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John Stuart Mill e a Escola Clássica de Economia

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HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO I
Aula 14
3.	A ESCOLA CLÁSSICA
3.5 John Stuart Mill
 
3.5.1 Introdução 
John Stuart Mill, filósofo e economista clássico inglês (1806-1873), autor de Princípios de Economia Política com Algumas de suas Aplicações à Filosofia Social, 1848, a mais abrangente síntese da teoria econômica até aquela data.
 Mill analisou principalmente as teses de Malthus e Ricardo. Abandonando o rigor doutrinário do laissez-faire, afirmava que deveria haver menor dependência das forças naturais e um maior grau de intervenção governamental deliberada para a resolução dos problemas econômicos. No que se referia à teoria do valor, procurou demonstrar como o preço era determinado pela igualdade entre demanda e oferta e como a demanda recíproca de produtos afetava os termos de intercâmbio entre os países. Lançou a idéia de elasticidade da demanda (expressão introduzida mais tarde por Marshall) para analisar possibilidades alternativas de comércio. Adotou a idéia de seu pai, o filósofo James Mill, de que a renda, por constituir um excedente (de acordo com Ricardo); deveria ser submetida à tributação. Princípios de Economia Política tornou-se imediatamente leitura obrigatória e fundamental em economia.
 Stuart Mill teve uma sólida formação clássica e foi profundamente influenciado por Ricardo e Bentham. Aderiu com algumas reservas à filosofia positivista de Comte, reforçando seu repúdio às construções metafísicas e a adesão ao tradicional empirismo inglês. Suas idéias libertárias e altruístas levaram-no a tentar conciliar teoricamente empirismo, determinismo, liberalismo e socialismo e, na ação prática, a defender o direito das mulheres ao voto e o direito dos sindicatos à greve. Previu que a possibilidade dos ganhos de escala estimularia uma progressiva concentração industrial, com um enfraquecimento da concorrência e elevação dos preços. Para contrabalançar esse poder dos grandes empresários, considerava benéfico o fortalecimento dos sindicatos e o recurso à greve.
Entre suas obras destacam-se ainda A System of Logic, 1843 (Um Sistema de Lógica); Essays on Some Unsettled Questions of Political Economy (Ensaios sobre Algumas Questões não Resolvidas de Economia Política, livro que escreveu aos 23 anos, mas que só foi publicado em 1844); e Da Liberdade, 1859. 
Teoria da produção, da repartição e o estado estacionário
 
John Stuart Mill ocupa uma lugar especial na história das doutrinas econômicas. Interessa ao historiador por se encontrar, na sua obra, a exposição mais clara e completa que se poderia desejar da Escola Clássica. E também por outra razão. De fato, não se limitou ele a dar apenas uma súmula perfeita das teorias clássicas. Fez mais: introduziu uma nova ordem de preocupações, qual seja a da busca da “justiça social”. A sua obra representa, assim a transição da Escola Clássica ao socialismo e ao intervencionismo.
Stuart Mill e a Escola Clássica
Stuart Mill apresentou, nos seus Princípios, um quadro geral bastante completo das teorias e doutrinas da Escola Clássica inglesa. A ordem e clareza de sua exposição, o seu estilo vigoroso, atraente e cheio de imagens, põem em relevo as idéias principais dos seus ilustres predecessores. Essas qualidades fizeram de seu livro a fonte onde iriam haurir os economistas que lhe sucederam a essência do pensamento clássico. Daí terem sido os seus Princípios o livro classicamente adotado nas universidades inglesas e através do qual se puseram várias gerações de estudantes, por mais de meio século, em contato com a Economia Política.
Limitar, todavia, a contribuição de Mill simplesmente a essa vulgarização da Escola Liberal inglesa seria, além de injusto, inexato. Caso a Mill coube desempenhar, em relação à Escola Clássica em geral, a tarefa executada por J. B. Say, quanto à “Riqueza das Nações”, enriqueceu também, como este último, a teoria clássica com importantes contribuições pessoais.
Mill não se contentou em elucidar a obra científica dos clássicos; aperfeiçoou-a e completou-a. Alguns exemplos o comprovam:
Retomou a “lei da oferta e da procura” – lei essencial do mecanismo econômico clássico – no ponto onde a deixaram seus predecessores, qual podia então ser assim resumida: o preço variaria na razão direta da procura e inversa da oferta. Mill, indicando ser falha essa formulação, substituiu a relação de causalidade – entre a oferta e a procura, de um lado, e os preços, de outro – pela “relação funcional”. Aprendeu Mill, portanto, com uma antecipação de cinqüenta anos, a noção de equilíbrio que serviria de fundamento ao desenvolvimento científico da moderna teoria dos preços.
À “teoria do valor” deu também a sua contribuição pessoal. Partindo dessa teoria, tal como fora elaborada por Smith e Ricardo, recusou-se, todavia, a dar exclusivamente o trabalho como base direta do valor. Deixou bem claro depender o “valor” de duas causas principais: a utilidade e a dificuldade de aquisição. A “utilidade” consistia, na teoria de Stuart Mill, tal como na concepção smithiana, expressa agora de maneira mais precisa, na aptidão de satisfazerem as coisas às nossas necessidades. Uma só tinha valor quando útil; essa utilidade, criando desejos, iria determinar o preço máximo que o comprador não haveria de ultrapassar. Quanto à “dificuldade de aquisição”, dependia esta da possibilidade ou impossibilidade de reprodução das coisas. A dificuldade de aquisição das coisas suscetíveis de reprodução – caso geral – era regulada pelo “preço de custo”. Caso houvesse que pagasse esse custo, haveria vendedores, em caso contrário, eles não surgiriam. Era o “preço de custo” que regulava o mercado.
Partindo Mill, assim, da teoria do valor trabalho, chegou a formular uma teoria bem mais simples e mais exata.
Um último exemplo para indicar a importância da sua contribuição à Escola Clássica: retomando a teoria da renda de Ricardo, esclareceu, conforme visto, um ponto que aquele deixara meio vago – a renda de monopólio. Mas, além disso, extraiu da teoria geral uma noção inteiramente nova: a de estado econômico estacionário. Acompanhando a explanação ricardiana, admitiu Mill acarretar a alta contínua da renda a redução do lucro, redução essa que, por sua vez, iria afrouxar a formação de capitais. Levando essa idéia ainda mais longe, deduziu provocar, em dado momento, essa tendência do lucro para a baixa – uma vez que o capital era gerador e fomentador da indústria –, uma interrupção na expansão da produção e, por via de conseqüência, também no crescimento da população. Cessaria, então, o progresso econômico, mantendo-se certo equilíbrio: seria o “estado estacionário”.
O “estado estacionário” de Stuart Mill, problema de atualidade
Essa noção de “estado estacionário” ganhou de novo, hoje, surpreendente atualidade. Assiste-se, com efeito, em numerosos meios, a uma condenação do crescimento econômico como finalidade e como ideal de vida, assim como à apologia do crescimento zero.
As dúvidas quanto aos benefícios de um crescimento econômico contínuo – para os países já economicamente desenvolvidos, claro – foram inicialmente exprimidas pelos estudantes da Universidade da Califórnia, em 1962. Este movimento de reputação à sociedade de abundância, chamada de “consumo”, se manifestou violentamente contra os povos ricos do Ocidente – que não vivem senão para adquirir, sempre e cada vez mais, carros, aparelhos de televisão, bens de consumo –, sociedade nas quais o objetivo da vida e os sucessos individual e coletivo parecem medidos pelas taxas de crescimento da economia.
Na Europa uma preocupação da mesma ordem se manifestou por ocasião das revoltas dos estudantes da Sorbona, em 1968. Foi retomada por certos intelectuais e se concretizou, com grandes repercussões, em fevereiro de 1972, num relatório elaborado pelo holandês Sicco Mansholt, alto funcionário da CEE, relatório endereçado ao presidente da mesma (Comunidade Econômica Européia – atualmente União Européia).Analisando e desenvolvendo os inconvenientes do crescimento econômico contínuo, Mansholt previu para a humanidade um situação catastrófica a partir do ano 2000.
Sem insistir sobre os elementos do problema assim colocado, observa-se que já há mais de um século Stuart Mill o havia formulado, com seu bom-senso de economista e filósofo. Neste sentido ele escrevia, “... também não posso ter, pelo estado estacionário dos capitais e da riqueza, aquela aversão sincera que se manifestou nos escritos dos economistas da velha Escola. Sou levado a crer que, em suma, ele seria preferível a nossa condição atual. Confesso que não estou encantado com o ideal de vida que nos apresentam aqueles que acreditam que o estado normal do homem seja o de lutar sem trégua para sobreviver, que esta confusão – em que um pisa no outro, se empurra, se esmaga –, que é o tipo de sociedade atual, seja o destino mais desejável para a humanidade, ao invés de ser simplesmente uma das fases desagradáveis do progresso industrial”.
E acrescentava: “Desnecessário recomendar a observação de que o estado estacionário da população e da riqueza não implica a imobilidade do progresso humano. Sobraria espaço, como jamais, para toda espécie de cultura moral e de progressos morais e sociais; outro tanto, para melhorar a arte de viver e mais probabilidades de vê-la melhorada quando as almas deixassem de ser tomadas pelo cuidado de adquirir riquezas. As próprias artes industriais poderiam ser cultivadas, tão seriamente e com o mesmo sucesso, com a única diferença de que, ao invés de só ter por objetivo a aquisição de riqueza, os aperfeiçoamentos atingiriam seu fim que é a diminuição do trabalho”.
Estas linhas proféticas merecem séria meditação. Convém seguir com a maior atenção as atuais discussões que se desenvolvem em torno dos inconvenientes apresentados pela busca a todo custo do crescimento contínuo.
Tais linha traduzem bem aquele cuidado com o “ser melhor”, o “viver melhor” que a gente sente, mais ou menos confusamente, não mais corresponder à única preocupação do crescimento quantitativo da riqueza.
Verifica-se, portanto, não ser possível classificar Stuart Mill como simples vulgarizador das idéias clássicas. E isso porque, se é verdade não haver ele ligado o seu nome a grandes teorias ou leis célebre, como o fizeram Smith, Malthus e Ricardo, certo é ter sabido aperfeiçoar os trabalhos de seus antecessores, não só quanto à forma, mas também quanto ao fundo: completou-os em muitos pontos, chegando mesmo, por vezes a sobrepujar os respectivos autores.
Stuart Mill e o socialismo
Stuart Mill foi, todavia, mais que um continuador da tradição clássica liberal. Em dado momento dela se afastou energicamente, aproximando-se de modo muito nítido das correntes de pensamento socialista e intervencionista.
Essa evolução se processou paralelamente, no plano filosófico e no econômico. Ao passar da filosofia utilitarista à filosofia de Auguste Comte e de Saint-Simon, passou do liberalismo ao intervencionismo e ao socialismo.
Enquanto construíram os clássicos ingleses uma ciência econômica sem levar em conta o problema social e suas conseqüências, Stuart Mill deixou-se dominar por essa preocupação. Incorporou à Economia Política clássica o interesse pela “justiça social”; revoltou-se ante as conseqüências a que fatalmente conduziam as leis dos economistas ingleses ao serem transportadas do plano teórico, sereno e indiferente, onde se entrincheiraram os seus antecessores, para o campo social, humano e apaixonado, onde não quiseram tomar conhecimento da sua existência.
E Stuart Mill, embora se conservando fiel à ciência clássica, buscou dar expansão às idéias que tinha sobre “justiça social”. Ao tentar realizar essa conciliação estabeleceu uma distinção radical entre os fenômenos da produção e os da repartição. Os primeiros continuam subordinados a leis naturais, cujo rígido determinismo não poderia ser modificado pelo homem. Os segundos são, ao contrário, regidos por leis contingentes, elaboradas pelos homens que, portanto, poderiam modificá-las. “A sociedade – escreveu ele – pode submeter a distribuição da riqueza a regras que lhe parecem melhores”.
Mill via nessa distinção “sua principal contribuição” à Economia Política. Ela lhe possibilitava conciliar suas tendências individualistas e intervencionistas; o apego à ordem de sua época, cuja preservação, ainda por algum tempo, acreditava de utilidade, e seus anseios por uma ordem melhor – comunismo – que aguardava para o futuro.
E oscilando entre duas tendências, passando continuamente de uma a outra sem poder decidir-se definitivamente por esta ou aquela, propôs ele, na primeira edição de seus Princípios e mais abertamente em cada uma das sucessivas edições, medidas de organização social.
Pleiteou, assim, a expansão da pequena propriedade agrícola. Esta instituição reforçava o individualismo e por esta razão lhe agradava. Mas facultava também a restrição do número de filhos (demonstrava-o o funcionamento desta instituição em certos países da Europa). Esta última conseqüência – aparecia Stuart Mill aqui como um neomalthusiano – agradava-lhe também como um meio de ação social.
Propunha, igualmente, o desenvolvimento de cooperativas de produção, inspirando-se em Robert Owen. A medida satisfazia ao seu pendor individualista: a propriedade privada era respeitada e mesmo fomentada, pois a cooperação transformava a classe obreira em capitalista. E atendia, também, à sua preocupação de justiça social: permitia suprimir o regime salarial e propiciava ao proletário justa remuneração ao seu trabalho e às suas economias. “As distinções de classe serão suprimidas, restando apenas as distinções devidas aos méritos pessoais”.
Essa necessidade de conciliar reformas sociais com a ciência clássica apareceria ainda nas restrições opostas por Stuart Mill ao direito de sucessão hereditária. G. Pirou citou, judiciosamente, o seguinte exemplo, para mostrar o esforço desenvolvido por Mill no sentido de satisfazer, a um tempo, suas preocupações humanitaristas e suas idéias científicas: como individualista, era favorável ao direito de sucessão hereditária. Todavia, esse instinto lhe parecia ao mesmo tempo contrário à “justiça social”, uma vez que o herdeiro recebia um bem sem trabalho e com isso se destroia a primitiva igualdade existente entre os homens.
Stuart Mill, tentou, então, conciliar esses pontos de vista opostos através do seguinte sistema: mantinha em toda a sua plenitude o direito de alienação dos bens particulares, mas estabelecia rígidos limites ao de sucessão “causa mortis”. O sistema era engenhoso – observou o professor Pirou. Pela manutenção do direito de alienação, satisfazia às legitimas exigências da personalidade humana. Pela limitação dos quinhões hereditários reduzia o inconveniente de se consagrar desde logo a desigualdade na concorrência econômica.
Por mais hábil e engenhoso que tenha sido Stuart Mill, evidente era assentar o seu desejo de conciliação sobre uma frágil base científica. O erro provinha da distinção por ele feita, de início, entre os fenômenos da produção e os da repartição. Ver, nos primeiros, fenômenos subordinados a leis imutáveis e, nos segundos, fenômenos tão-somente regidos por leis contingentes seria uma concepção de todo infundada.
Produção e repartição são fenômenos econômicos estritamente solidários, interdependentes, que não se prestam à divisão referida por Mill. O único interesse dessa divisão residia na idéia por ele tomada de empréstimo a Comte: a idéia de evolução, de progresso e, portanto, de relatividade.
Essa idéia de transformação, de evolução e, até certo ponto, de “dinâmica” – que de maneira tão feliz completou a estática econômica dos clássicos – acarretou conseqüências inexatas e estéreis, quando levou Mill a estabelecer aquela sua divisão arbitrária. Alcançou, em compensação, o seu integral valor, ao ser aproveitada nos estudos dos problemas de “Economia Aplicada”, como distintos dos de “Economia Pura”. Mas, paratal, far-se-ia mister ainda o decurso de um quarto de século de progresso e evolução da Economia Política.
Resumindo: a obra de Stuart Mill apresentou um duplo característico que interessaria à história das doutrinas:
surgiu e se situou no ponto divisório de duas grandes correntes do pensamento econômico;
a um tempo, constituiu a expressão última da ciência clássica e continha em si o germe das idéias que se lhe oporiam doravante.
E situou-se no momento exato em que duas correntes iriam chocar-se violentamente nos fatos e na doutrina: 1848 – ano da publicação dos Princípios – era, com efeito o ano das revoluções européias e do Manifesto Comunista, de Marx e Engels.

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