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AULA 6 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Profª Patricia Carla Ferreira 2 CONVERSA INICIAL No decurso da disciplina foi apresentado o planejamento estratégico como importante ferramenta à gestão escolar. Nessa perspectiva, expusemos o processo de planejamento estratégico de modo geral, bem como a realidade singular da escola. Em qualquer campo da atividade humana, o planejamento é indispensável. Tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, há de se estabelecer prioridades e projetar ações. Isso, aliado a uma boa estratégia, contribui significativamente à obtenção de bons resultados. Evidentemente, o mesmo acontece com a gestão escolar. CONTEXTUALIZANDO Um planejamento estratégico bem elaborado, construído de forma participativa, pode cooperar com a melhoria da qualidade da educação. Isso porque o estabelecimento de uma estratégia favorece a conquista de bons resultados, ao explicitar o que se quer alcançar e definir o que fazer para atingir o objetivo traçado. Todavia, há desafios a serem superados. Várias são as organizações nas quais o planejamento estratégico não supera o status de um mero documento, jamais tendo configurado um trabalho de equipe. Evidentemente, não alcançou sua finalidade. Nesta aula, veremos alguns desafios a superar na implementação do planejamento estratégico nas escolas. TEMA 1 – O DESAFIO DA PARTICIPAÇÃO Cotidianamente nos deparamos com situações nas quais há pouca ou nenhuma interação: enquanto poucos falam e debatem, muitos apenas observam. Isso acontece nos mais diferentes grupos, e dentro das equipes de trabalho nas escolas não é diferente. Embora cada setor da escola possa ter projetos específicos – de acordo com as áreas de conhecimento ou as séries, por exemplo – o trabalho deve ser realizado coletivamente. Para tanto, todos devem ter o mesmo “norte”, caminhar na mesma direção. Nessa perspectiva, se não houver um planejamento bem formulado, o resultado pode ser trágico. A fim de evitar tal consequência, a elaboração de um planejamento estratégico participativo é uma possibilidade real. 3 A intenção do planejamento estratégico participativo é que toda a comunidade escolar se engaje, cooperando com a escolha do caminho a ser trilhado. Para tal, todos devem conhecer a realidade da escola. Isso os torna aptos a constatar os problemas e buscar as melhores opções para superá-los. A atitude inicial deve ser a de escuta. Todos os profissionais da escola têm algo a dizer, certamente. O relato da experiência e da expectativa de cada um é muito importante, pois a participação deve ser ativa e, portanto, estimulada. Com a participação de todos em todas as etapas, a efetivação do planejamento estratégico terá maior possibilidade de sucesso, afinal, ao se sentir parte significativa do processo há maior motivação para realizar, maior envolvimento e menor necessidade de controle. Uma boa gestão exige cooperação, parceria entre a equipe gestora e a comunidade escolar, tanto interna quanto externa. Por essa razão, a equipe gestora deve estabelecer uma relação pautada na escuta, aceita de sugestões e acolhida da diversidade, a fim de construir com a equipe um trabalho colaborativo. TEMA 2 – O DESAFIO DA IMPLEMENTAÇÃO NAS ESCOLAS PÚBLICAS No início da década de 1980, o planejamento estratégico foi deveras criticado por gestores devido aos resultados por ele apresentados. Diante da grave crise financeira instalada mundialmente, em virtude da oscilação dos preços do petróleo, o planejamento estratégico mostrou ser uma ferramenta incapaz de predizer as variações de mercado, sendo enjeitado pelos gestores de grande parte das organizações nas quais era empregado, que voltaram suas gestões aos novos modelos que estavam em alta, como os programas de qualidade total. Ante esse cenário, no final da década de 1980 e início da década de 1990, o planejamento estratégico foi revisado, passando a conferir maior ênfase à estratégia e redefinindo processos. É a partir dessas mudanças que o planejamento estratégico passou a ser aplicado em instituições públicas, inspiradas nos resultados positivos obtidos pelas organizações privadas, no movimento da nova gestão pública. No Brasil, o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado implementado pelo então ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, em 1995, teve papel significativo na adoção de modelos gerenciais pautados na gestão por resultados, na meritocracia, em instituições públicas. A intenção era constituir um aparelho de Estado que operasse com eficiência. 4 Logo, o modelo teve sua adoção incentivada, também para as instituições de ensino (escolas) públicas. Devido a esse início de implementação, ainda hoje encontramos certa resistência à sua utilização como ferramenta de gestão. Muitos professores (e gestores) nas escolas públicas reagem negativamente à utilização do planejamento estratégico, até mesmo negando-se a participar de sua implementação. Este é um desafio a ser superado. A gestão pública deve ser realizada com excelência, porquanto consiste em prestação de serviços à população. Essa afirmação contempla a gestão das escolas públicas. Em um cenário de muitas críticas à gestão das instituições públicas, há que se demonstrar a competência em seus resultados e, para isso, são aplicadas ferramentas usuais no setor privado, entre elas o planejamento estratégico. TEMA 3 – O DESAFIO DA RESISTÊNCIA À MUDANÇA Sabe-se que uma boa comunicação é condição primordial à implementação de qualquer processo, e com o planejamento estratégico não seria diferente. Contudo, mesmo com uma comunicação eficaz, é natural que as pessoas apresentem resistência à mudança. Essa resistência não implica, necessariamente, em descompromisso ou má vontade. Por vezes, está relacionada com características da personalidade e, nesse caso, não é passível de modificação pelo gestor. Todavia, os problemas decorrentes dessa resistência podem ser minimizados com algumas ações adotadas pelo gestor, tais como dedicar atenção individualizada àqueles que se mostrarem mais resistentes, buscando compreender sua dificuldade e auxiliar em sua superação; e permitir a livre expressão, sobretudo das pessoas mais resistentes, sobre a mudança a ser realizada e, assim, responder a seus anseios. São ações simples, mas que podem conduzir a grandes resultados. Isso em razão de essas ações responderem a duas variáveis que desencadeiam a resistência: o desconhecimento sobre a mudança (medo da novidade) e a forma como ela é feita (comando, gestão autoritária). Ao se aproximar das pessoas, o gestor transpõe tem a possibilidade de transpor as barreiras de comunicação. É possível superar a resistência com uma atitude não autoritária, de inclusão e acolhimento, com uma comunicação que deixe evidentes as causas e consequências benéficas da mudança (no caso, a adoção do planejamento estratégico) e com um bom planejamento de sua implementação. 5 TEMA 4 – O DESAFIO DA FALTA DE CAPACITAÇÃO DA EQUIPE GESTORA Um fator muito importante para o sucesso do planejamento estratégico é o suporte da equipe gestora. Se o processo de implementação não contar com um bom suporte da equipe gestora, os esforços serão inúteis. Fato é que muitos gestores de escola não são habilitados à gestão, menos ainda à gestão estratégica, e requerem formação e aperfeiçoamento para o exercício da função. É crucial que essa equipe se reúna e alinhe o processo antes de apresentá- lo, posto que os colaboradores (professores e demais) têm amplo domínio dos aspectos técnicos inerentes às suas funçõese a equipe que conduzirá o processo de implementação do planejamento estratégico deve dominar com segurança tudo o que envolve sua execução. A insuficiência de conhecimento por parte da equipe gestora pode fazer com que uma equipe extremamente capacitada esteja fadada a não alcançar seus objetivos. Não são em pequeno número os relatos de organizações que tinham boa posição no mercado irem à falência, devido à incompetência da equipe gerencial. O gestor tem a obrigação de conhecer os fluxos e processos inerentes à sua função, que incluem planejamento, organização, execução e controle. Só assim é capaz de exercer sua função com maestria. Saiba mais Você sabe como se dá o processo de escolha de diretores nas escolas públicas? Confira neste link: <https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2044/como- escolher-melhor-um-gestor-escolar>. TEMA 5 – O DESAFIO DO TRABALHO EM EQUIPE No processo de concretização de uma estratégia, equipes de trabalho atuam para desenvolver ações planejadas. Cada equipe tem sua estrutura própria, com integrantes singulares em suas características de formação e personalidade. Deve-se, então, buscar harmonia e uma boa relação de interação entre as diferentes equipes em prol de resultados satisfatórios, posto que integram um mesmo time, tendo objetivos comuns e devendo trabalhar cooperativamente. Não é possível desenvolver um bom trabalho se uma equipe ocultar informações, por exemplo. Assim, é determinante fomentar a integração entre todos os envolvidos, expondo o trabalho que se espera com clareza. 6 Um dos aspectos a se trabalhar é a confiança. A falta de confiança não é incomum no ambiente de trabalho, embora o estabelecimento de relações pautadas na confiança seja condição para o sucesso. Sem confiança não há motivação para a realização de tarefas, pois criam-se subgrupos e há proliferação de boatos. Em contrapartida, quando há confiança, a comunicação acontece de forma adequada, pequenos incidentes são relevados, as pessoas se unem em busca de objetivos. Assim sendo, é preciso criar entre as pessoas que integram a comunidade escolar um ambiente de confiança. Isso cabe à equipe gestora e é possível com uma comunicação fundada na honestidade e na clareza, com o estabelecimento de uma relação entre a equipe gestora e os demais pautada no respeito, no reconhecimento do trabalho realizado e na transparência. Outro aspecto a ser trabalhado é o temor aos embates. Ele pode ser consequência da falta de confiança, que faz com que a pessoa não se sinta à vontade para discordar. A atitude de evitar o embate, por medo de gerar conflito, pode diminuir o rendimento por gerar ansiedade e insatisfação. Embora o conflito contínuo seja negativo, alguns confrontos são oportunos, pois geram ideias novas e contribuem com a melhoria do trabalho. A falta de confiança e o temor aos embates podem contribuir, ainda, com a falta de engajamento, pois, afastado da tomada de decisões, o colaborador não se sentirá confortável para executar ações e “vestir a camisa”, suscitando ainda embaraço para assumir responsabilidades. O objetivo maior, que deve ser assumido coletivamente, fica debilitado. Promover o trabalho em equipe e bom seguimento é essencial à obtenção de resultados satisfatórios. E isso é mais uma das funções da equipe gestora. FINALIZANDO O cerne do trabalho da escola é o processo de ensino-aprendizagem e, portanto, a escola deve oferecer a melhor educação a seu público. Nesse sentido, precisa dispor de ferramentas de gestão que lhe assegure efetividade no processo educativo. A gestão escolar não é tarefa fácil, porquanto tem especificidades e engloba várias áreas além da acadêmica/pedagógica: administrativa, recursos humanos, financeira, comunicação, tempo. Nessa difícil tarefa, o gestor escolar conta com o planejamento estratégico como ferramenta para atingir suas metas, partindo de um diagnóstico específico e com ações desenvolvidas coletivamente em favor da boa qualidade da aprendizagem dos alunos. 7 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Planejamento. Plano diretor da reforma do aparelho do Estado. Brasília: MPOG, 1995. Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/documents/mare/planodiretor/planodiretor.pdf> Acesso em: 12 fev. 2019. CAVALCANTI, F. A. Planejamento estratégico participativo: concepção, implementação e controle de estratégias. São Paulo: Senac, 2008. LEBANI, R. R. Proposta de modelo de planejamento estratégico para instituições de ensino. São Paulo, 2012. Trabalho de formatura – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Disponível em <http://pro.poli.usp.br/trabalho-de-formatura/proposta-de-modelo-de- planejamento-estrategico-para-instituicoes-de-ensino/>. Acesso em: 12 fev. 2019. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão escolar: teoria e prática. 4. ed. Goiânia: Alternativa, 2001. LÜCK, H. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. PADILHA, R. P. Planejamento dialógico: como construir o Projeto Político Pedagógico da escola. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2001. PARENTE, J. Planejamento estratégico na educação. Brasília: Plano, 2001. PARO, V. H. Administração escolar: introdução à crítica. 5. ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991. SANT'ANNA, F. M. et al. Planejamento de ensino e avaliação. 11. ed. Porto Alegre: Sagra/DC Luzzatto, 1995. SAVIANI, D. Da nova LDB ao Fundeb: por uma outra política educacional. Campinas: Autores Associados, 2007. SILVA, D. P. da. Planejamento e gestão escolar: concepções e implicações. 2011. 101 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2011. 8 LEITURA COMPLEMENTAR BORGES, T. de M. D.; ARAÚJO, H. T. de.; SILVA, B. C. L. da C. Planejamento estratégico: estudo de caso em escola de ensino fundamental do município do Natal. XXX Encontro Nacional de Engenharia de Produção, São Carlos, SP. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2010_TN_STP_119_775_15934.pdf >. Acesso em: 12 fev. 2019. LÜCK, H. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. Disponível em: <http://uninter.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788532631213/pages /-1>. Acesso em: 12 fev. 2019. SALDANHA, M. A. da R.; NODARI, C. H.; SALVAGNI, J. O papel do diretor na perspectiva do planejamento estratégico de uma gestão escolar. Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/regae/article/viewFile/26054/pdf>. Acesso em: 12 fev. 2019.
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