Buscar

Penal - Patrimônio, Propr Imaterial e Org Trabalho

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 79 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 79 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 79 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1. DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
DO FURTO
Da redação:
Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.
Consiste na subtração de coisa alheia móvel para si ou para outrem. Coisa móvel, para o direito penal, é todo e qualquer objeto passível de deslocamento, de remoção, apreensão, apossamento ou transporte de um lugar para outro. Os bens jurídicos tutelados são a posse e a propriedade de coisa móvel, mas também se admite a própria detenção como objeto da tutela penal, na medida em que usá-lo, portá-lo ou simplesmente retê-lo já representa um bem para o possuidor ou detentor da coisa.
Só pode ser objeto de furto, coisa móvel. O ser humano não pode ser objeto de furto, por não se tratar de uma coisa. A subtração de cadáver também não pode ser considerada como furto, pois este se caracteriza como crime contra o respeito aos mortos, entretanto, se o for propriedade de alguém, passando a ter valor econômico, pode ser objeto de furto. Também não podem ser objeto de furto as coisas que nunca tiveram dono, as coisas que foram abandonadas pelo proprietário ou as coisas de uso comum, que, embora de uso de todos, como o ar, a luz ou o calor do Sol, a água do mar e dos rios, não podem ser objeto de ocupação em sua totalidade ou in natura. Para ser objeto de furto, a coisa subtraída deve pertencer a alguém.
Quanto aos sujeitos, trata-se de crime comum. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, menos o proprietário, pois faltará a ele a elementar “alheia”, ou seja, ninguém pode furtar coisa própria. O possuidor também não pode ser sujeito ativo do crime, pois, se está de posse da coisa, não pode subtraí-la de outrem, podendo, no máximo, cometer o crime de apropriação indébita caso inverta a natureza da posse. O sujeito passivo pode ser o proprietário, o possuidor e até mesmo o detentor da coisa alheia móvel, desde que tenha algum interesse legítimo sobre a coisa subtraída. A condição “alheia” é elemento normativo indispensável à tipificação da subtração de coisa móvel; sua ausência torna a conduta atípica. Não há necessidade de identificar o proprietário ou possuidor. 
O tipo objetivo do crime de roubo é subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. O núcleo do tipo é o verbo subtrair, que significa tirar às escondidas. O crime não se caracteriza pela simples retirada da coisa de seu lugar, é necessário que haja ainda, a finalidade de dispor da coisa com animus definitivo. Equipara-se o furto de energia elétrica. A coisa precisa ser economicamente apreciável. O objeto material é a coisa subtraída. 
O autor levanta discussão a respeito do proprietário que subtrai coisa da qual não tem a posse. Magalhães Noronha traz como exemplo o penhor, quando alguém dá ao credor, em garantia de dívida, coisa móvel a título de penhor. Para Noronha, caso o devedor, sem condições para honrar a dívida, resolve subtrair sua coisa, estará cometendo furto. Nelson Hungria e Heleno Fragoso, ao contrário, admitem tratar-se de exercício arbitrário das próprias razões, mas não de furto, pois faltaria a elementar “alheia” à coisa. Já Bitencourt, discorda das duas correntes, afirmando que falta tipicidade a esta conduta, pois não caracteriza furto e nem exercício arbitrário das próprias razões, bem como, em nenhum outro tipo penal. Para ele, trata-se de uma lacuna desconhecida pelo legislador, e a reparação do dano pode ser feita por diversas outras formas, que não o Direito Penal, ao menos enquanto não tipificado. 
O tipo subjetivo é constituído pelo dolo, que é seu elemento subjetivo geral, e pelo especial fim de agir, que é seu elemento subjetivo especial. É indispensável que o dolo abranja todos os elementos constitutivos do tipo penal, sob pena de configurar-se o erro de tipo, já que não existe furto culposo. O agente deve saber que se trata de coisa alheia, se supuser ser o proprietário, não responderá, pois falta-lhe a consciência. Se o sujeito acreditar que sua ação é permitida, ou por qualquer outro motivo não tiver, portanto, o objetivo de apropriar-se da coisa, também não estará comento o crime de furto. Neste caso haverá a inversão do ônus da prova, tendo o agente que provar a real finalidade da subtração. 
A consumação do crime de furto acontece quando a coisa sai da posse da vítima, ingressando na do agente, por inversão ilícita. Apesar de tratar-se de crime material, a fase executória, não raro, é tão exígua que ação e consumação praticamente se confundem. Por se tratar de crime material, o furto admite tentativa, e esta se caracteriza quando a atividade executória é interrompida, no curso da execução, por causas estranhas à vontade do agente.
Quando aborda a majorante no furto durante o repouso noturno, a lei se refere ao período de recolhimento, aquele em que a população deve dormir, e varia de acordo com os hábitos da localidade em que o fato ocorreu. Para se configurar a majorante, o local deve ser habitado e o horário deve ser de repouso, pois são nessas circunstâncias que a vigilância é diminuída, facilitando a ação e a impunidade do agente. A majorante do repouso noturno é inaplicável às hipóteses de furto qualificado, podendo, contudo, ser considerada na dosimetria da pena, como circunstância do crime. 
O § 2º do art. 155 prevê a possibilidade de reduzir a sanção cominada para o crime de furto, quando se tratar de réu primário e de pequeno valor a coisa subtraída. Contrariando o entendimento majoritário, Bitencourt defende que esse benefício deve ser aplicado também ao furto qualificado, não apenas ao furto simples ou em repouso noturno, por se tratar apenas de uma causa de redução sobre um tipo qualificado. Para ele, não se deve dar preferência à qualificadora em detrimento da privilegiadora.
O parágrafo quarto traz a figura do furto qualificado que constitui um novo tipo penal, derivado, mas autônomos, com sanção mais grave e distinta da figura fundamental, o furto simples. A primeira hipótese de é quando ocorre com destruição ou rompimento de obstáculo. A violência empregada contra a coisa caracteriza a qualificadora do furto e deve ser empregada contra o obstáculo que dificulte a subtração, não contra a própria coisa. Para efeitos penais não se considera obstáculo aquilo que integra a própria coisa. Na segunda hipótese, o crime é cometido com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza. Para caracterizar a qualificadora é necessário que haja abuso da confiança depositada pelo ofendido, que a coisa se encontre, em razão dessa confiança, na esfera de disponibilidade do agente, e ainda que o agente tenha consciência de que pratica o crime abusando da relação de confiança que mantém com a vítima. Fraude é a utilização de artifício para ludibriar a confiança existente em uma relação interpessoal, destinada a induzir ou a manter alguém em erro, com a finalidade de atingir o objetivo criminoso. Basta que seja idônea para desviar a atenção do dono, proprietário ou simples “vigilante” da disponibilidade e segurança da res. Para o Direito Penal, escalada é a penetração no local do furto por meio anormal, artificial ou impróprio,que demanda esforço incomum. O fundamento dessa qualificadora é punir mais gravemente aquele que, mesmo sem usar violência, mas com habilidade ou grande esforço, vence obstáculos efetivamente defensivos da res. O furto praticado com destreza significa especial habilidade capaz de impedir que a vítima perceba a subtração realizada em sua presença, tendo como exemplo a figura do batedor de carteira. Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fechaduras, tendo ou não formato de chave. Também aplica-se qualificadora se o crime ocorre mediante concurso de duas ou mais pessoas. Nessa circunstância deve haver participação efetiva de mais de uma pessoa na fase executória e é irrelevante que uma delas seja inimputável. O objetivo da qualificadora, é impedir o maior enfraquecimento da defesa da vítima. No parágrafo 5º, tem-se a figura qualificada de furto de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Só se aplica a qualificadora se o veículo ultrapassar os limites territoriais do estado-membro, pois esta é elementar do tipo. Não há previsão de pena de multa para essa hipótese. 
O Código Penal brasileiro não pune o furto de uso, que se caracteriza pela subtração indevida de coisa alheia infungível para utilização momentânea, sem animus definitivo, e com restituição integral ao sujeito passivo. Para adequar-se à descrição típica do crime de furto é insuficiente que o agente pretenda apenas usar momentaneamente a coisa alheia, é necessário que se tenha a intenção de apoderar-se em definitivo. Para se reconhecer o furto de uso é necessário que haja devolução rápida da coisa alheia, restituição integral e sem dano, devolução antes que a vítima constate a subtração e o fim exclusivo de uso. 
Com relação ao furto, equipara-se a energia à coisa móvel. Entretanto, nem todo uso indevido de energia elétrica vem a se adequar à conduta tipificada como furto. Bitencourt diferencia o desvio de energia antes e depois de chegar ao marcador. Para ele, se a energia é desviada antes de passar pela contagem, trata-se de furto de coisa móvel, mas se o desvio ocorre após a contagem equívoca, provocada por fraude do agente, trata-se, então de estelionato. 
	
	Classificação doutrinária:
Material;
Comum;
Instantâneo; 
Permanente;
De forma livre;
De dano;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente;
Comissivo;
Doloso.
1.1.1 Furto de Coisa Comum
Da redação:
Furto de coisa comum 
Art. 156 - Subtrair o condômino, coerdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
	Consiste em uma modalidade especial do crime de furto e distingue-se deste pela especial relação existente entre os sujeitos ativo e passivo e pelo objeto da subtração, que deve ser comum a ambos os sujeitos. Ou seja, a coisa pertence, simultaneamente, aos sujeitos ativo e passivo. O Bem jurídico tutelado são a posse e a propriedade da coisa comum. 
	Trata-se de crime próprio, pois o sujeito ativo somente pode ser o condômino, coerdeiro ou sócio da coisa comum. Essa condição do agente é elementar do tipo e inclui coautores e partícipes. Assim como o sujeito ativo, o sujeito passivo também só pode ser o condômino, coerdeiro, sócio ou qualquer outro possuidor legítimo. Se a subtração for contra possuidor ilegítimo, trata-se de furto simples. 
	O tipo objetivo desse crime é subtrair, assim como no furto comum, a diferença é que nesse caso objeto subtraído é comum, e não alheio. O objeto material do crime é a coisa móvel subtraída. Assim como no furto e no roubo, coisa imóvel não pode ser objeto desse crime. Se a coisa for fungível, ou seja, puder ser substituída por outra coisa de mesma espécie, quantidade e qualidade, a subtração será impunível, desde que não exceda o valor da quota do agente. Tratando-se, porém, de coisa infungível, mesmo que o valor da coisa subtraída não supere o da quota individual, o agente responderá por furto de coisa comum. 
	Cada sócio, herdeiro ou condômino tem seu direito limitado pelo direito dos demais; logo, subtraindo a coisa pertencente a ambos, lesa o direito dos outros. 
	Há divergência doutrinária quando se trata de sócio que furta a pessoa jurídica da sociedade. Parte da doutrina acredita se tratar de furto simples, pois o patrimônio não pertence diretamente aos sócios, mas sim exclusivamente à jurídica da qual eles são sócios. 
	O tipo subjetivo desse crime é constituído pelo dolo, que é seu elemento subjetivo geral, e pelo especial fim de agir, que é seu elemento subjetivo especial. O dolo é a vontade consciente de subtrair a coisa comum. O fim especial de agir é representado pelo fim especial de apoderar-se da coisa subtraída, para si ou para outrem. É indispensável que o agente saiba se tratar de coisa comum.
 
	O crime de furto comum se consuma com a retirada da coisa da esfera de disponibilidade da vítima (coproprietária ou copossuidora), assegurando-se a posse tranquila, ainda que passageira, por parte do agente. Como crime material, admite tentativa. Quando a atividade for interrompida, no curso da execução, por causas estranhas à vontade do agente, configura-se a tentativa. 
	A pena cominada ao furto de coisa comum é alternativa: de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. A natureza da ação penal é pública condicionada à representação do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo.
	Classificação doutrinária:
Material;
Próprio;
De forma livre;
Comissivo;
Instantâneo; 
De dano;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente;
1.2. DO ROUBO E DA EXTORSÃO
1.2.1 Roubo
Da redação:
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; 
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. 
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.
Consiste na subtração de coisa alheia, para si ou para outrem, utilizando-se de grave ameaça ou violência. Trata-se de crime complexo, pois tem como elementares constitutivas a descrição de fatos que, isoladamente, constituem crimes distintos; protege o patrimônio e a liberdade individual e a integridade física que são simultaneamente atingidos pela ação incriminada. 
	Quanto aos sujeitos, trata-se de crime comum. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, exceto o proprietário, por faltar-lhe a elementar “alheia”. O sujeito passivo, assim como no furto, também pode ser o proprietário, o possuidor e, eventualmente, o mero detentor da coisa, ou até mesmo terceiro que sofra a violência. O sujeito passivo da violência ou da ameaça pode ser diverso do sujeito passivo da subtração; caso a violência seja empregada não contra o proprietário ou possuidor da coisa alheia, mas contra terceiro haverá dois sujeitos passivos: um em relação ao patrimônio e outro em relação à violência, ambos são vítimas de roubo, contudo, dividir a ação criminosa continua única.
	O elemento objetivo do roubo é,assim como no furto, subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel, mas neste caso com o acréscimo do uso de violência ou grave ameaça, que são elementares do tipo. O núcleo do tipo é o verbo subtrair. No furto qualificado também ocorre a violência, a diferença entre um e outro está no fato de a violência, no roubo, ser contra a pessoa e no furto qualificado, contra a coisa. A violência poderá ser imediata, quando empregada diretamente contra o próprio ofendido, e mediata, quando utilizada contra terceiro ou coisa a que a vítima esteja diretamente vinculada. No caso da grave ameaça, não importa a sinceridade da mesma, basta que a vítima se sinta amedrontada e, em consequência, fique impossibilitada de reagir à ação criminosa.
	Para Bitencourt, violência para garantir a fuga não tipifica o crime de roubo. Caso o agente, ao tentar subtrair o objeto, seja surpreendido e empreenda fuga sem a coisa, mas use de violência para tanto, não estará ele cometendo roubo, mas sim tentativa de furto e crime contra a pessoa. O autor diferencia o ato de empregar violência para não ser preso pela tentativa de furto, após desistir da res furtiva, do ato de utilizar a violência objetivando fugir com a coisa.
	Há duas espécies de roubo, o próprio e o impróprio. No roubo próprio, a violência ou grave ameaça é empregada contra pessoa, antes ou durante a ação para subtração da coisa. No roubo impróprio a violência ou grave ameaça são empregadas logo depois da subtração para garantir a impunidade do crime ou a detenção da coisa. 
	Por se tratar de crime complexo, o crime de roubo tem mais de um objeto material, no caso, a pessoa humana e a coisa alheia móvel. O tipo subjetivo do crime de roubo é constituído pelo dolo, que e o elemento subjetivo geral, e pelo especial fim de agir, que é seu elemento subjetivo especial. O dolo é a vontade consciente de subtrair coisa alheia. É necessário que o agente saiba que se trata de coisa alheia. O dolo deve abranger todos os elementos constitutivos do tipo, para que não se caracterize como erro de tipo. No elemento subjetivo especial do tipo, o agente deve ter como objetivo apoderar-se da coisa subtraída, para si ou para outrem. A ausência da finalidade de se apropriar da coisa, descaracteriza o crime, devendo então, o agente provar que a finalidade da subtração era outra e não a de apoderar-se da coisa, para si ou para outrem.
	Há cinco hipóteses de majorantes no crime de roubo. Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma, tem-se uma causa de aumento de pena. Neste caso o autor traz a discussão a respeito da necessidade ou não do uso efetivo da arma. Para Bitencourt, é imprescindível que o instrumento seja utilizado para praticar a violência ou ameaça. Ao contrário dele, Luiz Regis Prado afirma que é necessário apenas que o agente porte a arma ostensivamente, de modo a ameaçar a vítima. Caso o agente porte arma de brinquedo, descarregada ou simplesmente à mostra, não se aplica a majorante, pois seu fundamento está maior probabilidade de dano que o emprego de arma representa e não no temor da vítima. 
	Outra hipótese de majorante é o concurso de duas ou mais pessoas na prática do crime, ainda que uma delas seja inimputável. Aumenta-se também a pena quando a vítima encontra-se e em serviço de transporte de valores e o agente sabe dessa condição. A majorante só incide caso esteja a vítima a serviço de outrem, caso o transportador seja o próprio dono dos valores, não se caracteriza causa de aumento. Também é causa de aumento de pena o roubo de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior. Há majorante quando agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. Entretanto, essa situação deve ser analisada com cautela, pois pode tipificar o crime de sequestro. Portanto, quando o a manutenção da vítima em poder do agente for praticada concomitantemente com o roubo de veículo automotor ou, pelo menos, como meio de execução do roubo ou como garantia contra ação policial, estará configurada a majorante aqui prevista. 
	Está previsto no crime de roubo a incidência de uma qualificadora, se da violência resultar lesão corporal grave ou morte. Incide a qualificadora como aumento da punibilidade em decorrência da efetiva maior gravidade do resultado. Se o resultado da ação for a morte da vítima, tem-se então o crime conhecido como latrocínio (o Código Penal não utiliza essa terminologia), crime hediondo. 
	A consumação do crime de roubo se dá com a posse da coisa subtraída mediante violência ou grave ameaça, independentemente de sua posse mansa e pacífica. Sendo o roubo crime complexo, sua consumação somente se opera quando plenamente realizadas as infrações penais que o integram, isto é, tanto a violência ou grave ameaça à pessoa quanto a subtração patrimonial. Caso contrário, haverá apenas tentativa de roubo próprio, quando o agente, por exemplo, após praticada a violência contra a vítima, é imediatamente perseguido, preso e a coisa é recuperada pela vítima, pois o agente não tem, em nenhum momento, a posse tranquila da res.
	A ação penal no crime de roubo é, em qualquer hipótese, de natureza pública incondicionada. A competência para julgar o crime de latrocínio, a despeito de um dos crimes-membros ser contra a vida, é do juiz singular. 
	
	Classificação doutrinária: 
Material;
Comum;
De forma livre;
Complexo;
Comissivo;
Instantâneo; 
De dano;
Doloso;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente.
1.2.2 Extorsão
Da redação:
Extorsão
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. 
§ 3o  Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
	
	Consiste no ato de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa. Os bens jurídicos protegidos são a liberdade individual, o patrimônio e a integridade física e psíquica do ser humano. Assim como o roubo, trata-se de crime complexo. A extorsão guarda grande semelhança com o crime de roubo, dificultando a definição, in concreto, se determinado fato pode ser classificado como roubo ou como extorsão. Não apenas o modus operandi de ambos é assemelhado, mas também os bens jurídicos tutelados.
	Com relação aos sujeitos, trata-se de crime comum, pois não exige qualquer condição especial. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo ou passivo no crime de extorsão. O sujeito passivo pode ser, inclusive, quem sofre o constrangimento sem lesão patrimonial. O sujeito passivo da violência ou da ameaça pode ser diverso do sujeito passivo da perda patrimonial; assim, pode ser que a violência recaia sobre uma pessoa e que outra sofra a perda patrimonial. Nessa hipótese, haverá dois sujeitos passivos: um em relação ao patrimônio e outro em relação à violência, ambos vítimas de extorsão. Pessoa jurídica pode ser vítima do crime de extorsão, através de seus representantes legais. 
	O núcleo do tipo objetivo nesse crime é o verbo constranger. Para caracterizar extorsão, o constrangimento deve ser mediante violência ou grave ameaça que são elementares do tipo. O elemento subjetivo especial do tipo é a finalidade do constrangimento, na extorsão, é obter indevida vantagem econômica, para si ou para outrem. A violência empregada ter idoneidade suficientepara determinar ao sujeito passivo a necessidade de fazer ou não fazer a ação desejada pelo agente. Entretanto, o meio utilizado mais frequentemente na prática do crime de extorsão é a grave ameaça. Deve-se ter cuidado para não confundir a grave ameaça (meio de execução) com o crime de ameaça (art. 147), pois neste o mal deve ser injusto, enquanto naquele, é indiferente que o mal seja justo ou injusto.
	Para caracterizar extorsão, a vantagem pretendida deve ser econômica, caso contrário, poderá tipificar outra infração penal e até mesmo infração alguma. A tipificação do crime de extorsão pretende proteger o patrimônio como um todo e não apenas a posse ou propriedade da coisa móvel, como no furto e no roubo. A exigência da vantagem não precisa, necessariamente, ser explícita, pode ser apenas insinuada, desde que praticada com violência ou grave ameaça. 
	O tipo subjetivo no crime de extorsão é constituído pelo dolo, que consiste na vontade consciente de usar da violência para constranger alguém a fazer, tolerar ou deixar de fazer algo. A finalidade de obter vantagem econômica constitui apenas, uma intenção adicional e vai além da realização do tipo, não sendo necessária para realização da ação. O elemento subjetivo geral, o dolo, é acrescido pelo especial que é o objetivo de vantagem econômica. 
	Aumenta-se a pena nesse crime caso seja cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma. Para caracterizar a majorante é necessária a participação efetiva de duas ou mais pessoas na execução material do fato, mesmo que uma delas seja inimputável. No emprego de arma é indispensável que esta seja empregada efetivamente, não bastando apenas portá-la, pois configuraria apenas grave ameaça. 
	Nos parágrafos 2 e 3 do art. 158 há, ainda, o emprego de figura qualificada, quando a extorsão for praticada mediante violência, restrição de liberdade da vítima ou dela resultar lesão grave ou morte. Quando praticada com violência a pena é a mesma aplicada no parágrafo 3º do art. 157; sua maior punibilidade se dá devido a maior gravidade do resultado. A extorsão qualificada pela morte é classificada como crime hediondo.
	A figura do “sequestro-relâmpago” traz conflitos doutrinários e legais. Havia grande divergência com relação à correta tipificação dessa “nova” e frequente conduta endêmica nas grandes cidades; o novo texto legal pôs fim a isso. Legalmente, está tipificado como uma modalidade de extorsão especial, acrescentada na figura qualificada do parágrafo terceiro do art. 158. Para Bitencourt, entretanto, trata-se este de um crime muito mais grave, devendo ser emoldurado legalmente como extorsão mediante sequestro, art. 159 do Código Penal. Se do “sequestro-relâmpago” resultar lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas para os casos de extorsão mediante sequestro que atinjam os mesmos resultados. 
	Consuma-se a extorsão com o comportamento da vítima, movido, sob ameaça do agente, desde que este aja com finalidade de obter vantagem econômica indevida. Para a consumação não é necessária a efetiva obtenção de vantagem patrimonial, pois a extorsão se consuma quando a vítima é constrangida a fazer, omitir ou tolerar que se faça. A obtenção de vantagem patrimonial representará apenas o exaurimento da extorsão já consumada. A extorsão se consuma no momento em que a vítima faz, deixa de fazer ou tolera que se faça alguma coisa. A extorsão admite tentativa, e esta se caracteriza pela não submissão da vítima à vontade do agente. 
	Classificação doutrinária: 
Comum;
Formal;
De forma livre;
Comissivo;
Instantâneo; 
De dano;
Doloso;
Unissubjetivo;
 Plurissubsistente;
1.2.3 Extorsão Mediante Sequestro
Da redação:
Extorsão mediante sequestro
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.
§ 1º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
 § 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.
	Consiste em sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem como condição ou resgate. É a modalidade de extorsão que apresenta maior gravidade. Os bens jurídicos tutelados na criminalização da extorsão são a liberdade individual, o patrimônio, e a integridade física e psíquica do ser humano. Trata-se de crime complexo, assim como o roubo e a extorsão, pois reúne mais de um crime no seu tipo penal. 
	Caracteriza-se como crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa, sem qualidade especial. O sujeito passivo desse crime também pode ser qualquer pessoa, inclusive quem sofre o constrangimento sem lesão patrimonial. Portanto, a vítima do sequestro pode ser diversa da pessoa que sofre a lesão patrimonial. A pessoa jurídica não pode ser sequestrada, mas pode ser sujeito passivo visto que pode ser constrangida ao pagamento do resgate. 
	Extorsão mediante sequestro é trata de uma modalidade especial do crime de extorsão. É a extorsão qualificada pelo caráter especial do fato constitutivo da violência ou do meio empregado para tornar premente ou eficaz a ameaça. Neste caso a extorsão não tem como lastro o constrangimento ilegal, mas o sequestro da pessoa. A conduta tipificada é sequestrar, ou seja, retirar alguém de circulação, privando-o de sua liberdade. A finalidade do sequestro é alcançar vantagem como contrapartida da liberação do sequestrado. 
	
O elemento subjetivo geral do tipo é o dolo, representado pela vontade consciente de sequestrar alguém. Como em todos os crimes, na extorsão mediante sequestro a vontade e a consciência do agente devem abranger todos os elementos constitutivos do crime, sob pena de afastar-se a adequação típica. O elemento subjetivo especial é constituído pelo fim especial de obter qualquer vantagem, para si ou para outrem, como preço ou condição do resgate. Essa finalidade especial é o que difere este, do crime de sequestro. O elemento subjetivo pode surgir mesmo após o agente ter sequestrado a vítima; basta que passe a exigir alguma vantagem. 
	
Há previsão de figuras qualificadas para o crime de extorsão mediante sequestro em determinadas circunstâncias. Se o sequestro dura mais de vinte e quatro horas, qualifica-se o crime devido a maior gravidade, proporcional a sua duração. Quanto mais longa a privação de liberdade, mas danosa é a mesma. Se o sequestrado é menor de dezoito ou maior de sessenta anos. Neste caso, qualifica-se o crime, devido a maior protetividade dirigida a pessoas nessas faixas etárias. Os filhos, especialmente os menores, são os bens mais valiosos de qualquer ser humano, fato que os deixa extremamente vulneráveis. Se o crime é cometido por bando ou quadrilha a gravidade do injusto aumentada pelo acentuado desvalor da ação e do resultado. Para caracterizar quadrilha ou bando é necessária a reunião de mais de três pessoas com a consciência e vontade dos agentes de organizarem-se em bando ou quadrilha com o fim de praticar crime. Não se pode, entretanto, confundir quadrilha com concurso de pessoas. Se resulta em lesão corporal grave, independente de o resultado ser voluntário ou involuntário, decorrendo, ao menos de culpa. A morte da vítima é a qualificadora máxima nesse crime, devido ao desvalor da ação. Assim como na lesão grave, a morte pode resultar em outra pessoa que não a sequestrada. O resultado morte pode ser, indiferentemente, produto de dolo, culpa ou preterdolo. A extorsão mediante sequestro é definida como crime hediondo.
	O parágrafo quarto do art. 159 traz a figura dadelação premiada, que consiste na redução da pena para o delinquente que delatar seus comparsas, concedida pelo juiz na sentença final condenatória, desde que satisfeitos os requisitos que a lei estabelece. Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do sequestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. 
	Consuma-se esta infração penal com o sequestro da vítima, isto é, com a privação de sua liberdade, mesmo antes do pedido de resgate. A consumação não exige que a vantagem econômica seja alcançada, basta que a pessoa seja privada de sua liberdade e que a intenção de conseguir vantagem econômica seja externada. Trata-se de crime permanente e sua consumação se opera no local em que ocorre o sequestro. 
	Classificação doutrinária: 
Comum;
Formal;
De forma livre;
Comissivo;
Permanente;
De dano;
Doloso;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente. 
1.2.4 Extorsão Indireta
Da redação:
Extorsão indireta
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
	Conforme Bitencourt, este crime pode ser praticado, normalmente, por agiotas, embora para sua configuração não seja indispensável a existência de usura. É suficiente, em princípio, que o sujeito ativo procure garantir-se, exigindo do devedor documento que possa dar causa a processo criminal contra si ou contra terceiro. Tipificando essa ação, o legislador objetiva impedir que credores inescrupulosos aproveitem-se da necessidade dos credores para extorquir-lhes compromissos documentais idôneos para, havendo inadimplemento, instaurar procedimento criminal contra o devedor ou terceira pessoa. 
	Os bens jurídicos tutelados são o patrimônio, principalmente, e a liberdade individual, secundariamente, do sujeito passivo. Trata-se de crime comum, não exigindo qualquer qualidade especial do sujeito. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, mesmo não sendo agiota, que para garantir um crédito abuse da situação de outrem, exigindo documento que possa resultar em procedimento criminal. O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa, desde que devedor, afinal, há uma relação de débito e crédito. Assim como nas outras formas de extorsão, é possível a existência de pluralidade de vítimas. A ação pode ser contra o devedor, mas o documento exigido pode incriminar terceiro. 
	O tipo objetivo desse crime é a ação de exigir ou receber documento que possa dar causa a procedimento criminal, contra a vítima ou contra terceiro. A lei equipara exigência e recebimento, tipificando crime de conteúdo variado. Para configurar esse tipo penal é necessário que haja a exigência ou recebimento de documento que possa dar causa a processo penal contra a vítima ou terceiro, existência de relação creditícia e abuso da situação de necessidade do sujeito passivo. É irrelevante que se trate de dívida existente ou se refira a dívida futura, assim como não importa se a dívida é legítima ou não, pois a ilicitude está na garantia exigida e não no crédito. A lei protege a vulnerabilidade da vítima, da qual se aproveita o agente. 
	O documento dado em garantia deve conter conteúdo criminalmente comprometedor, capaz de dar margem a procedimento criminal. Objetiva-se proteger a vítima contra chantagem. É indiferente se o documento contém uma confissão ou a delação de outrem. Também não importa se o fato imputado no documento ou não, mesmo que a vítima tenha realmente cometido o crime do qual confessa, caracteriza-se o crime de extorsão indireta. O recebimento de cheque sem fundos não caracteriza extorsão indireta.
	O tipo subjetivo desse crime é o dolo, que é representado pela vontade consciente de exigir ou receber documento como garantia de dívida, abusando da situação de alguém. O agente deve ter consciência da necessidade ou aflição da vítima e que o documento pode dar causa a procedimento criminal. O elemento subjetivo especial do tipo é constituído pelo fim especial de agir, caracterizado pela intenção de garantir, abusivamente, dívida existente ou futura.
	Na modalidade de exigir é impossível, teoricamente, a tentativa, por se tratar de crime formal. Nesta hipótese, independente de conseguir o pretendido, o crime se consuma, bastando apenas a simples exigência. Na forma de receber, crime material, consuma-se com o efetivo recebimento, que pode ser interrompido, admitindo-se, então, a tentativa, se for impedido por causa estranha à vontade do agente. 
	Classificação doutrinária:
Próprio;
Formal;
De forma vinculada;
Comissivo;
Instantâneo; 
De dano;
Doloso;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente. 
 
1.3 DA USURPAÇÃO
	A alteração de limites, usurpação de águas e o esbulho possessório são infrações penais que têm como finalidade a proteção do patrimônio de natureza imóvel. 
1.3.1 Alteração de limites
	Da redação: 
Alteração de limites
Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
	Para configurar o crime é necessário que exista a conduta de suprimir ou deslocar tapume, marco ou qualquer outro sinal que indique uma linha divisória e também a finalidade de apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia. Importante salientar que “suprimir” é utilizado no sentido de eliminar, acabar, fazer desaparecer, ou seja, destruir tapume, marco ou qualquer sinal da linha divisória. Já “deslocar” deve ser compreendido no sentido de que o tapume, marco ou outro sinal da linha divisória foi removido, afastado para um lugar diferente daquele de origem com a intenção do agente de apropriar-se, total ou parcialmente, de coisa imóvel alheia.
	Nélson Hugria distingue tapume e marco, onde tapume é toda cerca ou muro destinado a assinalar o limite entre dois ou mais imóveis. Marco é definido como toda coisa corpórea que, artificial ou naturalmente, foi colocada em pontos da linha divisória de imóveis.
	Para a consumação do crime se faz necessário que o agente atue com a finalidade especial de apropriação, caso não exista essa motivação a configuração do tipo penal será, por exemplo, dano ou até mesmo furto. 
	Classificação doutrinária: 
Próprio;
Doloso;
Formal;
De dano;
Comissivo, podendo ser omissivo impróprio;
De forma vinculada;
Instantâneo;
Monossubjetivo;
Plurissubsistente;
Não transeunte;
A pena cominada é a detenção de um a seis meses e multa. A ação penal é pública incondicionada. Entretanto, se for uma propriedade particular e não existindo violência, a ação penal será de exclusiva iniciativa privada.
1.3.2 Usurpação de águas
	
	Da redação:
Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias;
	Desviar deve ser entendido como modificar o curso normal, natural das águas e represar significa reter, ou seja, interromper o curso, impedindo-o de fluir naturalmente. A conduta deve ser praticada com intuito de trazer proveito para o próprio agente ou para terceiro.
	O crime é consumado no momento em que o agente efetua o desvio ou o represamento, mesmo que não obtenha o proveito desejado, tratando assim de crime formal. 
	Classificação doutrinária: 
Comum;
Doloso;
Comissivo, podendo ser omissivo impróprio;
De dano;
Formal;
De forma livre;
Instantâneo;
Monossubjetivo;
Plurissubsistente;
Admite tentativa
Não transeunte;
A pena cominada é a detenção de um a seis meses e multa. A ação penal é pública incondicionada. Caso exista emprego de violência, haverá concurso material. A Ação penal é pública incondicionada. Contudo, se for uma propriedade particular e sem emprego de violência, a ação penal será de exclusiva iniciativa privada.
1.3.3 Esbulho possessório
Da redação: 
Esbulho possessório
II - invade, com violênciaa pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
	Invadir é utilizado no texto com o sentido de ingresso não autorizado em terreno ou prédio alheio mediante o emprego de violência ou grave ameaça. Ou seja, se a invasão acontece sem o conhecimento do proprietário e sem emprego de violência, o fato somente se caracterizará em esbulho mediante o concurso de mais de duas pessoas. Para Hugria, para caracterizar o crime, o fim do agente deve ser o de ocupação do terreno ou edifício alheio. Caso seja uma invasão pacífica, será um fato atípico.
	O objeto jurídico é o patrimônio, a incolumidade física e a liberdade individual. Esbulhar é privar alguém de alguma coisa, indevidamente, valendo-se de fraude ou violência. A consumação do crime se dá quando ocorre a invasão, independente de conseguir a inversão de posse.
Classificação doutrinária: 
Comum;
Formal;
De forma livre;
Doloso;
Comissivo, podendo ser omissivo impróprio;
De dano;
Instantâneo;
Monossubjetivo ou plurissubjetivo;
Plurissubsistente;
Admite tentativa
Não transeunte;
A pena cominada é a detenção de um a seis meses e multa. A ação penal é pública incondicionada. Caso exista emprego de violência, haverá concurso material. A Ação penal é pública incondicionada. Contudo, se for uma propriedade particular e sem emprego de violência, a ação penal será de exclusiva iniciativa privada.
1.3.4 Supressão ou alteração de marca em animais
	Da redação:
Supressão ou alteração de marca em animais
Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
	Entende-se por suprimir fazer desaparecer ou eliminar a marca anteriormente existente. Para Hungria há diferença entre marca e sinal onde marca é o assinalamento de ferro candente ou substância química. Sinal seria todo distintivo artificial, diverso da marca (ex. argolas).
	O tipo penal exige que a conduta seja de suprimir ou alterar a marca ou sinal já existente. Ou seja, se o animal não possuir qualquer marca ou sinal e o agente o marcar, será um fato atípico, podendo se encaixar em um crime de dano ou furto. Importante salientar que não há necessidade que a marca ou sinal tenha sido objeto de registro pelo seu proprietário. 
Classificação doutrinária: 
Comum;
Doloso;
Formal;
De mera conduta;
De forma livre;
Doloso;
Comissivo, podendo ser omissivo impróprio;
Instantâneo;
Monossubjetivo 
Plurissubsistente;
Admite tentativa
Não transeunte;
A consumação se dá com a alteração ou supressão da marca ou sinal, independentemente de conseguir a inversão de posse dos animais. O bem juridicamente protegido é a propriedade e a posse de gado ou rebanho alheio.
 
A pena cominada é de detenção de seis meses a três anos, e multa. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada sendo desnecessária qualquer manifestação do ofendido, a despeito da disponibilidade do patrimônio. 
1.4 DO DANO
	
	Da redação: 
Dano
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
	Os elementos que compõem o delito do dano é a conduta de destruir, inutilizar ou deteriorar e que qualquer um desses comportamentos tenha como objeto a coisa alheia. No texto, destruir é empregado no sentido de eliminar, aniquilar, extinguir. Inutilizar é tornar inútil, imprestável a coisa para os fins originais a que era destinada. 
	O dano poderá ser total ou parcial, sendo necessária a perda econômica na coisa. O bem jurídico protegido é o patrimônio, público ou privado. Desaparecer a coisa também caracteriza dano de acordo com Hungria. 
Classificação doutrinária: 
Comum;
Doloso;
Material;
Comissivo;
De ação múltipla;
De dano;
De forma livre;
Instantâneo;
Monossubjetivo;
Plurissubsistente;
Não transeunte; 
Admite tentativa;
O dano é consumado quando o agente efetivamente destrói, inutiliza ou deteriora coisa alheia, sendo ela móvel ou imóvel. A pena para a modalidade simples é cominada de detenção de um a seis meses ou multa. A ação penal é de iniciativa privada.
O parágrafo único do art. 163 do Código Penal prevê modalidades qualificadas de dano: 
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência
	
São particularidades que representam maior gravidade na violação do patrimônio alheio, tornando a conduta mais censurável; podem assumir diversos graus de intensidade, recebendo, de acordo com sua gravidade, a qualificação de agravantes, majorantes ou qualificadoras. 
A primeira modalidade qualificada diz respeito ao modo que o delito é praticado. Se o crime é cometido com violência à pessoa ou grave ameaça, a pena será de detenção de seis meses a três anos e multa, além da pena correspondente à violência; Percebe-se que a violência são meios utilizados pelo agente para a prática do dano, consiste no emprego de força contra o corpo da vítima e não contra o próprio patrimônio. Se a violência for empregada depois da consumação do delito não poderá ser aplicada a qualificadora. Ameaça grave (violência moral) é aquela capaz de atemorizar a vítima, impossibilitando a capacidade de resistência, pode ser materializada com gestos, palavras ou qualquer outro meio simbólico.
A segunda modalidade diz a respeito do emprego de substâncias inflamáveis ou explosivas. É necessário que a substância inflamável ou explosiva seja utilizada como meio de execução do crime. Neste caso, o crime de dano fica excluído pelo crime mais grave do qual é subsidiário, no caso, crimes contra a incolumidade pública (art. 250 a 259)
A terceira modalidade diz a respeito de danos praticados contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa de concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista. Somente aqueles bens que efetivamente pertencem ao “patrimônio público” podem ser objeto dessa qualificadora, inclusive as coisas de uso público comum ou especial. Não será qualificado dano praticado contra patrimônio de empresa pública ou fundação pois as coisas locadas ou usadas pelos órgãos públicos que não são de sua propriedade não qualificam o dano. 
A quarta modalidade diz respeito ao fato de ter o agente causado prejuízo considerável para a vítima. Deve ser levado em consideração o patrimônio da vítima. Por motivo egoístico que é aquele que se prende a futuro interesse, econômico ou moral
A pena de aplicada na forma qualificada cumula a detenção de seis meses a três anos e multa. A ação penal é de iniciativa privada na hipótese do parágrafo único, IV. Nas outras três hipóteses a ação penal é pública incondicionada. 
1.4.1 Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
	Da redação:
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, ou multa.
	O bem jurídico protegido continua sendo a posse e a propriedade imóvel, rural ou urbana que constituem aspectos do patrimônio especialmente contra dano causado por animais em plantações e terrenos cultivados. Ganham especial relevo os danos causados por essa forma a plantações ou a qualquer espécie de terrenos cultivados. 
	Somente ocorrerá a infraçãopeal se o ato for realizado sem o consentimento do proprietário ou possuidor do imóvel e, com isso, resultando prejuízo para a vítima. Cabe salientar que embora a lei faça menção a animais, no plural, poderá o delito ser cometido com o ingresso de somente um animal. 
Classificação doutrinária: 
Comum;
Doloso;
Comissivo ou omissivo;
De dano;
Material
Instantâneo, podendo ser permanente;
Monossubjetivo;
Plurissubsistente;
Condicionado, logo, não admite tentativa;
Não transeunte;
Consumação é feita a parte ou quando existe o prejuízo ou a partir da introdução do animal na propriedade alheia. A pena cominada é de detenção de quinze dias a seis meses ou multa, sendo de competência do Juizado Especial Criminal o seu julgamento. A ação penal é de iniciativa privada. 
1.4.2 Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico
	Da redação:
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou histórico:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.
	Trata-se de destruir, inutilizar ou tornar inútil a coisa para os fins originais a que era destinada, mesmo que não destruída, sendo este um bem de qualquer natureza, ou seja, móvel ou imóvel. Entretanto, somente é considerado o bem que tem uma importância histórica, cultura, artística, arqueológica, especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial.
	Crime contra patrimônio. Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico e alteração de local especialmente protegido. Caracterizado quando o agente que livre e conscientemente destrói imóvel tombado e pertencente ao patrimônio cultural da humanidade, sem autorização dos órgãos competentes. 
	Classificação doutrinária: 
Comum quanto o sujeito ativo e próprio quanto sujeito passivo.
Doloso ou culposo;
De dano;
Material;
Instantâneo, podendo ser considerado instantâneo de efeitos permanentes;
 De forma livre;
Comissivo, podendo ser omissivo caso o agente tenha o status de garantidor;
De ação múltipla;
Monossubjetivo;
Plurissubsistente
Admite tentativa;
O crime é consumado no instante em que o agente destrói, inutiliza ou deteriora o bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Para que o agente seja responsabilizado é fundamental que tenha efetivo conhecimento de que o bem que ele destruiu, inutilizou ou deteriorou havia sido objeto de proteção legal, administrativa ou judicial. 
O art. 62 da Lei nº 9.605/1998 prevê uma pena de reclusão de um a três anos e multa sendo que o parágrafo único do mesmo artigo comina uma pena de detenção de seis meses a um ano, sem prejuízo da multa se o delito foi culposo. 
1.4.3 Alteração de local especialmente protegido
	Da redação:
Alteração de local especialmente protegido
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto de local especialmente protegido por lei:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
	Pune os atentados a bens que o Poder Público cumpre proteger em nome dos interesses nacionais e que são coisas tombadas ou que, por valor histórico se encontram submetidos à proteção especial da autoridade prevista em lei. O bem jurídico protegido é o ambiente, sob seu aspecto cultural-estético, particularmente a inviolabilidade do patrimônio público cultural nacional. A proteção recai em coisas imóveis, de regra, representadas por sítios, paisagens ou quaisquer espécies de locais bucólicos e constituem bem comum. 
Classificação doutrinária: 
Comum em relação ao sujeito ativo e próprio em relação ao passivo.
Doloso;
De dano;
Material;
Instantâneo;
De forma livre;
Comissivo;
Monossubjetivo;
Plurissubsistente;
Não transeunte
O crime material é consumado no instante que o agente altera o aspecto ou a estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. A pena é reclusão de um a três anos e multa. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.
1.4.4 Ação penal
	Da redação:
Ação penal
Art. 167 - Nos casos do art. 163, do inciso IV do seu parágrafo e do art. 164, somente se procede mediante queixa.
	O crime de dano por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima somente se procede mediante queixa. Sendo o crime de dano simples contra bens patrimoniais de particular, carece o Ministério Público de legitimidade para dar início a ação penal que é privativa do ofendido. 
1.5 DA APROPRIAÇÃO INDÉBITA
	Da redação:
 Art. 168. - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: 
 Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
 Aumento de pena 
 §1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: 
 I - em depósito necessário; 
 II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial; 
 III - em razão de ofício, emprego ou profissão. 
Consiste no apoderamento de coisa alheia móvel, sem o consentimento do proprietário. Diferencia-se do furto porque, no furto, a intenção do agente de apropriar-se da coisa é anterior à sua obtenção, enquanto que, na apropriação indébita, o objeto chega legitimamente às mãos do agente, e este, posteriormente, resolve apoderar-se do objeto ilicitamente, ou seja, a apropriação indébita ocorre quando o agente deixa de entregar ou devolver ao seu legítimo dono um bem móvel ao qual tem acesso - seja por empréstimo ou por depósito em confiança.
	O pressuposto do crime de apropriação indébita é a anterior posse lícita da coisa alheia, da qual o agente se apropria indevidamente. A posse, que deve preexistir ao crime, deve ser exercida pelo agente em nome alheio, isto é, em nome de outrem. É necessário que o agente possa ter disponibilidade física direta ou imediata da coisa alheia subsequente à traditio voluntária, livre e consciente. Contudo, a essa disponibilidade material não deve corresponder a disponibilidade jurídica uti dominus. O que o agente possuía alieno domine passa a possuir causa dominii. “Dá-se uma contradictio entre causa possessionis vel detentionis e a superveniente conduta do agente em relação à coisa possuída ou detida”. Com efeito, não há violação da posse material do dominus, pois a coisa alheia já se encontra no legítimo e desvigiado poder de disponibilidade física do agente. 
A pena cominada, alternativamente, é de reclusão, de um a quatro anos, e multa. Pode ser majorada em um terço se ocorrerem as circunstâncias relacionadas no § 1º. A ação penal é pública incondicionada, salvo nas hipóteses do art. 182, quando será condicionada à representação. Haverá isenção de pena se for praticado contra ascendente, descendente ou cônjuge (na constância da sociedade conjugal).
	Classificação doutrinária:
	
Comum
Comissivo
Material
Instantâneo
Dolo
Unissubsistente
Ação livre
Monossubjetivo
1.5.1 Da Apropriação Indébita Previdenciária
	Da redação:
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: 
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; 
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. 
§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definidaem lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. 
§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou 
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. 
A conduta tipificada no caput é “deixar de repassar”, que tem o sentido de não transferir, não recolher ou não pagar à previdência social as contribuições recolhidas ou descontadas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional. Trata-se, na verdade, de apropriação indébita previdenciária. Uma opção legislativa que tem a função política de eliminar a grande polêmica que pairava sobre a natureza e espécie do crime que era previsto no art. 95, d, da Lei n. 8.212/91. Esse nomen iuris abrange todas as figuras tipificadas no dispositivo em exame (caput e § 1º).
No §2° extingue-se a punibilidade se o agente declara, confessa e efetua o pagamento devido antes do início da ação fiscal e ainda presta as informações devidas à previdência social. Frisando-se, sempre, que a “confissão” é da dívida, e nunca de crime, caso contrário violaria o princípio da presunção de inocência.
O § 3º cria uma hipótese sui generis: perdão judicial ou multa! Caso a ação fiscal já tenha sido iniciada, ao pagamento de todo o débito pode corresponder somente uma ou outra das consequências referidas (está afastada a extinção da punibilidade). As hipóteses são alternativas (perdão judicial ou pena de multa), mas os requisitos são cumulativos. Os operadores do art. 59 deverão recomendar uma ou outra alternativa.
As penas cominadas, cumulativamente, são reclusão, de dois a cinco anos, e multa. Na hipótese do § 3º pode ser aplicada somente a pena de multa (ou concedido o perdão judicial). A ação penal é pública incondicionada.
Classificação doutrinaria: 
Crime próprio
Dolo
Omissivo impróprio
Mera conduta
Instantâneo
Forma vinculada
Monossubjetivo
Monossubsistente
Não transeunte
1.5.2 Da Apropriação de Coisa Havida por Erro, Caso Fortuito ou Força da Natureza
Da redação:
Art. 169. - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza: 
 
 Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. 
 
 Parágrafo único. Na mesma pena incorre: 
 
 Apropriação de tesouro 
 I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio; 
 
 Apropriação de coisa achada 
 II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 (quinze) dias. 
O bem jurídico protegido é a inviolabilidade do patrimônio, particularmente o direito de propriedade. O erro, o caso fortuito e a força da natureza podem transferir a posse, mas, em princípio, não têm idoneidade para transmitir a propriedade. Na hipótese de apropriação de coisa achada, tutela-se também a posse, pois o possuidor legítimo que perder a posse da coisa tem o direito de reavê-la (art. 521 do CC/ 16). A apropriação indébita prevista no artigo anterior distingue-se das figuras constantes neste dispositivo basicamente pelo fundamento da transferência da posse.
O núcleo da ação tipificada é igual ao do art. 168. A forma, contudo, como o sujeito ativo entra na posse da coisa ou objeto alheio é diversa. A coisa alheia não é entregue ou confiada licitamente ao agente, mas vem a seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza. Erro pode ser entrega de uma coisa por outra, entregar à pessoa errada, supor a obrigação de entregar etc. Ao erro de quem transmite deve corresponder a boa-fé de quem a recebe. Em outros termos, o erro pode incidir sobre a coisa, sobre a pessoa a quem se entrega ou sobre a razão da entrega. No entanto, o erro sobre o valor da coisa ou seu preço é penalmente irrelevante. Caso fortuito é o evento acidental que acaba conduzindo determinada coisa ou objeto a mãos indevidas; equivale, praticamente, a força maior, configurando, enfim, todos os fatos cujos efeitos não é possível evitar. Caso fortuito e força maior têm sido, historicamente, objeto de grande divergência doutrinária, que, no entanto, recusamo-nos a reproduzir neste espaço, por sua absoluta improdutividade, já que a doutrina os tem equiparado ao atribuir-lhes os mesmos efeitos. Força da natureza, por sua vez, é energia física e ativa que pode provocar mudança natural e violenta das coisas e dos objetos. São exemplos dessa força o tufão, o terremoto, a enchente etc.
Apropriação de tesouro
A ação incriminada é apropriar-se de “tesouro achado”, isto é, assenhorear-se de tesouro achado em prédio alheio, sem efetuar a divisão que determina a lei civil (meio a meio) com o proprietário do imóvel. O ato de achar deve ser um acontecimento fortuito, acidental, involuntário, sob pena de caracterizar crime de furto. Achar tesouro significa encontrar um conjunto de coisas preciosas ou valiosas, em local pertencente a terceira pessoa. É indispensável, contudo, que esse conjunto de preciosidades seja encontrado acidentalmente, caso contrário não haverá a obrigação de dividi-lo com o proprietário (art. 1.265 do CC). Com efeito, se for encontrado por algum pesquisador a mando do dono ou de terceiro não autorizado, pertencerá integralmente ao proprietário do imóvel, e sua “apropriação” constituirá crime de furto. Por prédio deve-se entender qualquer imóvel, seja representado por terreno, seja por edifício.
Apropriação da coisa achada
A ação incriminada é, igualmente, apropriar-se, só que agora de coisa perdida. Não se pode confundir coisa perdida com coisa esquecida. Aquela desapareceu por causa estranha (e, por vezes, ignorada) à vontade do proprietário ou possuidor, que desconhece seu destino ou paradeiro; a esquecida saiu da esfera de disponibilidade por um lapso de memória e, teoricamente, o dono saberá onde encontrá-la ou, pelo menos, tem uma noção de lugar e tempo, onde e quando a perdeu. O que configura o crime não é o recebimento ou encontro — acidental —, mas a posterior apropriação da coisa alheia, não a devolvendo ou recusando-se a restituí-la ao legítimo dono.
As penas cominadas são, alternativamente, detenção, de um mês a um ano, ou multa. O art. 170 recomenda a especial redução da pena, em um terço, quando se tratar de agente primário e de pequeno valor a coisa apropriada. Coerente com o que sustentamos ao examinar o furto de pequeno valor, admitimos sua aplicação às hipóteses elencadas no § 1º do art. 168. A ação penal é pública incondicionada, salvo nas hipóteses do art. 182, quando será condicionada à representação.
Classificação doutrinária:
	
Comum
Material
Dolo
Instantâneo
Comissivo
1.5.4 Art. 170
Da redação:
Art. 170. - Nos crimes previstos neste Capítulo, aplica-se o disposto no Artigo 155, 2º. 
Nos crimes de apropriação indébita, em suas diversas modalidades (arts. 168 e 169) é aplicável o privilégio previsto no art. 155, § 2º, deste Código, quando o criminoso for primário e de pequeno valor a coisa apropriada.
1.6 DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
	O capítulo VI do Código Penal brasileiro trata do crime de estelionato e dispõe também sobre outras fraudes, compreendendo o conjunto de artigos que inicia no art. 171 e termina no art. 179.
1.6.1 Estelionato
	De acordo com a redação: 
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
§ 1º - Se o criminosoé primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.
	Neste artigo, o bem jurídico tutelado é a inviolabilidade do patrimônio, incluindo os interesses sociais e públicos de proteger a confiança existente em relações patrimoniais e de reprimir fraudes causadoras de danos. 
	A ação tipificada é “obter vantagem ilícita” em prejuízo alheio, “induzindo ou mantendo alguém em erro”. Nesse sentido, no estelionato, primeiro há a fraude para enganar uma pessoa, e, em decorrência deste primeiro, há a obtenção de vantagem ilícita, com prejuízo para o enganado. É essencial, portanto, que a vantagem obtida seja proveniente do erro produzido pelo agente do crime, e que essa vantagem corresponda a um prejuízo alheio. 
	A consumação ocorre quando o agente obtém a vantagem que corresponde ao prejuízo de terceiros. Também é admissível a tentativa, pois o crime pode ser interrrompido por vontade alheia a do agente. 
	Há ainda uma minorante, segundo o § 1º, sendo necessário o criminoso ser primário e o prejuízo for de pequeno valor. Nesse caso, o juiz pode aplicar pena conforme o art. 155 § 2º. 
	O § 2º prevê seis modalidades especiais de estelionato, sendo elas: disposição de coisa alheia como própria;alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria; defraudação de penhor; fraude na entrega de coisa; fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro e fraude no pagamento por meio de cheque.
	Há também uma previsão de majoração de pena, no § 3º, devendo a pena ser aumentada em um terço se o crime for cometido contra entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou befeficência. 
	A ação penal é pública incondicionada, exceto nas hipóteses do art. 182. As penas cominadas são a reclusão, de um a cinco anos, e multa. Quando privilegiado, pode ter a reclusão substituída por detenção, diminuída de um a dois terços ou por multa. 
Classificação doutrinária:
Comum (caput) e próprio (§ 2º);
Material;
De forma livre (caput) e de forma vinculada (§ 2º);
Comissivo;
Instantâneo (como regra), porém, conforme conduta prevista no § 2º V “ocultar”, pode ter caráter permanente;
De dano;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente.
1.6.2 Duplicata simulada
	Da redação: 
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.  (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas. (Incluído pela Lei nº 5.474. de 1968)
	O bem jurídico aqui protegido é patrimônio, especialmente as relações comerciais, buscando tutelar os interesses patrimoniais decorrentes de transações comerciais. 
A ação tipificada está em “emitir” fatura, duplicata ou nota de venda. Pratica o mesmo crime, e por conseguinte, incorre nas mesmas penas quem falsifica ou adultera o Livro de Registro de Duplicatas, de acordo com o parágrafo único do art. 172.
O crime é consumado quando a duplicata simulada é emitida e colocada em circulação. Quanto a possibilidade ou não de tentativa, diz Bittencourt, que “a doutrina, de modo geral, tem negado a possibilidade da configuração da forma tentada do crime de emissão de duplicata simulada, porque se trata de crime formal e unissubsistente, não admitindo fracionamento.” E completa: “é muito arriscada uma afirmação negativa, quando a casuística oferece determinadas situações que podem configurar perfeitamente a tentativa. Diante dessas circunstâncias, não afastamos, a priori, a possibilidade da ocorrência da tentativa, já que se trata de crime fracionável”
As penas são, cumulativamente, reclusão, de dois a quatro anos, e multa. A ação penal é pública incondicionada, exceto nas hipóteses do art. 182, quando será pública condicionada à representação. 
Classificação doutrinária:
Próprio;
Formal;
De forma livre;
Comissivo;
Instantâneo;
Unissubjetivo;
Unissubsistente.
1.6.3 Abuso de incapazes
	Da redação: 
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
	O bem jurídico tutelado é o patrimônio, principalmente aquele atribuído aos menores ou incapazes, tentando evitar qualquer tipo de abuso por parte de terceiros. 
	A ação tipificada é “abusar”, ou seja, tirar proveito da fragilidade atribuída, de necessidade, paixão, inexperiência de menor ou da alienação ou debilidade mental de outrem, em benefício próprio ou alheio. 
	O crime é consumado no momento em que o incapaz pratica o ato que foi induzido, desde que suscetível a produzir efeito jurídico. A tentativa é admissível, teoricamente, pois a sua fase executória pode ser fracionada. 
	As penas cominadas, cumulativamente, são a reclusão, de dois a seis anos, e multa. A ação penal pública incondicionada, salvo nas hipóteses do art. 182. 
	Classificação doutrinária:
Comum;
Formal;
De forma livre;
Comissivo;
Instantâneo;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente. 
1.6.4 Induzimento à especulação
	Da redação: 
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
O bem jurídico protegido por este artigo é o patrimônio pertencente às pessoas inexperientes, simples ou de inferioridade mental, contra fraude, representada por prática de jogo ou aposta ou especulação com títulos ou mercadorias. 
A ação tipificada é “abusar”, pois o proveito é obtido pelo abuso da inexperiência, simplicidade ou inferioridade mental. A elementar que prevalece é a inferioridade das vítimas, que as tornam hipossuficientes e justifica a ação penal. 
O crime é consumado no momento em que ocorre a prática do induzimento em jogo, aposta ou especulação na bolsa. Também admite-se tentativa, pois a ação executória pode ser fracionada. 
	
As penas cominadas, cumulativamente, são de reclusão, de um a três anos, e multa. A ação penal também é pública incondicionada, exceto perante as hipóteses do art. 182, quando será incondicionada à representação.
	Classificação doutrinária:
Comum;Formal;
De forma vinculada;
Comissivo;
Instantâneo;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente.
1.6.5 Fraude no comércio
	Da redação: 
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de ou outra qualidade:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
O bem jurídico a ser tutelado, no presente artigo, é, como todas as demais infrações nesse título, o patrimônio, principalmente contra o crime praticado nas atividades comerciais. 
A ação tipificada é “enganar”, ou seja, iludir a vítima durante a atividade comercial, seja “vendendo” ou “entregando”. O engano pode se referir à qualidade, quantidade, procedência ou substância.
O crime é consumado quando há o engano efetivo da vítima, com a venda ou a entrega do produto. A tentativa é admissível, pois a ação executória do crime pode ser fracionada. 
	
As penas cominadas para a modalidade simples (caput, I e II) são alternativas: detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Para a qualificadora, a pena é cumulativa: reclusão, de um a cinco anos, e multa. Também pode ser aplicado o disposto no art. 155 § 2º. A ação penal é pública incondicionada.
	
Classificação doutrinária:
Próprio;
Material;
De forma livre; 
Comissivo;
Instantâneo;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente. 
1.6.6 Outras fraudes
	Da redação:
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento:
Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
O bem jurídico protegido é a inviolabilidade do patrimônio, especialmente os dos proprietários de restaurantes, hotéis ou meios de transportes contra quaisquer lesões fraudulentas. 
A ação tipificada é “tomar”, “alojar-se” e “utilizar-se”, sem dispor dos devidos recursos para efetuar o pagamento pelos serviços utilizados pelo agente do crime. 
O crime é consumado no momento em que ocorre a prática de quaisquer das condutas descritas acima: tomar refeição, alojar-se em hotel ou utilizar de transporte, seguidas pelo não pagamento das despesas efetuadas. Admite-se tentativa. Segundo Nélson Hungria (Comentários ao Código Penal, v. 7, p. 278): “Já tendo sido trazida a refeição, ou ao entrar o agente no quarto do hotel ou no veículo de transporte, é descoberto (por aviso de terceiro ou outra circunstância) o plano de burla, que, assim, se frustra”.
	
As penas cominadas são, de forma alternativa, detenção, de 15 dias a dois meses, ou multa. A ação pública é condicionada à representação do ofendido. O juiz também pode deixar de aplicar a pena, concedendo o perdão judicial, conforme as circunstâncias do caso concreto. 
	
Classificação doutrinária:
Comum;
Material;
De forma livre;
Comissivo;
Instantâneo;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente.
1.6.7 Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade por ações
	Da redação: 
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembléia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular.
§ 1º - Incorrem na mesma pena, se o fato não constitui crime contra a economia popular: (Vide Lei nº 1.521, de 1951)
I - o diretor, o gerente ou o fiscal de sociedade por ações, que, em prospecto, relatório, parecer, balanço ou comunicação ao público ou à assembléia, faz afirmação falsa sobre as condições econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente, no todo ou em parte, fato a elas relativo;
II - o diretor, o gerente ou o fiscal que promove, por qualquer artifício, falsa cotação das ações ou de outros títulos da sociedade;
III - o diretor ou o gerente que toma empréstimo à sociedade ou usa, em proveito próprio ou de terceiro, dos bens ou haveres sociais, sem prévia autorização da assembléia geral;
IV - o diretor ou o gerente que compra ou vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas, salvo quando a lei o permite;
V - o diretor ou o gerente que, como garantia de crédito social, aceita em penhor ou em caução ações da própria sociedade;
VI - o diretor ou o gerente que, na falta de balanço, em desacordo com este, ou mediante balanço falso, distribui lucros ou dividendos fictícios;
VII - o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou parecer;
VIII - o liquidante, nos casos dos ns. I, II, III, IV, V e VII;
IX - o representante da sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que pratica os atos mencionados nos ns. I e II, ou dá falsa informação ao Governo.
§ 2º - Incorre na pena de detenção, de seis meses a dois anos, e multa, o acionista que, a fim de obter vantagem para si ou para outrem, negocia o voto nas deliberações de assembléia geral.
O bem jurídico protegido é o patrimônio, especialmente daqueles que investem em sociedade abertas, ou seja, são protegidos os patrimônios dos acionistas perante à organização e administração fraudulenta e abusiva das sociedades por ações. 
A ação tipificada é “promover”, “fazendo afirmação falsa” ou “ocultando fraudulentamente” fato a ela relativo, com relação ao caput do artigo, visando atrair capitais e interessados no empreendimento, utilizando-se de afirmação falsa ou ocultando fatos relevantes. 
O crime é consumado no momento em que há a afirmação falsa ou a ocultação de fato relativo ao empreendimento. De acordo com Magalhães Noronha (Direito Penal, v. 2, p. 485): “Não se exige, para a consumação, resultado externo ou estranho à ação do agente. Esta, por si só, é bastante para integralizar o delito”. A tentativa é de difícil ocorrência, muito embora seja admissível. 
	As penas cominadas, cumulativamente, são de reclusão, de um a quatro anos, e multa. No crime de “negociação de votos”, presente no § 2º, as penas são de detenção, de seis meses a dois anos, e multa. A ação penal é pública incondicionada, exceto quando nas hipóteses do art. 182.
	Classificação doutrinária:
Próprio;
Formal;
De forma livre;
Comissivo;
Instantâneo;
Unissubjetivo;
Plurissubsistente.
1.6.8 Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant"
	Da redação: 
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
O bem jurídico é o patrimônio, particularmente aquele pelos títulos de conhecimento de depósito ou warrrant. Segundo Bittencourt: “o warrant é título pignoratício, isto é, atribui a seu portador o direito real de penhor da mercadoria nele especificada, até o limite do crédito mencionado no primeiro endosso, garantindo o pagamento dessa importância. O conhecimento de depósito, por sua vez, é o título de propriedade da mercadoria. Atribui ao portador a disponibilidade da coisa; fica limitado, no entanto, pelo limite contido no endosso do warrant.”
A ação tipificada é “emitir”, ou seja, colocar em circulação conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com a disposição legal. 
O crime é consumado no momento em que se coloca para circular os títulos, se tratando de um crime de consumação antecipada. De um modo geral, não se admite tentativa, tendo em vista que se trata de um crime unissubsistente. 
	
As penas cominadas, cumulativamente, são de reclusão, de um a quatro anos,

Outros materiais