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Artigo congresso reformulado

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O PERCURSO HISTÓRICO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: do binômio repressão/assistência à conquista do Estatuto
RESUMO
O presente artigo trata da Política de Proteção à Criança e ao Adolescente, fazendo um resgate que vai do período ditatorial, até os moldes da redemocratização, onde poderemos vislumbrar legislações acerca da proteção social. Dito isto, na ditadura o que ficou estabelecido no Brasil por muito tempo, foram anos de repressão para a sociedade que se via sob um regime que retirava de si o direito à liberdade, tanto da criança como ao adolescente. É nesta época que os avanços no que diz respeito a política que os atende, foram tratados como seres que poderiam ser um perigo para a sociedade. A criança era vista como uma “ameaça” para os que estavam no poder, reconhecidos com “delinquentes”, “vadios”, “ociosos”, e que precisavam ser reeducados, pois estavam desajustados do restante da população e era visto como forma de garantia da Segurança Nacional. Por outro lado, a redemocratização atuara como uma virada na concepção que o Estado passa a ter sob a criança e ao adolescente, onde os mesmos começam a serem tratados com medidas que assegurassem a proteção e o direito a eles, com formulações de Leis e legislações, como é o caso do ECA, que será instituído para efetivação da proteção à criança e ao adolescente. 
Palavras-chave: Ditadura militar. Repressão/assistência. Criança e adolescente. Redemocratização. ECA
ABSTRACT
This article deals with the Protection Policy for Children and Adolescents, making a rescue that goes from the dictatorial period, to the molds of redemocratization, where we can glimpse legislation on social protection. That said, in the dictatorship what was established in Brazil for a long time, were years of repression for society that was under a regime that removed the right to freedom, both the child and the adolescent. It is at this time that advances in regard to the policy that meets them, have been treated as beings that could be a danger to society. The child was seen as a "threat" to those in power, recognized as "delinquents," "idlers," "idlers," and who needed re-education because they were out of touch with the rest of the population and viewed as a form of security of National Security. On the other hand, redemocratization has been a turning point in the conception that the State has under the child and adolescent, where they begin to be treated with measures that ensure the protection and the right to them, with formulations of laws and legislation , as is the case of the ECA, which will be established to ensure the protection of children and adolescents.
Keywords: Military dictatorship. Repression / assistance. Child and teenager. Redemocratization. ECA
1. INTRODUÇÃO
O período ditatorial representou para o Brasil, um marco repleto de opressão, repressão, assistencialismo e endividamento das contas públicas. A hegemonia presente no país era constituída de censura e pouca cobertura estatal para com gastos sociais. Palavras como delinquência, ociosidade, fora de ordem, eram empregadas não só as pessoas adultas, mas, esse vocabulário também fazia parte do cotidiano do que era a proteção social as crianças e aos adolescentes. 
Não havia uma proteção que garantisse o bem-estar, o cumprimento do direito, uma vez que, não havia a literatura jurídica que abraçasse os direitos que deveriam estar à disposição das crianças e dos adolescentes. Tudo era questão de ordem, logo, aquilo que fora apresentado fora do ideal, progressista e moral, era para ser corrigido. Assim, a lógica do direto passava longe daquilo que deveria estar à disposição da criança e do adolescente.
Conquanto, no período da redemocratização os avanços no que tange a lógica dos direitos foram nítidos. A constituição de 1988, intitulada como cidadã, marcou o início da era dos direitos pós ditadura militar. Agora, a liberdade, o direito a educação, ao lazer, estava disposto na carta magma brasileira. Assim, cabe ao estado efetivar a proteção que está discorrida na constituição de 1988.
Com efeito, seguindo o norte da constituição cidadã, o Estatuto da Criança e do Adolescente é promulgado em 13 de julho de 1990. O mesmo adensou o caráter protetivo direcionado a criança e ao adolescente e se apresenta como um marco até os dias atuais, no que diz respeita a proteção dos mesmos.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A criança da ditadura militar: repressão e assistencialismo
Um período que foi um marco na história do Brasil foi a ditadura militar, mesmo que negativamente, governos autoritários, que visavam a ordem, somado ao progresso, acabaram que usurpando a liberdade da sociedade. O período ditatorial com o seu caráter repressor findou em solo brasileiro, marcas de medo para a classe dos menos favorecidos. De acordo com Faleiros (2011, p.64) “A intervenção do Estado se operou de forma autoritária em todos os setores da vida nacional em base a repressão, a manutenção da ordem [...]”
Um segmento que sofreu com as perversidades deste período foi a criança e o adolescente. As políticas destinadas a estes citados, eram mais desprotegiam do que protetiva, bem como a assistência prestada aos mesmos era de caráter focal e seletiva. 
A criança durante muito tempo, mais precisamente neste período acima supracitado foi tida como uma “ameaça” para os que estavam no poder, reconhecidos com “delinquentes”, “vadios”, “ociosos”, precisavam ser reeducados, pois estavam desajustados do restante da população, para a garantia da Segurança Nacional.
Na segunda metade dos anos 1960 foi percebida mudanças, decorrentes da crescente urbanização, as cidades começaram a se desenvolver e com isso há uma explosão dos grandes centros urbanos. Segundo Vogel (2011):
As mudanças sociais em ritmo acelerado, impulsionavam um avassalador processo de urbanização. O êxodo rural [...] estimulava um fluxo constante de pessoas que, a título individual ou como unidades familiares, deixavam seus locais de origem, para povoar as periferias das cidades, em busca dos padrões de vida [...] (VOGEL, 2011, p. 287)
A ida de pessoas do campo para a cidade, com o pensamento de que iriam ser agraciados com uma “vida melhor” logo seria desmistificado, pois aqueles foram submetidos a viver em condições insalubres, visto que, paralelo ao crescimento das cidades, houve também a elevação da pobreza, ou seja, um agravante das expressões da “questão social�”.
Destarte, essa migração ocasionou no amontoado de pessoas vivendo em condições subumanas, crianças passaram a habitar as ruas na mendicância que assola as grandes metrópoles, sem nenhuma perspectiva de futuro. Diante disso a população jovem é vista como um problema e uma ameaça para a ordem social, é preciso então conter esse “problema social” que vem germinando no seio da sociedade, sobretudo a infância pobre. De acordo com Vogel (2011, p.292) “Frutos de um processo social perverso, tais grupos tendiam a converter-se em geradores de desarmonia”.
O “menor” termo usado naquela época, é acusado de perturbar a ordem social, é preciso corrigir um erro que se estabelecera nesse período histórico, instituições são criadas para atender e recolher esses “menores” que tornavam a sociedade desarmoniosa. 
No ano de 1941 foi criado o Serviço de Assistência ao Menor (SAM) no governo ditatorial de Vargas, e tinha o objetivo de centralizar a assistência ao segmento criança e adolescente, objetivava ainda prover um melhor atendimento para aqueles, porém o que se viu ainda foi um atender voltado para a correção e disciplina recorrente na época.
No ano de 1994 o serviço foi levado para todo o território nacional, institucionalizando crianças, separando-os das suas famílias e segregando-os da sociedade, as instituições tinham as características de um sistema prisional, onde mais punia a criança do que dava assistência.
Os defensores desse serviço tinham a ideia de que o órgão iria garantir a segurança, institucionalizando a criança as cidades estariam limpas,ou seja, os mesmos eram tidos como algo sem valor e que não tinha importância para os governantes.
Não demorou muito para que o órgão sofresse várias críticas de diversos atores da sociedade, jornalista, juízes, e também a população começaram a denunciar o SAM pela forma como ele institucionalizava as crianças, e ainda a corrupção infiltrada no serviço fez com que surgisse essas denúncias, em decorrência disso o SAM foi extinto dando lugar a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM).
A FUNABEM iria não só formular, mas implementar a Política Nacional do Bem-Estar do Menor (PENABEM), as suas ações eram voltadas para realizar estudos sobre a situação na qual se encontravam os “menores” e no planejamento para encontrar soluções da problemática que estavam inseridos vos mesmos.
Essa instituição tinha uma atuação baseada na correção e prevenção do que levava os “menores” a estarem desajustados da sociedade, tinha a finalidade de retornar a criança para a sua família, porém ainda prevaleceu um trato repressivo e por ora violento, o órgão surgiu para substituir o SAM, mas ainda continuou com as mesmas formas de atuar com o seu caráter repressivo e violento.
Para dar suporte a FUNABEMS no que diz respeito ao atendimento a criança e o adolescente foi criada ainda na ditadura a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM) que iria direcionar o atendimento para a criança a níveis estaduais. Essas instituições tinham uma política de atendimento baseada na forma violenta, onde crianças e adolescentes eram encarcerados em grandes complexos, denegrindo a infância, baseada na repressão, na perspectiva de ajustar o “menor” e consequentemente a sociedade.
Ora, como ensejar uma sociedade “ajustada” se o provimento de políticas sociais destinadas é quase nenhuma? A assistência prestada ao “menor” é seletiva, com foco na criança pobre, que era uma ameaça para o país. A “proteção” sempre pautada na perspectiva de evitar problemas para a ordem, mais desprotegia a criança que necessitava de atenção do que protegia.
O termo “menor” era usado de forma pejorativa e utilizado para as crianças tidas como pobres, que vieram de famílias de uma realidade social não favorável e excluídas pela desigualdade social existente no país, aquele era o menino negro ou mulato que muitas vezes era morador de periferia. De acordo com Diniz e Cunha (1998, p.39) “[...] a palavra ‘menor’ deixa de ser um termo técnico e transforma-se numa expressão social para fazer menção a um segmento da população infanto-juvenil [...]”.
Desse modo a criança sofria com essa atenção que era dada a ela, a criança pobre e negra não era atendida da mesma forma como as outras que se encontravam em uma condição de vida ou financeira melhor, ou seja, esse problema é um agravante das expressões da questão social que perpetuava na sociedade e que em decorrência disso a mesma ficava a mercê da mendicância recorrente nas ruas.
De acordo com Rizzini (2004, p. 22) “O recolhimento de crianças as instituições de reclusão foi o principal instrumento de assistência à infância no país”. Desse modo, prevalecia um atendimento pautado na punição para aqueles que não estavam em uniformidade com o regime instaurado
As iniciativas tomadas por meio do governo eram apenas para sanear a cidade, fazer uma verdadeira “limpeza” das ruas, pois a criança que estava a perambular pelas vias, considerados ociosos, eram tidos como algo que não tinha valor e que recolhê-los era a melhor alternativa.
	 Essa higienização das cidades era necessária, pois para os governantes a criança nesse momento tornava-se um “perigo social”, percebe-se aqui a criminalização da infância pobre, como se a criança por se encontrar em situação de pobreza fosse a responsável por achar-se em tal conjuntura, era posta uma segregação para a mesma, pois era tirado dela o direito de conviver com os outros seres sociais.
	 No entanto, a desigualdade social era vista de forma densa, e se perpetuava cada vez mais, isso muito decorrente a desresponsabilização do Estado no tocante as suas atribuições, embora tenha sido um momento histórico onde a criança por vezes passou a ser percebida de forma diferente, ainda prevalecia uma assistência pautada na repressão, uma vez que o regime instaurado se pautava nisso.
Percebe-se que a forma como eram assistidos o público infanto-juvenil era totalmente impiedosa, e ainda muitos proferiam o discurso de “salvar a criança para salvar o futuro da nação”, porém o que se via era decadência de um segmento vulnerável, que estava a mercê de um governo que denegria a sua condição de ser social.
Embora tenha sido um trato baseado na punição, correção para com os desvalidos. “[...]Trata-se de um período de forte presença do Estado no planejamento e na implementação das políticas de atendimento ao menor” (RIZZINI, 2004, p. 29). Vale salientar que essa maior atenção por parte do governo não é oriunda da “boa vontade” do mesmo, mas das lutas impostas pela sociedade civil, mesmo em meio a um cenário tão contrário, devido a situação degradante vivenciada por esta mesma sociedade.
Em meio a um momento não favorável para a luta por direitos a sociedade, devido as repressões sofridas ainda assim dava sinais de resistência, pois o que fora conquistado até ali foram por meio de embates contra o regime ditatorial.
É impossível fazer uma análise do percurso histórico das políticas para a criança sem citar os interesses que os rondava, principalmente o econômico, como também o político. Segundo Vogel (2011):
[...] a massa crescente de crianças e jovens marginalizados fazia prever, a curto e médio prazos, prejuízos consideráveis, quer do ponto de vista socioeconômico, quer do ponto de vista político. No primeiro caso, em virtude da riqueza que se deixava de gerar e do dispêndio com o qual se teria de fazer, face aos problemas sociais decorrentes da marginalização. No segundo, em virtude do risco de que o potencial constituído por esses “irregulares” viesse a ser capitalizado por forças contrárias ao regime. (VOGEL, 2011, p. 292-293)
Desse modo, se a marginalização fosse habitual, consequentemente o governo teria que arcar com gastos para conter a marginalização da criança empobrecida, e isto seria um empecilho para a ordem, haja vista que poderia soar negativamente no campo político, como também para a economia, pois a criança seria a futura mão de obra do país. 
Diante disso, é notório que a atenção dada para a criança nesse período, não era mais que a intenção de garantir no futuro homens capazes para o trabalho e para fazer gerar a economia do país. A política direcionada para esse segmento é totalmente de viés capitalista, que mais visava o capital do que propriamente proteção para as crianças que estavam em situação de mendicância nas ruas das grandes cidades.
É perceptível que é posta em prática a ideologia de preservar o capital humano, seguindo o modelo de desenvolvimento da época. A forma injusta na qual era tratada as crianças naquela época, faz-se entender que, estas mesmas eram objetos sem valor, tratados muitas vezes como “delinquentes”.
É necessário entender que a criança foi e ainda é um segmento vítima do Estado que se desresponsabiliza de suas obrigações. A culpa por ela encontra-se na situação de vulnerabilidade social não é dela, e sim da não atenção por parte daquele citado que não implementa políticas públicas, pois a expressões de políticas públicas se associam a uma intervenção estatal em busca de concretizar um bem-estar social estritamente ligadas a racionalidade de sujeitos de direitos, que intervenham nas expressões da questão social.
A política que foi destinada para a criança como já foi falada, era repressiva e mais punia do que protegia, como afirma Rizzini (2004): 
a política de segurança nacional empreendida no período da ditadura militar colocava a reclusão como medida repressiva a todo e qualquer sujeito que ameaçasse a ordem e as instituições oficiais. O silencio e a censura eram poderosos aliados oficiais no sentido de mantera política de internação, nas piores condições que fossem, longe dos olhos e ouvidos da população. (RIZZINI, 2004, p. 45-46)
Assim sendo, a infância durante esse período histórico para muitos ela foi usurpada, da forma mais degradante possível, marcas que ficaram e acompanham a história da criança em seu percurso, marcados pela desproteção, e pela maneira como foram vistos, “vadios”, “ociosos”, “delinquentes”, sinônimos que negam a sua dignidade e tiram de si a capacidade de serem reconhecidos como sujeitos de direitos.
O trato para esse segmento só vai ser satisfatório a partir das conquistas resultantes das lutas travadas pela sociedade civil num momento de redemocratização do país, onde se inicia um novo tempo para a criança, que tanto sofreu com a negação de direitos por parte do Estado, que mais punia do que protegia a criança no Brasil.
2.2 Redemocratização: a conquista do Estatuto da Criança e do Adolescente
A Ditadura militar no Brasil ficou estabelecida por muito tempo, foram anos de repressão para a sociedade que se via sob um regime que retirava de si o direito à liberdade. A criança e ao adolescente nessa época embora tivessem ganho avanços no que diz respeito a política que o atende, ainda foram tratados como seres que poderiam ser um perigo para a sociedade.
A assistência prestada para os mesmos era de forma focalista e pontual, o atendimento se dava apenas para os que eram considerados pobres, não sendo contemplados os demais que embora fosse crianças, não tinham uma atenção para o seu desenvolvimento.
Várias foram as lutas travadas pela sociedade pela garantia de direitos, a partir da década de 1980 com a transição política que se desenhava foram conseguidos mesmo que minimamente garantias legais para a criança e o adolescente, vale destacar que não só para o segmento da criança e do adolescente, mas para a sociedade como um todo.
Contudo, os movimentos sociais dessa época não giravam em torno, eintimamente, da promulgação de um possível ECA, na verdade, os movimentos sociais, emergiram praticamente na década que inicia a ditadura, fato esse que restringe tais momentos populares. Entretanto, movimentos como Movimento de Reforma Sanitária, psiquiátrica; movimentos pela volta da democratização do Estado, buscando um estado protetor, ampliado, foram os movimentos que atenuaram a criação da ECA. Todos estes lutavam pela intervenção do Estado, por um estado voltado para social, que beneficiasse a classe trabalhadora, bem como a protegesse e nesse tom, o ECA foi idealizado e impetrado.
Assim, no período da redemocratização a sociedade começa a se organizar e vários movimentos sociais surgem na busca por melhorias, conquistas essa que ficaram mais perceptíveis com a promulgação da constituição de 1988 que já introduzia direitos para a criança e ao adolescente em seu Art. 227:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de coloca-los a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).
	Diante disso, percebe o trato diferenciado que a legislação traz em linhas gerais que vários direitos são garantidos, ou em tese deveriam ser, pois a lei passa a reconhecer a criança como sujeito de direitos, e que está sob responsabilidade agora do tripé, Estado, família e sociedade, não mais de um ator só, mas na união dos três em prol da efetivação dos direitos sociais destinados para a criança e ao adolescente.
	Destarte, a CF de 1988 abriu caminhos para a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 13 de julho de 1990 foi regulamentado o ECA que reconhece a criança como pessoa em condição peculiar de desenvolvimento e que necessita de garantia legais para o seu desenvolver enquanto ser humano. De acordo com Diniz e Cunha (1998, p.33, grifos do autor) o ECA:
[...] adota expressamente em seu artigo n° 1 a Doutrina da Proteção Integral, reconhecendo a criança e ao adolescente como cidadãos: detalha os direitos infanto-juvenis em diretrizes gerais para uma política de atendimento: determina a forma de participação popular na elaboração desta política de atendimento [...]
Desse modo, percebe-se o trato diferenciado quando compare-se aos tratos que as crianças nas legislações anteriores, tendo estas mesmas o seu reconhecimento enquanto ser humano, e que sejam atendidos com absoluta prioridade no que diz respeito aos direitos fundamentais, algo surreal em outros períodos que antecederam tal legislação que entrara em vigência.
Não obstante, a partir do momento em que a criança passa a ser reconhecida como sujeito de direitos, não garantiu, necessariamente a revogação total do Código de Menores – autores colocam que o ECA, embora avançado, carregue em si traços do código de menores ainda se tivéssemos uma “negação total” do modelo anterior – não teríamos nos dias atuais instituições que reproduzem essas práticas de segregação e negação de direitos
Outrossim, é importante situar que o Estatuto nasce em meio a implementação da ideologia neoliberal que pairava pelo país, e mesmo assim conseguiu se caracterizar como avanço para a criança e adolescente, o Estado passa a priorizar as atividades voltadas para a economia e deixando muito a desejar no que diz respeito a atenção para a sociedade.
Dessarte, o Estado neoliberal acaba “revogando” as conquistas obtidas tanto no ECA, quanto na própria constituição federal. O Estado que fora pensado na CF, foi praticamente destituído por legislações complementares, que quebraram na prática a amplitude democrática da constituição cidadã. A chegada de Collor e Fernando Henrique Cardozo ao poder, subsidiaram a regressão Estatal garantindo que a reforma do Estado, ia tornar o estado mais leve, menos burocrático. Afirmava-se que a maquina estatal era pesada e por isso era necessária uma modernização que acabou beneficiando os bancos e grande capital e desprotegendo e prejudicando a classe trabalhadora.
Apesar do cenário lastimável promovido pela ideologia neoliberal, promovendo um cenário complexo de desmonte de direitos sociais o Estatuto vem assegurar os direitos que a criança necessita para poder viver dignamente como aponta o Art. 3°:
A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral e social, em condições de liberdade e de dignidade (BRASIL, 2017).
	Diante disso, percebe-se que os direitos destinados a infância, visam atender os mesmos, ensejando o desenvolver da criança dando-lhe condições asseguradas por lei para a efetivação dos direitos que preceituam o ECA na sua integralidade, e para isso é preciso ações que visem promover além do desenvolvimento, a autonomia da criança e do adolescente enquanto sujeitos dotados de direitos.
	A garantia dos direitos visa ainda o bem-estar da criança e do adolescente, é notório que há muito o que ser feito na implementação do Estatuto, uma vez que violações ainda são presentes no cotidiano dos mesmos, essa legislação trouxe mais que a garantia de direitos, paralelo à sua promulgação veio também o reconhecimento daqueles citados, no que diz respeito ao seu atendimento, de modo que:
O ECA institui os direitos fundamentais e as medidas preventivas, socioeducativas e protetivas que objetivam assegurá-los. Estabelece as linhas de ação da política de atendimento, como as políticas e programas sociais, serviços de prevenção, entidades de atendimento, medidas de proteção e organização pública [...] (SIMÕES, 2012, p.229).
A criança e o adolescente deixam de ser tratados como algo que era tido comoperigo e começasse então a ser estabelecidas medidas que assegurem os mesmos, para que não venha a ficar desassistidos pelas políticas de atendimento que tinham o objetivo de prevenir a desproteção, diferente do que foi feito em tempos passados, onde só era dada atenção quando a violação do direito já estava instalada.
Dessa maneira entende-se que a criança é colocada como prioridade não só para o governo, mas para todos os que estão em relação com o mesmo, onde a partir dessa legislação dividida a sua responsabilidade, a forma negligente como foi atendida a criança diante da nova lei vai ser negada como assegura o Art. 5° do Estatuto “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 2017).
Destarte, embora tenha um artigo no Estatuto que é contra toda violação de direitos, ainda existe várias no cotidiano da criança, a lei, claro que foi um avanço, mas não consegue efetivar de fato o que está prescrito nos seus artigos, haja vista que o momento não é propicio para as políticas sociais que vem sofrendo desmontes cotidianamente.
Os direitos prescritos devem ser garantidos para as todas as crianças e adolescentes que necessitarem, e não mais só os que estavam em situação irregular como eram conhecidos os mesmos nas legislações anteriores. De acordo com o Estatuto:
Parágrafo Único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiental, social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem. (Incluído pela Lei n° 13.257, 2016) (Brasil, 2017)
Diante disso, percebe-se que a Lei engloba as consideradas crianças, sem distinção social nenhuma, a importância disso é que se tem uma legislação que abarca a totalidade, não se restringindo apenas a uma parcela da população, que mesmo precisando ser atendida em relação a garantias legais para seu desenvolvimento, não eram asseguradas por tais.
Portanto, é bem verdade que houve um avanço para a criança e adolescente, mas necessita de um aprimoramento das leis que protegem os mesmos para que assim seja de fato concretizada a proteção integral. 
3. CONCLUSÃO
Diante do exposto percebe-se que a criança e adolescente passaram por diversos momentos conturbados em sua história, a repressão com que fora vivenciada pelos mesmos retirou deles o direito de viver com os demais, e a forma como foram institucionalizados no período da ditadura, usurpa daqueles a dignidade.
	É notório que foi um momento onde a criança passou a ter uma atenção mais perceptível, o Estado torna-se mais presente, o problema é que a atenção vem acompanhada de uma repressão, o assistencialismo também se tornou presente, a infância empobrecida é atendida de uma forma onde a focalização na pobreza não permite que a expressão da questão social presente não fosse alterada.
	As instituições que davam atenção ao “menor”, oferecia para aqueles um descaso que o impossibilitava de ser reconhecido como sujeito de diretos. Portanto, a partir do momento em que a sociedade civil passa a organizar-se, e com a chegada da redemocratização, somado a constituinte de 1988 a criança passa a ser reconhecido enquanto sujeito dotado de direito.
	A proteção passa a ser integral não sendo garantida apenas para aqueles que estivessem “desregulados” da sociedade, mas para todos que fossem considerados crianças ou adolescentes, sendo tratados como absoluta prioridade teriam um atendimento mais efetivo no que diz respeito as garantias legais.
	Contudo, o neoliberalismo e forma como o Estado está disposto, em tese, mediante cortes orçamentários, não promova a proteção social que tanto é previsto nas legislações como Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
	Portanto, é necessário entender que a criança e ao adolescente é considerado a partir das legislações que regem os seus direitos uma absoluta prioridade, pois encontra-se em situação peculiar de desenvolvimento e necessita ter garantido todos os direitos que lhe são assegurados, para que assim gozem de um bem-estar propicio ao seu desenvolvimento. 
Porém, a luta é diária, o atual modelo de Estado não transfere uma proteção social prevista nas legislações supracitadas nesse artigo. Para o cenário de desmontes de direito, é preciso disposição para garantir que não sejam retirados os direitos que ainda temos em vigência.	
REFERÊNCIAS: 
DINIZ, Andréia; Cunha, José de Ricardo. Visualizando a Política de Atendimento à Criança e ao Adolescente. Rio de Janeiro: Latteris. Ed, 1998.
FALEIROS, Vicente de Paula. Infância e processo político no Brasil. In: A Arte de Governar Crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência a Infância no Brasil. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2011, p.33-96.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. Brasil das desigualdades: questão social, trabalho e relações sociais. SER social, Brasília, v. 15, n. 33, p. 261-384, jul. / dez. 2013.
RIZZINI, Irene; RIZZINI, Irma. A Institucionalização de Crianças no Brasil: percurso histórico e desafios do presente. Rio de Janeiro. Ed. PUC-Rio. São Paulo: Loyola, 2004.
SIMÕES, Carlos. Curso de Direito do Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2012.
VOGEL, Arno. Do Estado ao Estatuo. Propostas e vicissitudes da política de atendimento a infância no Brasil contemporâneo. In: A Arte de Governar Crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência a Infância no Brasil. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 287-321.
� A questão social é indissociável da sociabilidade da sociedade de classes e seus antagonismos constituintes, envolvendo uma arena de lutas políticas e culturais contra as desigualdades socialmente produzidas, com o selo das particularidades nacionais, presidida pelo desenvolvimento desigual e combinado, onde convivem coexistindo temporalidades históricas diversas.

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