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2 Direito do Consumidor 1. Evolução histórica do Direito do Consumidor A importância das revoluções industrial e tecnológicas ▸ Migração da população da área rural para a urbana ▸ Esse novo contingente populacional manifestou ao longo do tempo um ávido interesse de novos produtos e serviços capazes de atender a suas necessidades materiais. ▸ Diante dessa situação, os fabricantes e produtores, além dos prestadores de serviços, começaram a se preocupar com o atendimento da demanda, mas apenas no aspecto quantitativo. ▸ Problemas começaram a surgir. Direito Civil Clássico O direito da época não estava apto a proteger a parte mais fraca na relação de consumo Ex o CC/16 foi elaborado para disciplinar relações individualizadas e não tutelas oriundas de demandas coletivas De modo que houve a quebra do paradigma do Direito Civil Clássico através do surgimento do Direito do Consumidor Origens Constatado então que o Direito da época não era suficiente para disciplinar as relações jurídicas de consumo, fez-se necessária a intervenção estatal para a elaboração e implementação de legislações específicas, políticas públicas e jurisdição especializada de defesa do consumidor em todo o mundo. Citações históricas do direito do consumidor “Considera-se que foi um discurso de John F. Kennedy, no ano de 1962 , em que este presidente norte-americano enumerou os direitos do consumidor e os considerou como novo desafio necessário para o mercado , o início da reflexão jurídica mais profunda sobre este tema. O novo aqui foi considerar que ‘todos somos consumidores’, em algum momento de nossas vidas temos este status, este papel social e econômico, estes direitos ou interesses legítimos, 3 que são individuais, mas também são os mesmos no grupo identificável (coletivo) ou não (difuso), que ocupa aquela posição de consumidor. (...) “Em 1972 realizou-se, em Estocolmo, a Conferência Mundial do Consumidor Em 1973, a Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos do Homem deliberou que o Ser Humano, considerado enquanto consumidor, deveria gozar de: direito à segurança; à informação; à escolha de bens alternativos de qualidade e preços satisfatórios; e o direito de ser ouvido nos processos. Em 1973, a Assembleia Consultiva da Comunidade Europeia aprovou a Res 543, que originou à Carta Europeia de Proteção ao Consumidor A ONU (Organização das Nações Unidas), em 1985, estabeleceu diretrizes para esta legislação e consolidou a ideia de que se trata de um direito humano de nova geração (ou dimensão); precedentes legislativos mundiais leis francesas: (a) Lei de 22-12-1972 que permitia aos consumidores um período de sete dias para refletir sobre a compra; (b) Lei de 27-12-1973 — Loi Royer, que em seu art. 44 dispunha sobre a proteção do consumidor contra a publicidade enganosa; (c) Leis ns. 78, 22 e 23 (Loi Scrivener), de 10/1/1978, que protegiam os consumidores contra os perigos do crédito e cláusulas abusivas Projet de Code de la Consommation , redigido sob a presidência do professor Jean Calais-Auloy. Maneiras de introduzir o direito do consumidor três maneiras de introduzir o Direito do Consumidor a depender da perspectiva que lhe for dada: “Origem constitucional, que poderíamos chamar de introdução sistemática através do sistema de valores (e direitos fundamentais) que a CF/88 trouxe no Brasil; Filosofia de proteção dos mais fracos, que orienta o direito dogmaticamente, em especial as normas do direito que se aplicam a esta relação de consumo Sociologia do direito , ao estudar as sociedades de consumo de massa atuais FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DO DIREITO DO CONSUMIDOR Mandamentos constitucionais de defesa do consumidor No Brasil, o Direito do Consumidor tem amparo na Constituição Federal de 1988, que, aliás, trouxe dois mandamentos em seu corpo principal (arts. 5º, XXXII, e 170, V) e um no ADCT (art. 48) 4 2. O direito do consumidor como direito fundamental Como a relação jurídica de consumo é uma relação desigual, onde se encontra o consumidor-vulnerável de um lado e o fornecedor detentor do monopólio dos meios de produção do outro, nada melhor que ser alçado o Direito do Consumidor ao patamar de Direito Fundamental. A CF/88 traz um direito privado solidário A Constituição seria a garantia (de existência e de proibição de retrocesso) e o limite (limite- guia e limite-função) de um direito privado construído sob seu sistema de valores e incluindo a defesa do consumidor como princípio geral O amparo constitucional que possui o Direito do Consumidor traz uma conotação imperativa no mandamento de ser do Estado a responsabilidade de promover a defesa do vulnerável da relação jurídica de consumo. 3. O direito do consumidor como princípio da ordem econômica A opção da CF/88 de tutelar de forma especial os consumidores, considerados agentes econômicos mais vulneráveis no mercado globalizado, foi uma demonstração de como a ordem econômica de direção devia preparar o Brasil para a economia e a sociedade do século XXI 4. O ADCT e a codificação do direito do consumidor O art. 48 do ADCT conferiu um prazo de cento e vinte dias da promulgação da CF para o Congresso Nacional elaborar o Código de Defesa do Consumidor O legislador constituinte optou pela elaboração codificada do Direito do Consumidor, e não pela edição de leis específicas. 5 Relação jurídica de consumo O CDC somente será aplicada se houver relação jurídica de consumo, O que não impede a aplicação das demais leis especiais no mesmo caso concreto, sempre respeitando os princípios de aplicação da norma. A relação jurídica de consumo possui três elementos, a saber: o subjetivo, o objetivo e o finalístico. 1. Definição de relação jurídica de consumo A relação jurídica de consumo pode ser definida como aquela relação firmada entre consumidor e fornecedor, a qual possui como objeto a aquisição de um produto ou a contratação de um serviço. Sobre o tema, o legislador pátrio optou por não definir relação jurídica de consumo no CDC, mas de conceituar os elementos dessa relação. RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO 6 2. Conceito de consumidor O Código de Defesa do Consumidor define consumidor como sendo "toda a pessoa fisica ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final". Embora o Código tenha trazido o conceito de consumidor, a aplicação ao caso concreto tem- se mostrado bastante complexa. Existe discussão doutrinária e jurisprudencial com o objetivo de explicar a expressão destinatário final, quem é, realmente, o destinatário final de um bem de consumo? A doutrina desenvolveu três correntes possíveis para identificar quem é o destinatário final de um bem de consumo a saber: ▸ a finalista (minimalista ou subjetiva), ▸ a maximalista e ▸ a finalista temperada (ou finalista aprofundada). Doutrina finalista Para a corrente finalista, O consumidor é aquele que retira definitivamente de circulação o produto ou serviço do mercado. Assim, o consumidor adquire produto ou utiliza serviço para suprir uma necessidade ou satisfação eminentemente pessoal ou privada, e não para o desenvolvimento de uma outra atividade de cunho empresarial ou profissional Pessoa jurídica x corrente finalista No que diz respeito à pessoa jurídica, esta poderá ser considerada consumidora desde que o produto ou serviço adquirido não tenha qualquer conexão, direta ou indireta, com a atividade econômica por ela desenvolvida, e que esteja demonstrada a sua vulnerabilidade perante o fornecedor. Destarte, a pessoa jurídica que não tem intuito de lucro será sempre considerada consumidora, tais como as associações, fundações, entidadesreligiosas e partidos políticos 7 Doutrina maximalista Segundo a doutrina maximalista, a definição do art. 2º deve ser interpretada o mais extensamente possível, para que as normas do CDC possam ser aplicadas a um número cada vez maior de relações no mercado. Os seguidores da corrente maximalista, como o próprio nome sugere, trazem uma definição mais ampla de consumidor , nele incluindo a pessoa jurídica e o profissional, qualquer que seja a finalidade para a qual retirou o produto ou serviço do mercado de consumo. Doutrina finalista temperada A corrente em estudo é um desdobramento da corrente finalista, pois considera consumidor somente quem adquire produto ou serviço para uso próprio. No entanto, dependendo do caso concreto, é possível considerar destinatário final de um produto se, mesmo utilizado para fins profissionais ou econômicos, houver vulnerabilidade do adquirente naquela relação. Posição adotada pelo STJ Assim, é possível afirmar que a doutrina finalista temperada "é uma interpretação finalista mais aprofundada e madura, que deve ser saudada”. “De um lado, a maioria maximalista e objetiva restringiu seu ímpeto; de outro, os finalistas aumentaram o seu subjetivismo, mas revitalizaram o finalismo permitindo tratar casos difíceis de forma mais diferenciada" (MARQUES, 2006, p. 85). ∷ Breves considerações acerca da aplicação do CDC e do Código Civil De fato, quando o CDC foi publicado, em 11 de setembro de 1990, o Código Civil em vigor (de 1916) tinha regras mais rígidas quanto aos contratos e paradigmas que estavam em consonância com o Estado Liberal. A tendência da jurisprudência e da doutrina era aplicar a lei consumerista para a grande parte das relações jurídicas (doutrina maximalista), com o objetivo de garantir equidade e justiça social no caso concreto. ∷ Maximalistas na atualidade o Código Civil vigente, publicado em 2002, traz regras e princípios que se aproximam dos princípios e regras estabelecidos na legislação consumerista. 8 De modo que na atualidade, a teoria maximalista resta-se ultrapassada, pois se tornou desnecessária, já que o próprio CC vigente evoluiu muito na identificação e defesa da parte mais frágil nas relações jurídicas. 3. Consumidor por equiparação Origem A opção expressa no Código de Defesa do Consumidor de proteger não apenas o consumidor destinatário final surgiu da necessidade identificada pelo legislador de serem tuteladas outras pessoas, físicas ou jurídicas, de forma individual ou coletiva, além daquelas já protegidas (segundo o disposto no art. 2º, caput, do aludido Diploma, que tratou, conforme estudado, da conceituação de consumidor em sentido estrito, o consumidor standard). Conceito Outras pessoas ou grupo de pessoas poderão enquadrar-se no perfil da vulnerabilidade, e, consequentemente, valer-se da proteção insculpida no CDC, sem que necessariamente integrem a relação de consumo. nos casos de consumidor equiparado, “o que se percebe é a desnecessidade da existência de um ato de consumo (aquisição ou utilização direta), bastando para incidência da norma, que esteja o sujeito exposto às situações previstas no Código Espécies Consumidor por equiparação é: ▸ O integrante de uma coletividade de pessoas (artigo 2º, parágrafo único), ▸ A vítima de um acidente de consumo (artigo 17), ou ▸ O destinatário de práticas comerciais, e de formação e execução do contrato (artigo 29) A coletividade de pessoas O parágrafo único do art. 2º do CDC equipara a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo O exemplo mais claro de aplicação deste dispositivo é a hipótese em que o fornecedor veicula publicidade enganosa ou abusiva. 9 No caso em espécie, não se faz necessário que o consumidor adquira o produto ou serviço ou tenha danos efetivos, bastando, tão somente, a potencialidade CONCRETA de adquirir e vir a sofrer Vítima de acidente de consumo O sujeito que não fez parte do negócio jurídico entre consumidor e fornecedor, mas foi vítima de acidente de consumo, oriundo desse negócio jurídico. exemplo: pessoa que fica paraplégica em razão da explosão de um shopping center. ela será equiparada a consumidora não pelo fato de ser destinatária final de um produto ou serviço, mas pela condição de estar no local dos fatos quando da ocorrência do acidente de consumo As pessoas expostas às práticas comerciais e contratuais trata-se praticamente de uma espécie de conceito difuso de consumidor, tendo em vista que desde já e desde sempre todas as pessoas são consumidoras por estarem potencialmente expostas a toda e qualquer prática comercial; Com a expressão “todas as pessoas” o legislador conferiu a defesa dos direito de todos, consumidores por definição ou não, e não apenas da coletividade de consumidores. 10 4. Conceito de fornecedor O art. 3º do CDC conceitua fornecedor como sendo toda pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira, de direito público ou privado, que atua na cadeia produtiva, exercendo atividade de produção, montagem, criação, construção. transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Quem é o fornecedor? ▸ Tem-se, por conseguinte, que fornecedor é qualquer pessoa física, ou seja, qualquer pessoa que, a título singular, mediante desempenho de atividade mercantil ou civil e de forma habitual, ofereça no mercado produtos ou serviços, ▸ e a jurídica, da mesma forma mas em associação mercantil ou civil e de forma habitual Requisitos fundamentais Verifica-se que o legislador pretendeu classificar como fornecedor todos aqueles que desenvolvem atividades tipicamente profissionais, mediante remuneração, excluindo da relação de consumo aqueles que eventualmente tenham colocado produto ou serviço no mercado de consumo sem o caráter profissional. ▸ é a habitualidade, ou seja, o exercício contínuo de determinado serviço ou fornecimento de produto. Exemplo: Uma empresa que tem por objeto social a prestação de serviços de dedetização e que, para renovar sua frota, vende veículo de sua propriedade a particular, não pode ser considerada fornecedora no que diz respeito a compra e venda deste veículo,posto que a habitualidade está na prestação de serviços de dedetização e não de comercialização de automóvel. Na hipótese em questão, não incidem as regras do CDC, mas sim as regras do Código Civil, por faltar o elemento subjetivo da relação jurídica de consumo.
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