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Farmacologia II- Anestésicos gerais Para que ocorra a anestesia são importantes os seguintes fatores: -Hipnose, em que ocorre perda de consciência, o que facilita procedimentos como intubação e ventilação; -Analgesia; -Ausência de respostas reflexas autonômicas frente ao estímulo nociceptivo; -Relaxamento muscular, facilita a cirurgia e outros procedimentos Ainda não foi encontrado, no entanto, um anestésico geral que preencha todos estes requisitos de forma satisfatória sem que hajam efeitos colaterais como depressão respiratória e cardiovascular. Estágios clínicos da anestesia geral: Estágio I- Analgesia (respiração normal/ movimento ocular voluntário/ Pupilas normais...) Estágio II- Delírio (respiração rápida e irregular/ movimento ocular errático/ Pupilas dilatadas/ Tônus muscular aumentado) Estágio III- Anestesia cirúrgica -Plano 1: Nistagmo (principalmente em equinos)/ respiração regular automática/ miose -Plano 2: Cessam os movimentos oculares/ miose/ respiração gradualmente menos profunda, mas regular -Plano 3: Respiração torácica/ Pupila normal -Plano 4: respiração torácica até parada respiratória/ Pupilas dilatadas sem resposta a luz/ flacidez muscular Estágio IV- Paralisia respiratória (Apnéia/ movimento ocular ausente/ Pupilas totalmente dilatadas/ reflexos oculares ausentes e tônus muscular flácido) O emprego de um único anestésico na anestesia não é usual na clínica, pois já se observou que tanto a indução quanto a recuperação anestésicas são muito mais rápidas quando se fazem associações com vários medicamentos. Na clínica deseja-se que a anestesia produza perda de consciência, analgesia e relaxamento muscular. Para tanto, pode-se induzir a anestesia com um anestésico geral intravenoso, como por exemplo, o propofol, e mantê-la com anestésico inalatório, como por exemplo o isofluorano, com ou sem suplementação de um analgésico; Já o relaxamento muscular pode ser promovido por um bloqueador neuromuscular, por exemplo o vecurônio. Áreas do SNC mais sensíveis aos Anestésicos Gerais •Inconsciência e analgesia: Formação reticular mesencefálica, núcleos talâmicos sensitivos e córtex cerebral; •Amnésia: Hipocampo e córtex cerebral; •Perda de reflexos: Medula espinhal Mecanismo de ação dos fármacos anestésicos Solubilidade lipídica -Overton e Meyer- Relação entre a potência anestésica e a solubilidade lipídica 1937: “A narcose começa quando qualquer substância indiferente quimicamente tenha alcançado determinada concentração molar nos lipídeos da célula”. Anestésicos inalatórios: Podem ser divididos do ponto de vista físico em gasosos e voláteis e, quimicamente em orgânicos e inorgânicos. São os agentes anestésicos amplamente usados para a manutenção anestésica. Os anestésicos gerais inalatórios mais empregados em medicina veterinária são o óxido nitroso, o halotano, enofluorano e o isofluorano. O metoxifluorano já não é mais utilizado há alguns anos pela sua toxicidade. Dentre os mais modernos, cotam-se o sevofluorano e o desfluorano. Para a comparação das potências anestésicas dos anestésicos inalatórios gerais, introduziu-se a unidade CAM, que é a concentração alveolar mínima de anestésico que produz imobilidade em 50% dos indivíduos submetidos a estímulos dolorosos, como uma incisão cirúrgica. A CAM pode ser expressa como dose anestésica DA50. A CAM é a concentração mínima alveolar e não a concentração de anestésico inspirada ou a demonstrada pelo vaporizador. A concentração de anestésico no ar inspirado pode ser facilmente obtida por analisadores de gases anestésicos e, ao se conhecer a CAM de um animal, pode-se estimar a concentração anestésica necessária para a indução e/ou manutenção da anestesia. Para se alcançar a anestesia cirúrgica, em geral usam-se valores de 1,2 à 1,4 maiores do que 1 CAM. Esse valor superior ao CAM original de determinada espécie é chamado CAMBRA, que significa bloqueio das respostas adrenérgicas induzidas pela cirurgia. A CAMBRA também é chamada CAM-expandida, onde cerca de 95% dos pacientes não reagem a dor, que pode ser expressa em dose como DA95. Para despertar, o valor de CAM deve se encontrar entre 0,3 a 0,5 CAM, o que é chamado de CAMdespertar. Quanto menor a CAM maior é a potência do anestésico. Os anestésicos inalatórios são administrados pela via pulmonar, onde o ar alveolar, saturado com anestésico entra em contato com o sangue alveolar e é capturado e distribuído, chegando ao SNC por difusão passiva. Para que isto seja possível, o anestésico inalatório geral deve possuir uma pressão de vapor suficiente para promover anestesia, então, quanto maior a sua pressão de vapor, maior a concentração de anestésico administrado. De forma similar, quanto mais baixo o ponto de ebulição de um anestésico inalatório, maior a facilidade com que ele se vaporiza e, maior a sua pressão de vapor.Dentre os AIG, o Desfluorano apresenta a pressão de vapor mais alta, não podendo ser administrado por vaporizadores convencionais como os demais halogenados. Na forma líquida, vaporiza-se instantaneamente caso aberto e exposto à temperatura ambiente. P.E. = Pressão de vapor Coeficiente de partição ou solubilidade Reflete a proporção do anestésico encontrado em dois meios distintos após ser atingido o equilíbrio. No estado de equilíbrio a pressão de vapor é igual, mas a concentração pode variar. O coeficiente de partição indica portanto a magnitude dessa variação de concentração nos dois meios. Existem três coeficientes de partição que influenciam a dinâmica dos AIG: 1- Coeficiente de partição sangue:gás É a solubilidade do anestésico no sangue. Se o coeficiente de partição de determinado agente no sangue é de 12, significa que no equilíbrio a concentração desse agente no sangue é 12 vezes maior do que na fase gasosa no alvéolo. Quanto mais alto o coeficiente de partição sangue:gás, maior o tempo de indução da anestesia, pois esse agente vai se dissolver muito no sangue demorando a ocorrer o equilíbrio entre o sangue e o ar alveolar. Este coeficiente também influencia da mesma maneira o tempo de recuperação da anestesia. Coeficiente de partição sangue:gás -> Indução e recuperação -Sevofluorano= 0,69 -Desfluorano = 0,42 -Halotano = 2,5 O coeficiente de partição sangue:gás (Cs/g) é inversamente proporcional a velocidade de indução e recuperação •Alto (Cs/g) = Lenta indução e recuperação •Baixo (Cs/g) = Rápida indução e recuperação 2- Coeficiente de partição óleo:gás Relaciona-se com a potência dos AIG e com o tempo de recuperação da anestesia. Quanto maior a solubilidade em gorduras, mais devagar é a liberação para o sangue, portanto, mais demorada é a eliminação desses agentes pelo sistema respiratório. Também é mais lenta a recuperação da anestesia. Coeficiente de partição óleo:gás -> Potência, tempo de recuperação O Coeficiente de partição óleo:gás (Co/g) é diretamente proporcional a potência •Alto (Co/g) = maior potência •Baixo (Co/g) = menor potência 3- Coeficiente de partição borracha:gás É a quantidade de anestésico absorvida pela borracha, o que implica na diminuição da concentração de anestésico administrada no paciente. Outros fatores como a ventilação pulmonar e débito cardíaco também influenciam a captação, distribuição e eliminação dos AIG. Caso o volume de anestésico por minuto não seja adequada, como o que acontece em casos de depressão respiratória, a captação de anestésico será inadequada. O tiopental por exemplo, pode promover diminuição da frequência respiratória. Outra condição que pode atrapalhar é a de pacientes com enfisema pulmonar, onde a transferência de anestésicos dos alvéolos para o sangue é baixa, resultando em uma pressão parcial baixa do agente. Também, quando pacientes encontram-se com baixo débito cardíaco, a transferência de AIG para o sangue é menor. Outra questão é a vascularização do tecido, quanto maior a vascularização, melhor é a distribuição do anestésico, fato que ocorre com o SNC, altamente vascularizado e, emcontrapartida não ocorre em tecido adiposo. A recuperação da anestesia também depende dessa vascularização, pois quanto menor esta é em determinado tecido, mais lenta é a liberação do agente para a corrente circulatória. Apesar de serem administrados via inalatória, os AIG também sofrem biotransformação a depender do agente, sendo estra primariamente no fígado, mas também em menor grau nos pulmões, rins e sistema digestório. A biotransformação não altera a taxa de velocidade de indução da anestesia, mas sim influencia qualitativamente a taxa de recuperação da anestesia, especialmente ao anestésicos muito solúveis no sangue e/ou gorduras. Os AIG halogenados são biotransformados principalmente pelas oxidases de função mista, responsáveis pelas reações de oxidação, caracterizadas por desalogenação e O-desalquilação. Anestésicos inalatórios Halotano Farmacocinética: 60 a 80 % eliminados inalterados nas primeiras 2 horas Biotransformação: Citocromo P450 – hepatotóxico Relaxamento pronunciado do útero- limitações obstétricas Enfluorano 80 % recuperados inalterados 2 a 5 % biotransformados no fígado Coeficientes de partição sangue:gás e óleo:gás mais baixos que o halotano Pró-convulsivante (pacientes epilépticos) Isofluorano Baixa biotransformação hepática, ausência de toxicidade renal e hepática Mais comumente utilizado Potente vasodilatador coronariano, pode exacerbar a isquemia em pacientes com doença coronariana Desfluorano Menor solubilidade no sangue e na gordura- efeitos mais rápidos Não é consideravelmente metabolizado Irritação do trato respiratório (tosse , broncoespasmo) Sevofluorano Rápida eliminação dos metabólitos (íon fluoreto) Baixa toxicidade hepática ou renal Efeitos gerais Sistema nervoso Central Redução do metabolismo cerebral (isofluorano > halotano); Aumento do fluxo sanqüíneo cerebral -> Vasodilatação -> Aumento da pressão intracraniana (halotano > isofluorano) Sistema cardiovascular Diminuição da pressão arterial -> Vasodilatação, queda do débito cardíaco, diminuição do tônus do sistema nervoso simpático; Efeitos mais acentuados com halotano e enfluorano; Sensibilização do miocárdio aos efeitos das catecolaminas; Arritmias: maiores efeitos com halotano Sistema respiratório Depressão respiratória Depressão da atividade dos quimiorreceptores Sistema neuromuscular Relaxamento da musculatura esquelética por mecanismos centrais e periféricos Anestésicos intravenosos e Parenterais Classes de anestésicos intravenosos 1-Barbitúricos 2-Compostos imidazólicos 3-Alquil-fenóis 4-Derivados da fenciclidina 1-Barbitúricos Características gerais: -Potente ação hipnótica; -Baixa ação analgésica; -Depressão respiratória; -Podem induzir arritmias (sensibilização às catecolaminas); -Redução do débito cardíaco Os barbitúricos são substâncias derivadas do ácido barbitúrico, que é uma combinação do ácido malônico e da ureia. O ácido barbitúrico é destituído de atividades depressoras, porém ao se modificar a sua estrutura, é possível se obter agentes hipnóticos. -Tiobarbitúricos: Substâncias altamente lipossolúveis, com início de ação mais rápido e tempo de ação ultracurto. Ex.: Tiopental e Tiamilal. Tiopental -Ultracurta duração -> Rápida indução e recuperação -Redistribuição 1)cérebro, coração rins, etc.- Indução 2)Músculos estriados e pele- Recuperação 3)Tecido adiposo- Ressaca -Utilizado apenas para indução -Injeção acidental fora da veia (substância alcalina), necrose tecidual -Oxibarbituratos: Períodos hábil e de latência mais prolongados. Ex.: Pentobarbital (muito utilizado em pesquisa), fenobarbital e barbital (anticonvulsionantes), meto-hexital (utilizado na prática anestésica, de duração ultracurta). Barbitúricos Tiobarbitúricos Tiaminal/ Tiopental Oxibarbitúricos Meto-hexital/ Pentobarbital 2-Compostos imidazólicos Etomidato -Poucos efeitos cardiovasculares -Rápida metabolização (menos ressaca) Farmacocinética 75 % de ligação a proteínas plasmáticas; Rápida indução e recuperação; Redistribuição, hidrólise por enzimas microssomais hepáticas e esterases plasmáticas Mecanismo de ação Interação com o receptor GABA A, possivelmente aumentando o número de receptores disponíveis Efeitos indesejáveis -Dor à injeção, mioclonias, excitação e vômitos frequentes; -Mímica de vômito, associação com midazolam e metoclopramida; -Supressão adrenocortical 3-Alquil-fenois Propofol -Fármaco mais utilizado par indução; -Líquido hidrofóbico à temperatura ambiente; -Indução rápida e recuperação rápida; -Metabolização hepática -> hidroxilação seguida de glicuronidação e sulfatação (menos ressaca); -Pode ser administrado em infusão contínua para manutenção Mecanismo de ação Potencialização da ação do GABA e indução da corrente de cloreto Efeitos -Baixa analgesia (relaxamento muscular moderado/ Depressão respiratória); -Hipotensão sistêmica; -Bradicardia; -Síndrome da infusão de propofol (1 a cada 300- Grave acidose metabólica, necrose da musculatura esquelética, hipercalemia, hepatomegalia, falência renal, arritmia, colapso cardiovascular) 4-Derivados da fenciclidina Mecanismo de ação -Bloqueio da recaptação de monoaminas, bloqueio do receptor NMDA, agonistas de receptores opióides; -Aumento da atividade motora -> Aumento da concentração cerebral de serotonina e dopamina; -Ação anestésica depende do córtex funcional; -Perda sensorial e analgesia sem perda da consciência; -Depressão talâmica e centros da dor, pouca depressão do sistema reticular mesencefálico e ativação de áreas subcorticais e hipocampo Efeitos -Ausência de relaxamento muscular -Sialorréia -Taquicardia -Analgesia sistema muscular esquelético -Delírios e alucinações -Pode induzir depressão respiratória -Aumento da pressão arterial (taquicardia) e da pressão intracraniana Quetamina -Indução rápida- 10 a 15 minutos (via intramuscular ou subcutânea); -Ação rápida (redistribuição); -Biotransformação hepática Midazolam -Benzodiazepínico -Menor risco de depressão respiratória e cardiovascular -Endoscopia Neuroleptoanalgesia Droperidol (antagonista dopaminérgico) + fentanil
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