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Curso de Hermenêutica By: Professor Esdras Belleza

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FACULDADE CESVALE
HERMENÊUTICA JURÍDICA
PROFESSOR: ESDRAS BELLEZA
2º SEMESTRE DE 2018
1.2) Hermenêutica e Interpretação (Definições e Distinções)
 O sentido mais adequado e tecnicamente mais relevante da palavra “hermenêutica”, nos dias de hoje, é “Ciência da Interpretação”. 
 
As raízes da palavra “hermenêutica” provêm do verbo grego HERMENEUEIN e do substantivo HERMENEIA, ambas relacionadas com o mito do deus grego, Hermes. De acordo com a mitologia, Hermes era um deus, filho de Zeus e Maia, incumbido de levar a mensagem dos deuses do Olimpo aos serem humanos.
O mais interessante, entretanto, era que o deus mensageiro deveria “INTERPRETAR” e “TRADUZIR” as mensagens dos deuses para os mortais, uma vez que a língua de um era inacessível ao outro. Sendo assim, Hermes acabou por inventar a escrita e a linguagem para aperfeiçoar a comunicação entre eles.
A mitologia grega é extremamente simbólica para revelar-nos a semântica originária do vernáculo que estudamos. Ao Deus Hermes não cabia a tarefa pura e simples de “transmitir” ou “re-passar” a mensagem divina. Ao contrário, deveria ele realizar um papel ativo em sua tarefa, devendo TRANSFORMAR algo ininteligível em inteligível e compreensível para os seres humanos.
De acordo com Richard E. Palmer, essa “TRANSFORMAÇÃO” ocorreria em três dimensões: na “enunciação”, na “explicação” e na “tradução”. Vejamos: 
 
Uma mensagem, quando emitida (enunciação), está assentada em um meio e exigirá do receptor uma percepção tal que recepcione o dito conteúdo da melhor forma possível. 
Quer dizer, aquilo que foi expresso exigirá do receptor uma verdadeira “tradução” da mensagem para que este possa captar o conteúdo daquilo que se declarou. 
Neste caso, a “tradução” não se refere especificamente a uma atividade de cognição de uma língua estrangeira como se utiliza corriqueiramente o termo. Refere-se à transferência, à trasladação do conteúdo de algo que foi manifestado por uma pessoa (ex: deus do Olimpo, dono da casa que colocou a placa “cachorro trabalhando”) e ali está sedimentado, para a esfera de conhecimento do receptor, utilizando-se dos códigos de linguagem que sua inteligência alcança.
Além disso, tal conteúdo, deverá ser “EXPLICADO” na medida em que a compreensão do sentido não se dá de forma direta e clara. Ainda que a linguagem parta de uma convenção de sentidos entre homens, o fato é que diversos sentidos são ambíguos, dúbios e tal convenção se faz apenas de modo superficial, já que não há um acordo absoluto do sentido específico de todos os termos e orações. Se isto ocorresse, seria possível elaborar um dicionário preciso e perfeito que dispensaria definitivamente qualquer tipo de interpretação.
Neil MacCormick lembra interessante situação em que a mensagem e os símbolos utilizados são claros e precisos tanto para emissor quanto receptor. Todavia, o próprio contexto da mensagem provoca a dúvida.
“Se eu vejo um sinal de ‘não fumar’ na sala em que estou entrando e apago o meu cigarro antes de entrar nessa sala, eu demonstro compreender o sinal e agir de acordo com ele. Sem qualquer elemento de dúvida ou tentativa de resolver essa dúvida, eu imediatamente apreendo o que é necessário. (...)
NO SMOKING !
Pensar acerca da dúvida que paira sobre a situação que envolve a placa e resolvê-la optando de forma razoável por uma das soluções é INTERPRETAR!
Alcança-se assim, as três dimensões fundamentais da HERMENÊUTICA, conforme Palmer. Passa-se, agora, a analisá-las separadamente.
 1.3) HERMENÊUTICA COMO “DIZER” ou ENUNCIAÇÃO
 
O primeiro sentido de hermeneuein é “exprimir”, “afirmar” ou “dizer”. Tal função está estritamente relacionada com a tarefa de Hermes em “dizer” aos homens as mensagens do Olimpo.
Interessante constatar que o vocábulo grego está próximo da forma latina sermo (dizer), e que ambas as expressões foram largamente utilizadas pela Igreja Católica na Idade Média. A função maior do sacerdote sempre foi a de “anunciar” as Escrituras Sagradas, “proclamar” a palavra de Deus a todos os homens e convertê-los ao catolicismo.
Note-se que “dizer” uma palavra não é o mesmo que “explicar” ou “debater” a mesma. A tarefa sacerdotal era nitidamente a de se utilizar da vivacidade da linguagem oral para proferir belos e emocionados sermões, a fim de provocar a adesão das massas aos dogmas da fé cristã. Não se deve olvidar que segundo os ditames da Igreja Católica, a própria razão divina era vista como inacessível aos olhos dos mortais, cabendo a estes o papel de meros ouvintes dos sermões proferidos pelos homens “legitimados por Deus”.
A sacralidade das palavras do Senhor não era acessível aos ouvidos dos mortais, singelos pecadores que lhe deviam submissão. Somente os sacerdotes, representantes do Senhor na terra, conseguem alcançar os ditames sublimes dos Céus através das Escrituras e da oração, podendo assim, comunicar aos homens a Sua vontade.
 
A posição de passividade absoluta do receptor aqui é clara e manifesta, não havendo espaço para indagação, dúvida ou suspeições. Aquilo que era dito deveria ser encarado como verdade incontestável e absoluta, já que aquele que “dizia” era o Deus Todo-Poderoso.
Por sua vez, as artes humanas, em especial a música e as artes cênicas, sempre se utilizaram da hermenêutica para o fim de “interpretar” um texto e conferir-lhe uma “performance”, um “estilo”.
Quando um maestro se depara com uma sinfonia de Mozart obviamente não a executará de forma mecânica, lendo a partitura como quem lê números. O uso de diversas técnicas musicais permitirá ao maestro intensificar determinado trecho, relevar outros e exaltar a qualidade de certas harmonias que conferirá à execução um estilo próprio.
O mesmo se poderá dizer de um ator que tem em sua frente uma peça de Shakespeare. Como “dizer” todas aquelas palavras mortas em uma folha de papel? Somente o recurso à interpretação o permitirá escolher uma forma de atuar e não outra.
Isto nos remete a uma questão interessante: não é verdade que enquanto lemos parece que ouvimos vozes interiores? E quando lemos um romance policial não nos parece que a voz nos guia de forma diferente de quando lemos um jornal? E a leitura de um diálogo? As vozes dos que dialogam não são distintas?
Para os juristas, tal aferição é verificada cotidianamente nos fóruns ao se defender uma causa. A distância que existe em termos de “expressividade” e “vivacidade” entre um recurso de apelação escrito e uma sustentação oral é enorme, mesmo que não levemos em consideração os recursos retóricos de cada um deles, o que agravaria esta distância.
Sendo assim, o mundo da escrita e o mundo da fala encontram seus limites e suas qualidades próprias que não podem ser ignoradas. A “performance” de um discurso pode revelar muito mais do que o texto o faria. 
1.4) HERMENÊUTICA COMO ‘EXPLICAR’
 
 Esta é a utilização moderna mais usual da palavra hermeneuein, que se refere ao ato de “determinar” e “clarificar” o sentido de algo.
Segundo alguns autores, encontramos o primeiro uso da palavra “hermenêutica” na obra de J. C. Danhauer “Hermenêutica sacre sive methodus exponemdarum sacrarum litterarum” publicada em 1654. O teor da obra se referia aos métodos de interpretação da Bíblia que, como será demonstrado posteriormente, foi a forma precursora da Hermenêutica.
É sabido que antigamente, a Igreja Católica, para bem organizar e auxiliar na difusão do Texto Sagrado, escrevia obras de exegese bíblica nas quais se inseriam comentários sobre suas passagens, determinando explicitamente quais eram as verdades divinas de cada uma delas.
Este modelo exegético aos poucos foi dando espaço a métodos que privilegiavam formas mais racionais de interpretação de textos, com critério determinados, que surgiram principalmente com os filósofos protestantes e com o iluminismo alemão.
Embora a exegese bíblica estivesse vinculada a uma interpretação orientada à afirmação de dogmas religiosos, importa destacar a necessidade de se pensare refletir sobre um texto, de modo a perceber-lhe o real conteúdo.
A compreensão de uma obra nunca se dá de modo evidente. Apreender uma mensagem denota um esforço de lapidação das palavras e suas articulações que envolve o autor do texto (com suas intenções e sentidos originários), o contexto em que se dá a comunicação e o próprio intérprete, com toda sua carga cultural de pré-conceitos e expectativas já formuladas em seu pensamento antes mesmo da leitura.
A busca do sentido, aliás, é algo que sempre inquietou a mente dos hermeneutas. Qual o sentido que se busca: 
Aquele que o autor quis imprimir? 
O sentido que a força do texto possui em si? 
Ou o sentido da verdade que o texto proporciona?
  
É importante verificar que encontrar o sentido NÃO É O MESMO QUE ENCONTRAR A VERDADE. Isto porque quem transmite uma mensagem pode estar cometendo um equívoco, contando uma mentira ou apenas realçando um estilo. Senão vejamos:
 
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
 
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
 
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
 
Em seu poema, Fernando Pessoa nos descreve de forma magistral o espírito e as dores que movem os poetas em seus labores literários. 
Mas seriam mesmo os poetas fingidores? Estariam os mesmo fingindo ao escrever? 
Ao ser poeta, Fernando Pessoa não estaria fingindo o próprio fingimento? 
Ou o sabor e deleite que os versos nos provocam estão no encontro de sentimentos com o Belo, mais do que com a veracidade do descrito?
Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
E em pouco tempo não serás mais o que és
O mundo é um moinho
(Cartola)
Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés
Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés
Não cabe à hermenêutica determinar o que é a verdade e o que é equívoco. O sentido encontrado deve ser justificado ora pela intenção do autor, ora pela forma como o intérprete analisa e “enxerga” o conteúdo. Há quem se refira ainda à força própria do texto, como se esse possuísse vida autônoma face aos sujeitos criadores e interpretativos, conferindo significado a si mesmo.
A investigação dos sentidos de um texto significa incursionar em esferas subjetivistas mais do que em estruturas objetivas como se poderia supor. O encontro de dois mundos (autor e intérprete) proporciona um ambiente de “descoberta” extremamente frutífero do qual surgiria o novo ou um re-encontro revelador com o velho, de modo a contribuir para o caráter humano e dinâmico de nosso aprendizado.
 1.5 ) HERMENÊUTICA COMO “TRADUZIR”
 
A função de “traduzir” um texto torna-se explícita quando se trata da compreensão de uma língua estrangeira. É o que Hermes fazia quando “traduzia” as mensagens divinas para a linguagem dos homens.
Entretanto, pode-se dizer que há “tradução” mesmo quando texto e intérprete dominam o mesmo idioma.
 
 
Não há diferença estrutural de apreensão do conteúdo de um discurso quando ele é escrito na língua materna ou estrangeira. Todo idioma, independente de sua denominação, é um repositório cultural que nos remete a certas qualificações, por exemplo, históricas e regionais. 
Entender o substrato de determinado idioma, seus vocábulos e expressões próprias, é essencial na tarefa da compreensão.
Em “Memórias do Subsolo” de Dostoiévski, o personagem principal nos diz em suas tortuosas e ásperas elucubrações que: “na terra russa não existem imbecis, isto é notório; é nisso que nos distinguimos de todas as demais terras alemãs.”
Neste caso, o termo “terras alemãs” deve ser entendido a partir de seu uso popular na Rússia oitocentista, cujo significado seria o de “terras estrangeiras”, como nos relata o tradutor em nota de rodapé. Grave equívoco seria o de considerar o texto em sua literalidade, sem considerar as peculiaridades da linguagem utilizada pelo autor.
 
Ao traduzir um texto, deve-se tomar consciência de que existe uma diferença cultural entre as duas línguas e que cada uma possui interpretações diferentes de mundo. 
A Bíblia, por exemplo, causou grandes problemas para a tradução em geral, uma vez que foi escrita há muitos anos e vinda de um mundo totalmente diferente do nosso moderno. Como Richard Palmer exemplifica, a frase de S. Paulo “Cumprimentai-vos uns aos outros com um santo beijo”; o beijo era apenas uma forma de se cumprimentar na época. No século atual, dever-se-ia trocar “beijo” por “aperto de mão”.
Art. 215 . Ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude" (coloquei o itálico)
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
As questões da tradução, vistas nos exemplos acima, nos fornecem elementos extremamente ricos para a compreensão de um discurso, seja ele estrangeiro ou não, atendo-se sempre às significações que o uso de uma língua pode possuir dentro de seu amplo universo de comunicação.  
(V. “As Escolas Hermenêuticas e os Métodos de Interpretação das Leis”,de Marcelo Mazotti e “Hermenêutica”, de Richard Palmer)     
1) O que se entende por interpretação jurídica?
2) Explique o que é integração do direito?
3) O que se entende por aplicação do direito?
4) Explique o Princípio da Proibição do non liquet.
5) Explique a importância da interpretação jurídica (mínimo de 08 linhas).
QUESTIONAMENTOS PARA A AULA 03
 2) Hermenêutica Jurídica
Quanto à “Hermenêutica Jurídica", o termo é usado com diferentes conotações pelos autores. MIGUEL REALE, por exemplo, emprega "hermenêutica” como expressão sinônima de “interpretação do Direito", em suas Lições Preliminares de Direito.
CARLOS MAXIMILIANO, por sua vez, distingue "hermenêutica" e "interpretação"; aquela seria a teoria científica da arte de interpretar; esta seria a aplicação da hermenêutica; em suma, a hermenêutica seria teórica e a interpretação seria de cunho prático, aplicando os ensinamentos da hermenêutica.
Para MAXIMILIANO, hermenêutica seria “parte da ciência jurídica que tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos que devem ser utilizados para que a interpretação se realize”. 
A interpretação consiste em aplicar as regras que a hermenêutica especifica e ordena, para o bom entendimento dos textos legais. 
Maximiliano acrescenta que “... interpretar uma expressão do direito não é simplesmente tornar claro o respectivo dizer, abstratamente falando; é sobretudo, revelar o sentido apropriado para a vida real, e conducente à uma decisão reta.”
Ao termo “interpretação das leis”, ele prefere “interpretação das expressões do Direito”, porque não se interpretam apenas as leis, mas também o Direito Consuetudinário, os decretos, os regulamentos em geral, avisos e portarias ministeriais, instruções e circulares de autoridades administrativas, usos e decisões jurdiciárias, contratos, testamentos e outros atos jurídicos, ajustes e contratos internacionais, convenções interestaduais e intermunicipais e etc.
É o direito que surge dos costumes de uma certa sociedade, não passando por um processo formal de criaçãode leis, onde um poder legislativo cria leis, emendas constitucionais, medidas provisórias etc. No direito consuetudinário, as leis não precisam necessariamente estar num papel ou serem sancionadas ou promulgadas. Os costumes transformam-se nas leis
Direito consuetudinário
Atualmente apenas três países adotam integralmente o direito consuetudinário: a Mongólia, o Sri Lanka e Andorra (embora adote, parcialmente, o direito romano-germânico).
O sistema adotado nos países anglo-saxões e de influência britânica é o common law, não sendo um sinônimo de direito costumeiro. Na common law, o direito é criado ou aperfeiçoado pelos juízes: uma decisão a ser tomada num caso depende das decisões adotadas para casos anteriores e afeta o direito a ser aplicado a casos futuros; o costume é importante, mas não é o elemento dominante, existindo também leis escritas.
No Brasil, o costume é extremamente limitado, geralmente encontrado no âmbito do Direito Tributário e do Direito Privado, mormente nas relações de cunho comercial. Exemplos:
Fazer Fila. Considera-se a fila uma forma de organização, mesmo não estando prevista em lei.
Cheque pré-datado. Muito usado no Brasil, não é expresso em lei escrita, somente na lei usual.
OBS: No campo do direito tributário, o inciso III do art. 100 do CTN prescreve: “são normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas”. 
Outros autores já dão ao vocábulo um sentido mais amplo, que abrange a interpretação, a aplicação e a integração do Direito. Destarte, a Hermenêutica jurídica vem a ser a “teoria Científica da arte de interpretar, aplicar e integrar o direito”.
Nesse sentido, a Hermenêutica Jurídica também pode ser definida como a arte de interpretar, aplicar e integrar o direito.
De fato, há uma íntima correlação entre essas três operações, embora sejam três conceitos distintos. É assim que, se o Direito existe, existe para ser aplicado. Antes, porém, é preciso interpretá‑lo; só aplica bem o Direito quem o interpreta bem. 
Por outro lado, como a lei pode apresentar LACUNAS, é necessário preencher tais vazios, a fim de que se possa dar sempre uma resposta jurídica, favorável ou contrária, a quem se encontra ao desamparo de lei expressa.
As referidas lacunas podem ser parciais (lacunas no texto da lei) ou totais, quando inexiste lei para solucionar determinado conflito de interesses (lacuna completa).
Nesse caso é necessário preencher ou colmatar tais lacunas, a fim de que se possa dar sempre uma resposta jurídica, favorável ou contrária, a quem provoca a tutela jurisdicional (v. art. 5º, XXXV, CF/88). 
ARTIGO 5º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL:
(...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Esse processo de preenchimento das lacunas legais é denominado ‘INTEGRAÇÃO DO DIREITO’.
Artigo 126 do Código de Processo Civil de 1973, advertia que o juiz não poderia se eximir de sentenciar ao despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. O CPC de 2015 reproduz a mesa norma determinando em seu artigo 140 que:
Art. 140.  O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único.  O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
Princípio da proibição do non liquet
Artigo 4º da Lei de Introdução ao Código Civil, dispõe que na hipótese da lei ser omissa que o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito.
 Artigo 5º, inciso XXXV, da CF, consagra o direito de invocar a atividade jurisdicional, como direito público subjetivo. Não se assegura apenas o direito de agir, o direito de ação, mas também o direito de obter do Poder Judiciário a apreciação do pedido posto. 
Assim, a interpretação é tarefa prévia, indispensável à aplicação do direito. (JOÃO BAPTISTA HERKENHOFF)
A aplicação do Direito consiste em submeter o fato concreto à norma que o regule; transforma a norma geral em norma individual, sob forma de sentença ou decisão administrativa. Quando para o fato não há norma adequada, o aplicador preenche a lacuna, através da integração do direito. A integração é o processo de preechimento de lacunas existentes na lei. 
	"É apreender ou compreender os sentidos implícitos das normas jurídicas" (LUIS EDUARDO NIERTA ARTETA)
“É indagar a vontade atual da norma e determinar seu campo de incidência” (JOÃO BAPTISTA HERKENHOFF);
“Interpretar a lei é revelar o pensamento que anima as suas palavras"(CLÓVIS BEVILAQUA).
INTERPRETAÇÃO
INTERPRETAR é fixar o verdadeiro sentido e o alcance, de uma norma jurídica.
Paulo Dourado de Gusmão reza que “interpretar a lei é determinar o seu sentido objetivo, prevendo as suas consequências”. Afirma que interprertar o direito é estabelecer o sentido atual da norma, o sentido que se depreende do texto ajustado à realidade social. Para descobrí-lo, o intérprete deve pensar como homem da época atual, e não como homem do tempo em que a lei foi sancionada (Ex: mulher honesta). O sentido da lei tem que ser atual, e não retrógrado e nem revolucionário. 
Ressalte-se que o trabalho interpretativo não se limita a decifrar os sinais que os sentidos percebem, mas, também, visa à criação e elaboração intelectual, que conduz o intérprete a novas situações, quando desentranha o sentido de uma expressão (Sonia Maria S. Seganfreddo).
Destaca-se, agora, três elementos que integram o conceito de interpretação:
a) O sentido: além de descobrir o significado das palavras, deve-se descobrir a finalidade da norma jurídica. Interpretar é "compreender"; as normas jurídicas são parte do universo cultural e a cultura não se explica, se compreende em função do sentido que os objetos culturais encerram. E compreender é justamente conhecer o sentido, entender os fenômenos em razão dos fins para os quais foram produzidos.
De grande significado é o pensamento de CELSO: "saber as leis não é conhecer‑lhes as palavras, mas sim, conhecer a sua força e o seu poder". Portanto, é sempre necessário ir além da superfície das palavras, a fim de conhecer a força e o poder que advém delas.
b)	O alcance: significa delimitar o seu campo de incidência; é conhecer sobre que fatos sociais e em que circunstâncias a norma jurídica tem aplicação. Por exemplo, as normas trabalhistas contidas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) se aplicam apenas aos trabalhadores assalariados, isto é, que participam em uma relação de emprego; as normas contidas no Estatuto dos Funcionários Públicos da União têm o seu campo de incidência limitado a estes funcionários.
c)	A norma jurídica: falamos em "norma jurídica" como gênero, uma vez que não são apenas as leis, ou normas jurídicas legais que precisam ser interpretadas, embora sejam elas o objeto principal da interpretação. Assim, todas as normas jurídicas podem ser objeto de interpretação: as legais, as jurisdicionais (sentenças judiciais), as costumeiras e os negócios jurídicos.
É de suma importância a interpretação do direito com a finalidade de sintonizar a situação cultural, social, política e jurídica de uma determinada sociedade, objetivando, com isso, a realização do bem comum.
Observa-se que a palavra, mesmo usada de forma correta, gera, muitas vezes, interpretações distintas, pelo fato da linguagem normativa não apresentar significados unívocos. Como se não bastasse, existem também as hipóteses em que o texto legal vem empobrecido com erros gramaticais que confundem sobremaneira a interpretação correta da norma jurídica.
 
A IMPORTÂNCIA DA INTERPRETAÇÃO DO DIREITO
Entende-se que a maior razão de ser da atividade interpretativa consiste na obrigatoriedade do Estado na realização da paz social, dirimindo conflitos de interesses, visando, assim, manter a ordem jurídica. 
Essa tarefa obriga o operador jurídico a aplicar regras de interpretação jurídica, visando a adequar e aplicar a norma escrita ao objetodo litígio, sempre atento aos elementos concretos e vivos da experiência social.
"As leis positivas são formuladas em termos gerais; fixam regras, consolidam princípios, estabelecem normas, em linguagem clara e precisa, porém ampla, sem descer a minúcias. É tarefa primordial do executor a pesquisa da relação entre o texto abstrato e o caso concreto, entre a norma jurídica e o fato social, isto é, aplicar o Direito. Para o conseguir, se faz mister um trabalho preliminar: descobrir e fixar o sentido verdadeiro da regra positiva; e logo depois, o respectivo alcance, a sua extensão. Em resumo, o executor extrai da norma tudo o que na mesma se contém: é o que se chama interpretar, isto é, determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito" (MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p.1).
É importante mencionar que a vida humana está em constantes mudanças e adaptações, pois a vida social não esta organizada de modo inexorável e rígido; ao contrário, se desenvolve dentro de margens mais amplas, em uma grande variedade de formas suscetíveis de desenvolvimento, que exigem, sem sombra de dúvidas, um ordenamento construído sempre com liberdade e possibilidade de interpretação. 
Carlos Maximiliano ensina que “Não há como almejar que uma série de normas, por mais bem feitas que sejam, vislumbrem todos acontecimentos de uma sociedade”.
Entende-se, assim, que não se alcança a harmonia, a justiça e a ordem, simplesmente seguindo o curso livre dos acontecimentos. Daí vem a necessidade e obrigação do homem de criar um ordenamento jurídico real, passível de interpretações, sem ilusões ou mágica, visando regular os atos humanos em conformidade com a realidade social.
Não existem normas que possam abranger e esgotar todo um inventário de situações a existir em uma sociedade. Isso é ilusório, fantasioso e impossível de se estabelecer, pois, o homem é um ser dinâmico e impreciso, fatos esses que geram, sempre, situações novas, imprevisíveis na sua vida em sociedade. 
Percebe-se que a interpretação jurídica possui, sem dúvida alguma, importante função, pois a lei, por ser escrita, permanece, e, por isso, necessita da criatividade e vivência cultural do intérprete no sentido de adequá-la ao caso sub judice.
Registre-se que esta interpretação é feita, sempre, conforme algumas regras e enunciados preestabelecidos; realizada de acordo com regras de como interpretar regras jurídicas. O nome dado à ciência que estuda e confecciona o repertório de enunciados a serem respeitados pela via interpretativa é HERMENÊUTICA.
Vê-se que a interpretação tem caráter concreto, seguindo uma via preestabelecida, em caráter abstrato, pela hermenêutica. Pode-se dizer que a interpretação somente se dá em confronto com o caso concreto a ser analisado e decidido pelo judiciário. A hermenêutica, ao contrário é totalmente abstrata, isto é, não tem em mira qualquer caso a resolver.
Com a maestria que lhe é peculiar, Carlos Maximiliano ressalta "o erro dos que pretendem substituir uma palavra pela outra; almejam, ao invés de Hermenêutica, - Interpretação. Esta é aplicação daquela; a primeira descobre e fixa os princípios que regem a segunda. A Hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar." 
(MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 1).
Carlos Maximiliano ressalta, ainda, que "não basta conhecer as regras aplicáveis para determinar o sentido e o alcance dos textos. Parece necessário reuni-las e, num todo harmônico, oferecê-las ao estudo, em um encadeamento lógico.
Assim, a interpretação jurídica é a aplicação ao caso concreto de técnicas já estabelecidas pela ciência da hermenêutica para se descobrir a finalidade e o alcance de uma norma jurídica.
Próxima aula: Hermenêutica, integração do direito e o problema das lacunas jurídicas.
(Página 111 do livro HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO JURÍDICA do Ricardo maurício Freire Soares)
Pesquisar lacunas na legislação brasileira.
É a atividade de preenchimento das lacunas jurídicas, que são os vazios ou as imperfeições que comprometem a ideia de completude do sistema jurídico.
A realidade é que faz-se necessário descobrir se o sistema jurídico é COMPLETO ou INCONPLETO. Ou seja, se ele pode alcançar todos os campos das relações/ interações sociais ou se há condutas não alcançadas pela norma jurídica.
INTEGRAÇÃO DO DIREITO
Para muitos doutrinadores nosso sistema jurídico seria FECHADO (COMPLETO). 
Para eles, nosso sistema jurídico estaria protegido pela máxima “tudo que não está juridicamente proibido, está juridicamente permitido”. Assim, a completude do sistema jurídico estaria balizada na utilização do referido raciocínio lógico.
SISTEMA JURÍDICO FECHADO
Existem ainda os que defendem a completude do sistema jurídico em razão de localizarem os problemas das lacunas jurídicas no campo da jurisdição, considerando para isso a atuação do julgador.
Dessa forma, os referidos doutrinadores negam a existência de lacunas, tendo-se em vista que os magistrados nunca poderão se eximir de julgar alegando a falta ou a obscuridade da lei. Nesse sentido, ao decidir o caso concreto, o magistrado estaria criando uma norma individualizada e assegurando a completude do sistema jurídico.
Boa parte da doutrina, inclusive Ricardo Maurício Freire Soares, defende que o sistema jurídico brasileiro seria aberto (INCOMPLETO), tendo-se em vista que o Direito seria uma fenômeno histórico-cultural submetido às transformações que ocorrem no campo dinâmico dos valores e dos fatos sociais. 
Assim, como o legislador não teria como prever TODAS as situações sociais, o sistema não teria como ser fechado.
SISTEMA JURÍDICO ABERTO
a) LACUNA NORMATIVA: caracterizada pela inexistência de norma regulando expressamente um dado campo da interação social.
Ex: casamento gay, greve dos servidores públicos e etc
Sendo aberto, o sistema jurídico sofreia das seguintes espécies de lacunas:
b) LACUNA FÁTICA: caracterizada pelo descumprimento social de determinado regramento jurídico. O agente social decide por descumprir determinado regramento jurídico conscientemente., revelando uma espécie de revolta social.
Ex:...(cinto de seguramça...capacete...) é o que se verifica no descumprimento do tempo máximo de permanência de 15 min nas filas dos bancos, o que se verificou com a Lei 7.853/89...etc 
	Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências.
LEI Nº 7.853, DE 24 DE OUTUBRO DE 1989.
Art. 2º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.
Parágrafo único. Para o fim estabelecido no caput deste artigo, os órgãos e entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos objetos esta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:
(...)
V - na área das edificações:
a) a adoção e a efetiva execução de normas que garantam a funcionalidade das edificações e vias públicas, que evitem ou removam os óbices às pessoas portadoras de deficiência, permitam o acesso destas a edifícios, a logradouros e a meios de transporte.
b) LACUNA VALORATIVA: caracterizada pela valoração da norma jurídica existente como injusta, não estando em conformidade com os valores socialmente aceitos.
Ex: é o que se verifica com a legislação tributária por ser consideradaexcessivamente onerosa e por não realizar a justiça fiscal; o que se verifica ...
Uma nova regulamentação do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) sobre o uso de extintores em automóveis, comerciais leves e caminhões, definida em 2009 (resolução 333/2009), passa a vigorar a partir desta quinta-feira, 1º de janeiro. Todos os automóveis que circulam no Brasil devem estar equipados com extintores de incêndio com carga de pó "ABC", que pode combater três classes de incêndio.
Desde modelos 2005 (nessa lista também incluem-se veículos ano-modelo 2004/2005), todos os carros saem de fábrica equipados com um extintor desta categoria. 
Portanto, todos os automóveis fabricados em 2004 ou antes devem fazer a troca do equipamento -- nestes modelos, o aparelho tem somente a descrição "BC".
A referida determinação legal não surtiu o efeito esperado, pois a sociedade entendeu que tratava-se de uma norma injusta.
NORMATIVA
FÁTICA
VALORATIVA
INEXISTÊNCIA DE NORMA JURÍDICAregulando expressamente um dado campo da interação social
descumprimento social de determinado regramento jurídico, revelando uma espécie deREVOLTA SOCIAL.
valoração da norma jurídica existente comoINJUSTA.
ESPÉCIES DE LACUNAS:
QUESTÕES: 
1) Quais as semelhanças 
e as diferenças existentes entre as lacunas fáticas e as lacunas valorativas?
2) O QUE DIFERENCIA AS LACUNAS NORMATIVAS DAS DEMAIS?
Nesse sentido, verifica-se que o sistema jurídico pode ser lacunoso; entretanto ele mesmo oferece mecanismos para preencher as referidas lacunas.
São os chamados instrumentos de integração do direito:
a) Analogia
b) Costumes
c) Princípios gerais do direito 
d) Equidade (nos casos previstos em lei)
LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Art. 140 O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. 
Parágrafo único.  O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
PREVISÃO LEGAL
Raciocinar por analogia significa julgar pelas semelhanças dos fatos, ou seja, usando essa lógica no direito seria o mesmo que aplicar a norma existente no ordenamento jurídico a um caso não previsto na norma jurídica, desde que eles guardem semelhanças reais.
Nesse sentido, analogia é a aplicação de uma norma jurídica que regula um determinado caso concreto à outra situação fática semelhante. Ex: aplicação do CC, que regula os contratos escritos, às avenças realizadas na internet.
 ANALOGIA
REQUISITOS da ANALOGIA:
 
- INEXISTÊNCIA de dispositivo legal prevendo ou disciplinando a hipótese do caso concreto.
 
- SEMELHANÇA entre o caso concreto e a situação não regulada.
 
-IDENTIDADE de fundamentos lógico/jurídico no ponto comum às duas situações.
Analogia “In bonam partem” – Aplica-se ao caso de omissão ou lacunas pelo Legislador, uma lei análoga benéfica, favorável ao réu; disciplinadora de casos semelhantes.
“In malam partem” – Seria aplicar ao caso concreto, por lacuna na Lei, norma comparativa maléfica ao réu. Por falta de previsão legal o interprete não pode criar, modificar extensivamente leis existentes.
ANALOGIA NO DIREITO PENAL
Por exemplo, o “furto de uso” não constitui crime. Se uma mulher subtrai o vestido de outra para usar por uma noite e depois devolve nas mesmas condições não há crime, pois a conduta descrita não é prevista no Código Penal.
Ou seja, a analogia não pode ser utilizada para prejudicar o agente (sujeito ativo) - analogia in malam partem.
CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO - FURTO SIMPLES - DELITO CARACTERIZADO - PRETENSÃO DEFENSIVA DE VER RECONHECIDO O "FURTO DE USO" - INOCORRÊNCIA - AUTOMÓVEL APREENDIDO DISTANTE DO LOCAL DE ONDE FOI RETIRADO, BASTANTE DANIFICADO - FIXAÇÃO DA PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL EM FACE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS - POSSIBILIDADE - CONDENAÇÃO MANTIDA
TJ-SC – AC/APR 93015 SC 1998.009301-5 (TJ-SC)
Para que se possa pretender caracterizado o furto de uso é imprescindível a ocorrência dos requisitos da momentaneidade da posse e da restituição da coisa. Ante a ausência de qualquer deles, o ato do agente tipifica o furto simples. Para a fixação da pena-base, deve o Juiz levar em consideração, além da primariedade ou não do acusado e dos seus antecedentes, a vida pregressa do acusado, os motivos, as circunstâncias e as conseqüências do crime, cujos fatores podem levar a fixação da pena-base acima do mínimo, devendo esta ser aplicada de molde a ser necessária para a reprovação e prevenção do crime e reeducação do sentenciado.
O princípio da insignificância só é aplicável ao CRIME DE DESCAMINHO — previsto no artigo 334 do Código Penal — quando o valor dos tributos não pagos for inferior a R$ 10 mil.
Art. 334  Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos
STJ define R$ 10 mil como insignificância para o crime de descaminho
O limite de R$ 10 mil foi instituído pela Lei 11.033/04 (que alterou a Lei 10.522/02) como valor mínimo para a Fazenda Nacional executar dívidas fiscais. Posteriormente, a portaria 75/12, do Ministério da Fazenda, elevou esse valor para R$ 20 mil. Para o TRF-4, se a administração fazendária decidiu não executar débitos abaixo de R$ 20 mil, esse também deveria ser o limite para a aplicação do direito penal aos casos de descaminho.
Quando o costume não é previsto pela lei nem por ela proibido, pode ser utilizado enquanto mecanismo de preenchimento da lacuna, permitindo ao juiz redigir uma sentença em conformidade com ele.
Na ausência de lei, assim, o juiz pode constatar que a própria sociedade estabeleceu um critério para regular o fato, repetindo-o ao longo do tempo e tomando consciência de sua obrigatoriedade. Utilizará tal critério para julgar o caso.
COSTUMES
Os princípios gerais do direito são as regras mais gerais que delimitam o ordenamento jurídico. Podem ser considerados regras das regras, pois permitem:
A determinação da validade das demais normas jurídicas;
A determinação do sentido das demais normas jurídicas (interpretação);
A integração do direito;
A produção adequada de novas normas jurídicas, gerais ou concretas.
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO
Um princípio jurídico nem sempre está positivado por uma norma legislativa. Há vários princípios que norteiam os itens acima sem estarem necessariamente escritos em qualquer texto legal. 
Um exemplo é o princípio de que os pactos devem ser cumpridos, fundamental para a existência do direito contratual, mas que não está expressamente escrito em qualquer norma positivada.
Outros princípios, por seu turno, estão transformados em textos escritos em normas positivadas, como é o caso de muitos artigos da Constituição Federal. 
Assim, o inciso III do art. 1º da CF estabelece o princípio da dignidade da pessoa humana como fundamental do Estado brasileiro. 
O princípio da igualdade está consagrado no art. 5º do mesmo documento.
Para preencher uma lacuna, o princípio fundamentará a criação de uma norma concreta pela autoridade jurisdicional.  Esta, constatando a lacuna, pode recorrer aos princípios gerais e produzir uma norma que permita ao direito concretizar seus fins sociais e propiciar condições para a realização de valores que levam ao bem comum.
Em termos simplificados, trata-se de um julgamento feito conforme o senso pessoal de justiça do julgador.
 
Analisando o caso em suas peculiaridades reais, o juiz estabelece uma noção própria do que é certo e do que é errado. Essa noção, assim, é a equidade.
O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos na lei. (Parágrafo único do artigo 140, do CPC)
EQUIDADE
Na interpretação das leis, ao buscar seus fins sociais e o bem comum, o juiz deve escolher um significado, conforme seu senso de equidade, que permita a concretizaçãodessas duas missões; 
Nos casos de lacunas voluntárias ou involuntárias, o juiz pode decidir exclusivamente conforme a equidade
Código Civil
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
Exemplos
Art. 723. (...)
Parágrafo único. O juiz não é obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que considerar mais conveniente ou oportuna.
Procedimentos de jurisdição voluntária
A jurisdição voluntária trata-se de uma atividade estatal que busca integrar a vontade humana à lei, isto é, busca-se do Poder judiciário a integração da vontade, para torná-la apta a produzir determinados efeitos jurídicos. 
Há certos efeitos jurídicos decorrentes da vontade humana que somente podem ser obtidos após a integração dessa vontade perante o Poder Judiciário, que necessita FISCALIZAR os requisitos legais para a obtenção do resultado pretendido. Ex: homologação de divórcio, extinção consensual da união estável, abertura de testamento , interdição, adoção sem litígio e etc.
ANTINOMIAS JURÍDICAS (pag. 114)
INTERPRETAÇÃO DO DIREITO E AS CLAUSULAS GERAIS (pag. 119)
PRÓXIMA AULA
1) O que são antinomias jurídicas?
2) Diferencie Antinomia Própria de Antinomia Imprópria.
3) Quais os tipos de antinomias impróprias? Explique cada um.
4) Como são solucionadas as antinomias jurídicas?
5) Quais são os instrumentos de integração do direito? Explique cada um.
ANTINOMIAS JURÍDICAS
(Questões)
O estudo das antinomias jurídicas relaciona-se à questão da CONSISTÊNCIA do ordenamento jurídico. Está ligado ao problema da COERÊNCIA do sistema jurídico.
ORDENAMENTO = SISTEMA
JURÍDICO JURÍDICO
ANTINOMIAS JURÍDICAS
Para que um sistema seja coerente ou consistente é necessário que os seus elementos não entrem em contradição entre si.
Nesse sentido, quando DUAS NORMAS do mesmo ornamento jurídico estão em CONFLITO, disciplinando a mesma matéria de forma diferente, estar-se-á diante de uma incoerência ou inconsistência do ordenamento jurídico chamada de ANTINOMIA JURÍDICA
Tércio Sampaio FERRAZ JÙNIOR, entende antinomia como: "(...) a oposição que ocorre entre duas normas contraditórias (total ou parcialmente), emanadas de autoridades competentes num mesmo âmbito normativo, que colocam o sujeito numa posição insustentável pela ausência ou inconsistência de critérios aptos a permitir-lhe uma saída nos quadros de um ordenamento dado." [04]
Segundo Gisele LEITE:
"A antinomia representa fenômeno comum que espelha o conflito entre duas normas, dois princípios, entre uma norma e um princípio geral de direito em sua aplicação prática a um caso particular. É fenômeno situado dentro da estrutura do sistema jurídico que só a terapêutica jurídica pode suprimir a contradição. Apaziguando o direito com a própria realidade de onde emana."
Nesse sentido, isso se verifica quando diferentes normas jurídicas proíbem e permitem um mesmo comportamento de modo a gerar uma situação de difícil solução.
O ordenamento jurídico deve encerrar um conjunto unitário e ordenado de elementos em função de princípios coerentes e harmônicos. 
Entretanto, não é isso que se constata quando o mesmo apresenta normas cujas antinomias não possam ser resolvidas por nenhum dos critérios apresentados pela doutrina
O grande problema de um ordenamento jurídico revelar-se inconsistente ante a existência de antinomias é a dificuldade que causa ao operador jurídico, no momento em que este precisa encontrar uma solução para os problemas que lhe são apresentados. 
Em algumas ocasiões, a antinomia encontrada pelo operador será considerada APARENTE porque, ainda que difícil, alguma solução existirá para afastá-la utilizando-se de um dos critérios possíveis (hierárquico, cronológico ou da especialidade). 
A antinomia aparente pressupõe a existência de critérios que permitam sua solução. Constatada a existência de antinomias aparentes, cumpre ao operador jurídico conhecer os critérios que podem ser utilizados na solução do impasse ocasionado entre as normas aparentemente incompatíveis, eis que não demonstram verdadeiramente inconsistência do ordenamento jurídico.
ANTINOMIA REAL X ANTINOMIA APARENTE
As ANTINOMIAS REAIS pressupõem um conflito ou uma colisão entre normas jurídicas, que se excluem reciprocamente, por ser impossível remover a contradição com os critérios existentes no ordenamento jurídico, até mesmo porque esses são conflituosos. 
Em tais ocasiões, como a remoção da contradição não será possível nem se utilizando dos referidos critérios, estar-se-á diante de uma antinomia REAL, e então a alternativa, na maioria dos casos, será a ab-rogação* de uma das normas antinômicas.
* revogação completa da norma
O reconhecimento desta lacuna não exclui a possibilidade de uma solução efetiva, quer por meios ab-rogatórios (edita-se nova norma que opta por uma das normas antinômicas), quer por meio de interpretação equitativa, recurso ao costume, à doutrina, a princípios gerais do direito, entre outros. 
O fato, porém, de que estas antinomias ditas reais sejam solúveis desta forma não exclui a antinomia, mesmo porque qualquer das soluções, ao nível da decisão judiciária, pode suprimi-la no caso concreto, mas não suprime a sua possibilidade no todo do ordenamento. 
TÉRCIO SAMPAIO FERRAZ JÙNIOR:
O reconhecimento de que há antinomias reais indica, por fim, que o direito não tem o caráter de sistema lógico-matemático, pois sistema pressupõe consistência, o que a presença da antinomia real exclui. 
ANTINOMIAS PRÓPRIAS: são as que se verificam toda vez que uma norma jurídica proíbe uma dada conduta enquanto outra norma jurídica faculta a mesma conduta. 
Ex: norma do Código Militar que prescreve a obediência incondicionada às ordens superiores X disposição do Código Penal que condena a prática de certos atos, como matar. Ante a ordem de um Capitão que ordena o fuzilamento de um prisioneiro de guerra, o soldado se vê às voltas com duas normas conflitantes - a que impõe obediência e a que impõe pena por matar um ser humano. Somente uma delas pode ser tida como aplicável.
CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS: PRÓPRIAS E IMPRÓPRIAS
Não podem existir duas regras jurídicas que impõem dois juízos concretos de dever contraditórios e que sejam ao mesmo tempo válidas. Essa é a denominada ANTINOMIA JURÍDICA PRÓPRIA.
Uma regra sendo válida deve-se fazer o que ela exige. As antinomias próprias caracterizam-se pelo fato de o sujeito não poder atuar segundo uma norma sem violar a outra, devendo optar, e esta sua opção implica a desobediência a uma das normas em conflito.
ANTINOMIAS IMPRÓPRIAS: são as contradições consideradas mais sutis entre as normas jurídicas, envolvendo conflitos de valores, finalidades, sentidos e terminologias do sistema jurídico.
A doutrina refere-se á antinomia jurídica imprópria, quando o conflito alinhado entre normas NÃO conduz à conclusão de que a escolha de uma delas, em detrimento de outra, implica desobediência á segunda. 
Nesse sentido, o conflito se manifesta, há incompatibilidade entre ambas, porém, não resulta em antinomia jurídica própria, ou seja, a escolha por uma delas, não implicará necessariamente em descumprimento de outra.
antinomia imprópria principiológica: quando os princípios jurídicos de um ordenamento protegem valores opostos, entrando em colisão, sinalizando soluções diversas para o aplicador do direito. 
Ex: PUBLICIDADE X INVIOLABILIDADE DA 					INTIMIDADE E DA 					VIDA PRIVADA
CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS IMPRÓPRIAS
A Lei n. 12.527/11, denominada Lei de Acesso à Informação, popularmente conhecida como Lei da Transparência, nasceu com o objetivo de proporcionar à população acesso simplificadoa todos os dados e informações tutelados pela Administração Pública.
Dessa forma, em decorrência da referida lei, atualmente pode ser encontrado nos portais da transparência a divulgação nominal da remuneração dos servidores públicos. Nesse caso, como fica o Princípio da Inviolabilidade da Intimidade e da Vida Privada? 
PUBLICIDADE x INTIMIDADE/VIDA PRIVADA
Art. 5°: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. (BRASIL, 1988).
Por outro lado, também assegura o art. 5º, inciso XXXIII:
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (BRASIL, 1988).
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
antinomia imprópria valorativa: é o que se verifica quando há uma discrepância entre os valores cristalizados por duas ou mais normas jurídicas, como se verifica quando uma norma pune mais severamente uma infração social mais branda e mais brandamente uma infração social mais severa.
Ex: HOMICÍDIO x CRIMES CONTRA A 					ADMINISTRAÇÃO 					PÚBLICA.
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguem:
Pena - reclusão, de 06 a 20 anos.
DOS CRIMES PRATICADOS
POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
Peculato
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de 02 a 12 anos, e multa.
       
Antinomia imprópria teleológica: é o que se verifica quando há incompatibilidade entre os fins propostos por certas normas e os meios propostos por outras para a consecução daqueles fins.
Ocorre quando uma norma jurídica estabelece os meios para a aplicabilidade de outra norma, entretanto, os meios estabelecidos se mostram INCOMPATÍVEIS para os fins a que a norma se destina. 
Ex: Lei que fixa o salário mínimo vigente no país... As disposições do CC referentes à família e etc.
(CF/88)Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
(...)
IV - salário mínimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
DECRETO 8948 DE 2017
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 2º da Lei nº 13.152, de 29 de julho de 2015,
 DECRETA:
 Art. 1º  A partir de 1º de janeiro de 2017, o salário mínimo será de R$ 937,00 (novecentos e trinta e sete reais).
 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Antinomia imprópria semântica: é o que se verifica quando uma palavra comporta diferentes sentidos a depender do ramo jurídico em que é utilizada.
A palavra POSSE no direito civil tem sentido diferente do seu significado no direito administrativo.
No direito civil, resulta do vínculo da ação de qualquer pessoa, física ou jurídica, sobre a coisa, com a nítida intenção que ela passe a integrar o seu patrimônio, e assim passando a gerar direitos.
No sentido administrativo, apresenta-o com o significado de aptidão, capacidade de ser investido ou assumir compromisso no serviço público, referindo-se ao início de suas atividades administrativas. Significa aceitação de atribuições, responsabilidade e direitos do cargo, pelo nomeado, efetuando-se por assinatura de um termo. 
a) Critério Cronológico: na existência de duas normas incompatíveis, prevalece a norma posterior. Este critério é anunciado pelo brocardo jurídico: lex posterior derogat legi priori. 
Essa regra se explica pelo fato de a eficácia da lei no tempo ser limitada ao prazo de sua vigência, que começa com a sua publicação e perdura até a sua revogação. Assim, a lei só começa a produzir seus efeitos após entrar em vigência e deixa de produzi-los depois de revogada. 
CRITÉRIOS PARA SOLUÇÃO DAS ANTINOMIAS JURÍDICAS
Decreto-Lei n. 3.200, de 19 de abril de 1941:
"Art. 1º O casamento de colaterais, legítimos ou ilegítimos do terceiro grau, é permitido nos termos do presente decreto-lei.“
"Art. 1.521 do CC. Não podem casar:
(...)
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
 
O Código Civil de 2002 revogou tacitamente o art. 1º do Decreto-Lei n.º 3.200/41. Como chegamos a essa conclusão? Vejamos mais á frente como resolver esse conflito.
b) Critério Hierárquico: também chamado de Lex superior, porque inspirado na expressão latina lex superior derogat legi inferiori. Por esse critério, na existência de normas incompatíveis, prevalece a hierarquicamente superior. O contrário, uma norma inferior revogar uma superior é inadmissível.
Ex: Conflito entre uma lei ordinária e a Constituição Federal. Todas as ADIs versam sobre esse tipo de conflito.
C) Critério da Especialidade: também denominado Lex specialis, em função da expressão latina lex specialis derogat legi generali. Por esse critério, se as normas incompatíveis forem geral e especial, prevalece a especial. 
O entendimento que norteia esse critério diz respeito à circunstância de a norma especial contemplar um processo natural de diferenciação das categorias, possibilitando, assim, a aplicação da lei especial à aquele grupo que contempla as peculiaridades nela presentes, sem ferir a norma geral, ampla por demais. Além do mais, a aplicação da regra geral importaria no tratamento igual de pessoas que pertencem a categorias diferentes, e, portanto, numa injustiça. Ex: Lei de locação X Código Civil
D) PODERAÇÃO: método utilizado para solucionar antinomias principiológicas. 
As normas principiológicas consubstanciam valores e fins muitas vezes distintos, apontando para soluções diversas e contraditórias para um mesmo problema.
A interpretação jurídica contemporânea, na esteira do pós-positivismo, deparou-se, então, com a necessidade de desenvolver técnicas capazes de lidar com a natureza essencialmente dialética do ordenamento jurídico; a PONDERAÇÃO.
Nesse sentido, ponderar significa interpretar e decidir dentre os princípios envolvidos na antinomia em questão, qual representa e configura uma decisão mais JUSTA. Para isso, analisa-se quais valores/ bens estão sendo protegidos, para ponderar qual merece maior proteção.
A PONDERAÇÃO se decompões em 03 etapas:
1) identificação das normas pertinentes
2) seleção dos fatos relevantes
3) atribuição geral de pesos (ponderação propriamente dita)
Constatada uma antinomia, imensa é a insegurança que passa a reinar na sociedade: o ordenamento que era o maior centro de segurança passa a difundir a insegurança e a incoerência. 
E o problema não para por aí, já que os conflitos jurídicos não podem ficar sem solução. Assim, no campo das antinomias aparentes, verificou-se que são disponibilizados ao operador jurídico critérios para afastá-las. 
Agora, no que tange às antinomias reais, como bem disse o prof. Tércio Sampaio FERRAZ JÙNIOR, por mais que se encontre uma solução para o caso concreto, a antinomia permanece, fazendo-se necessária uma intervenção legislativa eficaz.
A solução mais sensata, considerando-se os inúmeros posicionamentos doutrinários e filosóficos a respeito, é partir do pressupostode que não é o ordenamento jurídico que é incoerente, mas sim as suas normas. 
O direito pode até ser harmônico, mas as normas jurídicas podem encerrar antinomias, no entanto. Há de se pensar assim, porque mesmo a ab-rogação de uma lei pelo Poder Legislativo é uma alternativa prevista pelo ordenamento jurídico.
 Assim, os operadores jurídicos podem defender a tese segundo a qual o ordenamento jurídico é consistente, de forma que as soluções para todos os impasses, especialmente entre normas, neles se encontram presentes, até porque o fenômeno das antinomias jurídicas ocorre com freqüência por circunstâncias inevitáveis e especialmente porque aqueles encarregados de confeccionarem as leis não possuem, nas mais das muitas vezes, o conhecimento técnico necessário para essa atividade.
1) O que se entende por interpretação jurídica?
2) O que é integração do direito?
3) O que se entende por aplicação do direito?
4) Explique a importância da interpretação jurídica. 
REVISÃO
5) diferencie HERMENÊUTICA de INTERPRETAÇÃO.
6) O que é DIREITO CONSUETUDINÁRIO? Existe exemplos no ordenamento jurídico brasileiro?
7) Explique o que determina o Princípio da Proibição do non liquet. Ele tem previsão no ordenamento jurídico brasileiro?
8) Relacione e explique os três elementos que integram o conceito de interpretação:
9) Em se tratando de lacunas jurídicas, explique o que vem a ser um SISTEMA JURÍDICO FECHADO ou COMPLETO.
10) Em se tratando de lacunas jurídicas, explique o que vem a ser um SISTEMA JURÍDICO ABERTO ou INCOMPLETO.
11) O que é uma lacuna normativa?
12) Explique o que é uma lacuna fática.
13) Explique o que é uma lacuna valorativa.
14) Quais as semelhanças e as diferenças existentes entre as lacunas fáticas e as lacunas valorativas?
15) O QUE DIFERENCIA AS LACUNAS NORMATIVAS DAS DEMAIS?
16) Quais os mecanismos existentes no ordenamento jurídico brasileiro para solucionar os problemas das lacunas jurídicas? Explique cada um.
17) O que são antinomias jurídicas?
18) Diferencie Antinomia Própria de Antinomia Imprópria.
19) Quais os tipos de antinomias impróprias? Explique cada um.
20) Como são solucionadas as antinomias jurídicas? 
21) Diferencie antinomia REAL de antinomia APARENTE.
22) Qual o método utilizado para solucionar antinomias principiológicas? Explique.
23) Os operadores jurídicos podem defender a tese segundo a qual o ordenamento jurídico é consistente? Explique.
FIM
1) Explique a crise normativa do século XX.
2) Explique o movimento da descodificação.
3) Relacione a crise do século XX com o movimento da descodificação.
4) O que se entende por constitucionalização do direito civil.
5) Pesquisar sobre a FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO, PROBIDADE e a BOA-FÉ previstas no CC/02; bem como sobre O DEVIDO PROCESSO LEGAL.
6) O que são CLÁUSULAS GERAIS? 
QUESTIONÁRIO PARA A AULA 09
A partir do século XVIII, especialmente no século XIX, as relações sociais tornaram-se mais complexas, carecendo de amparo legal que garantisse certeza jurídica, de modo a viabilizar o pleno desenvolvimento social da época. Neste cenário de evolução, surgiram as grandes codificações européias. Este fenômeno foi batizado como a ERA DA CODIFICAÇÃO, tendo como principais expoentes o Código de Napoleão, o Código Civil alemão – B.G.B.1 e o Código Civil Italiano.
A CRISE NORMATIVA DO SÉCULO XX
Como conseqüência desta nova perspectiva, a atividade interpretativa passou a ser vinculada à estrita aplicação da lei e ao juiz coube a tarefa de aplicar a legislação dentro da legalidade mais restrita.
Nesta linha de acontecimentos, o sistema de regras jurídicas foi pensado para reger a conduta dos sujeitos de direito de forma plena, franqueando solução para todos os conflitos da vida, no âmbito privado.
Paralelo ao estágio de segurança jurídica, o mundo presenciou grandes avanços tecnológicos, a ponto de tal período ser classificado como REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, acarretando enorme desenvolvimento econômico e cultural para a civilização da época.
A fase de expansão exigiu grandes mudanças estruturais da sociedade contemporânea, quando se passou a explorar a força de trabalho em prol do retorno econômico. 
Entretanto, tal situação deu origem a um efeito inverso. Os trabalhadores que se sentiam explorados passaram a buscar seus direitos e garantias, revelando senso crítico aos acontecimentos oriundos dos objetivos capitalistas.
À vista de uma sociedade pluralista, com diferentes ambientes culturais e econômicos, ocorrendo transformações em alta velocidade, houve a necessidade de buscar um sistema legislativo que, de alguma forma, acompanhasse as novas relações emanadas da sociedade. 
Desde então, a idéia de centralidade do código civil pareceu estar fadada ao insucesso, pois já não mais atendia, ou melhor, acompanhava o avanço das relações modernas. Diante desta nova realidade, a doutrina instituiu o discurso do movimento de DESCODIFICAÇÃO.
Com o objetivo de integrar o sistema jurídico, o legislador criou leis especiais com o escopo de disciplinar situação que, porventura, não estivesse prevista no Código Civil.
Conforme acima explicitado, o conflito social decorrente do desenvolvimento tecnológico, experimentado pela fase da revolução industrial, se intensificou, principalmente depois do pós-guerra, fazendo com que o Estado legislador lançasse mão rotineiramente das leis especiais, que tinham cunho tão-somente emergencial e restrito.
DESCODIFICAÇÃO
A referida prática ficou conhecida como a crise do Código Civil como “constituição do direito privado", uma vez que perdeu seu caráter de exclusividade.
Entretanto, alheio a esta nova perspectiva, o legislador brasileiro elaborou o projeto do Código Civil vigente que pareceu ter como pretensão a retomada da era da codificação.
O direito civil demonstrou esgotamento das categorias do direito privado, haja vista que já não mais era capaz de estabelecer a necessária interlocução entre os saberes jurídicos, na ótica da esfera privada e da pública.
CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL – ABERTURA DO SISTEMA
“O Código Civil perde, assim, definitivamente, o seu papel de Constituição do direito privado. Os textos constitucionais, paulatinamente, definem princípios relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Código Civil e ao império da vontade: a função social da propriedade, os limites da atividade econômica, a organização da família, matérias típicas do direito privado, passam a integrar uma nova ordem pública constitucional. Por outro lado, o próprio direito civil, através da legislação extracodificada, desloca sua preocupação central, que já não se volta tanto para o indivíduo, senão para as atividades por ele desenvolvidas e os riscos delas decorrentes.”
Gustavo Tepedino registrou o surgimento deste novo paradigma:
À Constituição é dado o papel de unificar o sistema jurídico, conformando a elaboração e aplicação da legislação civil, para que possa dirimir eventuais conflitos existentes nos diversos ramos da Ciência Jurídica. 
Nesse sentido, a CF/88 trouxe a real mudança de atitude, pois deve o jurista interpretar o Código Civil segundo a Constituição e não a Constituição, segundo o Código, como aconteceria nos tempos passados.
Luiz Edson Fachin conclui que “estudar o Direito Civil, significa estudar (seus) princípios a partir da Constituição. O Direito Constitucional penetra, hoje, em todas as disciplinas e, via de conseqüências, também no Direito Civil...”.
Com isso, o jurista passou a notar o ordenamento jurídico por uma visão sistemática, não mais sendo cogitada a interpretação do direito por tiras. Por esta ótica agrupadora, a Constituição teve inserido em seu contexto o valor das normas de estrutura, tais como os princípios e as normas de caráter programático, para garantir os direitos individuais e fundamentais, que tem como ideal a emancipação da sociedade pós-moderna.
Neste desiderato, a Constituição é o vértice de interpretação das normasinfraconstitucionais, assumindo de vez a natureza de paradigma de interpretação. 
O sistema jurídico é idealizado, a partir de então, como um sistema aberto, contendo normas que visam captar a mudança da realidade e estarem abertas às concepções cambiantes da verdade e da justiça.
Nesse sentido, o ordenamento jurídico pensado sob a dogmática exclusivamente positivista revela-se inapto a reger os fatos da vida contextualizado aos interesses sociais.
Assim, o legislador contemporâneo visualizou nas cláusulas gerais normas que não prescrevem uma certa conduta, mas, simplesmente, definem valores e parâmetros hermenêuticos. 
A legislação brasileira vem passando por um processo de evolução. A concepção positivista tem sido flexibilizada, o legislador tem buscado integrar o sistema jurídico com ferramentas legislativas que carregam alta carga de valor, delegando as normas maior grau de funcionalidade.
Esta necessidade de ferramentas legislativas decorreu de um processo intitulado de CRISE NORMATIVA DO SÉCULO XX. O fato é que o ordenamento jurídico tornou-se deficiente para reger as relações sociais que surgiram com o desenvolvimento industrial. A legislação não acompanhava as situações inusitadas que afloravam no mundo jurídico.
CLÁUSULAS GERAIS 
Nesse sentido, as CLÁUSULAS GERAIS surgem como técnica legislativa adequada para a conformação dos princípios aplicados ao processo e a tutela dos direitos fundamentais dos cidadãos (Ricardo Maurício Freire Soares).
O Código Civil de 2002 ratificou a mudança de paradigma, realçando a presença das cláusulas gerais no direito brasileiro. Estes enunciados normativos carregam conteúdo propositadamente INDETERMINADO e que têm o intuito de propiciar uma adaptação entre o sistema jurídico calcado em normas de conteúdo rígido e uma realidade cambiante a requerer respostas mais ágeis para a solução dos conflitos sociais.
O aplicador do direito, diante desta nova realidade, teve sua importância aumentada, haja vista que as cláusulas gerais exigem importante atividade interpretativa do Poder Judiciário para que realize as necessárias adaptações ao sistema jurídico vigente.
“Cabe ao intérprete depreender das cláusulas gerais os comandos incidentes sobre inúmeras situações futuras, algumas delas sequer alvitradas pelo legislador, mas que se sujeitam ao tratamento legislativo pretendido por se inserirem em certas situações-padrões: a tipificação taxativa dá lugar a cláusulas gerais, abrangentes e abertas.”
Gustavo Tepedino arremata a questão da inserção das cláusulas gerais no ordenamento jurídico nacional:
Nesse sentido, não restam dúvidas que este ambiente é propício para a inserção de cláusulas gerais de modo a dotar o sistema jurídico da mobilidade necessária para enfrentar situações cambiantes. 
Assim, a TIPIFICAÇÃO TAXATIVA dá lugar a CLÁUSULAS GERAIS, abrangentes e abertas.
Partindo da premissa filosófica de conceber o Direito como uma ciência social, não há como descurar o entendimento de que tal ciência estará sempre em formação, pois nunca estará plenamente satisfeita se levar em consideração apenas o leque de leis que desafiam a hipótese de preverem o casuísmo posto ao legislador.
A sociedade pós-moderna vive num contexto de transformação, o uso da tecnologia dispôs às pessoas o livre acesso às informações, dando oportunidade do contexto social modificar de tal forma que põe em crise o positivismo jurídico. Entretanto, se o ordenamento comporta cláusulas gerais, é facultado ao juiz adaptar o direito às mudanças sociais, no momento de concretização destes textos legais. Tal conclusão só vem a confirmar a máxima de que o direito acompanha os fatos da vida.
Art. 421 do CC. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.
Art. 422 do CC. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Art. 113 do CC. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Exemplos:
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; (artigo 5º da CF/88)
Para melhor demonstrar as funções das cláusulas gerais, faz-se útil apresentar alguns julgados, de sorte a enriquecer didaticamente as argumentações trazidas:  
No julgamento do Habeas Corpus n. 12.547 impetrado contra decisão do Desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios – TJ/DF, que manteve o decreto de prisão por quatro meses, por ser a paciente considerada depositária infiel, pela recusa de entregar o veículo objeto do contrato de alienação fiduciária, o Superior Tribunal de Justiça – STJ, em acórdão relatado pelo Ministro Ruy Rosado, concedeu a ordem para impedir o cumprimento da ordem de prisão.  
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; (artigo 5º da CF/88)
Para a fundamentação do presente caso, o Ministro Ruy Rosado de Aguiar colheu lições sorvidas na doutrina para reforçar o discurso da função das cláusulas gerais no sistema jurídico e assim o fez da seguinte forma.  
Ao confrontar o pressuposto da dignidade da pessoa humana com o poder econômico das organizações financeiras, optou pela promoção da dignidade humana.  
Poder econômico das X Dignidade da pessoa humana
 Organizações 
 financeiras
 Entretanto, atualmente, pelo Brasil ter aderido ao Pacto de São José da Costa Rica, que permite a prisão civil por dívida apenas na hipótese de descumprimento inescusável de prestação alimentícia, não é mais cabível a prisão civil do depositário, qualquer que seja a natureza do depósito.
Súmula Vinculante 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.
Outro caso que compartilha a utilização das cláusulas gerais e princípios constitucionais para fundamentação do julgado , e que deve ter sido um dos pioneiros no uso das cláusulas gerais para fundamentação jurídica, amparando o instituto da responsabilidade civil na boa-fé das partes contratantes, é o acórdão da 5ª Câmara do Tribunal de Justiça do Rio Grande Do Sul, relatado pelo Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior, na Ap. Cív. 591028295, 06 de junho de 1991.   
O referido julgado aduziu a responsabilidade da empresa alimentícia, industrializadora de tomates, que distribui sementes, no tempo de plantio, e então manifesta a intenção de adquirir o produto, mas depois resolve, por sua conveniência, não mais industrializá-lo, naquele ano, assim causando prejuízo ao agricultor, que sofre a frustração de venda da safra, uma vez que o produto ficou sem possibilidade de colocação.  
Resta claro que a atitude da empresa alimentícia contrariou os princípios da boa-fé objetiva e a função social que devem as partes atender, pois todo o seu comportamento (nas tratativas e incentivos) perante aos agricultores – homens do campo, simples e rudes – levaram a concluir pelo plantio e cultivo de tomates e que, por isso, os prejuízos pela não consumação do contrato de compra e venda devem ser suportados por ela.  
É possível observar que em todos os julgados apresentados acima, o juiz preocupou-se em decidir sob o enfoque de normas e princípios ético-jurídicos que são verdadeiras diretivas para o sistema. Neste plano, subjaz a idéia de que isto é viabilizado em virtude da mobilidade que estes institutos e as cláusulas gerais conferem ao sistema como um todo.  
As cláusulas gerais são normas formalmente expressas em linguagem escrita no sistema jurídico dotadas de elevado grau de valoração e generalidade que devem ser interpretadas de acordo com o caso concreto, ressaltando os valores presentes na Constituição Federal.
As cláusulas gerais permitem que o aplicador do direito crie normas jurídicas, buscando conformação com os valores contidos no sistema frente à realidade fática. Esta função afigura-se grandeferramenta para conceber a ciência do direito como elemento de mudança social.  
  
Conclusão  
Por fim, as CLÁUSULAS GERAIS viabilizam a mobilidade interna do sistema, atuando como verdadeiros veículos condutores de interpretação/aplicação sistemática e teleológica do direito, percorrendo os valores contidos na constituição e leis esparsas para conferir o suporte jurídico que a solução do caso exige.  
1) O que são métodos de interpretação?
2) Explique como se realiza uma interpretação filológica.
3) Por que a interpretação literal não se presta a extrair o sentido completo que a norma pode oferecer? 
QUESTIONÁRIO
Na acepção jurídica o método é o meio ou modo pelo qual se devem interpretar as leis, atos e decisões jurídicas a fim de que se tenha deles o exato sentido ou o fiel pensamento do legislador.
Quanto à classificação, os métodos de interpretação jurídica se resumem em: GRAMATICAL ou LITERAL, SISTEMÁTICO, HISTÓRICO, TELEOLÓGICO-AXIOLÓGICO, SOCIOLÓGICO, RESTRITIVA e EXTENSIVA.
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
Primeiramente, cumpre-nos frisar que todas as normas jurídicas estão sujeitas à interpretação, inclusive aquelas de clareza reconhecida, mesmo porque a própria característica de ser clara carrega relatividade diante dos fins pretendidos pela norma, pois dúvidas podem ser descobertas ou suscitadas pela evolução das relações sociais envolvidas. 
Ademais, muitas vezes o intérprete enfrentará textos imprecisos, contraditórios, obscuros e a interpretação será o meio adequado para sanear esses percalços para chegar ao bom entendimento do preceito e, consequentemente, à boa solução do caso enfrentado.
Conforme já afirmado, para Tercio Sampaio Ferraz Jr., os métodos de interpretação são regras técnicas que visam à obtenção de um resultado, buscando orientar o interprete para os problemas de decidibilidade dos conflitos, sobretudo os problemas sintáticos, semânticos e pragmáticos (FERRAZ JR., 2001, p. 282).
A interpretação gramatical também é chamada de interpretação FILOLÓGICA ou LITERAL, uma vez que visa estabelecer o sentido jurídico (compreender) da norma com base nas próprias palavras que a expressam. Objetiva, portanto, estabelecer a coerência entre o sentido da lei e os usos lingüísticos, que muitas vezes se modificam com o decurso do tempo (COELHO, 1981).
MÉTODO GRAMATICAL OU LITERAL
Conforme já explicitado desde o início deste curso, a interpretação jurídica é desse modo, o recurso primordial para o entendimento de uma norma jurídica, e as técnicas utilizadas são instrumentos que ajudam a compreender e a melhorar a adequação do texto legal a um fato jurídico in concreto.
No que se refere ao método gramatical, observa-se que este consiste em uma leitura inicial do texto pela qual se busca captar o seu conteúdo e observar a sua linguagem. 
Como leciona R. Limongi França, “é aquela que, hoje em dia, tem como ponto de partida o exame do significado e alcance de cada uma das palavras do preceito legal” (FRANÇA, 1997, P. 8). Desse modo, percebe-se que é um método que toma por base o significado das palavras da Lei e sua função gramatical.
“Apoiando-se na gramática contribui muitas vezes para o aperfeiçoamento da redação das Leis” (MONTORO, 2011, P. 425). Com efeito, é o método usado para se compreender as palavras do legislador.
É então o método gramatical uma ATIVIDADE PRELIMINAR DA INTERPRETAÇÃO que visa descobrir ou fixar qual deve ou pode ser o sentido de uma frase, dispositivo ou norma jurídica, inquinado de obscuridade, mediante a indagação do significado literal das palavras, tomadas não só isoladas, mas em sua recíproca conexão. 
Ele serve apenas como meio de se tomar um primeiro contato com o texto interpretado, não se presta a se extrair o sentido completo que a norma pode oferecer. 
Nesse sentido, conforme adverte André Franco Montoro, “é, sem dúvida, o primeiro passo a dar na interpretação de um texto. 
Mas, por si só é INSUFICIENTE, porque não considera a unidade que constitui o ordenamento jurídico e sua adequação à realidade social” (MONTORO, 2011, P. 425). 
A hermenêutica jurídica atual, portanto, atribui à interpretação gramatical importância RELATIVA, considerando que outros elementos de natureza histórica, sociológica, ideológica e filosófica, devem complementar o sentido aparente que a interpretação literal de início revela (COELHO, 1981).
PORTANTO, É NECESSÁRIO COLOCAR SEUS RESULTADOS EM CONFRONTO COM OS ELEMENTOS DAS OUTRAS ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÕES.
EMENTA Agravo regimental em habeas corpus. Prescrição. Incidência do art. 115 do Código Penal. Impossibilidade. Agravante com idade inferior a 70 (setenta) anos na data da sentença condenatória. Precedentes. Regimental não provido. 1. Segundo a jurisprudência majoritária da Corte, a regra do art. 115 do Código Penal somente é aplicada ao agente com 70 (setenta) anos na data da sentença condenatória. 2. Entendimento jurisprudencial proveniente da INTERPRETAÇÃO LITERAL do art. 115 do Código Penal. 3. O acórdão confirmatório da condenação não substitui a sentença para fins de redução do prazo prescricional (v.g. ARE nº 839.680-AgR/SC, Segunda Turma, de minha relatoria, DJe de 27/9/16). 4. Agravo regimental ao qual se nega provimento.
EXEMPLOS:
CÓDIGO PENAL: Redução dos prazos de prescrição
        Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
No inciso XXXII, art. 5º, da CF/88 está escrito: “o Estado promoverá, na forma da lei, a DEFESA do consumidor;”. 
 
No art. 82, do Código Civil de 1916 está escrito: “A validade do ato jurídico requer agente capaz (artigo 145, nº I), objeto lícito e forma prescrita ou não DEFESA em lei.”
Ao se interpretar as normas acima citadas, a palavra DEFESA possui o mesmo significado? Qual o tipo de antinomia se verifica no caso em questão?
OUTROS EXEMPLOS:
Ensina Carlos Maximiliano, que cada palavra pode ter mais de um sentido. Por essas razões é importante examinar, não só o vocábulo em si, mas, também, em conjunto, em conexão com outros no texto interpretado.
Carlos Maximiliano ensina que os legisladores utilizam expressões comuns e termos jurídicos na confecção das normas jurídicas, razão pela qual não basta apenas verificar o significado gramatical e etimológico. É necessário, também, que se verifique:
A interpretação sistemática consiste em considerar o preceito jurídico interpretado como PARTE DO SISTEMA NORMATIVO MAIS AMPLO QUE O ENVOLVE. 
 
É assim que para compreender um determinado dispositivo do Código Civil de 2002, temos que considerá-lo dentro do sistema geral do código, ou mesmo em relação aos princípios gerais do direito civil ou do direito privado como um todo, além de sua compatibilidade de a Constituição Federal.
MÉTODO SISTEMÁTICO
Com a interpretação sistemática também podemos fazer uso da utilização do direito comparado, procurando interpretar o dispositivo de acordo com a sistemática do moderno direito internacional.
 
Tal forma de interpretação parte do pressuposto de que o ordenamento jurídico é um TODO HERMÉTICO (PLENITUDE HERMÉTICA), ou seja, da noção de que a ordem jurídica deve ser entendida como um sistema fundado na hierarquia das normas, como na Teoria Pura do Direito de Kelsen. Por isso muitos autores consideram este procedimento uma derivação do processo lógico de interpretação, denominando-o de interpretação lógico-sistemática.
A teoria hermenêutica crítica, contudo, não encara a interpretação sistemática apenas pelo seu viés lógico, entendendo-a como uma ordem real, caracterizada por estruturas de poder. 
O Sistema, portanto, passa a ser entendido como INTERDISCIPLINARIDADE, envolvendo o continente histórico, exigindo conhecimentos básicos de sociologia, economia, política e filosofia (COELHO, 1981).
Segundo Carlos Maximiliano, o processo sistemático “consiste em comparar

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