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Paper HPJ- Thalía

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PROBLEMAS ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DAS PRISÕES NA SEGUNDA 
METADE DO SÉCULO XIX: Entendendo o sistema carcerário atual através de um olhar 
para o passado. 
 
 
 
 
 
 
 
Thalía Priscila M. da Silva 
Acadêmica de direito da Universidade Federal do Pará 
 
 
 
RESUMO : Este documento tem por objetivo discorrer sobre os entraves estruturais e 
funcionais existentes nas prisões da segunda metade do século oitocentista e a 
persistência desses problemas até o hodierno. Afinal, a partir de que momento surgiram 
os impasses no sistema carcerário brasileiro? . Por meio deste, analisou-se as condições 
precárias das prisões no império, especialmente nas capitais das províncias, onde 
existiam graves problemas na uniformidade do sistema prisional no que diz respeito à 
execução das penas, arquitetura das instituições e à legislação criminal. Através de 
dados coletados mediante à pesquisas feitas acerca da casa de correção da corte e da 
casa de detenção do Recife, foi possível entender como as penitenciárias eram mantidas 
e administradas, bem como as condições de ressocialização dos detentos. Além disso, 
foram analisados os modelos de sistemas penitenciários existentes no referido período e 
suas influências no sistema prisional brasileiro. Tal explanação se fez necessária para 
compreendermos as discussões referentes ao sistema carcerário atual através de um 
olhar crítico para o passado, uma vez que o mesmo encontra-se desfasado, e através 
deste trabalho, é possível perceber que tal problema persiste desde a época Imperial 
brasileira. 
Palavras- chave : Prisões. Século XIX . Brasil . Problemas . 
 
 
 
SUMÁRIO 
1- Introdução ....................................................................................................... 1 
1.1- O surgimento das prisões .......................................................................... 1 
1.2 – as prisões do século XIX ......................................................................... 2 
1.3 – Estrutura prisional .................................................................................... 3 
1.4– Funcionalidades ........................................................................................ 5 
2- Modelos penitenciários ................................................................................... 5 
2.1 – O modelo americano ................................................................................ 6 
2.2- O modelo europeu ...................................................................................... 6 
2.3- As influências no sistema prisional brasileiro oitocentista ........................ 7 
3- Problemas estruturais e funcionais dos estabelecimentos prisionais ........ 7 
3.1- Casa de correção da corte .......................................................................... 8 
3.2- Casa de detenção do Recife ....................................................................... 9 
3.3- O sistema carcerário atual .......................................................................... 9 
4- Considerações finais ..................................................................................... 10 
5- Referências .................................................................................................... 11 
 
 
1 
 
1- INTRODUÇÃO 
O sistema carcerário brasileiro tem sido alvo de inúmeras discussões, uma vez 
que em meio aos problemas estruturais e funcionais, como a superlotação de celas e a 
má administração com a qual são regidos, diariamente no país, centenas de detentos são 
vítimas de um processo cruel e desumano que tornou-se recorrente nos últimos anos, e 
que não apresenta resultados satisfatórios na ressocialização dos criminosos. Mediante a 
isso, o presente trabalho visa esclarecer a gênese desse problema que já perpassa séculos 
e séculos no Brasil, visto que desde o XIX, com o surgimento das prisões brasileiras, 
tais entraves já se faziam presentes no cotidiano penitenciário, seja pela superlotação 
existente, seja pela falha no âmbito administrativo. 
Com a instituição do código criminal em 1830, as prisões foram introduzidas no 
Brasil, porém o mesmo não estabelecia nenhum tipo específico de sistema penitenciário 
a ser adotado, dessa forma, ficava a cargo dos chefes das províncias decidirem qual 
modelo adotariam nas respectivas locações, mediante a isso, as penas eram resolvidas 
de modo aleatório e mesmo que o texto do código criminal visasse acabar com os 
impasses sociais, aplicando penas iguais para todos, isso de fato não acontecia, ficando 
somente no papel. (DE ALBUQUERQUE, 2007). 
O sistema penitenciário oitocentista apresentava muitas disfunções e entraves em 
sua estrutura, pois como já abordado, o mesmo não possuía um modelo base a ser 
seguido e aplicado em todo império, neste sentido, a execução penal do país tornou-se 
precária. As condições materiais das prisões, as superlotações e os problemas com os 
empregados eram impasses recorrentes no período, que enfrentava um caos no âmbito 
administrativo jurídico e vivia sob constantes contestações por parte dos chefes das 
províncias. Além disso, por meio de uma pesquisa concisa feita acerca da estrutura e das 
funcionalidades do sistema penitenciário daquele período, principalmente por meio de 
análise a respeito da casa de correção da corte e a casa de detenção do Recife, é possível 
perceber e confirmar que os entraves que cercam as penitenciárias atuais derivam da má 
administração e da permanência dos problemas que existem desde os primórdios da 
instituição prisão no Brasil. 
1.1- O surgimento das prisões 
O conceito de prisão como punição surgiu em meados da idade média, em meio 
aos mosteiros, com o intuito de corrigir monges clérigos corruptos, que através do 
2 
 
isolamento prisional, tinham a oportunidade de meditar e pedir perdão pelos atos falhos 
e, dessa forma, acreditava-se também que eles ficariam mais próximos de Deus. 
(MACHADO; SOUZA; SOUZA, 2013). 
Segundo a etimologia da palavra, prisão quer dizer ato de prender, captura, local 
onde se cumpre uma pena de detenção. Neste sentido, para início de discussão é 
necessário entender o surgimento de tais instituições, bem como seu funcionamento 
inicial. Para Foucault (1999) as prisões eram lugares completos e austeros, as quais 
foram formadas para modificar a conduta dos indivíduos e torna-los dóceis e úteis ao 
convívio social, sendo esta a peça essencial no conjunto de punições da passagem do 
século XVIII ao XIX. Diferentemente dos séculos passados, onde eram utilizadas penas 
desumanas e cruéis, somente a partir do século XVIII é que o direito penal passou a 
adotar a pena privativa de liberdade, e o cumprimento de pena em prisões passou a ser 
feito no mundo todo. 
Essa mudança se deu a partir das transformações políticas daquele período, visto 
que houve a queda do regime absolutista e o nascimento da classe burguesa, a partir 
desse momento, e em face dos altos índices de violência existentes, as punições 
perderam o conceito de espetáculo público e foram adotadas medidas punitivas 
fechadas e mais rígidas, o que caracteriza o surgimentos da instituição prisão, nesse viés 
a intenção agora era punir a “ alma” do condenado e não mais seu corpo. (FOUCAULT, 
1999). Além disso, durante muitos séculos a prisão foi utilizada como um lugar de 
segurança e tortura, servindo como uma espécie de contenção para as civilizações 
egípcias, persas e gregas, sendo que a primeira instituição penal de fato existente na 
antiguidade foi a de Roma, o hospício de San Michel, cuja finalidade era encarcerar 
pessoas vistas como “incorrigíveis”, funcionando como uma casa de correção, 
instituição tal que seconsolidaria como punição séculos mais tarde. (MACHADO; 
SOUZA; SOUZA, 2013). 
1.2- As prisões do século XIX 
 As instituições prisionais ganharam forças a partir do início do século XIX, 
agora com novos métodos e concepções acerca das punições existentes no referido 
período, a pena privativa de liberdade passou a ser adotada como primordial no âmbito 
do direito penal. Segundo Foucault (1999) a instituição prisão, criada no fim do século 
XVIII e perpetuada no século XIX, apresenta um novo modelo de punição, 
diferentemente dos espetáculos públicos tradicionais, a nova instituição apresentava 
3 
 
diferentes mecanismos de dominação e correção dos criminosos, agora por meio de 
lugares fechados e totalmente vigiados com muita disciplina, sob a égide do 
“Panóptico”, aparelho que, segundo o autor, é capaz de tudo ver, no qual apenas um 
homem vigiaria os criminosos sem que estes o pudessem ver, sendo o mesmo uma 
espécie de modelo prisional para o período, com o intuito de corrigir e mudar o caráter 
dos delinquentes. 
O Brasil do século XIX urge em meio a um cenário de mudanças trazidas pelo 
iluminismo, e por meio de um olhar liberalista, muitas expectativas foram criadas em 
relação ao século que se iniciara. No entanto, embora o país tenha instituído o código 
criminal em 1830, que trazia em seu texto uma regulamentação de ordem social no qual 
a justiça seria feita para a sociedade como um todo, este não foi capaz de modificar as 
estruturas sociais existentes, uma vez que mesmo com toda a influência iluminista e 
seus preceitos difundidos pelo mundo, o Brasil manteve o regime escravista como 
principal base de sustentação da economia. (DE ALBUQUERQUE, 2007). Além disso, 
foi somente a partir do século oitocentista que se deu o surgimento das prisões com 
celas individuais no Brasil, contendo oficinas de trabalho e a arquitetura e regimentos 
das penas que seriam aplicadas aos criminosos, haja vista que o país até o ano de 1830 
não possuía um código criminal próprio e era submetido ao livro V das Ordenações 
Filipinas, que tratava dos crimes e as penas que seriam aplicadas em território brasileiro, 
não havendo ainda o cerceamento e privação de liberdade, desse modo, as prisões 
funcionavam apenas como um lugar de vigilância temporária. Ademais, com a 
instituição do código penal de 1890, foram criados novos modelos de prisão, agora 
limitadas a penas restritivas de liberdade individual, com o modelo celular, reclusão 
total do preso e a utilização do trabalho como forma de ressocialização. (MACHADO; 
SOUZA; SOUZA, 2013). 
1.3- Estrutura prisional 
A estrutura das instituições ao longo das décadas de 1820 e 1830, especialmente 
nas capitais das províncias eram precárias, por meio de relatórios de vereadores e 
médicos do Rio de Janeiro que realizavam vistorias nos cárceres imperiais, era possível 
constatar as condições degradantes com as quais os detentos eram mantidos, as 
construções eram mal acabadas e inadaptadas, o ambiente era insalubre e corroborava 
para o surgimento de doenças, além do que existia a falta de alimentos e o excesso de 
4 
 
presos, colaborando assim para que houvessem superlotações absurdas e óbitos 
constantes. (ARAUJO, et al., 2009 ). 
A partir da segunda metade do século XIX, mais precisamente após os anos 
1870, os regimes prisionais brasileiros passaram a ser denominados como sistema 
penitenciário, sistema esse que posteriormente foi alvo de constantes mobilizações para 
que houvesse uma reforma em sua estrutura, haja vista que as condições de execuções 
penais do país eram precárias, pois não havia uma regulamentação prisional a ser 
seguida como padrão, dessa forma, os problemas materiais dos estabelecimentos 
prisionais, a superlotação e a ausência de um sistema prisional uniforme durante o 
império, contribuía para que não houvesse a correção satisfatória do criminoso. (DE 
ALBUQUERQUE, et al., 2017). As prisões do período eram, por muitas vezes, vistas 
como lugares de problemas pessoais, onde os senhores mandavam açoitar seus escravos 
ou quem apresentasse comportamento bárbaro, segundo Sant’anna (2007) ainda na 
década de 1830, os resquícios dos cárceres coloniais como o calabouço1 e o aljube2 
eram usados como prisões da corte do Rio de Janeiro, esses lugares agrupavam 
escravos, estrangeiros e libertos em geral, mediante a isso, notava-se uma constante 
instabilidade e muitos conflitos, transformando esses espaços em insociáveis e 
perigosos, onde as condições de sobrevivência eram precárias, devido a insalubridade 
nas celas, a superlotação existente por conta da mistura de homens livres, libertos, 
mulheres e escravos, e a ausência de carcereiros para que houvesse ordem no local. 
Além disso, o código criminal previa que a grande maioria dos crimes deveriam ser 
pagos através das prisões com trabalho, desse modo, a partir dai foram iniciadas as 
construções da casa de correção da corte, que será tratada em tópicos posteriores deste 
documento. Destarte, a construção da casa de correção do Rio de Janeiro, em 1950, 
apresentou uma inovação aos modelos de prisões imperiais, havendo também mudanças 
no conceito de punições existentes no país, uma vez que, o intuito principal passou a ser 
a correção do criminoso através do trabalho, e mediante a isso, foram inseridas oficinas 
de trabalho, celas individuais e pátios grandes, tudo por conta das influências trazidas 
 
1 O calabouço era um tipo de prisão destinado à punição disciplinar dos escravos, principalmente para os 
capturados após tentativas de fugas, sendo o único cárcere feito exclusivamente para tais. 
2 O aljube tratava-se de uma espécie de cárcere para criminosos comuns, esse termo em árabe significa “ 
prisão eclesiástica”, sendo que este tornou-se destino para a maioria dos presos, livres ou escravos que 
estavam sendo julgados por pequenos delitos e também para quem cometesse crimes eclesiásticos. Para 
maiores detalhes acerca do calabouço e aljube, ver HOLLOWAY, Thomas. O calabouço e o Aljube do 
Rio de Janeiro no século XIX. MAIA, CN et al, p. 253-281, 2009. 
5 
 
pelos modelos penitenciários estrangeiros como o auburn e o sistema filadélfia. 
(ARAUJO, et al., 2009). 
1.4- Funcionalidades 
 Os regulamentos das prisões eram constantemente discutidos e 
contestados por vários órgãos provinciais, uma vez que o código criminal não 
determinava medida alguma em relação ao funcionamento das prisões, desse 
modo, as autoridades locais adotavam providências aleatórias e contraditórias 
para a resolução de impasses. (DE ALBUQUERQUE, et al., 2015). 
Em face da má administração com a qual eram mantidas, as prisões 
tornaram-se lugares de conflitos e superlotações, devido à falta de uniformidade 
prisional, eram constantes os questionamentos acerca da execução das penas e a 
legislação criminal vigente, além do que existia o despreparo dos guardas no 
convívio com os detentos e consequentemente na execução das penas, existindo 
também aqueles que facilitavam a fuga dos presos e até mesmo os que 
utilizavam as prisões como lugares de “farras e bebedeiras”. Comprovando que 
os problemas das prisões oitocentistas não eram só de cunho material, mas sim 
administrativo jurídico, neste âmbito, os suplícios por uma reforma penitenciaria 
e reforma no código criminal eram constantemente vistos. (DE 
ALBUQUERQUE, et al., 2015). Embora a constituição de 1824 previsse que as 
prisões fossem limpas, seguras e arejadas, isso não era uma realidade nas 
províncias do país, no Rio de Janeiro, por exemplo, haviam dificuldades na 
separação dos detentos por parte dos policiais, separação essa que deveria ser 
feita de acordo com a condiçãojurídica do individuo, bem como levando em 
consideração o sexo e o tipo de crime cometido, mas como já comentado neste, 
na realidade isso não acontecia, uma vez que o que de fato ocorria era a mistura 
de todos em uma cela, aumentando assim as superlotações e conflitos. 
(ARAUJO, et al., 2009). 
2- MODELOS PENINTENCIÁRIOS 
Como se sabe, o país não possuía um modelo penitenciário próprio a ser 
seguido, e com a autonomia que as províncias possuíam, cada uma delas fazia sua 
própria legislação, dificultando demasiadamente a estrutura prisional imperial. Neste 
sentido, era necessário que houvesse um modelo de prisão base a ser adotado por todas 
as províncias, até mesmo para a manutenção da ordem pública. De Albuquerque et al. 
6 
 
(2017) diz que, no Brasil, muito se discutiu acerca do sistema prisional que seria 
adotado para as províncias, até que chegou-se a conclusão, não consensual, que o 
modelo adotado seria o americano auburn, mas com algumas influências do sistema 
filadélfia. 
2.1- O modelo americano 
Segundo De Oliveira (2007), o modelo auburn, que surgiu na cidade de Nova 
York, em 1821, previa que os presos trabalhassem em conjunto uns com os outros 
durante o dia, mas respeitando a regra do silêncio absoluto, característica marcante 
desse modelo, e a noite deveriam permanecer em celas individuais. Essas características 
foram as principais do sistema americano, que utilizava o trabalho como meio de 
correção do criminoso, onde o silêncio era imposto de forma violenta. Além disso, o 
ambiente em que os presos se encontravam era totalmente vigiado pelos guardas, 
preservando-se totalmente as regras a serem seguidas para que houvesse a 
ressocialização completa do detento. Ademais, é válido ressaltar ainda, que este modelo 
contrapunha-se em partes ao modelo filadélfia, também americano, que previa o 
isolamento completo do criminoso durante todo o cumprimento da pena. 
2.2- O modelo europeu 
 No ano de 1846, após o primeiro congresso internacional de prisões, e com toda 
a repercussão que o modelo americano tivera, grande parte das prisões europeias como 
as alemãs e francesas o adotaram. No entanto, contrariamente a isso, a Irlanda 
apresentou um aperfeiçoamento dos modelos americanos, haja vista que em 1853, 
Walter Crofton3 idealizou um sistema mesclando os modelos auburn e filadélfia, que 
agora seriam divididos em quatro estágios que colaborariam para a regeneração do 
preso. Primeiramente tinha-se uma grande influência do sistema rígido, pois os detentos 
ficariam reclusos totalmente sem nenhuma forma de contato ou trabalho, e após o 
período estipulado, estes seriam encaminhados à forma auburniana de reclusão, onde o 
isolamento total seria amenizado e o preso agora passaria a trabalhar de dia, sob a égide 
de muitos seguranças, e recluso no período da noite. Após esse estágio, entra em vigor o 
sistema criado por Crofton, no qual os presos seriam reclusos em prisões com vigilância 
mais branda, onde o detento poderia socializar e realizar trabalhos no campo, podendo 
 
3 Walter Crofton foi o diretor das prisões irlandesas, considerado por muitos o criador do sistema 
progressivo irlandês, estabelecendo as prisões intermediarias como forma de ressocialização. Ver 
GOMES NETO, Pedro Rates. A prisão e o sistema penitenciário: uma visão histórica. Canoas: Ulbra, 
2000. 
7 
 
também andar até uma certa distância que era estipulada pelo sistema. Por fim, a última 
fase consistia na volta do individuo ao convívio social, permitindo que o mesmo 
recebesse liberdade condicional até que a pena fosse cumprida definitivamente. (DE 
OLIVEIRA, 2007). 
2.3- As influências no sistema prisional brasileiro oitocentista 
Em face da construção da casa de correção da corte, o modelo adotado pelos membros 
encarregados da obra foi o modelo americano auburn, no qual o trabalho seria utilizado 
como forma de correção e ressocialização, dessa forma, os presos trabalhariam em 
conjunto pela parte do dia, e a noite seriam reclusos, como o sistema demanda. No 
entanto, havia quem acreditasse que o modelo ideal para o Brasil seria o mais rígido, 
filadélfia, que previa o isolamento total do criminoso durante todo o período de 
cumprimento da pena, havia também quem afirmasse que o modelo progressivo 
irlandês seria o mais adequado para o período, uma vez que o preso, dependendo do 
comportamento, poderia conquistar privilégios até o momento de soltura, esse modelo 
era defendido principalmente pelos juristas da época, porém tal sistema só foi 
considerado anos mais tarde, na legislação do código penal de 1890. Contudo, mesmo 
com todas as sugestões de formas modernas de execuções penais para o Brasil, o pais 
seguiu com o modelo adotado, auburn, descartando-se assim o plano de reforma 
penitenciária pensada pelas autoridades do período. (DE ALBUQUERQUE, et al., 
2017). 
3- OS PROBLEMAS ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DOS 
ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS 
Assim como o sistema penitenciário atual, as prisões do século oitocentista 
também apresentavam muitas disfunções em sua estrutura. Mediante a isso, 
constantemente eram cogitadas reformas penitenciárias por conta da má administração 
com a qual eram mantidas, e a estrutura das instituições que em muito deixava a desejar, 
onde as prisões celulares e prisões com trabalhos eram palco de muitos conflitos e 
desentendimentos por conta da mistura de detentos e a consequente superlotação. 
(SANT’ANNA, 2007). Para mais detalhes de como as prisões eram mantidas e 
administradas é necessário adentrar em meio a esse cenário, para isso, analisou-se as 
condições da casa de correção da corte, primeira prisão com trabalho do país, e a casa 
de detenção do Recife, percebendo assim, os problemas estruturais e funcionais que as 
mesmas possuíam e que se assemelham muito ao sistema prisional do século XXI. 
8 
 
3.1 – Casa de correção da corte 
A casa de correção da corte, criada em 1830, foi formulada com o intuito de ser 
a prisão modelo para o império brasileiro, no entanto, o que se tinha de fato, eram 
muitas contestações acerca de seu funcionamento, que segundo relatórios do período, 
esta pecava no âmbito administrativo, bem como não atendia ao que fora destinada, ou 
seja, não havia a correção de fato. Com a instituição do código criminal em 1830, ficou 
prevista que as penalidades seriam cumpridas através de prisões com trabalho, assim 
iniciaram-se as obras da casa de correção da corte. Vários grupos de autoridades foram 
formados com o intuito de discutir e decidir as questões pertinentes às prisões, uns 
tratavam da parte locacional da casa e outros procuravam arrecadar renda para início 
das obras. (SANT’ANNA, 2007). 
O regulamento adotado pela penitenciária foi o modelo americano auburn, dessa 
forma, os prisioneiros condenados deveriam cumprir a pena nas prisões com trabalho, 
que eram divididas em duas seções, uma para condenados a períodos curtos, a 
correcional, e a outra seria para os condenados pela justiça, a criminal. Embora o 
modelo adotado previsse que o preso pagasse através do trabalho regular durante o dia, 
ficando fora da cela nesse período, e voltasse à reclusão no período noturno, há quem 
acreditasse, como os juristas e médicos da época, que o modelo correto seria o 
filadélfia, pois este previa a reclusão total do preso e assim, segundo eles, haveria maior 
correção e disciplina nos estabelecimentos. Várias oficinas foram construídas com o 
intuito de auxiliar nas despesas prisionais e consequentemente ajudar o Estado, mas o 
que era pra servir de ajuda tornou-se um caos, uma vez que não haviam profissionais 
qualificados e faltava renda para manter as máquinasnecessárias para o trabalho. Desse 
modo, a instituição tornou-se lugar de muitos conflitos e desentendimentos, visto que os 
detentos utilizavam os próprios instrumentos das oficinas como armas em brigas com 
outros presos e nem os próprios guardas conseguiam conter a euforia que tomava conta 
do lugar. Em suma, a casa de correção não apresentava de fato a correção dos 
criminosos, ao contrário, o que se tinha eram problemas estruturais, como falhas na 
iluminação e a intensa umidade, que dificultava a sobrevivência dos detentos nas celas, 
além do que os existiam os problemas funcionais, uma vez que o modelo adotado não 
era seguido na prática, pois era difícil conseguir o silêncio absoluto devido ao caos 
existente, haviam também muitas punições corporais, o que remetia aos primórdios das 
9 
 
punições antigas, e inexistia o ensinamento religioso, que também era previsto pelo 
modelo prisional adotado. (SANT’ANNA, 2007). 
3.2 – Casa de detenção do Recife 
Assim como a casa de correção da corte, a casa de detenção do Recife também 
foi elaborada com o intuito de ser um modelo base a ser seguido pelas províncias, no 
entanto, o que se via eram as inúmeras reclamações do ministro da justiça acerca da 
estrutura e do funcionamento da instituição. De acordo com De Albuquerque et al. 
(2015) eram constantes a insatisfação e frustração dos presidentes das províncias com o 
estabelecimento, que apresentava muitos entraves nas questões materiais e funcionais e 
não correspondia às expectativas criadas em torno de sua construção. Além disso, por 
meio dos relatórios do ministro da justiça Manuel Antônio Duarte de Azevedo, o autor 
discorre sobre o mau funcionamento e os mais graves problemas enfrentados pela casa 
de detenção, que de acordo com os relatos, não possuía os aparatos necessários a uma 
casa de correção, nem tampouco se alinhava às instituições prisionais modernas. 
 O grande problema enfrentado na casa de detenção pernambucana era a já 
conhecida superlotação, problema este que se faz presente até os dias atuais no país, 
uma vez que havia a distribuição desproporcional dos presos e a mistura de criminosos 
sentenciados por diferentes crimes, o que era totalmente fora de âmbito, pois haviam 
muitos detentos considerados perigosos junto com pessoas que cometiam pequenos 
delitos, fato este que contribuía para o aumento de conflitos e agravamento do caos nas 
instituições. Ademais, as condições de higiene e saúde eram precárias, as celas eram 
escuras e abafadas, e devido ao ambiente fechado e a superlotação existente, essas 
doenças se proliferavam muito rapidamente, levando os detentos a óbito em muitos dos 
casos. Vale ressaltar que esses entraves não se davam apenas pelas condições materiais 
do estabelecimento, havia também as falhas no âmbito administrativo, pois as verbas 
destinadas para manter o local eram bem poucas, a comunicação entre a administração 
do local e as autoridades policiais era dificultosa, e não havia um acompanhamento 
preciso acerca das execuções das penas, o que dificultava demasiadamente a 
manutenção da ordem na instituição e consequentemente a correção satisfatória do 
criminoso. (DE ALBUQUERQUE, et al., 2015). 
3.3- O sistema carcerário atual 
Dois séculos após a instituição das prisões no Brasil a impressão que se tem é a 
de que em nada mudou. O momento atual do sistema prisional brasileiro se resume a 
10 
 
caos e precariedade, haja vista que devido ao abandono, e o descaso por parte do poder 
publico, tal sistema encontra-se defasado e imerso a muitos entraves, tanto no âmbito 
administrativo, quanto estrutural. (MACHADO; SOUZA; SOUZA, 2013). 
As prisões atuais apresentam inúmeras disfunções, e ao invés de corrigirem os 
criminosos, levando-os à ressocialização, estas fazem com que os mesmos se tornem 
muito mais perigosos, devido a corrupção existente dentro dos presídios, muitos guardas 
se aproveitam de seus cargos e celebram acordos com os presos afim de ganharem 
privilégios. Além disso, as condições materiais são precárias, visto que o número de 
detentos ultrapassa demasiadamente o que de fato as celas comportam, causando 
superlotações, problema principal e que permanece mesmo após séculos e séculos no 
país, e mediante a isso, há a constante proliferação de doenças, sendo as principais a 
sífilis e a aids. (MACHADO; SOUZA; SOUZA, 2013). De acordo com o que foi 
abordado, claramente percebe-se continuidades do sistema prisional oitocentista até os 
dias atuais, dessa forma, é necessário atentar-se a esses problemas e reformular as 
concepções acerca das prisões, pois as mesmas nunca apresentaram de fato, a finalidade 
com a qual foram criadas, que seria a correção e ressocialização do criminoso. 
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Em face das questões abordadas ao decorrer do presente documento, é possível 
constatar que os problemas que cercam o sistema penitenciário atual em pouco diferem 
dos entraves presentes no período imperial brasileiro, visto que as disfunções 
apresentadas desde a instituição das prisões no Brasil derivam dá má administração e do 
modo de como as mesmas foram pensadas e executadas. Ademais, o descaso e a 
negligência sempre fizeram parte do cotidiano penitenciário e desde os oitocentos, 
especialmente após a segunda metade, já era notório que as prisões eram só meras 
instituições que visavam punir os criminosos de qualquer forma, mas que nem de longe 
atingiam seus objetivos, haja vista que o que acontecia de fato eram reclamações e 
contestações que são remanescentes até os dias de hoje acerca do sistema. 
Dessa forma, é preciso atentar-se às disfunções e erros passados para que haja 
uma maior conscientização e talvez futura reformulação de como o sistema 
penitenciário atual é pensado e estruturado, bem como é necessário que haja um 
interesse maior por parte das autoridades para que esses entraves sejam sanados e as 
condições materiais e funcionais das prisões atuais sejam melhores e assim 
proporcionem a ressocialização completa e satisfatória do detento. 
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REFERÊNCIAS 
 
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do Rio de Janeiro: seus detentos e o sistema prisional no Império (1830-1861). 2009. Tese 
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Disponível em : http://www.ufjf.br/virtu/files/2010/05/artigo-6-a-1.pdf. Acesso em : maio de 
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MACHADO, Ana Elise Bernal; SOUZA, Ana Paula dos Reis; SOUZA, Mariani Cristina de. 
Sistema penitenciário brasileiro–origem, atualidade e exemplos funcionais. Revista do Curso 
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SANT’ANNA, Marilene Antunes. Os espaços das prisões no Rio de Janeiro do século XIX. 
Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ, 2007. Disponível em : 
https://revistadiscenteppghis.files.wordpress.com/2009/05/marilene-antunes-os-espacos-das-
prisoes-no-rio-de-janeiro-do-seculo-xix.pdf. Acesso em : maio de 2018. 
 
 
 
 “Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo.“ 
- George Santayana

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