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Apostila-Completa-de-SOCIOLOGIA-APLICADA - estudando

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SOCIOLOGIA APLICADA 
Márcia Anita Donzelli 
 
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SOCIOLOGIA APLICADA 
Márcia Anita Donzelli 
 
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Primeira Aula 
SOCIOLOGIA 
 
 Sociologia é uma ciência situada dentro do conjunto das ciências humanas. O objetivo da sociologia é estudar, entender 
e classificar as formações sociais, as comunidades e os agrupamentos humanos, para que outras ciências e técnicas 
possam apresentar propostas de intervenção social que resultem em melhorias na sociedade. Nesse sentido, educadores, 
médicos, psicólogos, engenheiros, arquitetos, urbanistas, juristas, advogados, publicitários, jornalistas, economistas, enfim, 
quase todos os profissionais e pesquisadores de quase todas as áreas necessitam das teorias apresentadas pela sociologia. 
 A sociologia é feita por meio da investigação científica das estruturas sociais. a sociologia é uma ciência que surge no 
século XIX no contexto da revolução e das transformações sociais decorrentes da Revolução Industrial e do intenso processo de 
urbanização e de expropriação das terras os teóricos que embasaram a Sociologia procuraram descrever e estudar os 
fenômenos sociais aquilo que aconteceu na sociedade em decorrência dos processos de urbanização expropriação das terras 
alguns teóricos que podem ser citados marcam esse período são Augusto Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. 
Esses teóricos são considerados os pais da sociologia. Destacamos que a Sociologia vem para analisar estudar entender o que 
acontece na sociedade como produto da vida social. 
 
Como surgiu a sociologia 
 
 A partir do século XV, a sociedade europeia vê-se em um turbilhão de mudanças significativas. Em primeiro lugar, 
temos o surgimento do capitalismo em sua forma mercantilista — quando os Estados recém-formados e unificados começam a 
traçar acordos comerciais e estabelecer novas rotas para compra e venda de produtos. Ademais, temos uma classe social que 
havia surgido no fim da Idade Média e começava a fortalecer-se, sobretudo em alguns lugares da Europa, como França e Itália, 
devido à participação no comércio mercantilista: essa classe é a burguesia. 
 O fortalecimento da burguesia levou ao maior investimento na navegação e na descoberta de novas rotas comerciais 
pelos oceanos. Todo esse processo culminou na chegada e colonização dos povos europeus (em especial portugueses, 
espanhóis e, mais tarde, ingleses) em terras do continente americano, que até então eram desconhecidas pelos povos da 
Europa, da Ásia, da Índia e da África. 
 O contato do homem branco com os nativos da América despertou nos europeus, detentores de uma maior tecnologia 
para a época em alguns aspectos, a ideia de que eram superiores culturalmente. Ao mesmo tempo, o europeu tinha curiosidade 
pela cultura e pelo modo de vida dos povos americanos, o que levou os primeiros exploradores das terras americanas a 
tentarem entender e classificar a cultura nativa. 
 Isso resultou em um contato extremamente etnocentrista, pois o europeu via o nativo como inferior. Não obstante, 
esse contato também serviu como base para os primeiros sinais de um conhecimento que mais tarde fará parte do amplo 
conjunto de estudos, que, junto à sociologia, faz parte das ciências sociais: a antropologia. 
 Mais tarde, a Europa viveu outras revoluções, dessa vez mais rápidas e intensas: a Revolução Francesa e a Revolução 
Industrial. Na Inglaterra começam a surgir as primeiras indústrias, empreendidas por uma parte da burguesia que havia 
enriquecido muito com o comércio e com o empréstimo de dinheiro. No início do século XIX, o modo de produção industrial 
tomava conta de grandes centros urbanos europeus, como Londres e Paris. 
 Por conta disso, houve intenso êxodo rural nesses locais, o que ocasionou uma explosão demográfica, seguida por 
vários problemas sociais decorridos da falta de emprego para todos: fome, miséria, violência, condições precárias de 
saneamento e, consequentemente, alastramento de epidemias. A vida nos centros urbanos para a população mais pobre era 
caótica. Mesmo para aqueles que conseguiam trabalhar nas indústrias, a vida era difícil, devido à desumana exploração de sua 
mão de obra por parte da burguesia, o que resultou em exaustivas jornadas de trabalho e baixa remuneração. 
 No final do século XVIII, a Revolução Francesa causou um longo período de instabilidade política para os franceses, 
que, após o fim do Antigo Regime (a monarquia), viram-se diante de um vazio político que resultou em diversas experiências 
políticas, muitas das quais fracassaram. O cenário era de instabilidade política e econômica, fome, violência e desordem social. 
 Diante disso, o filósofo francês Augusto Comte idealizou um projeto de melhoria e progresso social com base em um 
movimento que ficou conhecido como positivismo. O positivismo tinha como objetivo trazer o progresso à sociedade por meio 
do avanço científico, tecnológico, da ordem social e da disciplina individual. Auguste Comte foi o criador do positivismo. 
 Para concretizar o seu projeto, Comte aceitou como necessária a criação de uma nova ciência que, tal como as ciências 
naturais, estudasse e classificasse a sociedade, a fim de entendê-la e modificá-la. No início, essa ciência foi batizada por Comte 
de física social. Mais tarde, ela seria nomeada pelo mesmo pensador como sociologia, que significa: ciência da sociedade. 
Assim, Comte ficou conhecido como o “pai” da sociologia. 
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Márcia Anita Donzelli 
 
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 Apesar de propor a criação da ciência da sociedade, o trabalho de Comte, assentado no positivismo, não foi capaz de 
estabelecer um método preciso e único para o correto funcionamento da sociologia, pois não avançou muito além da 
especulação e da problematização filosófica. Diante disso, o escritor, professor, psicólogo e filósofo francês Émile Durkheim, ao 
resgatar e criticar o positivismo de Comte, estabelece o primeiro método de análise sociológica, baseado no que o pensador 
chamou de reconhecimento dos fatos sociais. 
 Esse feito foi considerado o estabelecimento da sociologia como ciência bem estruturada, o que tornou Durkheim o 
primeiro sociólogo de fato. Esse, que era professor universitário, também introduziu a sociologia como disciplina no Ensino 
Superior, nos cursos de Direito, Psicologia e Pedagogia. 
 Além de Durkheim, Karl Marx e Max Weber apresentaram métodos significativos para os estudos sociológicos, o que 
colocou esses três pensadores como a tríade da sociologia clássica. Para Marx, a sociologia deveria basear-se na produção 
material da sociedade, vista pelo pensador como uma histórica luta de classes entre exploradores e explorados, o que deu 
origem ao método materialista histórico dialético. Para Weber, a sociedade era composta pelo conjunto de ações humanas 
individuais, que deveriam pautar-se por modelos ideais para que fossem analisadas e comparadas. O trabalho de Max Weber 
influenciou as áreas da sociologia, filosofia, ciência política, administração e do direito. 
 Por meio dos três primeiros métodos clássicos, a sociologia desenvolveu-se e incorporou a si o estudo de outras 
ciências que, juntas, compõem o conjunto das ciências sociais. São elas: a antropologia, a ciência política e a economia. 
 
Para que serve a sociologia? 
 
 A importância da sociologia é compreendida com base em seu modelo utilitário, o que a difere da filosofia. Enquanto 
esta se apresenta como um conjunto de saberes não organizados cientificamente e que têm uma finalidade em si mesmos, ou 
uma finalidade no próprio conhecimento, aquela é uma ciência. Enquanto ciência, a sociologia tem uma finalidade exterior a si. 
 O trabalho do sociólogo serve para identificar, classificar e analisar a organização social como um todo. Partindo do 
comportamento individual (com elementos da psicologia) e do comportamento social, o sociólogo tenta compreender a 
sociedade a fim de apresentar teorias que possam permitir a intervenção social por meio de outras ciências e técnicas.A sociologia tenta entender a sociedade como um todo, mas busca elementos nas suas áreas afins, como 
a economia (que estuda os aspectos econômicos gerais de uma sociedade, como produção e relação financeira), 
a antropologia (que estuda o ser humano por meio sua cultura e de suas origens) e a ciência política (que se dedica a entender 
as organizações políticas e os modos de organização do ser humano em sociedade, envolvendo noções como governo, Estado 
etc.). 
 Os resultados científicos obtidos pela sociologia servirão de base para a intervenção social de outros profissionais de 
outras áreas do conhecimento. Um jurista ou um advogado, por exemplo, precisam conhecer bem essa área para que tenham 
uma visão maior e mais ampla dos crimes e das leis, entendendo esses elementos como peças de uma complexa sociedade. Um 
arquiteto urbanista precisa compreender a sociedade e suas organizações para estabelecer os melhores meios de projetar casas 
e cidades que melhor satisfaçam as necessidades sociais. 
 Quando um médico se depara com uma possível epidemia ou com a simples repetição de doenças e sintomas, ele pode 
aliar os estudos de diagnóstico clínico individual nos pacientes aos conhecimentos sociológicos, para tentar compreender uma 
possível origem social dos problemas de saúde. 
O que a sociologia estuda 
 O sociólogo tem a missão de estudar a sociedade como um todo organizado por pessoas em comunidades. Os meios 
para isso são hoje os mais variados, o que permite ao profissional em questão tentar compreender vários aspectos sociais, 
como violência, globalização, guerras, consumo, expectativa de vida, organização das cidades, exclusão social etc. 
 
A sociologia tem como objetivo a compreensão da sociedade. 
 
 Os métodos para essa compreensão também são variados. Como a sociologia é uma ciência, ela precisa de garantias 
metodológicas para que o seu trabalho seja confiável. Por isso, é necessário que o sociólogo se atente para padrões de 
repetição dos fenômenos, a fim de estabelecer um padrão de comportamento social. Além disso, o sociólogo utiliza dados 
fornecidos por entrevistas individuais com pessoas de um mesmo grupo social ou de grupos diferentes e, como ferramenta 
de comparação, utiliza um ramo da matemática chamado estatística. 
 
 A sociologia aplicada é a sociologia voltada para determinados assuntos dentro da sociedade, neste caso, nosso estudo 
na matéria de sociologia aplicada vai começar com a HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO PRISIONAL e vamos falar aqui de alguns 
autores, o filósofo Michel Foucault estudado dentro da sociologia escreveu no ano de 1975 uma obra que ficou muito 
conhecida, chamada Vigiar e punir, nesta obra Foucault faz uma análise do sistema prisional, uma análise da finalidade das 
instituições prisionais e por esse motivo essa obra é constantemente usada como referência quando falamos de políticas 
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Márcia Anita Donzelli 
 
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voltadas para a questão prisional social além de Foucault, temos outros autores que se dedicam ao estudo das instituições 
prisionais, por exemplo Dario Melossi e Massimo Pavarini, dois autores que escreveram o livro cárcere e fábrica no ano de 2006 
e trazem grande contribuição ao tema. 
 
1. HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO PRISIONAL 
 Na História da humanidade sempre esteve presente os sistemas de punições, sendo que, ao longo desta foi se 
transformando, levou-se muito tempo até chegar ao modelo atual que segue os princípios da privação de liberdade como 
modelo de punição coercitiva e regenerativa. 
Idade Antiga 
 Na idade antiga um longo período da História que se estende aproximadamente do século VIII a.C., à queda do Império 
romano do ocidente no século V d.C; o chamado cárcere, compreendendo de que não havia um código de regulamento social 
efetivado, é marcado pelo chamado encarceramento, que apresentava como emprego o ato de aprisionar não como caráter da 
pena, e sim como garantia de manter o sujeito sob o domínio físico, para se exercer a punição. 
 Os locais que serviram como encarceramento para os suplícios eram desde calabouços, ruínas à torres de castelos. 
 Segundo Carvalho Filho (2002), a descrição que se tem daqueles locais revela sempre lugares insalubres, sem 
iluminação, sem condições de higiene e “inexpurgáveis”. As masmorras são exemplos destes modelos de cárcere infectos nos 
quais os presos adoeciam e podiam morrer antes mesmo de seu julgamento e condenação, isso porque, as prisões, quando de 
seu surgimento, se caracterizavam apenas como um acessório de um processo punitivo que se baseava no tormento físico. 
Idade Média 
 A Idade Média período da história entre os anos de 476 a 1453, caracterizou-se pela economia feudal e a supremacia da 
Igreja Católica, mantendo ainda o cárcere apenas como local de custódia para conservar, aqueles que seriam submetidos a 
castigos corporais e à pena de morte, garantindo dessa forma, o cumprimento das punições. 
 Para encarcerar não havia necessidade da existência de um local específico. Assim sendo, não se defendia no período 
uma arquitetura penitenciária própria, mantendo ainda o cárcere como local de custódia para aqueles que seriam submetidos 
ao suplicio. 
 Segundo Carvalho Filho (2002) as punições no período medieval eram: a amputação dos braços, a degola, a forca, o 
suplício na fogueira, queimaduras a ferro em brasa, a roda e a guilhotina eram as formas de punição que causavam dor extrema 
e que proporcionavam espetáculos à população. 
 Ressalta-se que no contexto dos sistemas de punições adveio a influência pelo poder da Igreja Católica que a exemplo, 
ordenou as inquisições (também chamada de Santo Ofício, essa instituição era formada pelos tribunais da Igreja Católica que 
perseguiam, julgavam e puniam pessoas acusadas de se desviar de suas normas de conduta). 
 Neste mesmo período também, temos o surgimento de dois tipos de encarceramento: o cárcere do Estado e o cárcere 
eclesiástico. O primeiro com o papel de cárcere-custódia, utilizado no caso em que o individuo privado de liberdade assim estava 
à espera de sua punição. O segundo, era destinado aos clérigos rebeldes, que ficavam trancados nos mosteiros, para que, por 
meio de penitência, se arrependessem do mal e obtivessem a correção. Neste momento surge o termo “penitenciária, ” que 
tem precedentes no Direito Penal Canônico, que é a fonte primária das prisões. 
Idade Moderna e Contemporânea 
 A modernidade corresponde ao período da História iniciado a partir de 1453 e tem seu marco histórico na Revolução 
Francesa em 1789. É o período que as organizações sociais transitam do modelo de organização social Feudal para a constituição 
do Estado Moderno com o desenvolvimento dos modelos político, econômico e social organizado sob a lógica do Capitalismo. 
 A idade moderna é marcada a principio pela representação política da monarquia absoluta. A Monarquia neste cenário, 
passou a ser livremente comandada pela figura do monarca, detentor incondicional do poder político. Tal poder desconhecia 
quaisquer vínculos e limites e se caracterizava por impor uma barbárie repressiva, que afligia os súditos desprovidos de direitos. 
 Não havia sequer necessidade de se justificar a aspereza das punições aos indivíduos encarcerados, bem como as 
condutas puníveis. Fazê-lo seria o mesmo que questionar a própria soberania do rei. 
 A prisão como pena autônoma era desconhecida, mantendo ainda em parte deste período histórico, o cárcere como 
espaço para preservar o corpo do condenado até a aplicação do castigo. 
 No século XVIII ocorreram duas passagens significativas que influenciaram concomitantemente na História das prisões: 
o nascimento do iluminismo e as dificuldades econômicas que afetaram a população, o que culminou em mudanças para a pena 
privativa de liberdade. 
 Sobre a questão econômica, que marca as transformações sobre a substituição do martírio pela privação de liberdade 
está relacionadaa miséria que predominava na época, com o aumento da pobreza, as pessoas passaram a cometer um número 
maior de delitos patrimoniais. Como a pena de morte e o suplicio não respondiam mais aos anseios da justiça e seu caráter de 
exemplaridade da pena falhava, o processo de domesticação do corpo já não atemorizava, surgindo então a pena privativa de 
liberdade, como uma grande invenção que demonstrava ser o meio mais eficaz de controle social. 
 Michel Foucault (1998) em "Vigiar e Punir descreve a nova consideração da época sobre pena-castigo: 
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SOCIOLOGIA APLICADA 
Márcia Anita Donzelli 
 
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 Pode-se compreender o caráter de obviedade que a prisão-castigo muito cedo assumiu. Desde os primeiros anos do 
século XIX, ter-se-á ainda consciência de sua novidade; e entretanto ela surgiu tão ligada, e em profundidade, com o próprio 
funcionamento da sociedade, que relegou ao esquecimento todas as outras punições que os reformadores do século XVIII 
haviam imaginado (pag.70).” 
 Tal afirmativa de Foucault refere-se à segunda metade do século XVIII com o nascimento do iluminismo. Tratava-se de 
um movimento intelectual, que defendia o uso da razão contra o antigo regime e pregava maior liberdade econômica e política. 
 Os pensadores iluministas tinham como ideal a extensão dos princípios do conhecimento crítico a todos os campos do 
mundo humano. Supunham poder contribuir para o progresso da humanidade e para a superação dos resíduos de tirania e 
superstição que atribuíam ao legado da Idade Média. A maior parte dos iluministas associavam o ideal de conhecimento crítico à 
tarefa do melhoramento do Estado e da sociedade. 
 No período iluminista ocorreu o marco inicial para uma mudança de mentalidade no que diz respeito à pena criminal. 
Surgiram na época, figuras que marcariam a história da humanização das penas, como: Cesare Beccaria, em sua obra intitulada 
“Dos Delitos e das Penas”, publicada em 1764 que combateu veemente a violência e o vexame das penas, pugnando pela 
atenuação, além de exigir o princípio da reserva legal e garantias processuais ao acusado. 
 Com a influência desses pensadores, com destaque especial para Beccaria, começou a ecoar a voz da indignação com 
relação às penas desumanas que estavam sendo aplicadas sob a falsa bandeira da legalidade. 
 Michel Foucault (1998) em Vigiar e Punir narra sobre o período: 
 “O protesto contra os suplícios é encontrado em toda parte na Segunda metade do século XVIII: entre os filósofos e 
teóricos do direito; entre juristas, magistrados, parlamentares; e entre os legisladores das assembleias. É preciso punir de outro 
modo: eliminar essa confrontação física entre soberano e condenado; esse conflito frontal entre a vingança do príncipe e a 
cólera contida do povo, por intermédio do supliciado e do carrasco (pag. 63).” 
 A natureza e a finalidade destas instituições foram modificadas a partir do século XVIII quando então as prisões 
tornaram-se a essência do modelo punitivo, assumindo um caráter de estabelecimento público de privação de liberdade. 
 Como explica Carvalho Filho (2002) rigor, severidade, regulamentação, higiene e intransponibilidade do ponto de vista 
institucional e com uma dinâmica capaz de reprimir o delito e promover a reinserção social de quem os comete foram as 
prerrogativas que passaram a caracterizar as instituições penais a partir do século XVIII. 
 Carvalho Filho (2002) vincula o surgimento da pena de privação de liberdade ao surgimento do capitalismo, 
concomitante a um conjunto de situações que levaram ao aumento dos índices de pobreza em diversos países e o consequente 
aumento da criminalidade, a distúrbios religiosos, às guerras, às expedições militares, às devastações de países, à extensão dos 
núcleos urbanos, à crise das formas feudais e da economia agrícola, etc. 
 Particularidades históricas deram então o contorno para o atual modelo do sistema de privação de liberdade. 
Segundo Foucault (1998): 
 "Com as novas formas de acumulação de capital, de relações de produção e de estatuto jurídico da propriedade, todas 
as práticas populares que se classificavam, seja numa forma silenciosa, cotidiana, tolerada, seja uma forma violenta, na 
ilegalidade dos direitos, são desviadas à força para a ilegalidade dos bens... " a ilegalidade dos bens foi separada da ilegalidade 
dos direitos."(pag.74)..."O direito de punir deslocou-se da vingança do soberano à defesa da sociedade"...(pag.76) 
 Foi neste contexto que se transformou as prisões e os sistemas de punições para o que é na atualidade, por meio de um 
movimento que promoveu as mais significativas mudanças na concepção das penas privativas de liberdade, na criação e 
construção de prisões organizadas para a correção dos apenados. 
 A partir dessa nova concepção, a punição passou a constituir-se em um método e uma disciplina. Eliminou-se da prisão 
o seu caráter de humilhação moral e física do sujeito. A lei penal passou a se propor a uma função de prevenção do delito e da 
readaptação do criminoso. 
 Para Foucault (1998) a finalidade da prisão deixou de ser então o de causar dor física e o objeto da punição deixou de 
ser o corpo para atingir a alma do infrator. A prisão torna-se como pena privativa de liberdade e constitui em uma nova tática da 
arte de fazer sofrer. 
 O autor também em seus estudos volta-se para as prisões observada sobre o prisma no qual coloca que para o Estado 
torna-se mais favorável vigiar do que punir, pois, vigiar pessoas e mantê-las conscientes desse processo é uma maneira para que 
estas não desobedeçam a ordem, as leis e nem ameacem o sistema de “normalidade”. 
 A prisão passa a fundamentar-se teoricamente no que hoje é: privar o indivíduo de liberdade para que ele possa 
aprender através do isolamento, retirá-lo da família, e de outras relações socialmente significativas, para levá-lo a refletir sobre 
seu ato criminoso, tornando então o reflexo mais direto de sua punição. 
 Quando tratamos da história da instituição prisional tratamos da origem do sistema penitenciário, como o próprio 
nome já faz uma referência à remissão de erros, à penitência, o pagamento, ou seja, o sistema penitenciário vem justamente 
disso da penitência, da remissão de uma ideia de pagar por aquilo que foi feito. 
 Até o século XVIII não existia a pena de privação de liberdade como forma de pena, mas sim como custódia apenas, a 
privação de liberdade era para garantir que o acusado não fugisse. Além de prover a garantia para criação de provas mediante a 
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Márcia Anita Donzelli 
 
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tortura. A tortura era uma forma legítima até então e as penas eram cruéis e desumanas. O acusado aguardava julgamento e a 
pena subsequente privado de sua liberdade em cárcere. Então o encarceramento era um meio e não um fim de punição de 
fato. 
 O século XVIII é um século marcante para a história das mudanças de pensamento, de concepção social, apenas no 
século XVIII a pena de privativa de liberdade passa a fazer parte do rol de punições. É somente no século XVIII, o século do 
Iluminismo, da revolução industrial,da Revolução Francesa que se teve uma alteração na interpretação do próprio direito penal 
e como passar do tempo o banimento das penas cruéis e desumanas. 
 É no contexto do século XVIII que a prisão passa a exercer um papel de punição de fato. E aí nós temos a “humanização das 
penas”. 
 Segundo Foucault, a mudança no meio de punição vem junto com as mudanças políticas da época com a queda do 
antigo regime feudal e a ascensão da burguesia no capitalismo, a punição deixa de ser um espetáculo público, já que daquele 
modo incentiva violência, e passa a ser uma punição fechada que segue regras rígidas. Portanto muda-se o meio de se fazer 
sofrer deixa de punir o corpo do condenado e passa-se a punir a sua alma segundo ficou essa mudança é um modo de acabar 
com as posições imprevisíveis e ineficientes do soberano sobre o condenado. Os reformistas concluem que o poder de julgar e 
punir deve ser melhor distribuído, pode haver proporcionalidade entre o crime e a punição já que o poder do estado é tipo o 
poder público. 
 Vejamos, as reformas passam ocorrer justamente como consequência da mudança na estrutura da sociedade, a partir 
do momento que nós temos no Antigo Regime, a monarquia absolutista derrubada por revolucionários de origem burguesa, a 
punição deixa de ser um espetáculo público, feito para agradar a população feito para que o soberano reafirmar seu poder 
sobre a sociedade e passa então acontecer locais específicos, nos Cárceres. 
 No fim do século XVIII começa a surgir os primeiros projetos do que viriam ser as penitenciárias, portanto quando 
falamos em instituição prisional, as penitenciárias no caso, o projeto só começa a surgir no finalzinho século XVIII. John Howard 
é um dos exemplos de pensadores que criticaram a realidade prisional. Ele viveu entre 1726 e 1790. Trata-se de um exemplo 
interessante porque após ser nomeado Xerife ele começa a analisar e avaliar a situação da Inglaterra. Ele conhece a prisão do 
seu Condado e decide conhecer a realidade outras prisões. Começa então a perceber que existe uma inadequação na loucura 
que permeia essa esfera, então ele escreve uma obra sobre as condições das prisões na Inglaterra. 
 Ao escrever essa obra sobre as condições da prisão na Inglaterra ele propõe uma série de mudanças as quais têm a 
ideia de criar estabelecimentos específicos a partir da nova visão que se tem sobre o cárcere, para nova concepção carcerária, 
com objetivo de criar um ambiente em que realmente só a Detenção aconteça e que não abarque outras finalidades. 
 Antes o prisioneiro ficava aguardando a punição, assim a prisão tinha um caráter temporário. Agora a prisão por si só é 
a punição. Antes o condenado ficava na prisão por que iria ser enforcado ou morto na guilhotina ou pelo fuzil. A prisão tinha um 
caráter temporário ou condenava aguardava o que viria depois agora não agora a prisão é propriamente a punição. Ocorreu 
uma transferência de finalidade. Antes era um meio e passa agora ser a finalidade. 
 O próximo Pensador que viria a contribuir imensamente para o sistema prisional é Jeremy Bentham (1748-1832). Entre 
suas contribuições para a reforma do sistema punitivo era adepto de uma punição proporcional, “a disciplina dentro dos 
presídios deve ser severa alimentação grosseira e a vestimenta humilhante”, mas todo esse rigor serve para mudar o caráter e 
os hábitos do delinquente. Em 1787 Bentham escreve “Panóptico”, concebido como um modelo de penitenciária. Trata-se de 
um conceito em que um vigilante consegue observar todos os prisioneiros sem que estes o vejam. A prisão seria uma estrutura 
circular com as células em sua borda E no meio vazio se encontraria a Torre de Vigia “onipresente”. 
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O SISTEMA PENSILVÂNICO, FILADÉLFICO OU CELULAR 
 
O modelo filadelfiano foi desenvolvido nos Estados Unidos em um período que se propagandeava a privação da 
liberdade como meio de “recuperar” o condenado. Movimentos promoveram a ideia de prisões mais humanas, a fim de 
estimular uma reforma penitenciária capaz de revolucionar a pena de prisão e a forma de executá-la (Melossi; Pavarini, 2006, 
p.187). 
O contexto histórico da época estava embasado nas seitas quakers que difundiam a função ressocializante das 
prisões, sendo consideradas “as protagonistas desta significativa ‘revolução’ no setor da política criminal” (Melossi; Pavarini, 
2006, p.187). Nesse cenário, a influência ética que exerciam sobre a sociedade, pressionou as autoridades a tomar providências 
para criação de um estabelecimento no qual “o isolamento celular, a oração e a total abstinência de bebidas alcoólicas seriam 
capazes de criar os meios para salvar tantas criaturas infelizes” (BARNES apud Melossi; Pavarini, 2006, p.187). 
Os reformadores acreditavam que o modelo filadelfiano seria a solução adequada para resolver as mazelas 
detectadas nos cárceres. No entanto, Melossi e Pavarini (2006) destacam que: 
[...] nenhuma perplexidade tenha ofuscado a mente destes reformadores, convictos como estavam de que o solitary 
confinement era capaz de resolver qualquer problema penitenciário; impedia a promiscuidade entre os detidos, que se revelava 
um fator criminógeno de efeito desastroso, além de promover, por meio do isolamento e do silêncio, o processo psicológico de 
introspecção que era considerado o veículo mais eficaz para o arrependimento (Melossi; Pavarini, 2006, p.189). 
Desse movimento “reformador” adveio o primeiro estabelecimento prisional a adotar o sistema filadélfico, qual seja o 
Walnut Street Jail, inaugurado em 1790 (Melossi; Pavarini, 2006, p.187). Tal sistema baseava-se: 
[...] no isolamento celular dos internos, na obrigação ao silêncio, na meditação e na oração. Este sistema garantia, em 
primeiro lugar, uma drástica redução com as despejas de vigilância; em segundo lugar, este rígido estado de segregação 
individual negava, a priori, a possibilidade de introduzir um tipo de organização industrial nas prisões (Melossi; Pavarini, 2006, 
p.188). 
O modelo filadelfiano foi a alternativa para o trabalho carcerário no período da produção manufatureira (SANTOS, 
2010, p. 462). Nas palavras de Melossi e Pavarini (2006): 
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O cárcere celular filadelfiano recoloca, em escala reduzida, o modelo ideal (ou seja, a ideia abstrata de como as 
relações de classe e de produção deveriam organizar-se no “mercado livre”) da sociedade burguesa do primeiro capitalismo. O 
trabalho não deve ser necessariamente produtivo, mas sim instrumental do projeto então hegemônico, da vontade de 
“transformar” o criminoso em ser subordinado. O modelo virtual de “ser subordinado” que a execução penitenciária fundada no 
solitary confinement propõe é aquele do trabalhador ocupado numa produção ainda de tipo artesanal, numa oficina, numa 
manufatura. Para esta finalidade, a educação para o trabalho deve se dar através de um processo produtivo essencialmente 
manual, onde o peso do capital fixo é quase nenhum (Melossi; Pavarini, 2006, p.198-199). 
De fato, em poucos anos de existência a Walnut Street Jail já apresentava falência, visto que “criminosos” de outras 
cidades eram enviados para lá enquanto não se construía estabelecimentos congêneres. Ocorre que as autoridades carcerárias 
não edificaram novas prisões, ocasionando a sua superlotação (Melossi; Pavarini, 2006, p. 187). 
Por essa razão, foram construídas duas novas prisões, quais sejam a Western Penitenciary, localizada em Pittsburgh, 
em 1818, seguindo o modelo panótico de Bentham, marcada pela estrutura de execução do isolamento absoluto, ficando 
proibido até mesmo o trabalho nas celas, ea Eastern Penitenciary, construída em 1829, que permitia o desenvolvimento de 
alguns trabalhos no interior da prisão (Bitencourt, 2011, p. 63). 
Desse modo, o sistema desenvolvido serviu como instrumento de dominação, sendo o discurso de melhorar as 
condições da prisão mero pretexto para implantar a ideologia da classe dominante (Melossi; Pavarini, 2006, p. 188). 
A partir de então a tortura era configurada de forma velada e silenciosa, não mais no corpo dos condenados e sim em 
suas mentes de maneira terapêutica (Melossi; Pavarini, 2006, p.189). Nesse sentido Hentig citado na obra de Bitencourt (2011) 
expõe que: 
Depois da dureza dos trabalhos forçados declarou-se, sem horror, como novo procedimento coativo a forçosa 
ociosidade. A tortura se refina e desaparece aos olhos do mundo, mas continua sendo uma sevícia insuportável, embora 
ninguém toque no apenado. O repouso e a ordem são os estados iniciais da desolação e da morte (Hentig apud Bitencourt, 
2011, p. 64). 
O sistema foi perdendo credibilidade nos Estados Unidos, quando se atentou para os prejuízos advindos do 
isolamento absoluto, que em primeiro lugar “privava o mercado de força de trabalho e deseducava os presos reduzindo sua 
capacidade de trabalho original” (Melossi; Pavarini, 2006, p. 190) e em segundo lugar foi considerado desumano, já que “elimina 
ou atrofia o instituto social, já fortemente atrofiado nos criminosos e porque tornava inevitável entre os presos a loucura ou a 
extenuação (por ananismo, por insuficiência de movimento, de ar etc.)” (FERRI apud Bitencourt, 2011, p. 66). 
Hodiernamente, a Alemanha, por exemplo, aplica um sistema penitenciário análogo ao filadelfiano, os condenados 
por terrorismo são deixados em constante isolamento (Bitencourt, 2011, p. 68). É inquietante ter conhecimento que apesar de 
terem transcorrido décadas ainda tal modelo é adotado, a verdade é que “o sistema penitenciário, apesar de todos os esforços 
para convertê-lo em instrumento de ressocialização, não pode deixar de cumprir o papel de eficaz instrumento de controle e 
dominação” (Bitencourt, 2011, p. 69). 
 
 O SISTEMA AUBURNIANO 
 
Na época da industrialização o modelo filadelfiano começou a decair, visto que a sociedade industrial necessitava de 
um sistema carcerário que possibilitasse o trabalho produtivo, o que não era possível com o trabalho individual desenvolvido no 
interior das celas, a nova era demandava um trabalho coletivo (SANTOS, 2010, p. 463). 
Desse modo, a nova realidade socioeconômica americana precisava de um novo sistema de controle social. Com 
efeito, o isolamento celular e a obrigação ao silêncio impediam a instauração das indústrias nas prisões, o que reduzia a 
produtividade carcerária, uma vez que os trabalhos desenvolvidos eram de caráter artesanal (Bitencourt, 2011, p. 64). Por outra 
vertente, perdurava a preocupação de ordem financeira, dado que ficava cada vez mais caro aprisionar (Melossi; Pavarini, 2006, 
p. 185). Por essas razões procurou-se um sistema mais econômico de administração, sendo eleito o modelo auburniano 
(Bitencourt, 2011, p. 64). 
Assim, o trabalho produtivo no cárcere foi introduzido novamente. O modelo auburniano pareceu a solução para as 
adversidades econômicas que o antecedente causava (Melossi; Pavarini, 2006, p. 190). O sistema auburniano era baseado no: 
[...] solitary confinement durante a noite e o common work durante o dia. O princípio do solitary confinement 
manteve, numa certa medida, uma influência não desprezível sobre as modalidades de reclusão, perdurando, ainda, a obrigação 
mais do que absoluta ao silêncio (às vezes, o sistema de Auburn aparece indicado como silent-systenn) no intuito de evitar 
contatos entre os internos e de obrigá-los a uma meditação forçada; foram também valorizadas positivamente as funções 
atribuídas à disciplina e á educação em geral. 
Em essência, a originalidade do novo sistema consistia na introdução de um tipo de trabalho de estrutura análoga 
àquela então dominante na fábrica. Chega-se a esse resultado gradativamente. Num primeiro momento, [prossegue o autor] 
permitiu-se ao capitalista privado assumir, sob a forma de concessão, a própria instituição carcerária, com a possibilidade de 
transformá-la, às suas expensas, em fábrica. Num segundo momento, aderiu-se a um esquema de tipo contratual, no qual a 
organização institucional era gerida pela autoridade administrativa, permanecendo sob o controle do empresário tanto a 
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direção do trabalho do trabalho quanto a venda da produção. Essa última etapa assinalou o momento da completa 
industrialização carcerária. As peculiaridades desse tipo de organização não se limitava apenas ao setor econômico, 
compreendendo também, mais especificamente, fenômenos como a educação, a disciplina e as modalidades no tratamento 
enquanto tal, efeitos, todos eles, da presença do “trabalho produtivo” no cumprimento da pena (Melossi; Pavarini, 2006, p. 
191). 
Nesse sentido, a primeira instituição a utilizar o modelo auburniano foi a penitenciária de Auburn, que deu nome ao 
sistema (Melossi; Pavarini, 2006, p. 190). No seu interior não era permitido a comunicação entre os presos, a exigência era o 
silêncio absoluto, Foucault (1987) relata que: 
O modelo de Auburniano prescreve a cela individual durante a noite, o trabalho e as refeições em comum, mas, sob a 
regra do silêncio absoluto, os detentos só podiam falar com os guardas, com a permissão destes em voz baixa. Referência clara 
tomada ao modelo monástico; referência também tomada à disciplina de oficina. A prisão deve ser um microcosmo de uma 
sociedade perfeita onde os indivíduos estão isolados em sua existência moral, mas onde sua reunião se efetua num 
enquadramento hierárquico estrito, sem relacionamento lateral, só se podendo fazer comunicação no sentido vertical. 
Vantagem do sistema auburniano segundo seus partidários: é uma repetição da própria sociedade. A coação é assegurada por 
meios materiais mas sobretudo por uma regra que se tem que aprender a respeitar e é garantida por uma vigilância e punições. 
Mais que manter os condenados “a sete chaves como uma fera em uma jaula”, deve-se associá-lo aos outros, “fazê-los 
participar em comum de exercícios úteis, obrigá-los em comum a bons hábitos, prevenindo o contágio moral por uma vigilância 
ativa, e mantendo o recolhimento pela regra do silêncio” (Foucault, 1987, p. 200). 
Nesse ínterim, além do rigoroso disciplinamento em que os presos estavam submetidos, destacava-se o ensino 
religioso difundido no cárcere com o intuito de que pela leitura da bíblia o “delinquente” alcançasse a “reabilitação” (Bitencourt, 
2011, p. 77). 
Vale registrar que o trabalho nas prisões demandava baixos custos, começando a competir com o trabalho livre. 
Nesses contornos, os sindicatos e comissões de trabalhadores reivindicavam medidas “contra a ameaça que a colocação das 
mercadorias produzidas pelos presos no mercado livre representava para sua organização” (Melossi; Pavarini, 2006, p. 203), 
causando o colapso do modelo auburniano. A esse respeito, Santos (2010) manifesta que os principais fatores para a falência do 
sistema foram: 
[...] dificuldades de renovação tecnológica dos processos industriais na prisão, oposição crescente de sindicatos e 
organizações operárias contra a ocorrência do trabalho carcerário, exploração predatória da força de trabalho cativo para 
ampliar a taxa de mais-valia, castigos desumanos por motivos disciplinares ou econômicos etc. impediram a transformação da 
penitenciária em empresa produtiva (SANTOS, 2010, p. 465). 
A exploração do trabalho e o controle social mais uma vez foram legitimados por uma sociedade que justificava a 
prisão com um suposto discurso humanitário e carismático,que pregava a privação da liberdade como meio eficaz para a 
“regeneração” dos indivíduos, que por infortúnio da vida nasceram desprovidos de posses. É dizer “o criminoso encarcerado 
representava o não proprietário encarcerado, mostrando o cárcere como instituição coercitiva para transformar o criminoso não 
proprietário no proletário não perigoso” (SANTOS, 2010, p. 465-466). 
 
O SISTEMA PROGRESSIVO 
 
A partir do século XIX a pena de prisão prevaleceu em relação às demais, a busca pela “ressocialização” do recluso 
chegou ao auge, para tanto se implantou o sistema progressivo das penas, que merece uma atenção especial, já que é adotado, 
com algumas modificações, pela estrutura penal contemporânea (Bitencourt, 2011, p. 79). 
Considera-se que o “apogeu da pena privativa de liberdade coincide com o abandono dos regimes celular e 
auburniano e a adoção do regime progressivo” (ABADÍA apud Bitencourt, 2011, p. 79). 
Foi após a Primeira Guerra Mundial que tal modelo se dissipou por diversos países, mormente na Europa (Bitencourt, 
2011, p. 79). O sistema consistia em: 
[...] distribuir o tempo de duração da condenação em períodos, ampliando-se em cada um os privilégios que o recluso 
pode desfrutar de acordo com sua boa conduta e o aproveitamento demonstrado do tratamento reformador [...]. A meta do 
sistema tem dupla vertente: de um lado pretende constituir um estímulo á boa conduta e à adesão do recluso ao regime 
aplicado, e, de outro pretende que esse regime, em razão da boa disposição anímica do interno, consiga paulatinamente sua 
reforma moral e a preparação para a futura vida em sociedade (Bitencourt, 2011, p. 79). 
Importante atentar para o fato de que as experiências pregressas levaram ao modelo progressivo atual. Desse modo 
vale analisar o legado deixado por alguns estabelecimentos que adotaram tal sistema na sua forma embrionária. 
Nesse sentido, podemos citar a Ilha de Norfolk, localizada na Inglaterra, lugar onde eram mantidos os “criminosos” 
considerados “perigosos”. Em 1840 foi implantado o mark system que supostamente “substituía a severidade pela benignidade 
e os castigos pelos prêmios” (Bitencourt, 2011, p. 80), embasando-se na contagem da pena levando em conta o bom 
comportamento em conluio com trabalho do recluso. Tal sistema funcionava nos moldes que seguem: 
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[...] media a duração da pena por uma soma de trabalho e de boa conduta imposta ao condenado. Referida soma era 
representada por certo número de marcas ou vales, de maneira que a quantidade de vales que cada condenado necessitava 
obter antes de sua liberação deveria ser proporcional à gravidade do delito. Diariamente, segundo a quantidade de trabalho 
produzido, creditava-se lhe uma ou várias marcas, deduzidos os suplementos de alimentação ou de outros fatores (Bitencourt, 
2011, p. 80). 
O sistema progressivo adotado na Inglaterra foi desenvolvido por Maconochie e consistiam três fases, quais sejam: 
inicialmente o recluso era mantido em isolamento celular diurno e noturno; em uma fase mediadora, o recluso era mantido 
trabalhando em comum, mas em silêncio absoluto; e no último momento lhe era concedido o livramento condicional 
(Bitencourt, 2011, p. 81). 
Outro registro notável da aderência ao sistema progressivo foi na Irlanda, que através de Crofton no ano de 1853 
idealizou um sistema cujo preso percorreria quatro fases para obter sua liberdade (Bitencourt, 2011, p. 81), sendo: a reclusão 
celular diurna e noturna; a reclusão celular noturna e trabalho diurno em comum; o período intermediário; e a liberdade 
condicional (Bitencourt, 2011, p. 81). 
A inovação de Crofton quando criou um período intermediário assemelha-se com o regime semiaberto aplicado hoje 
por alguns países, uma vez que o trabalho podia ser ao ar livre e deveria ser executado em estabelecimentos próprios 
(Bitencourt, 2011, p. 81). 
Vale contemplar a perspectiva acertada de Foucault (1987) sobre o sistema progressivo: 
Sob a forma, por exemplo, dos três setores: o de prova para a generalidade dos detentos, o setor de punição e o setor 
de recompensa para os que estão no caminho da melhora. Ou sob a forma das quatro fases: período de intimidação (privação 
de trabalho e de qualquer relação interior ou exterior); período de trabalho (isolamento mais trabalho que depois da fase de 
ociosidade forçada seria acolhido como um benefício); regime de moralização ("conferências" mais ou menos frequentes com os 
diretores e os visitantes oficiais); período de trabalho em comum. Se o princípio da pena é sem dúvida uma decisão de justiça, 
sua gestão, sua qualidade e seus rigores devem pertencer a um mecanismo autônomo que controla os efeitos da punição no 
próprio interior do aparelho que os produz. Todo um regime de punições e de recompensas que não e simplesmente uma 
maneira de fazer respeitar o regulamento da prisão, mas de tornar efetiva a ação da prisão sobre os detentos (Foucault, 1987, p. 
206). 
Também com o objetivo de alcançar a reforma moral do recluso destaca-se o sistema desenvolvido por Montesinos 
que considerava o trabalho como o melhor mecanismo para promover a “recuperação” do “delinquente”, a função terapêutica 
atribuída por ele ao trabalho contribuiu para o modelo progressivo hodierno, que mesmo sofrendo alterações, conserva 
características dessa época. (Bitencourt, 2011, p. 87). 
Buscando a produtividade no trabalho dos presos, considerava o incentivo financeiro uma arma eficaz para alcançar 
tal objetivo, além de servir como meio “ressocializador”. Ocorreu que, esses estímulos ao trabalho produtivo nas prisões 
geraram, mais uma vez, reclamações por parte dos trabalhadores livres que não aceitavam a competição com o trabalho 
desenvolvido no cárcere (Bitencourt, 2011, p. 87). Nesse sentido, Bitencourt (2011, p. 87) conclui que “o trabalho penitenciário 
enfrenta a triste sina de ter de ser ineficiente, marginal e improdutivo”. 
Para época o sistema progressivo foi considerado um avanço, visto que pelo menos amenizou as condições 
desumanas no cárcere e permitiu que a pena não fosse integralmente cumprida no “regime fechado”, isto é, era “menos pior” 
que os outros. 
No entanto, atualmente, o conceito retributivo do sistema progressivo está em crise (Bitencourt, 2011, p. 89). Sobre 
as limitações do modelo progressivo podemos assinalar que a prisão não possibilita nenhum benefício para os presos ou para a 
sociedade, visto que é ineficaz para “recuperar” o indivíduo. Ao revés através dela cresce “substancialmente as probabilidades 
de reincidência” (Bitencourt, 2011, p. 91). 
 
SISTEMA DE CORREÇÃO SISTEMA DE ELMIRA 
 
O reformatório de Elmira passa a utilizar o esporte como forma de conseguir recuperar os reclusos, que a partir de 
1876 passaram a fazer exercícios físicos diariamente. Mesmo com o rigoroso sistema de seleção para admissão no reformatório 
de Elmira, não foi possível evitar a superlotação. O número de reclusos chegou a 1500 e 1899 e o reformatório só possui a 500 
celas. Em 1915 o sistema de Elmira entrou em decadência, junto com outros sistemas existentes nos Estados Unidos. Um dos 
primeiros registros de superlotação tres vezes mais do que a sua capacidade foi do sistema de Elmira. 
 
SISTEMA BORSTAL 
 
O sistema Borstal surgiu na Inglaterra em 1902, quando um pequeno grupo de jovens condenados se deslocaram para 
a cidade de Nottinghamshire, onde construíram uma moradia, inclusive para os que viessem no futuro. Se assemelha ao sistema 
de Elmira em relação ao ser destinado e determinado grupo, no caso, jovens entre 16 e 21 anos de idade, que cometiam atos 
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infracionais. Ali era concebido o embrião do regime penitenciário aberto, onde a vigilância era reduzida propiciando maior 
contato com os familiares e amigos dando a volta a vida na sociedade livre mais fácil. 
Pois bem, o modelo progressivo compele o preso a apresentar comportamento “adequado”, para que assim possa 
atenuar sua pena, mostrando de forma gradativa sua “aptidão” a “reintegrar-se” a sociedade, isso depois de ter aprendido, com 
o lapso temporal que passou na cadeia, a conviver na sociedade com os “cidadãos de bem” sem causar mais frustrações. A 
insanidade reside em acreditar que o criminalizado aprenderá a viver em sociedade sendo retirado dela (ZAFFARONI, 2001, p. 
135). Zaffaroni assevera que a regressão é a característica principal da prisão explicando que “na realidade, o preso está 
submerso em um meio completamente artificial, introduzido em uma sociedade com valores que nada têm a ver com os da vida 
em liberdade e que parece uma escola de crianças grandes bastante complicada” (ZAFFARONI, 2012, p. 448). 
Enfim, é natural concluir que a pena de prisão não é um meio para resolver questões que estão ligadas a carências 
acarretadas pela ausência de políticas públicas, uma vez que os “governos vêm se rendendo à tentação de recorrer à polícia, aos 
tribunais e à prisão para estancar as desordens geradas pelo desemprego em massa, pela generalização do trabalho assalariado 
precário e pelo encolhimento da proteção social” (WACQUANT, 2011, p. 19). 
 
A HISTÓRIA DA PENA DE PRISÃO NO BRASIL 
 
Período Colonial 
O período do Brasil Colônia teve início em 1500. É de conhecimento geral que desse ano em diante nosso país foi 
explorado pela nação portuguesa. Sendo assim, para se falar em história da pena de prisão no Brasil é necessário nos 
remetermos ao direito dos nossos colonizadores, uma vez que foi o direito português que por muito tempo vigorou no Brasil 
(TELES, 2006, p. 26). 
Os colonizadores ao chegarem aqui e tomarem posse das terras dos nativos, sentiram-se legitimados para, como 
verdadeiros donos desse “novo mundo”, ditaram-lhes os rumos em todos os sentidos. 
Nesse sentido, o modelo de sistema penal daquela época previa a pena de morte e outras penas severas e 
desproporcionais: 
A pena de morte visava predominantemente produzir efeitos inibidores – repressivos dissuasórios. A sua aplicação, 
contudo, incidia mais sobre os crimes de lesa – majestade; vale dizer crimes políticos. Não nos esqueçamos da punição com 
pena de morte dos cabeças de rebeliões anticolonialistas no Brasil: Tiradentes, enforcado e esquartejado por participação na 
Conjuração Mineira, em fins do século XVIII; padre Roma, fuzilado aos olhos de seus filhos [...] (NEDER, 2009, p. 80-81) . 
Essas penas perduraram por longo período de tempo, em contrapartida tais ordenações continham punições 
extremamente brutais, como a pena de morte acima mencionada e a desigualdade de tratamento penal conforme o sexo e a 
posição social. 
Punições severas e cruéis, inexistência do princípio da reserva legal e do direito de defesa, penas arbitradas 
desproporcionalmente pelos juízes, e desiguais, conforme o status do apenado, e punição de delitos religiosos e absurdos, 
como a heresia e o benzimento de animais. Pena de fogo em vida, de ferro em brasa, de mãos cortadas, de tormentos, além, 
é claro, da transmissão da infâmia aos descendentes do criminoso, revelam o grau de crueldade e desumanidade desse 
direito (TELES, 2006, p.27). 
Feitas essas considerações preliminares, podemos discorrer sobre as prisões durante o período colonial. A esse 
respeito dispõe Aguirre (2009): 
Durante o período colonial, as prisões e cárceres não constituíam espaços, instituições que seus visitantes e hóspedes 
pudessem elogiar pela organização, segurança, higiene ou efeitos positivos sobre os presos. De fato, as cadeias não eram 
instituições demasiadamente importantes dentro dos esquemas punitivos implementados pelas autoridades coloniais. Na 
maioria dos casos tratava-se de meros lugares de detenção para suspeitos que estavam sendo julgados ou para delinquentes já 
condenados que aguardavam a execução da sentença. Os mecanismos coloniais de castigo e controle social não incluíam as 
prisões como um de seus principais elementos. O castigo de fato, se aplicava muito mais frequentemente por meio de vários 
outros mecanismos típicos das sociedades do Antigo Regime, tais como execuções públicas, marcas, açoites, trabalhos 
públicos ou desterro. Localizadas em edifícios fétidos e inseguros, a maioria das cadeias coloniais não mantinha sequer um 
registro dos detentos, das datas de entrada e saída, da categoria dos delitos e sentenças. Vários tipos de centro de detenção 
formavam um conjunto algo disperso de instituições punitivas e de confinamento: cadeias municipais e de inquisição, postos 
policiais e militares, casas religiosas para mulheres abandonadas, centros privados de detenção como padarias e fábricas – onde 
escravos e delinquentes eram recolhidos e sujeitados a trabalhos forçados – ou cárceres privados em fazendas e plantações nos 
quais eram castigados os trabalhadores indóceis [...]. Logo, o encarceramento de delinquentes durante o período colonial foi 
uma pratica social regulada simplesmente armazenar detentos, sem que se tenha implementado um regime punitivo 
institucional que buscasse a reforma dos delinquentes (Aguirre, 2009, p. 38). 
No Rio de Janeiro Colonial, gozavam de especial destaque a Cadeia Velha, edificada em 1672 para o recolhimento de 
sentenciados e desativada em 1808 para servir de hospedaria para os membros da Corte de Dom João VI, recém foragidos de 
Portugal, e a prisão do Aljube, construída nas imediações da Ladeira da Conceição, entre 1735 e 1740 (Roig, 2005, p. 29). 
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Não obstante a existência de cadeias, o sistema penal que vigorava no Brasil colônia era marcado por punições 
corporais, públicas de senhores sobre seus escravos e pela subsistência da pena de morte na forca, galés, desterro, degredo e 
imposição de trabalhos públicos forçados (Roig, 2005, p. 28). Zaffaroni e outros (2003) destacam acerca dos usos punitivos 
durante o período colonial o seguinte: 
Os usos punitivos do mercantilismo, concentrado no corpo do suspeito ou condenado - na reinvenção mercantil do 
degredo, nas galés, nos açoites, nas mutilações e na morte – encontram-se na colônia, praticados principalmente no âmbito 
privado. Além de constituir uma tradição ibérica, essa continuidade público-privado se beneficiava, em primeiro lugar, da 
incipiente e lerda implantação das burocracias estatais no Brasil colonial (ainda assim, atreladas aos ciclos produtivos e à tutela 
do monopólio); em segundo lugar, do escravismo, inexoravelmente acompanhado de um direito penal doméstico; e, em 
terceiro, do emprego de resquícios organizativos feudais ao início dos esforços de ocupação (capitanias hereditárias): na 
reminiscência feudal sobrevive a superposição entre o eixo jurídico privado (dominium) e o público (imperium) (ZAFFARONI et 
al., 2003, p. 411-412). 
Nessa conjuntura chegamosà conclusão de que no período colonial o Brasil não possuía um sistema carcerário. O 
certo é que as cadeias existiam tão somente para assegurar a aplicação da pena, era o lugar onde se aguardava a execução. 
Logo, manter o sujeito encarcerado não era uma pena, mas sim uma medida de garantir que o condenado recebesse a sua 
verdadeira penalidade. O fato é que mesmo não tendo o propagandeado objetivo que atualmente se emprega a ela, a prisão 
existia, e desde os seus primórdios nunca recebeu os “cuidados” que necessitava, além do mais sempre foi sinônimo de 
violência e descaso, lugar em que os menos favorecidos eram deixados a própria sorte. O que curiosamente se observa até a 
presente data. 
 
Período Imperial 
Após a proclamação da República em 1822, no Brasil iniciou-se uma nova ordem jurídica (CRISTIANI, 2010, p. 403). 
Enquanto não se organizava um novo Código continuaram vigentes as Ordenações Filipinas, confirmadas pela Assembléia 
Constituinte do Brasil, perdurando até 1830, quando foi sancionado por D. Pedro o Código Criminal do Império (ZAFFARONI et 
al., 2003, p. 423). 
Em 1824 foi outorgada a primeira Constituição brasileira, que abordava garantias e direitos individuais inspirados 
no movimento iluminista que inebriava boa parte do mundo na época. Zaffaroni e outros (2003) a descrevem como 
contraditória: 
A constituição de 1824 mantivera a escravidão, sob a fórmula circunloquial de garantir o direito de propriedade em 
toda sua plenitude (art. 179, inc. XXII). A contradição entre a condição escrava e o discurso liberal era irredutível [...]. De outro 
lado o tratamento dos conflitos aguçados pela crise fará o projeto liberal de estado refluir para um projeto policial, num 
movimento de centralização política que explicitamente se veiculará através do poder punitivo, notadamente do processo penal 
(ZAFFARONI et al., 2003, p. 424). 
Em 1830 foi sancionado o Código Criminal do Império. A nova legislação trouxe consigo conflitos de interesses, de 
um lado as ideias de base iluminista e do outro a escravidão: 
A compreensão da programação criminalizante que teve seu núcleo no Código Criminal do Império do Brasil, de 1830, 
bem como do sistema penal montado a partir dela, pode ser facilitada pela análise de dois grandes eixos, no primeiro dos quais 
encontramos a contradição entre o liberalismo e a escravidão, e no segundo movimento político de descentralização e 
centralização, que se valeu intensamente do processo penal. Quando se assenta a poeira dos tensos episódios que assinalam a 
independência, ascende ao poder do novo estado a classe mais diretamente interessada na conservação do regime: os 
proprietários rurais, que se tornam sob o império a força política e socialmente dominadora. Paralelamente à decadência do 
nordeste, a cultura do café no sudeste faz este produto ultrapassar o açúcar e o algodão nas exportações e concentra 
geograficamente riqueza e poder político, prorrogando a demanda de mão-de-obra escrava (ZAFFARONI et al., 2003, p. 423). 
Extrai-se do trecho acima que mesmo com a independência, no Brasil Império manteve-se tanto a monarquia 
quanto a escravidão, como preleciona Aguirre (2009): 
Ainda que os reformadores de viés liberal tenham podido implementar uma série de medidas tendentes a criar um 
sistema judicial moderno, estes tiveram um impacto limitado em uma sociedade organizada em função de drásticas divisões 
sociolegais (livres x escravos). Os métodos policiais e punitivos, como vários estudiosos enfatizaram, objetivavam, sobretudo, 
garantir a manutenção de ordem social, laboral e racial da qual a escravidão constituía elemento central. Os métodos e 
estatísticas de perseguição policial e detenção em áreas de produção de café e açúcar, por exemplo, refletiam a necessidade de 
garantir a força de trabalho e o controle social sobre as populações negras escravas e livres (Aguirre, 2009, p. 49). 
As manifestações liberais que aconteciam no mundo influenciaram, ao menos no texto, o Código Criminal, dando 
início à aplicação da pena de privação de liberdade em substituição as penas corporais, pelo menos quando se tratava de 
“criminosos” livres (TELES, 2006, p. 28). Vejamos: 
Além dos castigos corporais infligidos aos escravos pelos senhores e seus prepostos, após 1830, com a entrada em 
vigor do Código Criminal do Império – em caso de condenação à prisão – enquanto aos libertos e livres, pelo menos em tese, 
cabiam as então modernas formas de punir (reeducar e ressocializar), aos cativos continuava reservada a pena de açoites. 
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Pena esta que, em casos extremos, de até oitocentos açoites, era caracterizada pelos práticos e cirurgiões que as 
acompanhavam como morte com suplício – típica punição do Antigo Regime (FERREIRA, 2009, p. 179- 180). 
O Código Criminal ainda contemplava a pena de morte, as penas de galés e de degredo, que eram mais 
direcionadas para os escravos, porém a pena fundamental do novo sistema penal passa a ser a de prisão: 
O arsenal das penas estabelecido pelo Código de 1830 compunha-se da morte na forca (artigo 38); galés (artigo 44); 
prisão com trabalho (artigo 46); prisão simples (artigo 47); banimento (artigo 50); degredo (artigo 51); desterro (artigo 52); 
multa (artigo 55); suspensão de emprego (artigo 58); perda de emprego (artigo 59). Para os escravos, havia ainda a pena de 
açoite, caso não fossem condenados à morte nem às galés. Depois do açoite, o escravo deveria ainda trazer um ferro, segundo a 
determinação do juiz (MOTTA, 2011, p. 78). 
Dessa forma, mesmo diante do discurso de índole liberal, o sistema penal brasileiro ainda estava atrelado à 
escravidão e submetido às vontades dos grandes proprietários de terra. Tanto a Constituição quanto o Código Criminal 
previam penas desiguais e cruéis aos escravos, e era nessa conjuntura que a pena de prisão era aplicada, nas palavras de 
Aguirre: 
As prisões e o castigo foram usados, nesse contexto, fundamentalmente para promover a continuação do trabalho 
escravo orientado à economia de exportação. Um reformador de prisões culpou a “escravocracia” pela lentidão no processo de 
reforma carcerária na Bahia, onde a correção privada imposta aos escravos e outros trabalhadores continuava sendo a forma 
punitiva preferida tanto por autoridades como pelos proprietários de escravos (AGUIRRE, 2009, p. 49). 
Outrossim, subsistiam duas categorias de condenação, quais sejam a pena de prisão com trabalho e a pena de prisão 
simples. Nesse sentido, vejamos: 
A pena de prisão com trabalho era executada dentro das prisões e o trabalho desenvolvido diariamente, na 
conformidade das sentenças e do regulamento das prisões (art. 46). Podia ser substituída pela prisão simples enquanto não 
fossem estabelecidas as prisões adequadas para o seu cumprimento, devendo ser acrescida de sexta parte (art. 49). A pena de 
prisão simples era cumprida nas prisões públicas pelo tempo determinado na sentença (art. 47). Se a pena não fosse superior a 
seis meses poderia ser cumprida em qualquer prisão no lugar da residência do condenado ou outro lugar próximo, devendo a 
sentença conter tal determinação (art. 48) (SILVA, 1998, p. 31). 
Apesar da pena de prisão ter sido adotada no Código Penal de 1830, só foi colocada em prática a partir de 1850 com a 
inauguração da Casa de Correção da Corte do Rio de Janeiro, considerada a síntese da legislação punitiva da época, já que o 
sistema penal era visto como inadequado pelos que defendiam a pena de prisão, uma vez que sentiam o Brasil atrasado em 
relação ao “progresso” dos outros países. Mas a realidade é que o estabelecimento prisional serviu para alojar os alvos socia is 
do sistema penal da época (Roig, 2005, p. 37-38). Bretas (2009), acerca da casa de correção narra que: 
Esta prisão era uma irônica personificação dos sonhos dos reformadores. Planejadanos anos de 1830 pela Sociedade 
Defensora da Liberdade e Independência Nacional e baseada no modelo pan-óptico, nunca foi concluída. A primeira ala foi 
inaugurada em 1850, tornando-se a Casa de Correção. A segunda foi construída alguns nos depois e reorganizada como outra 
prisão, a casa de detenção, enquanto as outras alas nunca foram construídas (BRETAS, 2009, p. 190). 
A promulgação do Código Criminal e as diretrizes adotadas pela Constituição fomentaram a reforma prisional, 
tornando a pena de prisão a punição predominante entre as medidas penais da época e dando a ela as seguintes atribuições: 
Quais são os fins da prisão segundo os reformadores? Os fins de uma prisão vêm a ser três: custódia segura, 
reforma e castigo. Os antigos calabouco̧s e os grilhões são considerados como expediente dos tempos bárbaros, e a violência 
fiśica como meio de punição deve ser substituída pelo sistema de uma contińua vigia sobre o preso, invencã̧o de um destes 
filósofos ardentes pela causa da humanidade. Um desses “gênios beneficentes” era o “venerável J. Bentham” (MOTTA, 2011, p. 
106). 
A realidade constatada nos cárceres no período imperial era diversa da sugerida pelas legislações, existiam diversos 
problemas como descreve Roig (2005): 
Com o advento do período imperial restaram como prisões civis da Corte a Prisão de Santa Bárbara, a prisão da Ilha 
das Cobras, o Calabouço e o Aljube. Em todas elas cumpre ressaltar, vigorava a perniciosa e indiscriminada combinação de 
presos de diferentes espécies. 
A primeira das prisões, situada na Ilha de Santa Bárbara, destinava-se aos “criminosos e condenados de crimes mais 
atrozes, e devo dizer alguns já tão incorrigíveis, que fazem necessária uma casa forte, onde estejam insulados, percam a vontade 
de fuga e arrombamento e não acabem de contaminar e perder os que ainda não estão nesse último grau de depravação”. 
Embora dotada de condições menos precárias que as demais, a prisão de Santa Bárbara se localizava muito distante 
da cidade, dificultando a visitação e, consequentemente, a provisão de gênero aos reclusos [...]. Outro revés enfrentado pelos 
reclusos encontra-se relatado em ofício de 15 de fevereiro de 1842, enviado a Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça por 
João Thomaz Coelho, então administrador da Ilha de Santa Bárbara, informando que a iluminação em toda cadeia fora cortada 
por determinação de chefe de polícia. Por sua vez, a prisão da Ilha das Cobras, erigida onde hoje funciona o Arsenal da Marinha, 
teve suas masmorras construídas pelos padres jesuítas, destinando-se inicialmente ao recolhimento de militares. Porém a partir 
de 1834, diante da extrema carência de estabelecimentos prisionais na capital do Império, também passou a abrigar presos civis 
e escravos (Roig, 2005, p. 30-31). 
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A prisão denominada Calabouço era destinada aos escravos fugitivos, que quando apanhados, eram enviados para lá 
com o intuito de serem castigados: 
[...] foi edificado no interior da Fortaleza de São Sebastião, no Morro do Castelo, reservando-se aos escravos fugitivos, 
capturados por caçadores, que esperavam a vinda de seus donos para reclamá-los, aos escravos que deveriam ser “corrigidos 
com uma temporada na prisão” e principalmente aos escravos, em geral fugitivos, enviados por seus proprietários para a 
expiação da pena de açoites – em quantidade determinada por estes – e posterior imposição de ferros, com a permanência no 
cárcere pelo tempo igualmente fixado pelos senhores, nos termos do artigo 60 do Código Criminal de 1830. Nesse momento, 
percebe-se, o poder público ainda se reportava ao senhor para fins de graduação das punições, imiscuindo as esferas penais 
públicas e privadas (Roig, 2005, p. 32). 
Em se tratando das condições inumanas do cárcere destaca-se o Aljude, considerado um testemunho concreto da 
transformação do prisioneiro em “vítima de uma justiça despótica” (MOTTA, 2011, p. 92). No que tange sua estrutura 
apresentava-se numa situação deplorável, pois não havia separação entre os prisioneiros e as condições de higiene eram 
péssimas. Foi apontado por Motta (2011, p. 91) como “um misto de repugnância moral e física: mistura de acusados com 
criminosos, de acusados com vítimas de calúnias. A prisão é um depósito de todos os vícios, um antro infernal nela tudo se acha 
confundido”. 
Concomitante as construções da casa de correção aumentavam os movimentos em prol da abolição da escravatura, 
que resultaram na proibição ao tráfico de escravos (1851), na Lei do Ventre Livre (1871), na Lei dos Sexagenários (1885) e na Lei 
Áurea (1888) (Morais, 2012, p. 04). 
É digno de nota que as prisões após a abolição da escravatura se apresentavam “como uma resposta ás vicissitudes e 
ameaças sofridas pela ordem escravista” (Roig, 2005, p. 39). Nesse sentido, Roig (2005) afirma que: 
[...] o sistema de controle disciplinar carcerário no Brasil teve seus contornos no âmago da sociedade escravista 
brasileira do século XIX, em especial durante o começo da expansão cafeeira. Muitos eram os focos de tensão e de ameaça à 
hegemonia do modelo cafeeiro insurgente, destacando-se os interesses ingleses contrários ao tráfico intercontinental, os 
plantadores escravistas, os produtores interioranos, sobretudo do Sul de Minas, ligados ao abastecimento da cidade do Rio de 
Janeiro, os colonos das demais regiões, os escravos insurretos e a malta urbana (ROIG, 2005, p. 35). 
Fazendo uma análise do Brasil no período do Império, tomando como base as informações apresentadas, 
concluímos que a conjuntura penitenciária brasileira não divergiu muito do período colonial, sendo que as mudanças 
ocorridas foram para pior. Sobre a estagnação do sistema carcerário Morais, citado na obra de Roig (2005), arremata: 
Nas três épocas sucessivas do Brasil – Colônia, Brasil Reino – Unido e Brasil – Império incipiente, as prisões não 
obedeceram a qualquer princípio de ordem, de higiene, de moralização. Muitas das monstruosidades com que aqui deparou D. 
João VI permaneceram durante a sua estadia e atravessaram o primeiro reinado. E os melhoramentos, depois adoptados, não 
passaram de paliativos. Nos primeiros anos do século XIX, confundiam-se, em certas prisões do Brasil, paisanos e militares, 
indivíduos processados e condenados por delitos comuns, presos por qualquer motivo político, presos por nenhum motivo 
declarado. Não sendo, como não era, propriamente, empregada a prisão para modificar a índole dos, nella, detidos, 
desinteressava-se a publica administração do seu regime interno, entregue ao bel-prazer do carcereiro (MORAIS apud Roig, 
2005, p. 35) (sic). 
Diante do exposto, as muralhas das prisões escondiam as vítimas do sistema prisional, a ira do poder punitivo 
estava voltada novamente para os escravos. A prisão permanecia na profunda indiferença, porém mantinha-se firme por 
possuir várias “utilidades”, nesse momento da história, era útil para assegurar a escravidão e necessária para satisfazer a 
economia, que precisava dos escravos para se sustentar. 
 
Período Republicano 
A República foi proclamada em 15 de novembro de 1889, com o golpe militar de Marechal Deodoro da Fonseca, o 
governo teve pressa na elaboração de um novo Código Criminal, assim em 1890 foi criado o Código Penal dos Estados Unidos 
do Brasil (TAKADA, 2010, p. 03). 
O processo ideológico que embasou a elaboração do novo Código tinha suposta base científica: 
No discurso deste novo sistema penal, a inferioridade jurídica do escravismo será substituída por uma inferioridade 
biológica; enquanto a primeira, a despeito de fundamentos legitimantes importados do evolucionismo, podia reconhecer-se 
como mera decisão de poder, a segunda necessita de uma demonstração científica.Neste sentido, poderíamos afirmar que o 
racismo tem uma explicável permanência no discurso penalístico republicano, que se abebera nas fontes do positivismo 
criminológico italiano e francês para realizar as duas funções assinaladas por Foucault: permitir um corte na população 
administrada, e ressaltar que a neutralização dos inferiores “é o que vai deixar a vida em geral mais sadia; mais sadia e mais 
pura” (Zaffaroni, 2003, p. 443). 
Vigorava no Brasil um pensamento positivista com arrimo no discurso científico. O foco do poder médico-policial 
era eliminar tudo e todos que representassem uma ameaça para a segurança do Estado. Nessa conjuntura se dissipou a 
intervenção higienista, trazendo a figura dos “doentes mentais”, influenciando as decisões judiciais da época e contribuindo 
para a criação de manicômios judiciários, que ainda podemos constatar na atualidade (Zaffaroni, 2003, p. 443). 
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O novo Código Criminal de 1890 previa a pena privativa de liberdade como o centro do sistema penal, seja pela 
prisão disciplinar, pelo trabalho obrigatório, pelo estabelecimento agrícola, pela reclusão em fortalezas ou pela prisão celular 
(MOTTA, 2011, p. 295). 
Ademais, no que tange a “arquitetura” prisional o Código Penal da República “adotou o sistema de Filadélfia, ou de 
Pensilvânia combinado com o auburniano e modificado pelo método irlandês” (SILVA, 1998, p. 35). 
Dentro desse contexto, os marginalizados pelo Código Penal Republicano eram os capoeiras, os imigrantes, as 
prostitutas, os vadios, ébrios e os afrodescendentes. Eram eles os eleitos a ocupar as vagas do sistema carcerário brasileiro 
(MORAIS, 2012, p. 06). É notório que o Código tratou de direcionar os tipos penais para as classes que o governo queria 
manter sob seu domínio. Nesse sentido, vejamos: 
Com a República, os ventos políticos sopraram na direção da criação de um arcabouço jurídico que fosse condizente 
com as demandas da Federação. De imediato, o código penal republicano, de 1890, tratou de instituir tipos penais que 
permitissem o controle e a ordenação das classes perigosas pelos governantes (MORAIS, 2012, p. 06). 
Em 1891 adveio a Constituição Republicana, que, ao menos no texto, extinguiu as penas de galés e de banimento e 
limitou a pena de morte, que só poderia ser aplicada em tempo de guerra e trouxe na sua redação a função ressocializadora 
da pena de prisão (MORAIS, 2012, p. 06): 
Se, no plano teórico, tais constituições eram tributárias do ideário transformador da punição, na prática, desde o 
início, coexistiram com um sistema prisional precário. Afinal, no caso brasileiro, o abismo existente entre a legislação formal e as 
práticas punitivas empregadas pelas agências repressoras tem sido uma característica que perdura desde o período colonial, 
atravessa o império e se prolonga pelo regime republicano. 
Portanto, o regime penitenciário adotado pela Constituição era de caráter correcional, a pena de prisão era 
utilizada como meio de regeneração da “delinquencia”, na forma de pensar da época o encarceramento supostamente 
resolveria o problema da criminalidade (MOTTA, 2011, p. 294). O que não difere da concepção atual sobre o cárcere. 
A Primeira República encerrou-se contando com uma legislação formal, porém a realidade dos cárceres era diversa do 
que o ordenamento jurídico determinava, visto que não foi efetuado o projeto punitivo proposto, como, por exemplo, a 
construção de novos estabelecimentos prisionais, fato que ocasionou a superlotação nos que já existiam (MOTTA, 2011, p. 294). 
Em 1934 foi promulgada a Constituição da República Nova, que concedeu a União competência exclusiva para legislar 
a respeito do sistema carcerário. O resultado veio em 1935, com a edição do regulamento penitenciário, elaborado para tentar 
administrar as adversidades em que se encontravam as prisões, já que a falência da pena privativa de liberdade era evidente, 
prova disso é a reincidência que já aparecia naquela época (MAIA, 2009, p. 117). Desse modo, “criava-se um ambiente 
reprodutor da delinquência dentro do presídio” (MAIA, 2009, p. 145). 
Entrementes, em 1937 o quadro político brasileiro sofreu profundas alterações, acarretando modificações nas leis 
penais. O começo do Estado Novo foi marcado pela aprovação, por Vargas, da Constituição Polaca, de cunho autoritário, que 
foi direcionada a satisfazer os interesses políticos, utilizando a pena de prisão para conter os inimigos do governo (MORAIS, 
2012, p. 07). 
Em 1938, Vargas confiou a Machado à elaboração de um novo Código Penal. No entanto, o projeto foi submetido a 
uma comissão revisora composta por Nelson Hungria, Roberto Lyra, Narcélio de Queiroz e Vieira Braga, sendo que foi 
apresentado em 1940 e promulgado em 1942 (Zaffaroni; PIERANGELI, 2008, p. 194). 
A pena de prisão apresentou-se com o objetivo de estimular a “regeneração” do condenado. Para tanto 
considerou-se o sistema progressivo como o mais adequado para alcançar o fim almejado. 
A prisão torna-se, então, essência do sistema punitivo. A finalidade do encarceramento passa a ser isolar e recuperar 
o infrator. O cárcere infecto, capaz de fazer adoecer seus hóspedes e matá-los antes da hora, simples acessório de um processo 
punitivo baseado no tormento físico, é substituído pela ideia de um estabelecimento público, severo, regulamentado, higiênico, 
intransponível, capaz de prevenir o delito e ressocializar quem o comete. 
É uma mudança histórica gigantesca, ainda que muitas vezes essas últimas características só estejam asseguradas no 
papel, por isso, geralmente, o desenvolvimento da prisão é associado ao humanismo. Na perspectiva marxista, o surgimento da 
prisão acontece não por um propósito humanitário, mas pela necessidade de domesticar setores marginalizados pela nascente 
economia capitalista. 
Havia um contingente de homens expulsos do campo e ainda despreparados para assumir seu papel nas cidades. Uma 
classe perigosa perambulava pelas estradas e a prisão aparecia como mecanismo de controle social. O sistema punitivo 
moderno foi construído a partir da segunda metade do século XVIII. Devido a uma série de críticas à realidade da época, propõe-
se a criação de estabelecimentos especiais para o cumprimento das penas. 
Sugere-se alguns critérios de separação de presos, o isolamento noturno para o condenado e a religião como 
instrumento regenerativo. Defende-se, também, a criação de mecanismos de controle externo, hoje consagrados em todo o 
mundo, pelo menos no plano formal (a administração de uma prisão é coisa importante para abandoná-la completamente aos 
cuidados de um carcereiro). 
A contribuição do pensador inglês Jeremy Bentham (1748-1832) é decisiva. Além de antecipar traços das atuais 
propostas de privatização do sistema punitivo, sugere a adoção de um castigo moderado, com disciplina severa, alimentação 
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grosseira e vestimenta humilhante, tudo com o objetivo de recuperar o criminoso. É uma grande qualidade da pena, que pode 
servir para a emenda do delinquente, não só pelo temor de ser castigado novamente, mas também pela mudança em seu 
caráter e seus hábitos. 
Em 1791, Bentham proporia a construção do Panóptico, um prédio circular em torno de uma torre, por onde o 
interior da cela de cada detento poderia ser visualmente controlado por vigilância. O edifício era como uma colmeia, cujas 
pequenas cavidades poderiam ser vistas todas de um ponto central, surgindo, assim, as bases arquitetônicas das prisões 
modernas e uma chave para compreender o próprio processo de erosão da privacidade, cada vez mais profundo. 
 
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