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LEI DOS GASES IDEAIS João Adílio Silva de Araújo; Maria Karolina Meneses Damasceno. Departamento de Física – Centro de Ciências da Natureza – UFPI Email: karolinaduff@hotmail.com RESUMO As variáveis temperatura, pressão e volume, conhecidas como variáveis de estado, são relacionadas nos gases pela chamada lei dos gases ideais. Por definição, um gás ideal segue a teoria cinética dos gases exatamente, isto é, um gás ideal é formado de um número muito grande de pequenas partículas, as moléculas, que tem um movimento rápido e aleatório, sofrendo colisões perfeitamente elásticas, de modo a não perder quantidade de movimento. A lei dos gases afirma que a pressão exercida por um gás é diretamente proporcional ao seu volume e indiretamente à temperatura absoluta. Assim, um acréscimo na temperatura ou na densidade causa um redução e um aumento, respectivamente, à pressão. Por outro lado, se a pressão permanece constante, um decréscimo na temperatura resulta em aumento no volume e vice versa1. Neste experimento verificou-se que a pressão é inversamente proporcional ao volume num processo isotérmico (Lei de Boyle-Marlotte) e também que o volume ocupado por um gás é diretamente proporcional à temperatura num processo isobárico (Lei de Charles). Tendo esses objetivos, o experimento foi dividido em duas partes. A primeira com a temperatura constante (isotérmico) e a segunda com a temperatura variando. Em seguida, após a realização dos procedimentos, obteve-se que, quando a temperatura se mantém invariável, o valor das razões de cada constante fisico-química mostrou-se linearmente independentes. Porém, fazendo considerações nós cálculos e vendo como a diferença entre elas era mínima, em vista de alguns erros inseridos no experimento por conta de métodos adotados e materiais com pequenos erros de calibração, pôde-se afirmar que a lei de Boyle- Marlotte fora válida. Visto que não se podia desprezar a parte prática do experimento, na qual foi constata, visualmente, a aplicação dessa lei. Já quando tem-se temperaturas variando, não se pode constatar a aplicabilidade da Lei de Charles, visto que o sistema não era isobárico. Palavras-chave: Temperatura; pressão; volume; gás; termodinâmica. INTRODUÇÃO Um gás é caracterizado por três propriedades, denominadas variáveis de estado, que são: pressão, volume e temperatura. Quando uma ou mais dessas variáveis sofre alteração, ocorre uma transformação gasosa, que pode ser classificada como isotérmica, isovolumétrica ou isobárica2. Quando um gás é comprimido ou dilatado a uma temperatura constante, sua pressão tende a aumentar ou diminuir. Figura 1: Exemplo de transformação isotérmica Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/quimica/transformacao- isotermica-ou-lei-boyle.htm Tendo em vista tal relação, Robert Boyle considerado um dos fundadores da química2, descobriu que o produto da pressão (𝑃) e volume (𝑉) de um gás é constante a uma temperatura constante 𝑷𝑽 = 𝒌𝟏 (1) Onde 𝑘1 é uma constante. Observa-se que 𝑃 e 𝑉 são inversamente proporcionais. Em 1787, através de experimentos, Jacques Charles determinou a lei da proporção direta entre o volume (𝑉) e a temperatura (𝑇) de um gás a pressão constante Figura 2: Exemplo de transformação isobárica Fonte:https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/transfor macoes-gasosas.htm criando assim a seguinte fórmula: 𝑽 = 𝒌𝟐𝑻 (2) Onde 𝑘2 é uma constante. No começo do século XIX, Joseph Gay-Lussac observou que quando uma determinada massa gasosa sofre uma transformação e seu volume permanece constante, a pressão exercida pelo gás, no recipiente em que ele permanece, aumenta conforme a temperatura aumenta, e diminui conforme sua temperatura diminui. Figura 3: Exemplo de transformação isovolumétrica. Fonte:https://brasilescola.uol.com.br/quimica/transformacao- isobarica.htm Observado tal relação entre a pressão (𝑃) e a temperatura (𝑇): 𝑷 = 𝒌𝟑𝑻 (3) Onde 𝑘3 é uma constante. A Lei do Gás Ideal combina as equações (1), (2) e (3). Relacionando a pressão absoluta (𝑃) e o volume (𝑉) de um gás à temperatura absoluta (𝑇), em graus Kelvin, isto é 𝑷𝑽 = 𝒏𝑹𝑻 (4) Onde 𝑛 é o número de moles e 𝑅 a constante dos gases ideais. A equação (4) ainda pode sofrer variações, quando queremos determinar o estado inicial ou final de determinada variável da equação. Tendo a temperatura constante, a equação pode escrita da seguinte forma 𝑷𝟏𝑽𝟏 = 𝑷𝟐𝑽𝟐 (5) Onde 𝑉1 e 𝑉2 são volumes inicias e finais, assim como a pressão determinada por 𝑃1e 𝑃2. Modificando a equação (5), determina-se a seguinte igualdade 𝑽𝟏 𝑽𝟐 = 𝑷𝟐 𝑷𝟏 (6) Sabendo-se que um ajuste precisa ser feito, adiciona-se uma variável 𝑉0 para a quantidade de volume desconhecida 𝑽𝟏+𝑽𝟎 𝑽𝟐+𝑽𝟎 = 𝑷𝟐 𝑷𝟏 (7) Conhecendo os valores das principais variáveis e relacionando-as, nota-se que se obtém um valor constante 𝑷𝑽 𝑻 = 𝒏𝑹 = 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆 (8) E para cada um dos estados (iniciais e finais) temos 𝑷𝟏𝑽𝟏 𝑻𝟏 = 𝒌𝟏 (9) E 𝑷𝟐𝑽𝟐 𝑻𝟐 = 𝒌𝟐 (10) A prática 6 tem como objetivo determinar através do experimento o percentual entre volume e pressão em uma transformação isotérmica e também com a temperatura variando, obedecendo a Lei dos Gases Ideais. MATERIAIS E PROCEDIMENTOS Materiais Figura 4: Materias utilizados no experimento. Fonte: Laboratório de Física – UFPI. ● Aparato de gases ideais; ● Sensor de temperatura; ● Sensor de pressão; ● Interface Xplorer GLX. Procedimento Experimental Figura 5: Montagem experimental. Fonte: Apostila Física Experimental II – Maria Letícia Vega Inicialmente ligou-se o mini-jack no sensor de temperatura e conectou o quick-release conector à porta de pressão. O conector de plástico branco foi desligado e ligado novamente durante a experiência. Com o acoplamento de pressão desligado, com a palma da mão empurrou-se o êmbolo todo até o fundo da seringa. Registrou-se a leitura do volume que foi em torno de 20cm³. Logo após, o êmbolo foi puxado para um volume de 40cm³. Com o acoplamento de pressão conectado e o conector de temperatura plugado, acoplou-se a base do aparelho contra uma superfície horizontal resistente. Depois de conectado o sensor do termistor a interface Xplorer GLX, iniciou-se o experimento. O êmbolo foi comprimido rapidamente até atingir o final da seringa. A posição foi mantida até que a temperatura e pressão se estabilizem, após esperar cerca de 30 de segundos para que voltasse à temperatura ambiente, soltou-se o êmbolo, para o mesmo expandir-se e voltar por conta própria. Depois de pressão e temperatura estabilizadas, registrou-se a leitura do volume final sobre a seringa. RESULTADOS E DISCUSSÕES A priori, quando o volume da seringa é subitamente diminuído à metade, a pressão muda em um fator de 2. Para compreender isso, é preciso considerar tanto que o sistema era adiabático, ou seja, não exercia troca de calor com o meio externo, quanto a 1° Lei da termodinâmica. Temos que a variação da quantidade de calor é igual a zero. Portanto, a variação de energia interna é igual ao trabalho. Ademais, quando esse trabalho sofrido pelo sistema, é adicionado, obtemos uma variação exponencial da pressão e da temperatura. Primeiramente, como o meio externo exerce pressão sobre o sistema, esse (meio externo) realizará o trabalho e, consequentemente, irá diminuir o volume da seringaaumentando, assim, a pressão. Além disso, a temperatura cresce, visto que, conforme dito, o trabalho será incrementado ao sistema em forma de energia térmica. Dessa forma, como o grau de colisões aumenta (entropia molecular), a temperatura também aumentará. Contudo, com o passar do tempo, a temperatura tende voltar ao normal, porém a pressão não, visto que o êmbolo está ainda comprimido. Essa condição é representada no gráfico da figura 6. Figura 6: Gráfico em função da pressão em função da temperatura. Fonte: Foto retirada do equipamento XploreGLX no Laboratório de Física da UFPI. TEMPERATURA CONSTANTE A posteriori, ao dar-se continuidade ao experimento, obteve-se o gráfico da figura 7 e, em seguida, com base nos dados lidos no gráfico, pode- se montar a tabela 1: Figura 7: Gráfico da pressão em função da temperatura do experimento 6. Fonte: Foto retirada do equipamento XploreGLX no Laboratório de Física da UFPI. Tabela 1: Dados obtidos no gráfico da figura 7 Pode-se observar que no gráfico da figura 7, têm-se os pontos P1, P2, P3 e P4. Essa nomenclatura fora adotada para representar os pontos de transição entre uma condição e outra do sistema. De maneira mais clara, ao se observar o gráfico, podemos ver que os pontos P1 e P3 se encontram a uma mesma temperatura de, em média, 26.7°C, ao passo que, nos pontos P2 e P3 há uma constância do volume (21 cm³). Isso quer dizer que esses pontos caracterizam a iminente mudança de condição do sistema. Ou seja, pode-se concluir que esses pontos são o limite entre a condição isotérmica para uma isovolumétrica, por exemplo. Em vista disso, decidiu-se fazer uma análise individual de cada grupo de pontos que apresentam alguma variável comum (como exemplo, os pontos P1 e P3, que ambos estão na mesma temperatura). Para isso, construiu-se a tabela 2 para representar, primeiramente, a transformação isotérmica: Tabela 2: Temperatura constante Volume (cm³) Pressão (kPa) 1 40 101 2 23 175 Primeiramente, é importante destacar que, durante o experimento, quando o êmbolo era comprimido, a pressão interna no sistema aumentava. Isso porque, como o volume reduzia, as moléculas se aproximavam gradativamente e aumentavam o número de colisões contra as paredes do recipiente. Em vista disso, a pressão aumentava e isso era visto nas curvas do gráfico da figura 7. A partir disso, percebe-se que há uma relação entre as razões do volume e da pressão, porém uma razão inversamente proporcional. Não obstante, pode-se também comprovar e existência de proporcionalidade de maneira teórica, tendo como embasamento a Lei de Boyle- Mariotte. Essa lei afirma que, para uma quantidade fixa de massa, a pressão absoluta e o volume de um gás são inversamente proporcionais. Ou seja, mais uma vez, pode-se notar que essas razões variam em função de uma constante fixa, porém inversamente. Agora analisando essa proporcionalidade conforme os dados da tabela 2 e usando a equação (6), obteve-se que, para a relação entre pressão final e pressão inicial ( 𝑃2 𝑃1 ), tem-se o valor de 1.73. Já para a relação entre volume inicial e volume final ( 𝑉1 𝑉2 ), tem-se o valor de 1.90. Momentaneamente, vê-se que não há relação entre as constantes, porém, em seguida, notou-se que a calibração da seringa não incluía o volume de ar no tubo que conecta o sistema ao mini-jack. Para analisar se esse volume (Vo) P1 P2 P3 P4 Temperatura 26,6 ºC 36,1ºC 26,7ºC 17,1ºC Pressão 101kPa 179kPa 175kPa 119kPa Volume 40 cm³ 21 cm³ 21 cm³ 38 cm³ introduziria erros consideráveis aos resultados, usou- se a equação (7) para descobrir esse volume desconhecido. Após os cálculos serem refeitos, obteve-se um volume mínimo de 4.93 cm³. Retornou-se, portanto, para a equação (7), porém agora substituindo o valor de Vo e obtendo, assim, uma nova razão entre os volumes. Esse valor obtido fora de 1.69 e na tabela 3 podemos conferir a diferença percentual entre os valores da razão entre os volumes, conforme a equação (6) e o valor da razão entre os volumes conforme a equação (7). Tabela 3: Diferença percentual entre os valores da razão entre os volumes. ( 𝑽𝟏 𝑽𝟐 ) ( 𝑽𝟏 + 𝑽𝟎 𝑽𝟐 + 𝑽𝟎 ) Diferença Percentual 1,73 1,69 2,9% Contudo, ainda que feito os ajustes necessários, notou-se que os valores obtidos das razões não apresentavam correlação. Porém isso pode ser justificado da seguinte forma: levando em consideração que o valor da razão entre volume inicial e final ( 𝑉1 𝑉2 ) foi de 1.69 (tabela 3), com os ajustes feitos com Vo, e que o valor da razão entre pressão final e inicial ( 𝑉1 𝑉2 ) foi de 1.90, temos uma diferença de 0.21 unidades, que percentualmente resulta em uma diferença de 12.4%. É uma variação considerável, todavia, percebe-se que essas razões se aproximam bastante (tendendo a 2) e só não foram obtidos valores exatos em vista do ajuste e precisão dos equipamentos, em especial a mangueira que ligava o mini-jack ao sistema. TEMPERATURA VARIANDO Já para a análise de proporcionalidade quando a temperatura está variando, consideraram- se os pontos P2 e P3, conforme o gráfico da figura 7. Para melhorar a análise, extraiu-se os dados do ponto P2 e P3 da tabela 1 e se formou a tabela 4: Tabela 4: Temperatura variando Volume (cm³) Pressão (kPa) Temperatura (ºC) 1 21 179 36,1 2 38 119 17,1 Com auxílio da equação (9) e (10), calculou-se as constantes 𝑘1 e 𝑘2 para cada ponto, respectivamente. Os resultados obtidos constam na tabela 5: Tabela 5: Constantes e diferença percentual. 𝒌𝟏 𝒌𝟐 Diferença Percentual 104,1 214 39,2% Começando a análise dos resultados pelas constantes 𝑘1 e 𝑘2, é importante pontuar que, ao realizar seus cálculos, os ajustes em relação ao Vo já foram adicionados aos volumes originais. Nas equações (9) e (10), vemos que a pressão, por exemplo, é diretamente proporcional ao volume (ao contrário do procedimento com a temperatura constante), mas inversamente proporcional à temperatura. Os valores das constantes também obedecem à mesma relação. Dever-se-ia obter valores semelhantes para as constantes, mas como observado na tabela 4, não há essa igualdade esperada. Ademais, a distância percentual foi deveras significativa (tabela 5), não obstante, mais uma vez justificada pela precisão dos equipamentos e pelos métodos adotados para a realização do mesmo. CONCLUSÃO Em primeira instância, o experimento com a temperatura constante, ainda que com os erros percentuais, pode-se afirmar sim que a essa primeira parte comprova a lei de Boyle- Mariotte primeiramente pela parte prática do experimento. Foi possível observar, pela análise de dados na tabela 1 que, conforme os valores da pressão aumentavam, os valores do volume diminuíam. Infelizmente, as razões calculadas entre cada constante físico- química não se igualaram mesmo com os ajustes feitos ao acrescentar o volume Vo. Mas percebe-se que esses valores se aproximam, então podemos inferir que, caso o experimento fosse realizado com maiores precauções e os equipamentos melhor ajustados e precisos obteríamos valores semelhantes, certamente. Porém, isso não invalida o experimento, muito pelo contrário. Com isso, podemos ver que, em circunstâncias reais, os gases ideias existem apenas na literatura e, para que possamos encontrar relações entre as constantes, é precisofazer reconsiderações diversas vezes sobre os cálculos. Em seguida, já na parte da análise com a temperatura variando, também não obtivemos constantes iguais. No entanto, elas não seriam iguais, ao menos que fosse um sistema isobárico, de acordo com a Lei de Charles. Mais uma vez, viu-se na prática que o sistema montado não era ideal, visto que se teve variação entre as pressões em todos os quatro pontos. Consequentemente, a lei de Charles não se aplicaria a essa segunda parte da análise do experimento. Por fim, gostar-se-ia de fazer ressalvas: o experimento como um todo foi bastante proveitoso, visto que acrescentou bastante conhecimento ao grupo, além de desconstruir conceitos pré- estabelecidos. Além do mais, ainda que tivesse alguns obstáculos, todos os objetivos foram alcançados e satisfatórios. REFERÊNCIAS 1.Disponivel em: https://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap4/cap4- 2.html. Acessado em 06/06/2018. 2.Disponivel em: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/tran sformacoes-gasosas.htm. Acessado em 06/06/2018
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