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O QUE VOCÊ DIZ DEPOIS DE DIZER OLÁ? A PSICOLOGIA DO DESTINO ERIC BERNE PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA É com enorme satisfação que escrevemos esta introdução ao último e mais importante trabalho de Eric Berne, tão esperado pelo público brasileiro. O tema central, complexo e desafiante, é a análise do script, cuja teoria e aplicação são da maior relevância para a prática terapêutica, mas cujas implicações se estendem aos aspectos educacionais, organizacionais, sócio-econômicos e políticos da sociedade contemporânea. Fiel aos princípios que seguiu desde os seus primeiros escritos, Berne propõe-se a utilizar uma linguagem acessível, tanto quanto o possível despojada de um jargão técnico-especializado, com o objetivo de colocar sua teoria do comportamento humano à disposição não só do profissional especializado, como também de todos os que se interessam pelo assunto. Este posicionamento inovador e por vezes revolucionário, contrário à tradição acadêmica, talvez tenha sido responsável por muitas das críticas dirigidas à Análise Transacional no transcorrer do seu desenvolvimento. A genialidade de Berne, entretanto, permitirá ao leitor mais atento verificar a profundidade, o rigor científico e a coerência interna dos conceitos apresentados, a metodologia prática e potente, a marcante preocupação com a ética profissional e, principalmente, o respeito demonstrado para com o paciente, considerado como um ser humano integral, capaz de pensar, sentir, compreender e assumir responsabilidade pelo seu próprio bem-estar, participando ativamente de seu processo de mudança. Neste sentido Eric Berne foi um pioneiro e sua coragem de desafiar o status quo aliada a uma sensibilidade apurada, contribuiu para o avanço da compreensão do comportamento humano e das inúmeras alternativas utilizadas para cada indivíduo construir o seu próprio destino. Uma obra fascinante que abre novos caminhos, novas alternativas para a prática terapêutica, para a educação, para a administração pública e privada e, principalmente, novas esperanças para indivíduos e sociedades em busca da elevação da qualidade de vida. Temos certeza que o leitor encontrará um sem-número de estímulos para repensar a visão de si mesmo e do mundo que o rodeia, para fazer indagações e procurar resposta a respeito de sua trajetória de vida, a descortinar caminhos que permitam atingir a autonomia. Os profissionais especializados contarão, agora, com uma nova fonte de conhecimentos que certamente enriquecerá sua formação e competência técnica, alargando ainda mais o crescente interesse pela Análise Transacional. Rosa R. Krausz Teaching member, instructor/supervisor da International Transactional Analysis Association; Membro didata, organizacional e educacional da União Nacional dos Analistas Transacionais – Brasil; mestre em Ciências Sociais e doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo. São Paulo, 6 de junho de 1988. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO................................................................................................................................. 9 Parte I - CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. Introdução ................................................................................................................................. 12 A. O que você diz depois de dizer Olá?......................................................................................... 12 B. Como você diz Olá?.................................................................................................................. 12 C. Um exemplo.............................................................................................................................. 13 D. O aperto de mão ........................................................................................................................ 14 E. Amigos...................................................................................................................................... 15 F. A teoria...................................................................................................................................... 15 Referências............................................................................................................................................ 16 2. Princípios de análise transacional ............................................................................................. 17 A. Análise estrutural ...................................................................................................................... 17 B. Análise transacional .................................................................................................................. 18 C. Estruturação do tempo .............................................................................................................. 23 D. Scripts ....................................................................................................................................... 25 Notas e referências................................................................................................................................ 26 Parte II - PROGRAMAÇÃO PARENTAL 3. O destino humano ..................................................................................................................... 28 A. Planos de vida ........................................................................................................................... 28 B. No palco e fora dele .................................................................................................................. 30 C. Mitos e estórias de fadas ........................................................................................................... 32 D. À espera do rigor mortis ........................................................................................................... 36 E. O drama familiar ....................................................................................................................... 38 F. O destino humano ..................................................................................................................... 39 G. Histórico.................................................................................................................................... 41 Notas e referências................................................................................................................................ 43 4. Influências pré-natais ................................................................................................................ 45 A. Introdução ................................................................................................................................. 45 B. As influências ancestrais........................................................................................................... 46 C. A cena da concepção................................................................................................................. 48 D. A ordem de nascimento ............................................................................................................ 49 E. Os scripts de nascimento........................................................................................................... 52 F. Nomes e sobrenomes ................................................................................................................ 53 Notas e referências................................................................................................................................ 54 5. Desenvolvimentos precoces...................................................................................................... 56A. Influências precoces.................................................................................................................. 56 B. Convicções e decisões............................................................................................................... 56 C. Posições – os pronomes ............................................................................................................ 57 D. Vencedores e perdedores .......................................................................................................... 59 E. A posição tripla ......................................................................................................................... 59 F. Posições – os predicados........................................................................................................... 60 G. A seleção do script.................................................................................................................... 62 Referências............................................................................................................................................ 62 6. Os anos maleáveis..................................................................................................................... 63 A. A Programação Parental ........................................................................................................... 63 B. Pensando em marciano ............................................................................................................. 64 C. O pequeno advogado................................................................................................................. 66 D. O aparato do script.................................................................................................................... 67 Notas e referências................................................................................................................................ 69 7. O aparato do script.................................................................................................................... 70 A. O desfecho do script ................................................................................................................. 70 B. A injunção................................................................................................................................. 71 C. A provocação ............................................................................................................................ 72 D. O eletrodo.................................................................................................................................. 72 E. Embalagens e coisas ................................................................................................................. 74 F. A prescrição .............................................................................................................................. 74 G. Padrões Parentais ...................................................................................................................... 75 H. O demônio................................................................................................................................. 76 I. Permissão .................................................................................................................................. 77 J. A liberação interna.................................................................................................................... 78 K. O equipamento do script ........................................................................................................... 80 L. Aspirações e conversas ............................................................................................................. 81 M. Vencedores................................................................................................................................ 82 N. Todos têm um script?................................................................................................................ 82 O. O antiscript ............................................................................................................................... 82 P. Sumário ..................................................................................................................................... 83 Notas e referências................................................................................................................................ 83 8. O fim da infância ...................................................................................................................... 85 A. Esquemas e heróis..................................................................................................................... 85 B. Disfarces ................................................................................................................................... 85 C. Figurinhas ................................................................................................................................. 86 D. Ilusões ....................................................................................................................................... 90 E. Jogos ......................................................................................................................................... 95 F. A persona .................................................................................................................................. 96 G. A cultura familiar ...................................................................................................................... 97 Notas e referências................................................................................................................................ 99 9. Adolescência ........................................................................................................................... 101 A. Passatempos ............................................................................................................................ 101 B. Novos heróis ........................................................................................................................... 101 C. O totem.................................................................................................................................... 101 D. Sentimentos novos .................................................................................................................. 102 E. Reações físicas ........................................................................................................................ 103 F. O quarto da frente e o quarto dos fundos................................................................................ 103 G. Script e antiscript .................................................................................................................... 104 H. A imagem do mundo............................................................................................................... 104 I. Camisetas ................................................................................................................................ 106 Notas e referências.............................................................................................................................. 109 10. Maturidade e morte ................................................................................................................. 110 A. Maturidade .............................................................................................................................. 110 B. A hipoteca ...............................................................................................................................110 C. Vícios ...................................................................................................................................... 111 D. O triângulo dramático ............................................................................................................. 112 E. Expectativa de vida ................................................................................................................. 113 F. A velhice ................................................................................................................................. 114 G. A cena da morte ...................................................................................................................... 116 H. O riso de forca......................................................................................................................... 117 I. A cena póstuma....................................................................................................................... 117 J. A lápide................................................................................................................................... 118 K. O testamento ........................................................................................................................... 118 Notas e referencias.............................................................................................................................. 118 Parte III - O SCRIPT EM AÇÃO 11. Tipos de scripts ....................................................................................................................... 121 A. Vencedores, não-vencedores e perdedores ............................................................................. 121 B. O tempo do script.................................................................................................................... 122 C. Sexo e scripts .......................................................................................................................... 123 D. Tempo de relógio e tempo de meta......................................................................................... 124 Notas e referências.............................................................................................................................. 125 12. Alguns scripts típicos.............................................................................................................. 126 A. Chapeuzinho Cor-de-Rosa ou a criança abandonada.............................................................. 126 B. Sísifo ou lá vou eu novamente ................................................................................................ 128 C. A Pequena Senhorita Muffer ou você não me assusta............................................................ 129 D. Velhos soldados nunca morrem ou quem precisa de mim?.................................................... 130 E. Matador de Dragões ou papai sabe melhor............................................................................. 131 F. Sigmund ou se não puder fazer de um jeito, experimente de outro........................................ 132 G. Florence ou ajude.................................................................................................................... 133 H. Scripts trágicos........................................................................................................................ 134 Notas e referências.............................................................................................................................. 135 13. Cinderela ................................................................................................................................. 136 A. O passado de Cinderela........................................................................................................... 136 B. A estória de Cinderela............................................................................................................. 137 C. Scripts entrelaçados ................................................................................................................ 138 D. Cinderela na vida real ............................................................................................................. 139 E. Depois que o baile terminou ................................................................................................... 140 F. Contos de fada e pessoas reais ................................................................................................ 141 Notas e referências.............................................................................................................................. 142 14. Como o script é possível? ....................................................................................................... 143 A. O rosto maleável ..................................................................................................................... 143 B. O self em movimentação......................................................................................................... 145 C. Fascinação e imprinting .......................................................................................................... 148 D. O cheiro inodoro ..................................................................................................................... 149 E. A tensão antecipada e a ressaca .............................................................................................. 151 F. O pequeno fascista .................................................................................................................. 155 G. O esquizofrênico corajoso....................................................................................................... 157 H. O boneco do ventríloquo......................................................................................................... 158 I. Mais sobre o demônio............................................................................................................. 159 J. A pessoal real.......................................................................................................................... 160 Notas e referências.............................................................................................................................. 160 15. A transmissão do script........................................................................................................... 162 A. A matriz do script ................................................................................................................... 162 B. A Parada familiar .................................................................................................................... 164 C. A transmissão cultural............................................................................................................. 165 D. A influência dos avós.............................................................................................................. 166 E. O excesso de script ................................................................................................................. 167 F. A combinação de diretivas do script...................................................................................... 169 G. Sumário ................................................................................................................................... 170 H. A responsabilidade dos pais.................................................................................................... 170 Notas e referências.............................................................................................................................. 171 Parte VI - O SCRIPT NA PRÁTICA CLÍNICA 16.As fases preliminares .............................................................................................................. 174 A. Introdução ............................................................................................................................... 174 B. A escolha do terapeuta ............................................................................................................ 175 C. O terapeuta como mágico ....................................................................................................... 176 D. A preparação ........................................................................................................................... 177 E. O “paciente profissional”........................................................................................................ 179 F. O paciente como pessoa.......................................................................................................... 179 Notas e referência ............................................................................................................................... 180 17. Os sinais do script ................................................................................................................... 181 A. O sinal do script ...................................................................................................................... 181 B. O componente fisiológico ....................................................................................................... 182 C. Como ouvir ............................................................................................................................. 184 D. Sinais vocais básicos............................................................................................................... 185 E. Escolha das palavras ............................................................................................................... 186 F. A transação da força................................................................................................................ 191 G. Tipos de riso............................................................................................................................ 192 H. A avó....................................................................................................................................... 193 I. Tipos de protesto..................................................................................................................... 194 J. A estória de sua vida ............................................................................................................... 195 L. Mudança de script................................................................................................................... 196 Notas e referências.............................................................................................................................. 197 18. O script no tratamento ............................................................................................................ 199 A. O papel do terapeuta ............................................................................................................... 199 B. A dosagem do jogo ................................................................................................................. 199 C. Motivos para terapia ............................................................................................................... 200 D. O script do terapeuta............................................................................................................... 200 E. Prevendo o resultado............................................................................................................... 201 F. A antítese do script ................................................................................................................. 202 G. A cura...................................................................................................................................... 206 Notas e referências.............................................................................................................................. 207 19. A intervenção decisiva............................................................................................................ 208 A. As trilhas comuns finais.......................................................................................................... 208 B. Vozes na cabeça...................................................................................................................... 209 C. A dinâmica da permissão ........................................................................................................ 211 D. Curando pacientes e fazendo progresso.................................................................................. 214 Notas e referências.............................................................................................................................. 215 20. Estórias de três casos .............................................................................................................. 216 A. Clooney ................................................................................................................................... 216 B. Vítor ........................................................................................................................................ 220 C. Jan e Bill ................................................................................................................................. 220 Parte V - UMA ABORDAGEM CIENTÍFICA DA TEORIA DO SCRIPT 21. Objeções à teoria do script...................................................................................................... 224 A. Objeções espirituais ................................................................................................................ 224 B. Objeções filosóficas ................................................................................................................ 224 C. Objeções racionais .................................................................................................................. 225 D. Objeções doutrinárias.............................................................................................................. 226 E. Objeções empíricas ................................................................................................................. 227 F. Objeções evolutivas ................................................................................................................ 228 G. Objeções clínicas .................................................................................................................... 228 Notas e referências.............................................................................................................................. 229 22. Problemas metodológicos ....................................................................................................... 231 A. Mapa e território ..................................................................................................................... 231 B. A grelha conceitual ................................................................................................................. 232 C. Dados empíricos e dados sistemáticos.................................................................................... 234 Notas e referências.............................................................................................................................. 236 23. Inventário de verificação do script ......................................................................................... 237 A. Definiçãode script .................................................................................................................. 237 B. Como verificar um script ........................................................................................................ 238 C. Introdução ao inventário de verificação do script................................................................... 241 D. Inventário de verificação do script ......................................................................................... 241 E. Inventário de verificação condensado..................................................................................... 247 F. Um inventário de verificação terapêutica ............................................................................... 249 Notas e referências.............................................................................................................................. 250 APÊNDICE O que você diz depois de dizer Olá?................................................................................................... 251 Glossário ............................................................................................................................................. 252 APRESENTAÇÃO Este livro é uma continuação direta de meus trabalhos anteriores sobre a abordagem transacional e delineia novos desenvolvimentos do pensamento e da prática que se deram nos últimos cinco anos, em particular o rápido avanço na análise do script. Durante este período houve um aumento considerável no número de analistas transacionais treinados. Estes têm testado as teorias consagradas em vários campos diferentes, incluso indústrias, instituições penais, educação e política, como também numa variedade de situações clínicas. Muitos deles estão oferecendo contribuições próprias originais, como mencionado no texto e nas notas de rodapé. Este trabalho pretende ser, em primeiro lugar, um manual avançado de psicoterapia e os profissionais de outras formações não deveriam encontrar dificuldade em traduzir para o seu próprio jargão os relatos breves e simples da análise transacional. É provável que alguns leigos também o lerão e por este motivo procurei torná-lo acessível a eles. Poderá demandar reflexão, mas espero que não seja necessário decifrá-lo. A psicoterapia convencional utiliza geralmente três dialetos diferentes: terapeuta-terapeuta, terapeuta-paciente e paciente-paciente, que diferem entre si da mesma forma como o mandarim do cantonês ou o grego antigo do grego moderno. A experiência mostra que ao eliminar tanto quanto possível estas diferenças em favor de uma kua-ya ou língua franca de inglês básico, estaremos expandindo a “comunicação” que muitos terapeutas cortejam ardentemente (e acabam por deixar esperando ao pé do altar, como diz o ditado popular). Procurei evitar a moda tão difundida entre as ciências sociais, comportamentais e psiquiátricas de mascarar a incerteza com a redundância, a imprecisão com a prolixidade, uma prática que teve suas origens na Faculdade de Medicina da Universidade de Paris, no século XIV. Isto ocasionou denúncias de “popularização” e “supersimplificação” – termos que lembram acusações de “cosmopolitismo burguês” ou de “distorção capitalista” do velho Comitê Central. Dada a opção entre o hermético e o explícito, entre a excessiva complicação e a simplicidade, optei por juntar-me ao “povo”, utilizando ocasionalmente palavras difíceis como uma espécie de hambúrguer para distrair os cães de guarda dos acadêmicos, enquanto entro sorrateiramente pela porta dos fundos para dizer olá aos meus amigos. Não será possível agradecer a todos que contribuíram para o desenvolvimento da análise transacional, uma vez que hoje são milhares. Os que melhor conheço são os membros didatas da Associação Internacional de Análise Transacional e os membros do Seminário de Análise Transacional de São Francisco, que freqüento regularmente todas as semanas. Dentre os que têm estado mais ativamente envolvidos com a análise do script incluem-se Carl Bonner, Melvin Boyce, Michael Breen, Viola Callaghan, Hedges Capers, Leonard Campos, William Collins, Joseph Concannon, Patricia Crossman, John Dusay, Mary Edwards,Frankin Ernst, Kenneth Everts, Robert Goulding, Martin Groder, Gordon Haiber, Thomas Harris, James Horewitz, Muriel James, Pat Jarvis, Stephen Karpman, David Kupfer, Pamela Levin, Jack Lindheimer, Paul McCormick, Jay Nichols, Margareth Northcott, Edward Olivier, W. Ray Poindexter, Solon Samuels, Myra Schapps, Jacqui Schiff, Zelig Selinger, Claude Steiner, James Yates e Robert Zechnic. Além disso desejo agradecer à minha secretária de São Francisco, Pamela Blum, por manter o seminário funcionando serenamente e contribuir com suas idéias. Também agradeço às suas sucessoras Elaine Wark e Arden Rose e, particularmente, à minha secretária em Carmel, Sra. Mary N. Williams, cuja responsabilidade, destreza e dedicação foram vitais para a existência deste manuscrito que passou por todo um processo de rascunhos e correções. Meu filho de quinze anos, Terence, auxiliou-me diligentemente a conferir a bibliografia e as ilustrações, bem como outros detalhes do manuscrito e minha filha, Elen Calcaterra, leu-o e fez valiosas sugestões. Finalmente, desejo agradecer aos meus pacientes por seu espírito esportivo e sua abertura, e por permitirem que eu saísse de férias para poder pensar. Agradeço, também, aos milhões de leitores em quinze línguas que me encorajaram pelo seu interesse por um ou mais dos meus livros. Semântica Como nos meus outros livros, ele poderá referir-se ao ser humano de qualquer dos sexos, enquanto ela será utilizado quando penso que uma determinada afirmação se aplica mais às mulheres do que aos homens. Às vezes ele poderá ser usado a bem da simplicidade gramatical, para diferenciar o terapeuta (masculino) do paciente. Espero que estes artifícios sintáticos práticos não sejam mal interpretados pelas mulheres emancipadas. É significa que tenho uma convicção razoavelmente firme a respeito de algo, com base em experiência clínica própria ou de outros. Parece ser ou aparenta ser significa que estou à espera de mais testemunhos antes de aceitar firmemente. O relato de casos foi extraído de minha própria experiência e das que foram apresentadas em seminários e sessões de supervisão. Alguns são combinações e todos foram protegidos para evitar o seu reconhecimento, embora os incidentes e diálogos significativos tenham sido fielmente relatados. Parte I CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. Introdução A. O que você diz depois de dizer Olá? Esta pergunta infantil, aparentemente tão canhestra e despida de profundidade que se espera da investigação científica, contém, na realidade, todas as questões básicas da vida humana e todos os problemas fundamentais das ciências sociais. É a pergunta que os bebês se “fazem”, que leva as crianças a aceitarem respostas corrompidas quando fazem essa indagação, que os adolescentes discutem entre si e com os seus conselheiros, sobre a qual os velhos e sábios filósofos escrevem livros sem nunca encontrar a resposta. Ela contém a questão primeira da psicologia social, o porquê as pessoas falam umas com as outras, e, também, a questão primeira da psiquiatria social, por que as pessoas gostam de que se goste delas? Sua resposta é semelhante àquela das perguntas feitas pelos Quatro Cavaleiros do Apocalipse: guerra ou paz? Fome ou fartura? Pestilência ou saúde? Morte ou vida? Não é de admirar que poucas pessoas encontram a resposta no decorrer de sua vida, pois a maioria passa por ela sem jamais encontrar a resposta para a questão que a precede: Como você diz Olá? B. Como você diz Olá? Este é o segredo do Budismo, do Cristianismo, do Judaísmo, do Platonismo, do Ateísmo e, sobretudo, do Humanismo. Ofamoso “som de uma só mão batendo palmas” no Zen é o som de uma pessoa dizendo Olá para outra, como também o da Regra de Ouro, seja qual for a bíblia em que isso está escrito. Dizer Olá corretamente é ver a outra pessoa, ter consciência dela como um fenômeno, acontece para o outro e estar pronto para que o outro aconteça para você. Talvez as pessoas que mais possuem esta habilidade sejam os ilhéus de Fidji, pois uma das raras jóias do mundo é o genuíno sorriso fidjiano. Começa de forma lenta, iluminando todo o rosto, e lá permanece o tempo suficiente para ser claramente reconhecido e reconhecer claramente, empalidecendo com uma lentidão secreta à medida que desaparece. Só é comparável, em outros lugares, aos sorrisos da mãe pura e do bebê ao saudarem-se um ao outro e também nos países ocidentais, por certos tipos de personalidades abertas.∗ Este livro discute quatro questões: Como você diz Olá? Como responde com um Olá? O que você diz depois de dizer Olá?, e, principalmente, a triste pergunta: O que estão fazendo as pessoas em vez de dizer Olá? Estas interrogações serão respondidas de forma breve aqui. A explicação das respostas ocupará o resto deste texto de psiquiatria, que é dirigido primeiramente para o terapeuta, em segundo lugar aos seus pacientes à medida que se curam e, em terceiro, a qualquer pessoa que queira ouvir. 1) Para dizer Olá a primeira coisa será livrar-se do refugo que se acumulou em sua cabeça desde que você chegou à casa da maternidade. Então reconhecerá que este Olá em particular não voltará jamais a acontecer. Poderá levar anos para aprender como se faz isto. 2) Para responder com um Olá você se livra de todo o refugo que está em sua cabeça e vê que há alguém parado ou passando por você, esperando seu Olá de resposta. Poderá levar anos para aprender a fazê-lo. 3) Depois de dizer Olá, você se livra de todo o refugo que está voltando à sua cabeça, de toda a ressaca dos sentimentos que sentiu e das tensões antecipadas dos problemas nos quais planeja ∗ Por estranho que pareça, na minha experiência tais sorrisos são mais freqüentes em moças de longos cabelos negros, na faixa dos vinte anos de idade. envolver-se. Então você ficará sem palavras e não terá nada a dizer. Após alguns anos de prática poderá pensar em algo que valha a pena ser dito. 4) Este livro trata principalmente de refugo: as coisas que as pessoas fazem umas às outras em vez de dizer Olá. Foi escrito esperando que os que possuem treinamento e talento para tais coisas possam ajudar a si próprios e aos outros a reconhecer o que eu chamo (no sentido filosófico) de “refugo”, uma vez que o primeiro problema com que nos defrontamos ao responder as outras três questões é diferenciar o que é refugo e o que não é. A língua falada pelas pessoas que estão aprendendo a dizer Olá chama-se “marciano” e distingue-se da linguagem terráquea cotidiana que, como demonstra a história desde os seus primórdios no Egito e na Babilônia até a atualidade, tem levado a guerras, fome, epidemias e morte, ocasionando nos sobreviventes um certo grau de confusão mental. Espera-se que a longo prazo o marciano, adequadamente aprendido e ensinado, ajude a erradicar estas pragas. Marciano é para ilustrar a língua dos sonhos que mostram as coisas como realmente são. C. Um exemplo Para ilustrar o possível valor desta abordagem, consideramos um paciente moribundo, isto é, um paciente com tempo limitado de vida. Mort, um homem de trinta anos portador de uma forma de câncer incurável (no atual estágio de conhecimentos) mas de desenvolvimento lento, tinha na melhor das hipóteses dois anos de vida e na melhor, cinco. Sua queixa psiquiátrica eram os tiques que consistiam em balançar a cabeça ou sacudir os pés por razões que desconhecia. Na terapia de grupo ele logo encontrou a explicação: estava representando seus temores por detrás de uma parede contínua de música que passava por sua mente e os tiques eram a forma de manter-se no ritmo desta. Através de cuidadosa observação verificou-se que era desta forma e não o inverso, isto é, não era a música que se mantinha no ritmo dos tiques, mas sim os movimentos corporais que acompanhavam o ritmo da música mental. Neste momento todos, inclusive Mort, perceberam que se a música fosse eliminada pela psicoterapia, um vasto reservatório de apreensão seria liberado. As conseqüências disto eram imprevisíveis a não ser que seus temores fossem substituídos por emoções mais agradáveis. O que fazer? Logo tornou-se claro que todos os membros do grupo sabiam que, mais cedo ou mais tarde, iram morrer e que todos possuíam sentimentos relacionados a este fato, que estavam sendo reprimidos de várias maneiras. Da mesma forma como sucedia a Mort, o tempo e o esforço que dispendiam encobrindo estes sentimentos eram como pagamentos para subornar a morte, que os impedia de desfrutar plenamente a vida. Sendo este o caso, poderiam viver mais vinte ou cinqüenta anos, enquanto para Mort restavam apenas entre dois e cinco anos. Assim foi definido que não era a duração da vida, mas sim a qualidade desta que era importante; não foi uma descoberta surpreendente ou nova, mas realizada de uma forma mais contundente do que é comum por causa da presença de uma pessoa que estava morrendo, e que por isso mesmo teve um efeito profundo em todos. Os outros membros (que entendiam a linguagem marciana e a ensinaram a Mort, que a aprendeu com satisfação) concordaram que viver significava coisas simples como ver as árvores, ouvir o canto dos passarinhos e dizer Olá às pessoas: experiências de percepção e espontaneidade sem drama ou hipocrisia, mas com reserva e decoro. Concordaram também que para realizar estas coisas, todos eles, inclusive Mort, teriam de enfrentar com firmeza o refugo que tinham na cabeça. Quando perceberam que a situação dele, de uma certa maneira, não era muito mais trágica que a sua própria, a tristeza e a timidez causada pela presença de Mort desapareceu. Podiam agora estar alegres com ele e vice-versa. Mort e os outros podiam tratar-se como iguais. Podiam ser rigorosos com o refugo dele porque agora Mort conhecia o valor da dureza e o porquê deles estarem sendo duros com ele. Em compensação ele teria o privilégio de ser igualmente severo com o refugo dos outros. Mort devolveu sua carteirinha de canceroso em vigor e reassumiu o seu título de membro da espécie humana, embora todos, inclusive ele, tivessem consciência de que a sua condição era mais grave do que a dos demais. Esta situação ilustra mais claramente do que a maioria das outras, o phatos e a profundidade do problema do Olá que, no caso de Mort, passou por três estágios. Quando ele ingressou no grupo os demais não sabiam que ele era um homem condenado. De início dirigiam-se a ele da maneira que era usual naquele grupo. As formas de abordá-lo eram estabelecidas pela educação que cada um dos membros havia recebido – a maneira como os pais haviam ensinado a cumprimentar as pessoas, as modificações aprendidas posteriormente e um certo respeito e franqueza próprios da psicoterapia. Mort, sendo um novato, respondia da mesma forma como faria em qualquer outro lugar, fingindo ser ambicioso, um jovem americano vigoroso como seus pais gostariam que ele fosse. Mas quando contou, na terceira sessão, que era um homem condenado, os outros sentiram-se confusos e traídos. Começaram a questionar-se se teriam dito algo que os fizesse parecer mal perante si próprios ou diante de Mort e, especialmente, aos olhos do terapeuta. Pareciam zangados com ambos pelo fato de não terem sido informados antes, quase como se tivessem sido enganados por eles. De fato haviam dito Olá a Mort de uma forma padronizada, sem perceber com quem estavam falando. Agora que sabiam que ele era um ser especial, desejavam poder voltar atrás e recomeçartratando-o diferentemente. Assim recomeçaram. Em vez de falar de forma direta, como faziam antes, dirigiam-se a ele suave e cuidadosamente, como se dissessem: “Veja como me esforço para dar atenção à sua tragédia?”. Ninguém queria arriscar agora a sua boa imagem falando abertamente com um moribundo. Isto era injusto, pois dava a Mort uma posição de superioridade. Ninguém ousava rir muito ou alto na sua presença. Isto foi corrigido quando solucionou-se o problema do que Mort poderia fazer. Então a tensão desapareceu e eles puderam retroceder e recomeçar pela terceira vez, conversando com ele como um membro da raça humana, sem restrições. Assim os três estágios foram representados pelo Olá superficial, de pois Olá tenso e simpático e, finalmente, o Olá descontraído e real. Zoe não pode dizer Olá a Mort antes de saber quem ele é, e isto poderá mudar toda semana, ou mesmo toda hora. Cada vez que ela o encontra, fica sabendo um pouco mais sobre ele e necessita dizer-lhe um Olá ligeiramente diferente se quiser acompanhar o aprofundamento da amizade. Mas, uma vez que ela nunca poderá saber tudo sobre ele, nem antecipar todas as mudanças, jamais dirá um Olá perfeito, apenas se aproximará mais e mais disto. D. O aperto de mão Muitos pacientes, quando vão ao psiquiatra pela primeira vez, apresentam-se e estendem a mão ao serem convidados a entrar no consultório. Na verdade alguns psiquiatras estendem a mão primeiro. Tenho uma política diferente no que se refere ao aperto de mão. Se o paciente oferece sua mão cordialmente, aperto-a para não parecer rude, porém de maneira neutra, pois fico em dúvida sobre o porquê de sua cordialidade. Se ele o faz de uma forma que apenas indica que está cumprindo uma regra de boas maneiras, retribuo o cumprimento de modo a nos entendermos. Este ritual agradável não interfere com o trabalho a ser feito. Se o paciente estende a mão indicando que está desesperado, então a apertarei firme e apoiadoramente para que ele saiba que entendi sua necessidade. A maneira como entro na sala de espera, a expressão do meu rosto e a posição dos meus braços serão indicadores suficientemente claros para os novatos que esta amenidade será omitida, a não ser que eles insistam nela. Isto é feito para indicar, e em geral indica, que partilhamos ambos de um propósito mais sério do que provar que somos boas pessoas ou trocar cortesias. Basicamente não aperto a sua mão porque não me conhecem. Além disto, algumas pessoas que consultam psiquiatras fazem objeção ao contato físico e é uma demonstração de cortesia evitar que isto aconteça. O fim da entrevista é diferente, pois neste momento eu sei bastante a respeito do paciente e ele sabe algumas coisas sobre mim. Assim, faço questão de apertar sua mão ao sair, pois agora conheço-o suficiente para fazê-lo de maneira apropriada. Este aperto de mão significa algo muito importante para ele; ou seja, que eu o aceito∗ mesmo depois de ele ter relatado todas as coisas “más” a seu próprio respeito. Se ele necessitar de apoio, meu aperto de mão será apoiador, se ele necessitar de afirmação de sua masculinidade, meu aperto de mão a reafirmará. Isto não é uma estratégia cuidadosamente planejada para seduzir o paciente. É um reconhecimento espontâneo, oferecido livremente a alguém que agora conheço, após uma conversa de uma hora sobre suas preocupações mais íntimas. Entretanto, se ele mentiu maliciosamente, e não em função de um constrangimento natural, ou tentou explorar-me ou intimidar-me, não apertarei a sua mão para que saiba que terá de comportar-se diferentemente se desejar que eu esteja do seu lado. Com mulheres é um pouco diverso. Se necessitar de um sinal palpável de aceitação, apertarei sua mão de forma a atender às suas necessidades. Se (como já saberei a esta altura) ela se retrai no contato com homens, direi adeus de forma apropriada sem apertar-lhe a mão. Este último caso ilustra claramente a razão de não apertar a mão ao cumprimentar. Se o fizer de início, antes de saber com quem estou trocando um aperto de mão, poderei estar despertando sua repugnância. Na verdade, terei invadido sua privacidade e a desrespeitado antes da entrevista, forçando-a, em nome da boa educação, e contra sua inclinação, a tocar-me e permitir que eu a tocasse, apesar de isto ser apenas uma cortesia. Nos grupos de terapia sigo a mesma orientação. Não digo Olá ao entrar, pois não vi as pessoas durante uma semana e por isso não sei a quem estou dizendo Olá. Este cumprimento leve e cordial poderá ser bastante inadequado à luz do que possa ter acontecido neste intervalo de tempo. Mas faço absoluta questão de dizer Até Logo a cada um dos participantes ao fim da sessão, porque então sei para quem o estou dizendo e como fazê-lo em cada um dos casos. Por exemplo, suponhamos que a mãe de uma das mulheres tenha falecido no intervalo das sessões. Um Olá jovial pareceria inadequado. Ela poderá perdoar-me, mas não haveria necessidade de criar tensão. Ao término da sessão saberei dizer Até Logo a ela na sua aflição. E. Amigos Socialmente é diferente, pois os amigos são para dar carícias. Com eles Olá e Até Logo variam de um aperto de mão espontâneo até um grande abraço, dependendo da expectativa ou necessidade. Às vezes será uma gozação ou brincadeira para evitar um envolvimento maior, um “sorriso quando você diz isto”. Mas há algo na vida que é mais certo do que os impostos e tão seguro quanto a morte: quanto mais cedo você fizer novos amigos, mais depressa terá velhos amigos. F. A teoria Isto é tudo no que se refere a Olá e Até Logo. O que acontece no intervalo cabe no quadro de referência de uma teoria específica de personalidade e dinâmica de grupo que é, também, um método terapêutico conhecido como análise transacional. Para apreciar o que se segue será necessário compreender primeiro os princípios desta abordagem. ∗ “Aceitação” não é empregada aqui no seu sentido mal definido ou sentimental. Significa, especificamente, que estou disposto a passar algum tempo com ele. Isto envolve um compromisso que poderá significar, em alguns casos, um ou mais anos de paciência, esforço, altos e baixos e levantar-se cedo pela manhã. Referências 1. As vantagens de retornar à vida em vez de esperar pela morte são demonstradas em: 1) “Terminal Cancer Ward: Patients Build Atmosphere of Dignity”. Journal of the American Medical Association, 208:1289, maio/26, 1969. 2) Klagsbrun, S.C. “Cancer Emotions, and Nurses”. Summary of Scientific Proceedings. 122ndAnnual Meeting, American Psychiatric Association, Washington, D.C., 1969. 2. Princípios de análise transacional Os princípios da análise transacional foram apresentados anteriormente em várias ocasiões. A descrição mais detalhada pode ser encontrada no trabalho do autor denominado Análise Transacional em Psicoterapia1. Sua aplicação à dinâmica de grupo está delineada em Estrutura e Dinâmica das Organizações e Grupos2. Sua utilização na análise dos jogos é descrita em Os Jogos da Vida3. A aplicação à prática clínica é encontrada em Princípios de Tratamento de Grupo4, e um resumo da teoria é apresentado de uma forma acessível ao grande público em Guia de psiquiatria e Psicanálise para Leigos5. Por isso faremos apenas uma breve revisão para os leitores que não têm acesso imediato a estes trabalhos. A. Análise estrutural O interesse básico da análise transacional é o estudo dos estados de ego, que são sistemas coerentes de pensamento e sentimento manifestados por padrões de comportamento correspondentes. Cada ser humano apresenta três tipos de estados de ego: 1) Os que se derivam das figuras parentais, coloquialmente denominado o Pai. Neste estado a pessoa sente, age, fala e reage como um dos seus progenitores fazia quando ela era pequena. Esteestado de ego é ativo na educação dos próprios filhos, por exemplo. Mesmo quando o indivíduo não está exteriorizando este estado de ego, o seu comportamento é por ele influenciado na forma de “influência parental” desempenhando as funções de uma consciência. 2) O estado de ego no qual a pessoa analisa seu meio ambiente objetivamente, calculando suas possibilidades e probabilidades com base em experiências passadas, é chamado de Adulto ou estado de ego Adulto. Este funciona como um computador. 3) Cada ser humano carrega dentro de si um menininho ou uma menininha que sente, pensa, age, fala e reage de forma semelhante à que fazia quando ele ou ela eram crianças. Este estado de ego é chamado de Criança. A criança não é vista como “infantil” ou “imatura”, que são palavras Parentais, mas sim como semelhante a uma criança, o que significa como uma criança de uma certa idade, que poderá ser algo em torno de dois e cinco anos de idade em circunstâncias normais. É importantes que o indivíduo entenda sua Criança, não só porque ela o acompanhará por toda a vida, mas também por ser a parte mais valiosa da sua personalidade. A Figura 1A representa o diagrama completo da personalidade de qualquer ser humano, abrangendo tudo que este possa sentir, pensar, dizer ou fazer (sua forma abreviada mais conveniente é apresentada na Figura 1B). Uma análise mais detalhada não produz novos estados de ego, mas sim subdivisões dentro dos estados básicos. Assim, é evidente que um estudo cuidadoso irá revelar dois componentes Parentais na maioria dos casos: um oriundo do pai e o outro da mãe. O estado de ego Criança revelará os componentes Pai, Adulto e Criança que já lá estavam quando a Criança foi fixada, como pode ser verificado através da observação das crianças reais. Esta análise de segunda ordem está representada na figura 1C. A separação de um padrão de sentimento-e-comportamento de outro ao diagnosticar os estados de ego é denominado análise estrutural. No texto, os estados de ego serão denominados Pai (P), Adulto (A) e Criança (C) com letras maiúsculas, enquanto pai, adulto e criança, com letras minúsculas, indicarão pessoas reais. Encontraremos também termos descritivos que são auto-explicativos ou serão esclarecidos como Pai Natural ou Protetor e Pai Crítico ou Controlador, além da Criança Natural, Adaptada e Rebelde. Enquanto a Criança “estrutural” é representada por divisões horizontais, a Criança “descritiva” é indicada pelas verticais, como na figura 1D. Fig. 1 Fig. 1D - Aspectos descritivos da personalidade B. Análise transacional Do que foi dito anteriormente percebe-se que quando duas pessoas estão uma diante da outra há seis estados de ego envolvidos, três de cada uma, como na Figura 2A. Uma vez que os estados diferem entre si como as pessoas reais, é importante saber qual estado de ego está ativado em cada pessoas quando algo acontece entre elas. Isto pode ser representado por flechas desenhadas entre os dois “indivíduos” no diagrama. Na transação mais simples as flechas são paralelas e esta é denominada transação complementar. É evidente que há nove tipos possíveis de transações complementares (PP, PA, PC, AP, AA, AC, CP, CA, CC), como mostra a Figura 2B. A Figura 2A representa, como exemplo, a transação PC entre marido e mulher, na qual o estímulo vai do estado de ego Pai do marido para o estado de ego Criança da esposa e a resposta vai da Criança dela para o Pai dele. Na melhor das hipóteses isto poderá representar um esposo paternalista cuidando de uma esposa agradecida. Enquanto as transações forem complementares, com as flechas paralelas, a comunicação poderá continuar indefinidamente. Fig. 2A - Uma transação complementar PC – CP Fig. 2B - Diagrama de relacionamento mostrando as nove possibilidades de transações complementares Fig. 3A - Transação cruzada tipo I AA – CP Fig. 3B - Transação cruzada tipo II AA - PC Nas figuras 3A e 3B alguma coisa não deu certo. Na 3A um estímulo (AA), tal como um pedido de informação, recebe uma resposta Criança-para-Pai (CP), de modo que as flechas de estímulo-resposta, em vez de permanecerem paralelas, se cruzam. Tal transação é chamada de cruzada, e neste caso a comunicação é interrompida. Se, por exemplo, o marido pergunta à guisa de informação “Onde estão as minhas abotoaduras?” e a esposa responde “Por que você me culpa de tudo?”, ocorreu uma transação cruzada e eles não mais poderão falar sobre abotoaduras. Esta é uma transação cruzada Tipo I, que representa a forma comum de reação de transferência, como ocorre em psicoterapia, sendo também responsável pela maioria dos problemas do mundo. A ilustração 3B representa a transação cruzada Tipo II, na qual um estímulo Adulto-Adulto (AA), como é o caso de uma pergunta, recebe uma resposta pomposa e condescendente Pai-Criança (PC). Este é o tipo mais comum de reação de contra-tranferência e a segunda causa mais comum de problemas nas relações pessoais e políticas. Uma verificação cuidadosa do diagrama de relacionamento na Figura 2B indicará que matematicamente são possíveis 72 tipos de transações cruzadas (9x9 = 81) combinadas, menos as nove complementares.∗ Felizmente apenas umas quatro ocorrem com freqüência suficiente para justificarem alguma preocupação maior no trabalho clínico ou na vida cotidiana. São as que foram descritas anteriormente, a Tipo I (AA-CP), de reação de transferência; Tipo II (AA-PC), de contra- transferência; Tipo III (CP-AA), “a resposta exasperante” na qual quem deseja simpatia recebe fatos em vez disso; Tipo IV (PC-AA), “cinismo” onde alguém que espera obediência recebe o que considera uma resposta matreira sob forma de uma declaração factual. As transações complementares e cruzadas são simples e de um só nível. Há dois tipos de transações ulteriores ou de dois níveis, as angulares e as duplex. Afigura 4A representa uma transação angular na qual um estímulo ostensivo Adulto-Adulto, como um apelo de venda que soa racional tem, na verdade, a intenção de enganchar algum outro estado de ego, Pai ou Criança, do interlocutor. Aqui a linha contínua, Adulto-Adulto, representa o nível psicológico ou oculto. Se a transação angular for bem-sucedida neste caso, a resposta será Criança-Adulto, em vez de Adulto-Adulto; se não for, o Adulto do interlocutor manterá o controle e a resposta virá do Adulto e não da Criança. Considerando- se várias formas em que os estados de ego podem ser envolvidos, pode-se observar pelos diagramas (Figuras 4A e 2B) que existem dezoito tipos de transações angulares bem-sucedidas nas quais a linha pontilhada recebe a resposta e para uma delas há uma transação angular mal-sucedida, na qual a resposta volta paralelamente à linha contínua. A Figura 4B representa a transação duplex. Aqui temos dois níveis distintos: o subjacente psicológico ou o oculto, que é diferente do nível social ou aparente. Um estudo dos diagramas mostra que há 812 ou 6.561 diferentes tipos de transações duplex possíveis.** Se subtrairmos aquelas nas quais o nível social e psicológico coincidem (que são os 81 tipos de transações simples), haverá, na realidade, 6.480 tipos de transações duplex. Felizmente, outra vez, somente umas seis destas têm significado clínico ou na vida cotidiana.*** O leitor poderá estranhar a presença de tantos números nesta parte. Três são as razões: 1) A razão da Criança é que muitas pessoas gostam de pensar em números. 2) A razão do Adulto é demonstrar que a análise transacional é mais precisa do que a maioria das teorias sociais e psicológicas. 3) A razão do Pai é demonstrar que, embora análise transacional não seja tão precisa, não limita as pessoas. Por exemplo, se nos envolvemos em apenas três transações e a cada vez podemos optar entre 6.597 variedades, teremos nossastrês transações em 6.5973 maneiras. Isto nos dá 300 bilhões de maneiras diferentes de estruturar nossos três intercâmbios e nos oferece todo o espaço que necessitamos para expressar nossas individualidades. Significa que toda a população do mundo poderia juntar-se em pares e cada um ter três intercâmbios 200 vezes seguidas sem que nenhum dos pares repetisse o que qualquer outro fez ou o que ele (par) próprio fez. ∗ Isto pode ser verificado diagramando-se cada uma separadamente ou listando-as: PP-PA, PP-PC, PA-PP, PA-PC e assim por diante até CC-CA. Depois disto cada uma delas poderá ser combinada com elementos da prática clínica ou da vida cotidiana. ** Isto pode ser desenvolvido como se segue. Tome as nove transações complementares da ilustração 2B e some as 72 transações cruzadas. Para cada destas 81 possibilidades ao nível social ou aberto existem 81 possibilidades ao nível psicológico ou oculto. Muitas destas combinações podem ser encontradas em situações clínicas ou pessoais por alguém que tenha aprendido a reconhecer os estados de um ego em ação. *** (AA-AA) + (CC-CC) (como na ilustr. 4B), (AA-AA) + (PP-PP), (AA-AA) + (PC-CP), (PP-PP) + (CC-CC), (AA-AA) + (CA-CA), (AA-AA) + (PA-PA). Outros entram em situações especiais como educar filhos, ensino ou psiquiatria infantil, onde o nível aberto poderá ser complementar (PC-CP, CC-CC) ou cruzado (AA-CP, Tipo I), p.ex, enquanto o nível oculto poderá ser de qualquer uma das 81 possibilidades. Para visualizar estas, o melhor será diagramar as transações e então traduzi-las para situações reais. Fig. 4A - Uma transação angular bem-sucedida (AA + AC) (CA) Fig. 4B - Uma transação duplex (AA – AA) (CC – CC) Já que as pessoas se envolvem em centenas ou milhares de transações diariamente, cada um terá trilhões e trilhões de combinações à sua disposição. Mesmo que tenha aversão a 5.000 das 6.597 transações possíveis e nunca se envolva nelas, terá ainda suficiente espaço de manobra, não havendo necessidade de estereotipar o seu comportamento, a não ser que ele próprio decida fazê-lo. Se assim o fizer, e a maioria faz, não é da responsabilidade da análise transacional, mas de outras influências que constituem o tema principal deste livro. Uma vez que este sistema como um todo, e todas as suas ramificações, é denominado de análise transacional, o que foi descrito acima, isto é, a análise de transações isoladas, é chamado de análise transacional propriamente dita, que é o segundo passo depois da análise estrutural. A análise transacional propriamente dita oferece uma rigorosa definição do sistema como um todo, que será do interesse dos que possuem formação em metodologia científica. Uma transação consiste em um único estímulo e uma única resposta, verbal ou não-verbal, e é a unidade da ação social. É chamada de transação porque cada uma das partes ganha algo dela e é por esta razão que as pessoas se engajam6. Qualquer coisa que aconteça entre duas ou mais pessoas pode ser separada por uma série de transações isoladas e isto traz todas as vantagens que qualquer ciência pode obter quando possui um sistema bem definido de unidades. A análise transacional é uma teoria de personalidade e de ação social e um método clínico de psicoterapia, baseada na análise de todas as possíveis transações entre duas ou mais pessoas, com base em estados de ego especificamente definidos, num número finito de tipos estabelecidos (9 complementares, 72 cruzadas, 6.480 duplex e 36 angulares). Aproximadamente quinze destas ocorrem no cotidiano. O resto tem apenas interesse acadêmico. Qualquer sistema ou abordagem que não se baseie na análise rigorosa de transações isoladas e dos estados de ego específicos que a compõem não é análise transacional. Esta definição tem como propósito estabelecer um modelo para todas as possíveis formas de comportamento social humano. Este modelo é eficaz por seguir o princípio da economia científica (às vezes denominado de navalha de Occam), baseado em dois princípios: 1) Os seres humanos podem mudar de um estado de ego para outro. 2) Se A diz uma coisa e B diz algo logo em seguida, é possível verificar se o que B disse é ou não uma resposta ao que A falou. É muito eficaz também porque até agora não foram encontrados exemplos, dentre os milhares e milhões de intercâmbios entre seres humanos, que não pudessem ser tratados por este modelo. É rigoroso porque é limitado por considerações aritméticas simples. A melhor maneira de compreender o “ponto de vista transacional” será indagar: “O que faria uma criança de um, dois ou três anos que poderia corresponder ao comportamento de um adulto?”. C. Estruturação do tempo Também é possível classificar séries prolongadas de transações, inclusive as que se estendem por toda uma vida, de forma a poder prever o comportamento social significativo tanto a curto, como a longo prazo. Tais correntes de transações acontecem, mesmo quando produzem pouca satisfação instintual porque a maioria das pessoas fica desconfortável quando se encontra diante de um período de tempo não-estruturado. Procuram, então, recepções, por exemplo, que são menos monótonas do que ficar só. A necessidade de estruturar o tempo baseia-se em três impulsos ou fomes. A primeira é a fome de estímulo ou sensação. Longe de tentar evitar situações estimulantes, como muitos defendem, a maioria dos organismos, inclusive os seres humanos, procuram estas situações. A necessidade de sensação é a razão pela qual os proprietários de montanhas-russas ganham dinheiro e os prisioneiros farão qualquer coisa para escapar da solitária. O segundo impulso é a fome de reconhecimento, a busca de tipos especiais de sensações que só podem ser fornecidas por outro ser humano ou, em alguns casos, por outros animais 7. É por isso que o leite não é suficiente para filhotes de macacos ou bebês. Eles necessitam também de som, odor, calor e contato com a mãe, pois sem isto fenecem, à semelhança dos adultos quando não há ninguém para dizer-lhes Olá. A terceira fome é a de estrutura, que explica por que os grupos tendem a transformar-se em organizações e os estruturadores de tempo são as pessoas mais procuradas e bem remuneradas de qualquer sociedade. Um exemplo interessante que combina com a fome de estímulos e de estrutura é o dos ratos criados num estado de privação sensorial, isto é, em escuridão completa ou então numa gaiola branca com iluminação constante, sem qualquer variação. Depois quando são colocados em gaiolas comuns com ratos “normais”, verifica-se que procuram alimento num labirinto se a comida for colocada sobre um tabuleiro de xadrez, e que não buscam alimento se este estiver sobre um fundo homogêneo. Ratos criados normalmente procurariam alimentos independente do fundo. Isto demonstrou que a fome de um estímulo estruturado dos ratos submetidos à privação era mais importante do que a sua fome de alimento. Os investigadores concluíram que a necessidade de estímulos estruturados (ou como foi por eles colocado de “experiência perceptual”) poderá envolver processos biológicos tão básicos quanto a fome de alimentos, e que os efeitos da privação sensorial precoce poderão persistir no decorrer da vida sob a forma de uma intensa atração por estímulos complexos8. Há quatro classificações básicas para a estruturação do tempo a curto prazo no comportamento social humano, com dois casos limitantes. Se duas ou mais pessoas encontram-se juntas em um recinto, elas têm seis tipos possíveis de comportamento social à sua escolha. Num extremo o caso limitante é o isolamento, no qual as pessoas não se comunicam abertamente uma com a outra. Isto poderá ocorrer em situações tão diversas quanto um trem subterrâneo de esquizofrênicos retraídos.Em seguida ao isolamento, no qual cada pessoa permanece envolta em seus próprios pensamentos, a forma mais segura de ação social é constituída pelos rituais. Estes são intercâmbios altamente estilizados ou formalizados em cerimônias que são completamente previsíveis. As transações constituídas pelos rituais fornecem pouca informação, sendo mais sinais de mútuo reconhecimento. As unidades de um ritual são denominadas carícias, por analogia com a forma em que os bebês são reconhecidos por suas mães. Os rituais são programados exteriormente pela tradição e costumes sociais. A forma seguinte mais segura de ação social é conhecida como atividades, que consiste no que chamamos comumente de trabalho. Aqui as transações são programadas pelo material com o qual se trabalha, seja madeira, concreto ou problemas aritméticos. As transações de trabalho são tipicamente Adulto-Adulto, orientadas para a realidade externa, isto é, o assunto da atividade. Na ordem seguem-se os passatempos, que não são tão estilizados e predizíveis quanto os rituais, porém possuem uma certa qualidade repetitiva, do tipo e intercâmbios de escolha múltipla e de complementação de sentenças, como as que acontecem nas festas onde as pessoas não se conhecem muito bem. Passatempos são, em grande parte, socialmente programados por conversas a respeito de assuntos aceitáveis e de forma aceitável, onde as observações pessoais poderão insinuar-se levando à forma seguinte de ação social chamada jogos. Jogos são conjuntos de transações ulteriores, repetitivas por natureza, com um desfecho bem definido. Numa transação ulterior o agente finge estar fazendo uma coisa, quando, na realidade, está fazendo outra, pois todos os jogos envolvem uma isca. Esta só funciona, entretanto, se houver uma fragilidade na qual possa enganchar, uma brecha ou fraqueza no interlocutor da qual possa aproveitar, como o medo, a ganância, o sentimentalismo ou a irritabilidade. Enganchado “alvo”, o jogador aciona uma espécie de mudança para obter o desfecho. A mudança é seguida por um momento de confusão ou perplexidade, enquanto o alvo entende o que aconteceu. Então os dois parceiros recolhem seus respectivos desfechos e o jogo termina. O desfecho, que é mútuo, consiste em sentimentos (não necessariamente semelhantes) que o jogo suscita no agente e respondente. Se uma série de transações não apresentar estas quatro características não será um jogo, isto é, as transações têm que ser ulteriores, de forma a haver uma isca seguida por uma mudança, confusão e desfecho. O jogo é representado pela fórmula:∗ I + F = R ---- M ---- C ---- D (Fórmula J) ( + ) I + F significa que a isca engancha a fraqueza levando à resposta (R). O jogador aciona a mudança (M) que é seguida por um momento de confusão ou perplexidade (C), após o qual os dois parceiros colhem o desfecho (D). Tudo que corresponder a esta fórmula será um jogo. Caso contrário não o será. A mera repetição ou persistência não caracteriza um jogo. Assim, se um paciente assustado de um grupo terapêutico pedir, a cada semana, ao terapeuta que lhe dê segurança (Doutor, diga-me que vou melhorar) e quando recebe diz “Obrigado”, isto não é, necessariamente, uma transação ulterior. O ∗ No original a fórmula é: C + G + R ---- S ---- P (Fórmula G) C = con, G = “gimmick”, R = response, S = switch, X = confusion ou crossup, P = payoff, Fórmula G de game. (N. do T.) paciente declarou de maneira franca a sua necessidade, foi atendido e não tira qualquer vantagem da situação, dando uma resposta cortês. Estas transações, portanto, não constituem um jogo e sim uma operação e esta, embora repetida com freqüência, deve ser diferenciada dos jogos, da mesma forma como se distingue procedimentos racionais de rituais. Se outro paciente, entretanto, pede segurança ao terapeuta e ao recebê-la utiliza a resposta para fazer com que ele pareça incompetente, isto constitui um jogo. Exemplo: Um paciente pergunta “O senhor acha que vou melhorar, doutor?” e o terapeuta sentimental responde “Claro que sim”. Neste momento o paciente revelará o motivo ulterior de sua pergunta. Em vez de dizer “Obrigado”, como numa transação honesta, ele aciona mudança com “O que o faz pensar que sabe tudo?”. Esta resposta confunde o terapeuta desequilibrando-o por um momento, o que era a intenção do paciente. Aí termina o jogo com o paciente sentindo-se exultante por ter enganchado o terapeuta e este sente-se frustrado. Estes são os desfechos. Este jogo seguiu a fórmula J com precisão. A isca foi a pergunta inicial e a fraqueza foi a sentimentalidade do terapeuta. Quando a isca enganchou na fraqueza ele respondeu da maneira que o paciente esperava acionando a mudança e causando a confusão, depois do que cada um recolheu seu desfecho. Assim: I + G = R ---- M ---- G ---- BF∗ Este é um exemplo simples do jogo chamado, do ponto de vista do paciente, “Te acertei” ou “golpeador”** e do ponto de vista do terapeuta “Eu só queria ajudar”. Coloquialmente o desfecho é chamado de figurinha. Sentimentos “bons” são denominados figurinhas “douradas” e sentimentos perturbadores, figurinhas “marrons” ou “azuis”. Neste caso o paciente obteve uma figurinha dourada falsificada em troca de um triunfo ou sucesso falso e o terapeuta, uma marrom, o que não é incomum. Cada jogo tem um slogan ou lema pelo qual pode ser reconhecido, como “Eu só queria ajudar”. Este slogan é coloquialmente chamado de “camiseta”. Em geral o nome do jogo é tirado do seu slogan. Para além dos jogos localiza-se o outro caso limitante do que se passa entre as pessoas, chamado de intimidade. A intimidade bilateral é definida como um relacionamento cândido, livre de jogos, de um dar e receber livre e sem exploração. A intimidade pode ser unilateral, pois uma das partes poderá ser cândida e dar-se livremente enquanto a outra é desonesta e aproveitadora. As atividades sexuais oferecem exemplos que abrangem todo o espectro do comportamento social. Podem ocorrer no isolamento, ser parte de uma cerimônia ritualística, estar presente num dia de trabalho, ser um passatempo num dia chuvoso ou constituir atos de real intimidade. D. Scripts As formas de ação social acima são maneiras de estruturar o tempo objetivando evitar o tédio e, concomitantemente, extrair a maior satisfação possível de cada situação. Toda pessoa possui um plano de vida prévia pré-consciente ou script, através do qual estrutura planos mais longos de tempo – meses, anos ou toda uma vida, preenchendo-os com atividades, rituais, passatempos e jogos que levam adiante o seu script, dando-lhe satisfação imediata comumente interrompida por períodos de isolamento e, às vezes, episódios de intimidade. Scripts baseiam-se, em geral, em ilusões infantis que poderão persistir toda uma vida. Em pessoas mais sensíveis, perceptivas e inteligentes, estas ilusões dissolvem-se, uma a uma, levando às crises vivenciais descritas por Erickson 9. Entre elas está a ∗ No original a fórmula é a seguinte: C + H = R ---- S ---- X ---- P. Aqui Berne utilizou hook (H) em vez de G (gimmick). Hook refere-se a gancho. (N. do T.) ** Estes jogos não constam da listagem apresentada em Games People Play, onde o autor trata especificamente do assunto. (N. do T.) reavaliação dos pais pelo adolescente, os protestos às vezes bizarros da meia-idade e depois a emergência da filosofia. Entretanto, tentativas excessivamente desesperadas de manter as ilusões na vida adulta levam à depressão ou espiritualismo, enquanto o abandonar todas as ilusões poderá levar ao desespero. Estruturar o tempo é um termo objetivo para designar os problemas existenciais do que fazer após ter dito Olá. Haverá tentativas de responder esta pergunta observando o que fazem as pessoas após ter dito Olá, inserindo
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