamente tributária e penal está descrita tanto na lei fiscal quanto na lei penal. Ocorre quando uma nota fiscal é falsificada, exigindo o pagamento do tributo, da penalidade correspondente e da sanção prevista em lei pelo motivo de falsificação também ser um ato ilícito penal. Para finalizarmos, a infração exclusivamente penal é uma prática ilícita descrita somente na lei penal, não sendo enquadrada na legislação fiscal. 44 AUTOATIVIDADE 1. O planejamento tributário tem por finalidade impedir a ocorrência do fato gerador do tributo ou reduzir o valor do pagamento da obrigação tributária pelo contribuinte. O planejamento tributário é um direito garantido pela Constituição Federal. O conjunto de práticas que objetiva proporcionar à entidade uma redução da carga tributária, respeitando a legislação brasileira, é denominada: a. ( ) evasão fiscal. b. ( ) elisão fiscal. c. ( ) emissão fiscal. d. ( ) elusão fiscal. 2. Conforme nossos estudos, sabemos que o planejamento tributário é uma análise realizada preventivamente, pesquisando-se os efeitos jurídicos e econômicos,
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