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1 Mauro Tereso Juvandes da Silva E-mail: maurosilva.ms7@gmail.com, Contacto: +258 849397600 Mestrado em Administração de Negócios - Gestão Financeira Docente: João Ribaué, MSC Estudo do impacto da política de dividendos sobre o valor de mercado da empresa 1. Introdução A partir da segunda metade do século XX, o crescente cenário económico mundial marcado pela presença de múltiplos actores dinâmicos, trouxe a consciência das transformações significativas que vem ocorrendo no mundo empresarial que por sua vez trouxeram consigo uma necessidade intensa de formulação de estratégias que se traduzam no sucesso organizacional. Dentre elas estratégias ligadas as finanças empresariais. As finanças empresarias são entendidas como sendo o processo de tomada de decisões financeiras, que são o cerne da gestão estratégica das organizações e um importante elemento para o comportamento, estrutura e desempenho empresarial. A maior parte das decisões estratégicas das empresas, tem como objectivo o crescimento da mesma, com o principal foco de aumentar o valor da empresa, expandir a capacidade produtiva, bem como maximizar o interesse dos detentores do capital. De acordo com Pacheco (1999), as finanças empresariais centram-se na tomada de três tipos de decisões financeiras: de investimento, de financiamento e de distribuição de resultados. Por sua vez a politica de dividendos está ligada a um conjunto de decisões, com impacto em termos económico-financeiro, no que diz respeito a alocação dos resultados líquidos entre duas aplicações alternativas: a distribuição de resultados aos accionistas e a retenção de resultados para reinvestimento na empresa. Os dividendos são para o accionista uma forma de retorno do investimento efectuado. Por sua vez, o valor da empresa não somente é influenciado pela expectativa de crescimento, mas também pelos riscos envolvidos em cada tipo de financiamento. Risco e retorno, são, portanto, as bases 2 fundamentais que são utilizadas para determinar o valor da empresa e a política de dividendos a ser implementada A problemática do impacto da política de dividendos sobre o valor de mercado da empresa tem sido objecto de estudo ao longo de varias década, no entanto, até hoje não há consenso quanto a política de dividendos mais adequada que maximiza o valor da empresa para o accionista. É pensando nestas constatações, que o presente artigo tem como objectivo aprofundar em torno do impacto da politica de dividendos sobre o valor de mercado, trazendo referenciais teóricos que foram formulados e que são amplamente aceites para dar resposta a esta problemática. Para a elaboração deste trabalho, foi feita uma pesquisa exploratória, de revisão bibliográfica, com dados secundários olhando essencialmente nas diversas teorias formuladas que explicam o comportamento e a acção das empresas em termos de políticas de dividendos. 2. Enquadramento Teórico Para Gitman (2010), a política de dividendos de uma empresa representa um plano de acção a ser seguido sempre que houver uma decisão a respeito do pagamento de dividendos e que é desenvolvida de forma a maximizar os objectivos organizacionais. Menezes (2012) acrescenta que a política de distribuição de dividendos da empresa está ligada a um conjunto de aspectos de natureza diversa, e de entre os quais destacam-se: aspectos legais e estatutários, estratégicos, económicos e financeiros. Existem várias linhas de pensamento quanto a questão da politica de dividendos: alguns consideram os dividendos atractivos, tendo uma influência positiva sobre os preços das acções (essencialmente devido à sua maior certeza relativamente à componente de remuneração ganhos de capital); alguns acreditam que os preços sofrem uma influência negativa com a distribuição dos dividendos (essencialmente, pelo efeito dos impostos sobre os dividendos) e outros afirmam que a política de dividendos é irrelevante, ou seja, não influencia o preço das acções e, consequentemente, o valor da empresa. (Leite, 2011). Nesta ordem de ideias, podemos então perceber que os dividendos estão ligados a distribuição dos lucros da empresa e que existem vários factores que contribuem para a politica de dividendos 3 elevada, reduzida ou até mesmo irrelevante. Isto porque o pagamento ou não de dividendos são decisões importantes que determinam o valor de mercado de uma empresa. A política de dividendos não é apenas uma decisão sobre quanto pagar ao accionista, sobretudo é também uma decisão sobre o quanto deverá ser retido na empresa, bem como as razoes que justifiquem a esta retenção. Dentre várias teorias desenvolvidas, podemos encontrar diversas evidências a respeito da política de dividendos. De acordo com Brealey e Myers (1992), nos anos 50, Jonh Litner realizou inquéritos a diversos administrados de empresas norte americanas, que contribuíram para que fosse desenvolvido um modelo que justifica uma politica de dividendos. A sua descrição da forma como os dividendos são determinados pode resumir-se a quatro factos: 1. As empresas têm objectivos a longo prazo para rácios de distribuição de dividendos; 2. Os gestores dão mais importância aas alterações dos dividendos do que aos seus níveis absolutos; 3. As alterações dos dividendos seguem aa logica de longo prazo dos lucros sustentáveis. 4. Os gestores mostram relutância em proceder a alterações dos dividendos que possam ser reversíveis. Gitman (2010), acrescenta que um elemento central desta ideia é o argumento do pássaro na mão, segundo o qual os investidores consideram os dividendos correntes menos arriscados que os dividendos futuros: “mais vale um pássaro na mão que dois a voar”. Para estes autores, o pagamento corrente dos dividendos reduz a incerteza dos investidores, fazendo com que descontem os lucros da empresa a uma taxa menor, e em igualdade das demais condições, atribuam um valor mais elevado das suas acções, contribuindo assim para a elevação do valor da empresa no mercado. Contrariamente, a teoria anterior, em 1961, foi publicado um artigo, Mogdiliani e Miller, mostrando a irrelevância da politica de dividendos, sob certas circunstâncias, segundo os quais o valor do mercado de uma empresa é determinado exclusivamente pelo retorno e risco dos seus 4 activos (investimentos) e a maneira como os seus lucros são divididos entre dividendos e fundos internamente retidos para serem reinvestidos (Brealey & Myers, 1992). Para Gitman (2010) a teoria de Mogdiliani e Miller sugere que em um mundo perfeito (ausência de incertezas, impostos, custos de transacção e outras imperfeições do mercado), o valor da empresa não é afectado pela distribuição de dividendos. Segundo esta teoria, o que deve importa aos investidores, em termos de valorização das acções, é o aproveitamento dos projectos de valor presente líquido positivo (VPL+). Por exemplo, se uma empresa paga baixos dividendos hoje, pode financiar seus projectos com as retenções (neste caso, os accionistas actuais financiam) e pagar dividendos maiores em data posterior. Por outro lado, se a empresa paga mais dividendos hoje, poderá financiar seus projectos por meio da entrada de novos investidores e pagar menos dividendos aos actuais investidores em data posterior. Cada unidade monetária paga a menos na forma de dividendos representa uma unidade monetária a mais em ganho de capital, e vice-versa. DeAngelo e DeAngelo, (2006) argumentam que como não vivemos num mundo perfeito, várias são as anomalias do mercado, como por exemplo, a questão dos impostos, a assimetria de informação e os custos de transacção, daí que o valor da empresa passa a ser função da política dedividendos. Neste contexto, foram elaborados vários trabalhos que criticaram as conclusões de Mogdiliani e Miller (1961), sobretudo devido ao irrealismo dos seus pressupostos. Para esses autores a política de investimento por si só não determina a riqueza dos accionistas e que as decisões de financiamento e pagamento de dividendos na presença de diversos factores têm o seu impacto no valor da empresa. O primeiro factor a considerar é o imposto. Os impostos constituem uma das imperfeições dos mercados financeiros. Como os dividendos são sujeitos a impostos, empresas podem adoptar politicas restritivas de dividendos com objectivo de conseguir ganhos de capital, de forma a evitar custos fiscais com os dividendos. Nestas condições o preço das acções tende a se elevar, elevando assim o valor de mercado da empresa, através do benefício da vantagem fiscal (Barros, 1999). Esta ideia é também sustentada por Brennan (1970) de que os accionistas têm uma certa tendência de maximizar os seus rendimentos após os impostos, sempre que a taxa de imposto sobre o 5 dividendo excede a taxa de imposto que incide sobre os ganhos de capital. Desta forma, o valor da empresa é maximizado seja com a distribuição de dividendos, ou com ganhos de capital, sempre que houver uma vantagem fiscal. Outro factor que afecta a política de dividendos e consequentemente o valor de mercado das empresas é a assimetria de informações entre os diversos stackeholders intervenientes e o efeito de sinalização. Segundo Pacheco (1999) o efeito-sinalização decorre do fenómeno da assimetria de informação e da procura de pistas pelo investidor para apoiar decisões de investimento no mercado. Este fenómeno assenta no facto inequívoco de que nem todos os agentes económicos possuem a mesma capacidade para recolher, processar e utilizar a informação relevante para o processo de tomada de decisão financeira. Diante deste facto, a ausência de perfeita informação no mercado financeiro, as políticas de dividendos podem conter informações relevantes para o investidor, uma vez que se traduz num sinal para o mercado de títulos. Por exemplo, um aumento de dividendos constitui uma informação para o mercado de títulos que a empresa espera elevados fluxos de caixa futuros. Barros (1999) realça a importância da política de dividendos como sinal decorrente do facto dos gestores terem mais acesso a informação do que os accionistas e do mercado, pelo que eles têm interesse em informar o mercado sobre o verdadeiro desempenho da empresa. No entanto, na medida em que esses sinais não possuem custo associado, é sempre possível falsificá-los dai que há necessidade de incluir mais um factor importante que afecta a política de dividendos: os custos de agência. Assim sendo, existe uma certa propensão para se gerarem conflitos de interesse entre gestores e accionistas, bem como entre credores e accionistas, denominados custos de agência. Para Pacheco (1999), os conflitos de agência podem surgir quando o accionista prefere dividendos, na medida em que os gestores e os credores geralmente preferem sempre a alternativa de retenção dos resultados para a obtenção de ganhos de capital. Os motivos típicos para estas preferências dos gestores são basicamente: A procura de autonomia face aos accionistas e à chamada “disciplina de mercado”; 6 A tentativa de evitar penalizações na cotação das acções no caso de necessidade de reduções nos dividendos; A procura da maximização do prestigio, do poder e da sua remuneração relacionados positivamente com a dimensão da empresa; A postura de aversão ao risco típico de gestão. Um conflito de agência que se estabelece entre gestores e accionistas é o que respeita às decisões relativas à distribuição de dividendos, em alternativa à sua retenção para a obtenção de ganhos de capital, que podem gerar conflitos entre eles sempre que exista uma separação entre a propriedade e a gestão. Nesta ordem de ideias, a política de dividendos surge como um meio de diminuir os custos de agência. Jensen (1986) acrescenta que os conflitos entre accionistas e gestores assumem particular relevância quando as empresas geram fluxos de caixa elevados. Afirma também que, embora os gestores tendem a preferir a retenção dos resultados gerados pela empresa, esta decisão pode não ir ao encontro da maximização do valor da empresa, como é desejado pelos accionistas, especialmente quando a dimensão e o valor das suas oportunidades de investimento são pequenas. Assim, podemos constatar que numa perspectiva de custos de agência, o acréscimo (decréscimo) de dividendos contribui para a redução (aumento) dos fluxos de caixa disponíveis e, consequentemente, para o acréscimo (decréscimo) do valor das acções, e por fim do valor de mercado da empresa. Segundo Barreto (2011) estudos recentes revelaram a existência de uma relação positiva entre o valor da acção e a dimensão da empresa ou a cobertura de investimentos. Os investidores apreciam empresas de maior dimensão, o que pode ser explicado por questões de reputação (empresas maiores são mais conhecidas e inspiram mais confiança nos investidores) e/ou por questões meramente económicas, como uma maior capacidade concorrencial ou menor probabilidade de falência. Entretanto, como o objectivo principal deve ser a maximização da riqueza dos accionistas da empresa, o gestor terá que estabelecer, através da política de dividendos, a melhor combinação entre o pagamento de dividendos e a retenção dos lucros. 7 3. Considerações finais Em suma, podemos concluir que as decisões de uma empresa sobre os dividendos misturam-se frequentemente com outras decisões de financiamento e de investimento, daí que a política de dividendos constitui uma alternativa entre a retenção de lucros e o pagamento de dividendos qu tem um impacto no valor de mercado da empresa. Brealey e Myers (1992) concluíram que a política de dividendos tem um efeito positivo sobre o valor de mercado da empresa, sugerindo que os investidores capitalizam os dividendos futuros no preço das acções. Isto quer dizer que quanto maior for o dividendo, maior tenderá a ser o preço da acção Destacamos também, que teoricamente existem razões que justifiquem ou não uma política de dividendos, dentre elas destacam-se a teoria da irrelevância da política de dividendos que se posicionava numa postura indiferente na determinação do valor das empresas defendendo a hipótese de que o pagamento dos dividendos não afecta o valor da empresa e a riqueza total de seus accionistas, declarando que o valor da firma é determinado pela política de investimentos e pelo retorno proporcionado por seus activos. Consequentemente, os investidores são indiferentes quanto à origem de seus lucros, sejam eles em dividendos ou em ganhos de capital na valorização das suas acções. Contrariamente, outra teoria defendia a relevância da política de dividendos, que era originada pelas imperfeições de mercado e que por sua vez era considerada a mais importante. Segundo esta teoria estabelece-se assim uma relação directa entre a política de dividendos e o valor de mercado da empresa: o pagamento de dividendos leva à redução das incertezas, o que por sua vez conduz ao aumento dos preços das acções e do valor de mercado da empresa. Por fim, problemática do impacto da política de dividendos sobre o valor de mercado da empresa tem sido alvo de estudo ao longo de várias décadas. No entanto, ainda hoje não há um consenso de posições quanto à política de dividendos mais adequada, ou seja, aquela que melhor contribui para a maximização do valor da empresa para os accionistas. 8 4. Referências BibliográficasBarreto, A. T. (2011). O Impacto da política de dividendos no valor de mercado da empresa: O caso das empresas cotadas na Euronext Lisbon. Algarve; Portugal: Universidade Do Algarve Barros, C. P. (1999), Avaliação financeira de projectos de investimento. Lisboa; Portugal: Editora Vulgata Brealey, R. A. & Myers, S. C. (1992), Princípios de finanças empresariais (3ª ed.). Lisboa; Portugal: McGraw-Hill Brennan, M. J. (1970). Taxes, market valuation and corporate financial policy. Recuperado em http://www.albany.edu/faculty/faugere/PhDcourse/BrennanCAPM.pdf DeAngelo, H., & DeAngelo, L. (2006). The irrelevance of the MM dividend irrelevance theorem. Journal of Financial Economics, 79, 293 – 315. Gitman L. J. (2010), Princípios de administração financeira (12ª ed.). São Paulo; Brasil: Pearson Prentice Hall Jensen, M. C. (1986). Agency Costs of Free Cash Flow, Corporate Finance and Takeovers. The American Economic Review, 76, 323 – 329. Leite, S. M. (2011), Sinalização dos dividendos. Aveiro; Portugal: Universidade de Aveiro Meneses, H. C. (2012), Princípios de gestão financeira (12ª ed.). Lisboa; Portugal: Editorial Presença. Pacheco, L. P. K. (1999), O estado da arte em politica de dividendos. Porto; Portugal: associação da bolsa de derivados do Porto.
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