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GESTÃO DA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO GESTÃO DE MATERIAL E PATRIMÔNIO GESTÃO DE PESSOAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA GESTÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA GESTÃO DE QUALIDADE EM SERVIÇOS CHQAO Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais Coordenação Didático-Pedagógica Stella M. Peixoto de Azevedo Pedrosa Redação Pedagógica Frieda Marti Revisão Alessandra Muylaert Archer Projeto Gráfico Romulo Freitas Diagramação Luiza Serpa Coordenação de Conteudistas Fernando Velôzo Gomes Pedrosa Conteudista Ismar Santos da Cunha Revisão Técnica Marcos Figueiredo Produção Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Realização EsIE – Escola de Instrução Especializada Exército Brasileiro Gestão do material e do patrimônio : apostila 1 GMP / coordenação didático-pedagógica: Stella M. Peixoto de Azevedo Pedrosa ; redação pedagógica: Frieda Marti ; projeto gráfico: Romulo Freitas ; diagramação: Luiza Serpa ; coordenação de conteudistas: Fernando Velôzo Gomes Pedrosa ; conteudista: Ismar Santos da Cunha ; revisor técnico: Marcos Figueiredo ; produção: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ; realização: EsIE – Escola de Instrução Especializada [do] Exército Brasileiro. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, CCEAD, 2014. Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais – CHQAO. 120 p. : il. (color.) ; 21 cm. Inclui bibliografia 1. Administração pública – Brasil. 2. Administração de material - Brasil. 3. Propriedade pública – Brasil. I. Pedrosa, Stella M. Peixoto de Azevedo. II. Marti, Frieda. III. Cunha, Ismar Santos da. IV. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Coordenação Central Educação a Distância. V. Brasil. Exército. Escola de Instrução Especializada. CDD: 351.81 CHQAO Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais Gestão de material e patrimônio Unidade 1 administraÇão de material apresentaÇão O Curso de Habilitação ao Quadro de Auxiliar de Oficiais (CHQAO), conduzido pela Escola de Instrução Especializada (EsIE), visa habilitar os sub- tenentes à ocupação de cargos e ao desempenho de funções previstas para o Quadro Auxiliar de Oficiais. A disciplina Gestão do Material e do Patrimônio possui carga horária total de 90 horas. Os objetivos gerais desta disciplina são: • Distinguir as atribuições inerentes às áreas administrativas de material e patrimônio; • Confeccionar a documentação referente ao controle patrimonial e de material; • Evidenciar a capacidade de agir atendo-se a detalhes significativos; • Evidenciar a capacidade de desenvolver atividades de forma sistemática e eficiente. Nesta apostila será apresentada a Unidade Didática I – Administração de Material, cujos objetivos, determinados pelo Planejamento de Disciplina (PLADIS) e desenvolvido pela Seção de Ensino da Escola de Instrução Especia- lizada do Exército Brasileiro (EsIE), estão especificados por capítulo. Boa leitura! conteudista Ismar Santos da Cunha é Tenente-Coronel do Serviço de Intendência. É bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e mestre em operações militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO). Possui graduação em Direito pela Universidade Gama Filho (UGF), pós-graduação em Comércio Exterior (Importação e Exportação) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pós-graduação em Processo Civil pelo Instituto de Ensino Superior de Santo Ângelo (IESA), pós- -Graduação em Direito Público pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), extensão em Docência do Ensino Superior pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC RS), possui cursos na área do Direito Internacional e Direito Internacional dos Conflitos Armados pela Escola Superior de Guerra (ESG) e é mestrando em Direito Ambiental pelo Centro Universitário de Ensino de São Paulo – Unidade de Ensino Lorena (UNISAL). Possui experiência na área de ensino superior no meio acadêmico civil, tendo atuado como Professor de Direito, ministrando as disciplinas de Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Civil e Direito Penal e sendo Coordenador do Curso de Direito. Atuou na área administrativa de várias unidades do Exército como Aprovisionador, Encarregado do Setor de Mate- rial, Encarregado do Setor Financeiro, membro de Comissão de Licitação e Chefe do Centro de Apoio Logístico. Participou de vários congressos, seminá- rios e palestras que permitiram complementar seus conhecimentos nas áreas jurídica e administrativa e, atualmente, desempenha a função de Professor de Direito da Academia Militar das Agulhas Negras. Índice 09 11 11 12 14 14 35 35 36 36 55 55 56 57 58 59 60 60 60 61 65 65 69 69 70 72 75 75 76 76 77 77 77 78 78 79 79 80 1. INTRODUçãO 2. GENERALIDADES, ADMINISTRAçãO MILITAR, ATOS E FATOS ADMINISTRATIVOS, AGENTES DA ADMINISTRAçãO 2.1 GENERALIDADES 2.2 ADMINISTRAçãO MILITAR 2.3 ATOS E FATOS ADMINISTRATIVOS 2.3.1 ATOS ADMINISTRATIVOS 2.3.2 FATOS ADMINISTRATIVOS 2.4 AGENTES DA ADMINISTRAçãO: FUNçõES, ATRIBUIçõES E RESPONSABILIDADES 2.4.1 AGENTES DA ADMINISTRAçãO 2.4.2 CARGO, FUNçõES, ATRIBUIçõES E RESPONSABILIDADES 3. RECEBIMENTO E ExAME DE MATERIAL: ENTRADA NA UNIDADE ADMINISTRATIVA E CLASSIFICAçãO 3.1 RECEBIMENTO 3.2 CONFERêNCIA 3.2.1 MATERIAL ADQUIRIDO NO COMÉRCIO 3.2.2 MATERIAL DISTRIBUíDO PELOS óRGãOS PROVEDORES OU DE MANUTENçãO 3.2.3 MATERIAL RECOLHIDO PARA MANUTENçãO 3.2.4 MATERIAL TRANSFERIDO, DOADO, CEDIDO OU PERMUTADO POR OUTRO óRGãO 3.3 CLASSIFICAçãO DOS MATERIAIS 3.3.1. O SISTEMA DE CLASSIFICAçãO MILITAR 3.3.2 SISTEMA DE CLASSIFICAçãO POR CATALOGAçãO 4. PROVIMENTOS: ARMAMENTO, ARREAMENTO, EQUIPAMENTOS E MATERIAL DE ACAMPAMENTO 4.1 óRGãOS INTEGRANTES DA CADEIA LOGíSTICA DE SUPRIMENTO 4.2 PROVIMENTO DE ARMAMENTO 4.2.1 LEVANTAMENTO DAS NECESSIDADES 4.2.2 OBTENçãO DE MATERIAL 4.2.3 DISTRIBUIçãO DE MATERIAL 4.3 PROVIMENTO DE ARREAMENTO 4.3.1 ARREAMENTO DE MONTARIA PARA OFICIAIS E PRAçAS 4.3.2 ARREAMENTO PARA SALTO 4.3.3 ARREAMENTO PARA ADESTRAMENTO 4.3.4 ARREAMENTO PARA POLO 4.3.5 LEVANTAMENTO DAS NECESSIDADES 4.3.6 OBTENçãO DO MATERIAL 4.3.7 DISTRIBUIçãO DO MATERIAL 4.4 PROVIMENTO DE EQUIPAMENTOS E MATERIAL DE ACAMPAMENTO 4.4.1 LEVANTAMENTO DAS NECESSIDADES 4.4.2 OBTENçãO DO MATERIAL 4.4.3 DISTRIBUIçãO DO MATERIAL 5. INCLUSãO EM CARGA E REGISTRO: MATERIAL PERMANENTE E DEMAIS TIPOS DE MATERIAL 5.1 DOCUMENTAçãO NECESSáRIA 6. DESCARGA E SUBSTITUIçãO DE MATERIAL; MOTIVOS GERAIS. ARTIGOS CONTROLADOS 6.1 DESCARGA DE MATERIAL 6.1.1 DA INSERVIBILIDADE 6.1.2 DA PERDA OU ExTRAVIO 6.1.3 DO ROUBO OU FURTO 6.1.4 DOS OUTROS MOTIVOS 6.2 DESRELACIONAMENTO DE MATERIAL 6.3 DESTINAçãO DO MATERIAL DESCARREGADO 6.3.1 MATERIAL DISTRIBUíDO PELOS OP 6.3.2 MATERIAL DE EMPREGO MILITAR DE VALOR HISTóRICO 6.3.3 MATERIAL ADQUIRIDO PELA PRóPRIA UNIDADE ADMINISTRATIVA (UA) 6.4 SUBSTITUIçõES 7. RECOLHIMENTO: PROVIDêNCIAS; ALIENAçãO DE MATERIAL RAE / NARMNT 7.1 SISTEMáTICA DE RECOLHIMENTO DE MATERIAL 7.1.1 MATERIAL RECOLHIDO AO ALMOxARIFADO OU OUTROS DEPóSITOS DAS UA 7.1.2 MATERIAL RECOLHIDO AOS óRGãOS PROVEDORES 7.1.3 MATERIAL RECOLHIDO AOS óRGãOS DE MANUTENçãO 7.2 ALIENAçãO DE MATERIAL 7.3 CLASSES DE MATERIAL 8. NORMAS ADMINISTRATIVAS RELATIVAS AO SUPRIMENTO (NARSUP) 9. NORMAS ADMINISTRATIVAS RELATIVAS à MANUTENçãO (NARMNT) 10. NORMAS ADMINISTRATIVAS RELATIVAS AO MATERIAL DE COMUNICAçõES ESTRATÉGICAS, ELETRôNICA, GUERRA ELETRôNICA E INFORMáTICA (NARMCEI) 11. NORMAS PARA O CONTROLE DE EQUíDEOS NO ExÉRCITOBRASILEIRO (NORCE) 12. NORMAS PARA O CONTROLE DE CANINOS NA FORçA TERRESTRE (NORCCAN) 13. NORMAS PARA O TRANSPORTE LOGíSTICO DE SUPERFíCIE (NOTLOG) 14. ADMINISTRAçãO DO MATERIAL PERTENCENTE A UMA UA 14.1 TERMO DE RECEBIMENTO E ExAME DE MATERIAL (TREM) 14.2 TERMO DE ExAME E AVERIGUAçãO DE MATERIAL (TEAM) 14.3 GUIA DE REMESSA 14.4 GUIA DE RECOLHIMENTO 14.5 PEDIDO DE MATERIAL 14.6 PEDIDO DE DESCARGA DE MATERIAL 15. BIBLIOGRAFIA 81 81 83 83 84 85 86 86 87 88 88 89 89 89 91 91 92 92 92 93 94 97 99 101 103 105 107 109 109 109 110 110 111 112 115 9 gestão de material e patrimônio - u1 1introduÇão O Exército Brasileiro é uma instituição permanente, fundamentada na hierar- quia e na disciplina, que tem como missão constitucional a defesa externa do país, a garantia da lei e da ordem e a realização de diversas ações subsidiárias. Esse grande número de atribuições sob a responsabilidade do Exército requer de todos os seus integrantes bastante zelo no trato dos bens colocados à dis- posição de seus órgãos, desde um pedido de aquisição até a sua destinação, passando pelo recebimento, armazenagem, distribuição, utilização, controle e manutenção, a fim de que o preparo e o emprego da Força sejam caracteriza- dos pela [efetividade], isto é, pela conjugação da [eficiência] e da [eficácia], marca das mais modernas gestões. Para que se alcance o máximo de efetividade e, desta forma, a administração de [material] contribua para um elevado poder de combate da Força, todos os agentes da Administração devem realizar todos os atos fundamentados em regras jurídicas e nos princípios administrativos explícitos e implícitos, dentre os quais podemos destacar o da supremacia do interesse público, o da indis- ponibilidade, o da legalidade, o da moralidade, o da impessoalidade, o da publicidade e o da eficiência; sem jamais esquecer de que todo o [patrimônio] sob a jurisdição da instituição são públicos, não se admitindo que haja uma má administração desses recursos, sob pena de responsabilização nas esferas penal, administrativa e civil. No tocante a esses princípios, pode-se afirmar que, na [gestão] do material per- tencente ao Exército, todos os seus integrantes devem saber que, de acordo com: • O princípio da supremacia do interesse público - esses bens, quan- do envolvidos em um conflito entre o interesse coletivo e o interesse in- dividual deverá prevalecer, em relação aos mesmos, o interesse coletivo; • O princípio da indisponibilidade - os bens não podem ser disponibi- lizados conforme a simples vontade do administrador público, alienando um material que esteja afetado por sua destinação; • O princípio da legalidade - a gestão do material e patrimônio deve ser realizada de acordo com o autorizado e determinado pela legislação; • O princípio da moralidade - orienta que o bem público deve ser geri- do com cuidado e honestidade; efetividade: a ênfase está nas expectativas dos envolvidos e se estas foram alcançadas. eficiência: a ênfase está nos meios que serão utilizados para o alcance dos resultados (é fazer corretamente). eficácia: a ênfase está nos resultados a serem alcan- çados (é fazer a coisa certa). material: É tudo o que se reveste de matéria. ex: artigos, itens, gêneros alimen- tícios, equipamentos, etc. patrimônio: É o con- junto de todos os bens, direi- tos e obrigações de posse de uma unidade administrativa. Gestão: Significa o mesmo que administração ou gerenciamento. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 10 • O princípio da publicidade - exige a transparência e a publicação dos respectivos atos administrativos para torná-los válidos e eficazes; • O princípio da impessoalidade - a gestão visa o bem comum e não a satisfação de interesses pessoais dos administradores; • O princípio da eficiência - denota que a administração desses bens pú- blicos deve ser realizada com presteza, perfeição e rendimento funcional. A Administração Militar deve realizar a gestão do material através de modernas ferramentas administrativas, realizando a gestão do conhecimento por meio da tecnologia da informa- ção e elaborando projetos, a fim de fomentar o empreendedo- rismo em seus quadros. 11 gestão de material e patrimônio - u1 Objetivos específicos • Distinguir a diferença entre ato e fato administrativo; • Identificar as funções, atribuições e responsabilidade dos agentes de administração. 2.1 Generalidades A administração de material inclui inúmeras atividades que viabilizam, especial- mente, as funções logísticas de [suprimento] e de manutenção, integrantes da logística militar terrestre. Assim sendo, a administração de material no Exército é mais abrangente do que a logística de material. A logística preocupa-se com o [provimento] do material, ou seja, com o fluxo de suprimento, sendo composto de quatro ati- vidades básicas: a determinação das necessidades, a obtenção, a distribuição e o controle. A administração de material, realizada no âmbito dos quartéis do Exército Brasileiro, além dessas atividades, possui as seguintes subfunções típicas: a aceitação, o exame, a averiguação, o controle de estoque, a classifi- cação de material, a inclusão de material em carga, a [descarga], o [desrela- cionamento], o recolhimento, a manutenção e a padronização. Para realizar uma eficiente administração do material, é importante conhecer os conceitos fundamentais das atividades básicas da logística de material, descritas a seguir: A determinação das necessidades de material é obtida através do levan- tamento das necessidades das diversas classes de suprimento, que é alcançado por meio de diretrizes do Estado-Maior do Exército (EME), programas internos de trabalho, projetos, [pedidos] de material, consolidação de quadros, preen- chimento de fichas modelo 18 e 20 etc. Generalidades, administraÇão militar, atos e Fatos administrativos, aGentes da administraÇão2 suprimento: é a ati- vidade logística encarregada da previsão e provisão do material, englobando a deter- minação das necessidades, a obtenção, o recebimento, a armazenagem, a distribuição e o controle. provimento: é o ato ou efeito de fornecer, abastecer ou suprir as Organizações Militares (OM). descarga: é o fato administrativo que retira do patrimônio de uma Ua (Unidade administrativa) determinado material perma- nente que a ela pertence por motivos diversos. desrelacionamento: é a exclusão do material de con- sumo dos registros contábeis da Ua por motivo de distri- buição ou por outros motivos como inservibilidade, roubo, furto, extravio, perda etc. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 12 A obtenção de material é a atividade logística que visa a identificação das fontes de suprimento e tornar disponíveis o suprimento necessário para as OM, conforme as suas necessidades, compreendendo as fases de recebimento, catalogação e armazenagem de material. A distribuição é a atividade logística, que tem como objetivo final a entrega do material necessário às OM para que possam executar as suas atividades. Integram a distribuição, as tarefas de loteamento, a expedição, o transporte, a entrega propriamente dita e a aplicação final ou a alienação do suprimento. O controle é o ato de fiscalizar e acompanhar a execução de qualquer atividade de suprimento, a fim de que não se permita o desvio de propósito preestabelecido. Todas as Unidades Administrativas (UA) do Exército Brasileiro, distribuídas por todo o território nacional são responsáveis pela administração do material, sendo os seus integrantes, militares e civis, incumbidos dosinúmeros encargos previstos na legislação pertinente. Para outras informações so- bre a promoção do ensino, da pesquisa e na produção do co- nhecimento dentro do campo das ciências administrativas, consulte www.anpad.org.br a ficha modelo 18 é o docu- mento preenchido pela Ua e remetido à Região Militar (RM), a fim de solicitar ma- terial permanente necessário, não previsto no Quadro de dotação de Material (QdM) da OM. a ficha modelo 20 é o docu- mento elaborado pela RM no qual são consolidadas as in- formações contidas nas Fichas Modelo 18 das OM subordi- nadas e remetido ao Órgão de apoio Setorial (OaS) para as providências cabíveis. pedido: é a solicitação formal a um órgão da cadeia logística de materiais ou serviços, segundo normas específicas. Existe uma interligação entre a logística de suprimento e a de manutenção. Embora os objetos das atividades sejam distintos, ou seja, a logística de suprimento visa à provisão do material e a logística de manutenção visa à reparação do material, em ambas as atividades há a necessidade de uma adequada administração de material, inclusive com os órgãos de manutenção participando da cadeia de suprimento. 2.2 administraÇão militar A expressão administração militar pode exprimir mais de um significado, em razão da grande diversidade de atividades que compõe a missão das Forças Armadas e do grande número de Organizações Militares (OM) e de militares que realizam as referidas atividades. O termo pode indicar o conjunto de organizações militares e de agentes públi- cos que realizam as atividades administrativas de gestão dos recursos humanos, materiais, patrimoniais, orçamentários e financeiros alocados a cada uma das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica), a fim de que possam cum- gestão de material e patrimônio - u1 13 prir a sua missão constitucional de defesa da pátria, de garantia dos poderes constitucionais, Executivo, Legislativo e Judiciário, de garantia da lei e da ordem e outras missões subsidiárias. O Exército, atualmente, possui 654 OM e todas possuem encargos administra- tivos referentes ao material. Para obter mais informações sobre temas e tecnologias de vanguarda na área de logística, incluindo artigos e trabalhos acadêmicos sobre o assunto, além da possibilidade de con- tar com a opinião de profis- sionais da área, visite <www. sitedalogistica.com.br> A Administração Militar, escrita com iniciais maiúsculas, com- põe a administração direta ou indireta da União. Ela integra a estrutura do Ministério da Defesa sob o comando supremo da Presidente da República Federativa do Brasil, composta de diversos órgãos subordinados aos Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, formando a administração direta. A Administração Militar também é formada por pessoas administrativas vincu- ladas aos comandos militares, tais como empresas públicas, fundações públi- cas etc. Essas entidades formam a administração indireta. No âmbito do Comando do Exército, as organizações militares que reali- zam atividades administrativas são denominadas UA, que podem ser autôno- mas, ou seja, podem realizar integralmente todas as atividades de gestão de bens da União ou de terceiros, ou semiautônomas, isto é, ficam vinculadas a uma UA autônoma para fins administrativos específicos, podendo realizar determinadas atividades administrativas. No âmbito da estrutura administrativa militar, voltada para a administra- ção de material, ainda existem os órgãos gestores e os provedores responsá- veis, respectivamente, pela superintendência, isto é, direção, e pela execução das atividades de suprimento, manutenção e controle dos mais diversos mate- riais de interesse da instituição. Os diversos órgãos e entidades integrantes da Administração necessitam de pessoas para realizar as inúmeras atividades pertinentes. Essas pessoas são de- nominadas agentes da administração e cada um deles possui encargos especí- ficos relativos à administração do material. Em seu sentido objetivo, o termo administração militar deve ser escrito com iniciais minúsculas e traduz a própria atividade administrativa militar de gestão gestão de material e patrimônio - u1 15 exemplo: Decretos Regulamentares, instruções normativas, RAE, RISG, RDE, editais, NGA etc. • Atos individuais ou concretos - São os que se preordenam para regular situações jurídicas concretas. Vale dizer, têm destinatários individu- alizados, definidos, mesmo coletivamente. Por exemplo: uma licença para construção; um decreto expropriatório, demissão, exoneração, sanção dis- ciplinar, nomeação, designação de pessoas para formar uma comissão etc. Ao contrário dos atos normativos, os atos individuais ou concretos po- dem ser impugnados diretamente pelos interessados quanto à legalida- de, quer na via administrativa, quer através da via judicial. b) Quanto ao objeto • Atos de império - São os que se caracterizam pelo poder de coerção de- corrente do poder de império (ius imperii), não intervindo a vontade dos administrados para sua prática. São, portanto, todos aqueles atos que a Administração, unilateralmente, pratica usando de sua supremacia sobre o administrado ou servidor e lhes impõe obrigatório atendimento. Por exemplo: os atos de polícia, tais como a apreensão de bens e o embargo de obra, os decretos de regulamentação, as inspeções de material etc. • Atos de gestão - São aqueles através dos quais o Poder Público atua no mesmo plano jurídico dos particulares quando se volta para a gestão da coisa pública (ius gestionis), sobressaindo, frequentemente, a vontade de particulares. Neles, a Administração não se utiliza da sua suprema- cia sobre os destinatários. Reclamam, na maioria das vezes, soluções negociadas, não dispondo o Estado da garantia da unilateralidade que caracteriza sua atuação. Por exemplo: os negócios contratuais de aquisi- ção ou alienação de bens. Não tendo a coercibilidade dos atos de império, os atos de gestão reclamam, na maioria das vezes, soluções negociadas, não dispondo o Estado da garantia da unilateralidade que caracteriza sua atuação. Nesta classificação, Meirelles (2002, p. 145) cita, além daqueles já apresentados, os chamados “atos de expediente”, aqui entendidos como “todos aqueles que se destinam a dar andamento aos processos e papéis que tramitam pelas repartições públicas, preparando–os para a decisão de mérito a ser proferida pela autoridade competente”. Por exemplo: confecção de contrato de [compra] de material a ser assinado compra: é a aquisição de bens, cedidos volunta- riamente pelo proprietário mediante pagamento de importância ajustada, à vista ou a prazo. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 16 pela autoridade competente; parte do Encarregado do Setor de Material informando o recebimento de material, parte solicitando descarga de material etc. c) Quanto ao regramento • Atos vinculados - São os atos produzidos sem margem de escolha, pois a legislação já predetermina o seu teor, se atendidas às especifica- ções aí fixadas. A prática deste ato está vinculada à lei. São, portanto, como o próprio nome demonstra, aqueles que o agente pratica repro- duzindo os elementos que a lei previamente estabelece. Ao agente, nesses casos, não é dada liberdade de apreciação da con- duta, porque se limita, na verdade, a repassar para o ato o comando estatuído em lei. Isso indica que nesse tipo de ato não há qualquer subjetivismo ou valoração, mas apenas a averiguação de conformidade entre o ato e a lei. Nos atos vinculados não há o mérito administrativo, isto é, o administrador não pode decidir conforme a conveniênciaou de acordo com a oportuni- dade, a fim de buscar a satisfação do interesse público, ou seja, não pode escolher, respectivamente, como e quando realizar o ato administrativo. Como exemplo, têm-se a instauração de Inquérito Policial Militar nos casos roubo, furto, perda ou extravio de Material de Emprego Militar (MEM), habilitação em licitação, licença para construir, matrícula em estabelecimento de ensino etc. • Atos discricionários - Nestes é a própria lei que autoriza o agente a proceder a uma avaliação de conduta, obviamente tomando em consideração a inafastável finalidade do ato. São aqueles resultantes de alguma escolha efetuada pela autoridade administrativa. A prática deste ato está condicionada à conveniência e oportunidade, ou seja, ao mérito administrativo. O mérito administrativo não pode, em tese, ser avaliado pelo Poder Judi- ciário, contudo, esta marca presente nos atos discricionários não estam- pa uma liberdade absoluta de agir para o administrador. A avaliação que se permite ao administrador fazer tem que estar em con- formidade com o fim legal, ou seja, aquele alvo que a lei, expressa ou im- plicitamente, busca alcançar. Não havendo tal conformidade, o ato não é licitamente produzido, pois estará vulnerando o princípio da legalidade, gestão de material e patrimônio - u1 17 hoje erigido à categoria de princípio administrativo, conforme descrito no artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988 (CRFB/88). Para exemplificar pode-se citar a ordem do Agente Diretor para que se distribua maior quantidade de material de limpeza a uma Seção da UA, tendo em vista a visita de uma autoridade, a escolha dos integrantes de uma Comissão de Exame e Averiguação de Material (CEAM) ou a implantação de um escritório de projetos na UA etc. d) Critério da sua formação • Ato simples - É o resultante da manifestação de vontade de um único órgão, unipessoal ou colegiado. Não importa o número de pessoas que participam da formação do ato; o que importa é a vontade unitária que expressam para dar origem, afinal, ao ato colimado pela Administração. Por exemplo: despacho de um chefe de seção, decisão de uma Comissão de Licitação etc. • Ato complexo - Forma-se pela conjugação de vontades de mais de um órgão administrativo. O essencial para considerar o ato complexo é a existência do concurso de vontades de órgãos diferentes para a formação de um ato único. Por exemplo: a investidura de um funcionário é um ato complexo consubstanciado na nomeação feita pelo Chefe do executivo e complementado pela posse e exercício dados pelo chefe da repartição em que vai servir o nomeado; a investidura do Ministro do Superior Tribunal Militar (STM) se inicia pela escolha do Presidente da República; passa, após, pela aferição do Senado Federal e culmina com a nomeação. • Ato composto - É o resultante da vontade única de um órgão, mas que depende da verificação por parte do outro para se tornar exequível. Ex.: homologação de processo de descarga de material de uma UA pela RM. e) Quanto ao seu alcance • Atos internos - São os destinados a produzir efeitos dentro da Admi- nistração Pública, incidindo, normalmente, sobre os órgãos e agentes da administração que os expediram. Não produzem efeitos em relação a estranhos. Por exemplo: publicação em Boletim Interno (BI) nomeando uma comissão para realizar exame e averiguação de material - CEAM. • Atos externos - Nesta categoria encontram-se os atos administrativos que alcançam os administrados, os contraentes e, em certos casos, os Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 18 próprios servidores. Tais atos somente entram em vigor depois de divul- gados pelo órgão oficial, dado o interesse público no seu conhecimen- to. A publicidade é medida que se impõe tanto à administração direta quanto à indireta. Por exemplo: publicação de um edital de licitação para [venda] de material inservível. 2.3.1.2 Espécies de atos administrativos Os atos administrativos podem ser agrupados da seguinte forma: normativos, ordinatórios, enunciativos, negociais e punitivos. a) Normativos São aqueles que determinam uma conduta aos seus destinatários, objetivando a correta aplicação da lei e o bem-estar social. Destacamos os seguintes: • Decreto - Ato administrativo geral ou individual da competência exclusi- va dos chefes de Poder Executivo. Hierarquicamente, está abaixo das leis. Quando o decreto objetiva colocar em vigor um Regulamento (ato admi- nistrativo que tem por objetivo explicar a lei, dar condições de que sejam aplicados os dispositivos da lei, que necessitem ser explicados) é denomi- nado Decreto Regulamentar. O Decreto Regulamentar conterá normas gerais e abstratas dirigidas a todos aqueles que se encontram na mesma situação. O Decreto será individual quando surtir um efeito concreto, como, por exemplo, a desapropriação. É essencial que o Poder Executivo, ao expedir decretos regulamentares não invada as reservas da lei, ou seja, aquelas matérias que só podem ser disciplinadas por lei. Além disto, os decretos, regulamentares ou não, não podem contrariar a lei, porque se assim o fizerem, serão ilegais, já que, hierarquicamente, eles estão abaixo da lei. • Resolução - Ato administrativo normativo expedido pelas altas au- toridades do Executivo, mas não pelo chefe do Poder Executivo, que só deve expedir decretos ou pelos presidentes de tribunais, de órgãos legislativos e de colegiados administrativos, para disciplinar matéria da respectiva competência. venda: é uma espécie do gênero alienação, por meio do qual ocorre a título onero- so a transferência de proprie- dade a outro interessado. gestão de material e patrimônio - u1 19 b) Ordinatórios São os atos administrativos que visam disciplinar o funcionamento da adminis- tração pública e a conduta funcional de seus agentes. São os seguintes: • Portaria - Ato Administrativo pelo qual as autoridades de qualquer nível da Administração Pública, desde que inferior ao chefe do Executivo, expedem orientações aos respectivos subordinados, designam servidores para o desempenho de certas funções ou, ainda, determinam a abertura de sindicância, inquérito policial militar, Inquérito Técnico, Conselho de Justificação e Conselho de Disciplina. Quando expedida por Ministro de Estado, é denominada Portaria Ministerial. • Alvará - Fórmula segundo a qual a administração pública expede au- torização para a prática de um ato ou licença para o exercício de certa atividade ou direito dependente de policiamento administrativo. • Aviso - Fórmula utilizada pelos Ministros, notadamente os Comandan- tes militares, para prescreverem orientação aos respectivos subordinados sobre assuntos de seus Ministérios. Não se confunde com a publicação resumida dos editais de licitação também normalmente denominada aviso. • Instrução - Fórmula mediante a qual os superiores expedem normas gerais de caráter interno, que prescrevem o modo de atuação dos subor- dinados em relação a um serviço. • Circular - Fórmula mediante a qual os superiores transmitem ordens aos seus subordinados, com o caráter de uniformização do comportamento em casos concretos. • Ordem de Serviço - Determinação dirigida pelos superiores aos seus subordinados, responsáveis por determinados serviços públicos, orien- tando-os no que diz respeito à realização dos mesmos. • Ofício - Meio pelo qual os agentes públicos realizam comunicações escritas de caráter administrativo ou social. • Despacho - Meio pelo qual a autoridade administrativa manifesta suas decisões em documentos de natureza administrativa,submetidos à sua apreciação, tais como requerimentos e processos. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 20 c) Enunciativos São atos administrativos em que a administração pública enuncia uma situ- ação existente da qual tem conhecimento por meio dos seus agentes ou dos seus arquivos sobre um determinado assunto. Podem ser os seguintes: • Certidão - Cópia de atos ou fatos constantes em documentos em poder da Administração Pública. Segundo o Código Civil brasileiro, quando au- tenticada, tem o mesmo valor do original. O fornecimento de certidões é obrigação constitucional das repartições públicas, conforme o artigo 5º, xxxIV, b, da CRFB/88. • Atestado - Ato Administrativo por meio do qual a administração pú- blica afirma a existência ou veracidade de um fato de que tenha conhe- cimento por seus órgãos. A certidão comprova fatos permanentes; o atestado, situações transitórias, passíveis de alteração. • Parecer - Manifestação opinativa pela qual os órgãos técnicos consulti- vos da Administração ou pessoas especializadas expressam o seu enten- dimento sobre questões de cunho técnico ou jurídico submetidas a sua apreciação. Por ter caráter opinativo não vincula a administração pública ao seu conteúdo, salvo se for convertido em procedimento normativo (Parecer Normativo), quando, ao ser aprovado pela autoridade compe- tente, é convertido em norma de procedimento interno, tornando-se obrigatório a todos os órgãos subordinados à autoridade administrativa que lhe conferiu a normatividade. Ex: Parecer Técnico realizado em um material avariado. d) Negociais São aqueles que encerram um conteúdo tipicamente negocial, do interesse da administração pública e do administrado. Podem ser os seguintes: • Licença - Ato administrativo vinculado, definitivo e de interesse do par- ticular pelo qual a Administração Pública, diante de todas as exigências da lei, faculta ao particular o desempenho de uma atividade. Por exem- plo: licença para construir uma casa. • Autorização - Ato administrativo discricionário, precário, que pode ser cassado a qualquer momento pela administração pública, e de interes- se particular, em que a administração pública faculta ao particular que tenha interesse a utilização de certos bens ou o exercício de uma ativida- de. Por exemplo: porte de arma; pesquisa e exploração de minerais etc. gestão de material e patrimônio - u1 21 • Permissão - Ato administrativo discricionário, precário e de interesse público, pelo qual a administração pública faculta ao particular, a título gratuito ou oneroso, a execução de serviços do interesse da coletividade ou a utilização de um bem público nas condições por ela estabelecidas. A administração pública defere a pretensão do interessado nesses atos administrativos negociais através de um instrumento que é, na verdade, um outro tipo de ato administrativo denominado alvará, apresentado an- teriormente nesta classificação, referente aos atos ordinatórios, ou termo. Convém salientar que nem todas as permissões podem ser outorgadas discricionariamente. Há casos em que se é necessário a abertura de pro- cedimento licitatório. Como exemplo de permissão, podemos citar a permissão de uso de um auditório de determinada OM por uma empresa para realização de palestras para seus funcionários. • Aprovação - Ato administrativo discricionário pelo qual a administra- ção pública faculta a prática de certo ato jurídico ou concorda com o já praticado para lhe dar eficácia, se conveniente e oportuno. Por exemplo: pronunciamento do Conselho da República sobre a intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio (CRFB/88). • Homologação - Ato administrativo unilateral, vinculado e de controle, realizado a posteriori, através do qual a administração pública concorda com o ato jurídico praticado, por estar conforme os requisitos legais que legitimam a sua edição. Por exemplo: ato do Tribunal de Contas que aprecia as concessões iniciais, outorgadas pelo Executivo, de aposenta- dorias, reformas ou pensões, a homologação de um processo licitatório realizada pelo Ordenador de Despesas, a homologação de uma descarga de material realizada pelo Cmt RM etc. • Visto - Ato administrativo de mero expediente, vinculado e unilateral, pelo qual a autoridade competente atesta a legitimidade formal de outro ato. No visto, não há exame de mérito do seu conteúdo, o que o distingue da aprovação, da autorização e da homologação. Por exemplo: a exigên- cia do visto do chefe imediato para o encaminhamento de requerimento de servidor subordinado seu à apreciação de autoridade de superior ins- tância. O visto tem apenas a finalidade de conhecimento e controle, não equivale à concordância ou deferimento do conteúdo do requerimento. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 22 e) Punitivos Aqueles que objetivam materializar uma sanção imposta pela administração pública. Podem ser, dentre outros, os seguintes: • Multa - Toda imposição pecuniária a que se sujeita o administrado como meio de compensar um dano presumido, decorrente da prática de uma infração administrativa. • Interdição de atividade - Ato pelo qual a administração veda a alguém a prática de atos sujeitos ao seu controle ou que incidam sobre seus bens. Deve ser precedida de processo regular e do respectivo auto de interdi- ção, que possibilite a defesa do interessado. • Destruição de coisas - Ato pelo qual a administração pública inutili- za, de modo sumário, alimentos, substâncias, objetos ou instrumentos imprestáveis, nocivos ao consumo ou de uso proibido por lei. Como ato típico de polícia administrativa, é, em regra, urgente, dispensan- do processo prévio, embora exija sempre o auto de apreensão e de destrui- ção, que esclarecerá os motivos da medida drástica tomada e identificará as coisas destruídas, para oportuna apreciação da legalidade dos atos. 2.3.1.3 O Exército Brasileiro e os atos administrativos A Administração Pública Civil e a Militar estão em perfeita sintonia, conforme as definições descritas nas Instruções Gerais (IG) para os Atos Administrati- vos do Exército (EB10-IG-01.003), aprovadas pela Portaria nº 771, de 07 de dezembro de 2011, do Comandante do Exército, que estabelece as “Instruções Gerais para os Atos Administrativos do Exército”. A partir do seu artigo 7º, são definidos os atos administrativos de interesse do Exército, nos seguintes termos: Art. 7º Atos administrativos normativos são aqueles que contêm uma determinação geral, visando à correta aplicação da lei, sendo seu objetivo imediato explicitar a norma legal a ser observada pela Administração e pelos administrados. Art. 8º Atos administrativos ordinatórios são os que visam a disciplinar o funcionamento da Administração e a con- duta funcional de seus agentes. Art. 9º Atos administrativos negociais são os que visam à concretização de negócios jurídicos públicos ou à gestão de material e patrimônio - u1 23 atribuição de certos direitos e vantagens aos interessados, produzindo efeitos concretos e individuais para seus des- tinatários e para a Administração que os expede. Art. 10. Atos administrativos enunciativos são todos aqueles em que a Administração se limita a certificar ou a atestar um fato, ou emitir uma opinião sobre determina- do assunto, sem se vincular ao seu enunciado. Pode-se verificar que se trata da mesma organização que usualmente se dá às espécies de atos administrativos. Apenas os atos administrativos punitivos não foram mencionados nas IG. Quanto aos administrativos em espécie, as referidas IG os especificam, a partir do artigo 11, conforme abaixo descrito:Art. 11. São atos normativos de interesse do Exército, que são de COMPETêNCIA ExCLUSIVA da União e do Poder Legislativo: I - LEI – ato normativo emanado do Poder Legislativo, destinado a regular determinada matéria; II - MEDIDA PROVISóRIA (MP) – ato normativo com força de lei, que pode ser baixado pelo Presidente da República em caso de relevância e urgência; III - DECRETO – ato administrativo de competência do Presidente da República, destinado a prover situações gerais ou individuais, abstratamente previstas, de modo expresso ou implícito, na lei; IV - PORTARIA NORMATIVA (PN) – expedida pelo Ministro de Estado da Defesa, para disciplinar a aplicação de leis, decretos e regulamentos ou para estabelecer diretrizes e dispor sobre matéria de sua competência específica; V - INSTRUçãO NORMATIVA (IN) – expedida pelos secre- tários do Ministério da Defesa e pelo Chefe do Estado- -Maior Conjunto das Forças Armadas, em virtude de competência regimental ou delegada, para estabelecer instruções e procedimentos de caráter geral necessários à execução de leis, decretos e regulamentos, ou comple- mentares a instruções, a portarias normativas e instruções normativas; e Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 24 VI - ORIENTAçãO NORMATIVA (ON) – expedida pelo Che- fe de Gabinete do Ministro da Defesa e demais órgãos In- tegrantes do MD, em virtude de competência regimental ou delegada, para estabelecer procedimentos operacio- nais necessários à execução de leis, decretos e regulamen- tos ou para detalhar procedimentos e situações peculiares do próprio órgão ou Unidade, nas hipóteses de reserva expressa de competência normativa ou de ausência de portaria normativa ou instrução normativa. Art. 12. São atos enunciativos e negociais de interesse e regulados pelo Exército: I - APOSTILA – averbação feita abaixo de textos ou no verso de decretos e portarias pessoais, para que seja corri- gida flagrante inexatidão material do texto original, desde que essa correção não venha a alterar a substância do ato já publicado, sendo que no âmbito do Exército também há apostila para confirmação das promoções dos oficiais. Caso essa correção seja publicada no Diário Oficial da União, a sua denominação será RETIFICAçãO; II - ATESTADO – firmado por uma autoridade, na esfera de suas atribuições, sobre algo de que tenha conheci- mento, ou quando requerido, afirmando ou negando a existência de um fato ou direito; III - CERTIDãO – descreve de maneira clara e precisa os fatos consignados em registros oficiais, fornecida por autoridade competente, a requerimento do interessado ou ex officio, quando solicitada por autoridade adminis- trativa ou judicial; IV - CONTRATO – documento que registra o acordo de vontades, firmado livremente pelas partes, para criar obrigações e direitos recíprocos; V - CONVêNIO – documento que registra o acordo firma- do por entidades públicas e/ou privadas, para realização de objetivos de interesse comum dos partícipes. Poderá ser definido também como INSTRUMENTO DE PARCERIA; e VI - PARECER – é a manifestação de um órgão técnico sobre assunto submetido à sua consideração e pode fazer parte de um processo para o qual apresenta uma solução, justificando-a por meio de dispositivos legais e informações, podendo ser utilizado suporte eletrônico (o gestão de material e patrimônio - u1 25 documento é arquivado/enviado por rede de computa- dores ou por meio físico de transporte de dados, outros, porém continua sendo um parecer), sempre que houver meios físicos adequados. Art. 13. São atos ordinatórios de interesse e regulados pelo Exército: I - PORTARIA – ato ordinatório expedido pelo Comandan- te do Exército e outras autoridades para instituir políticas, planos, programas, projetos e demais atividades, bem como para dispor sobre a organização e o funcionamen- to de órgãos e serviços e, ainda, para praticarem outros atos de sua competência; e II - DESPACHOS: a) Despacho Decisório – proferido pelo Comandante do Exército, com a finalidade de proferir decisão sobre requerimento submetido a sua apreciação ou ordenar a execução de serviços; e b) Despacho - ato de autoridade competente, exarado em documento a ela dirigido ou em folha anexa ao mesmo, fundamentado na legislação vigente. Caso o documento em questão seja eletrônico, permite-se que o despacho tenha suporte semelhante, podendo ser: - final – quando põe termo à questão; - interlocutório ou parcial – quando não resolve definiti- vamente a questão; e - ordinatório – quando concerne ao andamento de um processo. Parágrafo único. Portaria Pessoal é aquela que provê situações particulares de um ou alguns interessados, sem estabelecer qualquer norma geral: I - tais são as portarias de provimento e vacância (nome- ação, promoção, transferência, reversão, recondução, agregação, exoneração, demissão, passagem para a reserva remunerada, designação e outros); e II - também utilizada para a concessão de prêmios e condecorações. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 26 2.3.1.4 Requisitos dos atos administrativos Requisitos são os elementos obrigatórios e essenciais, necessários à for- mação do ato administrativo. A falta de qualquer desses requisitos pode conduzir à invalidade do ato administrativo. Cinco são os requisitos para a formação do ato administrativo: competência, finalidade, forma, motivo e objeto. a) Competência A competência é o poder atribuído a um determinado agente da Administra- ção, originário de texto expresso contido na Constituição, na lei ou em normas administrativas, para o exercício de suas funções. Pode ser delegada ou avoca- da, desde que haja previsão normativa. O ato praticado por agente incompetente ou além das limitações legais é inváli- do, configurando-se o chamado abuso de poder, da espécie excesso de poder. A competência é um requisito de ordem pública e, portanto, não pode ser transfe- rida ou prorrogada pela vontade dos interessados. Todavia, pode ser delegada e avocada, desde que as normas reguladoras da Administração permitam. Tem-se como exemplo de competência o que ocorre nas OM operacionais com Bases Administrativas, nas quais o Comandante da OM poderá delegar ao Co- mandante da Base Administrativa as funções de Ordenador de Despesas. Caso não haja a dita delegação, este Comandante Administrativo não terá compe- tência para exercer as funções de Ordenador de Despesas. b) Finalidade A finalidade do ato administrativo deve estar em consonância com a finalidade da lei, que visa sempre o interesse público, única meta a ser atingida mediante o ato administrativo. A alteração da finalidade expressa na lei ou implícita no ordenamento da Ad- ministração caracteriza desvio de poder ou desvio de finalidade, dando ensejo à invalidação do ato. Assim, todo ato administrativo, seja vinculado ou discricionário, deverá estar sempre balizado pela lei e direcionado ao interesse coletivo. É o objetivo ime- diato do ato administrativo. gestão de material e patrimônio - u1 27 c) Forma A Forma é o revestimento exterior do ato. Geralmente, a forma do ato admi- nistrativo é a escrita, embora existam, também, atos consubstanciados em ordens verbais, como ocorre com as instruções do superior ao inferior hierár- quico, e até mesmo sinais convencionais, como as determinações da polícia do Exército, em casos de urgência e sinalizações de trânsito. O ato administrativo não escrito só é admitido em casos especialíssimos, a saber: em casos de urgência, de transitoriedade da manifestação de vontade administrativa,de irrelevância do assunto para a Administração. Nos demais casos, a forma escrita é de rigor e, do contrário, resultará na inva- lidade do ato. Importa salientar que enquanto no Direito Privado, que trata eminentemente do Direito Civil e do Direito Empresarial, todos os atos podem ser praticados sem forma específica, no Direito Público a regra é a prática do ato administra- tivo dentro da forma estabelecida em lei ou regulamento. Nos processos administrativos, por exemplo, a forma é uma exigência decor- rente do princípio do devido processo legal. d) Motivo (ou causa) O motivo é a situação de fato ou de direito através da qual é deflagrada a manifestação de vontade da Administração. Classifica-se o motivo em motivo de fato e motivo de direito, levando-se em conta o tipo de situação por força da qual o ato é praticado. • Motivo de direito é a situação de fato, eleita pela norma legal como ensejadora da vontade administrativa. • Motivo de fato é a própria situação de fato ocorrida no mundo empíri- co, sem descrição na norma legal. Se a situação de fato já está delineada na norma legal, ao agente nada mais cabe senão praticar o ato tão logo seja ela configurada. Atua ele como executor da lei em virtude do princípio da legalidade. Nestes casos caracteriza-se a produ- ção de ato administrativo vinculado por haver estrita vinculação do agente à lei. Diferente é a situação quando a lei não delineia a situação fática, mas ao contrário, transfere ao agente a verificação de sua ocorrência atendendo a Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 28 critérios de caráter administrativo (conveniência e oportunidade). Nesse caso é o próprio agente que elege a situação fática geradora da vontade, permitindo, assim, maior liberdade de atuação, embora sem afastamento dos princípios administrativos. Desvinculado o agente de qualquer situação de fato prevista na lei, sua atividade se reveste de discricionariedade, redundando na prática de ato administrativo discricionário. O motivo de direito conduz à produção do ato administrativo vinculado, ao pas- so que o motivo de fato leva à produção do ato administrativo discricionário. Não há que se confundir motivo com motivação. A motivação é a exposição da situação de direito e de fato que determina ou autoriza a realização do ato administrativo. Em outras palavras, é a justificativa do pronunciamento tomado, o modo expresso e textual da situação de fato que levou o agente à manifestação de vontade. A indicação do motivo, via de regra, é obrigatória, dispensada apenas em ca- sos especiais como, por exemplo, na exoneração de servidor público nomeado para cargo de confiança. Neste caso, a motivação está implícita. A quebra da confiança determina a exoneração do servidor. Segundo Carvalho Filho (2006, p. 99), é a “situação de fato ou de direito que gera a vontade do agente quando pratica o ato administrativo”. Isto significa que o administrador, autor do ato administrativo, deve justificar a existência do motivo, fundamentando-o em normas administrativas. A Lei n.º 9.784/99, em seu artigo 50, incisos de I a VIII, §§1º, 2º e 3º, descreve os atos que devem ser obrigatoriamente motivados: Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública; IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade: de processo licitatório; V - decidam recursos administrativos; VI - decorram de reexame de oficio; gestão de material e patrimônio - u1 29 VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou con- validação de ato administrativo. § 1º. A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, deci- sões ou propostas, que, neste caso, serão parte integran- te do ato. § 2º. Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fun- damentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados. § 3º. A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito. e) Objeto O Objeto é o conteúdo do ato administrativo. Por exemplo, a compra de gêne- ros alimentícios. Em outras palavras, é a própria manifestação de vontade da Ad- ministração. Para ser válido, o ato deve possuir objeto lícito e moralmente aceito. Segundo Medauar (2007, p. 135), “significa o efeito prático pretendido com a edição do ato administrativo ou a modificação por ele trazida ao ordenamento jurídico”. O objeto, portanto, consiste na aquisição, resguardo, transferência, modificação, extinção ou declaração de direitos. Como exemplo, tome-se o caso de uma licença para construção que tem por objeto permitir que o interessado possa edificar de forma legítima; o objeto de uma multa é punir o transgressor de norma administrativa; na nomeação, o objeto é admitir o indivíduo no serviço público etc. É o objetivo imediato do ato administrativo. 2.3.1.5 Atributos dos atos administrativos Os atos administrativos, por serem emanados do Poder Público, trazem consigo determinados atributos, distintos dos atos jurídicos privados, dando- -lhes características próprias e condições peculiares de atuação. A seguir serão apresentados e descritos o rol dos atributos do ato administrativo. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 30 a) Presunção de legitimidade Todo ato administrativo nasce com presunção de legitimidade em decorrência do princípio da legalidade ao qual a Administração está adstrita. Os atos praticados pelos agentes detentores de parcela do Poder Público, pre- sumivelmente estão em conformidade com a lei, pois são de interesse público. Este requisito não depende de lei expressa, já que deflui da própria natureza do ato administrativo emanado de agente integrante da estrutura do Estado. Enquanto não sobrevier o pronunciamento de nulidade, mesmo que eivado de vícios, os atos administrativos são considerados válidos e, portanto, exigíveis, tanto para a Administração quanto para os particulares sujeitos ou beneficiá- rios de seus efeitos. Assim, enquanto não declarada a ilegalidade do ato administrativo, este vai produzindo normalmente os seus efeitos e sendo considerado válido, seja no revestimento formal, seja no seu próprio conteúdo. b) Autoexecutoriedade Como efeito da presunção de legitimidade, tem-se a autoexecutoriedade, que admite que o ato seja imediatamente executado e seu objeto também imedia- tamente alcançado, independente de qualquer outorga do Judiciário. Conforme Carvalho Filho: (...) fundamento jurídico é a necessidade de salvaguardar com rapidez e eficiência o interesse público, o que não ocorreria se a cada momento tivesse que submeter suas decisões ao crivo do Judiciário”. Além do mais, nada justi- ficaria tal submissão, uma vez que assim como o Judiciá- rio tem a seu cargo uma das funções estatais – a função jurisdicional, a Administração também tem a incumbên- cia de exercer função estatal – a função administrativa (2006, p. 134 e 135). Também resulta na inversão do ônus da prova em detrimento de quem alegar não ser o ato administrativo legítimo, isto é, a comprovação da sua ilegalidade cabe a quem a afirme. A autoexecutoriedadenão existe em todos os atos administrativos, estando presente somente nas duas categorias de atos administrativos, a seguir: gestão de material e patrimônio - u1 31 • Aqueles com tal atributo conferido por lei. É o caso do fechamento de restaurante pela vigilância sanitária; • Atos praticados em situações emergenciais, cuja execução imediata é in- dispensável para a preservação do interesse público. Exemplo: dispersão pela polícia de manifestação que se converte em onda de vandalismo (MAZZA, 2012). Em algumas hipóteses, o ato administrativo fica despido desse atributo, o que obriga a Administração a recorrer ao Judiciário. Cite-se, por exemplo, a cobrança de multa ou a desapropriação. Ambas as atividades impõem que a Administração ajuíze a respectiva ação judicial. Vale ressaltar que a autoexecutoriedade não deixa o administrado sem pro- teção jurídica, pois sempre será possível a apreciação judicial. As medidas judiciais utilizadas são o mandado de segurança (preventivo ou repressivo) e o habeas corpus, com pedido de liminar. Se ocorrer o dano, o administrado lesado poderá constituir o Poder Público na obrigação de indenizar. Ressalta Carvalho Filho (2006, pg. 107) que “no direito privado, são raras as hipóteses em que se permite ao particular executar suas próprias decisões. No direito público, porém, é admitida a execução de ofício das decisões adminis- trativas sem intervenção do Poder Judiciário”. c) Imperatividade (ou coercibilidade) A imperatividade, também conhecida como poder extroverso do Estado, é o atributo de ato administrativo unilateral que cria para o particular uma obri- gação, independentemente de sua anuência. Não está presente em todos os atos, tais como os enunciativos e negociais, que os dispensam. Todavia, os atos que consubstanciam um provimento ou uma ordem administrativa (atos nor- mativos, ordinatórios ou punitivos) nascem sempre com a imperatividade, com força impositiva própria do Poder público, e que obriga o particular ao seu fiel atendimento, sob pena de se sujeitar à execução forçada pela Administração (atos autoexecutórios) ou pelo Poder Judiciário (atos não-executórios). Para Carvalho Filho (2006, p. 106), “imperatividade, ou coercibilidade, signifi- ca que os atos administrativos são cogentes, obrigando a eles todos quantos se encontrem em seu círculo de incidência (ainda que o objetivo a ser por ele alcançado contrarie interesses privados)”. Como exemplo, têm-se a desapropriação por intermédio de decreto expropriatório. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 32 2.3.1.6 Extinção dos atos administrativos O ciclo vital de um ato administrativo encerra-se de diversas maneiras. Embora a extinção devesse ocorrer pelo cumprimento de seus efeitos, evidentemente existem outras formas anômalas pelas quais ocorre a extinção. Serão abordadas suas principais modalidades, em conformidade com a visão doutrinária de alguns dos principais estudiosos do tema, como Carvalho Filho, Di Pietro e Mazza. a) Extinção natural A extinção natural é a que ocorre pelo cumprimento normal dos efeitos do ato. O cumprimento de seus efeitos pode ser exemplificado no caso do cum- primento da obrigação assumida por uma OM de Engenharia, ao término da construção de uma estrada federal. b) Extinção subjetiva A extinção subjetiva “ocorre com o desaparecimento do sujeito que se benefi- ciou do ato”. Por exemplo: o cessionário que vem a falecer. c) Extinção objetiva A extinção ocorre quando, depois de praticado o ato, desaparece seu objeto. Por exemplo: a interdição de um estabelecimento que se extingue por ter se incendiado. d) Caducidade A caducidade caracteriza-se quando ocorre a perda dos efeitos jurídicos de um ato em virtude de norma jurídica superveniente contrária a que respaldava a prática do ato. Por exemplo: uma permissão para uso de um bem público per- tencente a uma UA, que passa a ser proibida quando lei superveniente proíbe o seu uso por particulares. e) Renúncia do interessado Em algumas circunstâncias, a legislação pertinente admite ao particular a fa- culdade de extinguir a relação jurídica produzida pelo Ato Administrativo, por meio de uma manifestação unilateral de vontade. Por exemplo: o militar que pede exoneração do cargo. gestão de material e patrimônio - u1 33 f) Rescisão por inadimplemento Nos casos em que o inadimplemento culposo pode ser imputado ao particular, a Administração, como regra, pode rescindir, por ato unilateral de vontade. Por exemplo: contrato de prestação de serviços, culposamente não cumprido pela empresa contratada. g) Força maior e caso fortuito Quando o inadimplemento ocorre por fatos “insuscetíveis de previsão” ou de “consequências incalculáveis” o ato pode extinguir-se. Por exemplo: um forne- cimento impossibilitado de ser finalizado por profundas alterações ocorridas em decorrência de uma catástrofe natural. h) Anulação É a declaração de invalidado de um ato administrativo ilegítimo ou ilegal, feita pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário. Baseia–se, portanto, em razões de legitimidade ou legalidade, diversamente da revogação que se funda em motivos de conveniência ou de oportunidade e, por isso mesmo, é privativa da Administração. A Administração, reconhecendo que praticou um ato contrário à lei, tem o dever de anulá-lo. Se não o fizer, pode o interessado pedir ao Judiciário que declare a sua invalidade, por meio de anulação. O pronunciamento de nulidade opera efeitos [ex tunc], retroagindo às origens do ato, desfazendo todos os vínculos entre as partes e obrigando-as à reposi- ção das coisas ao status quo ante. São exemplos: uma anulação de ato que homologou a descarga de um mate- rial por ter sido identificado que o parecer técnico foi realizado por profissional não habilitado e uma anulação de inclusão de um material no patrimônio da UA, por não ter sido elaborado o Termo de Recebimento e exame de material. O Agente Diretor não deve deixar de anular os atos ilegais tempestivamente, mesmo que tenham sido por ele praticados, sob pena de poder ser responsabi- lizado por sua omissão, além de ocasionar prejuízos à gestão de material. i) Revogação Revogação é a supressão de um ato administrativo legítimo e eficaz, realizada privativamente pela Administração, por ter se tornado inconveniente e inopor- tuno ao interesse público, ou seja, por não mais atender ao interesse público. Ex tunc: expressão de origem latina que signi- fica dizer que a decisão é retroativa à origem do ato anulado, desconsiderando tudo o que o foi realizado a partir do mesmo. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 34 A revogação é realizada pela Administração, e somente por ela, por não mais lhe convir sua existência. Produz efeitos [ex nunc], ou seja, seus efeitos operam a partir do presente, porque desfazem atos dotados de legalidade. O ato de revogação é irretroati- vo, pois incide sobre ato legal que produziu efeitos válidos; assim, a revogação não atinge efeitos já produzidos pelo ato revogado, que permanecem no mun- do jurídico, cessando os efeitos deste do momento da revogação para o futuro. Note-se que, em relação a essas duas últimas modalidades de extinção dos atos administrativos, o poder da administração pública é mais amplo do que o da Justiça. Sempre que verificada a necessidade de sua supressão, a Admi- nistração poderá revogá-los, por questões de oportunidade e conveniência, ou anulá-los, por questão de ilegalidade. Em contrapartida, o Poder Judiciário só pode anulá-los por questões de ilegalidade. Assim, a Administração con- trola seus atos em toda a sua plenitude,sob os aspectos da oportunidade, conveniência, justiça, conteúdo, forma, finalidade, moralidade e legalidade, enquanto o controle do Judiciário se restringe ao exame da legalidade, ou seja, da conformação do ato com o ordenamento jurídico que a Administração se subordina para sua prática. j) Cassação Ocorre a cassação quando atos originalmente legítimos tornam-se ilegais na sua execução, podendo, assim, serem cassados. Por exemplo: a cassação de patente de um produto farmacêutico por ter se mostrado lesivo ao usuário; um alvará de licença para construir, expedido legalmente, mas cassado por ter descumprido na execução da obra licenciada. k) Contraposição A edição posterior de ato administrativo esvazia o conteúdo do ato preceden- te, por contraposto que é. A contraposição existirá sempre que determinado ato administrativo extinguir ato precedente, independentemente de expressa revogação. Por exemplo: o ato de nomeação de um militar. Seu contrapos- to direto vem a ser o ato de exoneração desse mesmo militar. Essa situação denota, sem sombra de dúvida, que o segundo ato, em razão de seu objeto, esvaziou o conteúdo do primeiro. Ex nunc: expressão de origem latina que significa di- zer que a decisão não retroage à origem do ato anulado, só vale a partir dali. gestão de material e patrimônio - u1 35 2.3.2 Fatos administrativos Os efeitos jurídicos decorrentes dos atos administrativos típicos realizados pelos integrantes de uma UA resultam em fatos administrativos que podem ser descritos como a atividade material do órgão, ou seja, indicam tudo o que retrata uma alteração dinâmica na Administração Militar. Por exemplo: a compra de um material, a descarga de um MEM, a demissão de um militar etc. Nem todo fato administrativo resulta de um ato administrati- vo ou de um conjunto de atos administrativos. Há fatos administrativos que, embora também sejam voluntários, são con- sequências de condutas administrativas, isto é, de ações da Administração não formalizadas por atos administrativos, como, por exemplo, uma alteração do local de determinado depósito, e há outros que resultam de situações de ordem natural, como os fenômenos da natureza. Podemos exemplificar, citando uma tempestade que destelhou a reserva de material de determinada subunidade. Sempre que se fizer referência a um fato administrativo, deve-se ter a noção de que ocorreu um evento dinâmico da Administração causado por evento voluntário ou natural. 2.4 aGentes da administraÇão: FunÇões, atribuiÇões e responsabilidades Os agentes da Administração são todos agentes públicos, militares e civis, res- ponsáveis por quaisquer procedimentos referentes à gestão dos bens pecunia- riamente mensuráveis pertencentes a uma UA. Todos os agentes da Administração possuem atribuições específicas atinentes à administração de material, conforme previsto no Decreto nº 98.820, de 24 de maio de 1990 (Regulamento de Administração do Exército – RAE/R3). Alguns integrantes das UA, mesmo não ocupando os cargos ou funções dire- tamente ou indiretamente ligadas às atividades administrativas, poderão ter responsabilidades relacionadas à gestão do material. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 36 2.4.1 Agentes da administração São agentes da Administração, diretamente ou indiretamente responsáveis pela gestão do material e do patrimônio: • Agente Diretor. • Agentes Executores Diretos: - Fiscal Administrativo; - Encarregado do Setor de Contabilidade (contador); - Encarregado do Setor de Finanças (tesoureiro); - Encarregado do Setor de Material (almoxarife); - Encarregado do Setor de Aprovisionamento (aprovisionador). • Agentes executores indiretos: - Comandante de subunidade; - Chefe de serviços; - Oficiais em geral; - Oficial de dia; - Subtenente; - Encarregados de depósitos, de oficinas ou de material. Qualquer pessoa física a que se tenha atribuído competência para exercer ativi- dade administrativa de acordo com a legislação em vigor. Os agentes da Administração, para que possam realizar suas funções, poderão ter auxiliares, designados pelo Agente Diretor, conforme previsão do Quadro de Cargos Previstos (QCP) da UA, sendo considerados agentes executores indiretos. 2.4.2 Cargo, funções, atribuições e responsabilidades O artigo 3º da Lei nº 8.112/90 definiu o cargo público como “o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que de- vem ser cometidas a um servidor”. Em uma UA, existem vários cargos previstos em QCP, tais como: comandante, sub-comandante, fiscal administrativo, almoxarife, aprovisionador, entre ou- tros. Cada cargo possui um rol de funções que podemos, nesse caso, denomi- nar encargos ou atribuições. gestão de material e patrimônio - u1 37 Todo cargo possui funções, e não existe um cargo sem encargos e responsabili- dades. Entretanto, há funções que não têm vinculação a quaisquer cargos. Dentre os agentes executores de atividades administrativas, há, por exemplo, a de agente diretor, que é uma das funções previstas para o cargo de Cmt OM. Há a função de oficial-de-dia que não está ligada especificamente a nenhum cargo. Nesse caso, essa função possui, no que tange à função administrativa, vários encargos e responsabilidades. Existe, também, entre os agentes executores indiretos, a indicação de que to- dos os oficiais e subtenentes têm responsabilidades administrativas, sendo que estes não são cargos nem funções. O primeiro é gênero, cujas espécies são os vários postos previstos na legislação castrense, o segundo é uma praça. Por último, há, ainda, a previsão de que quaisquer pessoas físicas, além das descritas no rol do artigo 21 do RAE, podem receber competência para realizar atividades administrativas, sendo-lhes atribuídas responsabilidades. Conforme Carvalho Filho (2006, p. 514), “a função pública é a atividade em si mesma”, ou seja, função é sinônimo de atribuição e corresponde às inúmeras tarefas que constituem o objeto dos serviços prestados pelos servidores públicos. 2.4.2.1 Atribuições dos agentes da administração São atribuições dos agentes da administração referentes à administração de material e patrimonial: a) Agente diretor O comandante, chefe ou diretor de OM, quando está exercendo, de uma ma- neira geral, as atividades administrativas da UA, é denominado Agente Diretor (AD), sendo que, no exercício específico da administração patrimonial denomi- na-se Ordenador de Despesas (OD). A função de Agente Diretor pode ser delegada, integralmente ou parcial- mente, nas unidades comandadas ou chefiadas por Oficial General, devendo a autoridade delegante fiscalizar o trabalho do agente delegatário, a fim de verificar se a função está sendo desempenhada conforme suas ordens e a legislação vigente. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 38 Entre os principais encargos previstos para o AD no tocante à administração de material e patrimonial, pode-se destacar: • Supervisão de todas as atividades administrativas da UA; • Assinatura dos documentos relacionados à sua atividade; • Conferência dos documentos elaborados pelos agentes da administração; • Fiscalização da escrituração patrimonial; • Verificação das passagens de funções, a fim de manter a escrituração dos bens distribuídos em ordem e atualizada: • Publicação da situação patrimonial por ocasião da passagem de coman- do, chefia ou direção; • Verificação da exata situação patrimonial, até trinta dias da assunção do comando, chefia ou direção e consequente publicação do apurado; • Determinação das compras, serviços e alienações; • Manutenção dos documentoscomprovatórios dos atos e fatos adminis- trativos arquivados conforme a previsão legal; • Determinação dos ressarcimentos e sanções referentes aos prejuízos causados à Fazenda Nacional; • Instauração de sindicância, inquérito técnico e inquérito policial militar para apuração de responsabilidades dos gestores de material da OM; • Determinação do afastamento do cargo ou impedimento para o exer- cício da função dos responsáveis por prejuízos causados à Fazenda Nacional; • Remessa ao Escalão Superior de documentos relativos ao patrimônio da OM; • Remessa à Inspetoria de Contabilidade e Finanças do Exército (ICFEx) de vinculação do rol dos responsáveis pela administração da OM e ime- diatamente as substituições de OD ao Centro de Controle Interno do Comando do Exército (CCIEx) e à ICFEx. O AD é o responsável por todos os atos e fatos administrati- vos da UA e desempenha as suas funções através dos agentes executores diretos e indiretos, que o auxiliam na execução de todas as atividades administrativas da unidade. gestão de material e patrimônio - u1 39 A função de OD também pode ser delegada pelo Cmt/Ch/Dir de OM, em regra, nas unidades comandadas, chefiadas ou dirigidas por Oficial General, nas uni- dades possuidoras de Base Administrativa ou nas unidades não possuidoras de Base Administrativa quando, justificadamente e devidamente autorizado pela Secretaria de Economia e Finanças (SEF), não puder desempenhar essa função devido às complexidades e particularidades da UA, observando-se em todos os casos a compatibilidade hierárquica entre os agentes da Administração. b) Agentes executores diretos Os agentes executores diretos são os agentes da administração da UA que, auxiliados por outros militares ou servidores civis, ou seja, adjuntos, auxiliares e outros agentes, são responsáveis pela coordenação e controle das atividades administrativas e, também, pelo assessoramento do agente diretor. • Fiscal administrativo Em relação à administração patrimonial e do material, o fiscal administrati- vo é responsável pelo assessoramento do agente diretor e do ordenador de despesas, cabendo-lhe: - O seu planejamento, coordenação e controle; - O estudo, para apreciação do AD, de toda a documentação per- tinente; - A fiscalização dos registros contábeis; - A retirada de dúvidas dos demais agentes subordinados; - A prestação de informação ao AD sobre quaisquer irregularidades que verificar, a fim de que se evite danos e/ou prejuízos à Fazenda Nacional; - A publicação do movimento de entrada e de saída do [material permanente] e de consumo; - A orientação e supervisão do recebimento e exame de material; - A solicitação de técnicos ou peritos para exame qualitativo de material; - A assistência, se possível, do fornecimento de material às seções e subunidades; - O diligenciamento para que informações sobre o patrimônio sejam enviadas com presteza e perfeição aos escalões administrativos; material permanente: é todo bem (artigo, equipa- mento ou conjunto operacio- nal ou administrativo) que tem durabilidade prevista su- perior a dois anos e que, em razão de seu uso, não perde a sua identidade física nem se incorpora a outro bem. destina-se ao uso contínuo e deve ser incluído em carga. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 40 - A informação e realização de pareceres sobre os assuntos de sua competência; - A informação ao AD, tempestivamente, sobre o registro dos bens patrimoniais e o estado de conservação dos materiais; - O pleno conhecimento das variações patrimoniais, a fim de reali- zar apresentações sempre que solicitado; - A orientação à descrição dos atos e fatos administrativos que devem ser publicados em Boletim Interno (BI). O fiscal administrativo é o principal assessor do Cmt OM no tocante aos cuidados com o meio ambiente, cabendo-lhe, em relação à administração do material da UG o gerenciamento de projetos que visem evitar danos ao meio ambiente, havendo a necessidade de conferir especial atenção ao des- tino das sobras, dos resíduos e do material descarregado, cujo destino seja o descarte, a não contaminação do lençol freático, do mar, dos rios e dos lagos, ao corte de árvores e à preservação dos animais de todas as espécies. O Exército Brasileiro tem se preocupado com o meio ambiente, elaborando várias regras para que se evitem prejuízos ao meio ambiente, sendo bas- tante importantes para a administração do material, principalmente em relação à destinação das sobras, dos resíduos e de outros materiais cujo descarte pode causar danos ambientais. • Encarregado do Setor de Contabilidade O Setor de Contabilidade está previsto em algumas OM, como, por exem- plo, na AMAN, e o seu chefe é o agente responsável pelos registros contá- beis referentes ao patrimônio. • Encarregado do Setor de Finanças O encarregado do Setor de Finanças tem a responsabilidade de informar ao fiscal administrativo, conforme determinado pela ICFEx, uma relação de todo o material permanente e de consumo pago pela UA. • Encarregado do Setor de Material O encarregado do Setor de Material é o responsável, em regra, pela execução das atividades de aquisição, alienação de material e de [con- tratação de serviços] de reparações do material da UA, bem como pela administração do material, a seu cargo, segundo a legislação em vigor, cabendo-lhe especificamente: Para se obter mais informa- ções sobre regulamentação ambiental do exército Brasilei- ro, consulte a Portaria nº 386, do Cmt ex, de 09 de junho de 2008 (iG 20-10), que versa sobre o Sistema de Gestão am- biental no Âmbito do exército Brasileiro (SiGaeB) e a Porta- ria nº 001-deC, de 26 de se- tembro de 2011 (iR 50-20), que regulamenta o SiGaeB. contratação de serviço: é a formalização da prestação de um determinado serviço, a ser pago em dinheiro. gestão de material e patrimônio - u1 41 - A contabilidade do material sob a sua gestão; - A elaboração de pedidos de aquisição de material e de prestação de serviços ao fiscal administrativo; - A prestação de informações ao fiscal administrativo periodicamen- te, conforme determinação da ICFEx, o movimento de entrada e de saída de material dos depósitos do almoxarifado; - A distribuição de material às seções e subunidades da UA, confor- me ordem do AD ou autorização do fiscal administrativo; - A identificação do material a ser distribuído pelo almoxarifado às seções e subunidades da UG; - O recebimento do material destinado à UG, adquirido diretamen- te no comércio ou fornecido pelos órgãos provedores ou de ma- nutenção, salvo os gêneros de subsistência, que serão recebidos pelo aprovisionador; - A manutenção atualizada de uma relação de todo o material dis- tribuído sem responsável direto e permanente; - O acondicionamento do material a ser remetido às seções e subuni- dades da UA ou a outra OM, confeccionando as respectivas guias; - A prestação de informação a respeito da matéria-prima consumi- da nos serviços executados nas oficinas. Os encargos de almoxarife são pertinentes aos gestores de quaisquer depósitos das UA, no que lhes for cabíveis. • Encarregado do Setor de Aprovisionamento O encarregado do Setor de Aprovisionamento é o responsável pela aquisi- ção de gêneros, alienação de material e contratação de serviços do setor, bem como pela administração de todo o material sob sua responsabilida- de, competindo-lhe o recebimento, estocagem e distribuição de gêneros alimentícios, receber todo o material destinado ao setor e controlar os gêneros existentes nos depósitos. Atualmente, cresce de importância a implementação de medidas visando a
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