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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE MINERALOGIA E PETROLOGIA DISCIPLINA GEO 03021 APOSTILA 2 MINERALOGIA ÓPTICA CRISTALINA INÊS TEREZINHA S F DO RÊGO (Org.) 2013 2 Bibliografia Essencial: DANA, J.D. 1976. Manual de mineralogia. Rio de Janeiro, vol 1 e 2. DEER, W.A.; HOWIE,R.A.; ZUSSMAN, J. 1966. Minerais constituintes das rochas – Uma introdução.Fundação Calouste Gubenkian, Lisboa, 558 p. FUJIMORI, S. e FERREIRA, Y.A. 1979. Introdução ao uso do microscópio petrográfico. Centro Editorial e Didático da UFBA, Salvador, 202 p. KERR, P.F. 1977. Optical mineralogy. McGraw-Hill, Boston, 492 p. KLEIN, C. e HURLBUT, C.S.Jr.1999. Manual of mineralogy (after James D.Dana). John Wiley & Sons, 681p. LEINZ, V. e SOUZA CAMPOS, J.E. 1982. Guia para determinação de minerais. Comp. Editora Nacional, São Paulo, 149 p. NESSE, W.D. 2000.Introduction to mineralogy. Oxford Univ. Press. 437 p. Bibliografia Básica: MACKENZIE, W.S. e GUILFORD, C. 1980. Atlas of rocking minerals in thin section. Longman, New York, 98 p. WENK, H-R EBULAKI, A. 2004. Minerals.Their constitution and origin. Cambridge Univ. Press. 646 p. Bibliografia Complementar: PUTNIS, A. 1966. Introduction to mineral sciences. Cambridge Univ. Press. 437 p. ROUBALT, M. 1963. Détermination des minéraux des roches au microscope polarisant. Lamarre-Ponant, Paris, 365 p. SHELLEY, D. 1985. Optical mineralogy. Elsevier Science Publishers, New York, 321 p. WAHLSTROM, E.E. 1979. Optical crystallography, John Wiley & Sons, New York, 488 p. Webgrafia: www.webmineral.com é um site indispensável, completo e constantemente atualizado sobre todas as espécies minerais que existem. www.mindat.org é especializado em fornecer as localidades em que os minerais já foram encontrados, com as respectivas referências bibliográficas. www.galleries.com fornece informações adicionais, com vários detalhes que os outros não discutem. www.rc.unesp.br/igce/petrologia/nardy/elearn.html fornece textos em pdf, informações de mineralogia prática e sistemática dos minerais. 3 PROPRIEDADES ÓPTICAS DOS MINERAIS 1. A NATUREZA DA LUZ 1.1 . TEORIA ONDULATÓRIA DA LUZ: A luz visível se propaga em linhas retas com um movimento ondulatório transversal, isto é, vibra em direções perpendiculares à sua direção de propagação. As ondas luminosas têm: - comprimento de onda (distância entre duas cristas sucessivas); - amplitude (deslocamento para cada lado da posição de equilíbrio); - frequência (número de ondas por segundo passando num ponto fixo); - velocidade (frequência multiplicada pelo comprimento de onda); As suas vibrações transversais, perpendiculares à direção de propagação, acontecem em todas as direções possíveis. A luz visível ocupa uma porção muito pequena do espectro eletromagnético, onde o comprimento de onda determina a cor e varia de 7 000Aº no extremo vermelho até 4 000Aº no extremo violeta. A luz branca é composta de todos os comprimentos de onda dentro desses limites, enquanto que a luz de um único comprimento de onda é chamada de monocromática. 2. O COMPORTAMENTO DA LUZ A velocidade da radiação luminosa é reduzida quando esta é transmitida através da matéria. A razão para esse retardamento é que o vetor elétrico da radiação distorce ou polariza as nuvens de carga elétrica dos átomos que encontra na sua trajetória, impondo nestes vibrações que variam em amplitude, dependendo da estrutura eletrônica e do estado de combinação química dos átomos em questão. Essa interação reduz a velocidade de propagação da luz e a medida deste retardamento é o índice de refração da substância atravessada. Ao mesmo tempo, a energia da luz é absorvida em maior ou menor grau de forma que a sua intensidade é reduzida. Este fenômeno é a absorção da luz pela substância e conforme a absorção cresce a substância se torna mais opaca. 2.1. ÍNDICE DE REFRAÇÃO: o índice de refração de uma substância é definido pela razão entre a velocidade da luz no ar (Va) e a velocidade da luz na substância (Vs). n = Va / Vs 4 Então, o índice de refração de uma substância é inversamente proporcional à velocidade de propagação da luz através da mesma. 3. SUBSTÂNCIAS OTICAMENTE ISÓTROPAS E ANISÓTROPAS Os líquidos e os vidros (virtualmente, líquidos super-resfriados) são substâncias amorfas, isto é, não apresentam uma estrutura atômica regular, constituindo-se de átomos ou moléculas em disposição caótica. Em função disto, todas as direções através destes materiais são estatisticamente as mesmas e por isso exibem um único valor de índice de refração, o mesmo para qualquer que seja a direção em que a luz os atravesse. Os cristais que pertencem ao sistema cúbico também possuem um único valor de índice de refração, pois neles a luz se move com igual velocidade em todas as direções devido a alta simetria da estrutura cristalina, cujos grupos atômicos são muito semelhantes ao longo de qualquer direção escolhida. As substâncias que possuem um único índice de refração são chamadas de oticamente isótropas. Os cristais pertencentes aos outros sistemas cristalinos afetam a luz diferentemente conforme a direção de propagação através da estrutura atômica e por isso apresentam uma variação de índices de refração, sendo chamados de oticamente anisótropos. -substâncias Amorfas OTICAMENTE ISÓTROPAS -substâncias cristalinas Um único valor de “n” do Sistema Cúbico -substâncias cristalinas dos Sistemas: Tetragonal Trigonal Hexagonal OTICAMENTE ANISÓTROPAS Ortorrômbico Valor de “n” varia conforme Monoclínico a direção considerada Triclínico 3.1. REFLEXÃO E REFRAÇÃO: quando a luz passa de um meio menos denso, como o ar, para um meio mais denso, como o vidro, parte é refletida da superfície para o ar e parte penetra no vidro. O raio refletido obedece a lei de reflexão que afirma: a) o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão, quando ambos são medidos a partir da normal à superfície; b) os raios refletidos e incidentes estão contidos no mesmo plano 5 A luz que passa através do vidro se propaga com menor velocidade do que o ar, ao mesmo tempo em que não segue o mesmo padrão do raio incidente, sofrendo um desvio na sua trajetória, isto é, sendo refratada. O ângulo de refração depende do ângulo do raio incidente e da diferença de velocidade da luz entre os dois meios, ou seja, da diferença entre os seus índices de refração. 3.2. REFRAÇÃO PELAS SUBSTÂNCIAS ISÓTROPAS – LEI DE SNELL: quando um raio de luz passa de um meio isótropo menos denso (MENOR índice de refração) para um meio isótropo mais denso (MAIOR índice de refração), incidindo perpendicularmente à interface entre os dois meios, este raio tem sua velocidade reduzida, no entanto, a sua direção de propagação permanece inalterada. Quando o raio de luz atravessa obliquamente a interface entre os dois meios, este é refratado. Quando um raio de luz passa de um meio menos denso (<n) para um meio mais denso (>n) obliquamente à interface entre os raios, este é refratado em direção à normal a esta interface. De maneira oposta, na passagem de um meio mais denso para um menos denso, o raio se refrata afastando-se da normal. Esta relação, conhecida como Lei de Snell, afirma que: “O índice de refração (n)é expresso pela razão entre o seno do ângulo de incidência no ar, “1”, e o seno do ângulo de refração, “2”, ambos os ângulos medidos a partir da normal à interface”. A medida do ângulo crítico pelo fenômeno de reflexão total é aplicado no refratômetro de Herbert Smith e outros similares. Refratômetros são aparelhos utilizados para a determinação do índice de refração de uma substância (particularmente utilizados no estudo de gemas). 3.3. COMPORTAMENTO ÓTICO DAS SUBSTÂNCIAS ANISÓTROPAS: As substâncias anisótropas possuem índices de refração diferentes para as diferentes direções de vibração da luz e exibem o fenômeno da DUPLA REFRAÇÃO da luz ou “birrefringência”. Este fenômeno é bastante notável no mineral calcita, especialmente na sua variedade mais transparente chamada de “espato da Islândia”. A dupla refração da calcita é tão forte que um pedaço romboédrico de espato da Islândia, quando colocado sobre uma folha de papel com um ponto preto, forma duas imagens deste ponto que podem ser vistas através do mineral. Isto acontece porque a luz vem do papel através do cristal por dois caminhos devido à dupla refração. Uma das imagens do ponto parece estar acima da outra porque o índice de refração do mineral para os raios que formam a imagem mais alta é maior do que aquele mostrado para os raios que dão origem à imagem mais baixa. Quando o pedaço de calcita sofre uma rotação 6 no papel, a imagem mais alta permanece estacionária, enquanto a outra se move em torno da primeira. Na calcita, como em todas as substâncias anisótropas, a luz que incide perpendicularmente à interface é desdobrada em dois raios, um dos quais é refratado e o outro não, sendo a imagem estacionária gerada por aquele que não sofre refração. O raio refratado é chamado de “raio extraordinário” (raio E), e o raio não refratado, que obedece a lei para as substâncias isótropas, é conhecido como “raio ordinário” (raio O) e possui maior índice de refração. Da mesma forma, quando a luz incide obliquamente à interface nas substâncias anisótropas, também é desdobrada em dois raios, porém ambos são refratados, embora com diferentes ângulos de refração. 4. POLARIZAÇÃO DA LUZ Quando a luz passa através de um cristal anisótropo, esta se torna polarizada, isto é, se desdobra em dois raios, raio extraordinário e raio ordinário, que vibram unicamente num plano, embora tais planos sejam perpendiculares entre si. Para estudar as propriedades óticas dos cristais, é necessário entender e fazer uso da “luz polarizada”. A luz vibra em todas as direções perpendiculares à sua direção de propagação. Já a luz plano-polarizada vibra somente num plano. O estudo microscópico dos minerais constitui a ferramenta mais importante na sua identificação e caracterização, através da análise de suas propriedades óticas. O microscópio utilizado para este fim é chamado de “microscópio polarizador”, pois produz e somente faz uso da luz polarizada. 7 A peça responsável pela polarização da luz neste microscópio é chamada de polarizador, o qual nos microscópios mais antigos consistia no “Prisma de Nicol”. Existem três maneiras de se produzir luz polarizada, sendo as mais utilizadas a polarização por dupla refração (Prisma de Nicol) e a polarização por absorção (filtros polarizadores). 4.1. POLARIZAÇÃO POR DUPLA REFRAÇÃO: O “Prisma de Nicol”, ou simplesmente “nicol”, produz luz polarizada utilizando a propriedade da dupla refração da calcita, pela eliminação do raio ordinário (raio O) e pela passagem somente do raio extraordinário (raio E) através do nicol. O nicol era, originalmente, um prisma de calcita que utilizava o Princípio da Dupla Refração para produzir luz polarizada. O prisma de base rômbica era serrado diagonalmente através do centro e as duas metades ficavam cimentadas com bálsamo do Canadá (n= 1,537), substância isótropa; ambos as metades do prisma ficavam num ângulo tal que, quando a luz penetrava na extremidade do prisma, era dividida em dois raios produzidos por dupla refração. O raio O por possuir um índice de refração maior (n=1,658), incide no bálsamo a um ângulo maior que o ângulo crítico, sendo totalmente refletido e absorvido pela metade do prisma. O raio E, com índice de refração próximo ao do bálsamo (n=1,516), passa refratando-se através deste e emerge polarizado. Assim, a luz que passa pelo prisma é dividida em dois raios de luz polarizada plana: - o raio extraordinário (Re), com índice de refração 1,5l6 (ng); - o raio ordinário (Ro), com índice de refração 1,658 (np) A construção do nicol faz com que o Re, com índice menor que o Bálsamo, seja sempre refratado, aproximando-se da normal, enquanto que o Ro é totalmente refletido e depois absorvido por uma câmara negra que contorna os lados do prisma. Observe o desenho abaixo: 8 4.2. POLARIZAÇÃO POR ABSORÇÃO: Os raios polarizados, produzidos quando a luz atravessa um cristal anisótropo, podem ser diferentemente absorvidos. Se um raio sofre quase completa absorção e o outro muito pouca, a luz emergente será plano-polarizada. Este fenômeno é bem ilustrado por alguns cristais de turmalina: a luz passando através do cristal, perpendicularmente a (0001), emerge essencialmente polarizada, com vibrações paralelas ao eixo C. O outro raio, vibrando perpendicularmente a este, é quase completamente absorvido. Lâminas polarizadoras, como o polaróide, são feitas pelo alinhamento de cristais numa base de acetato. Estes cristais absorvem muito pouca luz numa direção de vibração, mas são altamente absorventes na outra. A luz transmitida pela lâmina ou “filtro” é, desta forma, plano-polarizada. Estas placas ou “filtros” polarizadores são extensivamente utilizados em equipamentos óticos, como os microscópios óticos polarizadores modernos. 5. A PROPAGAÇÃO DA LUZ NOS MINERAIS Nos minerais oticamente ANISÓTROPOS ocorre a dupla refração e o índice de refração é uma propriedade vetorial, pois o seu valor varia conforme a direção de vibração do raio de luz. Como seria de esperar, esta propriedade vetorial está intimamente relacionada com a simetria cristalina. O fato dos minerais cúbicos (3 dimensões iguais) serem oticamente isótropos (o valor de n é constante) devido a alta simetria, corrobora a relação existente entre o índice de refração e a simetria externa dos cristais. 5.1. INDICATRIZES ÓTICAS “A INDICATRIZ ÓTICA é uma representação gráfica que permite visualizar as relações existentes entre o índice de refração e a simetria cristalina nos minerais.” Na indicatriz ótica, visualiza-se no centro do cristal uma fonte luminosa, da qual partem raios de luz para todas as direções. Cada um destes raios terá um índice de refração próprio. Tomando-se, a partir da fonte de luz, em todas as direções, segmentos proporcionais aos índices de refração dos raios que vibram nestas mesmas direções, surge uma superfície, esférica ou elipsoidal, que é a indicatriz ótica. Assim como a indicatriz pode representar os índices, pode também representar as velocidades dos raios nos minerais. Nos minerais anisótropos, um raio de luz que incide sobre a superfície se refrata, gerando dois raios de luz polarizada plana que vibram em direções perpendiculares entre si. Os 2 raios possuem velocidades diferentes e possuem, portanto, índices diferentes. 9 -Para construir a indicatriz ótica dos minerais ANISÓTROPOS, utiliza-se os valores do índice de refração (n) nas diferentes direções do cristal como raio, definindo então a superfície de um “elipsóide”. Existem dois tiposprincipais de elipsóides óticos: um para os minerais ANISÓTROPOS UNIAXIAIS e outro para os ANISÓTROPOS BIAXIAIS. -Nos minerais ISÓTROPOS (do sistema cúbico), esta superfície será uma “esfera”, pois existe um único valor de n e, portanto, um único valor de raio. A indicatriz esférica dos minerais cúbicos guarda relação com a simetria externa, na qual os eixos cristalográficos são iguais (X=Y=Z). 5.2. MINERAIS ISÓTROPOS (Minerais do sistema cúbico) Nos minerais isótropos, os raios de luz se propagam com igual velocidade em todas as direções. As velocidades e os índices dos raios serão os mesmos em todas as direções, surgindo uma esfera que se constitui na indicatriz ótica. Como a=b=c ou x=y=z, são chamados também de minerais monométricos. 5.3. MINERAIS ANISÓTROPOS “UNIAXIAIS OU DIMÉTRICOS (Minerais dos sistemas tetragonal, trigonal e hexagonal; Ex: calcita e quartzo) UNIAXIAIS - 1 Eixo Ótico (Z) DIMÉTRICOS – 2 Dimensões, X=Y e Z 1 Seção de Isotropia (X, Y) 2 Índices de Refração: no e ne A indicatriz apresenta dois valores principais de índices de refração ne (do raio E) e no (do raio O), 1 secção de isotropia e 1 eixo ótico. A indicatriz ótica, então, é um elipsóide ótico de revolução cujo eixo (=eixo ótico) coincide com o eixo cristalográfico z (E4, E3 ou E5) e a secção perpendicular a este eixo é circular (=secção de isotropia). UNIAXIAL POSITIVO (U+) - ne > no - elipsóide alongado na direção z UNIAXIAL NEGATIVO (U-) - ne < no - elipsoide achatado na direção de z Um dos valores principais de índices de refração, ne, ocorre para as vibrações paralelas ao eixo z e o outro, no, para as vibrações perpendiculares à direção de z, ou seja, paralelas à secção circular ou secção de isotropia. Esta secção, então, tem como raio o valor de no, índice do raio ordinário, que é constante, pois obedece à lei para as substâncias isótropas. “Isto 10 implica que, para todos raios de luz que incidirem perpendicularmente à secção de isotropia, portanto, vibrando paralelamente à esta secção, não haverá dupla refração e os minerais anisótropos se comportarão como se fossem isótropos (com um único valor de n)”. Tal afirmativa, relativa à secção de isotropia, se aplica tanto para os minerais anisótropos uniaxiais como para os biaxiais. “Para os raios de luz que incidirem paralelamente à secção de isotropia, portanto, perpendicularmente ao eixo z, haverá dupla refração e a luz será desdobrada em dois vetores com índices de refração no e ne tendo ne seu valor “extremo” na direção do eixo z (máximo, no caso dos uniaxiais positivos e mínimo, no caso dos uniaxiais negativos)”. Elipsóides óticos dos minerais uniaxiais: a) elipsóide de mineral uniaxial positivo, U+. (Ex: quartzo); b) elipsoide de mineral uniaxial negativo, U-. (Ex: calcita). “Para qualquer outra direção de incidência da luz, a luz será desdobrada nos dois vetores no e ne, exibindo ne um valor variável, conforme a direção considerada, e sempre intermediário entre no e ne”. 11 5.4. MINERAIS ANISÓTROPOS “BIAXIAIS OU TRIMÉTRICOS (Minerais dos sistemas ortorrômbico, monoclínico e triclínico; Ex: feldspatos) BIAXIAIS - 2 Eixos Óticos TRIMÉTRICOS - 3 dimensões x, y, z 2 Secções de Isotropia 3 Índices de Refração: np, nm, ng nx, ny, nz Os cristais ortorrômbicos, monoclínicos e triclínicos são oticamente biaxiais, pois possuem 2 direções para as quais não ocorre dupla refração da luz, ou seja, 2 secções de isotropia, em que os raios possuem a mesma velocidade de propagação. Como o eixo é perpendicular à secção de isotropia, estes minerais apresentam 2 eixos óticos. Os minerais biaxiais apresentam também 3 valores principais de índices de refração: np (menor valor), nm (valor intermediário entre np e ng) e ng (maior valor), relacionados aos três eixos cristalográficos X, Y, Z, que mostram tamanhos diferentes nestes três sistemas cristalinos. A indicatriz ótica será um elipsóide biaxial de 3 eixos, cujas direções óticas e comprimentos são mutuamente perpendiculares X, Y, Z. Os valores de raio ao longo das três direções são os valores dos índices de refração: proporcionais aos 3 eixos de vibração principais: Ng (Z) > Nm(Y) > Np(X). As secções principais cortadas através do elipsóide, como os planos XY, YZ e XZ, são elipses, sendo a secção XZ a mais importante, chamada de plano ótico. Esta secção tem como seu maior eixo, z (ng) e x (np) como seu menor eixo, existindo pontos nesta elipse onde o valor do raio é o valor de y (nm) e que pertencem às secções de isotropia, portanto o plano ótico apresenta os três valores de índices de refração: np, nm e ng. “Toda secção que passa através do centro de um elipsoide a três eixos é uma elipse, exceção feita às 2 secções de isotropia, que são circulares e que tem como raio o valor de y (nm)”. As secções de isotropia são, então, inclinadas em relação às direções de X e Z (tendo Y, seu raio, um valor intermediário entre X e Z) e perpendicularmente a elas, no próprio plano ótico, estão os dois eixos óticos (EO). 12 O ângulo agudo entre os dois eixos óticos é chamado de “ângulo ótico” ou “ângulo 2V”, que é cortado pelo ng ou pelo np, dependendo do mineral. Ng pode ser, então, a bissetriz aguda do ângulo 2V (BA) e, neste caso, np será a bissetriz obtusa do ângulo 2V obtuso (BO). Quando ng for a bissetriz obtusa, np será a bissetriz aguda. O “plano ótico” exibirá, então, np (X), nm (Y), ng (Z), os dois EO, o ângulo 2V, a BA, a BO e a posição das duas secções de isotropia. “Quando o valor de nm for um valor próximo de np, o ângulo ótico será cortdo por ng; portanto ng será a bissetriz aguda do ângulo 2V (BA). Neste caso, os eixos óticos farão um ângulo obtuso com Np sendo este a bissetriz obtusa (BO) e o mineral será BIAXIAL POSITIVO. Quando o valor de nm for um valor próximo de ng, o ângulo ótico será cortado por Np, portanto Np será a bissetriz aguda (BA) do ângulo 2V. Os eixos óticos farão um ângulo obtuso (BO) e o mineral será BIAXIAL NEGATIVO. Nm com valor próximo a np - ng = BA – BIAXIAL POSITIVO (B+) Nm com valor próximo a ng – np = BA – BIAXIAL NEGATIVO (B-) Como nos minerais uniaxiais, para os raios que incidirem paralelamente aos eixos óticos, ou seja, perpendicularmente às secções de isotropia, portanto, vibrando paralelamente a 13 estas secções, o mineral se comportará como se fosse isótropo, isto é, não ocorrerá dupla refração e o índice de refração será nm. 5.5. ORIENTAÇÃO NOS SISTEMAS CRISTALINOS a) No sistema cúbico, a indicatriz ótica é uma esfera e, portanto, não precisa se orientar. b) Nos minerais uniaxiais (sistemas tetragonal, hexagonal e trigonal) o eixo ótico da indicatriz coincide com o eixo "Z". c) Nos minerais biaxiais, há 3 situações, uma para cada sistema: - no sistema ortorrômbico, cada um dos vetores índices principais do elipsóide coincidirá com cada um dos eixos binários do sistema. Isto permitirá ao elipsóide 6 orientações. - no sistema monoclínico, um dos vetores ficará orientado segundo o eixobinário. O elipsóide terá, assim, 3 posições gerais. - no sistema triclínico, o elipsóide terá inteira liberdade de orientação. Neste sistema só há um centro de simetria, assim o elipsóide poderá ficar em qualquer posição. 14 6. MICROSCÓPIO POLARIZADOR Originalmente o microscópio polarizador foi construído para o exame petrográfico de lâminas delgadas de rochas, mas foi sendo introduzido na medicina, metalografia, química, biologia e outras ciências, devido à sua grande utilidade. O microscópio polarizador é o mais importante instrumento para a determinação das propriedades óticas dos cristais; através dele mais informação pode ser obtida fácil e rapidamente do que através de qualquer outro equipamento mais especializado. Apesar de ser diferente nos detalhes de um microscópio ótico comum, a sua função primária é a mesma: fornecer uma imagem amplificada do objeto colocado sobre a platina. A magnificação é produzida pela combinação de duas lentes: a objetiva e a ocular. Assim, sofreu uma série de modificações, mas em princípio todos os tipos não diferem do microscópio petrográfico original no que tange às peças básicas. Estas continuam as mesmas nas peças de museu e nos ultramodernos microscópios de pesquisa com visão estereoscópica, máquina fotográfica digital embutida, etc. Estas peças básicas são as seguintes: 15 6.1. PRINCIPAIS PEÇAS E SUAS FUNÇÕES NO MICROSCÓPIO ÓTICO A função das LENTES OBJETIVAS, localizadas na extremidade inferior do tubo e logo acima da platina, é produzir uma imagem clara e nítida, além de amplificá-la. Os microscópios polarizadores apresentam, no mínimo, três objetivas com diferentes aumentos indicados na própria lente: uma de “menor aumento” (Ex: 40X, 60X). As objetivas estão montadas sobre uma peça rotativa, a qual permite facilmente a troca das lentes através de sua rotação. A LENTE OCULAR (1 nos microscópios monoculares; 2 nos binoculares), posicionada na extremidade superior do microscópio, somente aumenta a imagem (Ex: 8X, 10X), sendo dotada de um anel focalizador, que permite a focalização dos fios do retículo, os quais reproduzem na ocular as direções Norte-Sul e Leste-Oeste. O retículo da ocular permite centralizar e localizar grãos, além de ser essencial para alinhar traços de clivagem e faces a fim de realizar-se medidas angulares. “O aumento total da imagem corresponde ao aumento da ocular multiplicado pelo aumento da objetiva utilizada”. O CONDENSADOR (lente convergente) é posicionado logo abaixo da platina e, associado à objetiva de maior aumento, torna o feixe de luz fortemente convergente, podendo ser retirado e colocado no sistema ótico do microscópio através de uma alavanca. O DIAFRAGMA, também colocado abaixo da platina, tem a finalidade de controlar a intensidade de luz que chega ao mineral, tendo sua abertura regulada por meio de uma alavanca. Além das lentes, do condensador e do diafragma, comuns a todos os microscópios, o microscópio polarizador tem outras peças importantes: O POLARIZADOR, situado abaixo da platina, é um filtro polarizador ou um nicol, que está permanentemente no sistema ótico (fixo) e transmite luz polarizada vibrando na direção N-S. O ANALISADOR, posicionado no tubo acima da platina, consiste também num filtro ou nicol, que transmite luz vibrando na direção E-O, podendo ser facilmente introduzido ou retirado do sistema ótico. O polarizador e o analisador são chamados polarizadores. Quando ambos encontram-se no sistema ótico, diz-se que estão “cruzados” (nicóis cruzados) e se nenhum cristal anisótropo estiver entre eles (sobre a platina), nenhuma luz chega ao olho do observador, ficando escuro o campo do microscópio. A LENTE AMICCI-BERTRAND, situada no tubo do microscópio, é utilizada para observar as figuras de interferência dos minerais por neutralizar a ação da ocular, sendo introduzida no sistema ótico somente para este fim. Os comparadores ou lâminas comparadoras são acessórios importantes no sistema ótico do microscópio, podendo ser inseridos a 45º numa fenda existente no tubo na altura do analisador. Este acessório é utilizado para determinação de algumas propriedades óticas dos minerais: sinal de elongação e sinal ótico. A PLATINA é rotatória e graduada (0a 360º), para permitir a mudança de orientação dos cristais e a realização de medidas angulares. A focalização do mineral sobre a platina é feita através da movimentação vertical desta pelos parafusos macrométricos (para movimentos maiores) e micrométrico (para ajuste final do foco), localizados abaixo da platina no braço do microscópio. 16 Os compensadores são de diversos tipos: Glimmer 1/4 (mica), Gips rot I (gipso), Quartz (quartzo) e Quartzkeil (cunha de quartzo). São usados nas técnicas de "Nicóis Cruzados" (NC) e "Luz Convergente" (LC). A lente de alta convergência (condensador), que pode ser removida do caminho ótico em alguns modelos de microscópios, é usada em LC e às vezes nas observações da Linha de Becke. A platina é giratória e dividida em graus na sua periferia a fim de permitir a medição de ângulos diversos, como o ângulo de extinção e os ângulos de clivagem. Os dois nicóis, normalmente designados pelas letras maiúsculas P (polarizador) e A (analisador), constituem o polariscópio e circundam o objeto observado. Os nicóis estão com as vibrações perpendiculares entre si, vibrando o polarizador na direção N-S e o analisador na direção E-W. As vibrações são simbolizadas pelas direções dos fios do retículo. Técnicas de Trabalho: São 3 as técnicas de trabalho ao microscópio polarizador: LP = Luz Polarizada : luz paralela sem analisador NC = Nicóis Cruzados : luz paralela com nicóis cruzados LC = Luz Convergente : luz com lente convergente. Abaixo o quadro mostra qual das peças do microscópio é usada em cada uma das técnicas de trabalho: LP NC LC Ocular x x x Amicci-Bertrand x Analisador x x Compensador x x Objetiva média média máxima Platina com lâmina com lâmina com lâmina Condensador x Diafragma regular regular máximo Polarizador x x x Fonte de Luz acesa acesa acesa Assim, à Luz Polarizada, pode-se determinar: Forma Cor / Pleocroísmo Relevo / Linha de Becke Clivagem Fraturas Inclusões Alterações À Nicóis Cruzados, observa-se: Cor de Interferência Retardo Birrefringência Extinção Sinal de Elongação Maclas 17 À Luz Convergente determina-se: Figuras de Interferência Sinal Ótico Ângulo 2V Frequentemente, ao observar um mineral ao microscópio e girara platina, o mineral sai a "passear", inclusive fugindo do campo de visão. Neste caso, a objetiva está descentrada e tem-se que proceder à centragem da objetiva: 1. A dedo, coloca-se um ponto bem nítido da lâmina no cruzamento dos fios do retículo. Este ponto de referência deve ser, de preferência, um material opaco. 2. Gira-se a platina. Se o ponto permanecer centralizado, tudo OK; se o ponto fizer um movimento de translação circular, a objetiva estará descentrada. 3. Coloca-se o ponto no centro do campo outra vez e giramos a platina em 180º . 4. Através dos anéis ou parafusos de centralização da objetiva aproxima-se o ponto em direção ao centro, mas apenas a metade da distância que o separa do centro. Volta-se ao item primeiro e repete-se a operação para assegurar de que a centragem foi bem feita. Especialmente no uso da objetiva de maior aumento a centragem é essencial para obter figuras de interferência corretas e confiáveis. 18 7. DESCRIÇÃO DOS MINERAIS AO MICROSCÓPIO POLARIZADOR DE LUZ TRANSMITIDA 7.1. DESCRIÇÃO DOS MINERAIS COM A TÉCNICA DE LUZ NATURAL A técnica de Luz Natural é a mais iluminada das três técnicas de microscopia, pois ficam fora do sistema ótico do microscópio peças como o ANALISADOR, o CONDENSADOR e a LENTE DE AMICCI-BERTRAND. Em função disto, é conveniente trabalhar com o DIAFRAGMA parcialmente fechado, para permitir que haja um maior contraste dos minerais. Para minerais “fortemente coloridos” – diafragma mais aberto Para minerais “incolores” – diafragma mais fechado As principais propriedades dos minerais observados com a técnica de LUZ NATURAL são: - Hábito/Forma - Relevo/ Índice de refração relativo/ Linha de Becke - Cor/ Pleocroísmo - Clivagem - Fratura - Inclusões - Alterações l) HÁBITO/FORMA O hábito é a característica usual dos cristais. Os minerais podem ser aciculares, fibrosos, lamelares, etc, se não apresentam simetria externamente. Os minerais com simetria são prismáticos, cúbicos, etc, e nesse caso apresentam faces; quanto à presença das faces cristalinas os minerais podem ser classificados como: a) euédricos (ou idiomórficos): bem conformados, geométricos, limitados por faces. b) subédricas (ou hipidiomórficas): com grau de perfeição menor, mas ainda com algumas faces, o contorno restante é irregular. c) anédricas (ou alotriomórficas): não apresentam faces, o contorno é totalmente irregular . 2) RELEVO E MÉTODO DA LINHA DE BECKE O RELEVO consiste no contraste que o mineral adquire em relação ao meio envolvente. O maior ou menor contraste do mineral dependerá somente da diferença entre 19 os índices de refração do mineral e do meio, portanto, o RELEVO é uma propriedade relativa (depende dos minerais vizinhos). “Quanto maior for a diferença entre os dois índices de refração considerados ( n do mineral em estudo; n do grão vizinho), maior será o contraste, maior será o relevo e mais saliente se tornará o mineral observado em relação ao grão adjacente”. Esse efeito acontece porque a superfície de contato entre dois grãos, sendo uma interface entre meios de índices de refração diferentes, age de modo a refratar e a refletir totalmente a luz, concentrando-a e originando uma linha luminosa fina no local. Esta linha luminosa, chamada LINHA DE BECKE, desloca-se no contato entre os dois meios, quando movemos verticalmente a platina do microscópio, focalizando e desfocalizando o grão. O relevo é uma ilusão de ótica que faz com que os minerais mais refringentes parecem sobressair-se sobre os menos refringentes, quando se observa uma lâmina ao microscópio polarizador. Assim, um mineral pode ter relevo alto, médio ou baixo em relação a um mineral vizinho. Não são valores absolutos. São relativos na medida em que comparamos os minerais uns com os outros. Em outras palavras: quando o índice de refração do mineral é igual ou muito próximo ao índice de refração do meio que o envolve (os minerais vizinhos), o contorno deste mineral se torna visível ou praticamente invisível. Se o índice de refração do mineral se afasta muito do índice dos minerais ao seu redor, seu contorno se torna saliente e, quanto maior a diferença entre os dois índices, maior o contraste do mineral. A esse contraste, maior ou menor, dá-se o nome de relevo. Poderá surgir um relevo aparente, resultante de inclusões, produtos de alteração, de clivagens, de fraturas internas ou pela absorção da luz transmitida. A Linha de Becke é uma linha luminosa fina e contínua que surge no contorno do grão quando focalizamos com cuidado o contato deste grão com o meio circundante. Trabalha-se com a objetiva de médio aumento e o diafragma parcialmente fechado para tornar a luz incidente quase paralela e para restringir a luminosidade. A Linha de Becke serve para comparar o índice de refração de um mineral com o índice de refração do meio circundante, que pode ser outro mineral ou então Bálsamo do Canadá, Enterlan ou Araldite. O RELEVO é POSITIVO quando o mineral tem o MAIOR índice de refração. O RELEVO é NEGATIVO quando o mineral tem o MENOR índice de refração. Um mineral tem o RELEVO ALTO quando o seu contorno é uma linha grossa e saliente, parece sombreado e as linhas de fratura e clivagem são bem marcadas. O RELEVO de um mineral é MODERADO (ou MÉDIO) quando mostra um contorno bem visível e nítido, porém pouco saliente. Um mineral tem RELEVO BAIXO quando o contorno é pouco visível, bem como as fraturas e as linhas de clivagem. 20 Focando e desfocando o grão, esta linha vai deslocar-se para fora do grão ou para dentro dele, já que ela se origina na incidência maior dos raios luminosos em um dos lados do contato mineral/meio: Afastando-se a objetiva da lâmina por meio do parafuso micrométrico, ou abaixando a platina, a Linha de Becke move-se para o meio de MAIOR índice de refração: Afastando-se a platina, a linha vai para o mais refringente; Aproximando-se a platina, a linha vai para o menos refringente. Desta forma, se sabe quem possui o maior índice de refração, se o mineral em estudo ou o mineral vizinho. Quando a LINHA se move para dentro do mineral, este parece diminuir de volume, entretanto, no caso em que a LINHA se move para fora do mineral, este parece aumentar de volume e expandir-se. 3) COR E PLEOCROÍSMO A COR e o PLEOCROÍSMO (variação de cor) são propriedades observadas a LN. * se a cor do mineral não muda ao giro da platina, definimos a cor; * se a cor do mineral muda ao giro da platina, tem-se um mineral pleocróico. O Pleocroísmo é a variação da cor de absorção que apresentam os minerais COLORIDOS e ANISÓTROPOS, quando se gira a platina do microscópio, mudando a orientação das secções minerais. Pleocroísmo também é o fenômeno da mudança da cor do mineral ao giro de 360 graus da platina. A cor natural ou cor de absorção é a consequência da absorção seletiva das diversas radiações da luz branca pelos minerais. Um mineral que absorve toda luz, impedindo que esta seja transmitida através dele, mostra cor preta, sendo chamado de mineral opaco. Um mineral INCOLOR não apresenta cor, pois transmitetodas as radiações da luz branca, enquanto um mineral COLORIDO absorve parte da luz e exibe uma cor que resulta da combinação dos comprimentos de onda que são transmitidos através dele. Ex: mineral de cor VERDE: transmite a radiação verde e absorve as demais. O pleocroísmo ocorre em minerais anisótropos, pois absorvem diferentemente a luz, conforme a sua direção de vibração. Na direção de vibração da luz em que ocorre maior absorção, a cor do mineral é mais escura, enquanto naquela em que a absorção é menor, a cor resultante é mais clara. 21 Assim, os minerais ISÓTROPOS, se forem coloridos, não apresentarão pleocroísmo, mostrando uma só cor de absorção; sendo chamadas de MONOCRÓICOS. Os minerais monocróicos apresentam só uma cor porque absorvem igualmente a luz em todas as direções. Ex: minerais do sistema cúbico e substâncias amorfas. Minerais ACRÓICOS são incolores ao microscópio polarizador. Os minerais ANISÓTROPOS UNIAXIAIS, se forem coloridos e pleocróicos, apresentarão 2 direções de absorção, e cores extremas de pleocroísmo, sendo chamados de DICRÓICOS. São os minerais dimétricos, dos sistemas tetragonal, hexagonal e trigonal. Suas seções basais serão monocróicas porque são seções de isotropia (veja indicatriz ótica dos uniaxiais!). A cor de absorção nelas presente corresponderá à cor do Ro (raio ordinário). - cor do raio ordinário no ou ω - cor do raio extraordinário ne ou ϵ A fórmula de pleocroísmo de um mineral é expressa pelas suas cores nas diferentes direções de absorção e pela relação entre intensidades de absorção segundo cada uma delas. Ex: Turmalina azul (trigonal) – fórmula de pleocroísmo: o > e ou ω > ϵ ϵ - azul claro – absorção fraca ω – azul escuro – absorção forte Os minerais ANISÓTROPOS BIAXIAIS, se forem coloridos e pleocróicos, poderão exibir até 3 cores de pleocroísmo, correspondentes às direções principais de vibração, sendo chamados de TRICRÓICOS. Absorvem a luz seletivamente segundo 3 direções. Pertencem aos sistemas ortorrômbico, monoclínico e triclínico. Numa determinada seção mineral só observa-se duas cores, e terceira deverá ser procurada em outra seção do mineral. - cor de X/ Np / α - cor de Y/ Nm/ β - cor de Z/ Ng/ ϒ Ex: hornblenda (monoclínica) - fórmula de pleocroísmo: Z > Y > X ou ϒ > β > α - α – verde pálido; verde amarelado; - menor absorção - β – verde; verde oliva; - absorção intermediária - ϒ – verde escuro; verde escuro; - maior absorção Tanto para os minerais ANISÓTROPOS UNIAXIAIS, como para os ANISÓTROPOS BIAXIAIS, as secções minerais paralelas às secções de isotropia serão sempre MONOCRÓICAS, como são os minerais isótropos, sendo a cor presente aquela do raio ordinário ( O ou ω), no caso dos uniaxiais e a cor de β ou Y ou Nm, no caso dos biaxiais. A cor depende da absorção, pelo mineral, de radiações que compõe a luz branca. Um mineral que não absorve nenhuma radiação visível é um mineral incolor. Um mineral que absorve todas as radiações, com exceção daquelas que dão a sensação do verde, se apresenta de cor verde. Assim, a absorção seletiva de algumas radiações do espectro de luz visível faz com que se tenha minerais coloridos. 22 Entre os minerais transparentes que mostram, em amostra de mão, uma coloração acentuada alguns, em lâmina delgada com 0,03 mm de espessura, são praticamente incolores. Outros conservam a sua cor parcial ou totalmente. Estes últimos serão chamados de minerais coloridos. Se um mineral possui duas direções de absorção de radiações e sobre ele incide, no microscópio polarizador, luz vibrando em um plano só (só em uma direção), haverá duas cores, cada uma delas correspondendo às radiações absorvidas segundo as duas direções de absorção de radiações do mineral. Quando o mineral está em posições intermediárias, apresentará cores intermediárias. 4) CLIVAGEM A CLIVAGEM aparece como linhas finas, retas, e paralelas, contínuas ou descontínuas, paralelas entre si, mantendo um espaçamento regular entre si. Clivagem é a propriedade que os minerais possuem de se destacarem segundo determinados planos, sempre os mesmos para minerais de mesma espécie. Os cristais podem apresentar clivagem em uma direção, duas, três direções, mas ao microscópio uma seção mineral apresentará no máximo duas direções. Neste caso, deve-se determinar o ângulo que estas duas direções fazem entre si. Quanto à qualidade, a clivagem pode ser classificada como: - perfeita ou muito boa - boa, bem visível - distinta ou regular - imperfeita, são pouco visíveis ao microscópio - ausente “Um mineral que apresenta 1 direção de clivagem, quando seccionado paralelamente a esta direção, não mostra linhas de clivagem; porém, quando o corte for inclinado em relação à clivagem, esta aparece como linhas finas.” Ex: clivagem pinacoidal da biotita, a qual nas secções paralelas ao pinacóide basal, não mostra clivagem, enquanto nas outras secções exibe 1 direção. “Quando o mineral possui mais de 1 direção de clivagem, depende do corte a visualização de 2 ou de apenas 1 direção”. Ex: clivagens prismáticas do anfibólio e do piroxênio, os quais mostram 2 direções nas secções basais (paralelas ao pinacóide basal) e 1 direção naquelas perpendiculares ou bem inclinadas em relação à direção do mesmo pinacóide. 23 MEDIDA DO ÂNGULO ENTRE 2 DIREÇÕES DE CLIVAGEM: Orienta-se uma das direções paralelamente ao retículo N-S (na vertical) e registra-se a posição em graus na platina graduada. Gira-se a platina até que a outra direção coincida com a direção N-S e igualmente registra-se a posição em graus. A diferença em graus entre as duas posições é o ângulo entre as duas direções de clivagem. 5) INCLUSÕES Inclusões são minerais, concentrações de líquidos ou de gases que ocorrem inclusos ou englobados pelo mineral hospedeiro. As inclusões de minerais apresentam propriedades óticas próprias, que independem daquelas do mineral hospedeiro. Normalmente possuem contornos bem definidos, arredondados e são melhor observados com a objetiva de máximo aumento. É importante descrever: - forma, cor e quantidade das inclusões, - seu tamanho relativamente ao mineral hospedeiro - sua disposição dentro do mineral hospedeiro. Essas informações são úteis para identificar a inclusão e para desenvolver hipóteses sobre a gênese da rocha. Inclusões euédricas são comuns, pois a sua cristalização é anterior à do mineral hospedeiro. 6) ALTERAÇÕES Ocorrem quando porções do mineral perdem as suas propriedades, transformando-se em outro mineral, sendo os limites muitas vezes pouco definidos, gradacionais e difíceis de visualizar. Os minerais se alteram principalmente ao longo de fraturas, planos de clivagem e bordas dos grãos, por onde a percolação de soluções é facilitada. Quando a alteração é total, nada mais resta do mineral original, podendo ser preservada apenas a sua forma nos casos de pseudomorfismo. Os minerais de alteração tem propriedades óticas próprias, o que permite o seu reconhecimento, sendo os mais comuns os argilominerais (argilas), as serpentinas, a calcita e as argilas expansivas. As alterações podem ser intempéricas, hidrotermais ou diagenéticas.Exemplos: -argilização (feldspatos,piroxênios, etc.); -sericitização (plagioclásio); -cloritização (biotita); -serpentinização (olivinas). A importância das alterações reside no fato de que os próprios minerais formados podem constituir jazidas ou a eles podem estar associados elementos de interesse econômico (ex: metais), os quais teriam sido remobilizados e concentrados durante esses eventos. Exemplos: bauxita, caulinita, serpentina fibrosa (crisotilo), bentonita. 7) FRATURAS Fraturas constituem traços irregulares que atravessam os minerais, os quais independem de direção e normalmente não são planos, podendo mudar de direção ao longo da superfície em que ocorrem. Aparecem em maior quantidade nos minerais mais frágeis e são raros em minerais flexíveis e elásticos como são as micas e o talco, os quais respondem às tensões deformando-se. 24 As fraturas não devem ser confundidas com clivagem e vice-versa. Deve-se descrever a dimensão das fraturas relativamente ao grão em que ocorrem, sua quantidade e sua disposição geral dentro do mineral. 8. DESCRIÇÃO DOS MINERAIS AO MICROSCÓPIO POLARIZADOR DE LUZ TRANSMITIDA 8.1. DESCRIÇÃO DOS MINERAIS COM A TÉCNICA DE NICÓIS CRUZADOS (NX) Quando o analisador é colocado no sistema ótico do microscópio, cujo plano de polarização é perpendicular ao do polarizador, diz-se que os nicóis estão cruzados. Se não houver mineral sobre a platina, nenhuma luz alcança o olho do observador, porque a luz passa pela platina vibrando no plano de absorção do analisador (N=S, plano de vibração do polarizador), sendo portanto totalmente absorvida. Na técnica de “nicóis cruzados” também chamada de “luz polarizada”, a luz passa, então, pelo polarizador, pelo mineral e pelo analisador até chegar ao olho do observador. Peças como o condensador e a Lente Amicci-Bertrand estão fora do sistema ótico do microscópio. Propriedades observadas: EXTINÇÃO – TIPO E ÂNGULO DE EXTINAÇÃO. COR DE INTERFERÊNCIA – RETARDO – BIRREFRINGÊNCIA – SINAL DE ELONGAÇÃO – MACLAS 8.2 COMPORTAMENTO DOS MINERAIS ISÓTROPOS A luz, ao passar pelo mineral isótropo, vibrando segundo N – S, não sofre dupla refração e o atravessa inalterada (exceto por uma redução de velocidade durante a passagem). Ao passar pelo analisador, é totalmente absorvida, portanto, o mineral fica escuro e permanece escuro com o giro da platina, não importando a direção em que tenha sido seccionado. “O escurecimento do mineral é chamado de EXTINÇÃO”. MINERAL ISÓTROPO – permanentemente extinto em qualquer secção. 8.3 COMPORTAMENTO DOS MINERAIS ANISÓTROPOS Em geral, um mineral anisótropo observado a nicóis cruzados, permite que a luz seja transmitida através do analisador e se apresenta iluminado. Isto é possível, porque a luz polarizada, ao incidir sobre o mineral sofre dupla refração, sendo desdobrada em dois raios que vibram em planos mutuamente perpendiculares, com diferentes velocidades e diferentes índices de refração. As duas direções de vibração perpendiculares dos dois raios resultantes (vetores óticos) geralmente não coincidem com a direção de vibração N – S que vem do polarizador e, chegando ao analisador são parcialmente transmitidas, ficando o mineral iluminado. Extinção é o fenômeno de escurecimento do mineral que ocorre quando seus vetores óticos coincidem em direção com os vetores óticos do polarizador e do analisador. 25 8.4. TIPOS DE EXTINÇÃO “Quando um dos vetores óticos da secção mineral coincidir com a direção N – S de vibração do polarizador (o outro vetor ótico, portanto, coincidirá com a direção E – O), o mineral anisótropo ficará escuro, ou melhor extinto. Ao girar a platina, a secção do mineral mudará paulatinamente de orientação e a EXTINÇÃO acontecerá de 90º em 90º, portanto, 4 vezes durante uma volta completa (360º)”. “Se a secção do mineral for paralela à secção de isotropia, estará permanentemente extinta, pois não ocorre dupla refração, como nos minerais isótropos”. MINERAL ANISÓTROPO – Permanentemente extinto nas secções de isotropia; Extinto a cada 90º nas demais secções. De maneira geral podem ocorrer dois casos quando coloca-se uma substância transparente entre nicóis cruzados: a) extinção completa num giro de 360º. Neste caso o mineral é monorrefringente (amorfo ou isométrico) ou um mineral birrefringente cortado perpendicularmente ao eixo ótico (vendo-se a seção de isotropia). b) 4 extinções no giro de 360º alternando-se 4 posições de luminosidade com 4 posições de extinção. Existem três tipos de EXTINÇÃO referidos às direções cristalográficas, como planos de maclas,traços de clivagem ou às faces do mineral (lados da secção), se o mineral for euédrico, ou pelo menos, subédrico: 8.4.1. EXTINÇÃO RETA OU PARALELA Quando um dos vetores óticos do mineral coincide em direção com a clivagem ou com os lados da secção, estando o outro vetor ótico a 90º. “Se a clivagem estiver orientada, o mineral estará extinto” 8.4.2. EXTINÇÃO OBLÍQUA Quando nenhum dos vetores óticos do mineral coincide em direção com a clivagem ou com os lados da secção, existindo um ângulo de extinção; o mineral escurece em ângulo diferente de 0º ou 90º . “Se a clivagem estiver orientada, o mineral estará iluminado”. Ex: clinopiroxênio (secção prismática) e plagioclásio. 26 ÂNGULO DE EXTINÇÃO: O ângulo entre a direção de clivagem (ou os lados da secção) e a direção de um dos vetores óticos, representada pela posição de extinção. Orienta-se uma direção cristalográfica, que pode ser os traços da clivagem, plano de geminação ou a face cristalina (lados da secção), fazendo-a coincidir com o retículo N-S e registra-se a posição em graus na platina. Gira-se a platina até que o mineral fique extinto, registrando-se a nova posição. A diferença entre as duas posições em graus é o ÂNGULO DE EXTINÇÃO. 8.4.3. EXTINÇÃO SIMÉTRICA Extinção oblíqua em relação a duas direções de clivagem, porém, com a mesma angularidade para as duas, ou seja, os vetores óticos fazem o mesmo ângulo com as duas direções de clivagem. “Na posição de EXTINÇÃO, as direções de clivagem mostram a mesma angularidade com as dirções N-S e E-O”. O mineral é orientado pela diagonal da figura (forma) ou pela diagonal do ângulo formado pelas duas direções de clivagem. Ex: clinopiroxênio e anfibólio nas secções basais. c) Extinção simétrica: em minerais de forma ou clivagem rômbica 8.4.4. TIPOS DE EXTINÇÃO importantes em alguns minerais: EXTINÇÃO ONDULANTE OU EM MOSAICO Ocorre quando a extinção não é homogênea e o mineral extingue por setores em posições diferentes. Isto acontece devido a deformações que o mineral sofre em resposta a pressões dirigidas, que se refletem na desorientação de setores do mineral em relação aos demais. “Quando se extingue um determinado setor do mineral , os outros ainda não estarão extintos”. Considera-se o cristal como um único indivíduo, desde que a diferença entre os ângulos de extinção dos diferentes setores não ultrapasse 5º. Ex: quartzo em rochas metamórficas. 27 EXTINÇÃO MOSQUEADA O mineral, quando extinto, apresenta pontos luminosos distribuídos uniformemente por todo o grão, ou seja, a extinção não é total. Ex: micas, biotita e muscovita. 8.4.5. EXTINÇÃO NOS SISTEMAS CRISTALINOS a) Sistema Cúbico: como são minerais isótropos haverá extinção em todo o giro da platina. b) Sistemas dimétricos(tetragonal, hexagonal e trigonal): as seções basais funcionam como os minerais do sistema cúbico (sempre extintas), as outras apresentam extinção paralela ou reta. c) Sistema ortorrômbico: extinção paralela ou reta em todas as secções. Se a clivagem for prismática, a extinção será simétrica na secção (001) e reta nas demais secções. d) Sistema monoclínico: extinção em geral, oblíqua. - para clivagem pinacoidal haverá extinção paralela na zona de paralelismo e extinção oblíqua nas demais, sendo que o máximo de obliquidade se dá em 010. - para clivagem prismática haverá extinção oblíqua, menos na base (001), onde será simétrica. e) Sistema triclínico: extinção oblíqua em todas as direções. 8.5. COR DE INTERFERÊNCIA – RETARDO - BIRREFRINGÊNCIA POSIÇÃO DE MÁXIMA ILUMINAÇÃO – à 45º da posição de EXTINÇÃO, os vetores óticos do mineral estão a 45º das direções de vibração do analisador e do polarizador (N-S e E-O). Na prática, estando o mineral nessa posição de extinção, gira-se a platina de 45º para levá-lo à posição de máxima iluminação. Em outras posições, entre os casos extremos de extinção ou de máxima luminosidade, observa-se uma iluminação intermediária do mineral no microscópio. 28 A COR DE INTERFERÊNCIA é a cor do mineral observada, à nicóis cruzados, na posição de máxima iluminação. A luz branca proveniente do iluminador, ao atravessar o polarizador, passa a vibrar segundo a direção de vibração do mesmo - N-S. Ao incidir sobre o mineral anisótropo uniaxial ou biaxial, é desdobrada em dois raios, Vx e Vz, que vibram em planos perpendiculares entre si e que possuem índices de refração e velocidades diferentes (dupla refração). Ao atravessarem o mineral de espessura e, estes raios mostram uma diferença de caminhamento, ou seja, um deles apresentará um RETARDO no tempo em relação ao outro, retardo esse que é expresso pela fórmula: Δ = e (nx – nz) ou Δ = e (ng – np) Onde e é a espessura do mineral (distância percorrida) e (nx – nz) a sua BIRREFRINGÊNCIA . A BIRREFRINGÊNCIA é, então, a diferença numérica entre os índices de refração dos dois raios resultantes da dupla refração. Para os minerais uniaxiais, a birrefringência será: ne – no para U(+) e no – ne para U(-) enquanto que nos biaxiais corresponderá a: (ng - np). O RETARDO é a diferença de caminhamento entre os dois raios provenientes da dupla refração, resultante das suas diferenças de velocidade e índices de refração. Esses raios Vx e Vz podem ser entendidos como resultantes da decomposição vetorial do raio proveniente do polarizador. Ao passar pelo analisador, se decompõem em V’x e V’z segundo o plano de vibração do analisador, sendo esses vetores transmitidos. Os vetores resultantes da decomposição vetorial na direção de vibração do polarizador, ou seja, na direção N-S, são absorvidos. V’x e V’z apresentam, então, um retardo, vibram no mesmo tempo e se interferem, sendo a COR DE INTERFERÊNCIA a expressão desta interferência. Para cada cor de interferência corresponde, então, um determinado retardo e a sequência de cores de interferência, produzidas pelos valores crescentes de retardo, constitui a carta de cores de interferência de Newton, onde tem-se além das cores e dos valores de retardo, valores de espessura da lâmina e birrefringência. Exemplo da dupla refração e cor de interferência nos minerais Uniaxiais: O raio ordinário é absorvido e passa apenas o raio extraordinário. Este, o raio extraordinário, ao entrar na secção mineral, sofre outra vez o fenômeno da dupla refração. Os ordinários serão absorvidos e os dois extraordinários passam. Estes 2 extraordinários estão com diferença de fase originando uma cor de interferência. Esta cor é a cor complementar daquela que teria sido originada pelos raios extraordinários. A cor de interferência será tanto mais alta quanto maior for a diferença entre os índices dos dois raios extraordinários. Esta diferença depende também da espessura da seção mineral. Portanto, quanto mais espesso o mineral, mais alta a sua cor de interferência. Se a espessura é constante, quanto mais alta a diferença dos índices, maior a cor na tabela. 29 A Tabela de Michel-Levy mostra as cores de interferência e as diferenças de percurso em mμ necessárias para produzí-las, a espessura em centésimos de milímetros e a birrefringência. A esquerda , na tabela, tem-se a espessura da lâmina mineral. Abaixo está o retardo e acima e à direita, a birrefringência. A classificação das cores se faz pelo retardo: - de primeira ordem : retardo de 0 a 560 mμ - de segunda ordem : retardo de 560 a 1120 mμ - de terceira ordem : retardo de 1120 a 1680 mμ - de quarta ordem : retardo acima de 1680 mμ A repetição das cores de interferência na tabela deve-se ao fato de que a interferência é destrutiva quando o retardo produzido pelo mineral for um múltiplo inteiro de comprimento de onda. Exemplo de uso da tabela: - cor do mineral: amarelo claro - retardo neste caso (em baixo) será de 300 mμ - se a lâmina tem 0,03 mm de espessura, tomamos a interseção da linha 0,03mm com a linha 300 mu e seguimos a diagonal mais próxima desta interseção até o topo da tabela, até encontrar a birrefringência 0,010. Se a cor de interferência é a manifestação do retardo, então, esta cor depende também da espessura atravessada e da BIRREFRINGÊNCIA do mineral. Considerando-se a espessura praticamente constante (a lâmina delgada tem espessura de 30 μ), o retardo e a cor de interferência do mineral variam conforme a sua birrefringência, a qual, por sua vez, varia de acordo com a orientação da secção mineral observada. O mineral possui, então, um valor máximo de birrefringência, o qual é relacionado nos livros, apresentando a maioria das secções valores intermediários entre a birrefringência zero (cor de interferência preta) e o valor máximo para o mineral. A birrefringência máxima depende, então, da natureza do mineral, sendo verificada somente em determinadas secções. Nas secções paralelas à secção de isotropía, seja o mineral uniaxial ou biaxial, a birrefringência é nula, pois não ocorre dupla refração, existindo somente um valor de índice de refração. Para os minerais uniaxiais, as secções paralelas ao eixo ótico apresentam birrefringência máxima, isto é, a máxima diferença entre ne e no, a qual correspnde a cor de interferência de maior ordem na carta de Newton. Para as secções perpendiculares ao eixo ótico, ou seja, paralelals à secção de isotropía, esses minerais mostram um único índice de refração, no e a birrefringência é nula, sendo a cor de interferência preta (=extinção). Nas demais secções, a birrefringência possui um valor intermediário, isto é, maior que zero e menor que o valor máximo. Para os minerais biaxiais, a birrefringência é máxima para as secções paralelas ao plano ótico, ou seja, paralelas aos eixos óticos, que estão contidos no plano ótico. Para as secções perpendiculares a qualquer um dos eixos óticos, isto é, paralelas à secções de isotropía, a birrefringência é zero, o mineral fica extinto e o índice de refração é nm. Nas demais secções, o valor de birrefringência é maior que zero e menor que o valor máximo, sendo as cores de interferência intermediárias entre o preto e a cor de maior ordemna tabela, correspondente à birrefringência máxima. 30 Voltando à fórmula do retardo (Δ = e . birrefringência) e considerando a mesma secção mineral (birrefringência constante), se houver variação de espessura, haverá mudança de retardo. “Quanto maior for a espessura da secção mineral, maior será o retardo e mais alta será a cor de interferência. 8.6. SINAL DE ELONGAÇÃO – DETERMINAÇÃO DA POSIÇÃO DOS VETORES ÓTICOS DE UMA SECÇÃO MINERAL “O SINAL DE ELONGAÇÃO consiste na determinação da posição dos vetores óticos de uma secção mineral em relação ao seu alongamento (=faces ou lados da secção) ou a uma direção de clivagem” O sinal de elongação é uma relação entre o hábito do mineral e as posições dos raios lento e rápido (n´g e n´p) neste mineral. O sinal de elongação é útil para a identificação dos minerais e sua determinação se resume na determinação das posições dos raios lento e rápido do mineral em relação ao comprimento ou à clivagem do mineral. Mas o sinal de elongação nem sempre é constante para uma dada espécie mineral, porque o hábito do mesmo pode variar. Além disso, o alongamento pode depender da direção do corte do mineral. Essa operação é realizada mediante o uso de comparadores ou placas comparadoras, que são placas de quartzo, gipsita ou mica, com os valores de retardo e o posicionamento dos vetores óticos conhecidos. Os comparadores são construídos de tal forma que o seu vetor ótico de maior índice de refração, chamado de raio lento, seja perpendicular à maior direção da placa, estando o raio rápido, vetor ótico de menor índice de refração, paralelo ao maior comprimento da placa. No caso do quartzo, a placa é montada com um cristal de quartzo, cuja espessura produz na luz branca uma cor de interferência uniforme: vermelho de 1ª ordem, a qual corresponde um retardo de 560 mμ. Comparador de quartzo ou gipsita: Δ = 560 mμ Comparador de mica: Δ = 100mμ UNIAXIAIS: raio lento = ne para os U+ ou = no, para os U- BIAXIAIS: raio lento – ng; raio rápido = np O método para determinar o SINAL DE ELONGAÇÃO consiste primeiramente em colocar a secção mineral na posição de máxima iluminação a nordeste (com a direção de clivagem ou do alongamento disposta nos quadrantes 1 e 3), psicionando desta forma os seus vetores óticos a 45º das direções de vibração do polarizador e do analisador: 1) Se a extinção do mineral for reta ou se a extinção for oblíqua com ângulo de extinção menor que 45º, basta girar a a platina 45º no sentido horário e o mineral estará na posição desejada. Se a extinção for oblíqua, com ângulo de extinção maior que 45º, será necessário girar a platina 45º no sentido anti-horário para que a clivagem ou o alongamento fiquem inclinados para nordeste (nos quadrante 1 e 3). 2) Insere-se o comparador na fenda a 45º do analisador, ficando os seus vetores óticos, nesta posição, também a 45º da direção do analisador. “Os vetores óticos do mineral e aqueles 31 do comparador estrão, então sobrepostos nesta situação, podendo haver adição ou subtração dos seus retardos”. 3) Se o raio lento do acessório, cuja posição é conhecida (perpendicular ao comprimento da placa), estiver sobreposto ao raio lento do mineral, haverá ADIÇÃO do retardo do mineral com o retardo da placa. Se o raio lento do comparador estiver sobreposto ao raio rápido do mineral, haverá SUBTRAÇÃO destes retardos. Desta maneira, pode-se determinar as posições dos raios lento e rápido do mineral e, ainda, determinar qual dos dois vetores óticos se encontra na posição nordeste, ou seja, coincidente em direção ou angularmente mais próximo da clivagem ou do alongamento do mineral (=faces da secção). 4) Se o raio rápido for paralelo ou angularmente mais próximo da direção de clivagem ou do alongamento do mineral, havendo ADIÇÃO de retardo com o comparador, o mineral terá sinal de elongação positivo: SE+ ou “length-slow”. 5) Se o raio rápido for paralelo ou angularmente mais próximo da direção de clivagem ou do alongamento do mineral, havendo SUBTRAÇÃO de retardo com o comparador, o mineral terá sinal de elongação negativo: SE- ou “lenght-fast”. 6) Contraprova: ao girarmos a platina 90º no sentido anti-horário, os vetores óticos ficarão em posição oposta àquela da posição nordeste, coincidindo o outro vetor ótico com o raio lento do comparador. Desta forma, o resultado obtido (ADIÇÃO ou SUBTRAÇÃO dos retardos) será oposto àquele da posição nordeste. O sinal de elongação será positivo quando n g (raio lento) for coincidente ou angularmente mais próximo da clivagem ou do alongamento. O sinal de elongação será negativo quando n p (raio rápido) for coincidente ou angularmente mais próximo da clivagem ou do alongamento. 32 8.7. MACLAS AS MACLAS ou GEMINAÇÕES são fácilmente reconhecidas à nicóis cruzados, pois quando ocorrem, estão presentes num mesmo grão mineral 2 ou mais individuos que mostram orientações diferentes. Como os seus vetores óticos têm orientações diferentes, esses indivíduos apresentam diferentes cores de interferência e diferentes posições de extinção, o que torna simples o reconhecimento das maclas. “Enquanto alguns indivíduos estiverem iluminados, outros estarão extintos”. Quando estiverem iluminados, mostrarão cores de interferência distintas, pois a birrefringência varia conforme a orientação da secção mineral. As maclas podem ser simples (2 indivíduos) ou múltiplas (3 ou mais individuos), podendo essas últimas serem polissintéticas ou cíclicas. Nos piroxênios, anfibólios e feldspatos potássicos (ortoclásio), são comuns as maclas simples. A macla polissintética da albita é quase universal nos cristais de plagioclásio, cujos indivíduos lemelares mostram duas orientações diferentes alternadas, ou seja, existem dois conjuntos de lamelas, cada um com uma orientação, alternando-se indivíduos de um e de outro conjunto. Alguns minerais apresentam maclas complexas, que são muitas vezes reconhecidas pelo aspecto ou forma característicos, como o microclínio, que pode ser fácilmente identificado pela presença da macla “tartan” ou macla “em rede”, a qual lhe confere um aspecto “xadrez” ou “de rede”. 33 9. DESCRIÇÃO DOS MINERAIS AO MICROSCÓPIO POLARIZADOR DE LUZ TRANSMITIDA 9.1. DESCRIÇÃO DOS MINERAIS COM A TÉCNICA DE LUZ CONVERGENTE (LC) Essa técnica se baseia nos efeitos gerados pela presença do condensador no sistema ótico do microscópio, também chamado de “lente de alta convergência”, o qual concentra a luz e faz com que os raios que penetram no mineral formem um feixe divergente. Técnica LC: usa o condensador, a Lente de Amicci-Bertrand e a objetiva de grande aumento (40 X) 9.2 COMPORTAMENTO DOS MINERAIS COM LUZ CONVERGENTE – FORMAÇÃO DE FIGURAS DE INTERFERÊNCIA Para minerais de espessura constante (lâmina delgada = 30 mμ), os raios que os atravessam, provenientes do condensador, percorrem distâncias diferentes por ter inclinações progressivamente maiores, dado o feixe ser divergente. Como estes raios atravessam distâncias diferentes e, lembrando que a distância percorrida interfere diretamente no retardo, estes apresentam também aumento progressivo dos valores de retardo do centro do campo microscópico em direção à sua borda. Este efeito e outros decorrentes resultam na formação das FIGURAS DE INTERFERÊNCIA, figurasestas que não possuem nenhuma relação com a aparência do mineral à LN e à LP. “As FIGURAS DE INTERFERÊNCIA dependem da orientação do corte que gerou a secção mineral, em relação ao seu elipsóide ótico e do caráter UNIAXIAL ou BIAXIAL do mineral.” Os minerais ISÓTROPOS não mostram figuras de interferência, ficando permanentemente extintos. Os minerais ANISÓTROPOS formam figuras de interferência à LC, dependendo da orientação dos grãos observados, as quais podem indicar: - caráter UNIAXIAL OU BIAXIAL dos minerais - sinal ótico: U+, U-, B+, B- - orientação da secção mineral; - birrefringência dos minerais; - valor aproximado do ângulo ótico: 2V dos minerais biaxiais Com o condensador, os raios sofrem uma convergência antes de atingir a seção mineral sem, no entanto, mudar o plano de polarização que adquiriram no polarizador, continuando a vibrar em planos paralelos entre si. Como os raios, após convergir na base da seção mineral, divergem a partir da base da mesma, e os raios que atravessam o mineral tem que vencer distâncias diferentes. 9.3. FIGURAS DE INTERFERÊNCIA – MINERAIS UNIAXIAIS Os cristais uniaxiais apresentam 3 tipos de figuras: 34 - secção perpendicular ao eixo ótico - secção paralela ao eixo ótico - secção oblíqua ao eixo ótico a) Figura de eixo ótico centrado (secção perpendicular ao eixo ótico). DESCRIÇÃO: uma cruz preta que não se move com o giro da platina. O centro da cruz é o ponto de emergência do Eixo Ótico (EO) e os braços da cruz são chamadas de ISÓGIRAS. As ISOCROMÁTICAS, quando ocorrem, circundam o EO, o qual coincide com o centro da cruz. Formando-se da seguinte maneira: cada um dos raios que atravessa a secção mineral sofre o fenômeno da dupla refração. Resultam, portanto, duas vibrações (Re e Ro) com índices de refração diferentes e velocidades de propagação diferentes: - o Re vibra num plano que contém o eixo ótico (eixo cristalográfico C) e o raio emergente é, portanto, radial. - o Ro vibra perpendicularmente ao Re, portanto, perpendicular ao plano que contém o eixo ótico e a direção de propagação do raio, sendo então tangencial. ISÓGIRAS E ISOCROMÁTICAS: As ISÓGIRAS, sendo paralelas aos retículos NS e LO, possuem cor preta, pois resultam da extinção dos raios que emergem ao longo dessas duas direções e que, portanto, possuem seus vetores óticos no e ne paralelos a NS e LO. As ISOCROMÁTICAS são anéis concêntricos ao ponto de emergência do EO, que aparecem à LC e mostram cores de interferência progressivamente mais altas em direção à borda do campo das figuras, sendo formadas por pontos de igual retardo (mesma cor de interferência), ou seja, onde emergem raios que percorrem iguais distâncias. “Quanto maior for a birrenfringência do mineral, maior será o número de isocromáticas”. - minerais de birefringência ALTA – muitas isocromáticas, ex: calcita. - minerais de birrefringência BAIXA – nenhuma ou poucas isocromáticas, Ex: quartzo. O número de isocromáticas que aparecem nas figuras de interferência não depende somente da birrefringência do mineral, mas também da espessura deste. Um mineral de baixa birefringência, como o quartzo, se for preparado numa espessura muito grande para observação à LC, mostrará muitas isocromáticas. “Quanto maior for a espessura do mineral, maior será o número de isocromáticas.” DETERMINAÇÃO DO SINAL ÓTICO: O raio extraordinário (ne) vibra radialmente ao campo das figuras de interferência, enquanto o raio ordinário (no) vibra tangencialmente ao mesmo campo. Os minerais U+ possuem ne > no Os minerais U- possuem no > ne Com inserção do COMPARADOR: o raio lento do comparador se sobrepõe a ne do mineral, que é radial ao campo; portanto, se o mineral for U+, sendo ne o maior índice (=raio lento), os retardos se somarão nos quadrantes 1 e 3, aparecendo nestes a cor AZUL. Se o mineral for U-, o ne será o menor índice (=raio rápido) e ocorrerá subtração dos retardos, ficando os quadrantes 1 e 3 com a cor AMARELA. 35 Sinal ótico POSITIVO U+: ocorre SOMA DOS RETARDOS nos quadrantes 1 e 3 e SUBTRAÇÃO DE RETARDOS em 2 e 4. Com comparador quartzo (ou gipsita) – retardo 560 mμ: AZUL – 1 e 3 AMARELO – 2e 4 Sinal ótico NEGATIVO U-: SUBTRAÇÃO DE RETARDOS nos quadrantes 1 e 3 e SOMA DE RETARDOS EM 2 e 4. Com comparador de quartzo (ou gipsita) – retardo 560 mμ: AMARELO – 1 e 3 AZUL – 2 e 4 “Este comportamento é VÁLIDO para todas as figuras de interferência, seja de minerais uniaxiais ou biaxiais, basta apenas que se identifique a posição dos quadrantes”. Nos minerais positivos os vetores radiais são maiores que os tangenciais e nos minerais negativos os radiais são menores que os tangenciais. Analisando a figura abaixo, temos a seguinte situação: No ponto 1, um dos planos de polarização é paralelo ao plano do polarizador. Neste caso, o desdobramento do raio luminoso não é possível, o raio segue sob a forma de Ro e, ao chegar ao analisador, é totalmente refletido. No ponto 3 a situação é igual, só que aqui chega ao analisador o Re, que será refletido também. Nos pontos 2 e 4 haverá uma vibração radial (Re) e outra perpendicular (Ro). Ao chegar ao analisar, todas as vibrações deverão se decompor novamente segundo os planos de polarização do nicol, ocorrendo então passagem de luz com nicóis cruzados. A intensidade da luminosidade será mais intensa quanto mais perto o raio estará em relação às bissetrizes dos ângulos formados pelos eixos do retículo. Como resultado final, todos os raios que emergem sobre os retículos N-S e E-O estão extintos, formando áreas escuras - as isógiras. As duas isógiras, juntas, formam uma cruz negra. A interseção das duas isógiras às vezes é chamada de melatopo. Se o EO do cristal uniaxial é exatamente perpendicular à platina, não haverá qualquer movimento desta cruz ao giro de 360º da platina. As isocromáticas são bandas ou áreas coloridas que estão distribuídas geometricamente em relação às isógiras. 36 OBS: Como foi dito anteriormente, os raios de luz divergem a partir da base da seção mineral. Portanto, a partir do ponto de emergência do eixo ótico, no centro da figura, com o aumento da inclinação, atravessarão uma espessura cada vez maior da seção mineral. O progressivo aumento de espessura mineral ao atravessar acarreta também um aumento da birrefringência e, portanto, uma variação das cores de interferência, porque o retardo será crescente do centro para a periferia (o retardo aumenta com o aumento da espessura). Cada isocromática corresponde ao lugar geométrico dos pontos de igual retardo. Via de regra, a isocromática de maior retardo presente no campo corresponde ao retardo que daria o mesmo mineral observado a LP na seção de birrefringência máxima. Portanto, as isógiras e as isocromáticas formam, para esta primeira figura dos minerais uniaxiais, a seguinte figura de interferência: b) Figura de eixo ótico não centrado (seção oblíqua em relação ao EO, com pequeno ângulo) DESCRIÇÃO: uma cruz preta que se move com o giro da platina, descrevendo uma circunferência concêntrica ao cruzamento dos fios do retículo.
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