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Farmacologia II- Coagulação sanguínea e distúrbios da coagulação Hemostasia: Série complexa de fenômenos biológicos que ocorre em imediata resposta à lesão de um vaso sanguíneo com objetivo de deter a hemorragia. O mecanismo hemostático inclui três processos: 1- Hemostasia primáriaA importância relativa de cada processo dependerá do tipo de vaso lesado 2- Coagulação (hemostasia secundária) 3- Fibrinólise/mecanismos de controle Células endoteliais: Produzem substâncias vasodilatadoras (NO e PGI2) e vasoconstritoras (ANG-II, ET-1 e TXA2). Matriz sub-endotelial: Composta por colágeno, fator de von Willebrand, fator tecidual, proteoglicanos, fibronectina e outras proteínas de adesão. Hemostasia primária: É o processo inicial da coagulação desencadeado pela lesão vascular. Há vasoconstrição, alteração da permeabilidade vascular e adesão das plaquetas. Adesão → Ativação (mudança de forma e liberação de grânulos)→ Agregação (formação de um tampão primário) Coagulação- Hemostasia secundária: Principal evento é a conversão de uma proteína solúvel do plasma (fibrinogênio), em um polímero insolúvel (fibrina) por ação de uma enzima denominada trombina. Tampão hemostático primário (plaquetário) → Tampão hemostático estável (trombo). Pró-enzimas (zimogênios) e cofatores: Fatores de coagulação Fatores de I a XIII de acordo com ordem de descoberta Letra “a” indica o fator em sua forma ativa Fatores XIIa, XIa, Xa, IXa e IIa são serina-proteases Modelo da Cascata: Coagulação de 100 mL de sangue requer 0,2 mg de fator VIII, 2 mg de fator X, 15 mg de protrombina e 250 mg de fibrinogênio –> AmplificaçãoFisiologicamente o processo é único! -Via intrínseca (“de contato”)- Componentes presentes no sangue -Via extrínseca- Componentes do sangue e outros tecidos -Via comum Fibrinólise e eventos antitrombóticos: -Plasmina: Proteína que lisa a rede de fibrina, derivada do plasminogênio -Ativador de plasminogênio tecidual (tPA = Tecidual plasminogen activator) é liberado pelo endotélio -Trombomodulina presente no endotélio-> Bloqueio da casacata A antiplasmina, presente no plasma, combina-se com o excesso de plasmina liberada, impedindo o aparecimento de fibrinólise generalizada. Há a formação de "produtos de degradação da fibrina" (PDFs). Os PDFs são removidos da circulação principal pelo fígado e pelo sistema retículo endotelial (SRE). Distúrbios da coagulação sanguínea 1-Trombocitopenias congênitas ou adquiridas (autoimune, riquetioses/erlichiose, neoplasias, fármacos) 2-Disfunções plaquetárias (adesão, agregação e secreção) 3-Doença de von Willebrand (fator vWF) 4-Trombopatia Canina (autossômica) 5-Trombopatia Bovina (autossômica) Disfunções plaquetárias adquiridas/ Fármacos utilizados: -Furosemida; -Penicilina; -Cafeína; -Aspirina; -Indometacina e outros. Desordens vasculares Riquetsioses, herpes canino Desordens ligadas às proteínas da coagulação: -Desordens fator II (protrombina) -Deficiência do fator VII -Deficiência do fator VIII (hemofilia A) -Deficiência do fator IX (hemofilia B) Outros distúrbios comuns da coagulação sanguínea: -Deficiência de Vitamina K -Ingestão de anticoagulantes raticidas -Coagulação intravascular disseminada (CID) Infecções bacterianas, virais, protozoárias ou parasitárias -Trombose Defeitos da Coagulação: Defeitos genéticos são raros: -Hemofilia clássica(ausência do fator VIII); -Hemofilia B (Doença de Christmas -fator IX) Adquiridos são mais comuns: -Doença hepática; -Deficiência de vitamina K; -Intoxicação por raticida Trombose Processo patológico de oclusão vascular- Rudolph Virchow (1884) - Tríade de Virchow: -Lesão da parede vascular (Spirocerca lupi); -Alteração do fluxo arterial; -Coagulabilidade anormal do sangue (diabetes, hiperadrenocorticismo, nefropatia, endocardite, dirofilariose, neoplasias) Trombo x Coágulo Trombose arterial: -Trombo branco (plaquetas mais fibrina) -Êmbolos arteriais - AVCs e outros Trombose venosa: -Trombo vermelho (pequena cabeça branca mais cauda vermelha)/semelhante ao coágulo sanguíneo Êmbolos venosos (pulmões) Classes de Fármacos: 1-Fármacos que atuam na cascata de coagulação: -Vitamina K; -Varfarina; -Heparinas; -Inibidores da trombina 2-Fármacos que atuam sobre as plaquetas (antiplaquetários): -Aspirina; -Antagonistas de receptores específicos 3-Fármacos fibrinolíticos: -Estreptoquinase; -Alteplase; -Duteplase 4-Fármacos antifibrinolíticos e hemostáticos: -Ácido trenaxâmico 1-Fármacos que atuam na cascata de coagulação: Vitamina K Do alemão, Koagulation. Vitamina lipossolúvel, ocorre naturalmente em vegetais (K1) e como menaquinonas bacterianas (K2) formadas no intestino. Essencial para formação dos fatores II, VII, IX e X (glicoproteínas com resíduos de ácido gama-carboxiglutâmico - Gla). Sem vitamina K não há atividade pró-coagulante destes fatores. Indicações: -Hemorragias causadas por intoxicações animais por agentes cumarínicos (raticidas anticoagulantes); -Por certas plantas tóxicas ( samambaia do campo – Pteridium aquilinum); -Em distúrbios intestinais que diminuem a absorção desta vitamina; -Em distúrbios hepáticos que diminuem a utilização da vitamina K na síntese dos fatores de coagulação, dentre outros. Heparinas Descoberta em 1916, extraída do fígado. Consiste numa família de glicosaminoglicanos sulfatados (mucopolissacarideos), está presente junto com a histamina nos mastócitos. Preparações comerciais são extraídas de pulmão bovino ou intestino suíno - preparações com diferentes potências. Doses expressas em unidades de atividade. Fragmentos (enoxaparina e dalteparina) e fondaparinux (pentassacarídeo sintético)- Heparinas de baixo peso molecular (HBPMs). HBPMs são cada vez mais utilizados no lugar da heparina não fracionada. -Inibe a coagulação in vivo e in vitro; -Ativa a antitrombina III (ATIII); -Heparina liga-se também ao fator IIa (trombina); -HBPMs ligam-se somente à ATIII; -Deficiência de ATIII é rara - trombofilia e resistência à heparina Heparina não fragmentada: Alto peso molecular e carga, não é absorvida no intestino. -Via intravenosa: Ação imediata -Via subcutânea: 60 minutos para agir -Meia-vida de eliminação: 40 - 90 min HBPMs -Via subcutânea -Meia-vida de eliminação mais longa -Maior intervalo entre doses e efeitos mais previsíveis Efeitos adversos: -Hemorragia- Deve-se interromper o tratamento e administrar o antagonista sulfato de protamina (deve ser proporcional à dose de heparina); -Trombose: Incomum, relacionada à trombocitopenia induzida pela heparina (TIH) -TIH tipo II, ocorre 2 a 14 dias após início do tratamento. IgM ou IgG contra complexos de heparina e fator plaquetário 4 (PF4); Imunocomplexos ativam plaquetas que liberam mais PF4 → Trombocitopenia Anticorpos ligam-se ao PF4 complexado a glicosaminoglicanos na células endoteliais → Lesão da parede vascular, trombose e coagulação intravascular disseminada. TIH normalmente tratada com danaparoide (heparinóide de baixo peso molecular- Mistura de heparan, dermatan e condroitina sulfatados) ou um inibidor direto da trombina. HBPMs representam menor risco de causar trombocitopenia e trombose. Inibidores diretos da trombina -Hirudinas (saliva da sanguessuga medicinal). Não dependem da ativação da antitrombina; -Lepirudina: Doença tromboembólica em paciente com TIH tipo II, liga-se de forma irreversível à trombina (sítio catalítico e ligante de fibrina); -Bivalirudina: Para intervenções coronarianas -Etexilato de dabigatrana e rivaroxabana: Ativos por via oral 1.2-Fármacos anticoagulantes: 1-Anticoagulantes com ação in vitro São utilizados para a coleta de amostras de sangue ou para a conservação do sangue a ser usado em transfusões (oxalato de sódio, o citrato de sódio e o EDTA- Ácido etilenodiaminotetracético). 2-Varfarina Anticoagulante oral mais importante. 1920- Morte de gado por hemorragia por consumo de meliloto estragado. Bis-hidroxicumarina-Descoberta da varfarina (Warfarin, Wisconsin Alumni Research Foundation) Usada inicialmente como raticida, anticoagulante de escolha para tratamento e prevenção da doença tromboembólica nos últimos 50 anos. Mecanismo de ação: -Efeitos apenas in vivo, interferem com a gama-carboxilação pós-translacional de resíduos de ácido glutâmico nos fatores II, VII, IX e X; -Inibição do componente 1 da vitamina K epóxido redutase (VKORC1) - inibição competitiva; -Efeitos demoram dias, devido ao mecanismo de ação - depende da meia-vida dos fatores relacionados [fator VII (6h), IX (24 h), X (40h), II (60h)] -Absorvida rápida e completamente após administração oral -Pequeno volume de distribuição - liga-se fortemente à albumina -Pico de concentração plasmática ocorre 1h após ingestão -É metabolizada pelo CYP2C9 - polimorfismo - meia-vida variável -Atravessa a placenta e é teratogênica - início da gestão -Pode causar hemorragia intracraniana no feto durante o parto - final da -gestação -É excretada no leite - Recém-nascidos normalmente tratados com vitamina K Fatores que potencializam os anticoagulantes orais: Doenças: -Doença hepática: Síntese dos fatores de coagulação prejudicada -Condições que cursam com alta taxa metabólica (febre e tireotoxicose)- Aumento da degradação dos fatores de coagulação Fármacos: -Agentes que inibem o metabolismo hepático de fármacos (ciprofloxacino e metronidazol); -Fármacos que inibem a função plaquetária (AINEs); -Fármacos que deslocam a varfarina de seus sítios de ligação na albumina plasmática (AINEs, hidrato de cloral e fenilbutazona); -Fármacos que inibem a redução da vitamina K (cefalosporinas); -Fármacos que diminuem a disponibilidade de vitamina K (antibióticos de amplo espectro e sulfonamidas- Microbiota intestinal) Fatores que diminuem o efeito dos anticoagulantes orais: Estado fisiológico/doença: -Hipotireoidismo (menor degradação dos fatores) Fármacos: -Vitamina K -Fármacos que induzem enzimas P450 hepáticas (rifampicina, carbamazepina) -Fármacos que reduzem a absorção (colestiramina) Efeitos adversos dos anticoagulantes: -Hemorragia (principalmente intestinal ou cerebral); -São teratogênicos (desenvolvimento ósseo desordenado); -Hepatotoxicidade (mais raro); -Necrose de tecidos moles por trombose de vênulas 2-Fármacos antiplaquetários -Ácido acetilsalicílico (AAS/Aspirina) Em doses baixas inibe fortemente (>95%) a síntese de TXA2 plaquetária. A inibição ocorre pela acetilação irreversível de um resíduo de serina no sítio ativo da COX-1. A administração oral é relativamente seletiva para plaquetas (eliminação pré-sistêmica/metabolismo de primeira passagem). Plaquetas são anucleadas, logo TXA2 é reposto em 7 a 10 dias com a reposição plaquetária. Efeitos adversos (relacionados à dose): Principalmente gastrointestinais Indicações: Gatos com cardiomiopatia e cães com dirofilariose -Antagonistas dos receptores de adenosina (P2Y) -São as tienopiridinas (ticlopidina, clopidogrel e prasugrel) -Clopidogrel é o principal agente -Inibição da agregação plaquetária pela inibição irreversível dos receptores P2Y -Bem absorvido por via oral -Pró-fármaco convertido em sulfidril ativo pelas enzimas CYP -Interação com fármacos como omeprazol -Efeitos adversos: Podem causar dispepsia, rash e diarreia -Antagonistas do receptor da glicoproteína IIb/IIIa -Tirofibana e eptifibatida; -Não são absorvidos por via oral; -Administrados por via intravenosas como coadjuvantes da aspirina e heparina para redução dos eventos iniciais da síndrome coronariana aguda; -Tratamento prolongado é deletério -Outros fármacos: Dipiridamol (inibe PDE, captação de adenosina pelas hemácias, síntese de TXA2) e epoprostenol (agonista de receptores prostanóides IP). 3-Fármacos fibrinolíticos -Estreptoquinase: proteína extraída de culturas de streptococcus que ativa o plasminogênio. Sua ação é bloqueada por anticorpos que aparecem cerca de 4 dias após administração (não deve ser usada depois desse período). -Alteplase e duteplase: tPAs recombinantes, mais ativas sobre plasminogênio ligado à fibrina. Não são antigênicos, uso em pacientes que apresentam anticorpos contra estreptoquinase. Efeitos adversos: Risco de sangramento (gastrintestinal e avc hemorrágico) 4-Fármacos antifibrinolíticos e hemostáticos -Ácido tranexâmico: Inibe a ativação do plasminogênio. Administrado por via oral ou intravenosa, indicado para condições em que há risco de sangramento como em cirurgias de grande porte. Outros fármacos: -Hemostáticos tópicos (ou locais) são substâncias aplicadas localmente para o controle de hemorragias persistentes em capilares Tromboplastina (na forma de spray ou aplicação através de esponja, para uso em cirurgias); Trombina (em pó para ser solubilizada em água ou salina e aplicada através de esponja); Fibrinogênio (em pó para ser solubilizado em salina); Outros: Espuma de fibrina, esponjas de gelatina e celulose e outros Obs.: Formulações anti-hemorrágicas em pó, conhecidas “estanca sangue” são compostas por agentes inorgânicos adstringentes (como óxido de zinco) que levam à vasoconstrição.
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