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História do Brasil República ??????????? História do Brasil República Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2016 Dante Guimaraens Guazzelli Evangélia Aravanis Rafael Burd Conselho Editorial EAD Andréa de Azevedo Eick Ângela da Rocha Rolla Astomiro Romais Claudiane Ramos Furtado Dóris Gedrat Honor de Almeida Neto Maria Cleidia Klein Oliveira Maria Lizete Schneider Luiz Carlos Specht Filho Vinicius Martins Flores Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Dados técnicos do livro Diagramação: Marcelo Ferreira Revisão: Marcela Machado Prezado aluno, Neste livro temos a desafiadora tarefa de contribuir para sua forma- ção na área de História do Brasil República. O conteúdo a ser analisado apresenta como recorte temporal o período que se estende da proclama- ção da República até a atualidade. Sem dúvida alguma, é um período ex- tenso e vocês devem se preparar emocionalmente e intelectualmente para este gostoso trabalho de conhecer a história republicana de nosso país! O conteúdo do livro Brasil República foi estruturado em dez capítulos, que se complementam em suas informações e propostas. No primeiro capítulo do livro, revisamos os processos que contribuíram para o declínio do Império, bem como aqueles que levaram à proclama- ção da República, em nosso país. No segundo capítulo, tratamos dos anos que vão de 1930 a 1945, pe- ríodo que abrange o Governo Provisório (1930-1934), o Governo Consti- tucional (1934-1937) e o Estado Novo (1937-1945). Esses períodos histó- ricos, que tiveram Getúlio Vargas à frente da Presidência, são aqui vistos, não como um bloco único e homogêneo, mas como um processo com lutas, marchas e contramarchas. No terceiro capítulo, analisamos a redemocratização ocorrida no Bra- sil, no pós 1945, e o segundo governo Vargas. Destacamos, na análise, as eleições de 1946, a volta de Vargas ao poder nos “braços do povo”, a política populista por ele implantada e seu suicídio, em 24 de agosto de 1954, como um ato político. No quarto e quinto capítulo, analisamos, respectivamente, os gover- nos de Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, dando destaque para os Apresentação Apresentação v principais eventos socioeconômicos, políticos e culturais ocorridos em suas gestões. No sexto capítulo tratamos do Governo João Goulart, conhecido como Jango (1961-1964). Analisamos as principais forças presentes no cenário político, o curto período parlamentarista (1961-1963) de seu governo, o período presidencialista do mesmo e, finalmente, os seus últimos momen- tos, às vésperas do golpe. No sétimo capítulo, analisamos, efetivamente, o golpe militar de 1964 e o consequente processo de institucionalização da nova ordem. Os pri- meiros anos da ditadura militar foram intensos, com mobilizações de dife- rentes grupos. São apresentados, assim, o aparato repressivo que visava eliminar os focos de resistência à ditadura, bem como as diversas formas que os setores oposicionistas utilizaram para combatê-la. No oitavo capítulo é analisado o período que vai da edição do AI-5 até a posse do Gal. Ernesto Geisel, os chamados “anos de chumbo”. Nesse momento foram decretadas medidas que aumentaram o cerco à sociedade civil, o que levou setores da oposição a recorrerem à clandestinidade e à luta armada. Estudamos também, neste capítulo, o “milagre econômico” e as campanhas ufanistas levadas adiante pela ditadura militar. No nono capítulo tratamos da recessão econômica vivida a partir dos anos 1970, no Brasil, e do processo de transição para a democracia, que de- veria se dar, tal qual desejava a ditadura, de forma “lenta, gradual e segura”. No décimo e último capítulo tratamos do período que se estende da chamada Nova República (1985) até o Brasil da atualidade. Trata-se da análise de um período ainda muito recente, controverso e que ainda está em processo de construção. O livro se propõe, assim, a cobrir os principais temas que marcaram a história do Brasil republicano. Boa leitura e um ótimo trabalho a todos! Evangelia Aravanis 1 A crise do Império e a Primeira República ..............................1 2 Anos de Incerteza (1930-1937) e o Estado Novo (1937-1945) .......................................................................52 3 A Redemocratização Pós 1945 e o Segundo overno Vargas ....................................................................94 4 O Brasil no Governo de Juscelino Kubitschek ....................112 5 O Governo Jânio Quadros e o Movimento da Legalidade ...................................................................133 6 O Brasil no Governo de João Goulart ...............................151 7 O Golpe Militar de 1964 e a Institucionalização da Nova Ordem ...............................................................170 8 Repressão e Milagre Econômico: os “Anos de Chumbo” .....190 9 Recessão e Abertura Política: a Transição para a Democracia ......................................................................210 10 A Nova República e o Brasil na Atualidade ........................231 Sumário Evangelia Aravanis1 Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 1 Doutora em História. Professora da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). 2 História do Brasil República Introdução Neste capítulo pretendemos expor os principais fatores que levaram a crise do Império no Brasil e apresentar, em linhas gerais, a Primeira República brasileira (1889 a 1930). A crise do II Reinado (1870-1889) O Império do Brasil no final do século XIX, mais precisamente a partir de 1870, vinha evidenciando claros traços de crise. Vários fatores contribuíam para isso. As repercussões da Guer- ra do Paraguai (1865-1870), o emergente movimento republi- cano, o atrito do governo Imperial com o Exército e a Igreja, a exaustão do modelo da escravidão como solução de mão de obra, as revoltas escravas e o crescimento do movimento abolicionista. Todos esses fatores foram importantes e deter- minantes nesta crise, mas eles, contudo, não tiveram um peso igual e não foram fatores únicos que atuaram para a queda do regime monárquico no Brasil. O fim do Império brasileiro é explicável também, como afirma Boris Fausto, por um “con- junto de fatores de fundo” (2004, p. 217), onde estavam pre- sentes transformações socioeconômicas significativas, como a ascensão de uma nova elite econômica; a cafeicultora; a ina- bilidade do Estado monárquico, de perfil conservador, em ad- ministrar conflitos políticos e sociais; a doença do Imperador e a falta de uma perspectiva positiva de um Terceiro Reinado, já que, com a morte de Dom Pedro II, subiria ao trono a Princesa Isabel que, além de ser uma mulher no poder, era casada com um francês, o Conde d’Eu. Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 3 O Republicanismo O ideal republicano esteve presente em movimentos pela In- dependência do Brasil a partir do final do século XVIII e esteve associado à ideia de revolução ou de reforma da sociedade. O movimento republicano nasceu no Rio de Janeiro, em 1870, expressando-se publicamente através do “Manifesto Re- publicano” (1870). Tinha, entre suas lideranças, nomes como Lopes Trovão e Silva Jardim, que defendiam a revolução po- pular como caminho para se chegar à República. Contudo, a maioria de seus membros defendia a via pacífica de um regi- me para o outro, aguardando, se possível, o falecimentode Dom Pedro II. Um exemplo de liderança com esse pensamento foi o republicano Quintino Bocaiúva. O grupo social de base do republicanismo nas cidades era formado por profissionais liberais e jornalistas. Os ideais re- publicanos também tinham influência sobre militares. Os re- publicanos no Rio de Janeiro associavam a república à maior representação política do cidadão, aos direitos e garantias in- dividuais, à federação e ao fim da escravidão (FAUSTO, 2004, p. 228). A novidade nesse panorama se faz no avançar da década de 1870, com o surgimento de um movimento republicano conservador nas províncias, onde se destacava o Partido Repu- blicano Paulista (PRP), criado em 1873. Os elementos do PRP provinham majoritariamente da burguesia cafeeira. O elemen- to fundamental do programa político desse partido consistia na defesa da federação (de um modelo de organização po- lítica do país em que as unidades básicas são as províncias). 4 História do Brasil República Esses republicanos estavam convencidos de que o Império era incompatível com a autonomia provincial. A autonomia era entendida por eles como controle, pelas províncias, da política bancária e da imigração, assim como da descentralização das rendas. Esta crítica também deve ser entendida e contextua- lizada numa sub-representação do estado de São Paulo no parlamento e nos órgãos da monarquia. Em termos objetivos/ numéricos, um deputado paulista representava 145.141 habi- tantes, enquanto que um deputado de Pernambuco represen- tava 85.448 habitantes. Havia também queixas com relação à aplicação das rendas imperiais. Avaliavam negativamente o fato de São Paulo, cuja economia estava em expansão, contri- buir cada vez mais para a receita do Império e não ter benefí- cios proporcionais (FAUSTO, 2004, p. 228). O republicanismo paulista se diferenciava do existente no Rio de Janeiro em função da maior ênfase dada à ideia de federação, pela menor defesa das liberdades civis e políticas e pela forma não radical de lidar com o problema da escra- vidão, fato em boa parte explicável pela composição social desse grupo (cafeicultores). Até as vésperas da Abolição, o PRP não havia se pronunciado claramente a respeito da es- cravidão. O movimento republicano no Rio de Janeiro não conseguiu organizar-se em partido político. Os partidos repu- blicanos com mais desenvoltura até o fim do Império foram os de São e Paulo e Minas Gerais (FAUSTO, 2004, p. 228). O fim da escravidão A extinção da escravatura no Brasil, até a promulgação da Lei Áurea, vinha sendo encaminhada de forma gradual. Fren- Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 5 te à realidade inevitável do fim da escravidão havia, na ver- dade, três grupos se pronunciando e agindo a respeito: os emancipacionistas, partidários da extinção lenta e gradual da escravidão; os abolicionistas, que propunham a libertação imediata dos escravos e os escravistas, defensores do sistema de escravidão ou, pelo menos, da indenização dos proprietá- rios, caso a abolição fosse sancionada. (PRIORE; VENÃNCIO, 2003, p. 249). Os emancipacionistas tinham uma posição moderada e podiam ser encontrados nas fileiras do Partido Conservador, embora fossem mais numerosos entre os membros do Partido Liberal. Eles defendiam que através da “Lei de Terras” (1850), que definia que as “terras devolutas só podiam ser adquiridas por meio da compra”, haveria uma forma de imposição dos homens livres ao trabalho, sendo substituída, assim, paulati- namente, a mão de obra escrava no Brasil. É importante des- tacar que a própria família imperial era emancipacionista, e o Imperador, na Fala do Trono de 1867, já havia defendido a emancipação progressiva dos escravos brasileiros. Já o movimento abolicionista havia surgido no Brasil em 1870 e dele faziam parte não só intelectuais e membros da eli- te, como escravos. O grupo escravista, por sua vez, predomi- nava entre os membros da elite agrária brasileira. Entre estes a defesa da escravidão se dava por razões bem objetivas, como a questão da falta de controle sobre a mão de obra livre. No início dos anos de 1880, a estratégia emancipacionista era avaliada, por muitos, como “vingando”, sendo só uma questão de tempo até que o número de escravos existentes 6 História do Brasil República caísse ao ponto de ser possível a libertação de todos, com as respectivas indenizações aos proprietários. O ano previsto, como do término da escravidão, para os emancipacionistas, era de 1899! Contudo, o “radicalismo da ação abolicionista – não somente através das fugas [escravas] e de manifestações públicas, mas também graças a uma vasta literatura sensível à causa [...] – criou condições para o 13 de maio de 1888” (2003, p. 258). Para os escravistas, contudo, a abolição foi uma traição, um confisco da propriedade alheia. A Lei Áurea foi letal para a relação do Império com um vasto grupo de proprietários rurais, pois, na época, a indeni- zação financeira dos ruralistas, pela libertação de sua mão de obra, era impossível. Os 700 mil escravos existentes no Brasil valiam, no mínimo, 210 milhões de contos, e o orçamento geral do Império era de 165 milhões de contos! O café e a República Foi no Vale do Rio Paraíba que se iniciou a produção do café para a exportação, no Brasil. Os grandes fazendeiros desta re- gião receberam benefícios econômicos do Império, bem como foram agraciados com títulos de nobreza. O centro econômico do país, com a produção do café, passou a se centralizar na região sudeste, contando, agora, a monarquia, também com o apoio deste novo grupo econômico emergente, os Barões do Café. A partir de 1850 a produção do café expandiu-se para uma nova zona, no interior de São Paulo, denominada de “Oeste Paulista”. As economias cafeeiras do Vale do Paraíba e Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 7 do Oeste Paulista seguiram, contudo, caminhos diferentes. En- quanto a primeira declinava, a segunda seguia em expansão e isso por vários fatores. Se no oeste paulista existia uma grande disponibilidade de terras, permitindo a incorporação contínua de novas áreas e onde foi encontrada uma terra de melhor qualidade (a terra roxa); no Vale do Paraíba havia limites geo- gráficos claros e não havia muito por onde se expandir. Como resultado, as terras estavam ali cansadas, exauridas, tornan- do baixa a produção, a qualidade do café e o consequente retorno financeiro. Além disso, os Barões do café investiram muito mais capital na compra de escravos, do que os do Oeste Paulista, e o fim eminente da escravidão os fragilizava, pois poderia levá-los a ruína. A economia do Oeste Paulista deu origem a um novo gru- po social que se costuma denominar burguesia do café. A par- tir das últimas décadas do século XIX esta região de São Paulo entrou em processo de transformação no sentido da constitui- ção de uma economia capitalista. A acumulação de capitais se deu, num primeiro momento, como resultado da produção de café e a seguir foi se combinando com as inversões em fer- rovias, bancos e comércio. (FAUSTO, 2004, p. 203) A convenção de Itu (1871) marcou o ingresso de cafeicul- tores do Oeste Paulista no partido republicano, que havia sido fundado no ano anterior. A mais próspera elite do país conti- nha membros que se declaravam abertamente opositores ao Império e a favor da abolição da escravatura. Enquanto isso, os Barões do Café, braço direito da Monarquia, dela vinha se afastando, na medida em que ela encaminhava medidas legais para a abolição gradual da escravidão. 8 História do Brasil República A questão militar O quadro de oficiais do Exército teve características de elite até 1850. Isso levava a que um segmento importante dos ofi- ciais fosse cooptado pelo sistema político monárquico. Duque de Caxiasé um destes exemplos, herói da guerra do Para- guai, comandante-chefe das forças imperiais e, várias vezes, negociador junto às elites regionais, em defesa dos interesses monárquicos. Outros militares, como Gal. Osório e Visconde de Pelotas, também são exemplos desta cooptação imperial e, não raro, os militares eram agraciados com títulos de nobre- za pelo Imperador. Esses militares, pelo seu comprometimento com a monarquia, impediam o desmantelamento do Exército, bem como dificultavam levantes militares contra o Império. Na segunda metade do século XIX, contudo, os “militares aristocratas” (PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 243) tornam-se mais raros, favorecendo ao surgimento de uma relação mais tensa entre o exército e a monarquia. As razões disso estão rela- cionadas às mudanças ocorridas nas forças armadas e a mais importante delas diz respeito à extinção do sistema tradicional de alistamento, o que abriu as portas para a profissionalização do exército brasileiro. Uma lei de setembro de 1850 determi- nava que as promoções fossem baseadas na antiguidade e no desempenho nas zonas de combate. Em outros termos, todos os que quisessem ocupar as altas patentes, deveriam come- çar “por baixo”, pelos postos mais simples, a fim de serem, aos poucos, promovidos. Isso levou a que os “bem-nascidos” passassem a evitar a carreira militar, tanto pelos baixos soldos, como por as baixas patentes serem consideradas “indignas”, pois eram os locais onde se exerciam trabalhos manuais. Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 9 Houve também uma reformulação no ensino militar, a par- tir desta lei de 1850, que se preocupou em dar aos soldados em formação um ensino científico. Como afirmam Priore e Ve- nâncio, “a novidade da segunda metade do século XIX foi a progressiva aplicação militar da ciência e a fé cada vez maior nela como um meio de transformar o mundo” (2003, p. 246). Nessa perspectiva a “Academia Real Militar”, criada em 1810, foi substituída pela “Escola Central”, em 1858, que, poste- riormente, se desdobrou também na “Escola Militar da Praia Vermelha”. Nesta nova Academia Militar que se formava, além do ensino “científico” da matemática, filosofia e letras, se en- contrava presente também o ideário positivista, principalmente após 1872, quando Benjamim Constant se tornou lá professor. O positivismo é uma corrente de pensamento que teve seus princípios básicos elaborados pelo pensador francês Augusto Comte (1798-1857). Entre o exército, a absorção do ideário positivista se deu, principalmente, pela incorporação da ideia de uma formação técnica/científica exemplar, separação da Igreja do Estado e pelo entendimento da necessidade de uma república ditatorial/de um executivo forte e intervencionista, capaz de “modernizar” o país. Dentro desse contexto surgiu, no exército, a figura do “soldado-cidadão”, aquele que tinha a “missão de dar um sentido aos rumos do país” (FAUSTO, 2002, p. 140). Como destacam Priore e Venâncio (2003: 246), a ausência do grupo militar “aristocrático” deixou a instituição militar sem quem pudesse defendê-la junto ao imperador e, ao mesmo tem- po, viabilizou a aproximação entre os soldados “tarimbeiros” (os soldados mais pobres/de baixas patentes) com os “científicos”. 10 História do Brasil República A partir de 1883 passaram a surgir vários desentendimen- tos entre o governo imperial, deputados e oficiais do exército, seja por conflitos de hierarquia, por cortes drásticos nos gastos do Ministério da guerra, expectativas frustradas com relação a promoções ou aumento de soldo e, até, por um entendimento crescente entre dirigentes do Império de que não era necessá- ria a manutenção de uma força militar profissional numerosa. È dentro desse contexto maior que se pode entender também que a questão militar, que antecedeu a queda da monarquia, foi fruto, igualmente, de uma atitude defensiva das forças ar- madas. Dentre os militares que haviam lutado na Guerra do Paraguai crescia o sentimento de que o “descaso” com elas – forças armadas -, por parte do Império, desmerecia o sangue por eles derramado nesta sangrenta guerra. Há ainda que se considerar que devido ao movimento abolicionista, uma nova forma de organização se apresenta- va aos militares e que ia além dos quartéis e academias: “os clubes”. Da mesma forma que os abolicionistas, os militares passaram a se organizar, de forma pública, nos “clubes mili- tares”, a partir de 1887. Nesses locais passava a crescer um movimento poderoso de oposição à monarquia. Ficava cada vez mais claro que a base militar do Império não mais apoiava seu imperador. A questão religiosa As relações entre o estado Imperial e a Igreja Católica, na década de 1870, se tornaram complicadas e tensas. A cons- tituição imperial de 1824 previa a união entre o “trono e o altar”, princípio constitucional este que abriu espaço para a Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 11 crise. Como afirma Fausto: “Se a religião católica era oficial, a própria Constituição reservava ao estado o direito de conceder ou negar validade a decretos eclesiásticos, desde que não se opusessem à Constituição” (FAUSTO, 2004, p. 229). As raízes originárias desse conflito também podem ser buscadas, remotamente, no pontificado de Pio IX, onde o Va- ticano, a partir de 1848, passou a condenar as liberdades modernas. No Brasil, esta política do Vaticano representou uma atitude mais rígida dos padres em matéria de disciplina religiosa e uma reivindicação de autonomia frente ao Estado (FAUSTO, 2004, p. 229). Além disso, Dom Pedro II, numa cla- ra tentativa de neutralizar a participação política dos padres – muito ativos em movimentos e revoltas posteriores à Inde- pendência – promoveu bispos que se alinhavam à chamada corrente ultramontana, que reunia grupos eclesiásticos que pri- mavam pelo conservadorismo, pelo afastamento do clero das atividades partidárias e por uma defesa intransigente da Santa Sé (PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 263). O conflito nasceu em 1872, quando o bispo de Olinda, D. Frei Vital Maria de Oliveira, obedecendo à determinação do Papa, proíbiu o ingresso de maçons em irmandades reli- giosas. Na verdade, boa parte do clero brasileiro da segunda metade do século XIX pregava abertamente contra os maçons. Como se sabe, a maçonaria marcava presença nos círculos dirigentes do Império. O Visconde de Rio Branco, que presidia o Conselho de Ministros, era um desses nomes. O desfecho desse conflito se deu com Dom Vital preso e condenado a quatro anos de trabalho forçado pelo Império. Posteriormente, sofreu pena também o religioso D. Macedo Costa. Com estas 12 História do Brasil República sanções e penalidades, padres e bispos se irmanaram para defender os religiosos e expressar sua contrariedade à situa- ção, o que veio a enfraquecer ainda mais o poder imperial. O conflito só amainou no transcorrer de 1874 a 1875 após um “arranjo”, que resultou na substituição do gabinete Rio Bran- co, na anistia aos bispos e na suspensão, pelo papa, das proi- bições aplicadas aos maçons. O golpe republicano e a Proclamação da República Em 15 de novembro de 1889 um golpe militar pôs fim ao Império. O previsível e aguardado fim da Monarquia chegara. Contudo, como claramente nos mostra Murilo de Carvalho, chegou de forma confusa e controversa o desenrolar desse acontecimento. Devido às acirradas disputas dos grupos polí- ticos envolvidos, não foi possível construir uma versão oficial para o dia 15 de novembro ou, como define Carvalho, há falta de um “mito de origem”/ de um “mito fundador” para a história republicana no Brasil (CARVALHO, 2002, p. 35-54). Embora o 15 de novembro tenha dado origem a alguns grupos radicais, denominados jacobinos, eles constituíram uma pequena minoria e praticamente se restringiramà cidade do Rio de Janeiro. Na ocasião, havia claramente três grupos polí- ticos significativos disputando a liderança dos acontecimentos. Um grupo, do Mal Deodoro da Fonseca, era representado por oficiais superiores que haviam lutado na Guerra do Paraguai. Para eles, a República era a salvação do exército, tendo sido a proclamação um ato estritamente militar, corporativo, executa- do por Deodoro. Esse grupo não tinha um projeto republicano Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 13 definido. Já o segundo grupo, dos positivistas, tinha base tan- to entre civis, como militares e defendia a preponderância da atuação de Benjamin Constant no movimento. Eles defendiam uma república sociocrática, uma república ditatorial baseada nas ideias positivistas de Auguste Comte. Já o terceiro grupo, dos liberais ou históricos, tinha como principal líder Quinti- no Bocaiúva, que defendia a aliança com o “botão amarelo” (exército) para implantar a República. Eles propunham um pro- jeto de república que tinha como modelo a Revolução Ameri- cana. Esse grupo se fazia representar significativamente entre a burguesia do café e estava também presente entre o Partido Republicano Paulista (PRP). No dia 15 de novembro de 1889 o que o povo viu foi uma marcha militar liderada por Deodoro. Nesse dia, os “civis apa- receram no fundo da cena, como atores coadjuvantes, figuran- tes, encarregados da pirotecnia”. Se nenhum líder republicano civil teve um gesto mais forte e imortal nesta parada militar, o “povo também esteve longe de representar um papel seme- lhante ao que lhe coube na Revolução Francesa” (CARVALHO, 2002, p. 52-53). Não houve tomadas de Bastilhas ou outra ação heroica. O povo seguia curioso aos acontecimentos, perguntando sobre o que se passava, respondendo aos vivas, quando solicitado. O único exemplo de iniciativa popular teria ocorrido, conforme Murilo de Carvalho, ao final da parada militar, quando as tropas do exército deixaram o Arsenal da Marinha para retornar aos quartéis. Na ocasião, os populares que acompanhavam a marcha pediram ao militar Lopes Tro- vão que lhes pagasse um trago. A conta de 40 mil réis acabou ficando nas costas do taverneiro, pois ele, Trovão, tinha pouco dinheiro consigo. Assim, o “anônimo comerciante tornou-se, 14 História do Brasil República sem querer, o melhor símbolo do papel do povo no novo regi- me: aquele que paga a conta”. (CARVALHO, 2002, p. 53) Na tarde do dia 16 de novembro, Dom Pedro II recebeu o comunicado do governo provisório recém instaurado, infor- mando-o sobre a proclamação da República e de que teria o prazo de 24 horas para deixar o país. Na madrugada seguin- te, a bordo do navio Alagoas, ele seguiu com a família para o exílio na Europa. A 1ª República Os anos iniciais da República foram marcados por grandes incertezas políticas e significativas transformações sociais. Os vários grupos que disputaram o poder tinham entendimentos e interesses diversos sobre a República em implantação. Pri- meiramente, os militares, que instalaram a república, tiveram bastante influência. A. A República da Espada É chamada República da Espada – ou República Militar – o período dos governos de Mal. Deodoro da Fonseca (1889- 1891) e do Mal. Floriano Peixoto (1891-1894). Embora hou- vesse diferenças ideológicas entre esses dois militares – o pri- meiro representava a velha guarda do exército e o segundo tinha um perfil mais moderno e era simpatizante do positivismo -, ambos concordavam com a ideia de que a República devia ser dotada de um poder executivo forte. Esses governos eram, conforme Boris Fausto (FAUSTO, 2002, p. 140), porta-vozes de uma instituição que fazia parte do aparelho de estado – o Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 15 exército – e não expressavam os interesses de uma classe so- cial específica. Deodoro da Fonseca havia deixado de ser Chefe do Gover- no Provisório para se transformar em Presidente da República, via congresso, em 1890, tendo como vice Floriano Peixoto. O governo constitucional de Deodoro da Fonseca foi curto e tu- multuado (março a novembro de 1891), entrando em choque com o Congresso Nacional, várias vezes, ao tentar reforçar o Poder Executivo. Além disso, a nomeação de históricos monar- quistas, como Henrique Pereira de Lucena (o Barão de Lucena), para o ministério, aumentou a crise institucional, que atingiu o seu ápice em início de novembro, quando o Presidente decre- tou Estado de Sítio e fechou o Congresso Nacional. Ocorreu, como resposta, a Revolta da Armada (marinha), comandada pelo contra-almirante Custódio José de Melo, cujo objetivo era a renúncia de Deodoro. O êxito do governo de Deodoro dependia da unidade das forças armadas, o que não ocorreu. Assim, após a renúncia de Deodoro, em 23 de novembro de 1891, assumiu seu vice, Floriano Peixoto. A primeira Constituição Republicana foi promulgada em fevereiro de 1891, ainda no governo de Deodoro, e foi ins- pirada no modelo norte-americano federativo. Ela inaugura o sistema presidencialista de governo (A República Federativa Presidencialista), tendo o presidente um período de governo de quatro anos, sem direito à reeleição. Os Estados da Federação possuíam bastante autonomia, podendo, por exemplo, con- trair empréstimos no exterior sem consultar o governo central e manter Forças Armadas próprias (as Forças Públicas estadu- ais). O Congresso Nacional, tal qual no Império, encontrava- 16 História do Brasil República -se dividido em Câmara dos Deputados e Senado Federal. Nessa nova Constituição inaugurou-se a divisão dos poderes em três, de forma autônoma e harmônica: Executivo, Legisla- tivo e Judiciário. Fixou-se também o sistema de voto direto e universal, suprimindo-se o censo econômico que havia no Im- pério. Contudo, o voto não era secreto. Foram considerados eleitores todos os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos, excluídas certas categorias, como os analfabetos, os mendigos e praças militares. A Constituição não fez, na ocasião, menção explícita à proibição do voto feminino, mas isso foi considera- do implícito... Ao tomar posse, Floriano Peixoto revogou o Estado de Sítio e reabriu o Congresso Nacional. Floriano Peixoto veio também a se aproximar do Partido Republicano Paulista (PRP), pois en- tendeu que sem o apoio desse partido, e da base social que o compunha, os cafeicultores de São Paulo (principalmente a burguesia do café), não teria base política para governar. Em seu governo ocorreu a Segunda Revolta da Arma- da, liderada pelo almirante Saldanha da Gama e pelo contra- -almirante Custódio de Melo, que exigia o cumprimento das determinações constitucionais de convocação de novas elei- ções presidenciais, pois a Constituição de 1891 dizia que o vice-presidente só poderia assumir o cargo após 2 anos de mandato do presidente. Floriano reagiu com violência, apoia- do pelo Exército Brasileiro e pelo Partido Republicano Paulista, contendo o movimento em março de 1894. Iniciou em seu governo também a Revolta Federalista (1893-1895), no Rio Grande do Sul. Era uma luta política Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 17 gaúcha (os republicanos adeptos do positivismo, liderados pelo governador Júlio de Castilhos contra os federalistas ou maragatos, liderados por Gaspar Silveira Martins) que se tor- nou uma guerra com a participação decisiva do Exército Fede- ral, que apoiou o governador gaúcho. O final do conflito só ocorreu no governo do presidente Prudente de Morais. A aproximação tácita entre Floriano Peixoto e o PRP che- gou ao fim quando da escolha de seu sucessor. Na ocasião, o governo dispunha somente de uma pequena base de apoio, entre a qual se destacavam os minoritários “jacobinos”, re- publicanos radicais provindos da baixa classe média (muitosintelectuais) e de segmentos operários e militares atingidos pela crise e carestia. Os jacobinos eram patriotas, antilusita- nos e defendiam uma república centralizada (FAUSTO, 2002, p. 145). Por pressão do PRP chegaram ao poder os civis na pre- sidência da República e o nome eleito, em 1° de março de 1894, foi o do paulista Prudente de Morais. Tem-se início a República Oligárquica. B. A República Oligárquica (1894-1930) Os primeiros anos A República Oligárquica pode ser entendida como o período de implantação e consolidação da política oligárquica, con- trolada por grupos políticos e econômicos que colocaram o Estado brasileiro a serviço de seus interesses. A palavra oligar- quia vem do grego e significa que o poder está nas mãos de um pequeno grupo de pessoas. Em outros termos, a República 18 História do Brasil República oligárquica, a despeito de ser uma República, é um governo de poucos e para poucos. No governo de Prudente de Morais (1894-1898)2 acentuaram-se os conflitos entre as elites políticas dos gran- des estados – principalmente São Paulo e Minas Gerais – com o republicanismo jacobino, concentrado no Rio de Janeiro. Esses acreditavam numa república forte e capaz de comba- ter possíveis ameaças monarquistas. Em seu governo também eclodiu um conflito no sertão da Bahia. Trata-se da Guerra de Canudos (1896-1897). No arraial de Canudos havia se desenvolvido praticamente uma cidade, com 20 a 30 mil habitantes, totalmente apartada da república excludente que se instituía. A situação de miséria e descaso político republicano fez ali nascer, no coração do sertão nordestino, um movimento messiânico de vulto. Lide- rados pelo cearense Antônio Vicente Mendes Maciel, o “be- ato” Antônio Conselheiro, esse grupo de pobres e excluídos representou uma ameaça à nova ordem estabelecida, seja por Antônio Conselheiro pregar a volta da Monarquia e acusar a República como coisa de “ateus e maçons”, seja pelo próprio exemplo que a existência autônoma de Canudos (apartada das teias republicanas), representava. Logo, Canudos foi atacado pelas tropas do governo. As duas primeiras expedições envia- das, entre 1896 e 1897, fracassaram. De março a outubro de 1897, outras duas expedições chegaram. A última, com 6 mil homens e artilharia pesada, conseguiu tomar e destruí-lo. 2 Entre novembro de 1896 e março de 1897, Prudente de Morais se afas- tou do cargo para tratamento de saúde. Nesse período o país foi governa- do pelo vice-presidente, Manuel Vitorino. Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 19 Junto com o Conselheiro, morreram milhares de combatentes, restando poucos prisioneiros, que eram os velhos, as mulhe- res e crianças. Esta sangrenta história de nosso país pode ser lida em importante obra literária de Euclides da Cunha, Os sertões. O autor foi um verdadeiro espectador “in loco” do conflito que descreveu. Assim ele narra o seu final: “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expug- nado palmo a palmo, na precisão exata do termo, caiu no dia cinco de outubro de 1897, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados”. (Euclides da Cunha, “Os Sertões”) Foi com o governo de Campos Sales (1898-1902) que a consolidação da República Oligárquica se completou. A elite política dos “grandes estados”, tendo São Paulo à frente, triun- fou. Contudo, eram necessários instrumentos políticos para que a República Oligárquica tivesse um sistema político mais está- vel. Foi com esse intuito que Sales concebeu um arranjo polí- tico, conhecido como “política dos governadores”. Por meio de uma alteração artificiosa do Regimento Interno da Câmara dos Deputados Federais assegurou-se que a representação parlamentar de cada estado corresponderia ao grupo regional dominante. Ao mesmo tempo, garantiu-se maior subordina- ção da Câmara ao Poder Executivo (FAUSTO, 2002, p. 147). Em outros termos, esse arranjo político, lançado por Campos Sales, consistiu no apoio dado ao governo federal pelas oli- garquias dominantes nos Estados, através de suas bancadas 20 História do Brasil República na Câmara e no Senado. Em troca, o Executivo comprometeu- -se a reconhecer a legitimidade das maiores estaduais, favore- cendo o atendimento de seus interesses e aceitando somente como representantes, no Congresso, pessoas eleitas/indicadas por estas oligarquias. Dessa forma, o Poder Executivo Federal pôde contar com um sólido apoio parlamentar. Ou, em ou- tros termos, tinha-se o pleno domínio das oligarquias sobre a República brasileira. Essa política dos governadores somente entrou em crise no final da década de 1920. No governo de Campos Sales tentou-se ainda resolver uma crise econômica herdada do Império. Sales, visando re- solver a existência de uma exorbitante dívida externa, acertou um penoso “Funding Loan”, em 1898, a fim de garantir novos empréstimos e acertar dívidas dos empréstimos anteriores. No- vos empréstimos foram obtidos, assim, junto aos Rothschild, tradicional grupo britânico. O Brasil deu como garantia, aos credores, as rendas da alfândega do Rio de Janeiro, ficando proibido de contrair novos empréstimos, até 1901. Compro- meteu-se também com um duro programa de deflação e in- cineração de parte de papel-moeda em circulação. O país escapou, assim, de uma insolvência, mas pagou um pesado tributo social e econômico por estas medidas, que trouxe que- da das atividades comerciais, quebra de bancos e empresas (FAUSTO, 2002, p. 147). Já no governo do presidente Francisco Alves (1902- 1906) os cafeicultores de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Ja- neiro conseguiram realizar um acordo, envolvendo os gover- nadores desses estados, em benefício da economia do café. Trata-se do Convênio de Taubaté (1906). Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 21 Os dois pontos básicos desse acordo eram os seguintes: negociação de um empréstimo de 15 milhões de libras ester- linas para custear a intervenção do estado na economia, atra- vés da compra do café a um preço “razoável”; criação de um mecanismo destinado a estabilizar o câmbio brasileiro. Assim, o governo deveria comprar com os recursos externos as safras abundantes, fazendo estoques, para vendê-los no mercado in- ternacional, no momento adequado (FAUSTO, 2002, p. 151). Houve, contudo, resistências, inicialmente, por parte da União e de outros estados. Todavia, no segundo semestre de 1908, já no governo de Afonso Pena, a União obteve do Con- gresso Nacional autorização para que ela fosse fiadora de um empréstimo de até 15 milhões de libras, que o estado de São Paulo pretendia contrair. A partir daí, esse citado estado pôde desenvolver a operação valorizadora do café. No governo de Alves também houve uma importante revol- ta social, em parte fruto da reforma urbana – o “bota abaixo” – que vinha sendo implementada pelo prefeito Pereira Passos na cidade do Rio de Janeiro. Essa reformulação urbana abriu as grandes avenidas cariocas, demoliu cortiços e casebres, ex- pulsando violentamente seus moradores e populares para as periferias e os morros. Tratasse da Revolta da Vacina (1904), um levante popu- lar que envolveu milhares de pessoas. Os revoltosos protesta- vam contra a vacinação antivaríola obrigatória. Esse levante, contudo, como demonstram historiadores (SEVZENKO, 2010; CARVALHO, 1997), abrigava outras expressões populares, sendo, nesse sentido, uma manifestação contra a pobreza ur- 22 História do Brasil República bana – que foi acentuada por uma reforma que não incluía as classes populares, no projeto saneador da cidade -, como uma resistência civil aos projetos autoritáriosdos governantes da 1ª República, liderados por médicos higienistas, que subes- timavam temores populares com medo da vacina. O Presidente seguinte é Afonso Pena (1906-1909). Nes- se governo iniciado por Pena temos um Brasil que já se carac- teriza pelos contrastes da grande modernização (construção de estradas de ferro, ampliação da esquadra da marinha) ao lado da posição periférica e excludente do povo no processo político dominado pelas elites urbanas e agrárias. Pena mor- reu antes de completar seu mandato, sendo substituído por seu vice, Nilo Peçanha (1909-1910), que terminou o mandato dando prosseguimento às políticas do governo anterior. O governo de Mal. Hermes da Fonseca (1910–1914) foi o sucessor de Peçanha, tendo-se a volta dos militares ao poder. Em seu governo estourou, no Rio de Janeiro, a Re- volta da Chibata (22/11/1910). A Marinha brasileira, ao mesmo tempo que se modernizava tecnologicamente, adqui- rindo novos couraçados da Marinha britânica, conservava sua violência na forma de recrutamento e os maus tratos e casti- gos físicos impostos aos marujos. Os revoltosos, liderados por João Candido (Almirante Negro), exigiam o fim dos castigos corporais (chibata), a melhora da alimentação a eles oferecida e a posterior anistia aos revoltosos. Ameaçavam bombardear a cidade do Rio de Janeiro, caso não fossem atendidos – eles haviam se apoderado dos mais importantes navios da marinha à época, os encouraçados “Minas Gerais” e “São Paulo”. O Presidente Hermes, em resposta, abole os castigos corporais Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 23 na marinha e promete anistia àqueles que se entregassem. No entanto, após findado o conflito, houve perseguições, mortes e também prisões de marinheiros no presídio da Ilha das Co- bras, local para onde foi enviado, inclusive, João Cândido, que sobreviveu a prisão, vindo a falecer no Rio de Janeiro em 1969. Outro movimento importante que estourou no governo de Hermes foi a Guerra do Contestado (1911-1915). O Con- testado era uma região limítrofe entre Santa Catarina e Pa- raná, cuja posse foi reivindicada por ambos Estados, desde o Império. A guerra que surge nesta região, em 1911, não tinha originalmente esta disputa como alvo. Ela entrou circuns- tancialmente nos conflitos pelas profundas mudanças que vi- nham ocorrendo na região: a expulsão de trabalhadores rurais de suas terras, devido a construção de uma ferrovia, e por uma madeireira; bem como o grande número de gente de- sempregada, após o término de seus contratos com a emprei- teira da ferrovia. Esses populares se agruparam em torno do messiânico monge João Maria, estabelecendo acampamen- tos organizados com base na igualdade e fraternidade. Após a morte de Maria, passaram a reivindicar a posse daquelas terras, enquanto esperavam a ressurreição do monge. Os re- beldes foram liquidados pelas tropas estaduais de Santa Ca- tarina e Paraná e pelo exército brasileiro em 1915 (FAUSTO, 2002, p. 167). ..................................................................................... É comum denominar a 1ª República como a “república dos coronéis” em uma referência aos coronéis da antiga Guarda 24 História do Brasil República Nacional (Império), que eram em sua maioria proprietários ru- rais, com uma base local de poder. O coronelismo represen- tou uma variante de uma relação sociopolítica mais ampla, o clientelismo (FAUSTO, 2004, p. 249). De um modo geral, o clientelismo indica um “tipo de relação entre atores políticos que envolve concessão de benefícios públicos, na forma de empregos, benefícios fiscais, isenções, em troca de apoio polí- tico, sobretudo, na forma de voto” (CARVALHO, 1997). Já o coronelismo foi definido como um compromisso entre o poder central e os coronéis para garantir governabilidade, no período que vai de 1898 a 1930. O coronelismo é, como sistematiza Carvalho (1997), um: sistema político nacional, baseado em barganhas entre o governo e os coronéis. O governo estadual garante, para baixo, o poder do coronel sobre seus dependentes e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos cargos públicos, desde o delegado de polícia até a professo- ra primária. O coronel hipoteca seu apoio ao governo, sobretudo na forma de votos. Para cima, os governado- res dão seu apoio ao presidente da República em troca do reconhecimento deste de seu domínio no estado. O coronelismo é fase de processo mais longo de relacio- namento entre os fazendeiros e o governo. O coronelis- mo não existiu antes dessa fase e não existe depois dela. Ele morreu simbolicamente quando se deu a prisão dos grandes coronéis baianos, em 1930. Foi definitivamente enterrado em 1937, em seguida à implantação do Esta- do Novo. (CARVALHO, 1997) Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 25 O “coronel”, do ponto de vista eleitoral, controlava os vo- tantes em sua área de influência. Trocava votos, em candi- datos por ele indicados, por favores tão variados, como um par de sapatos, empregos, remédios etc. Assim, os governos estaduais apoiavam-se no esquema de poder constituído pe- los coronéis. O coronelismo constituía-se, dessa forma, numa estrutura de poder das famílias dominantes nas regiões agrá- rias, onde cada coronel possuía seu “curral eleitoral”, em que os “protegidos” – os envolvidos em troca de favores – tinham por obrigação a fidelidade política manifesta ao coronel. Esta estrutura de poder acabou sendo também a causa de gran- des fraudes eleitorais do período. Não podemos aqui ainda esquecer do uso, pelos coronéis, dos cangaceiros e jagun- ços para ameaçar seus inimigos, principalmente em períodos eleitorais. O cangaço, pela característica de miserabilidade de seus membros, foi um alvo fácil de aliciamento dos coronéis. Mas o que foi o cangaço? Ele pode ser definido como um movimento social ocorrido no sertão nordestino, durante o fim do século XIX e início do século XX, em que as pessoas utiliza- vam o roubo ou a extorsão para sobreviver. Esse movimento está diretamente relacionado à disputa da terra, à situação de miséria do nordeste brasileiro e ao descaso do poder público. O cangaço se manifestou nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. A 1ª República também é conhecida, no senso comum, como a “República do Café com Leite”, exprimindo a ideia de uma aliança entre São Paulo (café) e Minas Gerais (lei- te) comandando a política nacional. A realidade, contudo, é bem mais complexa e diversificada. A fim de se entendê-la 26 História do Brasil República se deve olhar a relação da União (governo federal) com pelo menos três Estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul (FAUSTO, 2002, p. 150). São Paulo, sem dúvida alguma, tinha como principal rique- za a agroexportação do café e seu poder vinha dessa realida- de, fato que o colocava no centro do poder. Já Minas Gerais representava um estado economicamente fragmentado entre o café e o gado e com uma incipiente indústria, sendo o segun- do produtor de café do Brasil e o primeiro de leite (FAUSTO, 2002, p. 152). Todavia, se Minas Gerais não tinha o potencial econômico de São Paulo, os mineiros tinham forte influência na Câmara dos Deputados, onde tinham uma bancada de 37 membros, frente os 22 membros paulistas. Ou seja, para bem governar, São Paulo necessitava do apoio político de Minas Gerais, daí vindo o maior poder desse estado. Já o Rio Gran- de do Sul, se entre 1894 a 1910 esteve quase ausente da administração federal, tal realidade mudou quando da elei- ção do Mal. Hermes da Fonseca à presidência da República. Desentendimentos entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais haviam proporcionado a volta dos militares ao poder. A campanha para a Presidência da República de 1909-1910 foi a primeira disputaeleitoral efetiva da vida republicana. O Mal. Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro da Fonseca, saiu como candidato com o apoio do Rio Grande do Sul, Mi- nas Gerais e dos militares. São Paulo, na oposição, havia lan- çado a candidatura perdedora de Rui Barbosa, em aliança com a Bahia. Há várias razões que explicam tal presença do Rio Grande do Sul, no governo central, a partir desse novo quadro polí- Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 27 tico. Desde os tempos do Império, o estado concentrava os maiores efetivos do exército e isso devido a sua situação de fronteira do país. Além disso, certos traços ideológicos políti- cos colaboravam para a aproximação do Partido Republicano Rio-grandense com o exército; o ideário positivista, presen- te entre os dois. Deve-se considerar também que a política econômica e financeira defendida pelos republicanos gaúchos tendia a coincidir com a visão do grupo militar. Ambos defen- diam uma política conservadora de gastos do governo federal e a estabilização dos preços/o freio à inflação. A estrela do Rio Grande do Sul emergiu, a partir do gover- no Hermes, como “estrela de terceira grandeza”. A partir daí, a presença gaúcha na política nacional da 1ª República não desapareceu mais, vindo a ter grande presença nos ministérios (FAUSTO, 2002, p. 152). Atualmente há historiadores que defendem a significativa participação de mais Estados no comando da política do país na 1ª República. Além dos três citados estados, eles identifi- cam como também presentes o Rio de Janeiro, a Bahia e Per- nambuco. Mencionam ainda a presença de dois importantes atores coadjuvantes, o Exército e o Executivo. Avaliam, dessa forma, que as alianças políticas, a cada eleição, vinham sendo feitas e refeitas, repactuando-se, a cada vez, o acordo político entre as oligarquias brasileiras. Um verdadeiro “café com polí- tica” (VISCARDI, 2001). 28 História do Brasil República Economia e sociedade Por apresentar uma visão otimista do presente e do futuro, o período que se estendeu do final do século XIX ao início do XX foi caracterizado, por muitos, que viveram a época, como uma “belle époque”. Havia, contudo, uma face sombria nesse período. Convivia-se com crises econômicas, marcadas pela inflação, desemprego e revoltas sociais. Tal situação, aliada à concentração de terras e à ausência de uma escolaridade abrangente e inclusiva, implicou que os pobres e a maioria dos libertos passassem a viver em situação de quase completo abandono. Estes últimos tiveram ainda que enfrentar uma série de preconceitos cristalizados em instituições e leis, feitas para estigmatizá-los como subcidadãos, elementos sem direito à voz na sociedade brasileira (PRIORE; VENÃNCIO, 2003, p. 269). A ciência europeia da época, que passou a ser vista como critério definidor de sociedades civilizadas, era pautada por visões racistas, na qual os brancos ocupavam o primeiro lu- gar do desenvolvimento humano, e os negros, o último. O racismo emergia, assim, a partir de uma concepção tida como científica, como uma forma de controle social, uma maneira de enquadrar/ estigmatizar, após a abolição da escravidão, os segmentos da população não identificada com a tradição europeia. Contudo, entre as teorias racistas “científicas” do período, havia distinções. Para uns, como os médicos higienis- tas, era possível remediar as debilidades dos descendentes de africanos, enquanto que para certas correntes próximas do da- rwinismo social, tal mudança era impossível de ser feita. Assim, enquanto o primeiro grupo propunha a difusão da educação, o controle da saúde pública, a vacinação e a reforma dos Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 29 hábitos higiênicos; o segundo defendia a ideia da sobrevivên- cia do mais forte, chegando a ver na pobreza um elemento que levaria a eliminação dos elementos tidos como racialmen- te inferiores, ou seja, aqueles egressos do cativeiro (PRIORE; VENÃNCIO, 2003, p. 269-270). É com base nestas ideias “científicas” do período que a criminologia da “belle époque” rompe com a tradição jurídi- ca, presente desde o século XVIII, que tinha como princípio a igualdade dos homens perante os delitos e as penas, conside- rando, a partir de agora, os delinquentes como um tipo espe- cial, pois se tratava manifestações de formas biológicas raciais inferiores. Tal concepção de que mestiços e negros eram crimi- nosos, em potencial, também levou à ampliação dos poderes policiais e à construção de penitenciárias públicas muito mais vigiadas e coercitivas do que as instituições imperiais. A políti- ca racista da “belle époque” desdobrou-se também no espaço urbano. Seja nas cidades centrais do sistema político, como Rio de Janeiro; da economia, como São Paulo; ou então em localidades mais periféricas, como Fortaleza, foi dado início ao que foi conhecido como a era do “bota-abaixo”. O espaço urbano colonial cedia assim lugar a projetos de reurbanização e saneamento orientados pela abertura de largas avenidas e imitação de prédios europeus, da mesma forma que significa- va desalojar milhares de pobres, a maioria negros e mulatos, das áreas centrais da cidade, onde habitavam em casebres e cortiços, para zonas periféricas (PRIORE; VENÃNCIO, 2003, p. 270-271). Dessa maneira, conforme Priore e Venâncio, a mesma cidade que se embelezava “era também aquela que inventava a ‘favela’, termo que nasce na época – aliás, não por acaso, concomitante à expressão ‘pivete’” (2003, p. 272). 30 História do Brasil República O racismo dos tempos iniciais da Republica voltou-se tam- bém ao combate de certas tradições culturais. Várias formas de religiosidade africana, assim como a capoeira, tornaram-se, segundo o código penal de 1890, práticas condenáveis. Em Salvador, por exemplo, batuques e candomblés são colocados na contravenção (PRIORE; VENÃNCIO, 2003, p. 272-273). Contudo, nem todas as mudanças europeizantes e/ou de- safricanizadoras ocorridas na “belle époque” foram aceitas tranquilamente pela população. Tanto no meio rural, como nas cidades, ações intervencionistas do governo deram origem a importantes revoltas coletivas, como a já mencionada Revol- ta da Vacina e Canudos, com significativa presença negra e pobre (PRIORE; VENÃNCIO, 2003, p. 275). No curso das últimas décadas do século XIX até 1930, o Brasil continuou a ser um país predominantemente agrícola (FAUSTO, 2002, p. 159). Observa-se, nesse sentido, que as atividades econômicas do período da 1ª República não se re- sumiram aos negócios do café, embora esse produto tenha sido o principal na pauta brasileira de agroexportações à épo- ca. Há de se considerar também o desenvolvimento de ou- tras economias, muitas já presentes desde períodos anteriores, como a pecuária no Rio Grande do Sul e a produção de açú- car no nordeste. É importante destacar, também, enquanto uma economia extrativista exportadora emergente, a produção da borracha na região amazônica. Ela veio a ocupar o segundo lugar entre os produtos brasileiros de exportação, entre 1898 e 1910. A gradativa popularização do automóvel e o uso da bicicleta, a Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 31 partir dos anos de 1890, incentivaram sua produção. A der- rocada da borracha no Amazonas se deu a partir de 1915 frente à concorrência internacional com aquela produzida por ingleses e holandeses em suas colônias, na Ásia, que era de mais baixo custo e boa qualidade. A passagem para o assalariamento no Brasil, como se pode deduzir, não se deu de forma rápida e imediata. No campo, nas zonas de produção do café, o sistema do colonato vinha a substituir a fracassada experiência da parceria, implantada para substituir a mão de obra escrava. Os colonos/a família de trabalhadores imigrantes se responsabilizavampelo trato do cafezal e colheita, recebendo basicamente dois pagamen- tos em dinheiro: um anual, pelo trato de um número x de pés de café, e outro por ocasião da colheita. O fazendeiro ainda oferecia moradia e disponibilizava pequenas parcelas de terra onde os colonos podiam cultivar alimentos. Como se vê, o sis- tema de colonato não constituía uma forma pura de trabalho assalariado, pois envolvia outras formas indiretas de retribui- ção (FAUSTO, 2002, p. 159). É importante lembrar que cerca de 3,8 milhões de estran- geiros entraram no Brasil entre 1887 a 1930. Sendo que o período de 1887-1914 concentrou o maior número de ingres- so de imigrantes, exatamente pela grande demanda de mão de obra para a lavoura do café. Várias etnias aqui chegaram, sendo mais numerosos os italianos, seguidos pelos portugue- ses e espanhóis (FAUSTO, 2002, p.156). O predomínio das atividades agroexportadoras, durante a 1ª República, não foi, contudo, absoluto. Não só a produção 32 História do Brasil República agrícola para o mercado interno teve significação, como a indústria foi se implantando com força crescente. A industriali- zação brasileira não resultou, todavia, tal qual a europeia, de um lento e progressivo desenvolvimento do artesanato e da pequena manufatura. Nossa primeira industrialização, ocorri- da entre 1880 a 1930, “originou-se, grosso modo, da impor- tação de máquinas modernas custeadas pelo mundo agrário internacional” (PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 293). Ao contrário da ideia presente no senso comum, não foi o Estado de São Paulo que liderou o processo de industrialização. As poucas fábricas que surgiram no Brasil, no século XIX, des- tinavam-se a produzir tecidos de algodão de baixa qualidade (consumidos por pobres e escravos), sendo a Bahia o primeiro núcleo de atividades do ramo. Por volta de 1885, a produção industrial se deslocou para o Centro-Sul, apresentando Minas Gerais o maior número de unidades fabris, já o Estado do Rio de Janeiro as fábricas mais importantes. No censo brasileiro de 1907 se identificou um novo panorama. O Rio de Janeiro concentrava o maior número de fábricas, liderando o processo de industrialização. Minas Gerais ficou em segundo lugar, São Paulo em terceiro, e o Rio Grande do Sul ocupou a 4ª vaga (PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 293). A industrialização em São Paulo tomou a frente em algum momento pós 1920, fato este perfeitamente explicável pelos paulistas possuírem a mais próspera atividade agrícola do país. Mas como se dava, em termos objetivos, os investimentos de capitais na indústria? Tal qual ocorria em outros lugares, os fazendeiros paulistas, por exemplo, investiam os recursos extras da lavoura na compra de máquinas, entendendo esse Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 33 investimento como uma forma de complementar as atividades agrícolas. Da mesma forma, não era raro fazendeiros de algo- dão inaugurarem fábricas de fiação e tecelagem; pecuaristas abrirem fabriquetas de couro e cafeicultores se voltarem para a produção de máquinas que beneficiavam o café. Não era assim incomum se ver famílias tradicionais da agroexportação – como os Prado e os Penteado – abrirem fábricas de ramos diversos (têxteis, vidraçaria etc.) (PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 204). A prosperidade da economia paulista abriu caminho para que muitos imigrantes ascendessem socialmente. No entanto, na maioria das vezes, os imigrantes empresários já chegaram ao Brasil com algum recurso ou eram originários da classe mé- dia e traziam consigo saberes industriais e/ou artesanais. Esse foi o caso, por exemplo, de Francisco Matarazzo que construiu um império (PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 204). È comum a referência à 1ª Guerra Mundial como um pe- ríodo de incentivo à indústria brasileira. Se essa afirmativa en- contra substrato na realidade, não se pode afirmar, contudo, que o Estado Brasileiro incentivou a industrialização. È correto assim dizer que se o Estado não foi um adversário da indústria, este esteve longe de promover uma política deliberada de de- senvolvimento industrial para o país (FAUSTO, 2002, p. 163). Na virada do século XIX para o XX uma nova forma de fazer política tivera início no Brasil. Surgiam os primeiros defenso- res de projetos socialistas e anarquistas, organizando partidos, sindicatos, jornais, agremiações de “socorros mútuos”, greves etc. O processo de industrialização, ora em implantação, au- 34 História do Brasil República mentara o número de trabalhadores nas cidades, bem como criava as tão conhecidas difíceis condições de vida e trabalho fabris dos trabalhadores da 1ª República, oferecendo, assim, todo um campo aberto para a propagação dessas ideias críti- cas ao sistema capitalista. É importante mencionar que nessa época era praticamente inexistente uma legislação trabalhista. A incipiente legislação do período se limitava a indenização por acidentes (Lei de Aci- dente de Trabalho de 1919) e a restrições ao trabalho femini- no e infantil. Num primeiro momento, as lideranças operárias criaram sociedades de “socorros mútuos”, a fim de poder en- frentar as dificuldades advindas do desemprego, dos acidentes etc.; enfim, da falta de amparo ao trabalhador. Aos poucos, o movimento operário cresceu,tornando-se significativo, levantando reivindicações e bandeiras de luta que se fizeram sentir por toda a 1ª República. As reivindica- ções mais recorrentes foram a diminuição da jornada de tra- balho, a reivindicação de 8 horas diárias de labor e a melhora pecuniária dos salários. Inúmeras greves ocorreram no Brasil e destacamos, entre estas, as greves operárias que eclodiram no ano de 1917, em várias cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, contra a carestia de vida, decor- rente das crises econômicas oriundas da 1ª Guerra Mundial. Além disso, o movimento operário, ao exaltar o trabalha- dor como principal elemento da sociedade, rompia com tradi- ções seculares, herdadas do período da escravidão, que con- siderava as atividades manuais aviltantes e seus executores, consequentemente, pessoas de menor valor. Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 35 Num primeiro momento, serão as ideias socialistas que se farão sentir no movimento operário. Esse grupo centrava sua ação via construção de partidos (socialistas ou operários). Através deles, acreditavam ser possível a melhoria das condi- ções dos trabalhadores. Já os anarquistas, que ganhavam terreno, a partir do início do século XX, entre o operariado, defendiam a mudança da sociedade, via revolução. No anarquismo há várias correntes, tendo se sentido significativamente no Brasil o anarco-comu- nismo e o sindicalismo revolucionário (anarco-sindicalismo). Os anarquistas eram contra qualquer forma de autoridade, centrando sua ação contra o Estado, o Capital e a Igreja. Dife- rentemente das lideranças socialistas, não apostavam na cons- trução de partidos, mas sim em sindicatos, chamados de revo- lucionários, pois estes deveriam ir além de meras conquistas reformistas (melhorias salariais etc.), já que deveriam esclare- cer/politizar o operariado acerca da importância de derrubar o regime capitalista. Em 1917, uma nova fase ideológica se inaugurou no mo- vimento operário. A Revolução Soviética de 1917 anunciara outros tempos e outros caminhos. Nasceu assim, em 1922, o Partido Comunista do Brasil (PCB), cujos fundadores, em seu maioria provinham do anarquismo, como Astrojildo Pereira. O Estado brasileiro, obviamente, veio a reprimir brutalmen- te estas ações coletivas urbanas, o movimento operário, que lutava por melhorias aos trabalhadores. Destacamos entre es- tas formas de repressão, além da coerção física, a ilegalidade partidária imposta ao PCB durante quase todo o tempo de sua 36 História do Brasil Repúblicaexistência e a Lei Adolfo Gordo (Lei n° 1.641 de 7 de janeiro de 1907), que passou a expulsar do país imigrantes envolvidos no movimento operário. A crise dos anos 1920 e a desagregação da 1ª República A partir dos anos 1920 foi visível o crescimento urbano nos principais Estados do Brasil, ainda que o país continuasse com um perfil predominantemente rural. Nas cidades era cada vez mais visível a existência de uma camada média urbana, que tendia a apoiar figuras e movi- mentos que levantassem a bandeira de um liberalismo mais genuíno, capaz de levar à prática as normas da constituição e as leis do país, transformando a República oligárquica em uma República liberal. Isso significava, entre outras coisas, eleições limpas e respeito aos direitos individuais. Falava-se, nesse meio urbano, de uma reforma social, mas a maior espe- rança era depositada na educação do povo, no voto secreto e na criação de uma Justiça Eleitoral (FAUSTO, 2002, p. 171). Não podemos esquecer também da presença do movimen- to operário, nos centros industrializados, com suas propostas bem mais radicais, que iam desde concepções mais imediatas de mudanças da realidade, como a dos anarquistas; aos dos comunistas, que pregavam o fim da sociedade capitalista em expansão, de uma forma mais gradual. Na década de 1920 cresceram igualmente nos centros ur- banos movimentos de contestação cultural, como o dos mo- dernistas, presentes expressivamente no Rio de Janeiro e em Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 37 São Paulo, local em que vieram a realizar a Semana de Arte Moderna, em 1922. Apesar de ser difundida a ideia de que a Semana de Arte foi o marco do modernismo no Brasil, sabe-se da presença aqui dessas ideias, desde 1870, principalmen- te entre o meio literário. Os modernistas em São Paulo criti- cavam os padrões estéticos tradicionais europeus, propondo uma valorização da cultura e estética nacional. Já no Rio de Janeiro o modernismo se expressou através de um grupo de boêmios (músicos, poetas e atores), sendo alguns populares, e se caracterizou como uma manifestação musical, crítica e de humor, e com um caráter mais popular. O movimento feminista cresceu também muito no meio ur- bano do período, em seus diferentes matizes, que iam desde as feministas liberais, que viam a emancipação da mulher via sua participação na vida política, reivindicando, assim, seu direito ao voto; ao feminismo difuso, presente de forma frag- mentada na sociedade, reivindicando o voto e outras formas de igualdades; às anarquistas, que concebiam a emancipação feminina de uma forma mais global, abdicando-se, obviamen- te, da luta parlamentar. Para elas, a emancipação da mulher se dava a partir da conquista do direito ao trabalho, a salários iguais aos dos homens, ao livre direito de ser mãe ou não, a uma postura igualitária frente aos direitos masculinos, entre outras concepções (PINTO, 2003). È importante ainda men- cionar que o movimento feminista foi obra quase que exclusi- vamente feminina. O pacto estabelecido entre as oligarquias estaduais brasi- leiras, sob a hegemonia da região sudeste, começou a apre- sentar sinais de desgaste nos anos 1920. O principal proble- 38 História do Brasil República ma consistia na falta de regras claras a respeito da sucessão presidencial, bem como no “cansaço” que se criava entre as demais oligarquias brasileiras ressentidas com a falta de rodí- zio no poder, situação esta que se agravava quando São Paulo e Minas Gerais se aliançavam, excluindo os demais Estados parceiros. Tudo isso propiciava a que existissem condições fa- voráveis para um quadro de constante conflito entre as oligar- quias estaduais, que se tornava mais contundente nos momen- tos que antecediam as eleições para a Presidência do país. Houve duas conjunturas eleitorais que criaram fissuras, que acabaram por minar a estabilidade da República oligárquica: a conjuntura eleitoral de 1921 (que elegeu Arthur Bernardes) e a de 1930 (que elegeu Júlio Prestes de Albuquerque). Em 1921, em oposição à candidatura de Arthur Bernardes, apresentada por São Paulo e Minas Gerais, os Estados do Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro se uniram, formando a “Reação Republicana”, lançando a candidatura de Nilo Peçanha (fluminense, defensor do florianismo e de origem plebeia). O Rio Grande do Sul, que puxou essa dissidência, criticava os esquemas de valorização do café, por parte das oligarquias do sudeste, e pregava a necessidade de um equilí- brio monetário. No curso da disputa eleitoral veio à tona uma revolta militar. A origem dela foi fruto de duas cartas falsas, de suposta autoria de Arthur Bernardes, que difamavam o exérci- to. Tais cartas acentuaram uma percepção corrente no exército de que a candidatura Bernardes era antimilitar. A situação con- tinuou a se complicar, em junho de 1922, época em que Ber- nardes já era vitorioso. Antes de sua posse – que ocorreria em 15 de novembro – o Clube Militar lançou um protesto contra Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 39 a utilização pelo governo de tropas do exército para intervir na política de Pernambuco. Em reação, o governo fechou o Clube Militar, precipitando a eclosão do movimento tenentista – assim conhecido por ser majoritariamente composto de oficiais de nível intermediário do exército (capitães e tenentes). O primeiro ato de rebeldia foi a revolta do Forte de Co- pacabana, no Rio de Janeiro, em cinco de julho de 1922. Jovens tenentes se rebelaram realizando um protesto destina- do a “salvar a honra do exército”. A revolta não se propagou para outras unidades, sendo os rebeldes bombardeados por mar e aviões. Dezessete militares, com a adesão circunstancial de um civil, decidiram sair pela praia de Copacabana, indo de encontro às forças governamentais. Houve troca de tiros e morreram 16, sobrevivendo dois militares, os tenentes Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Foi com base nesse episódio, de- nominado os “Dezoito do Forte”, que se iniciou a legenda do tenentismo (FAUSTO, 2002, p. 172). Marcha dos Dezoito do Forte Domínio público Dois anos depois explodiu o chamado segundo cinco de julho (de 1924), dessa vez em São Paulo. A data fora es- 40 História do Brasil República colhida para homenagear o movimento ocorrido no Rio de Janeiro, e o local pela importância do Estado de São Paulo. A revolução de 1924 foi mais bem preparada, tendo como ob- jetivo expresso derrubar o presidente Artur Bernardes, a quem os tenentes personificaram o ódio que tinham das oligarquias dominantes. Os revoltosos tomaram quartéis e o comando da cidade de São Paulo até o dia 27 de julho. Após os con- frontos, saíram da cidade formando a “coluna paulista” – ou “coluna Miguel Costa” – que se fixou no oeste do Paraná, próximo a foz do Rio Iguaçu. Ali eles ainda enfrentaram as tropas legalistas, à espera de outra coluna que venho do Rio Grande do Sul. No Rio Grande do Sul estourara uma revolta tenentista em outubro de 24, na qual se destacaram o tenente João Alberto e o capitão Luis Carlos Prestes. Esta revolta contara também com o apoio da oposição gaúcha ao PRR (o partido no poder do Estado), misturando assim os interesses maiores do tenentismo (a derrubada de Artur Bernardes) com as di- vergências da política local do Estado. Depois dos enfrenta- mentos, os revoltosos gaúchos se dirigiram ao Paraná, indo ao encontro dos tenentes paulistas. Em 25 de abril de 1925 os dois grupos se juntaram, decidindo percorrer o Brasil para propagar a ideia de revolução e levantar a popula- ção contra as oligarquias. Nasceu assim a “Coluna Miguel Costa – Luis Carlos Prestes”, que acabou ficando conhecida como Coluna Prestes. Ela percorreu de 24 a 25 mil Km até fevereiro/março de 1927, quando seus remanescentes de- Capítulo1 A Crise do Império e a Primeira República 41 ram o movimento por terminado e se refugiaram na Bolívia e Paraguai (FAUSTO, 2002, p. 173). http://museu.pm.ce.gov.br/apmnahistoria/apmnahistoria.html 42 História do Brasil República Tenentismo: foi um movimento de cunho político que surgiu no exército. Em seu decorrer, contudo, agregou civis em suas fileiras, sendo, por isso, um movimento militar e civil. Os mili- tares revoltosos receberam uma educação, na Academia Militar de Realengo, que visava formar “soldados profissionais”; contu- do, tal formação profissionalizante não impediu que eles desen- volvessem concepções críticas sobre a sociedade e o sistema de poder existente. Pretendiam “purificar” não apenas a sociedade, mas também a instituição de onde provinham, onde os quadros militares superiores eram vistos como coniventes com as cor- rompidas oligarquias. Ainda que não tivessem uma proposta clara de reformulação política, pretendiam derrubar o Presidente Artur Bernardes, instituir o voto secreto, centralizar o poder político, reformar a educação pública e seguir uma política de cunho nacionalis- ta. Após “moralizarem” o Brasil, pretendiam entregar a nação a políticos honestos. Tratava-se de reconstruir o estado para construir a nação. O movimento tenentista não pode ser entendido como um movimento representativo dos grupos médios da sociedade, pois nele participaram pessoas oriundas de setores pobres e hu- mildes. Contudo, ele tornou-se, nos anos 1920, um movimento depositário das aspirações de mudança da ordem política, prin- cipalmente entre a classe média urbana. Uma de suas principais lideranças foi Luis Carlos Prestes, o “cavaleiro da esperança” (FAUSTO, 2002). O governo de Artur Bernardes, como se pode deduzir, aca- bou sendo marcado por vários conflitos, tendo transcorrido in- tegralmente sob o decreto de estado de sítio. Além das revoltas tenentistas, ocorrera a Revolução de 1923, no Rio Grande do Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 43 Sul, bem como outros acontecimentos impactantes da história nacional: a fundação do PCB e a Semana de Arte Moderna, em São Paulo. De Washington Luís a Revolução de 1930 É no quadro da última conjuntura eleitoral da 1ª República que vemos a derrocada da República oligárquica. Na realida- de, o sistema político da década de 1920, como se viu, era um verdadeiro caldeirão prestes a entrar em ebulição. O que fal- tava era um estopim, Washington Luís o forneceu. Ao contrário do esperado para as eleições de 1930, o então presidente não indicou um mineiro para sucedê-lo, mas sim seu conterrâneo Júlio Prestes. Agindo assim, o paulista acirrara os ânimos dos grupos mineiros dominantes. Estes últimos conseguiram selar um acordo com segmentos políticos importantes do Rio Gran- de do Sul e da Paraíba, no sentido de lançarem um candidato próprio para a presidência, com eleições marcadas para 1 de março de 1930. Na costura da então denominada Aliança Liberal, os gaúchos conseguiram impor seu candidato: Getú- lio Vargas. Seu vice foi João Pessoa, presidente do Estado da Paraíba (PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 309-310). O programa da Aliança Liberal refletia as aspirações das classes dominantes regionais não associadas ao núcleo cafe- eiro e tinha por objetivo sensibilizar os grupos médios. Defen- dia a necessidade de incentivar a produção nacional (e não apenas o café); propunha algumas medidas de proteção aos trabalhadores, a anistia aos tenentes revoltosos, a defesa das liberdades individuais e uma reforma política capaz de asse- gurar o voto. 44 História do Brasil República Na Aliança Liberal se faziam representar, além dos gaúchos e a maioria de Minas Gerais (uma pequena parte apoiou Júlio Prestes), o Partido Democrático (PD) de São Paulo, fundado em 1926. O objetivo básico desse partido era a reforma po- lítica, através do voto secreto e obrigatório; a representação da minoria; a independência dos três poderes e a atribuição ao Judiciário da fiscalização eleitoral. Os quadros dirigentes do PD consistiam de profissionais liberais de prestígio e jovens filhos de fazendeiros de café. O PD se diferenciava, assim, do Partido Republicano Paulista (PRP), no poder (composto por fazendeiros e industriais paulistas), pelo seu liberalismo e pela maior juventude de seus integrantes (FAUSTO, 2002, p. 177). Em plena campanha eleitoral ocorreu, em outubro de 1929, o “crack” da bolsa de Nova York, lançando a cafeicul- tura a uma situação de crise. Em decorrência, o governo fede- ral e o setor cafeeiro se desentenderam, pois estes solicitaram ao presidente a concessão de novos financiamentos e uma moratória dos débitos para enfrentar a crise no setor do café. Preocupado em manter estável o câmbio, o presidente recu- sou. Apesar desse desentendimento, que corroborou para esta conjuntura de crise, não houve uma ruptura entre a oligarquia cafeeira e o governo federal. Contudo, os aliancistas, como seria esperado, tendo em vista o quadro constante de fraude eleitoral, foram derrotados. Júlio Prestes venceu as eleições. Agravando mais a situação, a maioria dos deputados federais eleitos, que fizeram parte da coligação oposicionista, não teve seus mandatos reconhecidos pelo Congresso. Para complicar o quadro ainda mais, João Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 45 Pessoa, o candidato a vice na chapa da Aliança Liberal, foi morto na Paraíba (PRIORE; VENÂNCIO, 2003, p. 310). Assim, apoiadas em setores descontentes do exército, as oligarquias dissidentes (Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pa- raíba, Pernambuco, Ceará, Paraná) deram início ao movimen- to pela deposição do presidente. Entre três e vinte e quatro de outubro era feita a “Revolução de 30”. Paralelamente aos bandos de jagunços dos grupos dissidentes, os oposicionis- tas contavam com apoio dos militares descontentes, onde se faziam representar jovens oficiais do exército, como capitães e tenentes e “ex-tenentistas” (membros do extinto movimento tenentista). Luis Carlos Prestes, um dos principais líderes do te- nentismo, permaneceu, contudo, na oposição e radicalizando ainda mais suas proposições. Antes do confronto decisivo, a 24 de outubro de 1930, integrantes da cúpula militar, em nome do Exército e da Ma- rinha, depuseram o presidente da República no Rio de Janei- ro, constituindo uma Junta Provisória de governo. Essa Junta tentou permanecer no poder, mas recuou diante das manifes- tações populares e da pressão dos revoltosos vindos do sul. Getúlio Vargas deslocara-se de trem para São Paulo, daí se- guindo para o Rio de Janeiro, precedido por três mil solda- dos gaúchos. Ele desembarcou na capital da República, com uniforme militar, ostentando um grande chapéu dos pampas. O “simbolismo do triunfo regional” se completou quando os gaúchos foram amarrar seus cavalos em um obelisco na Ave- nida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro (FAUSTO, 2002, p. 179-181). 46 História do Brasil República Capa da “Revista do Globo”. Porto Alegre,1930, Nº 21 Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Capa_da_Revista_do_Globo_ n%C2%BA_21_-_Revolu%C3%A7%C3%A3o_de_1930.jpg A posse de Vargas, a três de novembro de 1930, marca o fim da 1ª República e o início de novos tempos, ainda não mal definidos... Capítulo 1 A Crise do Império e a Primeira República 47 Recapitulando Como foi abordado, os anos iniciais da República no Brasil fo- ram marcados por grandes incertezas políticas e significativas revoltas sociais. Observa-se, nesse sentido, que esta República foi governada por poucos e para poucos, fato que levou a várias revoltas e contestações, durante praticamente todo seu período de existência. A economia brasileira baseou-se hege- monicamente na agroexportação, sendo o principal produto o café. Viveu-se
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