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AP2 história do oriente (1)

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“Gabarito” AP2 – História do Oriente 2016-1 
 
 
A. A Ásia é o continente mais populoso do mundo e muito da sua história resulta da 
forma como sociedades de se organizaram, e também dos conflitos com elementos 
externos. Discorra sobre as relações entre Estado e sociedade em dois dos quatro 
episódios abaixo, considerando tanto o contexto local e global. (6 pts) 
Atenção: sua narrativa não pode ser uma simples lista de fatos! Explique os atores 
envolvidos, que representem o Estado ou não, e como estes se relacionam. 
(Sua resposta não tinha que incluir todos os elementos abaixo. Estes são indicadores de 
que o/a aluno/a é capaz de identificar os atores envolvidos em cada um dos ítems). 
Guerra do Vietnam 
É importante constar que: Ocorre no contexto da Guerra Fria e tem antecedentes nas 
inúmeras disputas que se desenrolaram na região entre Japão, França e a resistência 
anticolonial vietnamita, de forte influência comunista. A luta anticolonial se torna, nesse 
sentido, uma luta por zonas de influência na região estratégica da Indochina, o que atrai 
a intervenção norte-americana. Disputas internas pelo poder tornavam ainda mais 
complexa a situação e o país dividiu-se em dois. O sul, sob a influência dos interesses 
franceses e norte-americanos, descumpriu os acordos de unificação previstos na 
Conferência de Genebra em 1953 e o norte, alinhado com a URSS, evitou o conflito 
com a não-ação. A situação no sul, entretanto, se tornava crítica conforme aumentava os 
focos de resistência, cada vez mais organizada, sobretudo em resposta à radicalização da 
violência do Estado. Os EUA perdiam o controle da região e resolveram, em 1965, 
atacar o norte. 
O desenrolar da Guerra, que consiste na investida pesada (e ainda assim, fracassada) da 
maior potência militar capitalista do Ocidente contra o Vietnã, tem como elementos 
marcantes: o forte movimento de resistência popular, alimentado sobretudo pelo 
sentimento de nacionalismo, que por sua vez torna-se mais forte quanto maior é a 
presença norte-americana na região; o sucesso da tática de guerrilha, praticada pelos 
vietnamitas, cuja eficiência se deve sobretudo às condições climáticas e geográficas da 
região, totalmente estranhas aos soldados americanos. A Guerra do Vietnã tornou-se 
impopular e enfrentou fortes críticas dentro do próprio território norte-americano e as 
constantes baixas obrigaram os EUA a repensar a continuidade do conflito e um acordo 
de cessar-fogo foi assinado em 1973. 
 
Marcha do Sal 
Importante constar que: ocorre num contexto de revolta do povo indiano contra a coroa 
britânica, que havia prometido maior autonomia após a I Guerra, mas na prática 
mantinha a dominação colonial e reprimia fortemente a dissidência; é parte da política 
de não-cooperação (ou desobediência civil) lançada por Gandhi na década de 1920, em 
resposta aos desmandos e à cobrança de taxas e impostos aos indianos; acontece em 
1930, liderada por Gandhi, e consiste em uma marcha de mais de 100 km, entre as 
cidades de Sabarmati e Dândi, onde os manifestantes produziram seu próprio sal, em 
boicote ao imposto cobrado pela Inglaterra sobre o produto; o movimento, apesar de 
fortemente reprimido pela coroa, se espalha e angaria milhares de adeptos; Aa 
proporção tomada obriga a Coroa a realizar um acordo de trégua e ele é encerrado para 
ser retomado em seguida, diante de novo endurecimento da Inglaterra. 
 
Revolução Cultural 
Importante constar que: seus antecedentes são a crise gerada pelo fracasso do Grande 
Salto Adiante, que resultou em penúria econômica e fome de boa parte da população, e 
as denúncias de corrupção e abuso de poder dentro do PCC. Nesse contexto de 
descrédito e de insatisfação do povo (especialmente os camponeses) em relação ao 
Partido, o Exército de Libertação Popular (ELP) emerge como antagonista político e 
inicia uma forte campanha de culto à imagem de Mao, que viria a caracterizar a 
chamada Revolução Cultural Proletária. Seu fundamento era de que a cultura e a arte 
chinesa estavam impregnadas de desvios burgueses e precisavam ser revolucionadas. O 
debate ganhou as ruas e deu origem a movimentos sociais, cujo maior expoente são os 
Guardas Vermelhos, compostos por jovens estudantes. A radicalização do movimento 
culminou em expurgos e perseguição dentro do PCC, violentos conflitos nas ruas e 
adesão de outros movimentos sociais, como o operário, que reivindicavam a revolução 
também econômica, com estatização de empresas, por exemplo. 
 
Partilha da Índia 
Importante constar que: Ocorreu concomitantemente ao processo de independência da 
Índia, que se desenrolou desde o fim da II Guerra Mundial; tem como fundamento um 
conflito religioso, na medida em que a separação era um demanda da população 
muçulmana e que a partilha do território se deu a partir de critérios religiosos; a partir da 
chamada “partilha” surgiu o Paquistão, de maioria islâmica, e a Índia, de maioria hindu, 
manteve parte de seu território. Ambos os países conquistaram a sua independência; A 
Liga Muçulmana, partido que encarnava as reivindicações separatistas, tornou-se o 
segundo maior partido da Índia anos 40 e esse crescimento refletiu nas eleições de 1945. 
Essa representatividade foi fundamental para pressionar o Congresso e Nehru , que 
permaneceram hesitantes em aceitar a separação até 1947; ao longo desse período a 
discordância tomou a forma de conflito nas ruas e cerca de 5 mil pessoas, entre hindus, 
muçulmanos e sikhs, morreram nos confrontos; Gandhi manteve-se contrário à partilha; 
A partilha não significou o fim do conflito: perpetuou-se na disputa pelo território da 
Caxemira e também entre a população, sobretudo em virtude dos deslocamentos, 
voluntários e forçados, de províncias inteiras; além do problema imediato dos 
deslocamentos, eles geraram ainda uma grave crise humanitária, já que tanto no 
Paquistão quanto na Índia afloravam refugiados desabrigados de todas as partes. 
Durante seu processo de independência, articulado com a Inglaterra desde o fim da II 
Guerra Mundial, a Índia enfrentava um conflito interno que ameaçava a unidade do 
país: a reivindicação separatista da população muçulmana. Embora a Liga Muçulmana, 
partido que representava essa parcela da população, houvesse tido um enorme sucesso 
nas eleições de 1945, o Partido do Congresso hesitava em ceder às reivindicações. A 
disputa tomou corpo nas ruas e entre 1946 e 1947 cerca de 5 mil pessoas, entre hindus, 
muçulmanos e sikhs, morreram em confrontos. Diante desse cenário – e da recusa da 
Liga Muçulmana em recuar nas suas demandas, o Partido do Congresso foi obrigado a 
ceder e criou-se então o Paquistão. 
 
 
B. Analise os processos de modernização da Índia e do China, e compare, assinalando 
as diferenças e semelhanças. Explique o que significou o impulso de modernização 
para estes dois países, quando ela ocorreu e se/como os processos conciliaram (ou 
não) tradição e demandas globais. Como estes processos estão ligados a conceitos 
de imperialismo e nacionalismo? (4 pts) 
Atenção! Lembre-se que é uma discussão histórica. Embora referências ao papel 
destes dois países no mundo de hoje sejam bem-vindas, sua ênfase deve ser nos 
processos históricos. 
 
Criar um gabarito para esta segunda questão é mais complicado, porque ela é bastante 
abrangente. Em relação ao processo de modernização da China, os alunos citaram 
projetos políticos diferentes, como os marcos da modernização chinesa, desde a 
intervenção ocidental lá na Guerra do Ópio até as Quatro Modernizações. Eu considero 
que a modernização da China acontece mesmo a partir do século XX, ou pelo menos 
este é o momento, sob Mao, em que atinge toda a China. No entanto, o material didático 
usa otermo "modernização" em muitos contextos diferentes e isto foi certamente levado 
em conta. Os argumentos mais convincentes, no entanto, discutiram desde o Plano 
Quinquenal até as Quatro Modernizações, contextualizando este processo com a questão 
da proximidade e posterior distanciamento em relação à URSS. Ao fazer isto, eles 
demonstraram conhecer a questão do socialismo de mercado, e construíram uma boa 
relação entre o global e o local. 
A comparação com a Índia já não foi tão bem sucedida. As respostas foram mais 
sucintas, mas os melhores textos discutiram a cronologia pós independência, a 
coexistência de valores milenares locais com a influência ocidental; o caráter 
democrático do novo país, mas com um certo alinhamento à URSS após a 
independência, da crise financeira que culminou com os empréstimos do FMI e da 
reaproximação com os EUA. Muitos focaram na Índia contemporânea, falando de 
economia voltada para a tecnologia e serviços. 
 
A comparação que eu imaginara deveria sublinhar o modelo mais centralizador da 
China, em contraste com a importância dos conselhos locais na India, e da maior 
flexibilidade desta. As semelhanças ficam por conta do tamanho do território e da 
população, e da necessidade desta modernização de se posicionar quanto ao contexto de 
guerra fria. 
 
Mas as provas foram corrigidas levando em conta o desempenho de todos. E várias boas 
respostas surgiram, mesmo sem ser o que eu inicialmente imaginara.

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