Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS Campus Sorocaba Prática VIII - Transformação do limoneno em tricloroacetato de α-terpineoíla Docente: Profº Dr. Aparecido Júnior de Menezes Discentes: Franciny Oliveira Rodrigues R.A.: 641286 Patrícia de Almeida R.A.: 427594 Sorocaba, 27 de junho de 2017. 1. Objetivos Transformação do limoneno em tricloroacetato de α-terpineoíla e identificação de grupos funcionais em espectroscopia de infravermelho. 2. Introdução Teórica 2.1. Limoneno O limoneno, ou 4-isoproprenil-1-metil-ciclo-hexeno, apresenta fórmula molecular equivalente a C10H16 e consequente massa molar igual a 136,24 g.mol -1. É uma substância líquida aromática, a qual apresenta temperatura de ebulição equivalente a 176 °C nas condições ambiente. Em sua molécula é possível salientar a presença de ciclohexeno, metila, ligação dupla formando o radical isopropenila e carbono quiral, como pode ser observado na Figura 1. Figura 1: Representação estrutural do limoneno. Fonte: http://www.sigmaaldrich.com/content/dam/sigma-aldrich/structure5/183/mfcd00062991.eps/_jcr_conte nt/renditions/mfcd00062991-large.png O limoneno é um monoterpeno (nome genérico dos hidrocarbonetos cíclicos (C10H16) formado exclusivamente por átomos de carbono e hidrogênio. É uma substância natural e volátil produzida principalmente por frutas cítricas como o limão, a lima e a laranja. O limoneno chega a compor cerca de 96% do óleo essencial obtido das cascas da laranja, sendo responsável em grande parte pelo seu aroma. O limoneno apresenta em seu anel aromático um carbono quiral, ou seja, um carbono que se liga a quatro substituintes que são diferentes entre si. Esta característica faz com que o limoneno exista na forma de dois isômeros ópticos. Substâncias opticamente ativas são aquelas que possuem a mesma fórmula molecular: possuem as mesmas propriedades físicas e químicas, mas se diferenciam pelo tipo de desvio do plano de luz polarizada.1 Os carbonos quirais são identificados como R ou S, segundo a IUPAC. Outras notações também para isômeros ópticos incluem o uso das letras d para dextrogiro, o qual desvia o plano da luz polarizada para a direita e L para levógiro, que desvia o plano da luz polarizada para a esquerda, e os símbolos + e -. Assim, podemos chamar um isômero de R-(+)-limoneno e o outro de S-(-)-limoneno. 1, 2 Imagem 2: Enantiômeros do limoneno Fonte: http://www.cempeqc.iq.unesp.br/Jose_Eduardo/Blog2013/Aula_10_05/Extra%C3%A7%C3%A3o%20 do%20limoneno%20do%20%C3%B3leo%20de%20laranja%20LIC%202007.pdf 2.2. Carbocátion Os carbocátions têm deficiência de elétrons e são altamente reativos e instáveis, sendo denominados eletrófilos.² O tipo de carbocátion formado pode determinar que produtos serão formados e em que proporções relativas. O carbocátion é um íon que possui um carbono com apenas três ligações (sp 2), isto é, possui uma carga positiva. Experimentalmente verifica-se uma grande facilidade de se formarem carbocátions terciários (cuja carga positiva está num carbono terciário) em relação a carbocátions secundários ou primários. Essa estabilidade diminui do carbocátion terciário para o secundário e deste para o primário. 2, 5 Figura 2: ordem de estabilidade dos carbocátions. Fonte: Solomons; v1; p 208. Quanto maior a disponibilidade eletrônica para compensar a carga positiva, maior a facilidade do carbocátion e maior a facilidade do mesmo ser formado. Geralmente, devido à alta instabilidade, os carbocátions primários dificilmente são formados.5 2.3. Adição Eletrofílica As reações de adição são reações na qual duas moléculas se unem para produzir uma única molécula. Em alquenos, um eletrófilo é adicionado à molécula.¹ Na reação de adição têm-se a conversão de uma ligação pi e uma ligação sigma em duas ligações sigma, 5 como pode ser observado na Figura 3. Figura 3: Representação de reação de adição eletrofílica. Fonte: http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/157/aulasteoricas/Aula.Teorica.12-Reacoes.Or ganicas.pdf Além disso, os elétrons da ligação π estão expostos. Assim, funcionam como nucleófilos suscetível a reagentes com deficiência de elétrons. Na adição de um haleto de hidrogênio a um alceno, pode-se, vulgarmente, dizer que o átomo de hidrogênio irá se adicionar ao átomo de carbono com maior número de átomos de hidrogênio. Este comportamento é explicado pela Regra de Markovnikov que diz que a adição iônica de um reagente assimétrico à dupla ligação, a porção positiva do reagente de adição se liga ao átomo de carbono da ligação dupla de modo a formar o carbocátion mais estável. Quando os dois carbonos tem o mesmo número de H, devemos levar em consideração o intermediário de reação mais estável.1,,2 Figura 4: Exemplo representativo da regra de Markovnikov. Fonte: http://nuquiocat.quimica.blumenau.ufsc.br/files/2015/08/Rea%C3%A7%C3%B5es-de-Adi%C3%A7% C3%A3o-Eletrof%C3%ADlica-a-Alquenos.pdf 3. Materiais utilizados ● Limoneno (C10H16) ● Ácido Tricloroacético (C2HCl 3O2) ● Sulfato de Sódio Anidro (Na2SO4) ● Éter Etílico (C4H10O) ● Bicarbonato de Sódio (NaHCO3) ● Balão de destilação ● Agitador magnético ● Condensador ● Proveta 50 mL ● Rotaevaporador ● Trióxido de Cromo (CrO3) 4. Procedimento Experimental Iniciou-se o presente experimento adicionando-se aproximadamente 2,00g de limoneno em um balão de destilação de 150 mL e acrescentou-se 10 mL de diclorometano. Em seguida, preparou-se uma solução com aproximadamente 2,90g de ácido tricloroacético em 5,00 mL de diclorometano. Adicionou-se lentamente a solução de ácido tricloroacético ao limoneno e manteve-se a mistura em agitação magnética por um intervalo de tempo a ser determinado no laboratório. Após agitação, adicionou-se 20 mL de éter etílico. Em seguida, lavou-se a solução etérea com solução saturada de bicarbonato de sódio, 3 vezes utilizando 20 mL por vez, seguido de outra lavagem com água destilada, 3 vezes com 20 mL. Secou-se a fase orgânica com sulfato de sódio anidro, filtrando-a, e removendo o éter etílico em seguida com o auxílio de um rotaevaporador. Pesou-se o produto obtido e calculou-se o rendimento. Os resultados obtidos passaram uma espectroscopia de infravermelho a fim de se identificar grupos funcionais. 5. Resultados e Discussões A Tabela 1 demonstra , de maneira geral, os resultados obtidos por todos os grupos e seu tempo de agitação - fator que influencia diretamente na velocidade e na eficácia da reação. Tabela 1: Resultado geral dos testes para cada tempo de agitação. Massa Inicial do limoneno Massa Final do limoneno Tempo de Agitação Rendimento Grupo 1 2,3907g 0,2172g 40 min 9,08% Grupo 2 2,0243g 0,7848g 50 min 17,58% Grupo 3 2,0559g 1,4965g 30 min 32,99% Grupo 4 2,0020g 0,8336g 20 min 18,94% Grupo 5 2,4413g 0,7248g 10 min 13,59%Pode-se observar, a partir dos dados dos rendimentos dispostos na Tabela 1, que o tempo de agitação foi proporcional ao rendimento nos grupos 1, 2 e 3. Isso pode indicar que o tempo de agitação equivalente à 30 minutos é o tempo necessário limite para que a reação ocorre de maneira mais eficaz. Para comprovar, seria necessária a realização de quintuplicatas para uma análise coerente. O mecanismo de reação envolvido na prática foi exemplificado na Figura 5. A reação que ocorre com o ataque do reagente à dupla ligação menos substituída do sistema é uma adição eletrofílica, segundo a orientação Markovnikov. Ao término de toda reação ocorre a extração convencional, que permite o isolamento do tricloroacetato. Figura 5: Mecanismo de reação para a formação do Tricloroacetato de α-terpinoíla. Fonte: Autoria própria. Durante o processo, verificou-se que a solução final apresentava uma coloração rósea. Possivelmente tal coloração refere-se à resíduos de α-naftilamina presentes no balão de destilação, devido à má higienização do mesmo. A α-naftilamina estaria presente no balão já que nas últimas semanas realizou-se uma prática com o objetivo de separar a mesma a partir de uma mistura de substâncias. Tal interferência pode ter prejudicado no rendimento da reação, equivalente à menos de 10%. Os dados utilizados para o cálculo do rendimento da reação estão dispostos na Tabela 2. Tabela 2: Resultados obtidos para as massas de limoneno, tricloroacetato de α-terpineol e rendimento da reação. Massa inicial de limoneno (g) 2,3907 Massa final de Tricloroacetato de α-terpinoíla (g) 0,2172 Rendimento (%) 9,08 Mas, ainda que houvessem interferentes e que o rendimento não tenha sido satisfatório, ambos os espectros mostraram resultados satisfatórios para os compostos analisados. Ainda, todos os grupos obtiveram um rendimento insatisfatório, o que comprova que a prática talvez não seja tão eficiente para a produção do tricloroacetato de α-terpinoíla a partir do limoneno. Foram realizados os espectros de infravermelho para o limoneno e para produto obtido da síntese do Tricloroacetato de α-terpinoíla, obtendo as seguintes bandas de absorção, como pode ser observado na Figura 6 e 8. Figura 6: Gráfico dos dados FTIR obtidos para o Limoneno. Figura 7: Gráfico dos dados FTIR esperados para o Limoneno Fonte: Coblentz Society's evaluated infrared reference spectra collection. http://webbook.nist.gov/cgi/cbook.cgi?ID=C138863&Type=IR-SPEC&Index=3 No espectro que corresponde ao limoneno é possível observar uma banda em 3050 cm-1 que corresponde ao estiramento –CH de alceno e os picos encontrados entre 2950 e 2800 cm-1 correspondem à deformação angular CH 3 e CH2 que podem estar ligados a carbonos primários e secundários. A presença dos picos situados em 1600 e 1450 cm-1 indicam vibrações do estiramento C=C característicos de cicloalceno. O pico encontrado em 1380 cm-1 corresponde à deformação angular CH3 e outro encontrado em 850 cm-1 corresponde a R 2C=CHR (sendo R as ramificações presentes na estrutura do composto). Figura 8: Gráfico dos dados FTIR obtidos para o tricloroacetato de alfa terpineol. Não encontrou-se espectro de infravermelho na literatura para o tricloroacetato de α-terpinoíla, apenas para o α-terpineol. Porém, observa-se no espectro obtido a presença de uma banda bem definida na região de 1750 cm-1, o que mostra ser devido ao estiramento da carbonila proveniente de éster. A banda na região de 2990 cm-1 indica a presença de C-H sp3 na estrutura do composto obtido; e a presença de uma banda definida em 1380 cm-1 indica um grupo metila na substância. Por fim, a banda média na região de 970 cm-1 indica a presença de dupla ligação 1,2-dissubstituída na posição trans, característica de terpenos. 6. Conclusão É possível concluir que, embora o rendimento não tenha sido satisfatório, a prática foi eficaz no sentido de produzir o tricloroacetato de α-terpinoíla, já que os dados de espectro de infravermelho mostraram que o produto final refere-se ao esperado. 7. Referências Bibliográficas ● Allinger, N. L.; Cava, M. C.; de Jongh, D. C.; Johnson, C. R.; Lebel, N. A. e Stevens, C. L.; Química Orgânica, Editora Guanabara Dois S. A., segunda edição, Rio de Janeiro – RJ, 1976. ● BARBOSA, L. C. A.; ALMEIDA, P. G. V; Introdução a química orgânica. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004. 311 p. ISBN 8576050064. ● BURNHAM, Paul M; Limonene; disponível em <http://www.chm.bris.ac.uk/motm/limonene/limonenejm.htm>, acesso em 23 de junho de 2017. ● Coblentz Society's evaluated infrared reference spectra collection. Disponível em <http://webbook.nist.gov/cgi/cbook.cgi?ID=C138863&Type=IR-SPEC&Index= 3>, acesso em 23 de junho de 2017. ● SOLOMONS, T. W.; FRYHLE, C. B. Química orgânica. 8. ed. Rio de Janeiro. Livros Técnicos e Científicos, 2005. 2v