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UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO CARLOS EDUARDO GOMES MARQUES PINTO EMERSON GONÇALVES SILVA GEOVANE TIENGO DE PAULA JÉSSICA DOMINGUES DOS SANTOS LETÍCIA CRISTOBAL ZANI RICARDO ALMEIDA PAIÃO TÉCNICAS RETROSPECTIVAS (TEORIA) – TR-T Trabalho 01 – John Ruskin SÃO PAULO 2018 1 CARLOS EDUARDO GOMES MARQUES PINTO EMERSON GONÇALVES SILVA GEOVANE TIENGO DE PAULA JÉSSICA DOMINGUES DOS SANTOS LETÍCIA CRISTOBAL ZANI RICARDO ALMEIDA PAIÃO TÉCNICAS RETROSPECTIVAS (TEORIA) – TR-T Trabalho 01 – John Ruskin Orientadora: Profª Fernanda Craveiro Cunha SÃO PAULO 2018 2 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Fachada do museu de Oxford 19 Figura 2 – Pôr do Sol de Monte Rosa 20 Figura 3 – Verdadeiro e falso grifos: medieval e clássico 21 Figura 4 – Primeira topografia simples 21 Figura 5 – Segunda topografia Turniana 22 Figura 6 – Quivi Trovammo: o dragão de Jardins das Hespérides 22 Figura 7 – Hesperid Aeglé 22 Figura 8 – Janelas da quinta Ordem 23 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................ 4 2 JOHN RUSKIN............................................................................ 5 2.1 A História de John Ruskin........................................................ 5 2.2 A produção e evolução de suas teorias.................................. 6 2.3 Principal trabalho realizado em edifício.................................. 19 2.3.1 Museu de História Nacional da Universidade de Oxford............. 19 2.4 Principais trabalhos realizados como crítico......................... 19 2.4.1 Pintores Modernos (Modern Painters) – Volumes I e II.............. 20 2.4.2 Pintores Modernos (Modern Painters) – Volumes III e IV........... 21 2.4.3 Pintores Modernos (Modern Painters) – Volume V.................... 22 2.4.4 As pedras de Veneza (Stones of Venice)................................... 23 2.4.5 As Sete Lâmpadas da Arquitetura (The seven lamps of Architecture)............................................................................ 24 4 ANÁLISE CRÍTICA..................................................................... 27 REFERÊNCIAS.......................................................................... 29 4 INTRODUÇÃO John Ruskin foi escritor, pintor, crítico artístico, professor e pensador inglês nascido em 8 de fevereiro de 1819, em Londres. Seu pensamento se ligava ao Romantismo e também ao Classicismo e com admiração ao Medievalismo. Na sua definição de restauração, um dos seus pensamentos mais estudados por suas gerações futuras, mostra que os momentos e edifícios não devem ser interferidos, pois seria um sinônimo de destruição do mesmo e de quem o construiu. Sua importância na sociedade inglesa do século XIX não se limitou apenas ao seu trabalho exposto mais também pelo seu posicionamento de revolta e oposição em relação às forças da industrialização. 5 2 JOHN RUSKIN 2.1 A História de John Ruskin Considerado o principal dos teóricos da preservação do século XIX na Inglaterra e um dos mais controversos da época, John Ruskin viveu entre 1819- 1900 no auge do poderio econômico militar. Nascido de uma família escocesa, era filho de um comerciante, o que contribuiu para que desenvolvesse um caráter mercantil. Já sua mãe era uma religiosa severa que era extremamente devotada o seu filho. Foi descrito como inimigo da industrialização, e um dos maiores exponentes da crítica romântica, onde tinha um cunho socialista e debatia assuntos como o capitalismo industrial, desigualdade social, crescimento urbano e problemas ambientais, que tiveram uma contribuição para reformas sociais e urbanísticas no futuro. Além disso possuía um grande interesse por arte e refletiu sobre o papel da arquitetura, e sua preservação. A sua forma independente de pensar, talvez possa ser justificada pela sua infância, que foi um tanto quanto solitária, o que fez com que tivesse que se entreter sozinho passando a observar as coisas que o cercava, desde a estampa de um tapete até os tijolos das casas vizinhas. Teve uma educação particular e não frequentou a escola oficialmente até os quinze anos, o que não fez com que deixasse de ter contato com grandes escritores como Shakespeare. Mas sem duvida desenvolveu um profundo conhecimento da Bíblia, oque acabou influenciando em todos os seus escritos futuros onde fazia frequentes citações da mesma. Mais tarde essa caraterística foi criticada por ele mesmo. O teórico teve sua formação acadêmica na Universidade de Oxford, porém não teve um grande destaque em sua trajetória universitária, que depois de encerrada em 1842, deu lugar ao trabalho como artista e crítico de arte, que acabou resultando no livro Modern Painters. Após realizar várias viagens ao continente europeu com foco na Itália, escreveu e publicou dois dos seus livros de maior prestígio, sendo eles, As Sete Lâmpadas da Arquitetura e As Pedras de Veneza. 6 Nos anos de 1860, Ruskin iniciou uma nova fase na sua carreira, onde suas ideias se expandiram de crítico de arte para o campo político e socialista. Ele passou a defender questões como: ensino público obrigatório, seguro desemprego e etc. A partir daí começou a se dedicar de forma interativa e financeira em causas sociais, entre elas pode-se destacar: Giulda de São Jorge que é uma organização social e industrial, da qual ele doou 7000 libras para a compra de terras, moinhos e equipamentos. Ele também colaborou para a fundação de um museu de arte e ciência em Sheffield. Em 1869 sua vida voltou a se cruzar com a Universidade de Oxford, onde foi admitido como professor. Trabalhou por 10 anos na instituição, até que começou a apresentar seus primeiros sintomas de problemas de saúde mental em 1879 que viriam a se tornaram recorrentes, fazendo-o abandonar a carreira, na qual em 1883, Ruskin tentou retornar, porem ficou apenas um ano, abandonando a carreira novamente por motivos de saúde. Ele se envolveu em diversas polêmicas graças à sua maneira peculiar, intensa e radical de expressar suas ideias. Um exemplo disso foi quando se recusou a aceitar uma medalha de ouro que lhe foi conferida pelo RIBA Roya Institute of British Architects, por suas atividades de preservação, ele a recusou por não concordar com a conduta do instituto. Apesar de todas as polêmicas, sua obra sempre obteve grande reconhecimento e prestígio de tal forma que a venda dos seus livros era sua principal fonte de renda já no final de sua vida, quando a herança que havia recebido do seu pai já tinha se esgotado. 2.2 A produção e evolução de suas teorias Como poeta, desenhista, escritor, sociólogo e crítico, Ruskin desenvolveu trabalhos variados em diversos assuntos incluindo análises de obras e críticas sobre elas. Um dos ramos críticos que mais se concentrou foi a arquitetura, pois no seu modo de ver e pensar, a arquiteturaera a concepção mais nobre de uma expressão de arte humana. 7 É como centralizadora e protetora dessa influência sagrada, que a Aquitetura deve ser considerada por nós com a maior seriedade. Nós podemos viver sem ela, e orar sem ela, mas não podemos rememorar sem ela. Como é fria toda a história, como é sem vida toda fantasia, comparado àquilo que a nação viva escreve e o mármore incorruptível ostenta! - quantas páginas de registros duvidosos não poderíamos nos dispensar em troca de algumas pedras empilhadas umas sobre as outras! A ambição dos Consultores da velha Babel volta-se diretamente para esse mundo apenas dois fortes vencedores do esquecimento dos homens, Poesia e Arquitetura e a última de alguma forma inclui a primeira, e é mais poderosa na sua realidade: é bom ter alcance não apenas o que os homens pensaram e sentiram mas o que suas mãos manusearam, e sua força forjou, e seus olhos contemplaram durante todos os dias de sua vida. A lâmpada da memória. JONH RUSKIN (2008) É com essa força e visão de expressão que baseia sua crítica descrevendo suas teorias sobre o que é, e como se deve ver a arquitetura. No preceito máximo de desenvolver uma concepção de lógica e de razão para estruturar temas como arquitetura, pintura, política econômica, religião e vários outros temas, o autor, John Ruskin se baseia muito em aforismos, pois era muito ligado a estudos bíblicos, tomando sempre suas inclinações críticas para a ética e para o moralismo. Como verificado em estudos feitos por Bernadete Oliveira Marantes em seu artigo científico notamos que Ruskin teve inclinações religiosas desde sua infância. A educação dada por sua mãe o impregnou “com um senso de missão, um desígnio consagrado ao serviço de Deus”, e a formação religiosa do crítico não pode ser deixada de lado quando se revisa seu pensamento... Periódico da Usp Bernadete O. Marantes. Portanto este período de sua vida pessoal foi de vital importância para a formulação de seus pensamentos e, portanto, também de suas obras. Em sua educação severa Ruskin teve notadamente influência de livros literários de autores como Scott, Pope, Shakespeare e outros, tornando-o adepto do Romantismo. Devido a esta influência quando criança e adolescente, ele seguia a ideologia romanista, movimento esse ideológico e literário do final do 8 século XVIII até os meados do século XIX, que lhe levou a dar ênfase para a sensibilidade subjetiva e emotiva. Nesta linha de raciocínio podemos perceber que este desenvolvimento guia seus trabalhos para as causas sociais, que no futuro irão fazer dele um defensor de ideias socialistas e de sistemas mais dignos de trabalho, criticando duramente a revolução industrial. Isso faz alguns teóricos a acreditar que ele era antiprogressista, o que não está correto, pois como estudado verificamos que ele não era contra a máquina ajudar e facilitar o trabalho do artesão, mas era contra a reprodução em massa de um determinado produto, desvalorizando-o e degenerando sua qualidade, além de ruir o modo de trabalho corporativo levando a morte da arte que ainda se encontrava nos produtos. Pois para ele um produto feito por um artesão levava seus sentimentos, seu prazer de trabalhar, resultando numa arte, num belo produto, caracterizado pelo suor e conceito daquele trabalhador, por isso único. Como visto na proposta epistemológica de Claudio Silveira Amaral, Ruskin não necessariamente era contra a revolução industrial ou contra o progresso, mas entendia que seus mecanismos e seu sistema degradava modos culturais da sociedade. “...principal assunto de Ruskin é a sua teoria de composição cujo conteúdo era uma espécie de “política da ajuda mutua”. Nesse sentido Ruskin foi mais um eclético do que um neogótico e por uma indústria com gestão cooperativista e não taylorista...” Proposta de revisão epistemológica da teoria de John Ruskin Claudio Silveira Amaral Neste contexto, suas visões sobre a produção em massa e o trabalho artesanal fez com que tivesse adeptos, como Willian Morris que acreditava na vinculação entre a arte e as estruturas sociais, dizendo que a verdadeira arte deve ser “feita pelo povo e para o povo, como uma benção para quem a fez e para quem a desfruta”, definia arte como “a maneira de o homem exprimir o prazer que lhe vem do trabalho” e “impossível dissociar arte da moral”, pensamentos que advém de escritos Ruskinianos. Willian Morris foi adepto também da Irmandade Pré-Rafaelita, que Ruskin era defensor e patrono. Esta 9 irmandade foi constituída por um grupo artístico dedicado a pintura revitalista romanista da época, desejando devolver a arte a sua pureza e honestidade. Todos esses conceitos inspiraram a criação de um novo movimento muito conhecido por nós,o movimento artístico Arts & Crafts. Para entendermos as considerações de Ruskin temos que levar em conta que ele não era um teórico, e sim um crítico, e por isso não se sentia na obrigação de teorizar tudo o que ele estava por criticar, mas sim, só dizer o que achava e o porquê. Tanto é que em uma de suas revisões de edições tardias vem se desculpar se alguém o teria entendido como propagador do estilo neogótico, pois o que ele queria na verdade era propagar uma arquitetura a esse nível e não ela propriamente dita. Considerado defensor do estilo denominado revival do gótico, mais especificamente, o chamado neogótico veneziano, viu-se obrigado, no prefácio da edição de 1849 de As sete lâmpadas da arquitetura e, depois, no de 1855, a desmentir tal preferência, pois suas ideias pretendiam divulgar não um novo estilo, mas uma nova forma de raciocínio que se dizia contrária a qualquer tipo de estilo. Proposta de revisão epistemológica da teoria de John Ruskin Claudio Silveira Amaral Com tudo isso podemos verificar duas coisas, a primeira é que, Ruskin tratava tudo de modo romanesco e fazia fusão com os conceitos de ética e moral religiosa, levando muito a sério o respeito das coisas de Deus e também aos sentimentos e momentos do próximo, e, a segunda, que não era contra a revolução, nem mesmo era propagador do neogótico veneziano, mas, sim, contra o modo de como a revolução se alastrava pela Inglaterra e Europa, acabando com a natureza, a vida e a paisagem urbana, e, que não queria que a arquitetura fosse neogótica, mas, que sim, tivesse um modo que pudesse expressar sua funcionalidade e sua importância como um templo de memória e de vida do seu dono, e, que o fizesse tão bem quanto o estilo neogótico o fez, conseguindo atingir seu propósito. Esse seu modo romanesco se faz perceber em sua obra inaugural, Pintores modernos (Modern Painters, 1843-60), que é dedicado às obras do 10 romantismo. Neste escrito podemos verificar que sua literatura segue uma estruturação parecida a de um escritor romanista da época, assim como a entonação gramática do livro. Em Pintores modernos Ruskin recorre sobre as pinturas contemporâneas da época que hoje chamamos de romantismo, analisando as paisagens naturais traduzidas por estas pinturas. Proeminentemente falando podemos notar que neste momento o início de sua lógica quanto às obras arquitetônicas começa a brotar, pois aqui ele toma a natureza, a paisagem feita por Deus, sem o toque humano como manifestação do incondicional, fazendo dela bela e verdadeira. ...segundo sua visão - o Sublime se manifesta na arquitetura com destaque para o tempo. Ruskin define o pitoresco, genericamente, como o Sublime Parasitário, isto é, um aspecto intrínseco ao Sublime, ainda que secundário. Daí a importânciaque confere à pátina - a “mancha dourada do tempo”, em suas palavras elemento acessório que condensa por assim dizer os sinais da passagem do tempo. A lâmpada da memória. JONH RUSKIN (2008) Para Ruskin o pitoresco é onde as partes se compõe para dar sentido a um todo, objetos, efeitos, sensações, memórias, cores, formas, que no fim se equilibram e fazem um conjunto. Entre duas características citadas gostaríamos de destacar: sensações e memórias. A primeira, as sensações de construir, morar, apreciar, tocar, sentir, e a segunda, os lapsos de momentos em que aquela paisagem e ou edifício compartilhou com alguém fazendo parte de sua história. Esses seus escritos sobre a arte pictórica e sobre a arquitetura também garantiu a Ruskin adeptos, destacando-se como crítico nesta área e agregando- lhe seguidores, mesmo que, não fosse essa sua intenção. Se fixarmos nesses três últimos parâmetros ficará mais fácil entender suas críticas e seus pensamentos referentes a arquitetura que iremos abordar logo à frente. Lembrando que, o que está contido neste trabalho é só uma pincelada do contexto complexo pelo que se há hoje em dia sobre a discussão de seus escritos e críticas, que atualmente, baseiam teorias contemporâneas de arquitetura, filosofia e sociologia. Por isso pegamos propositalmente variadas fontes, interpretamos e discutimos para criar este texto, esclarecendo 11 sucintamente tudo o que temos hoje em dia do que foi os escritos de Ruskin e seus propósitos. Tudo isso claro, somente o que diz respeito a arquitetura, pois se fosse em todos os ramos, o trabalho se estenderia bem mais. Uma obra que é importante citar é a obra As pedras de Veneza, publicado entre 1851 e 1853 em que Jonh Ruskin relata o resultado de uma pesquisa feita por ele. Veneza representava, ilustração da natureza, pela série de componentes que a compunha. Como sua arquitetura composta de pilares e arcos góticos, que parece flutuar, o verde das águas, as cores dos edifícios, tudo parece se conectar tornando uma paisagem harmônica e equilibrada. A basílica de São Marcos e o Palácio Ducal, são monumentos descritos por ele, com muita sutileza. Apesar de serem edifícios que tem inúmeros pilares, uma forma robusta, não é o que transmite quando estamos diante dele “os pilares e os arcos de suas fachadas são de uma delicadeza extrema ao descansar sobre o chão, parecendo se quer tocá-lo”. Dessa analise ele extraiu dois importantes conceitos para sua teoria da arquitetura, a verdade das estruturas e a verdade dos materiais. Verdade das estruturas, considera o desenho dos elementos estruturais que estão sujeitas a resistir o peso próprio da construção, as forças naturais, e artificiais, ele usa a arquitetura gótica como exemplo, onde se tem uma estrutura vertical longa, e exposta a visão do observador, podendo ser vista sentida, oque da sentido a sua concepção de estética, onde as colunas os arcos as abóbodas não funcionam só como elementos estruturais mas também como componentes que compõem a estética do edifício. Verdade dos materiais, algo que tá relacionado não só com a resistência de cada material ou noção de tempo, mas sim de sua composição, origem geográfica, quais as técnicas usadas para extrair tal material, quanto trabalho foi necessário, ou seja se refere ao processo de criação de determinado material, trabalha com a ideia de resgata um passado para o presente. Outro fato abordado por Ruskin nesse livro é o trabalho feito com prazer: no que tem a ver com o homem se envolve por completo, de corpo e alma, e nesse sentido ele criticou a moderna divisão do trabalho entre quem pensa e quem faz 12 “A humanidade vem aperfeiçoando a divisão do trabalho, no entanto tem dado a ela um nome falso, pois não foi o trabalho apenas que foi dividido, mas o homem foi dividido em segmentos de homem, quebrado em fragmentos de vida, exigindo que sua inteligência realize trabalhos repetitivos sem o menor interesse”. (41) Para ele, quem faz deve pensar e quem pensa deve fazer. Com tudo isso podemos agora ir a obra principal na qual destacaremos neste trabalho que é As sete lâmpadas da Arquitetura (The Seven Lamps of Architecture - 1849) focando na lâmpada da memória, conduzindo os estudo pelo livro de tradução da autora Maria Lucia Bressan Pinheiros da Ateliê Editorial. A obra em questão apresenta um rico conjunto de ideias voltadas a preservação da arquitetura assim como os dilemas desse assunto. Assim como as questões arquitetônicas que um edifício deve ter para se realizar uma boa arquitetura e quais as direções adequadas de sua expressão para que o observador possa chegar as associações que o edifício deseja passar. Nesta obra Ruskin decompões os princípios morais e estéticos em sete lâmpadas da arquitetura que ele as chama de lâmpada do sacrifício, verdade, poder, beleza, vida, memória e obediência. Para ele a Arquitetura é a arte que adorna os edifícios que são erguidos pelo homem independente do uso, sua visão contribui para sua saúde mental, poder e prazer. Temos que ter em mente a distinção entre Arquitetura e Construção. Construir é simplesmente juntar peças como um quebra cabeça tornando aquelas peças em algo maior, assim podemos dizer que este serve para outras coisas como uma carruagem, um barco, que, independente se ele flutua ou está sobre molas, ele está de pé, ou seja, é um edifício. Neste sentido Ruskin afirma que construir e deixar algo de pé não é arquitetura, que a arquitetura é mais que simplesmente colocar algo de pé ou projetar algo como um produto final mas sim arquitetar um espaço pensando em quantas pessoas estarão no local, quais os equipamentos e o que é necessário para que elas estejam confortáveis, enfim, a arquitetura imprime em suas formas certas características veneráveis ou bonitas que as vezes se tornam desnecessárias porém não conseguiríamos pensar aquele edifício sem elas. 13 De certa forma, tudo que são ornamentos não tem funcionalidades e sendo assim é arquitetura. Mas, esses ornamentos não estão ali por acaso, estão para evidenciar algo, e sendo assim para Ruskin esses ornamentos se tornam válidos quando estão representando a dignidade de um edifício, como por exemplo um templo gótico, que define muito bem por suas expressões arquitetônicas o que ele é, uma morada de Deus. Ruskin via em sua arquitetura adequada cinco principais destaques arquitetônicos, o devocional, edifícios erguidos em honra de Deus, memorial, monumentos à histórias e algo ou sepulturas, civil, edifícios levantados por nações ou sociedades com fins de negócios ou prazer, militares, qualquer edifício erguido para fins militares seja ele privado ou público e por último o edifício doméstico, qualquer tipo de edifício do tipo de moradia. Nesse trama ele abre o livro no capitulo do sacrifício tentando evidenciar a classificação dos edifícios para enfim tentar entender seu contexto histórico sentimental. Neste capítulo, a lâmpada do Sacrifício ele dedica ao ofício do homem a Deus como provas visíveis do amor e da obediência do homem consistindo em um imenso humanismo puritano. Assim liga aqui de fato os edifícios devocionais e memoriais pelo fato destes ter haver com autodisciplina e devoção por algo ou motivo. Diz que a estes edifícios extraem-se duas formas de sentimento, aquela que tem a vontade de exercitar a autonegação para a autodisciplina, abandonando as coisas amadas como retrato para a auto reforma íntima e o segundo sentimento que é o desejo de honrar ou agradar alguém por algum sacrifício cometido. Seu modo de pensar e a importânciade um edifício é a questão do sacrifício que homens e mulheres fizeram para que o edifício estivesse sido erguido, o suor daqueles que o levantaram e que morreram deixando um legado, um ornamento para o culto de Deus e dos homens que ainda vivem podendo alivias seus sentimentos ali. Na lâmpada de Verdade encontramos um discurso sobre o que o homem conhece da verdade? Ele mente para si mesmo, trai, mata, cria guerra por egoísmos banais, cria testemunhos falsos em virtude de poder e dinheiro e outros. Estes atos para Ruskin não podem ser cometidos como falsos pois fazem parte da natureza humana e utilizamos desses fardos para governar, ter amigos, 14 se relacionar, negociar e outros, e mesmo assim procuramos a verdade e pelo simples fato de irmos atrás dessa verdade ele acredita que temos que se orgulhar disso. Nesta linha de raciocínio podemos dizer que Ruskin dá valor aos momentos históricos, pelos atos passados cometidos, independente se estes atos conferem boas ações ou ações ruins, mas, que de fato, são essas ações que fazem nossa história real. Para ele a verdade se mostra quando um artista pinta uma pedra não como ela é de fato, mas a pinta retratando o que ele vê, o que ele acredita que vê, o que ele sente quando a vê, e por isso, por estas distorções do que achamos que é certo, ele está sendo sincero com seus sentimentos, assim, verdadeiro. Por isso ele defende os princípios voltados à preservação dos monumentos, pois são parte de nossa história. Na lâmpada do Poder podemos verificar a disposição sobre obras que passam para o observador um sentimento de êxtase no qual se sente algo sobrenatural se apoderando de sua alma. É a questão das obras grandiosas, que são feitas de modo que pareçam agigantadas perante ao tamanho do ser humano. Aqui ele difere entre dois diferentes modos de o fazer, que é o tipo e a magnitude da ornamentação ou o tamanho da obra em questão à referente paisagem. Ele transpõe o orgulho humanista e associa o homem com a natureza, cita as formas naturais e diz que a imitação do que é natural que é o que é belo, há duas grandes lâmpadas da arquitetura que resumem no que consiste numa justa e humilde veneração pelo trabalho de Deus na terra e outra baseada no entendimento da dominação sobre o trabalho que foi garantido pelos homens. Sendo assim para um edifício conseguir mostra sua grande magnitude deve ser visto de uma só vez. Só assim, imitando as nuances da natureza e suas formas pode a arquitetura se tornar sublime estabelecendo relações diretas com Deus. Na lâmpada da Beleza concentra-se no valor da arquitetura como dois distintos caracteres, um sendo a impressão que ela recebe do poder humano e outra a imagem que firma com seu entorno como criação natural divina. Para Ruskin o elemento mais feliz da excelência humana consiste em uma imagem 15 derivada da natureza orgânica, ou seja, um elemento de grande importância: o Ornamento. Essa beleza que está entre dois estados, do natural ao artificial, como por exemplo: uma touceira de ervas daninhas crescendo numa ruína, e mais bela do que uma peça escultórica da erva daninha contida na mesma ruína. Mesmo que isso não tire a importância da própria escultura, logo é o trabalho humano e si que confere o valor ao ornamento. É melhor então deixar defeitos e avarias aparentes do que tentar cobrir com algum ornamento que dá um toque falso aquela obra que está tentando ser verdadeira. Lembremo-nos aqui da lâmpada da verdade. A lâmpada da Vida refere-se à vitalidade das formas orgânicas como o homem que transforma a força dentro de si para movimentar-se e criar oportunidades. Essa é a beleza em meio a movimento empregado em tudo o que é orgânico como flores, animais e etc. Essa movimentação pode e é atenta a tudo e faz com que o homem pode então produzir o que for necessário para evoluir e assim sobreviver. Portanto com isso o homem pode dar vida a objetos inanimados transformando-os em objetos belos. Nesse âmbito Ruskin nos traz a capacidade do homem dar a arquitetura os elementos necessários e intelectuais para poder transmitir sentimentos profundos através dos ornamentos, das formas e das composições. Já com todos esses conceitos conseguimos perceber como Ruskin pensa em relação aos prédios e edifícios históricos, e assim passamos para a lâmpada da Memória que é a mais importante para nossos estudos de restauração. Na lâmpada da memória Ruskin diz que podemos viver sem a arquitetura de uma época, mas não podemos recordá-la sem a sua presença. Podemos saber mais da Grécia e de sua cultura pelos seus destroços do que pela poesia e pela história". Aqui ele dá ênfase a sua ideia de que fazer intervenções em monumentos, produziria um novo caráter, tirando a autenticidade de um edifício que tem um significado histórico para a humanidade. Quando alguém está por morrer, suas memórias remetem em sua mente lugares onde esteve, alguma paisagem ou local. Assim esta ligação natural das memórias com os locais e edifícios lhes dá uma ligação quase divina. A 16 arquitetura doméstica para ele deveria ter um caráter quase santa, pois nela está registrada as emoções e toda a essência histórica da pessoa que nela viveu. Por isso dizia que quando fossemos projetar uma casa devemos construir baseando as idéias do projeto como um projeto que irá durar para sempre, abominando a ideia de construção de casas que durariam apenas uma geração, pois uma geração é inapropriada para que pudéssemos saber de onde viemos e de onde vem nossos ancestrais. Para ele um país no qual tem casas construídas ou em construção que estão a viver por somente uma geração são países que estão por si só destruído e acabados, sem perspectiva de futuro. Os edifícios públicos são de extrema importância em que se haja um proposito histórico em sua construção, pois de acordo com Ruskin, expressar de modo simbólico ou literal, tudo quanto é digno de ser conhecido sobre os sentimentos e realizações de uma nação é também em um conceito de herança, onde tudo que temos hoje até mesmo em relação a moradia, sirva de base histórica para as futuras gerações. A preservação se torna então de suma importância, pois para ele o fundamento de uma boa construção deveria ser algo duradouro, feito com prazer de modo que nossos descendentes nos agradeçam de tê-la herdado. É bom ter ao alcance não apenas o que os homens pensaram e sentira, mas o que suas mãos manusearam, e seus olhos contemplaram durante todos os dias de suas vidas. "(...) significa a mais total destruição que um edifício possa sofrer: uma destruição no fim da qual não resta nem ao menos um resto autêntico a ser recolhido, uma destruição acompanhada da falsa descrição da coisa que destruímos." A lâmpada da memória John Ruskin Era impossível restabelecer qualquer que fosse o monumento pois sua alma já mais poderia ser devolvida, a partir do momento em que esse tal monumento passa por uma restauração, seria como se estivesse dando um novo espírito a essa edificação, transformando-a em outra obra, quebrando a autenticidade da obra original. Há dois deveres em relação a nossa arquitetura nacional: tornar a arquitetura atual/contemporânea, histórica e preservar, como a mais preciosa de 17 todas as heranças, aquela das épocas passadas. Por isso para ele a arquitetura já deveria ser feito pensando que uma dia aquele edifício pudesse vir a tornar- se histórico e símbolo nacional, símbolo de sentimentos ou momentos importantes para a nação e por isso todo prédio deveria ser assim cuidado para que não precisasse tera necessidade de restaurar um edifício, pois aquela nação na qual se importa com seu patrimônio zela por usa história. As intervenções por ele aceitas eram aquelas que serviriam apenas para conservar a edificação, pois encarava as edificações como um ciclo que se conformava com a morte natural em que toda edificação terá, assim dando espaço para uma nova edificação e uma nova história. Neste contexto os edifícios que se tornarem memoriais ou monumentais tanto civis e ou domésticos é quando atingem uma perfeição verdadeira, pois os edifícios só chegam a sua glória depois de uma certa idade onde aquela platina do tempo, que nada mais é da idade do edifício recorre por todo ele evidenciando a sua história. Essa platina do tempo é como se fosse a casca de uma árvore que a cada ano se recobre e leva com ela todas as imagens das paisagens que ali mudaram por ela e assim também seus momentos e sentimentos. Portando ao tocarmos em uma pedra, num edifício, deixamos nosso contexto histórico e começamos a fazer parte daquele objeto que faz parte agora de nossos momentos e quando estamos por este objetos apegado por algum sentimento como geralmente estamos a uma casa pelo que passamos por anos dentro dela nos trazendo momento felizes ou triste reluz ali um sentimento sagrado. Por isso apagar imagens e ou pinturas que estas pessoas deixaram ali é de fato um desrespeito com seu sentimento, pois Ruskin acreditava que a casa de um homem de bem deveria ser seu templo, e por isso não podemos violar (demolir, restaurar, modificar), e nos fariam sagrado também se permitisse morar nela. Esse local sagrado não pode ser renovado em qualquer moradia e levantada de sua ruína. Aqui então surge a verdadeira arquitetura doméstica, que da origem a todas as outras e por isso merece respeito e consideração independente de seu tamanho. Assim surge o termo “Scrape”, que diz respeito ao procedimento de raspar as pinturas antigas das paredes dos monumentos foi muito criticado por Ruskin dando origem a uma linha preservacionista conhecida como “Anti-Scrape 18 Movement’’ ou ‘’Movimento Anti-Restauração’’, da qual se coloca contra a restauração e em contrapartida contando com o cuidado e manutenção constante dos monumentos. Este movimento chegou a vários lugares da Europa e contou com o apoio do já citado Willian Morris que inspirado nessas idéias fundou em 1877 a SPAB (Sociedade para a Proteção dos Edifícios Antigos). Ruskin antecipava uma escolha democrática na utilização de um estilo, suas predileções voltavam para o românico pisano; o gótico primitivo das republicas ocidentais italiana; o gótico veneziano; e, finalmente o gótico decorado inglês primitivo, porém como dito e aqui já entendemos o estilo por ele pré ditado como referência era somente referência e nada além disso. Até porque este estilo depois que se tonasse familiar e natural, poderia ser possível introduzir mudanças, consideradas necessárias para adaptar-se as necessidades praticas da vida moderna. Ruskin encerra então dizendo que é impossível restaurar qualquer coisa que já tenha sido grandiosa ou bela em arquitetura, a restauração é a pior forma de destruição. Restaurar é despedaçar a obra antiga, é erguer uma imitação ordinária e vulgar no local ou junto a original. Copia-la é materialmente impossível e restaurar acabamentos é apagar sua memória. Por isso não devemos nos importar com a má aparência dos reforços (exemplo chapas de chumbo no telhado) pois é melhor uma muleta do que um membro perdido. Os edifícios dos tempos passados não nos pertencem, então não temos direito de tocá-los, pois ainda pertencem aos que construíram e os mortos que ainda possuem direito sobre eles. Somente o que nós mesmos construímos é que nós temos a liberdade de demolir (intervir). Para terminar falamos sobre a lâmpada da Obediência que fecha todo o seu discurso relevando que toda vez que fomos intervir em um determinado edifício, que tenha sido feito por outro profissional devemos levar em consideração o que já foi feito por ele, devemos ser criativos, mas em primeiro lugar respeitar o que já foi feito, respeitar sua história e seu legado. Resumindo uma obra não pode ser restaurada, pois suas ruinas expressam muito mais do que dela restaurada. O edifício digno é aquele que tem as marcas da memória como nós temos nossas marcas da vida. 19 2.3 Principal trabalho realizado em edifício 2.3.1 Museu de História Natural da Universidade de Oxford O museu foi construído em um edifício de estilo gótico vitoriano, que foi desenhado pelos arquitetos Thomas Newenham Deane e Benjamin Woodward. É a única construção em que houve elementos arquitetônicos desenhados por Ruskin, onde o mesmo também deu inúmeras sugestões a Woodward durante a construção do museu. A construção começou em 1855 e foi concluída apenas em 1860. A estrutura do prédio do museu possui um grande campo quadrado com telhado de vidro, o que torna o ambiente muito claro devido a entrada da luz solar. No primeiro andar podem ser vistas colunas de pedra feitas a partir de pedra britânica. A arquitetura do local é marcado pela mistura entre ferro e pedra que incorporam formas naturais[2]. O local também é repleto de estátuas. No piso térreo estão grandes nomes da ciência como Aristoteles, Francis Bacon, Darwin e Linnaeus. 2.4 Principais trabalhos realizados como crítico (livros e desenhos) Em seus totais, trinta e nove volumes massivos, podemos reconhecer Ruskin como um intérprete, pois para ele, este ato o leva a muitos campos da experiência humana, produz leituras não só de pinturas, poemas e edifícios, Figura 1 – Fachada do museu de Oxford Fonte: Google, 2018. 20 mas também de fenômenos contemporâneos, como nuvens de tempestade e o descontentamento das classes trabalhadoras. 2.4.1 Pintores Modernos (Modern Painters) – Volumes I e II – 1843 Em Pintores Modernos I, sua obra de estreia, vemos um livro que não é exclusivamente dedicado à crítica ou à história da arte, mas sim ao próprio Romantismo. Nesta obra, Ruskin apura os elementos que compõem a natureza, ou seja, dos animais, dos vegetais e dos minerais concebendo-os como um composto, metade material e metade espiritual. O crítico afirma que cada elemento da natureza guarda uma essência, também chamada de verdade, e é esta essência que diferencia todos os elementos no mundo natural. A partir dessa exposição o crítico transfere suas considerações ao domínio da estética, do pictórico, e abraçando o cenário natural como um “todo” criado por Deus. Ruskin discute verdades gerais, pelo que ele significa tom, cor, claro- escuro, e perspectiva, e então evidencia a amplitude e precisão das representações de plantas, árvores, céu, terra e água, movendo-se além de sua origem polêmica, os Pintores Modernos tornam-se assim uma excursão pela natureza e arte conduzida por um homem cujos olhos. A mente compreende os fenômenos de um mundo natural infinitamente rico. O segundo volume de Pintores Modernos contém tanto as teorias da imaginação de Ruskin quanto seu sistema teocêntrico de estética, pelo qual ele Figura 2 – Por do Sol de Monte Rosa Fonte: Desenhado por John Ruskin - The Victorian Web, 2013. 21 explica a natureza da beleza e demonstra sua importância na vida humana. Ele cria uma estética vitoriana ao fundir concepções neoclássicas, românticas e cristãs do homem e de seu mundo. 2.4.2 Pintores Modernos (Modern Painters) – Volumes III e IV –1856 O volume III, provavelmente o mais rico dos cinco, mais uma vez avança uma teoria romântica da pintura, mostra que todas as preocupações do Romantismo estão aqui: a natureza do artista, a importância da natureza externa e o papel da imaginação, emoção e detalhe na arte. O quarto volume, publicado no mesmo ano que o terceiro, abre com uma discussão do pitoresco de Turner e do pitoresco em geral, que são as categorias estéticas relacionadas especificamente ao crescimento da arte da paisagem. Depois de seções na geologia da forma de montanha, o volume fecha com um exame da influência de um ambiente de montanha nas vidas de homens. Figura 3 – Verdadeiro e falso Grifos: Medieval e Clássico Fonte: Desenhado por John Ruskin - The Victorian Web, 2013. Figura 4 – Primeira topografia simples Fonte: Desenhado por John Ruskin - The Victorian Web, 2013. 22 2.4.3 Pintores Modernos (Modern Painters) – Volume V – 1860 O quinto volume (1860) começa com seções sobre a beleza das folhas e nuvens que são as segundas viagens através do solo coberto no primeiro volume. Em seguida, segue uma discussão de relação formal ou composição. Figura 5 – Segunda topografia Turniana Fonte: Desenhado por John Ruskin - The Victorian Web, 2013. Figura 6 – Quivi Trovammo: o dragão de Jardins das Hespérides de Turner Fonte: Desenhado por John Ruskin - The Victorian Web, 2013. Figura 7 – Hesperid Aeglé Fonte: Desenhado por John Ruskin - The Victorian Web, 2013. 23 2.4.4 As Pedras de Veneza (The Stones of Venice) – 1851 O intuito de Ruskin com este livro, era registrar a cidade de Veneza antes que ela se perdesse. Conclui-se claramente que, em sua visão, é a literatura o que permite uma materialização desse registro de natureza, cidade e paisagem como um todo, eternizando-o para além de uma possível destruição ou transformação de qualquer ordem. Também resultado de uma “pesquisa”, uma iniciativa que ele esclarece como uma reconstituição das belezas de Veneza. Onde a história dessa é contada desde a sua fundação, passando por momentos decisivos de suas transformações arquitetônicas e urbanas e discute a Arquitetura Gótica, porque dedica um espaço considerável aos detalhes da construção arquitetônica. Se vê a obsessão de Ruskin pelo detalhamento arquitetônico e seus aspectos estilísticos. Sob a ótica da formação do patrimônio construído da cidade, é relevante a correlação que o autor faz de sua formação com o poderio político e bélico. Figura 8 – Janelas da quinta Ordem Fonte: Desenhado por John Ruskin - The Victorian Web, 2013. 24 Ruskin faz sua literatura de Veneza a partir da leitura do que a paisagem dessa cidade lhe descortina. Desse modo, demonstra acreditar que a paisagem e arquitetura induzem a uma leitura acurada, detida e passível de transformação em literatura. Para perenizar essa cidade que assim se oferece à leitura, Ruskin, tendo-a como musa, transformou-a em literatura. 2.4.5 As Sete Lâmpadas da Arquitetura – 1849 As Sete Lâmpadas tem mais em comum com o segundo volume de Pintores Modernos do que com qualquer de seus outros trabalhos. Ruskin enfatiza a importância da arte e da criação comunal. Além disso, ele também quer conceder ao trabalhador individual a posição, independência e prazeres do artista romântico. Portanto, quando se considera a vitalidade da arquitetura: a pergunta certa a se fazer, respeitando todos os ornamentos, é simplesmente esta: foi feito com alegria - o carver estava feliz enquanto estava falando sobre isso?. (RUSKIN) Este ponto contribuiu muito para moldar a arte e design no século XX, pois influenciou as cidades, casas, móveis e utensílios as coisas que se vê e é tocada na vida cotidiana. Como Ruskin acreditava que a arquitetura é uma herança, uma geração passa para outra e também que é a corporificação da sociedade que a construiu, ele tentou convencer seus leitores a construir solidamente para as futuras gerações. Essas crenças, como seus protestos durante todo o seu trabalho contra a destruição de edifícios antigos, estimularam a fundação de sociedades inglesas e estrangeiras para preservação arquitetônica; da mesma forma, sua convicção de que os que hoje vivem são mordomos, e não proprietários, de obras de arte era uma das principais fontes do movimento dos museus. 25 I – A lâmpada do Sacrifício; Esta lâmpada relaciona-se com o rito, o religioso e a maneira de fazê-lo. II – A lâmpada da Verdade; Um material é um material, se deve ater a sua clareza e verdade que expressa. III – A lâmpada do Poder; O Homem deve investir poder em suas obras, seguindo sempre a crença em Deus e acreditando que o que faz é algo sublime e que alcançará os céus. Todos edifícios mostram homem como montador ou governante; E o sucesso do homem está em saber o que montar e o que governar. IV – A lâmpada da Beleza; As formas não são bonitas porque são copiadas da natureza. Apenas está fora do poder do homem produzir algo belo sem o auxílio da natureza. Deus colocou certas formas na vida do homem e este, por entender que esta forma é frequente, assume que ela é bonita. V – A lâmpada da Vida; Não há nenhum sinal de morte em uma arte que pega emprestado ou imita, mas apenas se a mesma pegar emprestado sem prestar interesse ou se imitar sem escolha. VI – A lâmpada da Obediência; A arquitetura jamais poderá florescer, exceto quando está subjugada a uma lei nacional estrita, tanto quanto minuciosamente autoritária como as leis que regulamentam a religião, política e relações sociais. VII – A lâmpada da Memória; Nós podemos viver sem ela, mas não podemos rememorar sem ela. (RUSKIN) 26 Ruskin diz que é ao se tornarem memoriais ou monumentais que os edifícios civis e domésticos atingem uma perfeição verdadeira. Não se deve ter ao alcance apenas o que os homens pensaram e sentira, mas o que suas mãos manusearam, e seus olhos contemplaram durante todos os dias de suas vidas. O crítico defende que, quando se constrói, o homem deve se lembrar que está construindo para sempre, e que será para suas gerações futuras, e essas o serão gratas. Através de seu pensamento romântico, diz que todos os materiais utilizados em uma construção possuem valor divino: Um dia as pedras de determinada obra serão sagradas porque nossas mãos as tocaram. (RUSKIN) O pensamento de Ruskin sobre o ato de restaurar edifícios é um dos pontos mais marcantes deste capítulo. Primeiramente defende a ideia de que os edifícios dos tempos passados não pertencem as gerações atuais e/ou futuras, então, deste modo, não se pode intervi-los (os mortos ainda possuem direito sobre eles). O homem somente possuí liberdade para intervir em suas próprias construções. O ato de restaurar acaba completamente com a obra e sua alma, não dando mais sentido para a mesma ou para outra que irá tomar seu lugar, pois a glória de um edifício está em sua idade e originalidade. Mesmo não podendo interferir na obra como um todo, é dever do homem conservar e cuidar de seus monumentos, e para isto, segundo Ruskin, é válido o uso de reforços nas estruturas e acabamentos de um edifício como, por exemplo, implantar chapas de chumbono telhado. Deste modo não há interferências na essência da obra e ainda sim é possível conserva-la para as gerações futuras. 27 ANALISE CRÍTICA Ao pesquisar sobre John Ruskin e realizar a leitura de “A Lâmpada da Memória” é possível afirmar que este crítico foi e sempre será uma grande influencia para a arquitetura contemporânea. Se vê a predominância de ideais religiosos e morais em suas escritas, que foram adquiridos ainda em sua infância e expandidos durante sua vida academia e profissional, e assim seguindo a lógica, transportados para seus livros, poemas, retratos e desenhos. Possuiu um idealismo romântico, onde em seus livros, com destaque para As Sete Lâmpadas da Arquitetura, acaba exagerando nos detalhes que pretende descrever de uma certa paisagem por ele observada, e assim, algumas vezes a atenção para o objetivo principal do pensamento acaba sendo esquecido ou deixado de lado. Seguindo o raciocínio de seus ideais religiosos e morais, há o destaque o tópico de: restauração de um edifício. Ruskin abomina a ideia de se interferir em um monumento, mesmo que seja para sua conservação e preservação, onde interferir – mesmo que em uma pequena pedra de estruturação – seria sinônimo de desrespeito ao próprio edifício e seu construtor. Ou seja, mesmo que um monumento de tamanha importância – como o Coliseu – estiver em ruínas, prestes a cair e nunca mais existir, causando consequentemente a extinção de memórias e registros de povos do passado, seria uma tragédia segundo Ruskin, porém é o que a natureza determina e nós só devemos aceitar e seguir em frente, mesmo havendo a possibilidade de ajudarmos o edifício a sobreviver por mais alguns anos, décadas ou milênios. Em contrapartida a restauração é uma maneira de demonstrar zelo pelo edifício a ponto de não querer vê-lo feio ou arruinado pelas ações do tempo ou do homem, logo restaurar algo que foi danificado também é uma maneira de se importar com o mesmo. Sua teoria sobre o edifício e suas menções aos sentimentos e memórias que nos ligam a ele é verdadeiro, porém nem sempre e nem todos temos momentos especiais que nos ligam a um lugar ou edifício de forma tão forte, pois além de 28 cultural, as crenças das pessoas podem alterar suas visões sobre o material ou o espiritual. Acreditamos então que seus pensamentos precisam ser levados em conta, porém nos dias de hoje, em um mundo onde o crescimento populacional vem crescendo exponencialmente, infelizmente não podemos deixar intocáveis todos os lares ou mesmo templos da moradia como ele dizia. Embora apreciamos esta idéia romântica da arquitetura ser a suprema arte humana, não podemos fazer dessa premissa uma condição social, pois não teríamos mais espaço onde viver. Por fim todos os embates de Ruskin sobre a arquitetura e seu valor nos dá algo notavelmente enriquecedor para que possamos nos suprir de forma reverberante, prosseguindo com nossos ideais de restauração. É nesses princípios que nos apegamos, os sentimentos, que nos faz lutar para tornar um edifício um monumento histórico, local sagrado a todos. Assim focando nossas energias em estabelecer uma restauração mais palpável e ao mesmo tempo mais concisa de um jeito que possamos reluzir ao edifício sua integridade temporal sem ofender seus ideais nobres e originais como Ruskin tanto se preocupava. 29 REFERÊNCIAS RUSKIN, JOHN. A Lâmpada da Memória. 2ª edição, tradução de Maria Lucia B Pinheiros. São Paulo: Ateliê Editorial, 2013. MONTEIRO, A. FLÁVIA. JOHN RUSKIN: Teorias de Preservação e suas influências do patrimônio brasileiro no início do século XX. Espírito Santo: UFES/Centro de Artes/Bolsista CAPES. Leituras Essenciais: John Ruskin e as Sete Lâmpadas da Arquitetura. ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/805439/leituras- essenciais-john-ruskin-e-as-sete-lampadas-da- arquitetura?ad_medium=widget&ad_name=navigation-prev>. Acesso em: 16/09/2018. John Ruskin. The Victorian Web. Disponível em: <http://www.victorianweb.org/painting/ruskin/index.html>. Acesso em: 16/09/2018. John Ruskin. Vitruvius. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.152/4595>. Acesso em: 16/09/2018.